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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE BIOLOGIA CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGIAS EFEITO TAMPÃO EM SISTEMAS BIOLÓGICOS Roberta Tomaz Botta França Uberlândia-MG Julho - 2015 INTRODUÇÃO O conceito original de ação tamponante surgiu de estudos bioquímicos e da necessidade do controle do pH em diversos aspectos da pesquisa biológica, como por exemplo em estudos com enzimas que têm sua atividade catalítica muito sensível a variações de pH. Neste contexto, Fernbach e Hubert descobriram que uma solução de ácido fosfórico parcialmente neutralizado agia como uma “proteção contra mudanças abruptas na acidez e alcalinidade”. Esta resistência à mudança na concentração hidrogeniônica livre de uma solução foi então descrita por estes pesquisadores como “ação tamponante” (do inglês buffering). Seguindo esta constatação, em 1904, Fels mostrou que o uso de misturas de ácidos fracos com seus sais (ou de bases fracas com seus sais) permitia a obtenção de soluções cuja acidez (ou basicidade) não era alterada pela presença de traços de impurezas ácidas ou básicas na água ou nos sais utilizados na sua preparação, em decorrência de dificuldades experimentais tais como a ausência de reagentes e de água com elevado grau de pureza. Ação tamponante em Sistemas Biológicos Muitas reações químicas que ocorrem dentro de uma célula, ou mesmo fora delas, dependem do pH. Pequenas variações no pH podem afetar a velocidade de uma reação química ou mesmo não permitir que ela ocorra, o que pode acarretar na morte celular. Durante o metabolismo celular ocorre liberação ou consumo de muitos ácidos e que são constantemente liberados no meio celular ou extracelular (corrente sanguínea). O organismo neutraliza estes ácidos para prevenir alterações na quantidade de H+ e preservar a função celular. A variação do pH também pode ocorrer por meio de administração de medicamentos ou então serem geradas devido a problemas fisiológicos ou doenças. A forma como o organismo regula a concentração de H + é de fundamental importância e ocorre no interior das células (líquido intracelular), entre as células (líquido intersticial) e no sangue (líquido intravascular). Os mecanismos de defesa do organismo contra alterações do pH são químicos ou então fisiológicos e ambos estão interligados. Os mecanismos químicos são representados pelas substâncias químicas que se encontram dissolvidas no plasma, líquido intersticial ou líquido intracelular e que agem como ácidos e bases neutralizando o aparecimento de quaisquer ácidos ou bases oriundos do próprio metabolismo, medicamento ou distúrbios fisiológicos (sistemas-tampão). Os mecanismos fisiológicos são representados pelos pulmões e pelos rins, que eliminam substâncias indesejáveis ou em excesso, ácidas ou bases, e reservam outras, dependendo da necessidade momentânea do indivíduo. O íon bicarbonato é o principal responsável pelo tamponamento do sangue humano. No sangue: CO2 + H 2O↔H2 CO 3 A velocidade de formação de H2CO3 a partir de CO2 e H2O, que normalmente é lenta, é muito aumentada pela enzima anidrase carbônica, encontrada nas hemácias. CO2 + H2O ↔ H2 CO3↔ H+ + HCO3 – O tampão bicarbonato/ácido carbônico mantém o pH do sangue numa "faixa segura" compreendida entre 7,35 e 7,45, resistindo às variações de pH para cima ou para baixo desses valores. De forma geral, quando um indivíduo tem o pH sanguíneo abaixado para níveis inferiores a 7,35 diz-se que ele está com acidose. Quando o pH sanguíneo é aumentado a níveis superiores a 7,45 diz-se que o mesmo está com alcalose. Quando a alcalose ou acidose são obtidas por alteração da frequência respiratória, diz-se que são de origem respiratória. Acidose respiratória e alcalose respiratória. Acidose respiratória: caracterizada por diminuição do pH e aumento da p CO 2. Ocorre devido a uma hipoventilação pulmonar que leva ao acúmulo de CO 2. Causas da hipoventilação: obstruções no trato respiratório, pneumonia, enfisema, transtornos neuromusculares, doenças ou drogas que deprimem o SNC (centro respiratório) ou inalação de CO2 em excesso. Resposta compensatória: Rim: aumento da retenção de HCO 3 - e excreção de íons H +. Alcalose respiratória: caracterizada por aumento do pH e diminuição da pCO2. Ocorre devido a uma hiperventilação pulmonar. Causas da hiperventilação: febre, ansiedade, dor intensa ou estresse, diminuição da pressão atmosférica (grandes altitudes). Resposta compensatória: Rim: diminuição da retenção de HCO3- e da excreção de íons H+. A acidose e alcalose podem ainda ocorrer por meios metabólicos. Acidose e alcalose metabólica. Acidose metabólica: caracterizada por queda no pH e na concentração de HCO 3 -. Causas: aumento de íons H + ou perda de bicarbonato. Aumento de H +: acúmulo de ácido lático ou corpos cetônicos, exercício exagerado, jejum prolongado e diabetes. Perda de HCO 3 -: falha renal na retenção de HCO 3 - ou na excreção de H +, ou perda de bicarbonato devido a uma diarréia severa. Efeito compensatório - pulmão: hiperventilação = diminui a pCO2 - rim: aumento da reabsorção de HCO3- e excreção de íons H+. Exemplo: Durante o exercício físico intenso o pH do sangue periférico pode ir a valores inferiores a 7,0 (pois forma-se ácido láctico). Alcalose metabólica: caracterizada elevação no pH e na concentração de HCO3-. Causas: ingestão excessiva de álcalis (exemplo bicarbonato de sódio como antiácido) ou perda de ácido pelo organismo, como ocorre no vômito prolongado. Resposta compensatória: - pulmão: reduz a taxa de ventilação = aumento da pCO2. Ação tamponante em meios de cultura Meios de cultura consistem da associação qualitativa e quantitativa de substâncias que fornecem os nutrientes necessários ao desenvolvimento (cultivo) de microrganismos fora do seu meio natural. Tendo em vista a ampla diversidade metabólica dos microrganismos, existem vários tipos de meios de cultura para satisfazerem as variadas exigências nutricionais. Além dos nutrientes é preciso fornecer condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento dos microrganismos, tais como pH, pressão osmótica, umidade, temperatura, atmosfera (aeróbia, microaeróbia ou anaeróbia), dentre outras. Existem meios de cultura não-seletivos-que cresce quase todo tipo de bactérias e seletivos-que é específico para alguma bactéria. E eles podem ser sólidos ou semissólidos (ágar) ou líquidos (caldos). Meios não-seletivos geralmente são tamponados, porque é preciso um pH estável para possibilitar a proliferação de todo tipo de bactéria. Já meios seletivos não devem ser tamponados. Os meios seletivos são específicos para determinada bactéria. Eles possuem indicadores que a bactéria, ao consumir o nutriente (que também é específico) do meio, irá modificar o pH e através do indicador mudar a cor do meio, indicando a presença da bactéria em questão. Exemplos: ÁGAR NÃO-SELETIVO: Ágar Sangue Staphylococcus spp pH ideal: 6,8 +/- 0,2 em ágar Sangue CALDO NÃO-SELETIVO Água Peptonada Tamponada para enriquecer alguma bactéria não específica. pH ideal: 7,0 +/- 0,2 ÁGAR SELETIVO Ágar XLD Ágar XLD com pH inicial 7,40 +/- 0,2 Salmonella spp Caldo turvo (Com a bactéria) Caldo Estéril Ágar para provas BioquímicasTSI ( Triple Sugar Iron Ágar) Meio utilizado na diferenciação de Enterobactérias e também para distinguir os integrantes da família de outros bacilos gram negativos de origem entérica. Esta prova bioquímica está fundamentada na fermentação de hidratos de carbono presentes no ágar TSI e à produção de sulfato de hidrogênio (H2S) e gás. O TSI possui um pH neutro e um indicador de pH, o vermelho de fenol. Para definição de Enterobactérias, ocorre fermentação da glicose para produzir ácido ou ácido e gás. Citrato de Simmons O princípio da prova de utilização do citrato é determinar a capacidade de um microrganismo utilizar citrato de sódio como única fonte de carbono para metabolismo e crescimento. O meio de Simmons contém citrato de sódio como única fonte de carbono, NH4 como fonte de nitrogênio e o indicador de pH, azul de bromotimol. Alguns microrganismos são capazes de utilizar citrato como fonte de carbono para produção de energia, quando há ausência de glicose ou lactose fermentável. Esta característica é conferida pela presença de enzima citrato permeasse que permite o transporte de citrato para o citoplasma, sendo metabolizado para a produção de energia. Quando o microrganismo remove o citrato do meio e o oxida, ocorre a liberação de CO2. Durante esta reação o meio torna-se alcalino, pois o CO2 gerado combina-se com sódio (fornecido pelo citrato de sódio) e água para formar carbonato de sódio, que é um produto alcalino. A presença de sódio faz aumentar o pH e virar o indicador do meio de verde para azul. Meio alcalino . Meio ácido CONCLUSÃO No organismo a ação tamponante é de extrema importância, pois qualquer variação de pH pode acarretar em consequências desastrosas, levando até mesmo à morte. Assim como seres macroscópicos necessitam de um pH específico em seu metabolismo para sobreviver, microrganismos também se desenvolvem melhor em determinadas faixas de pH, e por isso os meios de cultura não-seletivos, são tamponados. Negativo Positivo REFERÊNCIA http://qnint.sbq.org.br/novo/index.php?hash=conceito.27 file:///C:/Users/Prospect/Downloads/5.%20Tamp%C3%B4es%20Biol%C3%B3gicos.p df http://www.profpc.com.br/Solu%C3%A7%C3%A3o_tamp%C3%A3o.htm www.microbiologia.ufba.br/aulas/MEIOS%20DE%20CULTURA.doc http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/microbiologia/mod_4_2004.pdf KONEMAN, E. W.; ALLEN, S. D.; DOWELL JR., V. R. SOMMERS, H. M. Diagnóstico Microbiológico. 2ª ed. Editora: Médica Americana, 1993. (Material de Apoio-Livro de Provas Bioquímicas – Laboratório de Saúde Animal_BRF).
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