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EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UMA CONFIGURAÇÃO DISCIPLINAR Victor de Souza França 1 Resumo O presente trabalho teve como objetivo principal dialogar sobre a perspectiva teórico- metodológica utilizado para compreender a noção de discurso e relações de saber-poder configurada na disciplina de educação física escolar presente em uma escola de Dourados, MS. O texto possui três momentos, sendo eles: a concepção pós-crítica de análise, discursos e relações de saber-poder e por fim a disciplina de educação física escolar configurada em um tempo-espaço escolarizado. Verificou-se que a disciplina em questão não se alterou mesmo depois de mudanças substanciais nas legislações que determinavam novas práticas curriculares, a educação física permaneceu a mesma. Introdução O presente trabalho é apresentado como quesito final para conclusão da disciplina de pesquisa educacional ofertada pelo programa de pós-graduação em educação (PPGEdu). O objetivo geral deste prólogo é de evidenciar os principais conceitos teórico-metodológicos no viés da perspectiva pós-critica e estabelecer uma análise sobre a disciplina de educação física escolar. O principal e grande motivo desta investigação se estabeleceu por um percurso histórico de vida na qual fui direcionado, primeiramente na formação de ensino básico, ainda na escola 2 . Segundo pela preocupação que a trajetória de formação superior pode me proporcionar, ampliando o olhar que hoje possuo sobre educação e sumariamente sobre o que a educação física representa tanto no campo técnico-científico assim como na perspectiva pedagógica. Também pelas fronteiras atravessadas na formação de pós-graduação na especialidade genérica sobre a concepção de educação, que geraram outras novas perspectivas de compreender a referida temática curricular, disciplinar e suas implicações na cultura social e escolar. Sendo assim, o trabalho passará por três momentos, sendo eles: a perspectiva pós-crítica exercida na função histórica de um momento em que se ocorreu rupturas em um tempo-espaço que dizem respeito sobre quais modos se configuraram a disciplina de 1 Mestrando em Educação pela Universidade Federal da Grande Dourados. 2 Colégio Militar de Campo Grande é uma instituição de cunho solidificado, pois possui ferramentas pedagógicas sumariamente conservadoras que permanecem no seio de uma formação disciplinadora, eficiente e principalmente técnica. Elementos que se estendem as práticas de uma cultura escolar tradicional. educação física escolar, evidenciado no segundo grau, dentro do antigo regime educacional, uma forma particular de análise histórica a partir da década de 1970 aos anos oitenta. O segundo momento evidenciará os recortes sobre os conceitos utilizados em relação aos discursos e as relações de saber-poder. Fundamentos que foram embasadas em todas as pesquisas no que se refere à concepção de levantamentos dos saberes atuais e da referida época em que foi evidenciado a disciplina de educação física escolar, componente de um elemento curricular, que passou a exercer novas formas de práticas em exercícios ou não. O não se refere justamente ao que supostamente deveria e não é, ou seja, como ressalta APLLE (2006) “a concessão de legitimidade exclusiva a tal sistema de cultura, através de sua incorporação ao currículo centralizado oficial cria, por sua vez, uma situação em que os indicadores de gostos se tornam” referências pessoais, ou seja, a propagação de um saber reprodutivo causa uma “não-mudança”, consequentemente permanecem intactas suas práticas e, consequentemente, suas influências mantém o curso da objetivação. Por fim, o terceiro momento se incumbiu de estabelecer um recorte sobre a concepção de campo disciplinar e curricular, e a disciplina de educação física escolar, elementos estes relativos a tais concepções referidas (discursos e relações de saber- poder). Como já sabido (currículo e disciplina) auxiliam em compreender o objeto norteador desta pesquisa, tal qual a disciplina de educação física escolar em uma escola presente no Município de Dourados, MS. O currículo não será abordado nas suas miudezas, porém será tratado ao longo do texto como um elemento norteador para a constituição de disciplina escolar e fundamental para as relações de poder e os reflexos das práticas institucionais que permeiam a escola. Sendo assim, o trabalho se classifica como uma pesquisa de cunho qualitativo de análise teórico-metodológica que propôs compreender uma disciplina escolar in lóco. Como ressalta Gil (2014) “A teoria dos campos [...] são espaços de lutas simbólicas em torno de objetos de disputa e dos interesses específicos de seus ocupantes, cujas diferentes posições determinam as possibilidades de ação nesses espaços (Bourdieu, 1980)”. Esta concepção de campo é justamente o limitar de inúmeros discursos que possam estar fora de um determinado objeto a ser evidenciado e, ao mesmo tempo, ajudam a compor e legitimar este mesmo objeto. Por tanto, quando tratamos do campo educacional em funcionamento, é a partir daí que estabeleceremos objetos de interesses que, primeiro, ocupam posições em determinadas situações e, segundo, que estabelecem relações de saber-poder, forma pela qual exercem determinadas práticas institucionalizadas. Antes de começar esclarecer, por meio de um recorte uma visão a noção de uma perspectiva teórica assim como as concepções e noções de um conceito inerente a ela, é fundamental primeiro fazer um questionamento: por que de uma nomenclatura teórico- metodológica e não apenas teórica e metodológica? Digo, que a princípio não será muito fácil colocar uma visão simplificada deste questionamento em poucos parágrafos, todavia há de se diferenciar justamente o modo de se operar e analisar tais teorias e concepções teórica e metodológica. Vejamos que a metodologia em si é um componente pragmático e irredutível de sua própria característica fundamental; pois possui formas estratégicas de como selecionar um determinado tipo de fonte para que a partir daí seja possível uma análise seja ela qual for. Arrisco-me a dizer que na concepção teórico-metodológico no viés das fontes está composta juntamente em meio a outros elementos que fazem parte da cultura que determinam estes documentos que estão inscritos em uma dinâmica que compõe o que poderíamos dizer uma forma de análise. Os estudos de Foucault (1926 – 1984) nos revela uma forma de observar como os saberes de cada época aparecem em determinados momentos nas sociedades modernas, sua análise percorreu fases 3 que ao longo de sua pesquisa foram se alterando devido às novas formas de enxergar os micros elementos em função de determinadas relações. Cabe complementar sobre a avaliação de uma dinâmica entre prática pedagógica juntamente ao discurso escolar, como aponta SOUZA (2014, p. 104) a direção neste sentido, é que “o discurso pedagógico não pode ser desvinculado das ações pedagógicas, ou seja, não existe discurso da escola sem escola”. Por isso, insisto mais uma vez em afirmar que a concepção teórico-metodológico tem como funcionalidade desvelar, vasculhar, relacionar saberes e conhecimentos com toda dinâmica em que se exerce numa determinada cultura e para este momento o que move neste sentido é sem sombra de dúvidas a concepção das relações inerentes a escola, ou seja, as dinâmicas relativas a cultura escolar. 3 Foucault ao longo de sua trajetória intelectual mostrou que as ideias básicas sobre a natureza humana e sociedade mudaram ao longo da história. A fase arqueológica “é o método próprio à análise da discursividadelocal. A genealogia, segunda fase, considerada a segunda fase “é a tática que a partir da discursividade local descrita, ativa os saberes libertos da sujeitção que emergem desta discursividade” (CHERQUE, p. 223). Sendo assim a instituição escola percorre ao longo dos séculos uma determinação predominante de discursos, que por sua vez descamba-se em outros meios discursivos, tais quais os psicológicos, pedagógicos, midiáticos e na concepção da disciplina de educação física encontra enunciativamente no discurso que permeia os preceitos de uma prática em função de um benefício sobre o corpo. Um discurso, por sua vez, predominante. Digamos que destrinchar o discurso na função de enunciados, que é a parte elementar do discurso que causa uma identidade e provoca autonomia em determinado campo de saber que é estabelecido um tempo específico. Por hora, cabe salientar que a concepção teórica determina elementos de funcionalidade para uma análise como já dito as duas concepções sendo elas a noção de discurso e relações de saber poder. Elementos que unidos nos dará maior propriedade para compreender, mesmo que seja um recorte, o campo de estudo da disciplina e, assim, conseguimos visualizar com maior amplitude os acontecimentos in loco de uma disciplina de educação física escolar reveladora de práticas em um determinado período. Tudo isso significa dizer que a própria concepção de teoria se aplica ao nosso método, pois só a partir dos fundamentos teóricos utilizados que se poderá chegar a uma nova história, como evidenciado por BURKE (1992), aquela contada das miudezas relativas num determinado acontecimento antagônico as grandes verdades absolutas que sempre caracterizam uma linearidade histórica e privilegiada. A perspectiva pós-crítica: a concepção teórico-metodológica No que tange a representação dos elementos que compõe a teoria que baseia a concepção pós-crítica, os discursos e suas miudezas, assim como as relações de poder intrínsecas a esta concepção será abordado no segundo momento deste artigo. O campo de estudo como já exposto em Gil (2014), por assim dizer, pode abordar inúmeros elementos para uma análise do campo educacional, sendo fundamental apenas, para este trabalho, evidenciar a concepção de disciplinas. Elemento este que será trazida no terceiro momento deste artigo. Para tanto Silva (2010) aponta que para compreender a noção da concepção de currículo, por exemplo, se deve atentar para o que se denomina a teoria. Para ele a “teoria [...] em forma geral, está implícita, na noção de teoria, a suposição de que a teoria ‘descobre’ a ‘realidade’. Sua concepção revela que a teoria precede, de tal forma, a existência de uma realidade, ou seja, a própria noção de currículo, por assim dizer, já estaria a existir antes mesmo de sua própria “descoberta” e, esse fator o classifica como um objeto a ser estudado. Até mesmo o exercício da docência escolar, a prática e a concepção de educação física escolar está sendo evidente pela forma possível de se enxergar dentro dos vestígios encontrados e, também, por meio da concepção de dinâmica de currículo que é justamente todo esse modo de se perceber o enredo cotidiano que pulsa a escola. Em efeito de analogia, esse método é de fato uma maneira que vai além do vasculhar. A todo o momento encontra-se novas maneiras de interpretar e de interagir com o corpo que é analisado. O que o trabalho de Foucault nos ajuda a compreender é, justamente, como determinadas verdades são instituídas em campos do saber como a História e como estas, uma vez cristalizadas, dificultam a emergência de uma outra forma de olhar para o passado. Talvez, por isso, seja necessário um olhar de fora, não formado de acordo com as regras que norteiam a disciplina, para produzir certos questionamentos. (ALBUQUERQUE, JR. p. 155). Significa ressaltar que a diferença desta perspectiva é destacada justamente pela prática efetiva de exercer um determinado olhar singular sobre o objeto a ser investigado, ou seja, é por meio dos vestígios encontrados sobre os acontecimentos não oficiais, também, que se faz história. Da mesma forma este olhar se debruça a nova história que se desenvolve a partir da metade do século XX para a atualidade com o pensamento de Peter Burke (1992), que, por sua vez, realça a forma pela qual a história nova ou a história vista de baixo se utiliza de outras ciências para investigar o que sobrou de práticas gravadas e não somente de uma sociedade passada, mas também atual. Veiga-Neto denomina este modo de fazer histórica como: Perspectiva do historicismo radical, examinar um currículo – ou teorizar sobre o currículo – implica já silenciados, num minicioso processo de remontagem genealógica que nos leva a compreender tanto outros sistemas de pensamento quanto as continuidades e descontinuidades históricas que se sucederam até aquilo que hoje temos e até aqui que hoje somos. (NETO, 2003, p. 101). A busca dos discursos e também de suas práticas efetivas em circulação na escola, assim como a investigação dos saberes demarcados para cada instituição e em cada momento é concretizada e necessário estabelecer relações entre as instituições concretas para que seja possível evidenciar e evidenciar as novas formas de se olhar para o objeto. Em Foucault, M. (1985, apud ZILIANI, R. L. M. 2014, p. 43): O domínio de saber as ciências humanas organizou-se a partir de então como saber “verdadeiro” sobre o homem e, ao mesmo tempo, o colégio/escola como o melhor lugar para ensinar esse homem, transformando a partir de então e, simultaneamente, em sujeito e objeto de conhecimento. (ZILIANI. 2014, p. 43). Com isso, é possível tomar o espaço/tempo escolar como fonte direta para a obtenção do conhecimento ou para a produção de conhecimento. Outra maneira pela qual se explica a perspectiva abordada da referida pesquisa é a forma pela qual se pode analisar as relações de forças existentes nos espaços escolares. Somente a partir desse caminho será possível ir mais afundo sobre as disposições do biopoder 4 , que são justamente essas relações intrínsecas de um determinado espaço de saber que estabelecem práticas em exercício de poder. Discursos e relações de saber-poder Toda forma discursiva tem sua gênese em um determinado campo de conhecimento ou saber, Ziliani (2014) ao abordar o processo de naturalização da escola como reflexo de uma sociedade que por meio do controle e da normatização, evidencia que um saber de cada época “tem sua gênese em relações de poder, sendo mesmo delas inseparável”. Os fatores primordiais para que essa afirmação seja evidenciada é o que coloca determinados sujeitos em uma condição de relações de poder que, consequentemente, determina uma nova noção dentro deste campo, sendo ele a tecnologia disciplinar, como aponta Ziliani (2014). Podemos dizer que esta tecnologia abrange uma concepção maior no sentido de que configura um determinado conjunto de regras colocadas na instituição como forma de relações de saber-poder. Nisso, a concepção de práticas discursivas são fundamentais para compreender as regras ou interdições que são fundamentais para o exercício do poder disciplinar, tendo como sua consequência a dinâmica da vigilância que examina e também puni, quando necessário, quando o sujeito condicionado não age conforme o padrão esperado/solicitado. 4 De forma breve o biopoder para o filósofo Michel Foucault, trata-se de uma tecnologia que surgiu no final do século XVIII que administra as populações ou como coloca ZILIANI (2014, p. 45) “um poder sobre a espécie” incorporando elementos de um “poder disciplinador”, obiopoder diz respeito ao controle de todas as formas de registro social como os nascimentos, mortes e enfermidades. Sendo assim, o biopoder é o conjunto estrutural de elementos que agrupados dão a noção de controle sobre uma determinada população, controle sobre a vida. N’outro olhar, a formação de um sujeito implica nas suas múltiplas relações que se estabelece a partir de práticas sociais, ou seja, ações praticadas em determinados grupos de relações, que no percorrer de sua história por meio das objetivações institucionais, seja pela família, religião, política entre outras formas de organização social, todas elas, insinuam um processo de dispositivo institucionalizado, repleto de heterogeneidade de fazeres e dizeres. Para tanto, dentre esses inúmeros conceitos na qual estamos sujeitados a trabalhar em uma perspectiva não estanque, privilegiada e estabelecida por relação de saber-poder, que primeiramente é disciplinar e depois exerce formas de controle sobre a vida. Da mesma forma, não é possível entender a dinâmica do saber sem a sua relação intrínseca com o poder. Desse modo, não existe saber sem poder e poder sem saber. Só é possível que o poder funcione desta ou daquela maneira, se for acompanhado pela produção de um saber, que cumpre com uma tarefa fundamental para o exercício do poder. (BOTH, V. 2008, p. 11). Cabe ressaltar que as relações entre o saberes de uma determinada instituição estão fortemente relacionadas às concepções das práticas que as configuram, ou seja, não há práticas discursivas e não discursivas sem antes não houver uma relação de forças nas quais determinam os tipos de práticas que devem ser harmonizadas na instituição. As práticas ditas, escritas e arquitetônicas presentes como processo administrativo na instituição escolar estabelecem uma dinâmica, primeiro objetivam ações e depois subjetivam sujeitos que ali estão posicionados. A ótica histórica designa trajetórias sobre os tipos de conhecimentos estabelecidos por meio de análises entre as relações dos sujeitos que conformam-se devido suas práticas discursivas vinculadas a um determinado tipo de discurso privilegiado ou não, designam a inexistência de uma hierarquia de documentos que podem trazer informações que faz compreender uma determinada dinâmica. Neste sentido a concepção de arquivos e documentos, por exemplo, sejam eles “literários e não literários de uma época” (CHERQUE, 224) se configuram em pertinências ou modos de objetivações estabelecidas nas práticas discursivas e não discursivas. Noção esta que pode ser estabelecida dentro das instituições normativas e que, ao mesmo tempo, estão sendo direcionadas por objetivos, metas, diretrizes e modos de produção de e sobre um determinado conhecimento. Os escritos substancialmente determinam uma posição institucional que servem de base fundamental para tal segmento. Os ditos, por sua vez, são elementos de fala que são reproduzidos pelos sujeitos que ocupam uma posição social em determinada instituição, verdadeiros jogos de forças que são independentes em relação às estratégias institucionalizadas. “Entretanto, a compreensão do poder, enquanto força em relação, e que circula entre os seres humanos é extremamente atual. “Faz parte das investigações arque-genealógicas do filósofo Michel Foucault” (BOTH. 2008). Em relação a isso, nos deparamos com uma pergunta norteadora de investigação: O que está sendo evidente e o que se pode enxergar sobre uma configuração da dinâmica escolar e, sumariamente, curricular em relação à concepção da educação física escolar como elemento disciplinar presente em uma escola específica? Neste sentido, agora só resta evidenciar estas práticas no período estabelecida da década de 70 aos anos oitenta como um fator de restrição direta para a tentativa de uma análise, um olhar. O que estes documentos e concepções históricas podem dizer são justamente as práticas postuladas e exercidas dentro de uma instituição escolar que dinamiza o currículo sobre uma determinada disciplina em exercício. A disciplina de educação física escolar in lóco O campo disciplinar significa falar de certo conjunto de práticas, concepções e objetos como um campo específico de conhecimento, ou como uma disciplina propriamente dita. Pois “todo campo disciplinar, seja qual for, é primeiramente histórico, no sentido de que vai surgindo e começa a ser percebido como um novo campo disciplinar em algum momento” (BARROS. 2013). Neste sentido podemos destacar que a disciplina é constituída por certos campos de interesses e, por sua vez, “está relacionada em uma conexão de saberes” Barros (2013). Neste sentido, o campo de interesses designam determinados objetos a serem evidenciados, tais quais estão presentes aqui neste artigo: campo da educação, campo da história, campo das disciplinas de modo ampliado. Neste sentido a disciplina é composta, também, primeiro por uma rede humana que interfere na instituição escolarizada e na comunidade científica, agentes que perpassam ou praticam estes determinados componentes teóricos, metodológicos e discursivos que constituem este campo e o conjunto de práticas, concepções e objetos definem mais adequadamente o que compõe um campo disciplinar. Com isso, o lócus de pesquisa foi a Escola Presidente Vargas do município Dourados – MS que passa a exercer o ensino secundário a partir do ano de 1983, devido um processo de solicitação de autorização de funcionamento do ensino de 1º e 2º graus “Presidente Vargas” nº 4.061/80, que começou a entrar em trâmite a partir de 13 de março de 1980. O que de fato chamou atenção é que por meio da lei de reforma das diretrizes educacionais nº 5.694/71, que autorizou o ensino secundário de forma oficial desde o ano de 1971, identificamos um amplo espaço de tempo em que a escola se encontrou fora das padronizações regidas pela reforma de 71, até a finalização da inserção dos 1º/2º graus. Com a implantação da Lei Federal nº 5692 de agosto de 1971, o Governador do Estado de Mato Grosso do Sul, Dr. José Manuel Fontanillas Fragelli, através do Decreto nº 2.036, de 08 de julho de 1974, publicado no Diário Oficial de 12/07/74, estabeleceu a criação da “Escola Estadual de 1° e 2° Graus Presidente Vargas”, recebendo autorização para seu funcionamento n°. 120/76 da Divisão de Inspeção e Administração Escolar, órgão competente da Secretaria de Educação e Cultura do Estado. Em 1988 passou a denominar-se Escola Estadual Presidente Vargas, com a publicação do Decreto nº 9.104 de 12/05/1998. (VARGAS. E. E. P. 2012). O que podemos observar sobre esse documento institucionalizado é como a Secretaria de Educação do Sul de Mato Grosso, assim como decretos federais e o projeto político pedagógico escolar formulam justamente a partir da época de 1971 uma reforma educacional que atingiu, justamente o ensino de primeiro a segundo graus, que hoje se denomina ensino fundamental e médio respectivamente. Segundo Freitas e Biccas (2009, p. 278) “a Lei n. 5.692, de 11 de janeiro de 1971, produziu uma das mais impactantes reformas do ensino primário e secundário do país.” Os autores apontam ainda inovações, segundo a conjuntura política da época, que no momento estimava viabilizar uma condição de estudos para boa parte da população. Também, ao mesmo tempo, para manutenção de uma formação social nos moldes da época ditatorial, introduzidas pela Lei: “A primeira, refere-se à extensão do ensino obrigatório de quatro para oito anos, gratuito em escolas públicas, reduzindo consequentemente, o ensino médio que era 7 anos para 3 ou 4” (FREITAS; BICCAS, 2009, p. 278). Neste mesmo período, entre a década de setenta aosanos iniciais da década de oitenta, a escola foi utilizada como um modo de reger as práticas segundo as novas orientações nacionais. Fundada em 1951, a escola passou por três momentos significativos para a educação brasileira, sendo a Lei de Diretrizes e Bases de 1961, a reforma educacional de 1971 e a Lei de Diretrizes e Bases de 1996. Marcos que não delimitam as fases iniciais e finais sobre o processo histórico e suas práticas escolares, mas dizem muito sobre o que oficialmente “deveria” ser feito e como de fato estas se colocaram ou se apresentaram dentro da escola. Mudanças significativas que afetaram outras grandes áreas que dinamizam a educação. A disciplina de educação física escolar também é regida por normativas, que por sua vez são escritos que estabelecem não somente um tipo de conhecimento, mas um saber delimitado que ao mesmo tempo é transdisciplinar. Estando presente também como um conteúdo sistêmico e introduzido nas instituições educacionais a fim de aplicar conhecimentos sobre o corpo e o movimento. Neste sentido a escola apresentou apenas registros sobre suas cargas horárias anuais, tendo um progressivo aumento na década dos anos oitenta, mas sem outros registros de práticas efetivas sobre a concepção pedagógica, apenas o exercício de práticas esportivas como elemento central de suas práticas, mas sem registros sobre suas práticas efetivas. Considerações O objetivo geral deste trabalho foi de evidenciar os principais conceitos teórico- metodológicos no viés da perspectiva pós-critica e estabelecer uma análise sobre a disciplina de educação física escolar entre a década de setenta aos anos iniciais da década de oitenta. A escola que foi utilizada como um modo de evidenciar as práticas segundo as novas orientações nacionais de 71, segundo as análises, não demonstram nenhuma alteração nas práticas efetivas sobre a disciplina de educação física, pois não houve formas de registros que comprovassem o acompanhamento das rupturas instauraras pela Lei nº 5.692/71. Os discursos que norteiam a caracterização da Estadual Presidente Vargas de Dourados, MS, evidenciam que não houve mudanças de suas práticas ao longo de uma década (70 – 80), devido um processo de solicitação de autorização de funcionamento do ensino de 1º e 2º graus “Presidente Vargas” nº 4.061/80, que começou a entrar em trâmite a partir de 13 de março de 1980. O que de fato chamou atenção é que por meio da lei de reforma das diretrizes educacionais nº 5.694/71, que autorizou o ensino secundário de forma oficial desde o ano de 1971, identificamos um amplo espaço de tempo em que a escola se encontrou fora das padronizações regidas pela reforma de 71, até a finalização da inserção dos 1º/2º graus. Este trabalho integra uma parte dos estudos provenientes de uma pesquisa de dissertação que se encontra em andamento, as discussões relativas ao discurso, currículo, disciplinas e relações de saber-poder são elementos fundamentais para estabelecer um tipo de trabalho que se denomine pós-crítico. Neste sentido, considero que este trabalho é apenas um prólogo sobre um vasto campo de conhecimento que ainda carece de compreender e aprofundar com maior propriedade e não somente as concepções teóricas, mas os reflexos destas teorias e conceitos sobre uma realidade viva e dinâmica na escola. Referências Bibliográficas APPLE, M. W. A política do conhecimento oficial: faz sentido a ideia de um currículo nacional? In: MOREIRA, F. M.; SILVA, T. T. (orgs.). Currículo, cultura e sociedade. Trad. Maria Aparecida Baptista – 9º ed. São Paulo, Cortez, 2006. BOTH, V. O Biopoder e o discurso dos direitos humanos: um estudo a partir de M. Foucault. São Leopoldo. 2008. BURKE, Peter. 1992. A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992. FREITAS, M. C.; BICCAS, M. S. História Social da Educação no Brasil (1926 – 1996). São Paulo: Cortez, 2009. GIL, N. L. Espaços de produção das estatísticas de educação: algumas possibilidades de teoria dos campos na investigação histórica. Revista Educação e Fronteiras On-Line, Dourados/MS, v.4, n.10, p.120-132, jan. Abr. 2014. MATO GROSSO DO SUL. Secretaria Estadual de Educação. Disponível em: <http://www.sed.ms.gov.br/?page_id=1014> acesso em: 04 de Fev. de 2016. MATO GROSSO DO SUL. Secretaria Estadual de Educação. Número de Escolas em Atividades em Mato Grosso do Sul. 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