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Antropologia cultural Francisco Lerma

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ANTROPOLOGIA CULTURAL�
Índice
6Antropologia Cultural	�
61.	Apresentação	�
62.	Introdução	�
73.	Objectivos Gerais	�
74.	Objectivos cognitivos e educacionais	�
75.	Plano temático	�
10Unidade 1. A Antropologia Cultural: Introdução e definições preliminares	�
101.1	Introdução	�
101.2	Objectivos	�
101.3	O que é a Antropologia?	�
11A antropologia hoje	�
11O objecto de estudo da antropologia	�
12A crise do objecto de estudo da antropologia	�
12O que fazem os antropólogos?	�
13A antropologia: ciência ou arte?	�
14A antropologia como espelho para a humanidade	�
141.4	A Antropologia e os seus campos de conhecimento	�
161. 5	Etnografia, Etnologia, Antropologia	�
171.6.	Os enfoques sectoriais	�
171.7	Relação entre a Antropologia e a Educação	�
191.8	Relação da Entropologia Cultural com as outras ciências humanas e sociais	�
20A Antropologia e a Psicologia	�
21A Antropologia e a Sociologia	�
22A Antropologia e o Direito	�
23A Antropologia e a História	�
24A Antropologia e a Filosofia	�
24Actividades	�
26Unidade 2. Métodos e princípios do método de Antropologia Cultural	�
262.1	Introdução	�
262.2	Objectivos	�
262.3	O processo de uma investigação antropológica	�
282.4	O método etnográfico: o trabalho de campo	�
28A invenção do trabalho de campo	�
30O trabalho de campo como método	�
31Traços do trabalho de campo antropológico	�
32A etnografia e o método comparativo	�
32A trabalho de campo e a entrada no terreno	�
332.5	Técnicas de investigação antropológica	�
382.6	A observação participante	�
392.7	Os discursos emic-etic	�
392.8	O antropólogo em contextos urbanos	�
402.9	A ética do trabalho de campo	�
40Exercício de descrição etnográfica	�
40Actividades	�
413.1	Introdução	�
413.2	Objectivos	�
413.3	Os primórdios da antropologia	�
433.4	Evolucionismo	�
43Antropólogos evolucionistas:	�
46Visão crítica do evolucionismo	�
473.5	O Difusionismo	�
483.6	O particularismo histórico	�
483.7	Escola de Cultura e Personalidade	�
493.8	O Funcionalismo	�
50A introdução dos estudos de campo	�
50O conceito de função	�
513.9	O neoevolucionismo, a ecologia cultural e o materialismo histórico	�
51O Neoevolucionismo	�
52A Ecologia Cultural	�
52O materialismo cultural	�
533.10	O estruturalismo francês	�
54Outros antropólogos estruturalistas franceses	�
583.11	Antropologia em África e em Moçamique	�
58A Antropologia colonial	�
60A Antropologia no pós-independência, em Moçambique	�
67Antropologia em África e no chamado Terceiro Mundo	�
69Actividades	�
70Unidade 4. A cultura e as Culturas	�
704.1	Introdução	�
704.2	Objectivos	�
704.3	Cultura e Sociedade	�
70Sociedade	�
70Relações sociais	�
71Cultura	�
71Holismo	�
724.4	A noção antropológica da Cultura	�
734.5	Características da noção antropológica de cultura	�
73A Cultura é aprendida	�
74A Cultura é simbólica	�
75A Cultura submete a natureza	�
75A Cultura é geral e específica (Cultura –Culturas)	�
76A cultura inclui tudo	�
76A cultura é partilhada	�
76A cultura está pautada	�
76A gente utiliza criativamente a cultura	�
77A cultura está em todas as partes	�
784.6	A Cultura material e imaterial	�
794.7	A noção sociológica e a noção estética do conceito de cultura	�
804.8	O conteúdo do conceito antropológico de cultura	�
80As crenças e as ideias	�
81Os valores	�
81As normas culturais	�
82Os símbolos	�
834.9	 Os universais da cultura	�
854.10	 A mudança cultural	�
874.11	 A mudança social	�
87Qual o peso da estrutura e qual o da acção social na mudança?	�
90Actividades	�
90Unidade 5. Identidade Cultural	�
905.1	Introdução	�
905.2	Objectivos	�
905.3	identidade e alteridade: paradigmas	�
91Resposta essencialista, substantivista, psicologicista ou primordialista	�
91Resposta Cognitivista.	�
92Resposta Interaccionista, processual, situacionista e sociohistórica:	�
925.4	A identidade como constructo relacional	�
945.5	A noção de raça e a ideologia racial	�
965.6	Grupos étnicos e etnicidade	�
985.7	A percepção cultural dos grupos étnicos	�
99Como se formam os estereótipos no interior das pessoas?	�
99De onde nascem os estereótipos?	�
99Como se mantêm um estereótipo?	�
100Como funcionam os estereótipos?	�
1005.8	Modelos de convivência intercultural	�
100Modelo de integração impossível: Alemanha	�
100Modelo da assimilação: França	�
101Tolerância pluriétnica ou pluricultural: U.K.	�
1025.9	O conflito identitário	�
103Actividades	�
104Unidade 6. O Parentesco: organização sócio-política a célula e produção	�
1046.1	Introdução	�
1046.2	Objectivos	�
1046.3	Definição do parentesco	�
1056.4	Grupos de parentesco	�
1056.5	Tipos de família	�
1066.6	O Casamento	�
107Tipos de casamento	�
109Padrões de residência pós-casamento	�
1096.7	 Os sistemas de descendência e herança	�
109Actividades	�
111Unidade 7. A Antropologia Económica	�
1117.1	Introdução	�
1117.2	Objectivos	�
1117.3	Antropologia económica	�
1127.4	A reciprocidade	�
1137.5 	A redistribuição	�
1147.6	Intercâmbio de mercado	�
1147.7	Modos de produção	�
1157.8	Caça, pesca e recoleção	�
1167.9	Pastorícia	�
1167.10	 Cultivo agrícola: horticultura e agricultura	�
116Horticultura	�
117Agricultura	�
1177.11	A produção industrial	�
1177.12	A sociedade pós-industrial	�
118Actividades	�
119Unidade 8. Antropologia Política	�
1198.1	Introdução	�
1198.2	Objectivos	�
1198.3	Introdução: política, poder e autoridade.	�
1228.4	Os sistemas políticos nos bandos de caçadores e recolectores	�
1228.5	Os sistemas políticos nos sistemas tribais	�
1238.6	Os sistemas políticos nas chefaturas	�
1238.7	Os sistemas políticos nos estados	�
1248.8	Rituais e ordem	�
125Actividades	�
126Unidade 9. Antropologia da Religião	�
1269.1	Introdução	�
1269.1	Objectivos	�
1269.3	A Religião	�
1269.4	Expressões da religião	�
126Animismo	�
127Maná e tabu	�
127Magia e religião	�
128O Totemismo	�
129Os mitos	�
1309.5	Religião e cultura	�
1319.6	Religião e mudança	�
1319.7	A religião e o tempo do calendário	�
132Actividades	�
133Bibliografia básica	�
�
�
Antropologia Cultural
1.	Apresentação
Nos encontros presenciais, os docentes privilegiarão aulas teóricas expositivas: (conferências), nas quais serão apresentados temas específicos com conceitos teóricos e exemplos etnográficos relacionados com os temas em questão. No decurso destas sessões, os estudantes adquirirão os textos básicos de estudo, que compreendem um caderno de apontamenos e um outro com textos de apoio.
O caderno de apontamentos é este que o caro estudante tem nas suas mãos. Nele encontram-se:
O programa/plano de estudos, no qual constam os objectivos de aprendizagem da disciplina, as unidades temáticas e respectivos conteúdos, a calendarização do estudo dos estudantes e a indicação da bibliografia.
Os apontamentos contendo os conteúdos detalhados, organizados por unidades temáticas. O caderno de apontamentos contém também indicação de actividades, em forma de questionário, que o estudante deverá resolver durante o tempo destinado ao estudo individual.
O texto de apoio é uma colectânia de textos de diferentes autores que tratam de temas específicos em estudo na disciplina. Tais textos complementam o caderno de apontamentos. O estudante deverá utilizar estes dois instrumentos em simultâneo.
É importante que o estudante leia os materiais, de acordo com a calendarização que lhe é proposta no caderno de apontamentos, porque se deixar que a matéria se acumule pode não vir a ter tempo suficiente para estudá-la na altura das provas escritas. 
2.	Introdução
Esta disciplina é leccionada em todos os cursos em vigor na Universidade Pedagógica. Sendo uma disciplina de tronco comum, visa permitir a todos estudantes a aquisição de conhecimentos etnográficos e sócio-culturais do seu país e, em especial, do continente africano. No fim do curso, o estudante terá a ferramenta necessária para conhecer o papel desempenhado pela Antropologia em África, numa perspectiva sócio-cultural. Estará também munido de conhecimentos para fazer a reflexão sobreos processos, fenómenos culturais, para a acção pedagógica efectiva e será capaz de usar alguns elementos da educação tradicional na transmissão dos conteúdos científicos e provocar uma revolução epistemológica. 
O estudante dominará os diferentes sistemas de filiação das sociedades moçambicanas, as diferentes terminologias de parentesco e seu valor sociológico; saberá diferenciar as noções de etnicidade, grupo étnico, categoria étnica, para além de resolver os problemas de ordem social. É ainda interesse deste programa munir os estudantes de conhecimentos sobre a importância da ideologia na sociedade, a articulação entre a ideologia, reprodução da sociedade e o status quo social e, por fim, reconhecer o impacto da religião tradicional em África e, em particular, Moçambique.
3.	Objectivos Gerais
Reflectir sobre a unicidade do homem como bio-cultural, biopsíquico e sócio-cultural;
Compreender a realidade social como um todo articulado;
Conhecer processos e estruturas da construção social;
Entender a diversidade social e cultural e a pluralidade e heterogeneidade dos homens e suas condutas.
4.	 Objectivos cognitivos e educacionais
Contribuir para a capacitação dos estudantes com conhecimentos básicos sobre as diferentes etno-culturas existentes no país, partindo de conceitos antropológicos fundamentais e necessários para esta compreensão, com vista a um melhor conhecimento de fenómenos sócio-culturais de Moçambique.
Contribuir para a construção duma sociedade intercultural, através da valorização da diversidade do património cultural de Moçambique, compreendendo que o conjunto destes valores é uma das maiores riquezas do país;
Entender a pertinência do cultivo das relações mútuas entre a escola, família, comunidade e sociedade;
Contribuir para a formação pessoal e social dos estudantes, futuros docentes;
Reflectir sobre a necessidade duma sociedade intercultural que apele, não só ao entendimento das estruturas e factos sociais, mas também à tolerância e a um espírito de respeito que leve a uma interajuda entre os seres humanos.
5.	Plano temático
	Unidades temáticas/Conteúdos
	Calendarização do estudo
	Material de leitura
	1. A Antropologia Cultural: introdução e definições preliminares
O que é a Antropologia
A Antropologia e os seus campos de conhecimento
Etnografia, Etnologia, Antropologia
Os enfoques sectoriais
Relação entre a Antropologia e a Educação
Relação da Entropologia Cultural com as outras ciências humanas e sociais
	1 a 11 de Agosto
	1) Apontamentos, Unidade 1.
2) LIMA, Augusto Mesquitela, MARTINEZ, Benito & LOPES, João. Introdução à Antropologia Cultural. 9 ed. Lisboa, Editorial Presença, 1991.
	2. Métodos e princípios do método de Antropologia Cultural
O processo de uma investigação antropológica
O método etnográfico: o trabalho de campo
Técnicas de investigação antropológica
A observação participante
Os discursos emic-etic
O antropólogo em contextos urbanos
A ética do trabalho de campo
	13 a 25 Agosto
	1) Apontamentos, Unidade 1.
2) RIVIÈRE, Claude. Introdução à Antropologia. Lisboa, Edições 70, 2000
	3. O Pensamento Antropológico
Os primórdios da antropologia
Evolucionismo
O Difusionismo
O particularismo histórico
Escola de Cultura e Personalidade
O Funcionalismo
O neoevolucionismo, a ecologia cultural e o materialismo histórico
O estruturalismo francês
Antropologia em África e em Moçamique
	27 deAgosto a 8 de Setembro
	1) Apontamentos, Unidade 3
2) RIVIÈRE, Claude. Introdução à Antropologia. Lisboa, Edições 70, 2000
3) LERMA MARTINEZ, Francisco. Antropologia Cultural: guia para o estudante. 4 ed. Maputo, Paulinas Editora, 2003
	4. A Cultura e as Culturas
Cultura e Sociedade
A noção antropológica da Cultura
Características da noção antropológica de cultura
A Cultura material e imaterial
A noção sociológica e a noção estética do conceito de cultura
O conteúdo do conceito antropológico de cultura
Os universais da cultura
A mudança cultural
A mudança social
	10 a 22 de Setembro
	1) Apontamentos, Unidade 4
2) MELLO, Luiz Gonzaga de. Antropologia Cultural. 11 ed. Petrópolis, Vozes, 2004
3) HARRIS, Marvin. Canibais e reis. Lisboa, Edições 70, 1990
	5. Identidade Cultural
Identidade e alteridade: paradigmas
A identidade como constructo relacional
A noção de raça e a ideologia racial
Grupos étnicos e etnicidade
A percepção cultural dos grupos étnicos
Modelos de convivência intercultural
O conflito identitário
	24 a 29 de Setembro
	1) Apontamentos, Unidade 5
2) LINTON, Ralph. O Homem: uma introdução à Antropologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000
	6. O Parentesco: organização sócio-política a célula e produção
Definição do parentesco
Grupos de parentesco
Tipos de família
O Casamento
Os sistemas de descendência e herança
	1 a 6 de Outubro
	1) Apontamentos, Unidade 6
2) RIVIÈRE, Claude. Introdução à Antropologia. Lisboa, Edições 70, 2000
3) LERMA MARTINEZ, Francisco. Antropologia Cultural: guia para o estudante. 4 ed. Maputo, Paulinas Editora, 2003
	7. A Antropologia Económica
Antropologia económica
A reciprocidade
A redistribuição
Intercâmbio de mercado
Modos de produção
Caça, pesca e recolecção
Pastorícia
Cultivo agrícola: horticultura e agricultura
A produção industrial
A sociedade pós-industrial
Política, poder e autoridade
	8 a 13 de Outubro
	1) Apontamentos, Unidade 7
2) RIVIÈRE, Claude. Introdução à Antropologia. Lisboa, Edições 70, 2000
3) LERMA MARTINEZ, Francisco. Antropologia Cultural: guia para o estudante. 4 ed. Maputo, Paulinas Editora, 2003
	8. Antropologia Política
Os sistemas políticos nos bandos de caçadores e recolectores
Os sistemas políticos nos sistemas tribais
Os sistemas políticos nas chefaturas
Os sistemas políticos nos estados
Rituais e ordem
	15 a 20 de Outubro
	1) Apontamentos, Unidade 8
2) RIVIÈRE, Claude. Introdução à Antropologia. Lisboa, Edições 70, 2000
3) LERMA MARTINEZ, Francisco. Antropologia Cultural: guia para o estudante. 4 ed. Maputo, Paulinas Editora, 2003
	9. Antropologia da Religião
A Religião
Expressões da religião
Religião e cultura
Religião e mudança
A religião e o tempo do calendário
	22 de Outubro a 3 de Novembro
	1) Apontamentos, Unidade 9
2) RIVIÈRE, Claude. Introdução à Antropologia. Lisboa, Edições 70, 2000
3) LERMA MARTINEZ, Francisco. Antropologia Cultural: guia para o estudante. 4 ed. Maputo, Paulinas Editora, 2003
6.	 Avaliação 
Aos estudantes serão aplicadas três avaliações: a primeira e a segunda serão exercícios escritos e a terceiraa será um trabalho individual, de investigação independente. Em Dezembro de 2007 haverá um exame final.
�
	Unidade 1
A Antropologia Cultural: Introdução e definições preliminares
1.1	Introdução
Esta é a unidade temática introdutória da disciplina de Antropologia Cultural. Nela são abordados conteúdos relacionados com conceitos de Antropologia, Etnografia, Etnologia, relação entre a Antropologia e Educação.
1.2	Objectivos
No final desta unidade o estudante deverá:
Conhecer os termos e conceitos básicos da antropologia.
Ser capaz de contextualizar a antropologia nos campos do saber.
Estar sensibilizado para uma perspectiva antropológica.
Relacionar a Antropologia e a Educação.
Compreender a identidade da Antropologia Sociocultural em relação a outras ciências sociais.
1.3	O que é a Antropologia?
A origem etimológica - A palavra “antropologia” deriva das palavras gregas “logos” (estudo) e “anthropos” (humanidade) e significa, literalmente, “estudo da humanidade”. Porém, a antropologia, na época antiga, não era exactamente o que é actualmente. Para os gregos e romanos, a “antropologia” era uma “ciência dedutiva”, isto é, uma discussão baseada em deduções abstractas sobre a natureza dos seres humanos e o significadoda existência humana. O seu método de verificação do conhecimento era o método dedutivo, que consistia em chegar a uma conclusão particular, partindo de premissas universais. Tratava-se, portanto, de um caminho que vai do geral ao particular. A verdade radicava no facto do particular ser uma parte mais do geral. Partia-se de uma teoria geral para testar hipóteses (propostas de relações entre variáveis – dados que variam caso a caso) derivadas dessa teoria.
A antropologia hoje
Podemos afirmar que a antropologia é hoje: 
O estudo dos seres humanos enquanto seres biológicos, sociais e culturais. 
Uma forma de olhar a diversidade, uma atitude de sensibilidade e empatia face aos outros. 
Uma profissão na qual se aplicam conhecimentos, métodos, técnicas, sensibilidades e olhares para melhor compreender e lidar com o mundo.
Em primeiro lugar, a antropologia é uma ciência indutiva que formula conclusões e abstrações sobre a natureza humana, tendo como base um conhecimento derivado da observação sistemática da diversidade cultural humana. Este conhecimento serve, assim, para a construção de teorias que interpretam os fenómenos socioculturais. Estes conhecimentos, tal como os métodos e as teorias da antropologia, servem para ser aplicados na melhoria das condições de vida das populações estudadas.
Em segundo lugar, a antropologia actual é uma forma de olhar/perspectivar o “outro” e respeitar a diversidade sociocultural. Essa forma de olhar/perspectivar implica pensar a convivência intercultural sem qualquer tipo de exclusão ou discriminação social. A antropologia desenmascara e desconstrói a realidade para olhar desde o outro lado do espelho.
Em terceiro lugar o antropólogo é um profissional “...que estuda as culturas das diversas populações em todas as suas manifestações (tecnologia, sistemas de valores e crenças, organização social) e as estruturas e modelos culturais em geral, com um método interdisciplinar...” (De la Fuente, 1998).
O objecto de estudo da antropologia
Os modos de vida de outras partes do mundo costumam fascinar, estranhar ou gerar uma visão exótica. A antropologia oferece um conhecimento humano e comparativo do mundo e da sua diversidade cultural. Podemos estabelecer, relativamente ao seu objecto de estudo, os seguintes tipos de definições – a antropologia: 
Estuda os seres humanos em geral, e estabelece leis válidas para o conjunto da humanidade.
Estuda os produtos e as acções dos seres humanos: comportamento social, costumes, cultura, rituais, parentesco, vida quotidiana, cultura material, tecnologia, etc. 
Estuda grupos humanos ou culturas de todas as épocas e partes do mundo. 
Estuda alguns tipos de sociedades: “primitivas”, pré-industriais, simples, “complexas”, “tradicionais”, industriais, pós-industriais, não ocidentais, ocidentais...
A crise do objecto de estudo da antropologia
Anteriormente, a antropologia era pensada como o estudo das sociedades sem escrita, etiquetadas, sob uma perspectiva evolucionista, como “sociedades primitivas”. Nesta perspectiva, essas sociedades coincidiam basicamente com as sociedades não ocidentais. O termo de “primitivo” foi, no entanto, abandonado devido à sua notação pejorativa e ao falso binómio selvagem / civilizado. A partir de então, a antropologia foi pensada como o estudo de pequenas comunidades camponesas, nas quais as relações interpessoais e a falta de especialização económica eram muito importantes, assim como a sua homogeneidade e o seu equilíbrio internos. A antropologia virou-se assim para Ocidente. Posteriormente, a antropologia dos “primitivos” e dos camponeses passou a ser uma antropologia “no” e “do” espaço urbano e do urbanismo. Desta forma, a antropologia passou a ser uma ciência que estuda qualquer problema sociocultural, em qualquer parte do mundo. 
Em síntese, actualmente, podemos pensar a antropologia como uma disciplina que:
Estuda a cultura inserida num contexto social.
Estuda a conduta humana e o seu pensamento, no seu contexto social e cultural. 
Estuda as semelhanças e as diferenças entre as culturas: o que nos faz iguais e o que nos faz diferentes, relativamente “ao(s) outro(s)”.
Estuda as formas de pensar, perceber e lidar com os múltiplos “outros”. 
O que fazem os antropólogos?
Trabalho de campo: Recolhem dados sobre a cultura e descrevem fenómenos socioculturais. O trabalho de campo é uma metodologia, inventada por antropólogos, que tem como base a integração no grupo humano estudado e como objectivo a compreensão das suas pautas culturais. Neste contexto, a observação participante emerge como a técnica de investigação fundamental, mas também como a atitude a adoptar. A antropologia não é uma ciência do exótico, praticada por académicos fechados numa torre de marfim: o antropólogo partilha muito tempo com as pessoas, a falar, ouvir, observar, gravar, participar, escrever, anotar, perguntar, etc. O antropólogo convive e partilha experiências humanas com as pessoas estudadas, como o objectivo de traduzir a sua experiência. Ler sobre a batalha de Normandia não é o mesmo do que ter participado nela.
Comparam culturas: Comparam culturas com outras culturas, descrevendo as suas semelhanças e diferenças .
Interpretam as culturas: Interpretam a realidade humana, descobrem os seus sentidos e significados e criam teorias socioculturais. Exemplos: a garrafa está meio cheia ou meio vazia?; o movimento do olho, é um tic ou um piscar de olhos a alguma pessoa?. Severo Ochoa distinguiu-se como um médico, chegando a ser “Prémio Nobel de Medicina”. Durante a sua vida académica, reprovou a algumas disciplinas. O que é que isto pode significar? a) que um mau aluno chegou a ser prémio Nobel; b) que um bom aluno pode reprovar...
Aplicam a antropologia: Aplicam teorias, métodos e conhecimentos antropológicos, para melhorar as condições de vida das populações (aplicação e aplicabilidade da antropologia).
A antropologia: ciência ou arte?
A antropologia é, para alguns, uma ciência social que enfatiza a objectividade, a observação sistemática e a explicação. De acordo com esta perspectiva, a ciência é entendida como um modo de conhecer e de gerar afirmações sobre o mundo, mas também como uma forma de contrastar as afirmações sobre a verdade do mundo. A ciência não é, porém, o único modo de produzir conhecimento sobre o mundo. Segundo Wallace (1980) os modos de produção de conhecimento podem ser classificados da seguinte forma:
A) Modo autoritário: Conhecimento por referência aos produtores, socialmente qualificados. Exemplo: velhos, bispos e professores.
B) Modo místico: Conhecimento que se baseia na referência a um ser natural ou sobrenatural. Exemplo: profetas, médiuns, deuses... Este tipo de conhecimento é alcançável através de rituais como o transe. 
C) Modo lógico - racional: Neste caso, a produção de conhecimento fundamenta-se em regras da lógica formal; i.e.: premissa A, premissa B, portanto, conclusão C. É a aplicação do senso comum.
D) Modo científico: É um processo que implica testar os enunciados, através da observação e dos dados produzidos, para alcançar generalizações empíricas e formular teorias. 
E se, para alguns, a antropologia é uma ciência social, para outros a antropologia é uma das Humanidades. Nesta perspectiva, a antropologia enfatiza a subjectividade, o relativismo cultural, a compreensão dos participantes e o significado que as acções socioculturais têm para as pessoas. O antropológo faz parte da etnografia que observa: é uma pessoa que estuda outras pessoas, é um sujeito que estuda outros sujeitos humanos (objecto de estudo), o que implica uma inter-subjectividade na forma de produzir o conhecimento. Sob este ponto de vista, a antropologia pode ser considerada uma forma de arte. As leis da antropologia são diferentes das Ciências Naturais, aproximam-se mais do “certum” do que do “verum”. A antropologia pode atingir a objectividade? Podemos ser objectivos quando o sujeito de investigação é a humanidade eo que esta tem de humano? 
As ciências sociais e as ciências em geral não estão isentas de valores e de subjectividades. Assim, por exemplo, um químico pode aplicar a química para construir uma bomba atómica ou para curar o cancro. Portanto, não pode existir ciência sem consciência e sem uma ética moralmente humanista. Outro exemplo é o do construtor de “futuro” Bill Gates: Gates afirmou “A tradução por computador só é possível a um nível muito elementar. O imprescindível exercício de interpretação fica reservado aos humanos” (Gates 1999). 
No caso das ciências sociais, estas não podem chegar a ser puramente e absolutamente objectivas. Todas elas podem utilizar ferramentas, mecanismos e instrumentos que objectivam a intersubjectividade e a produção de conhecimento sobre a realidade humana. Portanto, podemos afirmar que a antropologia é uma ciência social que, às vezes, actua metodologicamente como se fosse uma arte. 
A antropologia como espelho para a humanidade
A antropologia é um espelho para a humanidade, isto é uma “ciência das semelhanças e das diferenças humanas” (Kluckhon 1944: 9), que da resposta ao dilema da convivência intercultural entre pessoas com modos de vida diferentes. Esta preocupação pela diversidade humana é uma das chaves da antropologia, pois ao observarmos os outros podemos ver-nos, mais claramente, a nos próprios.
1.4	A Antropologia e os seus campos de conhecimento
As diferenças entre os vários campos da antropologia baseiam-se, essencialmente, nos objectos de estudo e problemáticas de análise, mas também no que concerne às teorias, métodos de estudo e tradições académicas concretas. 
A. Antropologia Filosófica. O seu objecto de estudo é a pessoa humana como ser genérico; aquilo que as pessoas têm em comum. Estuda generalidades e utiliza conceitos muito abstractos. O seu método é geralmente introspectivo: dedica-se ao interior da pessoa humana e trabalha sobre “o conceito do conceito”. 
B. Antropologia Física. Estuda a evolução biológica humana, isto é, a relação entre a evolução biológica e a cultural; utiliza métodos como a paleoantropologia (estudo dos antepassados humanos; é uma tentativa de desvelar a evolução biológica dos humanos, desde o primeiro momento do aparecimento dos primatas até aos nossos dias), a antropometria (medições anatómicas), a anatomia comparativa (estudo comparativo de fósseis humanos) ou a raciologia (classificação das raças humanas). Actualmente, utilizam métodos próprios da genética molecular para distinguir aos primates dos humanos. Nos E.U.A., e relativamente a este uso da genética molecular, os antropólogos físicos preferem ser chamados “antropólogos biológicos”. 
C. Antropologia Sociocultural. Estuda as diferenças entre humanos e animais (os humanos criam e têm culturas). 
C.1. Antropologia Cultural. É uma terminologia norte-americana. O seu fundador Franz Boas, um alemão emigrado aos E.U.A. que converteu a museística (etapa prévia à antropologia cultural) norte-americana em ciência. Boas formou-se numa escola neokantista e o seu esquema teórico de referência é o da Ilustração. A Ilustração da Alemanha reage, teoricamente, ao mundo medieval (teocentrismo: Deus centro de todo), e propõe como alternativa o antropocentrismo (o humano como centro do mundo). O objectivo era ultrapassar os esquemas das crenças para chegar aos esquemas da razão. É preciso converter o ser humano num ser científico. Para a Ilustração alemã o ser humano é duplo:
a) 	Por um lado, comparte características biológicas com o resto dos seres vivos. É necessário, portanto, uma ciência que estude os humanos como um animal, a antropologia física.
b) 	Por outro lado, os humanos são capazes de elaborar coisas que os animais não podem criar: a linguagem, a tecnologia, símbolos, etc. Este conjunto de coisas que os humanos produzem e aprendem, enquanto membros de uma sociedade, é aquilo que os alemães chamam “KULTUR” (cultivar: algo que só podem fazer os humanos). O estudo da “kultur” é a antropologia cultural.
Quando Franz Boas chegou aos E.U.A., empenhou-se em divulgar estas ideias, definindo a antropologia cultural, no sentido de obras materiais e espirituais especificamente humanas. 
C.2. Antropologia Social. É um termo que nasce no Reino Unido, depois de superar, igualmente, uma fase museológica. Para os britânicos, a referencia não foi a Ilustração, mas o francês Emile DURKHEIM que elaborou um modelo de pensamento de reacção á Ilustração. Segundo Durkheim, se queremos estudar os seres humanos, não podemos basearmos, exclusivamente, nos seus produtos, porque os produtos são determinados pela sociedade em que esses produtos são criados. Nada garante que os produtos culturais continuam a ter a mesma significação que tinham aquando da sua elaboração e utilização. Portanto, não é possível estudar os produtos humanos sem estudar a sociedade que os gera. Caso contrário, não teríamos garantias de conhecer o sentido e significado desses objectos ou produtos culturais. A antropologia social britânica defendeu que era necessário estudar, primeiramente, a sociedade, para depois fazer uma análise dos produtos humanos (“kultur”). Esta perspectiva sublinha mais alguns conceitos como os de: estrutura social, instituição familiar, formas de organização política e económica, controlo social, etc. 
Na actualidade, a diferença não existe na prática, pois os antropólogos estudam tanto as relações sociais, como os produtos culturais. A única diferença que pode surgir relaciona-se com uma questão de ordem. Estamos perante o que denominamos por antropologia sociocultural. 
D. Antropologia Aplicada. A contribuição da antropologia, para as culturas que estuda, tem sido muito importante. O reconhecimento do seu serviço público motivou a origem de uma outra subdisciplina, a antropologia aplicada que trata da aplicação de dados, teorias, perspectivas e métodos antropológicos para identificar, avaliar e resolver problemas sociais contemporâneos. Algumas das suas áreas são: a saúde e a enfermagem; a planificação familiar; o desenvolvimento económico; a animação sociocultural. Neste sentido, a antropologia aplicada estuda a cultura, para depois elaborar projectos de acção, intervenção e mudança cultural, dentro de um sistema de referência concreto. 
1. 5	 Etnografia, Etnologia, Antropologia
De acordo com o antropólgo Claude Lévi Strauss (1992) há três níveis de interpretação das culturas: 
1º. Etnografia: simples descrição e narração da cultura.
Etno: cultura, costumes,...
Grafia: escrever, descreves,...
Exige investigação de terreno com observação directa.
A etnografia é uma retórica que constrói a realidade, a partir de uma reflexividade dialógica entre o antropólogo e os humanos estudados. 
2º. Etnologia: Nível da procura de razões e comparações de costumes e culturas. Não se relega à mera descrição dos factos.
Etno: Costumes...
Logia: razão, tratado de...
Classifica povos, de acordo com as suas características culturais, e explica a distribuição de traços culturais.
3º. Antropologia: Nível de interpretação global e holística (a totalidade da experiência humana: biologia, cultura, história, economia...) dos fenómenos culturais. 
Estuda o comportamento sociocultural (ex.: através de instituições como a família, os sistemas de parentesco, a organização política, os rituais religiosos, etc.) de grupos humanos passados e presentes. 
Estuda as regularidades e regras culturais da vida em sociedade. 
Na realidade, estes três níveis convergem e interagem. Mas, no que concerne ao processo de investigação, ensina-se os alunos que este se deve iniciar com a etnografia, seguindo-se a etnologia e, depois, a antropologia. Na França, o termo “Etnologia” e o termo “Antropologia” são sinónimos, embora esta acepção não esteja isenta de controvérsia: o antropólogo Claude Lévi-Strauss defendeu que estes conceitos não eram sinónimos, afirmando que a etnologia procurava estudar os sentidos de uma cultura de uma área particulare que a antropologia procurava os sentidos dos comportamentos culturais comuns a toda a humanidade. 
1.6.	 Os enfoques sectoriais
Dentro da antropologia sociocultural, há uma série de enfoques de abordagem ou subdisciplinas. Estes procuram estudar, em profundidade, algumas dimensões do comportamento humano:
Os humanos vivem em meios ecológicos diferentes que afectam aos comportamentos culturais. A subdisciplina que trata das relações entre os humanos e o meio ambiente é a “Antropologia Ecológica”. 
Além disso, os humanos necessitam produzir uma série de bens para a sua subsistência e consumo: esta é a perspectiva da “Antropologia Económica”. 
Os humanos necessitam de regras e formas de organização para viver: as regras e organizações políticas são estudadas pela “Antropologia Política”. 
O mundo simbólico e cognitivo é estudado pela “Antropologia Cognitiva e Simbólica”.
1.7	Relação entre a Antropologia e a Educação
A antropologia possui um vasto potencial para o trabalho em educação. Os trabalhos de campo em que estas áreas são relacionadas podem ser vinculados em diversas vertentes das quais podems destacar, pelo menos três: Educação em Antropologia, Antropologia da Educação e Antropologia Educativa.
Educação em Antropologia é a que se desenvolve pela maioria das disciplinas científicas que consiste na difusão em distintos níveis e modadlidades dos saberes produzidos pela Antropologia. Antropologia da Educação é a que se relaciona com as abordagens que a Antropologia pode realizar aos efeitos de conhecer melhor a realidade de âmbito da educação, mediante a utilização de marcos teóricos, metodologias e técnicas características, e a posterior reflexão sobre a informação obtida. Antropologia Educativa surge com vista a gerar um tipo de educação que incorpore não só conhecimentos provenientes da antropologia, senão também esse olhar antropológico que permita aos educadores e educandos desenvolver saberes e práticas que superem as perspectivas habitualmented etnocéntricas e/ou discriminatórias presentes em cada cultura.
A Antropologia da Educação é uma subdisciplina da antropologia cultural que resulta do interesse dos antropólogos pelos processos educativos. Por processos educativos entende-se como sendo aqueles mediante os quais cada grupo transmite a sua cultura, ou seja, processos de transmissão da cultura. Assim sendo, a antropologia da educação constitui-se a partir da preocupação do antropólogo pela cultura (objecto de estudo da antropologia cultural) e, consequentemente, pela forma em que esta se transmite e se adquire de geração em geração. Poder-se-ia definir, então, como o estudo antropológico dos processos de ensino e aprendizagem da cultura.
As três áreas actuam como marco quando se procura implementar acções que buscam alcançar alguns dos seguintes:
Contribuir ao conhecimento da Cultura através de uma visão Antropológica.
Criar espaços de trabalho a favor do entendimento, o respeito e a aceitação das diferentes culturas.
Investigar e difundir temáticas da nossa cultura e sociedade.
Diligenciar projectos artístico-culturais para a promoção de artististas e espéctaculos locais.
Implementar projectos e actividades educativas em diferentes áreas do meio.
Assessorar e apoiar projectos educativos provenientes de centros de ensino.
Inovar em matéria de actividades museológicas, incorporando espaços educativos e novas metodológicas na abordagem de temáticas propostas.
A Antropologia da Educação é uma subdisciplina da antropoloia cultural que se justifica no interesse dos antropólogos pelos processos educativos. Esses processos são entendidoscomo aqueles mediante os quais cada grupo transmite a sua cultura, ou seja, processos de transmissão da cultura. Assim, a antropologia da educação constitui-se a partir da preocupação do antropólogo pela cultura (objecto de estudo da antropologia) e, consequentemente, pela forma em que esta se transmite e se adquire de geração. Poder-se-ia, então, definir a Antropologia da Educação como o estudo dos processos de ensino e aprendizagem da cultura. 
No estudo da Antropologia da Educação, uma das questões que se coloca tem a ver com o para quê conhecer a escola. A perspectiva de responder a esta questão indica a necessidade da criação da capacidade para precisar os limites razoáveis das transformações, bem como o trabalho activo na direcção do reconhecimento das contradições.
1.8	Relação da Entropologia Cultural com as outras ciências humanas e sociais
O estatuto epistemológico das ciências humanas e sociais - As Ciências Sociais aparecem, enquanto exercício profissional, no sec. XIX. Este aparecimento não se dá por acaso, uma vez que é nessa altura que se consolida a sociedade burguesa e a modernidade e que aparecem novos problemas na relação entre o indivíduo e o grupo. 
As Ciências Sociais e Humanas têm em comum a relação entre sujeito (humano) e objecto (humanos) de estudo, o que implica falar de um estatuto epistemológico próprio, diferente do das ciências naturais. Esta postura não se encontra, porém, isenta de um forte debate científico que remonta à origem das ciências humanas e sociais. Durkheim considerava que as ciências humanas e sociais deveriam imitar as ciências naturais e considerar os fenómenos sociais como naturais. Esta perspectiva resume-se na expressão durkheimiana: “os factos sociais como coisas” (Durkheim: 1995). Autores como Dilthey (1839-1911), Max Weber (1864-1920) e Peter Winch defenderam, contrariamente, que as ciências sociais deveriam ter um estatuto epistemológico próprio, porque a acção humana é radicalmente subjectiva. Para estes autores, situados numa linha “compreensiva”, as ciências sociais devem compreender os fenómenos sociais, a partir das atitudes mentais e do sentido que os agentes conferem às suas acções. Daí que devamos utilizar métodos diferentes das ciências naturais, basicamente qualitativos e indutivos. Portanto, o auto-conhecimento e o conhecimento intersubjectivos caracterizariam as ciências humanas e sociais, desde o ponto de vista epistemológico. Dilthey chegou a afirmar que as ciências sociais devem centrar-se não nas causas dos fenómenos sociais, mas nas representações, sentimentos e interpretações dos mesmos. 
Karl Popper foi um participante importante neste debate: afirmou a inexistência de oposição entre as ciências humanas e sociais. Para ele, a verdadeira oposição existe entre ciências empírica e os sistemas metafísicos. Ao contrário da metafísica, a ciência caracterizar-se-ia por submeter as suas proposições e teorias à falsidade (refutação). Embora esteja consciente de que a ciência é sempre provisória, Popper reconhece o direito da mesma a procurar leis gerais. Esta validade limitada significaria pensar o conhecimento científico não como uma verdade irrefutável e absoluta, mas como um conhecimento –“certum” - validade limitada.
Kuhn, em oposição a Popper, distinguirá as ciências paradigmáticas (ciências naturais) das ciências pré-paradigmáticas (as ciências sociais). Porquê? Segundo este autor, não existe um paradigma sobre a natureza humana que seja aceite por toda a comunidade científica. Isto significa uma clara diferença relativamente às ciências humanas e sociais pois, se bem que paradigmas como os de Newton ou os de Einstein (relativismo) tenham sido aceites por todas as ciências naturais, em ciências humanas, a diversidade de teorias e princípios sobre a natureza humana é tão ampla que não nos permite falar de paradigma. Paradigma é entendido como o conjunto de teorias e princípios sobre a estrutura e a natureza das coisas; conjunto aceite, por unanimidade, por toda a comunidade científica. Sem entrar a fundo nesta discussão sobre pre-paradigmas e paradigmas (não é este o objectivo desde tema), é, porém, importante situar as ciências humanas e sociais, nomeadamente a antropologia na organização da produção social do saber.
 A postura, mais ligada ao conhecimento humanístico compreensivo, é a seguinte: 
Temosque reconhecer que existem outras formas de conhecimento – arte, poesia, literatura, fotografia. – com legitimidades diferentes. 
A realidade constrói-se socialmente através de processos históricos.
Os humanos são seres significantes, que dotam de sentido tudo o que fazem, pensam e dizem. Os objectos são conhecidos, através da meditação do sujeito e da sua linguagem.
A verdade absoluta não existe, apenas existem algumas certezas – certum. Isto não significa que se pode controlar, cientificamente, a subjectividade característica das ciências humanas. 
Todo conhecimento científico está exposto a princípios éticos e valores. Os resultados de uma investigação científica deveriam responder a duas questões: para quem servem? para quê? Não têm o mesmo valor ético o químico que trabalha na criação de uma bomba atómica e o que trabalha para descobrir uma medicina que cure o cancro.
É impossível publicar um livro de ciências sociais que não influa, dalguma maneira, na sociedade.
Qualquer realidade social não pode ser entendida apenas através da quantificação matemática. Questões como a felicidade, a tristeza, a dor, os sentimentos, os afectos não podem ser reduzidos a uma quantificação. 
O que distingue as ciências humanas e sociais é, portanto, o seu estatuto epistemológico próprio. No entanto, a relação intersubjectiva com o objecto de estudo também pode determinar algumas diferenças. Braudel (1976) afirma: “O que muda é o observatório, a paisagem é sempre a mesma”. 
Qual é o papel e o estatuto da antropologia em relação às outras ciências sociais e humanas? 
	Anedota: 
-Qual é a diferença entre um antropólogo, um sociólogo e um jornalista?
-Resposta: O antropólogo anda a pé ou de bicicleta, o sociólogo sempre de carro e o jornalista de avião. 
A anedota anterior pode representar, metaforicamente, as várias abordagens metodológicas que as diferentes ciências humanas e sociais apresentam, em relação ao seu objecto de estudo. Mas, na prática, produz-se um entrecruzamento de métodos e empréstimos teórico-conceptuais. Muitas subdisciplinas comunicam intensamente entre si. 
A Antropologia e a Psicologia
No seguinte quadro, podemos observar, detalhadamente, a relação entre a antropologia e a psicologia:
	
	Indivíduo
	Sociedade
	Cultura
	Indivíduo
	Psicologia
	Psicologia Social
	Antropologia Psicológica
	Sociedade
	
	Sociologia e Antropologia Social
	Antropologia Sociocultural e Sociologia
	Cultura
	
	
	Antropologia Cultural
	Antropologia
	Psicologia
	A realidade social assenta numa realidade psicológica e biológica –bioquímica-.
O humano não se reduz só ao psicológico (ex.: atracção sexual entre duas pessoas).
Experiencialismo.
Estuda como o cultural e o social modelam o psicológico e vice-versa.
“Facto social total” (Marcel Mauss). A antropologia pratica uma integridade na análise sociocultural. O biológico é um aspecto humano com sentido, que actua, através da cultura na sociedade. 
“Choque cultural”.
	Identifica os traços psicológicos do indivíduo e explica os processos e mecanismos psíquicos intraorgânicos.
Conceitos: impulso, repressão, reflexos, condicionamentos, ego, personalidade, motivação...
Método: experiências de laboratório, testes psicométricos, ... 
A psicologia experimental tenta determinar as bases psicológicas da conduta individual. 
Tenta descobrir um humano abstracto existente em todas as culturas. 
PSICOLOGIA SOCIAL: estuda como o psicológico modela o social. 
A Antropologia e a Sociologia
	Anedota: Um antropólogo é capturado por uma tribo de canibais que o colocam numa panela gigante juntamente com batatas, sal, legumes... Pouco depois, o antropólogo grita: “Mais batatas, mais legumes...” (O antropólogo tinha começado a comer tudo)
	Antropologia »
	 « Sociologia
	Nasceu como uma espécie de 
“sociologia dos outros” e dos “primitivos”.
Inicialmente pensada como uma microsociologia e uma sociologia comparada (Radcliffe-Brown).
Tem uma epistemologia própria.
Os “outros” foram incorporados no “nós” e o objecto de estudo entrou em crise, diversificando-se. 
A antropologia não é uma parte da sociologia: pensar desta forma seria uma ingenuidade. Os factos, estudados pelos antropólogos, não podem ser exclusivamente considerados sob uma perspectiva social. Ex.: a religião não cumpre, apenas, funções sociais: o problema não se esgota aí.
Objecto de estudo: 
Estuda a cultura humana e a forma como esta é vivenciada, em sociedade.
Estuda culturas e etnias, dentro da sociedade.
Estuda culturas diferentes.
Métodos: observação participante; entrevistas em profundidade; comparação – histórica e diversidade cultural; compreensão holística, para desvendar aspectos essenciais da vida humana muitas vezes inconscientes. Estudos mais micro. 
Teorias e conceitos diferentes. Ex.: relativismo cultural, etnocentrismo,...
Conhecimento dos outros e de nós mesmos. Finalidade: descobrir a natureza humana.
Mais histórica. 
Deixa falar as pessoas, escuta-as e dá-lhes voz. 
Implica um modo de estar com as pessoas. 
Tem em conta as teorias nativas. 
	-Sociologia de “nós” e do nosso.
-Os factos sociais explicam-se em função de outros factos sociais (Durkheim).
-Objecto de estudo: 
O comportamento social de um grupo humano, de acordo com as variáveis: idade, sexo, profissão, classe, prestígio, papel, mudança,...
A sociedade em si mesma.
A sociedade em geral e as suas leis gerais.
A sua própria sociedade.
-Conceitos: estrutura social, relações sociais...
-Métodos: inquéritos, entrevistas… (recorre mais aos métodos quantitativos do que a antropologia) (utiliza com maior frequência a observação exterior e os estudos macro).
-Mais ahistórica e presentista. 
-Muitos empréstimos conceptuais e teóricos à antropologia e vice-versa.
Fala das pessoas em seu nome.
 
	Antropologia
	Sociologia
	Interesse pelo qualitativo
	Mais interesse pela medição quantitativa. 
	Observação participante de práticas declaradas e práticas efectivas
	Método típico do inquérito estatístico, por questionário fechado. Técnica da objectividade oficial, comprovativa da separação entre sujeito e objecto. 
A Antropologia e o Direito
	Antropologia e Direito
	Os primeiros antropólogos eram advogados.
B. Malinowski: Crime e Costume na Sociedade Selvagem. Esta obra é dedicada à lei. 
Paul Bohanan: Tiv (Nigéria). É outra obra sobre a criação de leis na cultura tivs. 
A Antropologia e a Geografia
	Antropologia e Geografia
	As semelhanças entre estas duas disciplinas foram evidentes, desde Franz Boas, nomeadamente desde a publicação da sua teoria do “determinismo geográfico” (inspirada em Ratzel) e do determinismo geográfico-climático. Boas aplicou esta teoria nos seus estudos sobre os esquimós do Canadá. 
As semelhanças destas duas ciências passam também pelo uso e criação de mapas, como representação do espaço e do território. Os mapas e os relatórios geográficos são apoios logísticos fundamentais na investigação antropológica. 
Conceptualmente, são importantes os paralelismos entre “área cultural” (Cf. Brown: 2001) e o conceito geográfico de “região”, mas também o de “fronteira”. Este último conceito foi utilizado, pela primeira vez em antropologia, por Clark Wissler, em 1918, no seu estudo sobre a fronteira entre os colonos e os indígenas dos EUA. 
Em termos teóricos, as influências entre estas disciplinas foram mútuas, desde há muito tempo. Por exemplo, a teoria do lugar central do geógrafo Walter Christaller influenciou a antropologia. Em antropologia, a preocupação por uma análise do espaço está bem representada pelo antropólogo E.T. Hall que estudou a forma como as pessoas utilizam culturalmente o espaço. As geografias pós-modernas, como por exemplo os trabalhos de Eduardo Soja, incidem muito na antropologia urbana.
Apesar das semelhanças, também existem diferençasconceptuais, teóricas e metodológicas. O trabalho de campo antropológico é específico da antropologia. A geografia tende a realizar, sobre o terreno, uma observação mais exterior dos fenómenos sociais. 
A Antropologia e a História
	Antropologia e História
	Os antropólogos evolucionistas e difusionistas (século XIX) fizeram uma história especulativa e conjectural.
Os antropólogos funcionalistas tenderam a excluir a história e aproximaram-se da sociologia. 
A antropologia marxista recuperou a história.
Metodologicamente, há muitas aproximações: trabalho de campo antropológico e história oral. Actualmente, os antropólogos também trabalham com documentação escrita. 
A Antropologia histórica trabalha com documentos e memórias orais. A História tende a dar maior importância aos documentos escritos. 
A antropologia tenta compreender as relações entre passado, presente e futuro, que podem convergir metaforicamente no presente. A história tende a reconstruir, eventualmente, o passado.
A antropologia interpreta as representações do passado, as amnésias e os esquecimentos. 
	Antropologia (Sec. XVI-XIX)
	História (Sec. XVI-XIX)
	Nasce do encontro do Ocidente com sociedades não ocidentais, “selvagens”, “bárbaras”.
Sociedades sem escrita, dominadas pela oralidade.
	Sociedades “civilizadas”
	Antropologia (Sec. XIX)
	História (Sec. XIX)
	Sociologia (Sec. XIX)
	Práticas culturais não ocidentais. “Sobrevivência” das instituições que teriam existido na Europa, há séculos. (a Europa teria evoluído para a Civilização). A antropologia estudava o exotismo da Índia, do Japão e da China. 
	Estudava a “civilização” europeia ocidental (com modos de vida baseados no Estado e na escrita).
	Sociedades urbanas e industriais ocidentais. Também estudaria alguns aspectos das sociedades não ocidentais (urbanismo, indústrias, poder).
Segundo o antropólogo Maurice Godelier (1996: 13), as pontes entre antropólogos e historiadores foram feitas em trabalhos de “etnohistória” e “antropologia histórica”. Qual o trabalho do antropólogo, relativamente à história? Godelier (1996: 22) responde a esta questão: 
 ... de vuelta a la práctica del antropólogo, cuya tarea consiste en reconstruir las genealogías, y a través de las genealogías las historias de clanes y familias, y las historias de vida, ya sea de individuos ilustres o de hombres y mujeres ordinarios de los que há permanecido la memoria. Recordemos que, en función de cual sea la sociedad de la que tratemos, la memoria genealógica puede variar entre un mínimo de tres generaciones más allá de nuestro informante (es decir la generación de sus abuelos y la de sus bisabuelos) hasta un máximo de quince. Pues bien, tres generaciones corresponden a cien años, lo que significa que cuando un antropólogo desarrolla una investigación no solamente se enfrenta a los acontecimientos contemporáneos, sino que se sumerge en una duración de más de un siglo...
Há que considerar que, hoje, existe uma certa convergência metodológica, mas também uma necessária interdisciplinariedade. Segundo o antropólogo Ulf Hannerz (1979: 3-4), “as fronteiras disciplinares não se devem tornar vacas sagradas”.
Persistem, no entanto, algumas diferenças, muitas vezes mais ligadas a identidades corporativas de organização académica e profissional do saber, utilizadas para uma conquista dos mercados de emprego. 
A Antropologia e a Filosofia
Para alguns autores, a origem da antropologia encontra-se na filosofia grega. Os contributos da filosofia foram e são muito importantes para a antropologia. A filosofia contribuiu para a reflexão sobre as condições de produção do conhecimento antropológico, enquanto problema epistemológico. A filosofia deu azo à análise antropológica (por exemplo, a filosofia hermeneútica de Gadamer - 1992). A filosofia também chamou a atenção da antropologia para a forma como os seres humanos pensam e apreendem. A filosofia deu um grande contributo para o pós-modernismo. Sobre esta questão, recomendamos a magnífica obra do antropólogo Adolfo Yañez Casal (1996).
A diferença entre antropologia e filosofia e antropologia é também metodológica, assim a filosofia tende a ser mais dedutiva e a antropologia mais indutiva e com base empírica.
Actividades
Explique o termo Antropologia através .
Fale da génese e evolução da antropologia, como ciência sistematizada.
O que distingue a Antropologia das outras ciências sociais, tais como:
A História?
A Sociologia?
A Geografia?
O Direito?
A Filosofia?
O que significam os termos Etnografia, Etnologia e Antropologia?
A antropologia estuda o fenómino humano no seu todo, estuda o homem como um ser de relação e de coexistência, nas suas dimensões biológica, social e Cultural.
Qual é o objecto de estudo da Antropologia.
Refira-se das técnicas de colecta de dados em pesquisa antropológica.
O que distingue a antropologia de outros ramos de saber?
Explique a relação que existe entre a Antropologia com a Educação.
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	Unidade 2
Métodos e princípios do método de Antropologia Cultural
2.1	Introdução
Esta unidade temática apresenta conteúdos relacionados com a investigação antropológica. Aqui, você irá familiar-se com a maneira como os antropológos trabalham e para isso focaremos os seguintes conteúdos: O processo de uma investigação antropológica; O método etnográfico ( o trabalho de campo); Técnicas de investigação antropológica; A observação participante; Os discursos “emic” e “etic”; O antropólogo em contextos urbanos; A ética do trabalho de campo e A escrita antropológica.
2.2	Objectivos
Com esta unidade pretende-se que você seja capaz de:
Compreender o o método etnográfico como uma das características distintivas da antropologia.
Ser capaz de reflectir e discutir sobre o trabalho de campo antropológico como experiência distintiva da antropologia.
Conhcer as técnicas de investigação antropológica.. 
2.3	 O processo de uma investigação antropológica
O processo de investigação antropológica obedece a um modo de abordagem dos problemas socioculturais e às suas respostas. Toda investigação antropológica obedece a um projecto de investigação explícito ou implícito, daí a importância de pensar e realizar um desenho da investigação. Este projecto deve adaptar-se ao terreno e problema de investigação e não sempre ao contrário ou de uma forma rígida.
Destacar que o método de investigação antropológica é particular da antropologia e distingue à mesma, isto não quer dizer que a antropologia não partilhe com outras ciências a utilização de determinadas técnicas. Estas são algumas das especifidades do processo de investigação em antropologia: 
Escolha da área de estudo e da temática ou abordagem.
Documentação e literatura sobre essa área e a perspectiva teórica escolhida.
Estudo da fala local, autorizações, vacinas (ex.: contra a malária ou paludismo, febre amarela, ...), material necessário, etc. 
Traslado, contacto, convivência, entrada no terreno.
	Projecto de investigação: 
1	Perguntas de partida
2. 	Exploração: 
Revisão bibliográfica.
Entrevistas e reuniões exploratórias. 
Nesta fase o objectivo é encontrar pistas de reflexão, ideias e hipóteses de trabalho, mas não verificar hipóteses a priori, pois ainda não tem havido observações sistemáticas da problemática de estudo. 
3	Problemática: 
Perspectiva teórica: (i.e.: antropologia simbólica e interpretativa)
Quadros conceituais da investigação: (ex.: tempo linear, tempo cíclico, actor, cenário, bastidores, espaço publico, espaço privado, festa, catarse, estrutura social, ritual, performance,... )
4	Construção do modelo de análise: 
Articular conceitos e hipóteses: indicadores ( componentes ( dimensões ( conceitos( hipóteses ( refutabilidade 
5	Observação:
Que observar?
Em donde observar?: o campo de análise (unidades de observação), a amostraComo observar? : instrumentos de observação (inquéritos, ...) 
Desenhos brandos (mais indutivos): 
Baseados na etnografia (observação participante, trabalho com informantes chave) e em métodos qualitativos. 
Melhor para contextos com obstrução, programas com metas menos definidas ou especialmente complexas e diversas, re- orientações dos programas e circunstâncias de rápida mudança. 
Desenhos duros (mais dedutivos):
Com grupos controlados.
Com programas de objectivos claros e medíveis facilmente.
Para produzir uma avaliação final.
Investigação rápida para a tomada de decisões (Uma investigação tardia é uma mau investigação). 
6	Análise das informações: interpretar os dados.
7	Conclusões. 
No desenho da investigação é fundamental a redacção de um projecto de investigação, pois o que não se escreve corre o risco de desaparecer. O projecto serve para orientar, definir e redefinir a investigação. É muito importante fazer uma revisão crítica da bibliografia existente, podendo assim esclarecer o estado de conhecimento ou “estado da arte” sobre o assunto abordado. Devemos ler o que outros já escreveram sobre o assunto, sobre métodos de investigação e de análise, sobre teorias e modelos de análise. Aqui abaixo podemos encontrar um pequeno guião para a redacção de um projecto de investigação: 
	Estrutura de redaccão de um projecto de investigação
1	Introdução
2	Formular o problema de investigação
	2.1. Estado da questão
	2.2. Modelo teórico
	2.3. Hipóteses ou objectivos
3	Contexto da investigação
	3.1. Unidades de análise
	3.2. Contexto geográfico
	3.3. Período cronológico estudado
4	Esquema do trabalho
5	Metodologias e técnicas
6	Planificação do trabalho
	6.1. Plano de trabalho e calendário
	6.2. Membros da equipa de trabalho
	6.3. Orçamento
7	Bibliografia
8	Anexos
2.4	O método etnográfico: o trabalho de campo
O trabalho de campo antropológico é o que diferencia a antropologia, é o que o a sangue dos mártires para a Igreja Católica (Velasco e Díaz de Rada, 1997). O trabalho de campo é um método de investigação sóciocultural, um conjunto de procedimentos e regras para produzir e organizar conhecimento, e que integra (Velasco e Díaz de Rada, 1997): 
Uma situação metodológica que implica “estranhar-se, ter curiosidade, descrever densamente, traduzir e interpretar” a realidade sociocultural com a qual lidamos. Nesta situação de encontro com outros conhecemos os seus problemas, as suas percepções, o seu comportamento e os seus modos de vida nos seus próprios términos. 
Um processo de conhecimento com base numa estadia no terreno, através da qual estuda os significados socioculturais no seu contexto.
Uma experiência de contacto intercultural com o fim de conhecer a alteridade. Partimos da ideia de que há diferentes maneiras de fazer trabalho de campo. 
Portanto, o trabalho de campo antropológico não é uma simples técnica de investigação ou um instrumento de recolha primária de dados, é algo mais.
A invenção do trabalho de campo
O trabalho de campo é também um ritual de passagem da tribo antropológica que tem os seus heróis e os seus mitos (ex.: mito fundador de Malinowski). Um dos primeiros antropólogos que aplicou o método etnográfico foi Lewis Morgan nos EUA, em concreto em 1859, quando estudou várias “tribos” de Nebraska e Kansas. Na Inglaterra antropólogos como James Frazer (autor de “O Ramo Dourado”, 12 volumes) quando foi perguntado se alguma vez na sua vida fez trabalho de campo e se conhecera algum “selvagem”, ele respondeu: “Deus me livre, nunca jamais,...” . Apesar de que já Rivers propunha no seu “Notes and Queries in Anthropology” algumas recomendações sobre como seguir os ciclos de vida da comunidade estudada –o género monográfico-, foi B. Malinowski (1973) quem sistematizou nos anos 1920 o método etnográfico de trabalho de campo, na sua obra sobre “Os argonautas do Pacífico Ocidental”.
Malinowski (1973) converteu-se em uma espécie de herói para a antropologia e a sua obra “Os Argonautas do Pacífico Ocidental” num mito. Nesta obra, este traduz parte do trabalho de campo feito na Nova Guiné, concretamente nas Ilhas Trobriand, donde viveu com os nativos durante dois anos, aprendendo a conviver com eles, a sua língua e os seus costumes. As recomendações que ele dá sobre o trabalho de campo, foram muito importantes para a antropologia, convertendo o trabalho de campo num ritual de passagem da tribo antropológica (Velasco e Díaz de Rada, 1997: 19). Desta obra de Malinowski, o mito fundador do trabalho de campo, podemos destacar algumas ideias chave para reflectirmos sobre o trabalho de campo: 
Ver os dados como capazes de configurar uma teoria.
Dar um esquema claro e coerente da estrutura social.
Destacar as normas culturais. 
Estudar os fenómenos quotidianos e os extraordinários.
Um antropólogo deve expor que dados foram obtidos das suas observações directas, e quais das indirectas. 
O antropólogo deve recolher os relatos dos informantes, documentos e dados de observação do comportamento.
O diário de campo é um instrumento necessário no qual devem constar: peculiaridades, repetições no comportamento, situar o acto nas suas coordenadas, descrever actores, espectadores, sítio. Também é necessário participar na vida social.
É preciso ter em conta: a mentalidade, as conceições nativas, as formas de expressão, as ideias, os sentimentos, os móbiles, os actos impostos pela costume, ...Mas sobre todo o que sentem e pensam em quanto membros de uma comunidade determinada (Malinowski, 1973: 40).
É preciso citar as declarações nativas, e aprender a língua nativa.
Apesar de que Haddon introduz o termo de “trabalho de campo”, derivado do discurso naturalista, na antropologia britânica, Malinowski descobriu uma nova forma de fazer trabalho de campo através do seu novo comportamento no campo. O seu primeiro trabalho de campo tinha sido também nas Trobriand, mas em Mailu. Neste terreno tinha seguindo o método de recolha total da cultura do “Notes and Queries”, realizando um informe etnográfico hsitorcista e evolucionista, uma etnografia de varanda com intérprete e entrevistas e uma estadia curta (2 meses) e superficial (Alvarez Roldán, 1994). 
Não foi por acaso que Malinowski faz trabalho de campo nas ilhas Trobriand, pois ali tinha trabalhado o seu mestre, o antropólogo Seligman. No seu segundo trabalho de campo, o que depois o convertiria num antropólogo de prestígio, ele permanece em Kiriwina, onde muda a sua atitude no terreno, criando assim o que conhecementos como trabalho de campo malinowskiano (Álvarez Roldán, 1994): 
Longo tempo entre os nativos.
Investigação centrada em temas específicos.
Estudou o presente e não o pasado.
Aprendeu a língua nativa.
Observou a vida quotidiana e as instituições nativas.
Mudou o estilo da escrita etnográfica. 
Parece ser que ficou nas ilhas Trobriand muito tempo pelo tipo de comunidade que encotrou, isto é, materlinear e com chefaturas. Será em Kiriwina onde elabore informes etnográficos sincrónicos e funcionalistas (Malinowski, 1973). Em Kiriwina vai permanecer uma longa estadia e aprende a língua nativa para entender o significado nativo, sem conformar-se com chegar a encontrar uma equivalência verbal em outras línguas. É assim que Malinowski inventa o método etnográfico (Álvarez Roldán, 1994) quebrando assim a anterior separação entre a recolha de dados e a teoria elaborada por outros, e convertendo o antropólogo num autoinstrumento de investigação (Velasco e Díaz de Rada, 1997: 21). 
O trabalho de campo como método
Um método é um conjunto de princípios que orientam a selecção do objecto de estudo, a formação dos conceitos apropriados e as hipóteses. Todo método é um caminho para chegar a algum sítio de uma maneira certa. A metodologia é um conjunto de procedimentos e regras para produzir conhecimento e está interligada com o enquadramento teórico global. Portanto é algo mais que uma técnica ouum conjunto delas. As técnicas de investigação são os procedimentos operativos e os instrumentos para produzir dados (i.e.: questionários, histórias de vida, inquéritos, entrevistas, etc.). Esses dados servem para compreender os fenómenos, para captar as relações entre os fenómenos e a intencionalidade das acções sem permanecer na parte exterior (só descrição de fenómenos). 
O método dos antropólogos é o trabalho de campo etnográfico, através do qual se faz etnografia. De acordo com este método, o antropólogo converte-se no principal instrumento de recolha de dados, é por tanto uma inter-subjectividade entre observador e observado. A etnografia é a descrição do comportamento, das ideias, das crenças, dos valores, dos elementos materiais, etc. quotidianos e espontâneos de um grupo humano. A etnografia tem em conta 3 aspectos:
O que as pessoas dizem.
O que as pessoas fazem.
O que as pessoas pensam que se deveria fazer. 
Como definimos mais acima, o trabalho de campo pode ser considerado como: a) uma situação metodológica de encontro intercultural; b) um processo; c) uma experiência que diferença à antropologia. Dai que possa haver diferentes formas de fazer trabalho de campo (Velasco e Díaz de Rada, 1997: 18) e de aí a necessidade de explicar as condições em que é realizado o trabalho de campo e a produção de conhecimento. 
Enquanto processo de socialização secundária, o trabalho de campo obriga a deslocar-nos do nosso meio sociocultural, contactar com as pessoas, integrar-nos, aprender a sua cultura através do estranhamento e o apagar dos nossos preconceitos, para logo retornar e desenhar um espelho da nossa cultura. 
O trabalho de campo como processo metodológico obriga-nos a descrever, traduzir, explicar e interpretar a cultura e as relações sociais estudadas. A descrição deve ser densa (Geertz, 1987) e microscópica (Velasco e Díaz de Rada, 1997: 48) para diferenciar os matizes de condutas, espaços e regras culturais e interpretar melhor os significados culturais. Daí a importância de utilizar o diário de campo como instrumento de investigação. Explicar significa desenhar tendências e regularidades da vida sociocultural que estudamos. Interpretar prende-se com uma visão da antropologia como uma das Humanidades ou das Artes pela sua forma de proceder e fazer. Interpretar é descobrir a ordem estrutural da sociedade, é captar os significados da realidade sociocultural para os diferentes agentes implicados nela. 
Traços do trabalho de campo antropológico
A etnografia é a base da comparação entre culturas, e o seu objectivo é representar a cultura. Podemos afirmar que a etnografia é hoje uma “fusão de horizontes”, uma conversa intercultural sem imposições (Gadamer, 1978). A etnografia é uma “dialógica”, uma conversa com o outro para fazer crescer a consciência, não a unanimidade ou a verdade. A etnografia é uma “transvaloração”, uma maneira de aprender a ver-se uma vez que olhamos os outros, é voltar sobre nos próprios a mirada previamente informada pelo contacto com o outro. É também uma ponte através da qual a informação passa de uma cultura a outra, é um tipo de tradução (Todorov, 1988: 9-31). 
O trabalho de campo é um requisito metodológico que consiste em ir do distanciamento à proximidade, para logo regressar da proximidade ao distanciamento e construír uma interpretação. O trabalho de campo é um estado psicológico próximo do namoro às vezes (Buxó, 1995), mas também pode provocar angústias, ansiedades e cansaços fortemente humanos, como assim o reflecte o diário de campo de Malinowski (1989). 
Além mais o trabalho de campo pode ser pensado como um ritual de passagem da tribo antropológica, uma experiência auto-tranformadora, um ritual de iniciação e um dobre choque cultural: nativizar-se e re-nativizar-se (Peacock, 1989: 95).
O trabalho de campo está condicionado pela posição que o antropólogo ocupa nos sistemas políticos, sociais e económicos (i.e.: centro, semiperiferia, periferia). Estas agendas, muitas vezes ocultas, devem ser estudadas e feitas conscientes para entender melhor a experiência de trabalho de campo. Esto ajudar-nos-á a entender melhor o “efeito rashomon” (Heider, 1988; Cardín, 1988) em antropologia, isto é, durante o nosso trabalho de campo não seleccionamos as vozes dos nativos e escolhemos algumas dentro da complexidade com a qual nos debruçamos. Reflectir sobre as causas de por quê escoitamos mais umas do que outras obriga-nos a adoptar uma posição de reflexão e autoconsciência. 
A etnografia e o método comparativo
Para que uma etnografia seja boa deve ser necessariamente comparativa. Quatro são os planos que podemos estabelecer na comparação: 
Comparação entre culturas. 
Comparação temporal entre o passado e o presente, ou também entre dois tempos históricos. 
Comparação entre dois teorias. 
Comparação entre as ideias prévias e as ideias finais depois do trabalho de campo. 
A trabalho de campo e a entrada no terreno
O antropólogo deve explicar aos estudados o que vai fazer, a duração do trabalho e a utilização da informação. Para isso precisa de autorizações e pensar nos limites éticos (privacidade, confidencialidade, anonimato, permissões para publicar, etc. ), negociar e ganhar-se a confiança da gente. Devemos pensar que podem ser precisas cartas, referências, etc. Todas as instituições e terrenos têm “porteiros”. A entrada pode ser por cima ou por baixo; entrar por cima através de alguém conhecido, importante ou de confiança para os estudados pode ser positivo, negativo ou neutro para o nosso trabalho (ex.: Não é igual entrar através de um presidente de Junta de Freguesia que através de um padre...). Tudo isto condiciona o terreno e os factores de produção de conhecimento mudam de acordo com os factores intersubjectivos, que são “objectivados” de alguma forma neste exercício reflexivo que deve integrar os relatórios de investigação ao pé da metodologia ou em relação com ela. Devemos ganhar-nos gradualmente a confiança dos estudados e ultrapassar a inibição com o tempo. Devemos também pensar no equilíbrio da amostra de informantes; uma técnica pode ser a da “bola de neve”, isto é, um informante vai-nos levando a outro; mas noutros casos a amostra de pessoas com as quais trabalhamos devem ser pensadas em função da sua representação face ao problema em estudo. Estes são alguns dos itens a considerar numa reflexão sobre a entrada num terreno: 
Por quê a escolha de: objecto de estudo, instituição-local de estágio, orientador? 
Como foi a entrada na instituição? (i.e.: paciência, ansiedade, negociação do acesso, relações e rituais com os porteiros, entrada por cima,...)
Como ganhas-te a confiança das pessoas? Como foi a tua apresentação?
Simpatias pelos estudados?
Qual o teu “papel” ou papéis na instituição de acolhimento? Qual a tua imagem? Qual a percepção que tinham de ti inicialmente? E agora?
Qual o teu local (zona) de residência? Condiciona as tuas observações do problema de investigação? De que maneira?
Qual a tua situação económica? (i.e.: bolsa, estágio profissional, etc.)
Qual a tua situação mental? Qual o grau de motivação para o trabalho? 
2.5	Técnicas de investigação antropológica
O antropólogo, além da observação participante pode e deve utilizar outras técnicas de investigação, com o objectivo de testar e comparar as informações que obtemos. O propósito final será sempre saturar a informação para garantir uma fiabilidade e legitimidade nas nossas análises. Com o objectivo de melhor testar, fundamentar e legitimar o conhecimento antropológico é ideal ter em conta a seguinte triangulação: 
A triangulação anterior permite também chamar a atenção sobre a necessidade de fazer uma antropologia histórica que permita compreender melhor os problemas estudados através da perspectiva histórica. 
Brevemente fazemos referência a algumas de estas técnicas e desenvolvemos algo mais profundamente a entrevista e a observação participante, porque pensamos quesão mais utilizadas. 
Notas de campo (caderno de notas ou de campo). As primeiras impressões são muito reveladoras do impacto que outras culturas experimentam em nos. Estas notas adquirem maior importância com o tempo. Estas notas devem incluir o lugar e o momento de observação, assim como o momento da escrita. As notas são um passo intermédio entre os dados e os relatórios etnográficos. 
Diário de campo. É um registo diário da observação participante, no qual se relata a experiência do antropólogo em relação com os estudados, o que dizem, o que fazem e o que pensam. É uma forma de ordenação das notas e um instrumento de autodisciplina. Este é um instrumento de controlo da investigação, pois nele reflecte-se como se produz o conhecimento, orientando a subjectividade e o papel do investigador no terreno. A origem dele está na literatura de viagens. É uma informação relatada no momento em que acontece, que utiliza categorias de análise (ex.: conceitos...). Um diário de campo pode estar organizado seguindo critérios cronológicos ou temáticos. Nele integram-se: 
Actividades do investigador.
Acontecimentos.
Conversas.
Observações.
-Hipóteses.
-Interpretações. 
É importante colocar a data, a pessoa, o local, a idade, os sentidos e os contextos ou cenários, para dar riqueza contextual e de significado.
Mapas e censos. Um mapa informa sobre a distribuição espacial de certo fenómeno, localiza uma vivenda ou edifício, descreve os princípios de organização espacial de uma comunidade, etc. Neste sentido também podemos elaborar mapas de percorridos de pessoas durante o dia, mapas mentais de valorização do espaço, etc. Os censos informam sobre dos membros das unidades familiares, estes censos podem ser elaborados a partir de arquivos locais, mas muitas vezes não há e é muito mais rápido utilizar informantes. 
Genealogias. Informam sobre a distribuição familiar, as relações de parentesco, os vínculos familiares e comunitários, etc. No ano 1910 o antropólogo W. H. Rivers perguntava aos informantes: nome dos pais, nome dos filhos por ordem de idade, matrimónios e filhos deles, nomes dos pais da mãe e filhos dela. Há pessoas entre os mais idosos que são verdadeiros especialistas nesta problemática. Podem servir para prospectar os direitos de propriedade, as obrigas mútuas, as regras de residência e matrimónio, a herança de ofícios, etc. 
Histórias de vida. São relatos sobre a vida de uma pessoa. Esse relato informa não só sobre a vida dela, porém também sobre a vida da comunidade e os seus valores, o passado e o presente.
Histórias de família. 
Inquéritos por questionário. Com o objectivo de obter dados de grupos amplos e analisar logo estatisticamente as respostas. Pode ser de perguntas abertas ou fechadas.
Estudo de casos. Com o objectivo de interpretar acontecimentos exemplares de pequena escala, por exemplo a relação entre médico e paciente.
Fotografia e filmagem. São técnicas básicas da etnografia visual. São um instrumento de observação muito bom, porque permitem a outros reestudar o observado por nos. 
Entrevistas com informantes. Há acontecimentos que só acontecem em determinados momentos do ano, ou são infrequentes. Outras vezes acontecem coisas importantes para a nossa investigação ao mesmo tempo, mas em lugares diferentes. Também é muito importante para descobrir aspectos do passado e da memória colectiva. Esta técnica adopta a forma de uma conversa informal com o objectivo de obter informação. A qualidade da informação depende da comodidade que sinta ao falar o informante, do bom conhecimento que tenhamos do informante e do grau de confiança estabelecido. Devemos usar vários tipos de informantes como forma de contrastar e verificar a informação recolhida, mas também com o objectivo de obter diferentes pontos de vista que podem ou não ser coincidentes.
Grupos de discussão. Trata-se de reunir a um pequeno grupo de pessoas para debater entre eles um assunto de interesse.
Técnicas de análise documental. Essencial para o trabalho em hemerotecas e arquivos.
Os orçamentos-tempo. Trata-se de pedir a uma ou várias pessoas que anotem ou nos contem as actividades, as horas e os espaços dessas actividades. É uma etnografia cronotemporal que permite estudar os movimentos no espaço e no tempo de uma pessoa, com o fim de compreender o seu modo de vida. 
	O DIÁRIO DE CAMPO (Jociles Rubio, M. I. e Devillard, M. J., 2001)
Não existe o diário de campo perfeito. 
É em função do objecto e dos objectivos de estudo que deve fazer-se uma valoração apropriada dos registos.
Há problemas e entraves comuns a todos os investigadores: 
Registo superficial e não detalhado: 
-Quando faltam muitas perguntas chave sobre as situações, acções e interacções observadas.
-O diário de campo deve responder às perguntas: quem?, como?, quando?, donde?. 
-O diário de campo é uma recordação. 
Carácter interpretativo dos registos
Ter consciência ou não do ponto de vista valorativo. 
Observar → Selecção que deve ser consciente e crítica.
Falta de estranhamento face ao observado.
Preconceitos + Familiaridade são inevitáveis às vezes.
Problema: Não questionamento dos nossos pre-conceitos e aprioris.
Problema: Ter pontos de vista parciais de partes do objecto. Exemplo: Tomar como muito importantes a palavra de só uns poucos informantes e observar o resto desde o seu ponton de vista. Exemplo: Seguir classificações e definições oficiais. 
Reflexão: Ser conscientes dos pontos de vista do trabalho. 
Problema: Má definição do objecto de estudo. 
Problema: Registo de dados sem citar a fonte de informação ou a situação de produção dela. Como valorar os dados obtidos?
Problema: Utilização de categorias “emic” e “etic”. Especificar se é “emic” ou “etic”. Especificar se a diz uma pessoa, todas, um teórico... e em que contexto?
Destacar os dados verbais (discurso) sobre os dados produto da observação (descrição) pode ser um problema. É muito importante a observação (o que fazem), tanto como o que dizem ou o que pensam.
Condições nas quais se realiza a observação e o diário: 
Data
Tempo de observação
Momento do dia
Lugar
Tiram-se notas
Gravou-se
Registo de memória
Qual o tempo entre a observação e o registo no diário de campo
Factores pessoais do investigador: género, idade, preparação teórica, experiência de campo, etc. 
	A ENTREVISTA EM ANTROPOLOGIA:
É uma técnica de investigação, é um procedimento operativo para obter uma informação através do diálogo intersubjectivo com uma pessoa. Baixo a forma de uma conversa informal, orientamos ao nosso entrevistado face aos aspectos a conhecer. Portanto é dirigida ou semidirigida. Esta técnica deve ser complementada por outras como a observação participante e o estudo de documentação histórica, pois as pessoas dizem coisas, ocultam dados, pensam e também fazem coisas. A entrevista não é um inquérito de perguntas fechadas, senão de perguntas abertas, é portanto um diálogo no qual a iniciativa é do pesquisador. 
Passos: 
Elaboração de um questionário-guia: 
As perguntas dependerão dos objectivos da entrevista, do nível de informação do entrevistado (o que interessa é a sua visão dos fenómenos estudados, não só a quantidade de informação), e do grau de conhecimento e confiança gerado entre entrevistador e entrevistado. 
As perguntas não devem condicionar uma resposta a priori predeterminada pelo investigador. As perguntas devem ser abertas (não fechadas: sim ou não), provocando respostas livres, opiniões, matizados..., claras e não confusas. 
A arrumação das perguntas seguirá a ordem seguinte: perguntas gerais (idade, género, breve história de vida...), até as específicas e especiais. A representação gráfica será a de um funil. 
As primeiras perguntas devem interessar-se pela pessoa, mostrando o nosso aprecio por ela e o nosso agradecimento pelo seu tempo –estou a pensar em que não vamos a pagar essa entrevista-. 
As perguntas de tom político podem implicar um certo

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