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Clarice escreve de si mesma

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Anselmo Penha Feitosa	RA00119293		JOR-NA5
Jornalismo e Literatura	Prof. Wladyr Nader
Clarice escreve de si mesma
Clarice Lispector é uma grande escritora, é arrogante, é um gênio no que faz, é uma verdadeira “mala”. Assistir Clarice dando uma entrevista é um desafio. Ela tem uma personalidade forte, não titubeia, responde apenas aquilo que quer e escreve apenas aquilo que quer. Se não gosta do que faz, joga fora. É a autora de “O ovo e a galinha”.
	Em 1977, antes de sua morte, Clarice Lispector concedeu uma entrevista a Julio Lerner, para a TV Cultura. Na ocasião, a escritora se dizia cansada e expressava poucas emoções. A conversa com o jornalista tem um tom tenso, digno de uma questão sem resposta.
	Em um de seus contos não é apenas o público que assistiu à entrevista que se questiona. Clarice também não compreende “O ovo e a galinha”. A história tem como personagens um ovo e uma galinha, mas também ela mesma. O texto é em primeira pessoa e apresenta diferentes classificações para o ovo. Ele “não tem um si mesmo”, “é uma coisa suspensa”, “é invisível ao olho nu”, “é o grande sacrifício da galinha”. O ovo é o que Clarice pode ser: um misto de diferentes facetas, depende do ponto de vista.
	Escritora reconhecida e aclamada até nas redes sociais de hoje, quando viva, Clarice não se considerava profissional. Disse ela a Julio Lerner: “Eu sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever. [...] eu faço questão de não ser uma profissional para manter minha liberdade”.
	Se o ovo é Clarice, a galinha é Clarice também, mas a escritora. A galinha “tem muita vida interior. Para falar a verdade a galinha só tem vida interior”. Clarice só tem vida quando escreve, no restante do tempo ela mesma se diz morta.
	A entrevista de Clarice a Julio Lerner faz aparecer sua intrínseca relação com seu trabalho. E também o seu problema. Quanto a sua relação consigo mesma diz: “às vezes o fato de me considerar escritora me isola”, e ela mesma explica o porquê. “Com o tempo, o ovo se tornou um ovo de galinha”.
	Clarice Lispector ou simplesmente Clarice. Escritora viva ou ser humano morto. Reconhecida por todos, amadora para si mesma. Essa é a mulher que diz “eu não vou responder”. Não precisa, nós a compreendemos.

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