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informativo Esquematizado 841 STF

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Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RE 
566471/RN; RE 657718/MG; RHC 135298/SP. 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
CONCURSO PÚBLICO 
 Inconstitucionalidade de permuta de serventia sem concurso público após a CF/88. 
 
DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 
REGIME JURÍDICO 
 Inconstitucionalidade de permuta de serventia sem concurso público após a CF/88. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
HONORÁRIOS RECURSAIS 
 Fixação de honorários recursais mesmo quando não há a apresentação de contrarrazões ou contraminuta. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS 
 Incide ISS sobre o serviço prestado pelos planos de assistência à saúde. 
 Lei municipal que veicula exclusão de valores da base de cálculo do ISSQN. 
 
DIREITO FINANCEIRO 
DEPÓSITOS JUDICIAIS 
 Inconstitucionalidade das leis estaduais que permitem que o Estado utilize tais verbas. 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
CONCURSO PÚBLICO 
Inconstitucionalidade de permuta de serventia sem concurso público após a CF/88 
 
O art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes da edição 
da Lei nº 8.935/94, ela já tinha plena eficácia e o concurso público era obrigatório como 
condição não apenas para ingresso na atividade notarial e de registro, como também nos casos 
de remoção ou permuta. 
As normas estaduais que admitem a remoção na atividade notarial e de registro 
independentemente de prévio concurso público são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da 
Constituição, razão pela qual não foram por essa recepcionadas. 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
O prazo decadencial de 5 anos, de que trata o art. 54 da Lei nº 9.784/99, não se aplica à revisão 
de atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a CF/88, sem o atendimento 
das exigências prescritas no seu art. 236. Assim, se uma pessoa assumiu uma serventia 
notarial ou registral sem concurso público após a CF/88, este ato poderá ser anulado mesmo 
que já se tenham passado mais de 5 anos. 
A decisão que anula o ato de investidura em serventia notarial e registral sem concurso 
público não viola o direito adquirido nem a segurança jurídica. 
STF. 1ª Turma. MS 29415/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 
27/09/2016 (Info 841). 
 
Veja comentários em Direito Notarial e Registral. 
 
 
 
DIREITO NOTARIAL 
E REGISTRAL 
 
REGIME JURÍDICO 
Inconstitucionalidade de permuta de serventia sem concurso público após a CF/88 
 
O art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes da edição 
da Lei nº 8.935/94, ela já tinha plena eficácia e o concurso público era obrigatório como 
condição não apenas para ingresso na atividade notarial e de registro, como também nos casos 
de remoção ou permuta. 
As normas estaduais que admitem a remoção na atividade notarial e de registro 
independentemente de prévio concurso público, são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da 
Constituição, razão pela qual não foram por essa recepcionadas. 
O prazo decadencial de 5 anos, de que trata o art. 54 da Lei nº 9.784/99, não se aplica à revisão 
de atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a CF/88, sem o atendimento 
das exigências prescritas no seu art. 236. Assim, se uma pessoa assumiu uma serventia 
notarial ou registral sem concurso público após a CF/88, este ato poderá ser anulado mesmo 
que já se tenham passado mais de 5 anos. 
A decisão que anula o ato de investidura em serventia notarial e registral sem concurso 
público não viola o direito adquirido nem a segurança jurídica. 
STF. 1ª Turma. MS 29415/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 
27/09/2016 (Info 841). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
João foi aprovado em concurso público e, em 1993, assumiu como titular da serventia notarial e registral 
da comarca "X". 
Alguns meses depois, autorizado por uma lei estadual vigente à época, realizou permuta e passou a ser 
titular da serventia notarial e registral da comarca "Y". 
Em 2010, o CNJ, em procedimento de controle administrativo (PCA), determinou a anulação do ato de 
permuta. 
 
Mandado de segurança 
Inconformado, João impetrou mandado de segurança no STF (art. 102, I, “r”, da CF) contra a decisão do 
CNJ. Apresentou três argumentos principais: 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
1º) O CNJ não mais teria direito de rever o ato, considerando que houve decadência, nos termos do art. 54 
da Lei n. 9.784/99: 
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para 
os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. 
 
2º) O art. 236 da CF/88 seria uma norma constitucional de eficácia limitada, de forma que somente 
produziu todos os seus efeitos, inclusive a exigência do concurso público (prevista no § 3º), com a edição 
da Lei n. 8.935/94, que regulamentou o referido dispositivo: 
Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. 
(...) 
§ 3º - O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não 
se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de 
remoção, por mais de seis meses. 
 
A permuta foi realizada antes da Lei nº 8.935/94, com base em uma lei estadual que vigorava até a edição 
da lei federal. 
 
3º) O ato não pode mais ser revisto, sob pena de violação aos princípios da segurança jurídica, da 
confiança e do direito adquirido. 
 
O STF concordou com os argumentos do impetrante? 
NÃO. O STF denegou o mandado de segurança, mantendo o ato do CNJ. 
Confira o entendimento da Corte para os argumentos levantados: 
1º) O prazo decadencial do art. 54 da Lei n. 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta 
diretamente a Constituição Federal. 
Se há uma inconstitucionalidade flagrante, a pessoa que está se beneficiando dessa situação não está de 
boa-fé, já que deveria saber que aquela situação é incompatível com o ordenamento jurídico. 
A parte final do art. 54 menciona que esse prazo não se aplica se ficar demonstrada a má-fé do 
beneficiário. Logo, estando João de má-fé (porque a inconstitucionalidade era evidente), a ele não pode 
ser aplicado o prazo decadencial. 
 
Assim, segundo entendimento consolidado do STF, "o prazo decadencial de 5 (cinco) anos, de que trata o 
art. 54 da Lei 9.784/1999, não se aplica à revisão de atos de delegação de serventias extrajudiciais 
editados após a Constituição de 1988, sem o atendimento das exigências prescritas no seu art. 236." (STF. 
2ª Turma. MS 28957 ED-AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 04/10/2016). 
 
2ª) O art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes da edição da Lei 
n. 8.935/94, ela já tinha plena eficácia e o concurso público era obrigatório como condição não apenas 
para ingresso na atividade notarial e de registro, como também nos casos de remoção ou permuta. 
"O STF possui jurisprudência pacífica no sentido da autoaplicabilidade do art. 236, § 3º, da CF/88, e, 
portanto, de que, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, é inconstitucional o acesso a serviços 
notarial e de registro sem prévia aprovação em concurso público. A obrigatoriedade de observância à regra 
da prévia aprovação em concurso público se dá não apenas no caso de acesso inicial ao serviço notarial e de 
registro, mas também para fins de se assumir a titularidade de novaserventia por meio de remoção ou 
permuta." (STF. 2ª Turma. MS 29421 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 04/08/2015). 
As normas estaduais que admitem a remoção na atividade notarial e de registro independentemente de 
prévio concurso público, são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da Constituição, razão pela qual não foram 
por essa recepcionadas (STF. 2ª Turma. MS 28957 ED-AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 04/10/2016). 
 
 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
3º) A decisão que anula o ato de investidura em serventia notarial e registral sem concurso público não 
viola o direito adquirido nem a segurança jurídica. 
Os princípios republicanos da igualdade, da moralidade e da impessoalidade devem nortear a ascensão às 
funções públicas. 
Além disso, o impetrante não pode invocar o princípio da confiança (consectário da segurança jurídica) 
porque este postulado exige que a pessoa esteja de boa-fé, o que não era o caso, já que a 
inconstitucionalidade era manifesta. 
"A edição de leis de ocasião para a preservação de situações notoriamente inconstitucionais, ainda que 
subsistam por longo período de tempo, não ostentam o caráter de base da confiança a legitimar a 
incidência do princípio da proteção da confiança e, muito menos, terão o condão de restringir o poder da 
Administração de rever seus atos." (STF. Plenário. MS 26860, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 02/04/2014). 
 
Resumindo: 
O art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes da edição da Lei nº 
8.935/94, ela já tinha plena eficácia e o concurso público era obrigatório como condição não apenas 
para ingresso na atividade notarial e de registro, como também nos casos de remoção ou permuta. 
As normas estaduais que admitem a remoção na atividade notarial e de registro independentemente de 
prévio concurso público, são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da Constituição, razão pela qual não 
foram por essa recepcionadas. 
O prazo decadencial de 5 anos, de que trata o art. 54 da Lei nº 9.784/99, não se aplica à revisão de atos de 
delegação de serventias extrajudiciais editados após a CF/88, sem o atendimento das exigências prescritas 
no seu art. 236. Assim, se uma pessoa assumiu uma serventia notarial ou registral sem concurso público 
após a CF/88, este ato poderá ser anulado mesmo que já se tenham passado mais de 5 anos. 
A decisão que anula o ato de investidura em serventia notarial e registral sem concurso público não 
viola o direito adquirido nem a segurança jurídica. 
STF. 1ª Turma. MS 29415/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 
27/09/2016 (Info 841). 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
HONORÁRIOS RECURSAIS 
Fixação de honorários recursais mesmo quando 
não há a apresentação de contrarrazões ou contraminuta 
 
É cabível a fixação de honorários recursais, prevista no art. 85, § 11, do CPC/2015, mesmo 
quando não apresentadas contrarrazões ou contraminuta pelo advogado da parte recorrida. 
STF. 1ª Turma. AI 864689 AgR/MS e ARE 951257 AgR/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. 
Min. Edson Fachin, julgado em 27/09/2016 (Info 841). 
 
Nos recursos em geral, se a parte recorrente perde, ela deverá ser condenada em honorários 
advocatícios mesmo já tendo sido condenada em 1ª instância? 
SIM. Agora, com o novo CPC, em regra, existe condenação em honorários advocatícios para a parte que 
interpôs recurso, mas sucumbiu. Esta previsão encontra-se no § 11 do art. 85 do CPC/2015: 
§ 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o 
trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2º a 6º, 
sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor, 
ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º para a fase de conhecimento. 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
 
Ex: João ajuizou ação contra Pedro, sendo o pedido julgado improcedente. O juiz condenou João a pagar 
10% de honorários advocatícios (§ 2º do art. 85). O autor não se conformou e interpôs apelação, tendo o 
Tribunal de Justiça mantido a sentença e aumentado a condenação em honorários para 15%, na forma do 
§ 11 do art. 85. 
 
Veja o que diz a doutrina sobre este importante § 11 do art. 85 do novo CPC: 
"Esta é uma das principais inovações do CPC/2015. No CPC/1973, em cada processo, havia uma 
única condenação em honorários. No novo sistema, a cada recurso, há a majoração na 
condenação em honorários – além daqueles já fixados anteriormente. 13.1. O teto para a fixação 
dos honorários é o limite previsto no § 2º (20%, no caso de particulares) e § 3º (3% a 20%, 
conforme a faixa, no caso da Fazenda Pública). Ou seja, mesmo com a sucumbência recursal, o 
teto de 20% de honorários não poderá ser ultrapassado. (...) 13.3. Ao julgar o recurso, de ofício, o 
tribunal irá aumentar os honorários. Assim, é possível que, no cotidiano, ocorra o seguinte: 
condenação em 10% quando da sentença, majorada para 15% quando do acórdão da apelação e 
para 20% quando do acórdão do recurso especial (por ser esse o teto legal, como visto). Mas o 
mais provável é que ocorra o seguinte: condenação em 10% quando da sentença, majorada para 
20% quando do acórdão da apelação e mantida nesses 20% quando do acórdão de eventual 
recurso especial (exatamente por ser o teto legal). 13.4. Em virtude de quais recursos deve ser 
aplicada a sucumbência recursal? Seriam todos os recursos previstos no artigo 994 do CPC/2015? 
Como o § 11 destaca “tribunal”, é de se concluir que não há a aplicação em 1º grau. Assim, quando 
dos embargos de declaração da interlocutória ou sentença, descabe aplicar honorários recursais." 
(DELLORE, Luiz. Comentários ao art. 85 do CPC. Teoria geral do processo: comentários ao CPC de 
2015 - Parte Geral. São Paulo: Método, 2015, p. 298-299). 
 
Essa nova previsão tem dois objetivos principais: 
1º) Remunerar o trabalho do advogado que terá que atuar também na fase de recurso; 
2º) Desestimular a interposição de recursos, considerando que, agora, se eles forem improvidos, o 
recorrente terá que pagar honorários advocatícios, o que não existia antes. 
 
Nesse sentido: 
O § 11 do art. 85 do Código de Processo Civil de 2015 tem dupla funcionalidade, devendo atender à justa 
remuneração do patrono pelo trabalho adicional na fase recursal e inibir recursos provenientes de 
decisões condenatórias antecedentes. (...) 
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 370.579/RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 23/06/2016. 
 
Se a parte recorrida não apresentar contrarrazões ao recurso, mesmo assim a parte recorrente que 
perdeu terá que pagar honorários advocatícios recursais? Ex: João recorreu contra a sentença; Pedro foi 
intimado, mas não apresentou contrarrazões ao recurso; João terá que pagar honorários recursais 
mesmo não tendo havido contrarrazões? 
SIM. 
 
É cabível a fixação de honorários recursais, prevista no art. 85, § 11, do CPC/2015, mesmo quando não 
apresentadas contrarrazões ou contraminuta pelo advogado da parte recorrida. 
STF. 1ª Turma. AI 864689 AgR/MS e ARE 951257 AgR/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. 
Edson Fachin, julgado em 27/09/2016 (Info 841). 
 
 
 
 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
 
IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS 
Incide ISS sobre o serviço prestado pelos planos de assistência à saúde 
 
As operadoras de planos privados de assistência à saúde (plano de saúde e seguro-saúde) 
realizam prestação de serviço sujeita ao Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISSQN, 
previsto no art. 156, III, da CF/88. 
STF. Plenário. RE 651703/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgadoem 29/09/2016 (repercussão geral)(Info 841). 
 
ISSQN 
O ISSQN significa Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza. 
Algumas vezes, você encontrará apenas a sigla ISS. É a mesma coisa. 
Trata-se de um tributo de competência dos Municípios. 
Em âmbito nacional, o ISSQN é disciplinado pela LC 116/2003, que estabelece suas normas gerais. Vale 
ressaltar, no entanto, que cada Município, para cobrar este imposto, precisa editar uma lei ordinária 
municipal tratando sobre o assunto. Esta lei local, obviamente, não pode contrariar a LC 116/2003 e nem 
prever serviços que não estejam expressos na lei federal. 
 
Fato gerador 
O ISSQN incide sobre a prestação dos serviços listados no anexo da LC 116/2003. 
 
Confira o texto constitucional: 
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: 
III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar. 
(...) 
§ 3º Em relação ao imposto previsto no inciso III do caput deste artigo, cabe à lei complementar: 
I - fixar as suas alíquotas máximas e mínimas; 
II - excluir da sua incidência exportações de serviços para o exterior; 
 III - regular a forma e as condições como isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados. 
 
Veja agora o que diz o art. 1º da LC 116/2003: 
Art. 1º O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito 
Federal, tem como fato gerador a prestação de serviços constantes da lista anexa, ainda que esses não se 
constituam como atividade preponderante do prestador. 
 
Exemplos: quando o médico atende o paciente em uma consulta, ele presta um serviço, sendo isso fato 
gerador do ISSQN; quando o cabeleireiro faz uma escova progressiva na cliente, ele também presta um 
serviço e deverá pagar ISSQN. 
 
Todos os serviços que estão sujeitos ao pagamento de ISSQN encontram-se previstos na lista anexa à LC 
116/2003. Se não estiver nesta lista, não é fato gerador deste imposto. Vale ressaltar que esta lista é 
taxativa (exaustiva). 
 
Serviços que não podem ser objeto de ISS 
Existem determinados serviços que não podem ser objeto de ISSQN, seja por vedação constitucional, seja 
porque foram excluídos pela LC 116/2003. Assim, não incide ISSQN sobre: 
a) prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, considerando que 
se trata de fato gerador de ICMS (art. 156, III, da CF/88); 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
b) exportações de serviços para o exterior do País (art. 156, § 3º, II, da CF/88); 
c) prestação de serviços em relação de emprego (art. 2º, II, da LC 116/2003); 
d) prestação de serviços pelos trabalhadores avulsos (art. 2º, II, da LC 116/2003); 
e) prestação de serviços pelos diretores e membros de conselho consultivo ou de conselho fiscal de 
sociedades e fundações, bem como pelos sócios-gerentes e gerentes-delegados (art. 2º, II, da LC 
116/2003); 
f) prestação de serviços pela Administração Pública direta, autárquica e fundacional, em virtude da 
imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88); 
g) operações de locação de bens móveis (Súmula vinculante 31). 
 
Planos privados de assistência à saúde (plano de saúde e seguro-saúde) 
A LC 116/2003 estabelece que as operadoras de planos privados de assistência à saúde (plano de saúde e 
seguro-saúde) deverão pagar ISS, considerando que este serviço encontra-se previsto no item 4 da lista anexa: 
4 – Serviços de saúde, assistência médica e congêneres. 
(...) 
4.22 – Planos de medicina de grupo ou individual e convênios para prestação de assistência médica, 
hospitalar, odontológica e congêneres. 
4.23 – Outros planos de saúde que se cumpram através de serviços de terceiros contratados, 
credenciados, cooperados ou apenas pagos pelo operador do plano mediante indicação do beneficiário. 
 
As operadoras de planos de saúde defendiam a tese de que essa previsão da LC seria inconstitucional e 
que eles não deveriam pagar ISS. Os dois argumentos principais eram os seguintes: 
1) As operadoras de planos de saúde prestam um serviço de seguro, nos termos da Lei nº 9.656/98, e a 
competência para instituir impostos sobre a atividade de seguro é da União, conforme previsto no art. 153, 
V, da CF/88: 
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: 
V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; 
 
2) A atividade principal desempenhada pela operadora de plano de saúde seria uma obrigação de dar (e 
não de fazer). Logo, não seria caso de ISS. 
 
A questão chegou até o STF. As operadoras de planos de saúde devem pagar ISS? 
SIM. 
 
As operadoras de planos privados de assistência à saúde (plano de saúde e seguro-saúde) realizam 
prestação de serviço sujeita ao Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISSQN, previsto no art. 
156, III, da CF/88. 
STF. Plenário. RE 651703/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 29/09/2016 (repercussão geral)(Info 841). 
 
Serviço, para fins de ISS, não significa, necessariamente, obrigação de fazer 
O STF entende que a interpretação do conceito de "serviços", para fins de ISS (art. 156, III, da CF/88), tem 
um sentido mais amplo do que o conceito de “obrigação de fazer”. Portanto, “prestação de serviços” não 
tem por premissa a configuração dada pelo Direito Civil. 
Prestação de serviços, para efeitos de ISS, é o "oferecimento de uma utilidade para outrem, a partir de um 
conjunto de atividades imateriais, prestado com habitualidade e intuito de lucro, podendo estar conjugado 
ou não à entrega de bens ao tomador" (Min. Luiz Fux). 
 
O fato de ser seguro não afasta a incidência do ISS 
A natureza jurídica securitária alegada pelas operadoras de planos de saúde para infirmar a incidência do 
ISSQN não indica fundamento capaz de afastar a cobrança do tributo no caso. 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
Diferentemente dos seguros-saúde, nos planos de saúde a garantia oferecida é somente a utilidade obtida 
mediante a contratação do respectivo plano, o que não exclui o fato de as atividades por elas 
desempenhadas — operadoras de plano de saúde e operadoras de seguro-saúde — serem “serviço”. Nesse 
sentido, o ISSQN deve incidir sobre a comissão, assim considerada a receita auferida sobre a diferença entre 
o valor recebido pelo contratante e o repassado para os terceiros prestadores dos serviços médicos. 
 
 
 
IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS 
Lei municipal que veicula exclusão de valores da base de cálculo do ISSQN 
 
É inconstitucional lei municipal que veicule exclusão de valores da base de cálculo do ISSQN 
fora das hipóteses previstas em lei complementar nacional. Também é incompatível com o 
texto constitucional medida fiscal que resulte indiretamente na redução da alíquota mínima 
estabelecida pelo art. 88 do ADCT, a partir da redução da carga tributária incidente sobre a 
prestação de serviço na territorialidade do ente tributante. 
STF. Plenário. ADPF 190/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/09/2016 (Info 841). 
 
Alíquota do ISSQN 
A alíquota máxima do ISS é de 5% (art. 8º, II, da LC 116/2003). 
Com o objetivo de evitar “guerra fiscal” entre os Municípios, o art. 88 do ADCT da CF estabeleceu uma 
alíquota mínima de ISS no valor de 2%. Assim, nenhuma lei municipal, a pretexto de atrair empresas para 
ali se instalarem, poderá prever alíquota inferior a 2%. Confira o texto do ADCT: 
Art. 88. Enquanto lei complementar não disciplinar o disposto nos incisos I e III do § 3º do art. 156 da 
Constituição Federal, o imposto a que se refere o inciso III do caput do mesmo artigo: 
I - terá alíquota mínima de dois por cento, exceto para os serviços a que se referem os itens 32, 33 e 34 da 
Lista de Serviços anexa ao Decreto-Lei nº 406, de 31 de dezembro de 1968; 
II - não será objeto deconcessão de isenções, incentivos e benefícios fiscais, que resulte, direta ou 
indiretamente, na redução da alíquota mínima estabelecida no inciso I. 
 
Base de cálculo 
A base de cálculo do ISS é o PREÇO DO SERVIÇO, ou seja, o valor pago pelo tomador do serviço ao 
prestador como contraprestação pela utilidade oferecida. Assim, o valor que o contribuinte irá pagar é de 
5% sobre o preço do serviço prestado (no caso de AL máxima). 
 
Preço do serviço = valor total da nota 
Quando se fala em preço do serviço, isso significa o valor total cobrado pelo serviço, ou seja, a “receita 
bruta” obtida pelo prestador, sem descontar impostos e outros custos que ele tenha. Ex: se a consulta do 
médico é R$ 1.000,00, o ISS a ser pago é de R$ 50,00, ou seja, 5% sobre o valor total da nota, não 
importando que o médico ainda vá pagar impostos e que ele receberá ao final um valor líquido menor. 
 
Lei municipal que exclui valores da base de cálculo do ISSQN 
Determinado Município do interior de SP editou uma lei municipal excluindo da base de cálculo do ISSQN 
os seguintes tributos federais: a) Imposto de Renda; b) CSLL; c) PIS/Pasep; e d) Cofins. 
Em outras palavras, neste Município, a pessoa que prestasse serviços poderia abater do preço do serviço 
(base de cálculo do ISS) os custos que teria com o pagamento desses tributos federais. 
Assim, imaginemos que o prestador do serviço cobrasse R$ 500,00 do consumidor. O prestador não ficará 
com todo esse dinheiro para si porque ele terá que pagar os custos, incluindo os tributos. Suponhamos, de 
forma exagerada, que desses 500, ele terá que pagar R$ 100,00 de tributos federais. A referida lei municipal 
autorizava que, neste caso, o prestador recolhesse o ISS não sobre o preço total do serviço, mas sim sobre o 
preço total menos os tributos federais. Logo, em vez de pagar 5% de 500, ele teria que pagar 5% de 400. 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
 
ADPF proposta pelo Governador do DF 
O Governador do DF ajuizou uma ADPF contra essa lei municipal argumentando que ela representa 
medida de “guerra fiscal” e prejudica a arrecadação dos demais entes federados. 
Não foi proposta ADI porque esta ação só cabe contra leis federais ou estaduais (art. 102, I, “a”, da CF/88), 
não podendo ser ajuizada contra leis municipais. Logo, estava presente o requisito da subsidiariedade, 
uma vez que não existe outra ação constitucional que tenha aptidão de retirar do mundo jurídico esta lei 
municipal com eficácia erga omnes e efeitos vinculantes. 
O requisito da subsidiariedade da ADPF encontra-se previsto no art. 4º § 1º, da Lei n. 9.882/99: 
Art. 4º (...) §1º Não será admitida arguição de descumprimento de preceito fundamental quando houver 
qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade. 
 
O STF concordou com a ADPF proposta? A lei municipal acima mencionada é inconstitucional? 
SIM. O STF entendeu que esta lei é formal e materialmente inconstitucional. 
 
Inconstitucionalidade formal 
A CF/88 preconiza que compete à lei complementar nacional definir a base de cálculo dos impostos: 
Art. 146. Cabe à lei complementar: 
III – estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: 
a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta 
Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes. 
 
A referida lei municipal estabeleceu que o ISSQN deveria incidir sobre o preço do serviço, descontados os 
tributos federais. Com isso, ela tratou sobre o tema de forma diferente da LC nacional 116/2003. Houve, 
portanto, uma invasão de competência por parte do Município em relação às competências da União, o 
que caracteriza vício formal de inconstitucionalidade. 
 
Inconstitucionalidade material 
No âmbito da inconstitucionalidade material, houve violação ao art. 88, I e II, do ADCT. 
Este dispositivo fixou alíquota mínima para os fatos geradores do ISSQN, assim como vedou a concessão de 
isenções, incentivos e benefícios fiscais que resultassem, direta ou indiretamente, na redução da alíquota 
mínima estabelecida. Logo, a lei municipal impugnada afrontou diretamente o art. 88 do ADCT porque reduziu 
a carga tributária incidente sobre a prestação de serviço a um patamar vedado pelo poder constituinte. 
 
 
 
DIREITO FINANCEIRO 
 
DEPÓSITOS JUDICIAIS 
Inconstitucionalidade das leis estaduais que permitem que o Estado utilize tais verbas 
 
Diversos Estados editaram leis estaduais prevendo que o Poder Executivo pode utilizar os 
valores constantes dos depósitos judiciais não apenas relacionados com processos em que os 
Estados sejam parte, mas também oriundos de outros feitos em que estejam litigando somente 
particulares. Tais leis estão sendo questionadas por meio de ADIs. É o caso, por exemplo, da 
Lei 21.720/2015, do Estado de Minas Gerais. 
O STF tem entendido, ainda em um juízo sumário e provisório, que tais leis estaduais são 
inconstitucionais por violarem: 
1) O princípio da separação dos poderes. 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
2) A iniciativa privativa legislativa da União (art. 22, I, da CF/88). 
3) A LC federal 151/2015 apenas autoriza o levantamento de 70% dos valores que sejam 
objeto de depósitos vinculados a processos em que os entes federados sejam parte. 
STF. Plenário. ADI 5353 MC-Ref/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/09/2016 (Info 841). 
 
Depósitos judiciais 
Todos os valores em dinheiro que ficam à disposição da Justiça enquanto o processo não se encerra são 
depositados em uma conta bancária em nome do Poder Judiciário. A isso chama-se de depósito judicial. 
Exs: João ingressa com ação de consignação em pagamento em face de Pedro, depositando em juízo R$ 
100 mil reais. Maria ajuíza execução contra Antônio e consegue a penhora on line de R$ 200 mil. Tais 
valores ficarão em depósito judicial e, quando o juiz autorizar, eles poderão ser levantados pela parte 
vencedora, devidamente atualizados. 
 
Lei complementar federal 151/2015 
Como se sabe, o Brasil vem passando por uma crise econômica e os Estados e Municípios têm enfrentado 
enormes dificuldades para pagar suas despesas, especialmente com precatórios. 
Diante disso, uma das medidas encontradas pelo Governo para contornar esse problema foi o de permitir 
que o Poder Executivo estadual utilize parte dos valores que estão nos depósitos judiciais. Para tanto, foi 
editada a LC 151/2015, que prevê, resumidamente, o seguinte: 
 Dos valores que estão na conta do Poder Judiciário como depósito judicial, deve-se identificar aqueles 
que sejam oriundos de processos nos quais os Estados, o DF e os Municípios sejam parte. 
 Desses valores, 70% poderá ser transferido para a conta única do Tesouro do Estado, do Distrito 
Federal ou do Município. 
 Os 30% restantes ficarão como um fundo de reserva, a fim de serem utilizados para o pagamento dos 
valores devidos à outra parte, caso o Estado, o DF ou o Município perca a causa. 
 
Assim, em outras palavras, a LC 151/2015 autorizou que os Estados, o DF e os Municípios utilizem 70% dos 
valores que sejam objeto de depósitos vinculados a processos em que tais entes federados sejam parte. 
Segundo o art. 7º da LC 151/2015, esses recursos repassados ao Estado, ao Distrito Federal ou ao 
Município serão aplicados, exclusivamente, no pagamento de: 
I – precatórios judiciais de qualquer natureza; 
II – dívida pública fundada, caso a lei orçamentária do ente federativo preveja dotações suficientes para o 
pagamento da totalidade dos precatórios judiciais exigíveis no exercício e não remanesçam precatórios 
não pagos referentes aos exercícios anteriores; 
III – despesas de capital, caso a lei orçamentária do ente federativo preveja dotações suficientes para o 
pagamento da totalidadedos precatórios judiciais exigíveis no exercício, não remanesçam precatórios não 
pagos referentes aos exercícios anteriores e o ente federado não conte com compromissos classificados 
como dívida pública fundada; 
IV – recomposição dos fluxos de pagamento e do equilíbrio atuarial dos fundos de previdência referentes 
aos regimes próprios de cada ente federado, nas mesmas hipóteses do inciso III. 
 
Obs: poderá o Estado, o Distrito Federal ou o Município utilizar até 10% da parcela que lhe for transferida 
para constituição de Fundo Garantidor de PPPs ou de outros mecanismos de garantia previstos em lei, 
dedicados exclusivamente a investimentos de infraestrutura. 
 
Leis estaduais 
Ocorre que, antes da LC 151/2015, diversos Estados já haviam editado leis estaduais prevendo que o 
Poder Executivo poderia utilizar os valores constantes dos depósitos judiciais não apenas relacionados 
com processos em que o Estado fosse parte, mas também oriundos de outros feitos em que estivessem 
litigando somente particulares. Em outras palavras, os Estados poderiam utilizar indistintamente os 
valores dos depósitos judiciais. 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
Tais leis estão sendo questionadas por meio de ADIs propostas pelo Procurador Geral da República. 
É o caso, por exemplo, da Lei 21.720/2015, do Estado de Minas Gerais. 
 
O que o STF vem decidindo? 
O STF tem entendido, ainda em um juízo sumário e provisório, que tais leis estaduais são inconstitucionais 
pelos seguintes motivos: 
1) Violam o princípio da separação dos poderes. Segundo já decidiu o STF, cumpre ao Poder Judiciário a 
administração e os rendimentos referentes à conta única de depósitos judiciais e extrajudiciais. Atribuir ao 
Poder Executivo essas funções contraria o disposto no art. 2º da CF/88, que afirma a interdependência - 
independência e harmonia - entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. (STF. Plenário. ADI 3458, Rel. 
Min. Eros Grau, julgado em 21/02/2008). 
2) Ofendem a iniciativa privativa da União. A Lei que versa sobre depósitos judiciais é de competência 
legislativa privativa da União, por tratar de matéria processual, nos termos do art. 22, I, da CF/88 (STF. 
Plenário. ADI 2909, Rel. Min. Ayres Britto, julgado em 12/05/2010). 
3) Contraria a LC federal 151/2015. A lei federal apenas autoriza o levantamento de 70% dos valores que 
sejam objeto de depósitos vinculados a processos em que os entes federados sejam parte (art. 2º). 
 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
Julgue os itens a seguir: 
1) O STF possui jurisprudência pacífica no sentido da autoaplicabilidade do art. 236, § 3º, da CF/88, e, 
portanto, de que, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, é inconstitucional o acesso a 
serviços notarial e de registro sem prévia aprovação em concurso público. A obrigatoriedade de 
observância à regra da prévia aprovação em concurso público se dá não apenas no caso de acesso 
inicial ao serviço notarial e de registro, mas também para fins de se assumir a titularidade de nova 
serventia por meio de remoção ou permuta. ( ) 
2) As operadoras de planos privados de assistência à saúde, por ostentarem a natureza securitária, não 
praticam serviço sujeita ao Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISSQN. ( ) 
3) Lei municipal pode excluir valores da base de cálculo do ISSQN fora das hipóteses previstas em lei 
complementar nacional. ( ) 
4) É cabível a fixação de honorários recursais mesmo quando não apresentadas contrarrazões ou 
contraminuta pelo advogado da parte recorrida. ( ) 
 
 
Gabarito 
1. C 2. E 3. E 4. C 
 
 
OUTRAS INFORMAÇÕES 
 
R E P E R C U S S Ã O G E R A L 
DJe de 26 a 30 de setembro de 2016 
 
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 723.307-PR 
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES 
Constitucional e Previdenciário. 2. Execução contra a Fazenda Pública. Obrigação de fazer. Fracionamento da execução para que uma parte 
seja paga antes do trânsito em julgado, por meio de Complemento Positivo, e outra depois do trânsito, mediante Precatório ou RPV. Impossibilidade. 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
3. Repercussão geral da questão constitucional reconhecida. 4. Reafirmação de jurisprudência. Precedentes. 5. Conhecimento do agravo e provimento 
do recurso extraordinário para afastar o fracionamento da execução. 
 
 
 
C L I P P I N G D O D JE 
26 a 30 de setembro de 2016 
 
Ext N. 1.244-DF 
RELATORA: MIN. ROSA WEBER 
EMENTA: EXTRADIÇÃO EXECUTÓRIA. CRIMES DE TRANSPORTE, POSSE, AQUISIÇÃO E EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS 
ESTUPEFACIENTES. CORRESPONDÊNCIA COM O DELITO DE TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS. DUPLA INCRIMINAÇÃO CONFIGURADA. 
PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE ÓBICES LEGAIS À EXTRADIÇÃO. SÚMULA 421/STF. CONTENCIOSIDADE LIMITADA. 
PRECARIEDADE DO ESTADO DE SAÚDE DO EXTRADITANDO. ENTREGA CONDICIONADA AO PRÉVIO EXAME MÉDICO OFICIAL. 
CONDENAÇÃO POR OUTROS CRIMES NO BRASIL. ENTREGA ANTES DO CUMPRIMENTO DA PENA NO BRASIL SUJEITO A JUÍZO DE 
CONVENIÊNCIA DO PODER EXECUTIVO. EXIGÊNCIA DE ASSUNÇÃO DE COMPROMISSO QUANTO À DETRAÇÃO DA PENA. 
1. Pedido de extradição formulado pelo Governo da França que atende os requisitos da Lei 6.815/1980 e do Tratado de Extradição 
específico. 
2. Crimes de transporte, posse, aquisição e exportação de produtos estupefacientes, nos termos da legislação estrangeira, que 
correspondem ao crime previsto no art. 33, c/c art. 40, I, da Lei 11.343/2006. Dupla incriminação atendida. 
3. Inocorrência de prescrição e inexistência de óbices legais. 
4. Na dicção do verbete da Súmula 421/STF: “Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditando casado com brasileira 
ou ter filho brasileiro”. 
5. A apreciação das teses defensivas pertinentes ao mérito da imputação extrapolam os limites da contenciosidade limitada que 
rege o processo de extradição (art. 85, § 1º, do Estatuto do Estrangeiro). 
6. A precariedade do estado de saúde do Extraditando não constitui, por si só, óbice ao deferimento da extradição, mas tão 
somente condiciona a entrega do Extraditando ao prévio exame médico oficial, nos termos do parágrafo único do art. 89 da Lei 8.615/1980 
(Ext 367, Rel. Min. Djaci Falcão, Plenário, DJ 21.12.1979; e Ext 1.365, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª Turma, DJe 11.3.2015). 
7. Extraditando processado criminalmente no Brasil em duas ações penais em curso. Fato não impeditivo da extradição, ficando a 
entrega condicionada à extinção do feito ou ao cumprimento da pena no Brasil, sem prejuízo do juízo de conveniência e oportunidade do 
Poder Executivo (arts. 89 e 67 da Lei 6.815/1980). 
8. O compromisso de detração da pena, considerando o período de prisão decorrente da extradição, deve ser a ssumido antes da 
entrega do preso, não obstando a concessão da extradição. O mesmo é válido para os demais compromissos previstos no art. 91 d a Lei nº 
6.815/1980. 
9. Extradição deferida. 
 
*noticiado no Informativo 834 
 
Inq 3.997-DF 
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI 
EMENTA: INQUÉRITO. IMPUTAÇÃO DOS CRIMES PREVISTOS NO ART. 317, § 1º, C/C ART. 327, § 2º, DO CÓDIGO PENAL E ART. 1º, § 4º, 
DA LEI 9.613/1998. RÉPLICA PELA ACUSAÇÃO ÀS RESPOSTAS DOS DENUNCIADOS. POSSIBILIDADE. JUNTADA DE DOCUMENTO ISOLADO APÓS 
A OFERTA DA DENÚNCIA. VIABILIDADE. INÉPCIA DA PEÇA ACUSATÓRIA. INOCORRÊNCIA. DESCRIÇÃO INDIVIDUALIZADA E OBJETIVA DAS 
CONDUTAS ATRIBUÍDAS AOS DENUNCIADOS, ASSEGURANDO-LHES O EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA. ATENDIMENTO AOS REQUISITOS DO 
ART. 41 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. COMPREENSÃO DO CONJUNTO INVESTIGATÓRIO MESMO COM O FRACIONAMENTO DOS FATOS. 
DESCRIÇÃO SUFICIENTE DO CONCURSO DE AGENTES. DEMONSTRAÇÃO INEQUÍVOCA DE INDÍCIOS DE AUTORIA E MATERIALIDADE EM FACE 
DOS ACUSADOS. MAJORANTE DO ART. 327, § 2º, DO CÓDIGO PENAL. EXCLUSÃO. DENÚNCIAPARCIALMENTE RECEBIDA. 
1. É possível assegurar, também no âmbito da Lei 8.038/1990, o direito ao órgão acusador de réplica às respostas dos denuncia dos, 
especialmente quando suscitadas questões que, se acolhidas, poderão impedir a de flagração da ação penal. Só assim se estará prestigiando 
o princípio constitucional do contraditório (art. 5º, LV, CF), que garante aos litigantes, e não apenas à defesa, a efetiva p articipação na 
decisão judicial. 
2. Não importa em violação aos princípios do contraditório e da ampla defesa a juntada de documento isolado após a oferta da 
denúncia, pois, além de essa possibilidade estar prevista no art. 231 do Código de Processo Penal, no caso, tiveram as defesa s a 
oportunidade de sobre ele se manifestar, em sua inteireza, não ocorrendo qualquer alteração ou incremento de acusação em virtude do 
referido documento. 
3. Tem-se como hábil a denúncia que descreve, de forma individualizada e objetiva, as condutas atribuídas aos acusados, 
correlacionando-as aos tipos penais declinados. A separação das condutas em vários momentos, visando melhor apontar os diversos crimes 
de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro, bem como a menção a pessoas investigadas em outras instâncias, não impede o 
processamento dos denunciados em demanda autônoma, notadamente quando esclarecida a participação de cada um deles nos eventos. 
Não existe afronta ao art. 41 do Código de Processo Penal quando a denúncia narra o contexto em que se deram os repasses ileg ais à 
agremiação partidária, sempre expondo a relação do denunciado em cada uma das fases do ilícito. O fracionamento dessa investigação em 
várias ações penais não inviabiliza a compreensão do todo, porque a referência aos aqui acusados encontra -se perfeitamente delineada. 
Ademais, os denunciados defendem-se na medida de suas imputações, não tendo relevância condutas outras que não estejam 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
materialmente imbricadas de modo a revelar a necessidade de reunião de processos. O concurso de agentes está descrito nas imp utações 
da denúncia com suas variantes, a depender do grau de envolvimento de cada um dos acusados nos diversos crimes narrados. 
4. A materialidade e os indícios de autoria, elementos básicos para o recebimento da denúncia, encontram -se presentes a partir do 
substrato trazido com o caderno indiciário. A análise inicial revela a existência de indícios robustos dando conta de que o parlamentar, 
auxiliado por seus filhos codenunciados, na condição de membro da cúpula de partido político, aderiu ao recebimento, para si, e concorreu 
à percepção por parte de outros integrantes da mesma agremiação, de vantagens indevidas. O recebimento desses valores, porque núcleo 
alternativo do próprio tipo, não pode ser descartado nesta ocasião como mero exaurimento da conduta de outrem, mormente po rque as 
propinas pagas pelas empreiteiras continham destinação certa. Convém lembrar que : “Não é lícito ao Juiz, no ato de recebimento da 
denúncia, quando faz apenas juízo de admissibilidade da acusação, conferir definição jurídica aos fatos narrados na pe ça acusatória. 
Poderá fazê-lo adequadamente no momento da prolação da sentença, ocasião em que poderá haver a emendatio libelli ou a mutatio libelli, 
se a instrução criminal assim o indicar” (HC 87324, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, DJe de 18.5.2007). 
5. Conforme decidido pelo Plenário, no INQ 3983, de minha relatoria, a causa de aumento do art. 327, § 2º, do Código Penal, é 
incabível pelo mero exercício do mandato parlamentar, sem prejuízo da causa de aumento contemplada no art. 317, §1º. A jurisp rudência 
desta Corte, conquanto revolvida nos últimos anos (INQ 2606, Rel. Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, DJe de 2.12.2014), exige uma imposição 
hierárquica ou de direção (INQ 2191, Rel. Min. CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, DJe de 8.5.2009) que não se acha nem demonstrada nem 
descrita nos presentes autos. 
6. Denúncia parcialmente recebida, com exclusão somente da causa de aumento prevista no art. 327, § 2º, do Código Penal. 
 
HC N. 128.894-RS 
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI 
EMENTA: Habeas corpus. Penal e processual penal militar. Posse de entorpecente em local sujeito à administração militar (art. 
290, CPM). Ação penal. Interrogatório. Realização ao início da instrução (art. 302, CPPM). Nulidade. Inexistência. Processo j á 
sentenciado. Prevalência do princípio da segurança jurídica (art. 5º, XXXVI, CF). Precedente. Persecução criminal. Denúncia anônima. 
Deflagração de diligências preliminares. Admissibilidade. Precedentes. Laudo pericial. Subscrição por um único perito. Admiss ibilidade. 
Inteligência do art. 318 do Código de Processo Penal Militar. Artigo 290 do Código Penal Militar. Constitucionalidade. Norma penal em 
branco. Incidência da Portaria nº 344/98 da Secretaria da Vigilância Sanitária/Ministério da Saúde. Princípio da insignificância. 
Inaplicabilidade. Precedente. Ordem denegada. 
1. O Plenário do Supremo Tribunal, no HC nº 127.900/AM, de minha relatoria, DJe de 3/8/16, fixou orientação no sentido de que a 
realização do interrogatório ao final da instrução criminal, prevista no art. 400 do Código de Processo Penal, na redação dada pela Lei nº 
11.719/08, também se aplica às ações penais em trâmite na Justiça Militar. 
2. A Corte, após deliberar, em atenção ao princípio da segurança jurídica (CF, art. 5º, XXXVI), que aquela orientação se apli ca, a 
partir da publicação da ata de julgamento do HC nº 127.900/AM, a todos os procedimentos penais regidos por legislação especia l, 
determinou a sua incidência apenas nas ações penais cuja instrução não se tenha encerrado. 
3. Na espécie, como a sentença condenatória foi proferida em 22/7/14, não há que se cogitar de anulação da ação penal para que 
o paciente seja submetido a novo interrogatório. 
4. Nos termos do art. 318 do Código de Processo Penal Militar, “as perícias serão, sempre que possível, feita s por dois peritos, 
especializados no assunto ou com habilitação técnica, observado o disposto no art. 48”. 
5. A exigência de que a pericia seja subscrita por dois peritos admite exceções, não se tratando de imposição absoluta, razão por 
que é irrelevante que o laudo definitivo tenha sido subscrito por apenas um perito oficial. Precedentes. 
6. O art. 290 do Código Penal Militar, assim como o art. 33 da Lei nº 11.343/06, é uma norma penal em branco, cujo preceito 
primário necessita de complementação por outra disposição legal ou regulamentar. 
7. Essa disposição regulamentar é a Portaria nº 344/98 da Secretaria da Vigilância Sanitária/Ministério da Saúde, que contém a lista 
das substâncias entorpecentes de uso proscrito no Brasil, dentre elas o THC (tetrahidrocanabinol), aplicável tanto ao Código Penal Militar 
quanto à Lei nº 11.343/06. 
8. A Portaria SVS/MS nº 344/98 se aplica diretamente ao Código Penal Militar, por se tratar do ato normativo geral que dispõe 
sobre substâncias entorpecentes, sem necessidade de intermediação da Lei nº 11.343/06. 
9. O Plenário do Supremo Tribunal, no HC nº 103.684/DF, Relator o Ministro Ayres Britto, DJe de 13/4/11, assentou a 
inaplicabilidade do princípio da insignificância à posse de quantidade reduzida de substância entorpece nte em lugar sujeito à administração 
militar (art. 290 do Código Penal Militar), bem como suplantou, ante o princípio da especialidade, a aplicação da Lei nº 11.3 43/06. 
10. É pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido da constitucionalidade do art. 290 do Código Penal Militar. 
11. Ordem denegada. 
 
AG. REG. NO RE N. 916.824-SC 
RELATORA: MIN. ROSA WEBER 
EMENTA: DIREITO PREVIDENCIÁRIO. MILITAR. CUMULAÇÃO DA PENSÃO ESPECIAL COM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. CONDIÇÃO DE 
EX-COMBATENTE. CONSONÂNCIADA DECISÃO RECORRIDA COM A JURISPRUDÊNCIA CRISTALIZADA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO QUE NÃO MERECE TRÂNSITO. REELABORAÇÃO DA MOLDURA FÁTICA. PROCEDIMENTO VEDADO NA INSTÂNCIA 
EXTRAORDINÁRIA. RECURSO MANEJADO SOB A VIGÊNCIA DO CPC/1973. 
1. O entendimento da Corte de origem, nos moldes do assinalado na decisão agravada, não diverge da jurisprudência firmada no 
Supremo Tribunal Federal. Compreensão diversa demandaria a reelaboração da moldura fática delineada no acórdão de origem, a tornar 
oblíqua e reflexa eventual ofensa à Constituição, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordiná rio. 
2. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada. 
3. Agravo regimental conhecido e não provido. 
 
HC N. 134.573-SP 
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
EMENTA: Habeas corpus. Penal. Tráfico de drogas. Condenação. Dosimetria. Incidência da causa especial de pena prevista no § 
4º do art. 33 da Lei de Drogas. Não incidência. Paciente integrante de organização criminosa, conforme reconhecido pelas instâncias de 
mérito. Impropriedade do habeas corpus para se revolver o contexto fático-probatório da causa. Precedentes. Alegada valoração negativa da natureza e 
da quantidade da droga (3.031 g de cocaína) em dois momentos distintos da dosimetria. Não ocorrência. Bis in idem não caracterizado. 
Ordem denegada. 
1. A negativa de aplicação da causa de diminuição de pena do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06 pelas instâncias ordinárias n ão está 
lastreada em presunções, ilações ou conjecturas. Pelo contrário, apresentaram elas elementos concretos que apontam que o pa ciente se 
dedicava à atividade criminosa, ficando demonstrado que ele teria realizado outras viagens ao Brasil em circunstâncias indica tivas de 
transporte de drogas. 
2. A invocação pelas instâncias ordinárias de que o paciente se dedicava à atividade crim inosa obsta, de fato, a aplicação da 
benesse do § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/06, sendo certo que “[a]fastar essa premissa demandaria o reexame dos fatos e das provas dos 
autos, ao que não se presta o habeas corpus (...)” (HC nº 120.518/SP, Segunda Turma, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe de 3/4/14). 
3. A tese de bis in idem não prospera, pois, pelo que se depreende da sentença, embora haja simples referência à quantidade de 
droga apreendida, ela não foi um fator preponderante na negativa de aplicaçã o da causa especial de redução de pena prevista no art. 33, § 
4º, da Lei 11.343/06. 
4. Ordem denegada. 
 
 
Acórdãos Publicados: 274 
 
TRANSCRIÇÕES 
 
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais 
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham 
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica. 
 
Concurso público e restrição à tatuagem (Transcrições) 
 
(v. Informativo 835) 
 
RE 898.450/SP* 
 
RELATOR: Ministro Luiz Fux 
 
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. TEMA 838 DO 
PLENÁRIO VIRTUAL. TATUAGEM. CONCURSO PÚBLICO. EDITAL. REQUISITOS PARA O DESEMPENHO DE UMA FUNÇÃO PÚBLICA. AUSÊNCIA 
DE PREVISÃO EM LEI FORMAL ESTADUAL. IMPOSSIBILIDADE. OFENSA AO ART. 37, I, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. REAFIRMAÇÃO DA 
JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DA CORTE. IMPEDIMENTO DO PROVIMENTO DE CARGO, EMPREGO OU FUNÇÃO PÚBLICA DECORRENTE DA 
EXISTÊNCIA DE TATUAGEM NO CORPO DO CANDIDATO. REQUISITO OFENSIVO A DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS CIDADÃOS. VIOLAÇÃO 
AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA IGUALDADE, DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DA 
PROPORCIONALIDADE E DO LIVRE ACESSO AOS CARGOS PÚBLICOS. INCONSTITUCIONALIDADE DA EXIGÊNCIA ESTATAL DE QUE A 
TATUAGEM ESTEJA DENTRO DE DETERMINADO TAMANHO E PARÂMETROS ESTÉTICOS. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 5º, I, E 37, I E II, DA 
CRFB/88. SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS. RESTRIÇÃO. AS TATUAGENS QUE EXTERIORIZEM VALORES EXCESSIVAMENTE OFENSIVOS À 
DIGNIDADE DOS SERES HUMANOS, AO DESEMPENHO DA FUNÇÃO PÚBLICA PRETENDIDA, INCITAÇÃO À VIOLÊNCIA IMINENTE, AMEAÇAS 
REAIS OU REPRESENTEM OBSCENIDADES IMPEDEM O ACESSO A UMA FUNÇÃO PÚBLICA, SEM PREJUÍZO DO INAFASTÁVEL JUDICIAL 
REVIEW. CONSTITUCIONALIDADE. INCOMPATIBILIDADE COM OS VALORES ÉTICOS E SOCIAIS DA FUNÇÃO PÚBLICA A SER 
DESEMPENHADA. DIREITO COMPARADO. IN CASU, A EXCLUSÃO DO CANDIDATO SE DEU, EXCLUSIVAMENTE, POR MOTIVOS ESTÉTICOS. 
CONFIRMAÇÃO DA RESTRIÇÃO PELO ACÓRDÃO RECORRIDO. CONTRARIEDADE ÀS TESES ORA DELIMITADAS. RECURSO EXTRAORDINÁRIO 
A QUE SE DÁ PROVIMENTO. 
1. O princípio da legalidade norteia os requisitos dos editais de concurso público. 
2. O artigo 37, I, da Constituição da República, ao impor, expressamente, que “os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos 
brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei”, evidencia a frontal inconstitucionalidade de toda e qualquer restrição para o 
desempenho de uma função pública contida em editais, regulamentos e portarias que não tenham amparo legal. (Precedentes: RE 593198 
AgR, Relator Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 06/08/2013, DJe 01-10-2013; ARE 715061 AgR, Relator Min. Celso de Mello, 
Segunda Turma, DJe 19-06-2013; RE 558833 AgR, Relatora Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe 25-09-2009; RE 398567 AgR, Relator Min. 
Eros Grau, Primeira Turma, DJ 24-03-2006; e MS 20.973, Relator Min. Paulo Brossard, Plenário, julgado em 06/12/1989, DJ 24-04-1992). 
3. O Legislador não pode escudar-se em uma pretensa discricionariedade para criar barreiras legais arbitrárias e desproporcionais para o 
acesso às funções públicas, de modo a ensejar a sensível diminuição do número de possíveis competidores e a impossibilidade de escolha, 
pela Administração, daqueles que são os melhores. 
4. Os requisitos legalmente previstos para o desempenho de uma função pública devem ser compatíveis com a natureza e atribuições do 
cargo. (No mesmo sentido: ARE 678112 RG, Relator Min. Luiz Fux, julgado em 25/04/2013, DJe 17-05-2013). 
5. A tatuagem, no curso da história da sociedade, se materializou de modo a alcançar os mais diversos e heterogêneos grupos, com as mais 
diversas idades, conjurando a pecha de ser identificada como marca de marginalidade, mas, antes, de obra artística. 
6. As pigmentações de caráter permanente inseridas voluntariamente em partes dos corpos dos cidadãos configuram instrumentos de 
exteriorização da liberdade de manifestação do pensamento e de expressão, valores amplamente tutelados pelo ordenamento jurídico 
brasileiro (CRFB/88, artigo 5°, IV e IX). 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
7. É direito fundamental do cidadão preservar sua imagem como reflexo de sua identidade, ressoando indevido o desestímulo estatal à 
inclusão de tatuagens no corpo. 
8. O Estado não pode desempenhar o papel de adversário da liberdade de expressão, incumbindo-lhe, ao revés, assegurar que minorias 
possam se manifestar livremente. 
9. O Estado de Direito republicano e democrático, impõe à Administração Pública que exerça sua discricionariedade entrincheirada não, 
apenas, pela sua avaliação unilateral a respeito da conveniência e oportunidade de um ato, mas, sobretudo, pelos direitos fundamentais em 
um ambiente de perene diálogo com a sociedade. 
10. A democracia funda-se na presunção em favor da liberdade do cidadão, o que pode ser sintetizado pela expressão germânica 
“Freiheitsvermutung” (presunção de liberdade), teoria corroborada pela doutrina norte-americana do primado da liberdade (preferred 
freedom doctrine), razão pela qual ao Estado contemporâneo se impõe o estímulo ao livre intercâmbio de opiniões em um mercado de idéias(free marktplace of ideas a que se refere John Milton) indispensável para a formação da opinião pública. 
11. Os princípios da liberdade e da igualdade, este último com esteio na doutrina da desigualdade justificada, fazem exsurgir o 
reconhecimento da ausência de qualquer justificativa para que a Administração Pública visualize, em pessoas que possuem tatuagens, 
marcas de marginalidade ou de inaptidão física ou mental para o exercício de determinado cargo público. 
12. O Estado não pode considerar aprioristicamente como parâmetro discriminatório para o ingresso em uma carreira pública o fato de uma 
pessoa possuir tatuagens, visíveis ou não. 
13. A sociedade democrática brasileira pós-88, plural e multicultural, não acolhe a idiossincrasia de que uma pessoa com tatuagens é 
desprovida de capacidade e idoneidade para o desempenho das atividades de um cargo público. 
14. As restrições estatais para o exercício de funções públicas originadas do uso de tatuagens devem ser excepcionais, na medida em que 
implicam uma interferência incisiva do Poder Público em direitos fundamentais diretamente relacionados ao modo como o ser humano 
desenvolve a sua personalidade. 
15. A cláusula editalícia que cria condição ou requisito capaz de restringir o acesso a cargo, emprego ou função pública por candidatos 
possuidores de tatuagens, pinturas ou marcas, quaisquer que sejam suas extensões e localizações, visíveis ou não, desde que não 
representem símbolos ou inscrições alusivas a ideologias que exteriorizem valores excessivamente ofensivos à dignidade dos seres humanos, 
ao desempenho da função pública pretendida, incitação à violência iminente, ameaças reais ou representem obscenidades, é 
inconstitucional. 
16. A tatuagem considerada obscena deve submeter-se ao Miller-Test, que, por seu turno, reclama três requisitos que repugnam essa forma 
de pigmentação, a saber: (i) o homem médio, seguindo padrões contemporâneos da comunidade, considere que a obra, tida como um todo, 
atrai o interesse lascivo; (ii) quando a obra retrata ou descreve, de modo ofensivo, conduta sexual, nos termos do que definido na legislação 
estadual aplicável, (iii) quando a obra, como um todo, não possua um sério valor literário, artístico, político ou científico. 
17. A tatuagem que incite a prática de uma violência iminente pode impedir o desempenho de uma função pública quando ostentar a 
aptidão de provocar uma reação violenta imediata naquele que a visualiza, nos termos do que predica a doutrina norte-americana das 
“fighting words”, como, v.g., “morte aos delinquentes”. 
18. As teses objetivas fixadas em sede de repercussão geral são: (i) os requisitos do edital para o ingresso em cargo, emprego ou função 
pública devem ter por fundamento lei em sentido formal e material, (ii) editais de concurso público não podem estabelecer restrição a 
pessoas com tatuagem, salvo situações excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais. 
19. In casu, o acórdão recorrido extraordinariamente assentou que “a tatuagem do ora apelado não atende aos requisitos do edital. Muito 
embora não cubra todo o membro inferior direito, está longe de ser de pequenas dimensões. Ocupa quase a totalidade lateral da panturrilha 
e, além disso, ficará visível quando utilizados os uniformes referidos no item 5.4.8.3. É o quanto basta para se verificar que não ocorreu 
violação a direito líquido e certo, denegando-se a segurança”. Verifica-se dos autos que a reprovação do candidato se deu, apenas, por 
motivos estéticos da tatuagem que o recorrente ostenta. 
19.1. Consectariamente o acórdão recorrido colide com as duas teses firmadas nesta repercussão geral: (i) a manutenção de inconstitucional 
restrição elencada em edital de concurso público sem lei que a estabeleça; (ii) a confirmação de cláusula de edital que restringe a 
participação, em concurso público, do candidato, exclusivamente por ostentar tatuagem visível, sem qualquer simbologia que justificasse, 
nos termos assentados pela tese objetiva de repercussão geral, a restrição de participação no concurso público. 
19.2. Os parâmetros adotados pelo edital impugnado, mercê de não possuírem fundamento de validade em lei, revelam-se preconceituosos, 
discriminatórios e são desprovidos de razoabilidade, o que afronta um dos objetivos fundamentais do País consagrado na Constituição da 
República, qual seja, o de “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de 
discriminação” (art. 3º, IV). 
20. Recurso Extraordinário a que se dá provimento. 
 
RELATÓRIO: Cuida-se de Recurso Extraordinário interposto por Henrique Lopes Carvalho da Silveira, com fulcro no art. 102, III, “c”, da Constituição 
da República, objetivando a reforma da decisão que inadmitiu seu Recurso Extraordinário interposto contra acórdão prolatado pelo c. Tribunal de 
Justiça do Estado de São Paulo, assim ementado: 
 
MANDADO DE SEGURANÇA - Concurso para preenchimento de vaga de soldado da polícia militar - Restrições a tatuagens - Previsão existente 
no edital - Na hipótese, a tatuagem do impetrante se enquadra na restrição existente no edital - Recurso provido. 
 
Noticiam os autos que Henrique Lopes Carvalho da Silveira impetrou mandado de segurança em face do Diretor do Centro de Seleção, 
Alistamento e Estudos de Pessoal da Policia Militar do Estado de São Paulo, por tê-lo excluído de concurso público para o preenchimento de vagas 
de Soldado PM de 2ª Classe do referido ente da federação. Alega que sua desclassificação se deu pelo fato de que, na etapa do exame médico, foi 
constatado que o Recorrente possui uma tatuagem em sua perna esquerda, que, segundo a autoridade apontada como coatora, estaria em 
desacordo com as normas do edital do concurso. 
Concedida a segurança, a Fazenda do Estado de São Paulo interpôs o cabível recurso de apelação, pugnando, em síntese, pela reforma do 
julgado. Asseverou, na oportunidade, que o edital estabeleceu, de forma objetiva, os parâmetros para que fossem admitidos candidatos que 
ostentassem tatuagens, aos quais o, então, apelado não atendia. 
Em sede de apelação, o c. Tribunal de Justiça de São Paulo, ao prover o recurso e denegar a segurança, salientou, por maioria, que o edital é 
a lei do concurso e que a restrição em relação à tatuagem encontra-se, expressamente, prevista em sua disposição 5.4.8, de modo que os 
candidatos que se inscreveram no processo seletivo a teriam aceitado incondicionalmente. O citado edital DP 002/321/2008 previu as seguintes 
condições: 
 
5.4. Dos Exames Médicos: 
 
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5.4.1. Os exames de saúde, também de caráter eliminatório, serão realizados por Junta Médica indicada pelo Chefe do Centro Médico 
e nomeada pelo Diretor de Pessoal, denominada Junta de Saúde-1 (JS-1), com critérios estabelecidos pelo Departamento de Perícias Médicas 
daquele Centro e aprovados pelo Comandante Geral da Polícia Militar; 
5.4.2. O candidato será submetido a exame médico geral e exames laboratoriais (sangue e urina); 
5.4.3. Exame Clínico Geral: [...] 
5.4.5. Exame odontológico: [...] 
5.4.6. Exame oftalmológico: [...] 
5.4.7. Exame otorrinolaringológico: [...] 
5.4.8. Os candidatos que ostentarem tatuagem serão submetidos à avaliação, na qual serão observados: 
5.4.8.1. a tatuagem não poderá atentar contra a moral e os bons costumes; 
5.4.8.2. deverá ser de pequenas dimensões, sendo vedado cobrir regiões ou membros do corpo em sua totalidade, e em particular 
região cervical, face, antebraços, mãos e pernas; 
5.4.8.3 não poderá estar em regiões visíveis quando da utilização de uniforme de treinamento físico, composto por camiseta 
branca meia manga, calção azul-royal, meias brancas, calçado esportivo preto, conforme previsão do Regulamento de Uniformes da 
Polícia Militar do Estado de São Paulo (R-5-PM); (Grifamos)O Tribunal local prossegue afirmando que quem faz tatuagem tem ciência de que estará sujeito a esse tipo de limitação e, ainda, que a 
disciplina militar engloba, também, - e principalmente - o respeito a regras. Ao pretender iniciar sua carreira questionando um preceito imposto a 
todos de modo uniforme, já estaria, segundo o aresto impugnado, iniciando mal a sua relação com o serviço público (fls. 5 do acórdão recorrido). 
Não foram opostos Embargos de Declaração. 
Irresignado, o candidato interpôs Recurso Extraordinário. Nas razões do apelo extremo, sustenta a preliminar de repercussão geral e, no 
mérito, aponta violação aos artigos 1º, inciso III, 5º, inciso II, e 37, caput e incisos I e II, da Constituição da República. Pleiteia, em síntese, a reforma 
do julgado, sob o argumento da inconstitucionalidade do edital, que criou hipótese de exclusão do certame sem respaldo no texto constitucional e 
em direta afronta aos princípios constitucionais da legalidade, razoabilidade e proporcionalidade. 
A Procuradoria de Justiça do Estado de São Paulo foi ouvida, em sede de contrarrazões (fls. 214/221). Argumentou, preliminarmente, a 
ausência dos requisitos de admissibilidade do recurso (prequestionamento, repercussão geral e interesse de agir) e, no mérito, a compatibilidade 
do edital com a legislação estadual que regulamenta o ingresso na carreira da Polícia Militar de São Paulo: LC nº 697/1992 e Decretos nº 
41.113/1996 e nº 42.053/1997. 
Afirmou, ainda, que, ao se inscrever no concurso público, o recorrente anuiu às condições estipuladas no ato normativo, sabendo, portanto, 
“que seria submetido a exames médicos, de acordo com os parâmetros estabelecidos nos subitens 5.4 a 5.4.8.3 do edital mencionado”. 
Segundo o Estado recorrido, o edital, ao dispor sobre a fase cognominada “exames de saúde”, previu a avaliação dos candidatos que 
ostentassem tatuagens, estabelecendo os requisitos para sua admissão, critérios segundo os quais o recorrente foi considerado inapto, daí a 
“absoluta legalidade de sua reprovação”. 
O Tribunal a quo negou seguimento ao apelo derradeiro por entender não ser cabível recurso extraordinário interposto com fundamento no 
art. 102, III, “c”, da Constituição de 1988, quando não há aplicação de lei local em detrimento do Texto Maior. Contra esta decisão, Henrique Lopes 
Carvalho da Silveira interpôs o cabível Agravo em Recurso Extraordinário. 
A Fazenda do Estado de São Paulo apresentou contrarrazões ao referido agravo, pugnando pela manutenção do despacho de inadmissão do 
RE ante a suposta incidência das Súmulas nº 2801 e nº 2822 do STF. 
Concluso o ARE 893.212, dei-lhe provimento para determinar a conversão em Recurso Extraordinário, a fim de apreciar a existência de 
repercussão geral da matéria. 
Em sequência, por entender que o tema constitucional versado nestes autos é relevante do ponto de vista político, social e jurídico, e 
ultrapassa os interesses subjetivos da causa, submeti-o ao Plenário Virtual (Tema 838). Por maioria, vencidos os Ministros Teori Zavascki, Luís 
Roberto Barroso e Dias Toffoli, a repercussão geral do tema constitucional foi reconhecida por esta Corte, em acórdão assim ementado: 
 
EMENTA: REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. EDITAL. REQUISITOS. 
IMPEDIMENTO DO PROVIMENTO DE CARGO, EMPREGO OU FUNÇÃO PÚBLICA DECORRENTE DA EXISTÊNCIA DE TATUAGEM NO CORPO DO 
CANDIDATO. AFERIÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE DA EXIGÊNCIA ESTATAL DE QUE A TATUAGEM ESTEJA DENTRO DE DETERMINADOS 
PARÂMETROS. ARTS. 5º, I E 37, I E II DA CRFB/88. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. 
(RE 898450 RG, Relator (a): Min. LUIZ FUX, julgado em 27/08/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 09-09-2015 PUBLIC 10-09-2015). 
 
A Procuradoria-Geral da República, devidamente intimada, manifestou-se pelo conhecimento e provimento do recurso, em parecer que 
porta a seguinte ementa: 
 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONCURSO PÚBLICO. TATUAGEM EM DESACORDO COM AS REGRAS DO EDITAL. EXCLUSÃO DO CERTAME. 
RESTRIÇÃO QUE NÃO ENCONTRA FUNDAMENTO EXPRESSO NA LEGISLAÇÃO ESTADUAL CORRESPONDENTE. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA 
LEGALIDADE, IGUALDADE E LIVRE ACESSO AOS CARGOS PÚBLICOS. INCONSTITUCIONALIDADE DA EXIGÊNCIA. REPERCUSSÃO GERAL 
RECONHECIDA. PROVIMENTO DO RECURSO. 
1. É inconstitucional a criação de requisito de acesso a cargo público por meio de edital, sem expressa previsão legal. 
2. É inconstitucional a cláusula de edital que restringe a participação em concurso público ou o acesso a cargo público de candidato que 
ostente tatuagem, por ofensa aos princípios da igualdade e razoabilidade. 
3. Parecer pelo provimento do recurso. 
 
O ingresso da AGU como amicus curiae foi deferido nos autos e indeferido o pedido de Alexandre Diniz Farias no mesmo sentido. 
É o relatório. 
 
VOTO: Senhor Presidente, egrégio Plenário, ilustre representante do Ministério Público, senhores advogados presentes, cumpre analisar, em sede 
de preliminar, a admissibilidade deste Recurso Extraordinário, para, em seguida, passarmos ao mérito da controvérsia. 
 
I. Preliminar 
Admissibilidade do Recurso Extraordinário 
Ab initio, reafirmo a admissibilidade deste Recurso Extraordinário submetido à apreciação do Supremo Tribunal Federal. 
A controvérsia sub examine consiste em saber, à luz dos arts. 1º, III,1 5º, I e II2 e 37, I e II3, da Constituição da República, se o fato de um 
cidadão ostentar tatuagens em seu corpo, visíveis ou não, é circunstância idônea e proporcional a impedi-lo de concorrer a um cargo ou emprego 
público, ainda que, eventualmente, o obstáculo esteja previsto em lei. 
 
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Em parte, a repercussão geral da matéria decorre da reiterada jurisprudência desta Corte, no sentido da inconstitucionalidade de cláusula 
editalícia que cria condição ou requisito capaz de restringir o acesso a cargo público, sem que haja previsão legal expressa a fundamentar a 
exigência (Precedentes: RE 593.198 AgRg, Relator Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 06/08/2013, DJe 01-10-2013; RE 558.833 AgRg, 
Relatora Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe 25-09-2009; e RE 398567 AgRg, Relator Min. Eros Grau, Primeira Turma, DJ 24-03-2006). 
Para além disso, o tema sub judice reclama uma abordagem de maior envergadura, mormente diante da constatação de uma miríade de leis 
que criam restrições para o acesso a cargos, empregos e funções por parte de candidatos que possuem tatuagens fora de padrões supostamente 
aceitáveis pelo Estado. 
Assim, no momento em que a proibição a determinados tipos e tamanhos de tatuagens obsta o direito de um candidato de concorrer a uma 
função pública, ressoa imprescindível a intervenção do Supremo Tribunal Federal para apurar se o citado discrímen encontra amparo 
constitucional. Essa matéria, mercê de dotada de um nítido efeito multiplicador, é de inequívoca estatura constitucional. 
Sob o enfoque preliminar da admissibilidade recursal, consigno o preenchimento de todos os demais requisitos de admissibilidade do 
presente recurso, notadamente o da tempestividade, prequestionamento, legitimidade e o do interesse recursal, além do indispensável 
reconhecimento da repercussão geral da matéria (Tema 838 do Plenário Virtual). 
Conheço, pois, do presente recurso extraordinário e passo ao exame de mérito. 
 
II. Mérito 
Como salientado, intenta-se, no presente Recurso Extraordinário, perquirir, de um lado, (i) se o edital de concurso para provimento de cargo 
ou emprego público pode conter restrição dirigida aos candidatos não prevista em lei, e, de outro, (ii) se uma tatuagem, visível ou não, pode 
obstaculizar a participação em certame para o desempenho de uma função pública, ainda que esse impeditivo esteja contido em lei. 
No âmbito militar, é cediço que os padrões de apresentação dos integrantes das Forças Armadas e dos militares estaduaise do Distrito 
Federal são, deveras, rigorosos. Todavia, no momento em que uma exigência estatal específica interfere incisivamente na liberdade de expressão, 
bem como no direito ao livre desenvolvimento da personalidade, de modo a impedir um cidadão de trabalhar para o Estado, torna-se possível e, 
até recomendável, a intervenção judicial para verificar a compatibilidade da referida restrição com o texto constitucional. 
Como premissa inicial, torna-se necessário REAFIRMAR a jurisprudência desta Corte, no sentido de que qualquer restrição para o acesso a 
cargo público constante em editais de concurso depende da sua específica menção em lei formal. 
Nessa linha de entendimento, firmou-se a jurisprudência reiterada do Supremo Tribunal Federal, in verbis: 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. CONCURSO PÚBLICO. EXIGÊNCIA DE 
ALTURA MÍNIMA. LIMITAÇÃO IMPOSTA APENAS POR EDITAL. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal 
Federal possui o entendimento de que a exigência de altura mínima para o cargo de policial militar é válida, desde que prevista em lei em 
sentido formal e material, bem como no edital que regulamente o concurso. 2. Na hipótese, apenas o edital do concurso estabelecia a 
exigência, de modo que tal limitação se mostra ilegítima. Precedentes. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (ARE 906295 AgR, 
Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 24/11/2015, DJe 15-12-2015); (Grifamos) 
Agravo regimental no recurso extraordinário. Administrativo. Concurso público. Policial. Altura mínima. Edital. Previsão legal. Necessidade. 
Precedentes. 1. É pacífica a jurisprudência do Tribunal no sentido de somente ser legítima a cláusula de edital que prevê altura mínima 
para habilitação para concurso público quando mencionada exigência tiver lastro em lei, em sentido formal e material. 2. Agravo 
regimental não provido. (RE 593198 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 06/08/2013, DJe 01-10-2013); 
(Grifamos) 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO (LEI Nº 12.322/2010) – CONCURSO PÚBLICO – GUARDA MUNICIPAL – ALTURA MÍNIMA – 
EXIGÊNCIA PREVISTA APENAS NO EDITAL – AUSÊNCIA DE PREVISÃO EM LEI FORMAL – OFENSA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA 
LEGALIDADE E DA RAZOABILIDADE – DECISÃO QUE SE AJUSTA À JURISPRUDÊNCIA PREVALECENTE NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – 
CONSEQUENTE INVIABILIDADE DO RECURSO QUE A IMPUGNA – SUBSISTÊNCIA DOS FUNDAMENTOS QUE DÃO SUPORTE À DECISÃO 
RECORRIDA – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. (ARE 715061 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 
14/05/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-117 DIVULG 18-06-2013 PUBLIC 19-06-2013) (Grifamos) 
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. POLICIAL MILITAR. 
ALTURA MÍNIMA. PREVISÃO LEGAL. INEXISTÊNCIA. 
Concurso público. Policial militar. Exigência de altura mínima. Previsão legal. Inexistência. Edital de concurso. Restrição. Impossibilidade. 
Somente lei formal pode impor condições para o preenchimento de cargos, empregos ou funções públicas. Precedentes. Agravo regimental 
não provido. (RE-AgR 400.754/RO, Rel. Ministro Eros Grau, 1ª Turma – unânime. DJU 04/11/2005). 
 
Essa orientação corrobora o que decidido por esta Corte quando do julgamento do MS 20.973, Relator o saudoso Ministro Paulo Brossard, 
julgado em 06/12/1989, DJ 24-04-1992, ocasião em que restou assentado que “a acessibilidade aos cargos públicos assegurada tanto pela atual 
Constituição Federal (artigo 37, inciso I), como pela Carta anteriormente outorgada (artigo 97), exige tão-somente o preenchimento dos requisitos 
estabelecidos em lei”. 
Desse modo, em respeito ao artigo 37, I da Constituição da República, que, expressamente, impõe que “os cargos, empregos e funções 
públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei” (grifo próprio), revela-se inconstitucional toda e qualquer 
restrição ou requisito estabelecidos em editais, regulamentos, portarias, se não houver lei dispondo sobre a matéria. 
Portanto, de plano, voto pela REAFIRMAÇÃO da jurisprudência desta Corte, para, desde já, assentar a primeira tese objetiva à luz do caso 
sub examine: 
 
Os requisitos do edital para o ingresso em cargo, emprego ou função pública devem ter por fundamento lei em sentido formal e 
material. 
 
Sob outro enfoque, da mera previsão legal do requisito criado pelo Estado, não exsurge o reconhecimento automático de sua juridicidade. O 
Legislador não pode escudar-se em uma pretensa discricionariedade para criar barreiras arbitrárias para o acesso às funções públicas, de modo a 
ensejar a sensível diminuição do número de possíveis competidores e a impossibilidade de escolha, pela Administração, daqueles que são os 
melhores. Assim, são inadmissíveis, porquanto inconstitucionais, restrições ofensivas aos direitos fundamentais, à proporcionalidade ou que se 
revelem descabidas para o pleno exercício da função pública objeto do certame. 
Destarte, toda lei deve respeitar os ditames constitucionais, mormente quando referir-se à tutela ou restrição a direitos fundamentais, o que 
nos leva à conclusão de que os obstáculos para o acesso a cargos públicos devem estar estritamente relacionados com a natureza e as atribuições 
das funções a serem desempenhadas. 
 
Informativo 841-STF (10/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
O tema, ressalte-se, ganha relevo quando se observa que, de um modo geral, a Administração Pública brasileira determina nos editais de 
concursos públicos, especialmente naqueles específicos do âmbito militar, a possibilidade de os candidatos serem considerados inaptos, nos 
exames médicos, se possuírem tatuagens em seu corpo fora dos padrões estabelecidos pelo Estado. 
A melhor compreensão das razões que inspiram a utilização da pigmentação definitiva no corpo humano como fator eliminatório em um 
concurso público, reclama tecer alguns relevantes comentários acerca de seus antecedentes históricos e sociológicos. 
Arte corporal milenar, a tatuagem, introduzida por viajantes e marinheiros no século XVIII, foi associada, no século XIX, a setores “marginais” 
da sociedade, como prostitutas e prisioneiros, sendo conhecida, por estes últimos, como a “flor do presídio” (GROGNARD, Catherine. Tatouages. 
Tags à lâme. Paris: Syros Alternatives, 1992). Sua associação à prática de ilícitos e a setores marginais da sociedade não é, assim, fenômeno recente. 
Deveras no século XX, a tatuagem teve seu significado expandido, porém sem ser timbrada exclusivamente pelo estigma social de 
marginalidade. No final da década de 1960, era marca corporal comum entre roqueiros, hippies, punks e motociclistas (LE BRETON, David. Signes 
didentité. Tatouages, piercings et autres marques corporelles. Paris: Métailié, 2002). 
Nesse contexto, e como é de conhecimento geral, o imaginário social a respeito do tema tatuagem foi, inevitavelmente, acompanhado, por 
mais de um século, da marca de marginalidade e da delinquência. Era, deveras, entrevista como o instrumento que determinados grupos sociais 
detinham para romper os padrões sociais e se declarar dissidentes das regras de convivência. 
No entanto, constata-se, com base em pesquisas como a do professor de Sociologia e Antropologia da Universidade de Strasbourg, na 
França, David Le Breton (Antropología del cuerpo y modernidad. Buenos Aires: Nueva Visión, 1995), que o sentido estigmatizador do uso da 
tatuagem começou a mudar a partir dos anos 1980. 
No Brasil, apenas a partir dos anos 1990 é que começaram a surgir os estúdios de tatuagem, caracterizadores da profissionalização dessa 
arte, com qualidade artística, que, aos poucos, foi conquistando aceitação social. A expansão da tatuagem se materializou de modo a alcançar os 
mais diversos e heterogêneos grupos, com as mais diversas idades, e, nesse

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