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Funções essenciais à Justiça

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Ministério Público
Nos termos do art. 127 da CF/88, o Ministério Público (MP) é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
A Constituição Federal posiciona o Ministério Público em capítulo especial, fora da estrutura dos demais poderes da República. Assim, ganha relevo sua autonomia e independência no exercício de suas funções em defesa dos direitos, garantias e prerrogativas da sociedade.
O Ministério Público abrange:
(i) o Ministério Público da União e 
(ii) o Ministério Público dos Estados.
 
Observe que se trata de dois ramos distintos do Ministério Público.
O MP dos Estados não integra o MPU!
Veja como art. 128 da Constituição estruturou o MP:
Eu preciso que você observe essa figura e perceba o destaque (em vermelho) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, dentro do MPU. Ou seja, o MPDFT integra o MPU, e não tem nada a ver com o Ministério Público dos Estados, como às vezes a lógica nos faria pensar.
Compete à União organizar e manter o Poder Judiciário e o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (CF, art. 21, XIII).
Ainda falando sobre a estrutura, vale observar que, ao estruturar o Ministério Público (art. 128), a Constituição não menciona o Ministério Público Especial, que atua junto aos Tribunais de Contas.
Apenas no art. 130, a Constituição estabelece que aos membros do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas aplicam-se as disposições sobre o Ministério Público Comum pertinentes a direitos, vedações e forma de investidura (CF, art. 130).
Observe que não aparece na estrutura acima o Ministério Público Eleitoral. 
É que ele não dispõe de estrutura própria e será integrado por membros do MP federal e membros do MP estadual.
O Ministério Público da União tem por chefe o Procurador-Geral da República (PGR).
Aliás, estabelece a Constituição Federal que o Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do Supremo Tribunal Federal (CF, art. 103, § 1º).
O PGR será nomeado pelo Presidente da República dentre integrantes da carreira, maiores de trinta e cinco anos, após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal, para mandato de dois anos, permitida a recondução (CF, art. 128, § 1°).
Os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito Federal e Territórios formarão lista tríplice dentre integrantes da carreira, na forma da lei respectiva, para escolha de seu Procurador-Geral de Justiça (PGJ), que será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo, para mandato de dois anos, permitida uma recondução.
Sintetizando: 
A destituição do Procurador-Geral da República, por iniciativa do Presidente da República, deverá ser precedida de autorização da maioria absoluta do Senado Federal (CF, art. 128, § 2º).
Já a destituição do Procurador-Geral de Justiça nos Estados-membros é competência da respectiva Assembléia Legislativa, por decisão de maioria absoluta dos seus membros (CF, art. 128, § 4º). 
Objetivamente: 
A autoridade competente para nomear o PGJ do DF e Territórios é o Presidente da República. De acordo com o mesmo raciocínio, a destituição do Procurador-Geral de Justiça do DF e Territórios é competência do Senado Federal, por decisão da maioria absoluta de seus membros.
O Ministério Público do DF e Territórios ainda se distingue do Ministério Público dos Estados em outros aspectos:
I) Quem organiza e mantém o Ministério Público dos Estados são os próprios estados, mas quem organiza e mantém o MPDFT não é o DF, é a União.
II) Enquanto os projetos de lei de organização do MP estadual são apresentados perante a Assembleia Legislativa, o MPDFT os apresenta perante o Congresso Nacional (Câmara dos Deputados).
Voltando ao chefe do MPU, deixe-me apresentar algumas funções do PGR:
a) propor as ações do controle concentrado de constitucionalidade (incluindo a ADIN Interventiva, para a qual é o único legitimado);
b) desempenhar funções delegadas pelo Presidente da República (nos termos do art. 84, parágrafo único);
c) desempenhar funções relacionadas ao CNJ (indicar dois dos membros e oficiar perante o CNJ) e presidir o CNMP;
d) suscitar, perante o STJ, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal, nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, como veremos ao falar sobre Poder Judiciário (CF, art. 109, § 5º).
Princípios institucionais do Ministério Público
São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional (CF, art. 127, § 1°).
Unidade - Os membros do MP integram apenas um órgão, sob a direção única de um só Procurador-geral. Essa unidade existe dentro de cada Ministério Público. Assim, não há unidade, por exemplo, entre o Ministério Público do Trabalho e o Ministério Público Federal.
Indivisibilidade - Os membros do MP não estão vinculados a qualquer processo em que estejam atuando. Assim, podem ser substituídos ao longo do processo, de acordo com as regras de direito aplicáveis, sem prejuízo para atuação do parquet. O princípio da indivisibilidade decorre do princípio da unidade.
Independência funcional - O MP possui independência no exercício de suas funções, não se subordinando a quaisquer outros Poderes da República. Assim, seus membros não estão funcionalmente subordinados nem mesmo ao Procurador-Geral e podem atuar de acordo com as suas livres convicções (existe uma relação hierárquica meramente administrativa).
Além desses princípios expressos, há também o art. 127, § 2° da CF/88, que assegura autonomia funcional e administrativa, podendo propor ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira.
Pode-se incluir a autonomia financeira, como a competência para elaborar sua proposta orçamentária.
Ademais, a doutrina menciona ainda um outro princípio: o princípio do promotor natural. Você, que já conhece o princípio do juiz natural não vai ter dificuldades com esse princípio.
O princípio do promotor natural proíbe designações casuísticas, efetuadas pela chefia do Ministério Público, para atuação num determinado processo. Assim, não se admite o chamado “promotor de exceção”. Trata-se de garantia da imparcialidade de sua atuação.
Com isso, o critério para a designação de um membro do Ministério Público para atuar em certa causa não pode ser abstrato e predeterminado. Ao contrário, deve ser composto de regras objetivas e gerais, aplicáveis a todos os que se encontrem nas situações nelas descritas.
Todavia, a jurisprudência do STF não é nada pacífica a respeito da existência, entre nós, do princípio do promotor natural. 
Garantias e vedações
Leis complementares da União e dos Estados (de iniciativa concorrente entre o Chefe do Executivo e os respectivos Procuradores-Gerais) vão estabelecer a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros diversas garantias. 
São elas a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade do subsídio.
Vitaliciedade - após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado.
Inamovibilidade - salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, por voto de maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa.
De se destacar a possibilidade de o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) determinar a remoção de membros do Ministério Público (CF, art. 130- A, § 2º, III).
Irredutibilidade de subsídio – ressalvado o teto remuneratório (CF, art. 37, XI) e as tributações sobre os vencimentos(CF, arts. 150, II, 153, III, 153, § 2º, I).
Além das garantias, essas leis complementares deverão ainda observar as seguintes vedações:
a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais;
b) exercer a advocacia;
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério;
e) exercer atividade político-partidária;
f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei.
g) exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.
Sintetizando: 
Aproveitando a esquematização dos principais aspectos, vamos sintetizar as principais iniciativas de lei relacionadas ao Ministério Público, segundo a compilação feita no livro dos profs. Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino.
I) Lei complementar (LC) de organização do MPU → iniciativa concorrente entre o Presidente da República e o PGR (CF, art. 61, § 1º, II, “d” c/c art. 128, § 5º).
II) Lei de criação e extinção de cargos e serviços auxiliares do Ministério Público, a política remuneratória e os planos de carreira → iniciativa é privativa
do MP, exercida pelo respectivo Procurador-Geral (CF, art. 127, § 2º).
III) Lei (federal) de normas gerais para a organização do Ministério Público dos
Estados → iniciativa é privativa do Presidente da República (CF, art. 61, § 1º, II, “d”, parte final).
IV) LC (estadual) de organização do MP do Estado →: iniciativa concorrente
entre o Governador e o Procurador-Geral de Justiça (CF, art. 61, § 1º, II, “d” c/c art. 128, § 5º).
V) Lei de organização do MP especial que atua junto à Corte de Contas →
iniciativa privativa do Tribunal de Contas.
Assim, a iniciativa de lei sobre a sua organização é concorrente entre o Presidente da República e o PGR.
Funções
São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos na Constituição;
V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;
VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar;
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.
Essas funções do Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da
carreira, que deverão residir na comarca da respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição (CF, art. 129, § 2º).
O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concurso público
de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação (CF, art. 129, § 3º).
Quanto à ação civil pública, trata-se de instrumento utilizável para evitar danos ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico ou paisagístico, ou, então, para promover a responsabilidade de quem haja causado lesão a estes bens.
Observe que compete ao MP:
- promover, privativamente, a ação penal pública (CF, art. 129, I);
- promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (CF, art. 129, III);
Ou seja, a promoção da ação penal pública é privativa do MP. A promoção da ação civil pública não é privativa, pois inclui diversos outros legitimados (a Defensoria Pública, os entes federados e suas entidades da administração indireta, a associação constituída há mais de um ano desde que tenha entre suas finalidades as matérias protegidas ação civil pública).
Segundo o STF, não é admitida a utilização da ação civil pública como sucedâneo de ação direta de inconstitucionalidade a fim de se exercer controle concentrado de constitucionalidade. Ou seja, ela não pode ser utilizada para substituir a ADI para se impugnar uma lei em tese, em abstrato, sem haver um caso concreto.
Todavia, o Supremo Tribunal Federal considera legítima a utilização da ação civil pública como instrumento de fiscalização incidental de constitucionalidade, diante de um caso concreto.
Nesse sentido, a controvérsia constitucional não pode configurar objeto único da demanda, mas simples questão prejudicial, indispensável à resolução do litígio principal.
Assim, se veda a obtenção de efeitos erga omnes (para todos), o que subtrairia do STF a competência exclusiva do controle abstrato de constitucionalidade frente à Constituição Federal.
Em suma, a ação civil pública pode ser utilizada no âmbito do controle de constitucionalidade, desde que na via incidental, diante de um caso concreto.
Conselho Nacional do Ministério Público
A EC 45/2004 criou Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), ao qual compete o controle da atuação administrativa e financeira do MP e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros.
Podemos dizer que o CNMP está para o Ministério Público, assim como o Conselho Nacional de Justiça está para o Judiciário.
O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-se de quatorze membros nomeados pelo Presidente da Republica, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:
I - O Procurador-Geral da Republica, que o preside;
II - quatro membros do MPU (assegurada a representação de cada carreira especializada);
III - três membros do MP dos Estados;
IV - dois juízes (um pelo STF e o outro pelo STJ);
V - dois advogados, indicados pela OAB;
VI - dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, (um indicado pela Câmara e o outro pelo Senado).
O mandato é de dois anos, admitida uma recondução.
De se destacar que o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil oficiará junto ao Conselho.
Compete ao CNMP (CF, art. 130-A, § 2°):
I - zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;
II - zelar pela observância do art. 37 da CF/88 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos Ministério Público da União e dos Estados, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência dos tribunais de contas;
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Ministério Público da União ou dos Estados, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional da instituição, podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídiosou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;
IV - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de membros do Ministério Público da União ou Estados julgados há menos de um
ano;
V - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a situação do Ministério Público no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar a mensagem que o Presidente da República encaminha ao Congresso Nacional com o plano de governo, por ocasião da abertura da sessão legislativa.
Por fim, cabe destacar que compete ao STF processar e julgar as ações contra
atos expedidos pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CF, art. 102, I, “r”).
 Ministério Público Especial junto aos tribunais de contas 
Na se confunde o Ministério Público Especial, que atua junto aos tribunais de contas, com o Ministério Público comum. Trata-se de duas instituições distintas.
Segundo a Constituição, as disposições pertinentes a direitos, vedações e forma de investidura que sejam aplicáveis aos membros do MP comum aplicam-se também aos membros do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas (CF, art. 130).
Segundo o STF, o MP Especial (que atua junto ao Tribunal de Contas da União) não integra o MPU. Em realidade, ele integra a estrutura orgânica do Tribunal de Contas da União.
Tanto é assim, que o Supremo considerou inconstitucional atribuir aos membros do MP comum (MPU ou MP dos estados) as funções de atuação junto às Cortes de Contas.
Assim, quanto ao MP especial que atua junto ao TCU:
I) ele não é chefiado pelo Procurador-Geral da República; e
II) sua organização é feita por lei de iniciativa do TCU (lei ordinária, pois não se trata da lei complementar prevista no art. 128, § 5° da CF/88);
Esses detalhes se aplicam também âmbito estadual, no que se refere aos tribunais de contas estaduais.
Prerrogativa de foro
Vejamos uma a uma as prerrogativas de foro correspondentes a cada autoridade.
Compete ao Senado Federal o julgamento dos membros do Conselho Nacional do Ministério Público nos crimes de responsabilidade. Entretanto, no caso dos crimes comuns, eles não dispõem de nenhuma prerrogativa de foro só por fazerem parte do CNMP.
Ou seja, nos crimes comuns, eles serão julgados de acordo com o seu cargo original, com sua função ordinariamente ocupada.
Por exemplo: 
Vimos que duas vagas do CNMP são de juízes. Nesse caso, eles serão julgados nos crimes de responsabilidade pelo Senado Federal. No caso dos crimes comuns, serão julgados de acordo com o foro especial de que dispõem por serem juízes, ordinariamente.
Já os cidadãos, serão julgados nos crimes de responsabilidade pelo Senado Federal. Mas, para os crimes comuns, eles não disporão de foro especial por prerrogativa de função.
Os membros do MPDFT que atuam perante os juízos de primeiro grau serão julgados pelo TRF.

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