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PLANEJAMENTO (Arturo Escobar)

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PLANEJAMENTO (Arturo Escobar)
No presente texto Arturo Escobar aborda o conceito de planejamento e como o mesmo foi utilizado ao longo das décadas para inserir o modo de vida e economia capitalista em países considerados de “Terceiro Mundo”. Primeiramente faz uma contextualização de como o planejamento surgiu na Europa para, em um segundo momento tratar do planejamento na Ásia e América Latina. 
O crescimento das cidades na Europa foi um dos fatores que culminaram no surgimento do planejamento pelo Estado. Neste momento, as cidades industriais viviam com diversos problemas sociais e estruturais. Com isto, surgiu o planejamento urbano com a finalidade de organizar a cidade para solucionar problemas estruturais; o planejamento social para promover o bem-estar da população e foi introduzida uma economia moderna para solidificar o mercado e romper com a política clássica. 
À medida que o planejamento foi sendo implementado nas cidades européias, tradições e identificação com o lugar da população foram sendo destruídas, pois o planejamento visa homogeneizar a população para que esta seja mais fácil de ser trabalhada e dominada. Para que fosse regulamentada a dominação das pessoas, foram criadas leis e normas para que fossem seguidas, não levando em consideração suas tradições e individualidades.
Deve-se lembrar que todas as normas e mudanças tanto sociais, quanto econômicas não surgiram naturalmente no cotidiano das pessoas. Para que isto fosse inserido na sociedade foram necessárias “operações ideológicas e materiais complexas” (ESCOBAR, 1992). 
Escobar (1992) sintetiza a idéia de planejamento no seguinte parágrafo: “O planejamento requer, inevitavelmente, uma normatização e uma padronização da realidade, que, por sua vez, tem como corolário a injustiça e a obliteração da diferença e da diversidade”.
A implementação de normas na sociedade favoreceu a separação da economia da sociedade, transformando tudo e todos em mercadoria, “contribuindo para o aparecimento de formas inusitadas de exploração” (ESCOBAR, 1992). Neste contexto, os estudiosos foram aperfeiçoando as técnicas de planejamento para que as mesmas se espalhassem pelo mundo. Após a segunda guerra mundial, o planejamento dos países considerados de “Primeiro Mundo” foi introduzido nos “Países de Terceiro Mundo”, tendo esta conotação modificada para “Países em Desenvolvimento” com a finalidade de suas ideologias serem mais facilmente introduzidas nestes países. 
Para isto, o planejamento foi colocado em países da Ásia e da América Latina como um “salvador”, algo que iria trazer bem-estar e felicidade para a população. Porém o real objetivo era introduzir sua economia capitalista em países que ainda não haviam entrado no mercado mundial para que estes os disponibilizassem mão-de-obra barata, incentivos fiscais e matéria-prima em troca do desenvolvimento.
Entretanto, este planejamento não visa a individualidade das pessoas e não considera se elas estão bem do jeito que vivem, apenas impõem um modo de vida sem se importar com a opinião delas. Ou seja, utilizam de discursos progressistas, dizendo que a melhor forma de viver é a que eles possuem e, em troca, modificam toda a dinâmica de uma sociedade que vivia bem antes deles aparecerem.
Um grande exemplo é o investimento do Banco Mundial nas áreas rurais dos países de Terceiro Mundo. Com estes investimentos, grandes proprietários modernizaram sua produção, não deixando espaço para que os pequenos produtores pudessem sobreviver sem se inserir nesta lógica do mercado. No momento que os pequenos produtores aceitavam investimentos do Banco Mundial, toda a tradição que eles possuíam foi arrasada com técnicas de preparo dos solos, sementes, época certa de irrigar, plantar entre outras coisas. Com isto, a tradição que passava de geração em geração entre as famílias dos pequenos produtores foi dizimada com a tecnificação do espaço rural. Com isto, o planejamento continua se especializando e aprofundando, chegando, até, a se subdividir em diversas categorias. O grande problema desta subdivisão é a inserção de categorias em uma sociedade que não as utiliza, que interpreta a população como uma só. 
Outro fator é tratar as pessoas como problemas, tendo em vista que o planejamento visa resolver um. Portanto, simplifica as pessoas por apenas uma característica que, na concepção dos planejadores, é um problema, por exemplo: mulheres grávidas, pessoas pobres, crianças subnutridas etc. Não tentam encontrar a fonte do problema, apenas tentam resolvê-lo. 
Por fim, o Escobar sintetiza o planejamento como uma forma de proliferar doenças, fome, miséria, pois com o aparecimento dele em determinado espaço, as pessoas mais ricas irão utilizá-lo para benefício próprio, resultando em aumento da pobreza e da miséria no país. Portanto, o planejamento não visa melhorar a qualidade de vida da população, mas atender aos anseios das pessoas que detém o capital, principalmente capital estrangeiro.

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