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Resumo para Prova Art. 121 ao 211 CC

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Elementos acidentais do negócio jurídico (CC, 121-137)
São acrescentados no negócio jurídico com o objetivo de modificar uma ou algumas de suas consequências naturais.
Os elementos acidentais estão no plano da eficácia do negócio, sendo sua presença dispensável, a critério das partes. Por vezes, em casos específicos, sua presença pode ensejar a nulidade do negócio (plano da validade).
Trata-se da condição, do termo e do encargo, que são cláusulas limitadoras da eficácia do negócio jurídico. Não são elementos nem da existência, nem da validade dos negócios jurídicos.
A) condição
É elemento acidental que, derivando da vontade das partes, faz o negócio depender de evento futuro e incerto (CC, 121). Os efeitos do ato poderão ou não ocorrer.
Subordina o começo ou o fim dos respectivos efeitos do negócio à verificação, ou não verificação, de um evento futuro e incerto.
Só pode derivar da vontade das partes no negócio, ou do disponente, no negócio jurídico unilateral (testamento). 
Sem a condição o negócio existe, é válido, mas ineficaz. Implementada a condição o negócio passa a ter eficácia. 
Ex.: arts. 509 e 505
509 – suspensiva (A venda feita a contento – negócio só se reputa perfeito e acabado quando o possível comprador se manifesta pela vontade de adquirir o bem em caso de contento, satisfação – entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado);
505 - resolutiva (O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias).
Art. 122 – devem ser consideradas lícitas todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública e aos bons costumes - é cláusula geral – conceitos legais indeterminados, que devem ser preenchidos pelo magistrado. 
(...) entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. São proibidas condições que privarem de todo o efeito o negócio jurídico (condições perplexas) ou que o sujeitem somente à vontade de uma das partes (condições potestativas). O negócio pode ser tido como nulo tanto nas condições perplexas como nas potestativas. Ex.: doarei um apartamento para você se eu quiser.
Art. 123 – invalidam o negócio (nulidade absoluta) que lhes são subordinados:
I – condições física ou juridicamente impossíveis invalidam o negócio jurídico, quando tiverem efeitos suspensivos.
II – condições contrárias à lei (ilícitas) ou de fazer coisa ilícita, bem como ... geram sua nulidade.
III – condições incompreensíveis ou contraditórias.
Art. 124 – devem ser consideradas inexistentes (não escritas) as condições impossíveis, quando resolutivas, bem como as de não fazer coisa impossível. (ficar uma hora embaixo d’água sem respirar... ter que assassinar alguém...).
Condições física ou juridicamente impossíveis:
- quando resolutivas: são consideradas não escritas (inexistentes), mas o negócio continua válido.
- quando suspensivas: invalidam tanto a condição como o contrato, assim como as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita, e as condições incompreensíveis ou contraditórias.
A nulidade é da cláusula que impõe a condição, não todo o negócio (salvo se a declaração de nulidade da cláusula inviabilizar o negócio) – princípio da conservação negocial.
Classificação:
- Quanto à licitude:
a) condições lícitas – de acordo com o ordenamento (não contrariam a lei, a ordem pública, ou os bons costumes. Ex.: venda a contento
b) condições ilícitas – contrariam a lei, a ordem pública e os bons costumes, gerando nulidade do negócio. Ex.: venda depende de um crime a ser praticado pelo comprador.
- Quanto à possibilidade:
a) condições possíveis – são as que podem ser cumpridas, física e juridicamente. Ex.: venda condicionada a uma viagem à Florianópolis.
b) condições impossíveis – são as que não podem ser cumpridas, por razão natural ou jurídica, gerando nulidade absoluta. Ex.: venda condicionada a uma viagem ao planeta Marte.
- Quanto à origem da condição:
a) condições causais: são as que têm origem em eventos naturais (fatos jurídicos stricto sensu). Ex.: venda condicionada à chuva.
b) condições potestativas: dependem de elemento volitivo (vontade humana). 
b.1. simplesmente potestativas – dependem das vontades intercaladas de duas pessoas, sendo lícitas. Ex.: empresto o apartamento na praia se tu cantares em um espetáculo.
b.2. puramente potestativas – dependem de uma vontade unilateral, sujeitando-se ao puro arbítrio de uma das partes. São ilícitas, art. 122. dou-lhe um veículo se eu quiser.
b.3. mistas – dependem de ato volitivo, mais evento natural. Ex.: dou-lhe um veículo se você cantar amanhã, desde que chova durante o espetáculo.
- Quanto aos efeitos da condição:
a) condições suspensivas: enquanto não se verificarem, impedem que o negócio jurídico gere efeitos. Ex.: venda a contento de vinhos. Negócio fica pendente até a manifestação de contentamento (ocorrendo há o implemento do negócio). Se a condição não é realizada, há a frustração do negócio.
- doação se passar no concurso: negócio---------------condição]]]]]]]]]efeitos]]]]]]]]]
Art. 125 - Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.
Art. 126 - Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com ela forem incompatíveis. – impede que uma nova condição se sobreponha a uma anterior, caso sejam elas incompatíveis entre si.
b) condições resolutivas: enquanto não se verificarem, não trazem qualquer conseqüência para o negócio, vigorando o mesmo até ocorrência da condição:
- comodato até passar no concurso: negócio[[[[[[efeitos[[[[[[condição---------perde efeitos---
Cabe o exercício dos direitos decorrentes desde logo, até condição.
Ex.: - propriedade resolúvel – cláusula de retrovenda. - Doação regressiva – bem doado volta com a morte do donatário. A morte é a condição. - Venda a contento.
Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido.
Art. 128 - Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de boa-fé. Ex.: venda de vinho a contento – a negação representa condição resolutiva. Se o comprador já adquiriu outras garrafas anteriormente (negócio de execução periódica) a não aceitação da última garrafa não influencia nas vendas anteriores. Não pode o comprador alegar que não vai pagar as garrafas anteriores e o próprio jantar (má-fé). É regra que tende à preservação da autonomia privada.
A condição resolutiva pode ser expressa ou tácita (a venda a contento de vinho geralmente é tácita).
Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento. (é a boa-fé objetiva).
Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo. (boa-fé objetiva)
Condição se identifica pelas conjunções:
- se – condição suspensiva –dou-lhe um carro se você cantar no show.
- enquanto – condição resolutiva – dou-lhe uma renda enquanto estudar.
B) Termo
Evento futuro e certo. Há certeza de que vai ocorrer. Ex.: entrega de laranjas no dia 30/04/12. 
Identifica-se também pela palavra “quando”. Dou-lhe meu carro quando você desocupar o imóvel.
Termo é o elemento acidental do negócio jurídico que faz com que a eficácia desse negócio fique subordinada à ocorrência de evento futuro e certo.
Termo inicial (dia a quo) – data em que iniciamos efeitos do negócio (é suspensivo, pois a partir da data iniciam os efeitos);
		- termo inicial certo – dia 20/05/12 para a entrega das uvas.
		- termo inicial incerto – morte – no testamento. 
Termo final (dia ad quem) – data em que terminam os efeitos do negócio (é resolutivo, pois a partir da data terminam os efeitos, resolvendo-se o negócio). Ex.: data do vencimento da dívida.
 		- termo final certo – ex.: fim da locação em 31/12/12.
		- termo final incerto – ex.: morte – na extinção do usufruto vitalício (só c/ morte do usufrutuário termina o usufruto) 
Prazo é o decurso de tempo existente entre termo inicial e termo final:
Termo inicial ]-------------prazo-------------[ Termo final
Ex.: pode morar no apto. desde hoje (início) até morrer (fim).
 - Termo legal – indicado pela lei. Ex.: inventariante – assume a função e tem prazos legais para cumprir.
- Termo convencional – fixado pelas partes. Ex.: locação - tal a tal data 
Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito. 
O negociante já tem o direito, mas ainda não pode exercê-lo (até o advento do termo inicial).
Esse artigo diferencia
- termo inicial (evento futuro e certo) e
- condição suspensiva, pois essa suspende o exercício e a aquisição do direito (evento futuro e incerto)
Ambos permitem a prática de atos de conservação do direito.
Art. 132 – contagem do prazo – exclui o dia do começo, inclui o do vencimento (caindo em feriado, prorroga-se até o seguinte dia útil).
Meado – 15º dia, em qualquer mês.
Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato se faltar exata correspondência.
Prazos em hora – contam-se minuto a minuto.
Art. 133 – relacionado com a interpretação dos prazos dos negócios em favor de determinado negociante (herdeiro, devedor)...
Art. 134 – os negócios é, em regra, instantâneo, somente assumindo forma continuada se houve previsão no contrato ou na lei. Ex.: obrigações sem prazos são exigíveis desde logo, ressalvados casos que dependem de certo tempo, pois terão de ser praticados em lugar diverso ou pela sua própria natureza. 
Ex.1: em um contrato de empreitada para construção de uma casa, sem fixação de prazo, não se pode exigir a imediata execução e conclusão da obra, que depende, naturalmente, de certo tempo para sua realização. 
Ex.2: na compra de uma safra, o prazo naturalmente necessário é o da época da colheita.
Ex.3: obrigação de entregar animais que deverão ser transportados de uma cidade para outra distante também precisa de tempo, não podendo ser executada imediatamente.
Art. 135 – ao termo inicial e final aplicam-se o disposto quanto à condição suspensiva e resolutiva, no que couber.
Sendo assim, o termo inicial é similar à condição suspensiva; enquanto o termo final é similar à condição resolutiva. 
C) Encargo ou modo
É o elemento acidental do negócio que traz um ônus relacionado com uma liberalidade. Ex. frequentes: na doação, no testamento. 
Ônus que deve ser cumprido por uma das partes para que o ato produza, ou não, efeitos.
 O negócio gratuito vem acompanhado de um ônus, um encargo (presente de grego).
Ex.: dôo terreno ao donatário para que ele construa, em parte do imóvel, um asilo.
Utilizam-se, geralmente, as expressões “para que” e “com o fim de”.
Doação modal ou com encargo – art. 540, CC – não sendo executado o encargo, cabe revogação da doação. 
Art. 136 - ... o donatário já recebe o terreno. Caso não seja feita a construção em prazo fixado pelo doador, caberá revogação do negócio.
O encargo diferencia-se da condição suspensiva justamente porque não suspende a aquisição nem o exercício do direito, o que ocorre no negócio jurídico condicionado.
Art. 137 – encargo ilícito ou impossível deve ser considerado não escrito, salvo se constituir motivo determinante da liberalidade, caso em que invalida o negócio. 1ª parte) princípio da conservação negocial – função social do contrato, aproveitando-se o restante do negócio (sem o encargo ilícito ou impossível); 2ª parte) encargo passa para o plano da validade – encargo ilícito ou impossível determinante - gera nulidade absoluta.
Ex.: doação de terreno em Varginha, MG, encargo: construção de pista para pouso de ÓVNIS – considerar doação pura e simples. Se o encargo for para que o donatário provoque a morte de alguém será nula a doação.
 Conclusão dos elementos acidentais: são cláusulas limitadoras da eficácia do negócio jurídico (dependem da pura vontade dos negociantes).
Vejamos:
Existência Validade Eficácia
- Existe Válido (104)--------------- Eficaz ou ineficaz (condição, termo, encargo...)
- Inexiste	 Nulo (166)----------------- Ineficaz de plano ou até anular
				 Anulável (171)-------------- Eficaz até anulação do negócio
3.3 Dos defeitos do negócio jurídico (CC, 138-165):
	Veremos os vícios que sujam (maculam) o ato jurídico celebrado, quer porque atinjam a vontade manifestada por uma das partes, quer porque gerem repercussão social.
	 Corrige-se o negócio viciado através de ação anulatória ou declaratória de nulidade (plano da validade), a ser ajuizada pelo prejudicado.
	Essa matéria interessa para as questões contratuais.
São vícios da vontade ou de consentimento: erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão. O problema atinge a vontade manifestada.
São vícios com repercussão social: fraude contra credores e simulação. O problema aqui afeta a eticidade (boa-fé) e a socialidade (interesse da coletividade).
3.3.1 Do erro ou ignorância (CC, 138-144):
É o engano fático, uma falsa noção, em relação a uma pessoa, ao objeto do negócio ou a um direito.
Acomete a vontade de uma das partes que celebrou o negócio.
De acordo com o art. 138, CC, os negócios com erro são anuláveis, desde que o erro seja substancial, podendo ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias.
O fato de a pessoa perceber que está agindo sob o vício do erro não retira a possibilidade da anulabilidade do negócio.
Não interessa se o erro é justificável (desculpável), ou não. Vale o princípio da confiança, valorizando-se a ética.
Enunciado 12 do CJF: “na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança”.
Assim, o erro não precisa ser escusável, bastando o conhecimento do vício por aquele a quem se fez a declaração.
Ex.: jovem vai do interior para Porto Alegre. Lá, em um viaduto, avista um vendedor ambulante, com a placa: “vende-se”. O jovem então paga R$ 5.000,00 pensando que está comprando o viaduto. A outra parte nada diz.
O erro é muito grosseiro (não escusável, indisculpável, imperdoável).
Mesmo assim, sendo inescusável, o negócio é anulável (a outra parte, ciente do erro, ficou em silêncio, recebendo o dinheiro; enquanto o novo CC exige boa-fé no tratamento entre as partes).
Se a lei protege quem cometeu um erro perdoável, muito mais deve proteger aquele que comete o erro imperdoável (eticidade).
O erro e ignorância (desconhecimento total quanto ao objeto do negócio) têm o mesmo tratamento legal. 
No erro ou na ignorância, a pessoa engana-se sozinha (total ou parcialmente), cabendo a anulação do negócio toda a vez que o erro ou a ignorância for substancial, nos termos do art. 139, CC.
Art. 139 - O erro ésubstancial quando:
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; Ex.: comprar bijuteria pensando ser ouro (gato por lebre). Ex.2: adquirir carro modelo intermediário, pensando ser carro modelo luxuoso (REsp 1.021.261/RS)
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; Ex.: art. 1.557, CC – hipóteses que podem motivar a anulação do casamento por erro (uma pessoa ignora o vício comportamental da outra e celebra o casamento com ela).
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. 
O CC/02 reconhece a possibilidade de o erro de direito ser causa para anular um negócio. Essa norma deve prevalecer, quanto aos negócios jurídicos, àquela segundo a qual ninguém pode deixar de cumprir a lei alegando que não a conhece (LINDB, art. 3º). A lei de introdução é norma geral e perde espaço, quanto aos negócios jurídicos, por causa do princípio da especialidade.
Ex.: um locatário (leigo) de imóvel comercial que celebra novo contrato de locação, mais oneroso, pois pensa que perdeu o prazo para a ação renovatória do aluguel (agiu assim para proteger o ponto empresarial). Aí cabe anulatória do novo contrato, com base no erro de direito. 
Erro acidental – art. 142, CC – “O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada”.
Diz respeito a elementos secundários, e não torna anulável o negócio quando posteriormente for possível a identificação dessa coisa ou pessoa.
O motivo de um negócio é a razão pessoal da sua celebração. É individual, subjetivo, a parte nem sequer precisa comentar com o outro contratante. Diferencia-se da causa do negócio, a qual é objetiva.
Ex.: na compra e venda – a causa é a transmissão da propriedade; os motivos podem ser variados: preço bom, imóvel bem localizado, presente.
Falso motivo – Art. 140 - “O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.” 
Trata-se do erro quanto ao fim colimado, que não anula o negócio.
Ex.: Pessoa compra veículo para presentear a filha pelo aniversário; na véspera, descobre que o aniversário não era da filha, mas do filho. Tal motivo não proporcionará a anulabilidade do negócio.
Ex.2: faturamento da empresa não correspondia ao que foi informado no momento da compra e venda do fundo de comércio. Motivo não previsto como razão determinante do contrato. Improcedência da demanda.
Art. 141 – “A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta.”
Os meios interpostos de transmissão da vontade inserem-se todos os meios de comunicação, escrita e audiovisual, sobretudo a internet (aplica-se aos contratos eletrônicos).
Erro material retificável - Art. 143 – “O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.”
O erro de cálculo não anula o negócio, mas autoriza a retificação (convalidação prévia – conservação dos negócios jurídicos).
Art. 144 – “O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.”
Preserva-se a manifestação da vontade, respeitando-se a intenção real dos negociantes.
Ex.: pensa que compra lote 4 da quadra X, mas é lote 4 da quadra Y – é erro substancial, mas não invalidará o negócio se o vendedor vier a entregar-lhe o lote 4 da quadra X (vontade real).
Erro obstativo ou impróprio – é o de relevância exacerbada, que apresenta uma profunda divergência entre as partes, impedindo que o negócio venha a se formar. É o que obsta a formação do negócio e inviabiliza a sua existência. Não recebeu tratamento no CC/02. (o negócio nem chega a ocorrer).
O prazo para anular o negócio por erro é de decadência: 4 anos (art. 178, inc. II, CC).
3.3.2 Do dolo (CC, 145-150)
É o artifício ardiloso empregado para enganar alguém, com intuito de benefício próprio. O dolo é a arma do estelionatário.
Art. 145 – “são os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa”.
O negócio praticado com dolo é anulável, quando este for a sua causa; ou seja, deve ser dolo essencial, substancial ou principal.
No dolo essencial, uma das partes do negócio utiliza artifícios maliciosos (visando obter vantagem), para levar a outra a praticar um ato que não praticaria normalmente. Geralmente caracteriza enriquecimento sem causa (enriquecimento ilícito).
	Dolo acidental – 
responsabilidade civil
	Dolo essencial – 
vício do negócio jurídico
	- não está relacionado com um negócio jurídico, não gerando anulabilidade;
- se eventualmente atingir um negócio, gera apenas o dever de pagar perdas e danos, devendo ser tratado como dolo acidental (CC, art. 146).
	- está relacionado com um negócio jurídico, sendo a única causa da sua celebração (dolo essencial);
- sendo o dolo essencial ao ato, causará sua anulabilidade, nos termos do artigo 171, II, do CC, desde que proposta ação no prazo de 4 anos da celebração do negócio (CC, 178, II).
Dolo acidental, que não é causa para o negócio, não pode gerar a sua anulabilidade, mas somente a satisfação das perdas e danos a favor do prejudicado (responsabilidade civil).
Art. 146 - “O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.” 
Dolo acidental é aquele que não é causa do ato, de tal modo que o negócio seria feito de qualquer forma.
Dolo de terceiro – também causa anulabilidade do negócio:
Art. 148 – “Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.”
Tendo conhecimento o contratante beneficiado, haverá dolo essencial. Não tendo conhecimento, o dolo é acidental.
Essa diferenciação depende de prova, sendo certo que é difícil provar o conhecimento da parte beneficiada (ou que ela deveria saber do dolo).
Deve-se levar em conta a conduta da pessoa natural comum (homem médio, homem razoável).
Dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele:
1) tinha ciência – o negócio é anulável;
2) não tinha ciência – o negócio não é anulável, mas o lesado pode pedir perdas e danos ao autor do dolo.
Dolo do representante legal:
Art. 149 - “O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos.”
A responsabilidade civil do representante convencional é objetiva, independe da prova da culpa (CC, 932, II, e 933). 
[São pressupostos da responsabilidade civil: conduta humana (ato ilícito); dano; nexo causal e culpa; Na responsabilidade civil objetiva não há necessidade de provar o pressuposto da culpa.]
Classificação do dolo:
1) quanto ao conteúdo
a) dolus bonus (dolo bom) – há dois sentidos – inicialmente, é o dolo tolerável, aceito nos meios comerciais. São exageros feitos pelo comerciante ou vendedor em relação às qualidades de um bem que está sendo vendido, mas que não têm a finalidade de prejudicar o comprador. O negócio onde se verifica o dolo bom não é passível de anulação, desde que não venha a prejudicar o consumidor, mediante publicidade enganosa. A lábia do comerciante é exemplo de dolo bom. 
Entretanto, se o comerciante se utilizar de má-fé para enganar o consumidor, o negócio pode ser anulado (será considerado dolo mau). 
Por outro lado,haverá também dolo bom no caso de uma conduta que visa a trazer vantagens a outrem, como a de oferecer um remédio a alguém, alegando ser suco, para curar essa pessoa, caso em que também não se pode falar em anulabilidade. Pode-se citar ainda como exemplo o espelho colocado em uma loja, que emagrece o comprador (trata-se de artifício tolerável).
b) dolus malus (dolo mau) – este sim consiste em ações astuciosas ou maliciosas com o objetivo de enganar alguém ou lhe causar prejuízo. Quando há dolo mau, o negócio jurídico poderá ser anulado se houver prejuízo ao induzido e benefício ao autor do dolo ou a terceiro. Ex.: publicidade enganosa (art. 37, § 1º, CDC), seja ela por ação ou omissão.
2) quanto à conduta das partes:
a) dolo positivo (comissivo) – é dolo praticado por ação (conduta positiva). Ex.: publicidade enganosa onde o comerciante faz um anúncio de que um carro à venda tem determinado acessório, mas quando o comprador o adquire percebe que o acessório não está presente. 
b) dolo negativo (omissivo) – é dolo praticado por omissão (conduta negativa), situação em que um dos negociantes é prejudicado. É conhecido como reticência acidental ou omissão dolosa. Ex.: venda de apartamentos decorados, em que não se revela ao comprador que os móveis são feitos sob medida, induzindo-o a erro (publicidade enganosa por omissão).
Art. 147 – “Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.”
É preciso provar que o negócio não se realizaria se a omissão dolosa não tivesse ocorrido.
c) dolo recíproco (bilateral) – é a situação em que ambas as partes agem dolosamente, um tentando prejudicar o outro mediante o emprego de artifícios ardilosos. Em regra, haverá uma compensação total dessas condutas movidas pela má-fé, consagração da regra pela qual ninguém pode beneficiar-se da própria torpeza (desonestidade).
Art. 150 – “Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.”
Não podem as partes alegar dolo concorrente. Nesse caso, permanece incólume o negócio jurídico celebrado, não cabendo sequer indenização por perdas e danos. Ex.: se duas ou mais pessoa agirem com dolo, tentando assim se beneficiar de uma compra e venda, o ato não poderá ser anulado. 
O dolo de ambas as partes (bilateral) é denominado também de dolo compensado ou dolo enantiomórfico. 
3.3.3 Coação (CC, 151-154)
É pressão física ou moral exercida sobre o negociante, visando obriga-lo a assumir uma obrigação que não lhe interessa. Aquele que exerce a coação é o coator; o que sofre é o coagido (ou paciente).
Art. 151 – “A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens”.
Parágrafo único. “Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.”
Eventualmente, dizendo respeito o temor à pessoa não pertencente à família do coato, o juiz, com base nas circunstâncias do caso, decidirá se houve coação. 
Ex.: se o temor se referir a amigo íntimo do negociante ou à namorada do contratante pode-se falar em coação como vício para anular o negócio.
Classificação:
a) Coação física - é o constrangimento corporal que retira toda capacidade de manifestação de vontade, implicando ausência total de consentimento, acarretando nulidade do ato. A nulidade absoluta está justificada, pois a situação de coação física faz com que a pessoa se enquadre na previsão do art. 3º, III, do CC, como alguém que por causa transitória não pode exprimir sua vontade. Mas alguns autores entendem que se tal modalidade de coação estiver presente, o negócio será inexistente.
Deve-se ter atenção, pois a coação física pode ser tratada tanto como motivo de nulidade absoluta como de inexistência do negócio jurídico. 
Ex.: vendedor é espancado e obrigado a assinar o contrato. 
Ex. 2: venda celebrada à pessoa hipnotizada também é coação física.
Como se vê pelos exemplos, há pouca relevância prática. 
b) Coação moral ou psicológica – coação efetiva e presente, causa fundado temor de dano iminente e considerável à pessoa do negociante, à sua família, à pessoa próxima ou aos seus bens, gerando a anulabilidade do ato (art. 151, CC).
Art. 152 – “No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.”
Cabe analisar as circunstâncias de cada caso concreto do negócio, especialmente as características da pessoa coagida. 
O negócio celebrado com coação moral torna passível de anulação o ato, desde que proposta a ação anulatória dentro do prazo decadencial de 4 anos, contados de quando cessar a coação (art. 178, I, CC).
Art. 154 – “Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos.”
A coação exercida por terceiro gera a anulabilidade do negócio, desde que a parte que tirar proveito tivesse ou devesse ter conhecimento da coação. A parte que teve proveito e o terceiro coator responderão solidariamente por perdas e danos.
De outro lado, o negócio jurídico permanecerá válido se o negociante beneficiado pela coação dela não tiver ou não devesse ter conhecimento:
Art. 155: “Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.”
Vale aqui o princípio da conservação dos negócios em geral.
Mesmo assim, o coator terá o dever de indenizar o coacto ou paciente pelas perdas e danos (responsabilidade civil pelos prejuízos, além do dano moral).
Ex.: casamento mediante pressão ou ameaça do irmão da noiva. Se a noiva tiver ou devesse ter conhecimento da coação, o negócio é anulável, respondendo irmão coator e irmã, solidariamente (pelas perdas e danos).
Por outro lado, se estivermos diante da boa-fé da noiva (que não sabia da coação) o casamento é conservado, respondendo o irmão da noiva (cunhado do noivo) pelas perdas e danos decorrentes do casamento (os danos devem ser provados pelo noivo coacto).
Art. 153 – “Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial.”
Não constituem coação:
a) a ameaça relacionada com o exercício regular de um direito reconhecido. Ex.: ameaça de protesto de um título em cartório (tabelionato), sendo existente e devida a dívida.
b) o mero temor reverencial ou receio de desagradar a pessoa querida ou a quem se deve obediência. Ex.: casar-se com alguém com medo de desapontar seu irmão (ou seus pais). Esse casamento é válido.
Coação nas relações de consumo – 
Art. 42 CDC – “Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.”
Na cobrança de dívidas não pode o consumidor ser exposto ao ridículo nem sofrer coação, o que pode gerar o dever de indenizar danos materiais e morais, diante da presença de prática abusiva, modalidade de abuso de direito. 
Ex.: cobrança vexatória mediante exposição de cheques sem fundo no balcão do estabelecimento comercial, para que todos os clientes conheçam o devedor inadimplente.
3.3.4 Estado de perigo
O estado de perigo, segundo Tartuce, constitui uma forma especial de coação; mas não se confunde com a coação moral.
Art. 156 – “Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.”
Parágrafo único. “Tratando-sede pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.”
Haverá estado de perigo toda vez que o próprio negociante, pessoa de sua família ou amigo próximo estiver em perigo, conhecido da outra parte, sendo este a única causa para a celebração do negócio. 
Tratando-se de pessoa não pertencente à família do contratante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias fáticas e regras da razão.
No estado de perigo, o negociante temeroso de grave dano ou prejuízo acaba celebrando o negócio, mediante uma prestação exorbitante, presente a onerosidade excessiva (elemento objetivo).
Para que tal vício esteja presente, é necessário que a outra parte tenha conhecimento da situação de risco que atinge o primeiro, elemento subjetivo que diferencia o estado de perigo da coação propriamente dita:
				Elemento subjetivo – situação de perigo 
conhecida da outra parte
Estado de perigo
				Elemento objetivo – onerosidade excessiva
Há necessidade do dolo de aproveitamento (conhecimento pela outra parte da situação de necessidade). 
O negócio jurídico celebrado em estado de perigo é passível de anulação (CC, art. 171, II), sendo que a ação anulatória deve ser proposta dentro do prazo decadencial de 4 anos, a contar da data da celebração do negócio (CC, art. 178, II).
Para evitar a anulação do negócio poderá o juiz revisar o negócio, por aplicação analógica do artigo 157, § 2º, do CC. 
Incide o disposto no enunciado 148 do Conselho da Justiça Federal: “Art. 156: Ao ‘estado de perigo’ (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2º do art. 157”. 
Com a revisão, busca-se a manutenção do negócio (princípio da conservação contratual).
O juiz, ao analisar o estado de perigo, deve valer-se da equidade e da boa razão, para evitar que as partes utilizem-se desse artifício para pleitear a anulação do negócio jurídico. O magistrado deverá julgar em favor daquela parte que demonstrar boa-fé (CC, arts. 113 e 422).
Ex.: alguém que tem pessoa da família sequestrada, tendo sido fixado o valor do resgate em R$ 10.000,00. Um terceiro conhecedor do sequestro oferece para a pessoa justamente os 10.000,00 por uma joia, cujo valor gira em torno de 50.000,00. Motivado pelo desespero, a venda é celebrada. Esse negócio é, portanto, passível de anulação. 
Ex.2: pai que chega com o filho acidentado gravemente em um hospital e o médico diz que somente fará a cirurgia mediante o pagamento de R$ 100.000,00. O preço é pago e a cirurgia é feita, mediante a celebração de um contrato de prestação de serviços. Ai se verifica que há risco (conhecido pelo médico) tendo sido celebrado negócio com onerosidade excessiva.
Nesse segundo exemplo, o melhor caminho seria a ação revisional do contrato celebrado com preço exorbitante, pois se ajustaria o preço da cirurgia a um valor razoável de mercado. Do contrário, com o ajuizamento de uma ação anulatória com base no estado de perigo, uma vez anulado o negócio, o médico nada receberia (caracterizando enriquecimento sem causa da parte que contratou a cirurgia). 
Cheque-caução para internação hospitalar – há quem entenda caracterizar estado de perigo (Gonçalves e alguns julgados de tribunais).
O Tartuce entende que esse não é o melhor enquadramento, pois o estado de perigo gera a anulação do ato correspondente.
A existência de cheque caução, especialmente quando o consumidor já tem plano de saúde ou quando ausente justo motivo para a negativa de cobertura, configura uma cláusula abusiva que, por envolver matéria de ordem pública, ocasiona a nulidade do ato correspondente. Essa seria uma solução mais satisfatória ao consumidor (também é cabível outras sanções, como dano moral – o que é amplamente admitido em vários julgados). 
Por vezes, a melhor solução está no Código de Defesa do Consumidor (mais favorável ao consumidor) e não no Código Civil (o CC nem sempre é a solução para todos os problemas).
3.3.5 Lesão
Art. 157 – “Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.”
A desproporção está presente em vários contratos. O desafio é descobrir o sentido do instituto da lesão.
O certo é que caberá ao juiz, em cada caso, averiguar a desproporção, partindo do acentuado desnível entre as prestações.
A lesão é vício que acomete a vontade; visa proteger o contratante que se encontra em posição de inferioridade, ante o prejuízo por ele sofrido na conclusão do contrato, devido à desproporção existente entre as prestações das duas partes.
Sem dúvida, o instituto da lesão aplica-se aos contratos.
§ 1º - “Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico”.
O parágrafo primeiro trata de uma apreciação valorativa.
§ 2º - “Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito”.
Pelo parágrafo segundo, eventualmente, pode-se salvar o negócio (em vez de pleitear a sua anulação) se houver suplemento suficiente ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.
Esse oferecimento, pelo demandado, se dá por meio de pedido contraposto na contestação (defesa do réu na ação anulatória). 
Isso possibilita a revisão judicial ou extrajudicial do negócio, consagrando o princípio da conservação contratual e também da função social do contrato.
Enunciado 149 CJF – “Art. 157: Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2º, do Código Civil de 2002”.
Na lesão, a regra é a revisão do contrato; não a sua anulação.
Enunciado 291 do CJF – “Art. 157: Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código Civil, pode o lesionado optar por não pleitear a anulação do negócio jurídico, deduzindo, desde logo, pretensão com vista à revisão judicial do negócio por meio da redução do proveito do lesionador ou do complemento do preço”.
É plenamente possível que a parte prejudicada ingresse diretamente com uma ação fundada na lesão, pleiteando a revisão do negócio.
Para caracterizar a lesão é necessário:
a) elemento objetivo – desproporção das prestações, a gerar onerosidade excessiva (em prejuízo a uma das partes do contrato);
b) elemento subjetivo – a premente necessidade ou inexperiência dessa parte que sofreu prejuízo.
Conceito de premente necessidade – é genérico e depende de apreciação pelo aplicador da norma. Ex.: direito de moradia (CF, 6º) e a compra de um imóvel – Tartuce entende que é premente necessidade (dignidade da pessoa humana).
Premente necessidade presumida – é possível, para Tartuce. Como no caso de vulnerabilidade contratual (direito do consumidor) – ou contratos de adesão (a parte adere ao contrato) – pode-se entender que a premente necessidade é presumida (ao contrário do que diz o Enunciado 290 CJF).
Conceito de inexperiência – também é passível de interpretação.
A inexperiência pode ser econômica, financeira, política, social ou técnica, servindo, por analogia, a interpretação do que constitui a hipossuficiência do consumidor.
Enunciado 410 do CJF – “Art. 157. A inexperiência a que se refere o art. 157 não deve necessariamente significar imaturidade ou desconhecimento em relação à prática de negócios jurídicos em geral, podendo ocorrer também quando o lesado, ainda que estipule contratos costumeiramente, não tenha conhecimento específico sobre o negócio em causa”.
Está-se a ampliar a ideia de inexperiência, tutelando inclusive casos de hipossuficiência. 
Não se admite mais o “negócio da China”, pois o instituto da lesão representa verdadeira limitação à autonomia individual da vontade. Não se aceita mais passivamente a realização de negócios jurídicos com prestaçõesmanifestamente desproporcionais.
Ex.: lesão na prática do truck system – empregador coloca mercadorias a disposição do empregado (no local de trabalho) a preços bem superiores aos praticados no mercado. Essa prática é vedada na CLT (462, §§ 2º a 4º).
O fator predominante e central para a caracterização da lesão é a onerosidade excessiva. Há um desequilíbrio contratual, contra a parte mais fraca. 
A base estrutural do vício é um problema que acomete a vontade (denominada lesão subjetiva).
Isso não se confunde com a lesão objetiva (CC, 480) ou lesão enorme. Ou seja, deve-se vedar a onerosidade excessiva e reprimir cláusulas abusivas, leoninas, que quebram o princípio da comutatividade dos contratos. A lesão objetiva caracteriza-se pela simples presença da onerosidade excessiva, não se discutindo a questão volitiva como ocorre na lesão subjetiva. Mas dentro do conceito de lesão subjetiva está a lesão objetiva (pela menção à prestação desproporcional – art. 157, CC). 
O certo é que sempre vai ser cabível a revisão do negócio (ação revisional do contrato), na tentativa de se salvar o pacto celebrado entre as partes.
Por fim, a lesão não se confunde com o dolo.
Enunciado 150 do CJF – “Art. 157: A lesão de que trata o art. 157 do Código Civil não exige dolo de aproveitamento.”
A lesão exige premente necessidade ou inexperiência e onerosidade excessiva; isso não se confunde com o artifício ardiloso presente no dolo.
O dolo de aproveitamento traz um benefício patrimonial do agente.
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A lesão também não se confunde com o estado de perigo:
	Lesão
	Estado de perigo
	Elemento subjetivo: Premente necessidade ou inexperiência
	Elemento subjetivo: perigo que acomete o próprio negociante, pessoa de sua família ou amigo íntimo, sendo esse perigo do conhecimento do outro negociante.
	Elemento objetivo: prestação manifestamente desproporcional (onerosidade excessiva)
	Elemento Objetivo: obrigação excessivamente onerosa
	Revisa-se o negócio, pela regra expressa no art. 157, § 2º, CC, hipótese de subsunção.
	Aplica-se analogicamente o art. 157, § 2º, CC, visando conservar o negócio, hipótese de integração.
3.3.6 Fraude contra credores (CC, 158-165)
Trata-se de vício social. Constitui fraude contra credores a atuação maliciosa do devedor, em estado de insolvência ou na iminência de assim tornar-se, que dispõe de maneira gratuita ou onerosa o seu patrimônio, para afastar a possibilidade de responderem os seus bens por obrigações assumidas em momento anterior à transação. 
Ex.: Tício tem conhecimento da proximidade do vencimento de dívidas em relação ao credor Mévio. Então, Tício vende para Caio imóvel de seu patrimônio. Havendo conhecimento de Caio sobre o estado de insolvência do vendedor Tício, estará configurado o vício social a acometer o negócio jurídico. Mesma conclusão serve para o caso de doação (disposição gratuita). Mévio (credor) pode ajuizar ação anulatória para invalidar o negócio entre Tício e Caio.
Art. 158 – “Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos”.
Estão incluídas no art. 158 as hipóteses de remissão ou perdão de dívida, estando caracterizado o ato fraudulento toda vez que o devedor estiver insolvente ou beirando à insolvência. 
Em tais situações caberá ação anulatória por parte de credores quirografários eventualmente prejudicados, desde que proposta no prazo decadencial de 4 anos, contados da celebração do negócio fraudulento (CC, 178, II).
Essa ação anulatória tem denominação específica: ação pauliana ou ação revocatória (segue o rito ordinário – CPC, 282 – o procedimento mais amplo dentro do contexto processual civil).
§ 1º - “Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente”.
Enunciado 151 CJF – “Art. 158: O ajuizamento da ação pauliana pelo credor com garantia real (art. 158, § 1º) prescinde de prévio reconhecimento judicial da insuficiência da garantia.”
§ 2º - “Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles”.
Como se percebe, somente os credores que já o eram no momento da disposição fraudulenta poderão promover a referida ação pauliana.
Enunciado 292 – CJF – “Art. 158: Para os efeitos do art. 158, § 2º, a anterioridade do crédito é determinada pela causa que lhe dá origem, independentemente de seu reconhecimento por decisão judicial.” 
Na fraude contra credores há:
a) elemento objetivo: atuação do devedor e de terceiro em prejuízo do(s) credor(es). É o eventus damni ou prejuízo causado ao(s) credor(es)
b) elemento subjetivo: a vontade, a intenção de prejudicar o(s) credor(es). É o consilium fraudis ou a colusão (conluio fraudulento entre aquele que dispõe – devedor – e aquele que adquire o bem – o terceiro).
Para os casos de negócios onerosos (ex.: compra e venda), não havendo tais requisitos não há que se falar em anulabilidade do ato celebrado.
Todavia, para os casos de disposição gratuita de bens (ex.: doação) ou perdão de dívida, o art. 158 dispensa a presença do elemento subjetivo (consilium fraudis), bastando o evento danoso ao credor. O dispositivo legal, em tais casos, prevê que tais negócios podem ser anulados ainda quando o adquirente (terceiro) ignore o estado de insolvência. LEMBRE-SE:
	Disposição onerosa de bens com intuito de fraude:
	
consilium fraudis + eventus damni
	Disposição gratuita de bens ou remissão de dívida:
	
eventus damni (apenas – o consilium fraudis é presumido)
Art. 159 – “Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.”
Existe, portanto, a presunção relativa (iuris tantum) do consilium fraudis, a caracterizar o vício social do negócio jurídico.
A jurisprudência entende que se presume o conluio fraudulento quando há parentesco envolvido no negócio jurídico que prejudica credores.
Art. 160 – “Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados”.
Parágrafo único – “Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real”.
Esse artigo trata da denominada fraude não ultimada, buscando salvar o negócio jurídico, em atenção ao princípio da conservação do contrato.
Art. 161 – “A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé”.
A ação pauliana (ou revocatória) deve ser proposta pelos credores quirografários contra o devedor insolvente, podendo também ser movida contra a pessoa que celebrou o negócio com o fraudador ou terceiros adquirentes que tenham agido de má-fé.
É esse um caso de litisconsórcio passivo necessário (CPC, 46). Trata-se, conforme jurisprudência, de nulidade processual a ausência de citação dos litisconsortes envolvidos.
A ação pauliana afasta o enriquecimento sem causa das partes envolvidas com a fraude, repondo o bem alienado no nome do devedor, para futura satisfação da dívida que se tentou fraudar (que se tentou não pagar).
Súmula 195, STJ – “em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores”.
Torna-se necessário, pois, o ajuizamento da ação pauliana para buscar a anulação do negócio jurídico realizado em fraude contra credores (não sendo o procedimento dos embargos de terceiro o mecanismo processual para se pleitear tal anulação).
Art. 162. “O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores,aquilo que recebeu”.
Concurso de credores – com a insolvência do devedor (insuficiência de patrimônio para saldar as dívidas, ou seja, as dívidas da pessoa ultrapassam o valor do seu patrimônio) deverá ser aberto concurso de credores. 
Se o devedor insolvente não for empresário – haverá o concurso de credores, onde todos os sujeitos ativos obrigacionais (credores) entram, buscando para receber seus créditos em rateio, na proporção das dívidas respectivas.
Se o devedor insolvente é empresário ou sociedade empresária – aplica-se a Lei de Falência, a qual se revela como um processo em que todos os credores executam conjuntamente seus créditos. 
Art. 165. “Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores”.
Parágrafo único. “Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada”.
Art. 163. “Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor”.
Essa presunção de fraude é relativa (iuris tantum), ou seja, admite prova em contrário. Para Renan Lotufo, há fraude porque a coisa dada em garantia sairá do patrimônio do devedor com o fim de assegurar o direito real, antes que se inicie o rateio paritário. Com isso os demais credores receberão menos do que aquele que tinha igualdade de condições com eles. É essa diferenciação entre os credores que a lei quer evitar, presumindo como fraudulento o negócio que beneficia apenas um dos credores. 
Art. 164. “Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família”.
Trata-se de presunção relativa de boa-fé, relacionada com negócios ordinários indispensáveis à manutenção do estabelecimento ou à subsistência do devedor (e sua família).
Questões processuais:
1) conforme doutrina, o ato fraudulento seria ineficaz e não anulável. Assim, demonstrada a fraude ao credor, a sentença não anulará a alienação, mas simplesmente declarará a ineficácia do ato fraudatório perante o credor (permanecendo o negócio válido entre os contratantes). Deve-se compreender que o vício não é causa de anulabilidade, mas de inoponibilidade do negócio ao credor prejudicado. O negócio jurídico é válido, mas ineficaz em relação ao credor. Parte da jurisprudência tem acolhido essa tese - REsp 971.884/PR (STJ). 
Mas devemos ter presente que a lei (CC) trata como caso de anulabilidade (invalidade), sendo majoritário o entendimento de que se trata de questão de nulidade relativa (ato anulável). ESSA TESE DA ANULABILIDADE DO NEGÓCIO CELEBRADO EM FRAUDE A CREDORES É A QUE DEVE PREPONDERAR PARA AS PROVAS OBJETIVAS (OAB, CONCURSOS).
 2) com a anulação do negócio o bem retorna ao patrimônio do devedor que agiu com fraude. Todavia, isso não representa que o credor que ajuizou e venceu a ação pauliana tenha garantia de conseguir a satisfação do seu crédito. Como já se viu, abre-se concurso de credores (cada um recebendo uma proporção do seu crédito). Logo, a pessoa pode ganhar a ação pauliana e não ter o seu crédito pago.
3) FRAUDE CONTRA CREDORES e FRAUDE À EXECUÇÃO: a fraude a credores já foi abordada. De outro lado, ocorre a fraude à execução quando, ao tempo da alienação do bem, já corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência (a insolvência deve ser resultado do ato de alienação ou oneração realizada no curso do processo para que seja considerada em fraude à execução). 
Para que se reconheça a fraude à execução parte da doutrina entende que deve ter ocorrido a citação do devedor na ação de execução ou na ação condenatória. De outro lado, outra corrente (na qual está o Tartuce) pensa que basta a simples propositura da demanda.
STJ – a fraude à execução pressupõe citação válida em ação capaz de tornar insolvente o alienante. Não basta o ajuizamento da ação. 
Na fraude à execução não é necessário ajuizamento de ação pauliana, mas simples requerimento no processo existente contra o devedor. 
Súmula 375, STJ – o reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova da má-fé do terceiro adquirente.
Portanto, a ineficácia da alienação do bem com fraude à execução não pode ser oposta a terceiro de boa-fé.
3.3.7 Simulação (CC, 167-168)
A simulação recebeu novo tratamento com o advento do CC/02.
O CC/02 não contemplou a simulação no Capítulo IV: “DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO”. Tratou da simulação no art. 167, dentro do Capítulo V: “DA INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO”.
A final, a simulação é um defeito (social) do negócio jurídico? Ou é causa para a invalidade absoluta do ato?
Maria Helena Diniz entende que simulação continua sendo vício do negócio jurídico, conceituando o instituto como “declaração enganosa da vontade, visando a produzir efeito diverso do ostensivamente indicado”.
Quanto à simulação, Silvio Salvo Venosa diz que “trata-se de um vício social, por diferir dos vícios da vontade”.
Tartuce, seguindo parcela da doutrina, também entende que a simulação é um vício social do negócio, com a diferença de que torna nulo o negócio jurídico que contenha esse defeito.
Na simulação, há um desacordo entre a vontade declarada ou manifestada e a vontade interna. Há uma discrepância entre a vontade e a declaração, entre a essência e a aparência.
A simulação pode ser alegada por terceiros que não fazem parte do negócio, mas também por uma parte contra a outra.
Enunciado 294, CJF – “Arts. 167 e 168: Sendo a simulação uma causa de nulidade do negócio jurídico, pode ser alegada por uma das partes contra a outra”.
Sendo questão de ordem pública, que gera nulidade absoluta do ato, a simulação pode ser alegada por qualquer das partes contratantes ou por qualquer interessado e até mesmo pelo Ministério Público (CC, 168). 
Deve-se enfatizar que, na simulação, as partes contratantes estão combinadas e objetivam iludir terceiros. Como se percebe, sem dúvida, há vício de repercussão social, que gera a nulidade absoluta do negócio jurídico.
Art. 167, CC – “É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.”
Enunciado 152, CJF – “Art. 167: Toda simulação, inclusive a inocente, é invalidante.”
Em havendo simulação de qualquer espécie (prejudicando ou não terceiros, sendo maliciosa ou inocente) o ato é nulo de pleno direito (por contrariedade à ordem pública). 
O Código Civil revogado (1916) tratava a questão como anulável somente quando a simulação fosse maliciosa (causando prejuízos a terceiros); todavia, poupava os negócios em que a simulação fosse inocente (sem prejuízo a terceiros ou sem violação de disposição legal).
Atualmente, com o CC/02, a maioria da doutrina entende que, caracterizado o negócio jurídico simulado (malicioso ou inocente), deve-se considerá-lo nulo de pleno direito (pois sempre haverá presunção de dano com repercussão social).
De outro lado, o art. 167 do CC/02 prevê que subsistirá o negócio que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
Trata-se da simulação relativa – na aparência há um negócio; na essência, há outro. Percebe-se dois negócios: um aparente (simulado) e outro escondido (dissimulado). Eventualmente, esse negócio dissimulado, camuflado, pode ser tido como válido, no caso de simulação relativa.
Enunciado 153, CJF – “Art. 167: Na simulação relativa, o negócio simulado (aparente) é nulo, mas o dissimulado será válido se não ofender a lei nem causar prejuízos a terceiros.”
Enunciado 293, CJF – “Art. 167: Na simulação relativa, o aproveitamento do negócio jurídico dissimulado não decorre tão-somente do afastamento do negócio jurídico simulado, mas do necessário preenchimento de todos os requisitos substanciais e formaisde validade daquele.”
Ex.: um proprietário cede um imóvel a outrem celebrando, na aparência, um contrato de comodato (empréstimo de bem imóvel). Entretanto, na realidade (por detrás dos panos) é cobrado aluguel, característico de um contrato de locação. 
Aplicando-se a parte final do art. 167 (simulação relativa), o comodato é inválido, mas pode-se salvar o negócio como locação (válida), desde que não ofenda a lei ou os direitos de terceiro, bem como tenha todos os requisitos legais de validade do ato (CC, 104).
Ex. 2: CONTRATO DE TRABALHO – alguém celebra com outrem contrato de prestação de serviços (seguindo o CC), mas este, na verdade, revela a presença de todos os requisitos da relação de emprego (CLT, 2º e 3º). Nesse caso, será nulo o contrato de prestação de serviços; entretanto, poderá ser válido o contrato de trabalho regido pela CLT.
STJ – julgou caso em que a empregada figurava como sócia da pessoa jurídica. Considerou-se que houve simulação e estabeleceu-se a competência da Justiça do Trabalho para processo e julgamento do caso (contrato de trabalho).
§ 1º, art. 167, CC – “Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.”
O inciso I é forma de simulação subjetiva.
Os incisos II e III são considerados como simulação objetiva.
Esse rol de situações caracterizadoras da simulação é exemplificativo (numerus apertus), pois sempre que se verificar outra forma de simulação (não prevista no § 1º do art. 167) será caso de nulidade absoluta do negócio. Todas as vezes que houver uma disparidade entre a vontade manifestada e a vontade oculta será caso de simulação (causando a nulidade absoluta do ato).
§ 2º, art. 167, CC – “Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.”
O negócio jurídico simulado não é oponível a terceiros de boa-fé, pois se trata de ato nulo de pleno direito.
Vejamos a classificação da simulação:
a) simulação absoluta - aparentemente se tem um negócio jurídico, mas, na prática, as partes não desejam realizar negócio algum. Ex.: pai doa imóvel ao filho (com registro na Serventia do Registro de Imóveis), todavia, continua usufruindo do mesmo, exercendo os poderes de domínio sobre o bem. Trata-se de caso de simulação absoluta, sendo o negócio jurídico nulo.
b) simulação relativa – aparentemente os negociantes celebram um negócio jurídico, entretanto, na prática, almejam outro negócio. A simulação relativa pode ser: 
b.1) subjetiva: caso em que o vício social acomete a pessoa com que o negócio é celebrado. Ex.: a parte faz o negócio com uma parte na aparência, mas, na realidade, com é com outra que está negociando (é a conhecida figura do “laranja” ou “testa de ferro”; trata-se de negócio jurídico celebrado por interposta pessoa – art. 167, § 1º, I, CC). 
b.2) objetiva: caso em que o vício social comente o conteúdo do negócio celebrado. Ex.: faz contrato de comodato quando, na prática, há pagamento de aluguel, característica do contrato de locação (art. 167, § 1º, II e III, CC).
Como seja, na prática, essa classificação não tem muita relevância, pois, em qualquer caso, o negócio jurídico celebrado com o vício da simulação é nulo de pleno direito (atenta à ordem pública).
3.4 Da invalidade do negócio jurídico (CC, 166-184)
A expressão invalidade é empregada, genericamente, para designar o negócio que não produz os efeitos desejados pelas partes envolvidas. Foi essa a terminologia adotada pelo Código Civil de 2002.
A invalidade do negócio jurídico abrange:
a) a inexistência do negócio;
b) a nulidade absoluta (negócio nulo);
c) a nulidade relativa ou anulabilidade (negócio anulável).
O negócio inexistente será também inválido e ineficaz.
O negócio inválido é também ineficaz.
Relembre-se que todo o contrato é um negócio jurídico bilateral, sendo que as questões de nulidade ou anulabilidade de negócios jurídicos são também causas de nulidade ou anulabilidade de contratos.
3.4.1 Da inexistência do negócio jurídico
O negócio inexistente é aquele que não gera efeitos no âmbito jurídico, pois não preencheu os seus requisitos mínimos, constantes do plano da existência. São inexistentes os negócios jurídicos que não apresentam os elementos que formam o suporte fático (quanto aos agentes, a vontade, o objeto e a forma). 
Vários doutrinadores adotam essa teoria, contemplando três planos do negócio jurídico, conforme Pontes de Miranda (Plano da Existência, Plano da Validade e Plano da Eficácia). Para os adeptos dessa teoria, em casos tais, não é necessária a declaração da invalidade por decisão judicial.
De outro lado, alguns autores não adotam a teoria da inexistência do negócio jurídico, pois o CC/02 teria tratado apenas das questões de nulidade absoluta e relativa (atos nulos e anuláveis). Por exemplo, para Sílvio Rodrigues, a teoria da existência seria inexata (pois o ato inexistente, muitas vezes, cria algo cujos efeitos devem ser afastados por ação judicial), inútil (porque a noção de nulidade pode substituir a ideia de inexistência) e inconveniente (afasta-se o direito à uma prestação jurisdicional, na medida em que se dispensa a ação judicial). Para esses autores, os casos apontados como negócios jurídicos inexistentes seriam resolvidos pela nulidade do ato.
Certo é que o artigo 104 do Código Civil trata diretamente do plano da validade (requisitos de validade do negócio jurídico); sendo que o plano da existência estaria inserido no plano da validade (implícito no CC, 104).
No campo prático, sabe-se que não há sequer a necessidade de se promover a ação correspondente, para declarar o negócio inexistente. Mas, poderá haver a necessidade de ajuizamento de ação com o objetivo de afastar eventuais efeitos decorrentes da inexistência do negócio (nessa ação devem ser usadas as mesmas regras previstas para a declaração da nulidade absoluta).
Portanto, casos apontados em exemplos como negócios inexistentes são, na prática, tratados como casos de nulidade absoluta.
3.4.2 Da nulidade absoluta do negócio jurídico
Em sentido amplo, nulidade é a sanção imposta pela lei que determina a privação de efeitos jurídicos do ato negocial, praticado em desobediência ao que a norma jurídica impõe.
A nulidade é a consequência prevista em lei, nas hipóteses em que não estão preenchidos os requisitos básicos para a existência válida do ato negocial.
Há duas espécies de nulidade: a) absoluta; b) relativa (ou anulabilidade).
Na nulidade absoluta, o negócio jurídico não produz efeitos, pela ausência dos requisitos para o seu plano de validade (CC, 104). A nulidade absoluta ofende normas de ordem pública, sendo o negócio absolutamente inválido, cabendo ação correspondente para declarar a ocorrência do vício.
Art. 166 – “É nulo o negócio jurídico quando:
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; 
(rol dos absolutamente incapazes previsto no art. 3º do CC)
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; 
(o negócio em si tem objeto lícito, mas a nulidade é determinada porque, no caso concreto, houve conluio das partes para alcançar um fim ilegítimo e, eventualmente, criminoso – EXEMPLO: vende-se automóvel para que seja utilizado em seqüestro; empresta-se uma arma para matar alguém; aluga-se uma casa para a exploração de lenocínio. A venda, o mútuo e a locação não contrariam o Direito, mas são fulminados pela nulidade, pois o motivo determinante a ambas as partes é ilícito)
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
(os incisos IV e V referem-se à forma do negócio – EXEMPLO: negóciode compra e venda de imóvel superior a 30 salários-mínimos em que não foi elaborado contrato por escritura pública – negócio que é nulo de pleno direito)
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
(não se confunde com a ilicitude do objeto. Na fraude à lei há uma infringência indireta da norma proibitiva – EXEMPLO: caso da celebração de uma retrovenda – que é a possibilidade de recompra pelo vendedor –, cujo objetivo é o de dar aparência de legalidade a um contrato de mútuo em que foram cobrados juros abusivos – DEC. 22.626/33 – Lei da Usura).
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção”.
(EXEMPLO DE NULIDADE TAXATIVA: vedação da doação de todos os bens, sem a reserva do mínimo para a sobrevivência do doador – CC, 548. EXEMPLO DE NULIDADE IMPLÍCITA: não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva – CC, 426 – esse artigo veda apenas o pacto sucessório, não prevendo sanção – no caso a nulidade absoluta.
Além disso, como já visto, o negócio jurídico simulado (CC, 167) também é nulo de pleno direito.
A coação física (tortura para realização do negócio) também torna o ato nulo de pleno direito [ou inexistente] (por ausência de vontade).
Efeitos decorrentes do reconhecimento da nulidade absoluta:
- quando há nulidade absoluta, deve ser proposta uma ação declaratória de nulidade (que segue, em regra, o rito ordinário – CPC, 282). Essa ação tem natureza preponderantemente declaratória, e é imprescritível (ou seja, não está sujeita a prescrição e decadência). A imprescritibilidade ainda se justifica pela circunstância de que a causa de nulidade absoluta envolve preceitos de ordem pública, o que impede que o negócio seja confirmado (convalisça) pelo decurso de certo tempo (CC, 169).
Art. 168. “As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir”.
Parágrafo único. “As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes”.
Trata-se da declaração de ofício pelo magistrado, que ocorre sempre que estão presentes os interesses da coletividade. Não é permitido ao juiz o suprimento de nulidade. 
Art. 169. “O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo”.
Ou seja, a nulidade absoluta tem um efeito fatal, que liquida totalmente o negócio jurídico. Consequência é o que conta no art. 367 do CC (não podem ser objeto de novação [criação de uma nova obrigação, substituindo e extinguindo a primeira] as obrigações nulas, eivadas de nulidade absoluta).
Art. 170. “Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade”.
O Código Civil de 2002 admite a conversão do negócio jurídico nulo em outro de natureza diferente. O CC/16 não admitia o aproveitamento do negócio jurídico nulo.
Agora é possível a conversão do negócio nulo em outro negócio jurídico, aproveitando-o. Para isso a lei exige um elemento subjetivo, eis que é necessário que os contratantes queiram o outro negócio ou contrato para o qual o negócio nulo será convertido. Implicitamente, as partes devem ter conhecimento da nulidade que acomete o pacto celebrado.
Também há um requisito objetivo, conforme o Enunciado 13, CJF – “O aspecto objetivo da convenção requer a existência do suporte fático no negócio a converter-se.”
É necessário que a situação fática permita a conversão, particularmente pela certa similaridade entre os elementos do negócio nulo e daquele para o qual ocorrerá a conversão. Ou seja, o negócio a ser convertido deve apresentar os pressupostos de existência (suporte fático) e os requisitos de validade, ou seja, os dois primeiros degraus da Escada Ponteana.
A conversão do negócio jurídico constitui o meio jurídico pelo qual o negócio nulo, respeitados certos requisitos, transforma-se em outro negócio, totalmente válido, visando à conservação contratual e à manutenção da vontade, da autonomia privada.
Deve o intérprete concluir se subsistiu uma vontade negocial subsidiária, expressa ou tácita, para a conversão do negócio nulo em outro negócio. Valoriza-se eventual vontade concreta das partes, mediante uma manifestação posterior.
Ex.: ausência de escritura pública em venda de imóvel com valor superior a trinta salários-mínimos, o que acarreta a nulidade absoluta do ato (CC, 108). Pela aplicação dos arts. 170 e 462 do CC, há a possibilidade de esse ato ser aproveitado, transformando-se a compra e venda nula em compromisso bilateral de compra e venda (espécie de contrato preliminar entre as partes).
Para tanto, imprescindível que as partes, após manifestações de vontade livres, denotem as suas intenções de celebrar esse novo negócio jurídico, elemento subjetivo sem o qual a conversão não é possível. Além disso, o negócio a ser convertido deve ter os requisitos mínimos do outro negócio, o que possibilita a sua convalidação, mas com outros efeitos jurídicos.
Por fim, convém esclarecer que a sentença que declara a nulidade absoluta tem efeitos: 
a) erga omnes (contra todos), por ser questão de ordem pública; e
b) ex tunc (retroativos), desde o surgimento do negócio jurídico nulo. 
3.4.3 Da nulidade relativa ou anulabilidade do negócio jurídico
A nulidade relativa, por sua vez, envolve preceitos de ordem privada, de interesse das partes.
As hipóteses de nulidade relativa ou anulabilidade constam no art. 171 do CC/02:
Art. 171 – “Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente; [art. 4º do CC]
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores”.
Quanto aos casos expressamente declarados na lei, pode-se exemplificar com o art. 1.647 do CC [outorga uxória ou marital]. Desrespeitado esse dispositivo, com base no art. 1.649 do CC, cabe ação anulatória a ser promovida pelo cônjuge, no prazo decadencial de 2 anos, contado do fim da sociedade conjugal. 
Nos casos de anulabilidade (nulidade relativa), deverá ser ajuizada ação anulatória (a qual segue o rito ordinário) para pleitear a invalidação do negócio jurídico.
Quanto à ação anulatória, incidem os prazos decadenciais previstos nos arts. 178 e 179 do CC:
Art. 178. “É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico;
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade”.
Art. 179. “Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato”.
O art. 179 traz um prazo geral de 2 anos de decadência, contado da celebração do negócio, quando a lei não fixar prazo.
Art. 177. “A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade”.
Também não cabe intervenção do Ministério Público.
Art. 172. “O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro”.
Esse dispositivo também valoriza a boa-fé objetiva. É a chamada convalidação livre da anulabilidade. 
Art. 173. “O ato de confirmação deve conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo”.
É a chamada confirmação expressa.
Art. 174. “É escusada a confirmação expressa, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo devedor, ciente do vício que o inquinava”.
O CC dispensa a confirmação expressa. A confirmação, pelo art.174, se dá de forma tácita ou presumida, por meio de conduta do sujeito passivo obrigacional.
Art. 175. “A confirmação expressa, ou a execução voluntária de negócio anulável, nos termos dos arts. 172 a 174, importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o devedor”.
Esse art. 175 refere-se à irrevogabilidade da confirmação. Não cabe qualquer requerimento (posterior à confirmação do negócio) para anulabilidade do negócio anterior. 
Art. 176. “Quando a anulabilidade do ato resultar da falta de autorização de terceiro, será validado se este a der posteriormente”.
Esse artigo faz com que o negócio celebrado por menor púbere (16 a 18 anos), sem a autorização do pai ou do tutor, seja validado se a autorização ocorrer posteriormente.
Art. 180. “O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior”.
A malícia supre a idade. O negócio jurídico reputa-se válido e gera efeitos, afastando-se qualquer anulabilidade.
Art. 181. “Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em proveito dele a importância paga”.
Diante da vedação do enriquecimento sem causa, reconhece-se a possibilidade da pessoa reaver o dinheiro pago, se provar que o menor dele se beneficiou.
A sentença da ação anulatória, diante de natureza privada do vício que gera a anulabilidade, tem efeitos:
a) inter partes (entre as partes).
b) ex nunc (não retroativos, ou seja, vigoram desde o trânsito em julgado da sentença anulatória).
Esse é o entendimento da doutrina clássica (corrente predominante).
De outro lado, há posicionamento no sentido de que os efeitos também seriam ex tunc (retroativos desde a data do negócio) parciais, com fundamento no art. 182 do CC. 
Art. 182. “Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente”.
Entendem alguns que há efeitos retroativos parciais na sentença anulatória, pois se deve buscar a volta da situação primitiva, anterior a celebração do negócio. Ex.: num casamento anulado, as partes voltam a ser solteiras.
 A questão é dividida, sendo que prevalece o entendimento dos doutrinadores clássicos, no sentido de que os efeitos da sentença são ex nunc (não retroativos). 
Art. 183. “A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre que este puder provar-se por outro meio”.
Aqui há a busca pela verdade real, bem como pela conservação do negócio. Ex.: um contrato preliminar não pode ser anulado se puder ser provado por testemunhas, pois o art. 462 do CC dispensa a forma para o pré-contrato. 
Art. 184. “Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal”.
A nulidade do negócio garantido invalida a garantia, mas nunca o inverso. O acessório segue o principal, mas não o contrário.
Ex.: negócio em que a multa ou cláusula penal foi fixado com o vício da lesão. Nesse caso, só a multa é anulável, salvando-se o negócio principal.
Ex.2: art. 549, CC – nulidade da doação somente na parte que exceder o que o doador poderia dispor (50% do seu patrimônio). A nulidade apenas atinge parte do negócio, conservando-se o restante.
3.4.4 Prescrição e Decadência
A) Considerações Iniciais:
Prescrição e decadência decorrem do decurso de tempo; é a influência do tempo nas relações jurídicas.
Por isso, são tidas como fatos naturais ou fatos jurídicos stricto sensu.
O exercício de um direito não pode ficar pendente de forma indefinida no tempo, sendo que o titular desse direito deve exercê-lo dentro de um determinado prazo (o direito não socorre aos que dormem).
Assim, prescrição e decadência pretendem a segurança e a certeza nas relações jurídicas (pacificação social).
A prescrição consta dos artigos 189 a 206 do Código Civil
A decadência é tratada nos artigos 207 a 211 do Código Civil (todavia, os prazos de decadência estão espalhados pelo Código Civil) 
Prescrição é a perda/extinção da pretensão (por opção legislativa).
Decadência é a perda de um direito potestativo.
(direito potestativo é o que não admite contestação ou oposição – não há nada para fazer contra um direito potestativo – ex.: direito de uma dos cônjuges a pedir o divórcio; isso não admite oposição, ou seja, ainda que o outro cônjuge não queira o divórcio, ele vai ser decretado igualmente). 
Os dois artigos que fazem referência a prazos de prescrição são os artigos 205 e 206. 
Todos os demais prazos previstos em outros artigos do código são, em regra, de decadência.
O doutrinador Agnelo Amorim Filho criou a diferenciação que foi adotada pelo Código Civil de 2002:
A) tratando-se de pretensão condenatória (como cobrança ou reparação de danos) – o prazo é de prescrição.
B) tratando-se de pretensão constitutiva ou desconstitutiva (como a ação anulatória) – o prazo é de decadência
C) tratando-se de pretensão declaratória – é imprescritível. Ex.: nulidade absoluta – ato nulo não convalesce pelo decurso do tempo (cabe ajuizamento de ação declaratória a qualquer tempo).
Por fim, vejamos a formula criada pelo Tartuce para distinguir quando um prazo é de prescrição ou de decadência:
1) identificar o prazo: se o prazo for em “dia”, “mês” ou “ano e dia” – o prazo é de decadência (se for fixado em “ano” poderá ser decadência ou prescrição);
2) identificar o artigo: se o prazo estiver nos artigos 205 e 206 do CC/02 é prazo de prescrição; se estiver em outros artigos do CC/02 será prazo de decadência;
3) identificar a ação correspondente: 
- se a pretensão for condenatória: é prescrição;
- se a pretensão for constitutiva (ou desconstitutiva): é decadência;
- se a pretensão for declaratória: é imprescritível.
Exemplos: 
A) Ação de alimentos – é pretensão declaratória - imprescritível
B) Ação revisional (de alimentos) – é pretensão condenatória – prescreve em 2 anos – artigo 206, § 2º, CC. 
C) Ação de reparação civil – é pretensão condenatória – prescreve em 3 anos – artigo 206, § 3º, V, CC.
D) Ação para desfazer negócio por vício redibitório (defeito oculto no objeto do negócio) – é pretensão desconstitutiva (ou constitutiva negativa) – prazo decadencial – artigo 445, CC.
E) Ação para anular venda de ascendente para descendente sem autorização dos demais descendentes e do cônjuge – é pretensão desconstitutiva – prazo decadencial – Enunciado 368 do CJF – prazo decadencial de 2 anos (conforme o art. 179, CC).
B) Prescrição
Art. 189 – “Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206”.
Se o titular de um direito permanecer inerte, tem como pena a perda da pretensão que teria por via judicial.
A prescrição constitui um benefício em favor do devedor (o direito não socorre os que dormem).
A prescrição está associada, como visto, às ações condenatórias (cobrança ou reparação de danos).
A prescrição pode ser:
1) extintiva – é a que está sendo estudada - artigos 205 e 206 do CC.
2) aquisitiva – é a que se verifica no caso do usucapião.
A prescrição é um fato jurídico stricto sensu pela ausência da vontade humana. Sua origem está no decurso do tempo, que é um fato natural.
De outro lado, como a prescrição é a extinção da pretensão, o DIREITO em si permanece são e salvo (só que sem proteção jurídica para solucioná-lo).
Logo, se alguém pagar uma dívida prescrita não poderá pedir a devolução da quantia paga, pois permanece existente o direito de crédito (foi extinta somente a pretensão que era vinculada àquele direito). Nesse sentido, prevê o art. 882 do CC que não

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