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LICC ( LINDB ) Comentada
Redatora: Fernanda Piva 
Revisora: Mariângela Guerreiro 
Milhoranza
Fernanda Piva é Bacharel em Direito pela Unisinos e Coordenadora da diagramação e 
montagem das revistas da Notadez. 
Mariângela Milhoranza é Mestre em Direito pela PUC-RS, Especialista em Direito 
Processual Civil pela PUC-RS, Advogada em Porto Alegre/RS; Professora da FARGS, 
Egressa da Escola Superior do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul; 
Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas (CNPQ) “Limites da Jurisdição” sob coordenação do 
Professor Dr. Araken de Assis junto ao Programa de Pós-Graduação em Direito da 
PUC/RS; Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas (CNPQ) “Novas Técnicas” sob 
coordenação do Professor Dr. José Maria Rosa Tesheiner; Membro do Instituto de 
Hermenêutica Jurídica.
Art. 1º. Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e 
cinco dias depois de oficialmente publicada.
Até o advento da Lei Complementar 95/98, posteriormente alterada pela LC 107/01, a 
cláusula de vigência vinha expressa, geralmente, na fórmula tradicional: “Esta lei entra em 
vigor na data de sua publicação”.
A partir da Lei Complementar nº 95, que alterou o Dec.-Lei 4.657/42, a vigência da lei 
deverá vir indicada de forma expressa, estabelecida em dias, e de modo que contemple 
prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, passando a cláusula padrão a 
ser: “ Esta lei entra em vigor após decorridos (número de dias) de sua publicação”.
No caso de o legislador optar pela imediata entrada em vigor da lei, só poderá fazê-lo se 
verificar que a mesma é de pequena repercussão, reservando-se para esses casos a fórmula 
tradicional primeiramente citada.
Na falta de disposição expressa da cláusula de vigência, aplica-se como regra supletiva a 
do art. 1º da LICC, que dispõe que a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de 
oficialmente publicada.
Por fim, a contagem de prazo para a entrada em vigor das leis que estabeleçam períodos de 
vacância far-se-á incluindo a data da publicação e do último dia prazo, entrando em vigor 
no dia subseqüente à sua consumação integral.
§ 1º. Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, 
se inicia três meses depois de oficialmente publicada.
Não havendo prazo para sua entrada em vigor, a obrigatoriedade da norma brasileira no 
exterior se dará após o prazo de 3 meses, contados de sua publicação no Diário Oficial, 
passando a ser reconhecida pelo direito internacional público e privado.
Sendo assim, a lei antiga subsistirá no exterior até 3 meses após a publicação oficial da lei 
nova, ou seja, antes de escoado esse prazo, a lei nova não terá incidência em país 
estrangeiro.
No caso de a lei nova fixar prazo superior a 3 meses para o início de sua vigência no 
Brasil, silenciando quanto à data de entrada em vigor no exterior, impor-se-á o prazo de 
vigência interna à do exterior.
Em relação às circulares e instruções dirigidas a autoridades e funcionários brasileiros no 
exterior, são aplicáveis desde o momento em que cheguem ao conhecimento dessas 
pessoas de forma autêntica.
Pode-se citar, de acordo com a doutrina de Vicente Raó1, alguns efeitos do início da 
obrigatoriedade da lei brasileira no estrangeiro:
– a lei brasileira passará a ter vigência três meses depois de sua publicação oficial, desde 
que não haja estipulação do prazo para sua entrada em vigor;
– os atos levados a efeito no exterior, de conformidade com a velha norma revogada serão 
válidos, porque, embora essa lei já estivesse revogada no Brasil, continuará vigorando em 
território alienígena até findar-se o prazo de três meses;
– os regulamentos internos, as portarias, os avisos e circulares alusivos à organização e 
funcionamento dos órgãos e serviços administrativos terão vigência perante as autoridades 
e funcionários brasileiros no exterior a partir do instante em que lhes forem, 
autenticamente, comunicados;
– o contrato celebrado no Brasil de acordo com a nova lei alcançará os que se encontrarem 
fora no país, mesmo que aquela norma ainda não tenha entrado em vigor no exterior;
– a pessoa que for parte numa relação jurídica, ao regressar ao Brasil, antes do término do 
prazo de três meses, sujeitar-se-á, no momento de sua chegada, à nova lei já vigente em 
nosso país, respeitando-se os atos já praticados no exterior segundo a lei brasileira lá 
vigorante.
 § 2º. A vigência das leis, que os Governos Estaduais elaborem por autorização do 
Governo Federal, depende da aprovação deste e começa no prazo que a legislação 
estadual fixar.
 Norma sem aplicação desde a Constituição de 1947.
 § 3º. Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, 
destinada à correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a 
correr da nova publicação.
No que diz respeito aos erros na publicação da lei, Ferrara é esclarecedor quando alega que 
“quando se trata de simples erros materiais que à primeira vista aparecem como 
incorreções tipográficas, ou porque a palavra inserida no texto não faz sentido ou tem um 
significado absolutamente estranho ao pensamento que o texto exprime enquanto a 
palavra, que foneticamente se lhe assemelha, se encastra exatamente na conexão lógica do 
discurso, ou porque estamos em face de omissões ou transposições, é fácil integrar ou 
corrigir pelo contexto da proposição, deve admitir-se que o juiz pode exercer a sua crítica, 
chegando, na aplicação da lei, até a emendar-lhe o texto”2.
Quando se tratar de erros substanciais, que podem alterar total ou parcialmente o sentido 
legal, a nova publicação será imprescindível. Nesse caso, observar-se-ão as seguintes 
situações:
– correção da norma em seu texto, por conter erros substanciais, durante a vacatio 
legis ensejando nova publicação: nova vacatio será iniciada a partir da data da correção, 
anulando-se o tempo decorrido;
– várias publicações diferentes de uma mesma lei, motivadas por erro: a data da publicação 
será uma só e deverá ser a da publicação definitiva, ou seja, a última (RF, 24:480).
Assim, nos casos em que se fizer necessária republicação de lei ainda não publicada ou 
publicada mas ainda não vigente, por conter incorreções e erros materiais que lhe 
desfigurem o texto, a Casa de onde a mesma se originou publicará nova lei corrigida, e o 
seu período de vigência deverá ser contado a partir da nova publicação.
§ 4º. As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
As emendas ou correções em lei que já esteja em vigor são consideradas leis novas, ou 
seja, para corrigi-la é preciso passar por todo o processo de criação de uma lei, devendo 
para isso obedecer aos requisitos essenciais e indispensáveis para a sua existência e 
validade.
Importante ressaltar que se a correção for feita dentro da vigência legal, a lei vigorará até a 
data do novo diploma legal publicado para corrigi-la, e se apenas parte da lei for corrigida, 
o prazo fluirá somente para a parte retificada; em ambos os casos respeitando-se os direitos 
e deveres decorrentes de norma publicada com incorreções e ainda não corrigida.
Assim, é preciso respeitar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, 
mesmo que advindos de uma publicação errônea, levando-se em conta a boa-fé daquele 
que a aplicou. Em se tratando de meros erros de ortografia, facilmente identificáveis, nada 
impede que o prazo da vacatio legis decorra da data da publicação errada, não 
aproveitando a quem possa invocar tais erros.
Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a 
modifique ou revogue.
 A lei pode trazer seu período de vigência de forma expressa, como por exemplo, a Lei 
Orçamentária, assim como pode ter seu período de vigência indeterminado, ou seja, uma 
vez vigente ela é válida até que outra lei posterior,de superior ou mesma hierarquia, a 
modifique ou revogue, não podendo revogá-la a jurisprudência, costume, regulamento, 
decreto, portaria e avisos, não prevalecendo nem mesmo na parte em que com ela 
conflitarem3.
De acordo com Maria Helena Diniz4, no primeiro caso, ter-se-à cessação da lei por causas 
intrínsecas, como por exemplo:
a) decurso do tempo para o qual a lei foi promulgada, por se tratar de lei temporária, salvo 
se a sua vigência for expressamente protraída por meio de outra norma (ex.: lei 
orçamentária);
b) consecução do fim a que a lei se propõe (p. ex., lei que manda pagar uma subvenção ou 
suspende a realização de um concurso para preencher vagas com os contratados, a fim de 
que se efetivem; com o aproveitamento do último funcionário contratado, a norma cessará 
de existir; é o que sucede também com as disposições transitórias, que se encontram no 
final dos Códigos ou certas leis);
c) cessação do estado de coisas não permanente (p. ex., lei emanada para atender estado de 
sítio ou guerra, ou para prover situação de emergência oriunda de calamidade pública), ou 
do instituto jurídico pressuposto pela lei, pois finda a anormalidade, extinguir-se-á a lei 
que a ela se refere.
Alguns doutrinadores5 entendem que há uma auto-revogação tácita da lei (revogação 
interna) quando faltarem as razões pelas quais foi ditada e pela ocorrência do termo final 
nela prefixado, alegando que, com o desaparecimento das circunstâncias fático-temporais 
que lhes originaram, a mesma deixará de vigorar por ter perdido seu objeto.
Entretanto, outros autores6 entendem que não há, em regra, auto-revogação tácita da lei 
pela cessação dos motivos que lhe deram origem, pois a mesma permanecerá vigente e 
válida apesar de não mais poder incidir, perdendo assim sua eficácia. Por este 
entendimento, o brocardo cessante ratione legis, cessat lex ipsa não representa meio 
indireto para revogar a norma, mas sim base para interpretá-la restritivamente, através de 
suas disposições excepcionais.
Já no segundo caso, em que as leis cujo período de vigência sejam indeterminados, as 
mesmas serão permanentes, vigorando indefinidamente e produzirão seus efeitos até que 
outra lei as revogue (revogação externa).
§ 1º. A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja 
com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei 
anterior.
A revogação é um termo genérico, indicando a idéia da cessação da existência da norma 
obrigatória, e contém 2 espécies: a ab-rogação, que se dá pela supressão total da norma 
anterior, através da nova regulação pela lei posterior ou mesmo por haver entre ambas total 
incompatibilidade; e a derrogação, que ocorre quando uma parte da norma torna-se sem 
efeito, tornando inválidos somente os dispositivos atingidos.
A revogação poderá ser expressa, quando a 2ª lei declarar a 1ª lei extinta expressamente ou 
apontar os dispositivos que pretende retirar; ou ser tácita quando esta trouxer disposições 
incompatíveis com a 1ª lei, mesmo que nela não conste a expressão “revogam-se as 
disposições em contrário”.
§ 2º. A lei nova que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, 
não revoga nem modifica a lei anterior.
A norma geral não revoga a especial, assim como a nova especial não revoga a geral, 
podendo ambas coexistir pacificamente, exceto se disciplinarem de maneira distinta a 
mesma matéria ou se a revogarem expressamente.
Sendo assim, a mera justaposição de normas, sejam gerais ou especiais, às normas já 
existentes, não é motivo para afetá-las, podendo ambas reger paralelamente as hipóteses 
por elas disciplinadas, desde que não haja contradição entre ambas.
§ 3º. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei 
revogadora perdido a vigência.
 O dispositivo acima trata da repristinação, que é o instituto através do qual se restabelece 
a vigência de uma lei revogada pela revogação da lei que a tinha revogado, como por 
exemplo: norma “B” revoga a norma “A”; posteriormente uma norma “C” revoga a norma 
“B”; a norma “A” volta a valer.
Etimologicamente, repristinação é palavra formada do prefixo latinore (fazer de novo, 
restaurar) e pristinus (anterior, antigo, vigência), o que significa restauração do antigo.
A repristinação não ocorre automaticamente, ou seja, só se dá por dispositivo expresso da 
norma; caso contrário, não se restaura a lei revogada, como no seguinte exemplo: norma 
“A” só volta a valer se isso estiver explicito na norma “C”, ou seja, não há repristinação 
automática (implícita), esta somente ocorre se for expressamente prevista.
Maria Helena Diniz7 conclui que “como se vê, a lei revocatória não voltará ipso facto ao 
seu antigo vigor, a não ser que haja firme propósito de sua restauração, mediante 
declaração expressa de lei nova que a restabeleça, restaurando-a ex nunc, sendo 
denominada por isso respristinatória. Faltando menção expressa, a lei revogadora ou 
repristinatória é lei nova que adota o conteúdo da norma primeiramente revogada. Logo, 
sem que haja outra lei que, explicitamente, a revigore, será a norma revogada tida como 
inexistente. Daí, se a norma revogadora deixar de existir, a revogada não se convalesce, a 
não ser que contenha dispositivo dizendo que a lei primeiramente revogada passará a ter 
vigência. Todavia, aquela lei revogada não ressuscitará, pois a norma que a restabelece não 
a faz reviver, por ser uma nova lei, cujo teor é idêntico ao daquela. A lei restauradora nada 
mais é do que uma nova norma com conteúdo igual ao da lei anterior revogada”.
 Art. 3º. Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
O conhecimento da lei decorre de sua publicação, ou seja, uma vez promulgada, a norma 
só passa vigorar com sua publicação no Diário Oficial, que é o marco para que se repute 
conhecida por todos.
Assim, depois de publicada e uma vez decorrido o prazo da vacatio legis (se houver), a lei 
passa a ser obrigatória para todos, sendo inescusável o erro e a ignorância sobre a mesma.
De acordo com Coviello8, “do princípio de que – é necessidade social se torne obrigatória 
para todos, a lei publicada – decorre, necessariamente, a conseqüência de que os seus 
efeitos abrangem a todos, independentemente do conhecimento ou da ignorância 
subjetiva... essa conseqüência, tão evidente, que se admitiria ainda sem disposição 
legislativa expressa, é absoluta: uma só exceção destruir-lhe-ia o fundamento racional”.
Sendo assim, o artigo supra contém o rigoroso princípio da inescusabilidade da ignorância 
da lei, preconizando que as leis sejam conhecidas, pelo menos potencialmente.
Maria Helena Diniz9, ao versar sobre o tema, faz o seguinte questionamento: “Como a 
publicação oficial tem por escopo tornar a lei conhecida, embora empiricamente, ante a 
complexidade e dificuldade técnica de apreensão, possa uma norma permanecer ignorada 
de fato, pois se nem mesmo cultores do direito têm pleno conhecimento de todas as normas 
jurídicas, como se poderia dizer que qualquer pessoa pode ter perfeita ciência da ordem 
jurídica para observá-la no momento de agir?”
De acordo com Tércio Sampaio Ferraz Júnior10, o ato da publicação tem como escopo 
apenas neutralizar a ignorância, sem contudo eliminá-la, “fazendo com que ela não seja 
levada em conta, não obstante possa existir”. Desta forma, a norma é conhecida, 
obrigatória e apta a produzir efeitos jurídicos através da publicação, protegendo a 
autoridade contra a desagregação que o desconhecimento da mesma possa lhe trazer, já 
que uma autoridade ignorada é como se inexistisse.
Ainda em relação ao artigo 3º, é preciso levar-se em conta que o mesmo versa sobre a 
ignorância da lei ou a ausência de seu conhecimento e também o erro no seu 
conhecimento. A ignorância de direito se dá quando não o conhecimento do previstona lei 
sobre o fato que se trata. Já o erro de direito ocorre pelo desconhecimento do fato previsto 
na norma em função de falso juízo sobre o que ela dispõe, ou seja, o agente emite uma 
declaração de vontade baseado no falso pressuposto de que está procedendo de acordo com 
a lei.
A doutrina e jurisprudência têm entendido que o erro de direito e a ignorância da lei não se 
confundem, sustentando que o primeiro vicia o consentimento, nas hipóteses em que afete 
a manifestação da vontade na sua essência.
O novo Código Civil, em seu art. 139, admite o erro de direito como motivo único ou 
principal do negócio jurídico, desde que não implique recusa à aplicação da lei. Assim, não 
é levado em conta o erro de direito nas hipóteses em que o mesmo seja alegado visando à 
suspensão da eficácia legal por conta de sua inobservância; enquanto que nada impede que 
o seja alegado nos casos em que vise a evitar efeito de ato negocial, cuja formação teve 
interferência de vontade viciada por aquele erro.
Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os 
costumes e os princípios gerais de direito.
 Nos casos em que a lei for omissa, cabe ao magistrado utilizar-se das fontes integradoras 
do direito, que incluem a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
A utilização da analogia se dá quando o juiz busca em outra lei, que tenha suportes fáticos 
semelhantes, disposições que a própria lei não apresenta. Já o uso dos costumes, que 
tratam da prática reiterada de um hábito coletivo, público e notório, pode ter reflexos 
jurídicos na falta de outra disposição. Finalmente, também pode o magistrado socorrer-se 
dos princípios gerais de direito, que nada mais são do que regras orais que se transmitem 
através dos tempos, séculos às vezes, e que pontificam critérios morais e éticos como 
subsídios do direito.
Art. 5º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às 
exigências do bem comum.
A ciência do direito, como atividade interpretativa, surge como uma teoria hermenêutica, 
por ter dentre outras funções, as de:
a) interpretação das normas, que compreende múltiplas possibilidades técnicas 
interpretativas, dando ao intérprete a liberdade jurídica na escolha destas vias, buscando 
sempre condições para uma decisão possível, baseada em uma interpretação e um sentido 
preponderante dentre às várias possibilidades interpretativas;
b) verificar a existência da lacuna jurídica, identificando a mesma e apontando os 
instrumentos integradores que possibilitem uma decisão possível mais favorável, com base 
no direito;
c) afastar contradições normativas através da indicação de critérios para solucioná-las.
De acordo com Maria Helena Diniz, a ciência jurídica exerce funções relevantes, não só 
para o estudo do direito, mas também para a aplicação jurídica, viabilizando-o como 
elemento de controle do comportamento humano ao permitir a flexibilidade interpretativa 
das normas, autorizada pelo art. 5º da Lei de Introdução, e ao propiciar, por suas criações 
teóricas, a adequação das normas no momento de sua aplicação11.
Assim, ao interpretar a norma, o intérprete deve levar em conta o coeficiente axiológico e 
social nela contido, baseado no momento histórico que está vivendo, já que a norma geral 
em si deixa em aberto várias possibilidades, deixando esta decisão a um ato de produção 
normativa, sem esquecer que, ao aplicar a norma ao caso concreto, deve fazê-lo atendendo 
à sua finalidade social e ao bem comum.
Em relação ao fim social, a mesma autora afirma que: “pode se dizer que não há norma 
jurídica que não deva sua origem a um fim, um propósito ou um motivo prático, que 
consistem em produzir, na realidade social, determinados efeitos que são desejados por 
serem valiosos, justos, convenientes, adequados à subsistência de uma sociedade, 
oportunos, etc”12.
Tércio Sampaio Ferraz Júnior13, observa que os fins sociais são do direito, já que a ordem 
jurídica como um todo, é um conjunto de normas para tornar possível a sociabilidade 
humana; logo dever-se-á encontrar nas normas o seu fim (telos), que não poderá ser anti-
social.
Na prática, o intérprete-aplicador deverá, em cada caso sub judice, verificar se a norma 
atende à finalidade social, devendo ser interpretada inserida no próprio meio social em que 
está presente, já que imersa nele e conseqüentemente sob constante simbiose com o 
mesmo, adaptando-a às necessidades sociais existentes no momento de sua aplicação.
Dessa forma, recebendo continuamente vida e inspiração do meio ambiente, a aplicação da 
lei seguirá a marcha dos fenômenos sociais, estando apta a produzir a maior soma possível 
de energia jurídica14.
No que tange ao bem comum, sua noção é bastante complexa e composta de inúmeros 
elementos ou fatores. De qualquer forma, são reconhecidos comumente como elementos 
do bem comum a liberdade, a paz, a justiça, a utilidade social, a solidariedade ou 
cooperação, não resultando o bem comum da simples justaposição destes elementos, mas 
de sua harmonização face à realidade sociológica15.
Não há consonância na doutrina sobre a importância atribuída a esses elementos, mas de 
qualquer forma entende-se que ao aplicar norma, decidindo o fato, é dever de seu 
intérprete-aplicador estar atento ao fato de que as exigências do bem comum estejam 
ligadas ao respeito dos direitos individuais garantidos pela Constituição.
Sendo assim, percebe-se que todo o ato interpretativo deve estar baseado na concreção de 
determinado valor positivo ou objetivo, objetivo este fundado no bem comum, respeitando 
assim o indivíduo e a coletividade.
 Art. 6º. A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, 
o direito adquirido e a coisa julgada.
O art. 6º da LICC declara a inaplicabilidade da lei revogada aos processos que estão em 
curso, com base na intangibilidade do ato jurídico perfeito e do direito adquirido, 
consagrados constitucionalmente.
Desta forma, a lei nova só incidirá sobre os fatos ocorridos durante seu período de 
vigência, não podendo a mesma alcançar efeitos produzidos por relações jurídicas 
anteriores à sua entrada em vigor, ou seja, alcançando apenas situações futuras.
No que diz respeito aos processos pendentes, em matéria processual vigora o princípio do 
isolamento dos atos processuais, que determina que a novel norma atingirá o processo no 
ponto em que está, não podendo a mesma retroagir aos atos processuais já realizados 
durante a vigência de lei anterior, visto que seus efeitos ficarão intocáveis e insuscetíveis 
de alteração pela lei retrooperante, pois sobre eles a nova lei não terá efeito algum.
§ 1º. Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo 
que se efetuou.
Entende-se como ato jurídico perfeito o que já se tornou apto a produzir seus efeitos, pois 
já consumado, segundo a norma vigente, ao tempo em que se efetuou.
O ato jurídico perfeito é um dos elementos do direito adquirido e desta forma é um meio 
de garantir o mesmo, uma vez que, se a nova lei desconsiderasse o ato jurídico já 
consumado sob a vigência de lei precedente, o direito adquirindo decorrente do mesmo 
também desapareceria, já que sem fundamento.
Assim, a segurança do ato jurídico perfeito, que é resguardada pelo art. 6º, § 1º, da Lei de 
Introdução, preconiza que o ato jurídico válido, consumado durante a vigência da lei que 
contempla aquele direito, não poderá ser alcançado por lei posterior, sendo inclusive 
imunizado contra quaisquer requisitos formais exigidos pela nova lei.
Em relação aos contratos em curso de formação, aplicar-se-á a nova norma, por ter efeito 
imediato, na fase pré-contratual. Nos casos de os contratos terem sido legitimamente 
celebrados, os mesmos serão cumpridos e terão seus efeitos regulados pela lei vigente à 
época de seunascimento. Carlos Maximiliano ressalva que não se confundem os contratos 
em curso e os contratos em curso de constituição, pois a norma hodierna só alcançará os 
últimos, já que os primeiros são atos jurídicos perfeitos16.
Ainda em relação aos contratos em curso de constituição, Maria Helena Diniz17 preconiza 
que: “Pelo art. 2.035 do Código Civil, o ato ou negócio jurídico em curso de constituição, 
validade celebrado antes vigência do novo diploma legal, em sua formalidade extrínseca 
seguirá o disposto no regime anterior, mas como não pôde irradiar quaisquer efeitos legais, 
que se produzirão somente por ocasião da entrada em vigor da Lei nº 10.406/2002, os 
contratantes terão o direito de vê-lo cumprido, nos termos da novel lei, que, então, regulará 
seus efeitos, a não ser que as partes tenham previsto, na convenção, determinada forma de 
execução, desde que não contrariem preceito de ordem pública, como o estabelecido para 
assegurar a função social da propriedade e do contrato, visto que são resguardados 
constitucionalmente e pelo art. 5º da Lei de Introdução do Código Civil. Os efeitos 
estabelecidos em cláusulas contratuais regem-se pela lei vigente ao tempo de sua 
celebração”.
É importante ressaltar que juízes e tribunais têm admitido a aplicação da lei nova aos atos e 
fatos que se encontra, quando estas forem de ordem pública, sem ofensa ao ato jurídico 
perfeito18.
De qualquer forma, pode-se concluir que uma vez protegido o ato jurídico perfeito, são 
resguardados os direitos subjetivos formados sob a égide da norma anterior, preservando 
assim os direitos legítimos de seus titulares.
§ 2º. Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, 
possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou 
condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
Direito adquirido é aquele que já se integrou ao patrimônio e à personalidade de seu titular, 
de modo que nem norma ou fato posterior possam alterar situação jurídica já consolidada 
sob sua égide.
Necessária se faz aqui a distinção entre direito adquirido, que é aquele que já integrou ao 
patrimônio e não pode ser atingido pela lei nova, e a expectativa de direito, que é a mera 
possibilidade ou esperança de adquirir um direito, portanto dependente de acontecimento 
futuro para a concreção da efetiva constituição do mesmo. Assim, preconiza Reynaldo 
Porchat19 quando afirma que “Não se pode admitir direito adquirido a adquirir um 
direito”.
A situação de ser titular de um direito é regida por norma de competência, enquanto que a 
situação de exercer as permissões e autorizações correspondentes àquele direito subjetivo 
dependerá de normas de conduta. O princípio do direito adquirido não protegerá o titular 
do direito contra certos efeitos retroativos de uma norma no que disser respeito à 
incidência de nova norma de conduta. Um exemplo prático e elucidativo se dá na venda de 
um imóvel, em que é preciso ser titular do direito de propriedade (norma de competência) 
e a realização da referida venda se dá segundo os ditames da norma de conduta que 
disciplina o ato de vender. Assim, a lei nova tem condão de mudar a norma de 
competência que rege a situação de ser titular, mas não atingirá o ato de vender se a 
propriedade já foi adquirida sob a égide da lei anterior; também o tem de modificar a 
norma de conduta que disciplina o ato de alienar, mas não o fará se a venda já se 
consumou, sendo um ato jurídico perfeito20.
Carvalho Santos21 afirma que a novel norma não retroage no que atina ao direito em si, 
mas tem o condão de ser aplicada no que tange ao uso ou exercício desse direito, mesmo 
em relação às situações já existentes antes de sua publicação.
 § 3º. Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba 
recurso.
A coisa julgada é um fenômeno processual que consiste na imutabilidade e 
indiscutibilidade da sentença, visto que posta ao abrigo dos recursos e de seus efeitos, 
consolidando os mesmos e promovendo a segurança jurídica das partes.
Tércio Sampaio Ferraz Júnior, assevera que “a coisa julgada protege a relação 
controvertida e decidida contra a incidência da nova norma. Alterando-se por esta quer as 
condições de ser titular, quer as de exercer atos correspondentes, o que foi fixado perante o 
tribunal não pode ser mais atingido retroativamente”22.
A coisa julgada é formal quando a sentença não mais estiver sujeita a recurso ordinário ou 
extraordinário, ou porque dela não se recorreu ou nas hipóteses em que dela tenha 
recorrido sem atender aos princípios fundamentais dos recursos ou aos seus requisitos de 
admissibilidade, ou mesmo pelo esgotamento de todos os meios recursais (CPC, art. 467). 
Um exemplo de coisa julgada formal são as sentenças de extinção do processo sem 
resolução do mérito, atingidas pela preclusão.
Já a coisa julgada material é a que torna imutável e indiscutível o preceito contido na 
sentença de mérito, não mais sujeitando-a a recurso ordinário e extraordinário, como as 
sentenças de mérito proferidas com fundamento no art. 269 do CPC.
O Supremo Tribunal Federal, através da Súmula 541, dispôs que a ação rescisória é 
admitida contra sentença transitada em julgado, ainda que contra ela não tenham se 
esgotado todos os recursos. Importante diferenciar, no que diz respeito à rescisória, a 
sentença passada em julgado da coisa julgada, pois a primeira é suscetível de reforma por 
algum recurso enquanto a segunda não pode ser alterada nem mesmo por ação rescisória. 
A sentença transitada em julgada poderá ser passível de ação rescisória, pois mesmo 
inadmitindo recurso, não há coisa julgada quando a decisão é nula23.
Importante salientar que a ação rescisória não é um recurso, mas sim uma ação de 
impugnação, que pode ser proposta nas hipóteses previstas em lei de forma taxativa (CPC, 
art. 485, I a IX), com o escopo de desconstituir uma decisão de mérito, elidindo coisa 
julgada, se proposta dentro do prazo decadencial de dois anos (CPC, 495). Uma vez tendo 
sido proposta, a ação rescisória não tem o condão de suspender a execução da decisão 
rescindenda, não impedindo seu cumprimento, ressaltando a hipótese de concessão de 
medida cautelar ou antecipatória de tutela, recompondo-se a lesão causada no caso de a 
rescisória ter sido julgada procedente.
Maria Helena Diniz, ao tratar do tema, afirma que “a coisa julgada é uma qualidade da 
sentença, declaratória ou constitutiva, e de seus efeitos, consistente na imutabilidade, que 
poderá existir: a) fora do processo, para impedir que a lei a prejudique, ou que o juiz volte 
a julgar o que já foi decidido (coisa julgada material); b) dentro do processo, em razão de 
uma preclusão máxima, de uma decisão colocada ao abrigo dos recursos definitivamente 
preclusos (coisa julgada formal)”.
Assim, a coisa julgada traz a presunção absoluta (jure et de jure) de que o direito foi 
aplicado de forma correta ao caso concreto, prestigiando o órgão judicante que a prolatou e 
garantindo a impossibilidade de sua reforma e sua executoriedade (CPC, art. 489), tendo 
força vinculante para as partes litigantes, funcionando como instrumento de controle ante o 
dinamismo jurídico.
 Art. 7º. A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o 
começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
O art. 7º da LICC preconiza a lex domicilii como critério fundamental do estatuto pessoal, 
introduzindo o princípio domiciliar como elemento de conexão para determinar a lei 
aplicável, ao contrário do princípio nacionalístico, adotado pela antiga lei.
O princípio domiciliar é o que mais atende à conveniência nacional, visto ser o Brasil um 
país onde o fluxo de estrangeiros é considerável, eliminando o inconveniente da dupla 
nacionalidade ou da falta de nacionalidade.
O começo e o fimda personalidade (as presunções de morte, o nome, a capacidade e os 
direitos de família, que constituem o estado civil, ou seja, o conjunto de qualidades que 
constituem a individualidade jurídica de uma pessoa, terão suas questões resolvidas através 
do direito domiciliar, de acordo com o que determina o art. 7º da LICC.
A lex domicilii, para ser aplicada, deverá ser precedida da análise do aplicador acerca da lei 
do país onde estiver domiciliada a pessoa para, a partir daí, obter a qualificação jurídica do 
estatuto pessoal e dos direitos de família a ela pertinentes. Assim, o juiz brasileiro deverá 
qualificar o domicílio de acordo com o lugar no qual a pessoa estabeleceu seu domicílio 
com ânimo definitivo (CC, art. 70), qualificando-o segundo o direito nacional e não de 
conformidade com o direito estrangeiro, estabelecendo a ligação entre a pessoa e o país 
onde está domiciliado, aplicando a partir daí as normas de direito cabíveis.
 § 1º. Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos 
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
O § 1º do art. 7º da LICC versa a respeito dos impedimentos dirimentes e das formalidades 
da celebração do casamento, quando o mesmo for realizado no Brasil.
Há quem entenda que seja admissível a aplicação da lei pessoal dos interessados no que diz 
respeito às formalidades intrínsecas; mas em relação às formalidades extrínsecas do ato, 
dever-se-á levar em conta a lex loci actus, ou seja, a lei do local da realização do ato.
A lex loci celebrationis impõe que o casamento seja celebrado de acordo com a solenidade 
imposta pela lei do local onde o mesmo se realizou, não importando se a forma ordenada 
pela lei pessoal dos nubentes seja diversa. Isso significa que, em relação às núpcias 
contraídas no Brasil, no que diz respeito à habilitação matrimonial e às formalidades do 
casamento, a lei a ser observada é a brasileira, devendo seguir-se o disposto nos arts. 1.525 
a 1.542 do Código Civil, mesmo que os nubentes sejam estrangeiros.
As causas suspensivas da celebração do casamento, que estão dispostas no art. 1.523, I a 
IV, não interessam à ordem pública internacional, e desta forma, regerão os casamentos 
realizados no Brasil por pessoas não domiciliadas no exterior, mesmo que lei alienígena os 
contrarie.
No que diz respeito aos casamentos celebrados no exterior, quando de acordo com as 
formalidades legais do Estado onde foi celebrado, serão reconhecidos como válidos no 
Brasil, ressalvados os casos de ofensa à ordem pública brasileira e de fraude à lei nacional, 
se não se observarem os impedimentos matrimoniais fixados pela lei24.
Importante ressaltar que, no que tange à capacidade matrimonial e aos direitos de família, 
os mesmos serão regidos pela lei pessoal dos nubentes, ou seja, a lei do seu domicílio e 
desta forma, uma vez o casamento tendo sido consumado, seus efeitos e limitações serão 
submetidos à lei domiciliar.
 § 2º. O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades 
diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.
O disposto no art. 7º, § 2º, da LICC, permite que os estrangeiros, ao contraírem casamento 
fora de seu país, possam fazê-lo perante o agente consular ou diplomático de seu país, no 
consulado ou fora dele.
O cônsul estrangeiro é competente para realizar casamento quando a lei nacional o atribuir 
tal competência e somente quando os nubentes forem co-nacionais e ele mesmo (o cônsul) 
tenha a mesma nacionalidade. Acerca do tema, Kahn25 afirma que “quanto aos limites, 
nos quais esses Estados reconhecerão os casamentos, celebrados pelos agentes 
diplomáticos e consulares estrangeiros, no seu território, serão determinados pela extensão 
normal que a doutrina e a legislação interna conferem à instituição do casamento 
diplomático ou consular. Assim, todos os Estados que atribuem aos seus agentes, no 
estrangeiro, competência para celebrar um casamento sob a condição de serem seus súditos 
os dois contraentes, só reconhecerão, como válidos, os casamentos contratados, por 
estrangeiros, no seu território, diante dos agentes diplomáticos e consulares, no caso em 
que ambos os esposos serão do Estado a que pertence o agente, que procedeu à 
celebração”.
Importante ressaltar que o casamento de estrangeiros, domiciliados ou não no Brasil, 
somente é celebrado conforme o direito alienígena no que diz respeito à forma do ato, pois 
seus efeitos materiais serão apreciados conforme a lei brasileira (RT, 200:653), não sendo 
possível a transcrição de assento de casamento de estrangeiro, realizado no Brasil, em 
consulado de seu país, no cartório do Registro Civil do respectivo domicílio (RT, 185:285).
No que tange ao casamento de brasileiros no exterior, mesmo que domiciliados fora do 
Brasil e quando ambos nubentes sejam brasileiros, poderá ser celebrado perante a 
autoridade consular brasileira, verificando-se a impossibilidade de um casamento 
diplomático entre uma brasileira e um estrangeiro ou apátrida.
O matrimônio contraído perante agente consular, será provado por certidão do assento no 
registro do consulado (RT, 207:386), que faz as vezes do cartório do Registro Civil. Na 
hipótese de ambos os nubentes virem para o Brasil, o assento de casamento para surtir 
efeito em nosso país, deverá ser trasladado dentro de 180 dias contados na volta ao nosso 
país, no cartório do respectivo domicílio ou, na sua, falta, no 1º Ofício da Capital do 
Estado em que passarem a residir (art. 1.544 do CC)26.
§ 3º. Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do 
matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.
O § 3º da LICC dispõe que a invalidade do casamento será apurada pela lei do domicílio 
comum dos nubentes ou pela lei de seu primeiro domicílio conjugal.
No caso de os nubentes terem domicílio internacional, a lei do primeiro domicílio conjugal 
estabelecido após o casamento é que prevalecerá para os requisitos intrínsecos do ato 
nupcial e para as causas de sua nulidade, absoluta ou relativas, inclusive no que diz 
respeito aos vícios de consentimento.
Desta forma, é a lex domicilii quem vai esclarecer se determinado casamento é válido ou 
não, mesmo que estrangeira e de conteúdo diverso da norma brasileira, e não a norma de 
direito internacional privado.
Maria Helena Diniz27, ao tratar sobre o tema, salienta que a lex domicilii, quando for 
repugnante à ordem pública, não deverá ser aplicada e indica os meios para facilitar sua 
aplicabilidade, sendo necessário: a) a indicação pelos nubentes, no processo do casamento, 
de onde será o domicílio conjugal (no caso dos casamentos realizados no Brasil em que os 
nubentes tiverem domicílio internacional diverso, os mesmos deverão declarar onde 
pretendem estabelecer o primeiro domicílio conjugal, pois na falta desta declaração, 
presume-se que o mesmo se dará no Brasil); e b) reajuste da situação jurídica da 
capacidade matrimonial, de acordo com a lei daquele primeiro domicílio conjugal, que é o 
estabelecido pelo marido, salvo exceções especiais de acordo com os dados contidos na lei 
territorial. Nas relações pessoais dos cônjuges e nas entre pais e filhos prevalecerá a lei 
domiciliar.
Assim, o § 3º do art. 7º da LICC dispõe apenas sobre os requisitos intrínsecos ou 
substanciais do casamento regidos pela lei domiciliar comum aos nubentes, ou, no caso de 
terem os os mesmos domicílio internacional diverso, pela lei do primeiro domicílio 
conjugal28.
§ 4º. O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os 
nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.
O presente parágrafo visa a regular as relações patrimoniais entre os cônjuges, impondo 
como elemento de conexão a lex domicilii dos nubentes à época do ato nupcial ou do 
primeiro domicílio conjugal, tendo em vista os efeitos econômicosadmitidos legalmente 
ao casamento e aos pactos antenupciais.
Assim, observar-se-á o direito brasileiro no caso de ter sido aqui estabelecido o primeiro 
domicílio conjugal, se os nubentes tiverem domicílios internacionais diferentes; ou o 
direito estrangeiro, no caso de ambos tiverem, por ocasião do ato nupcial, domicílio 
comum fora do Brasil.
Em relação à capacidade para celebração de pacto antenupcial, cada um dos interessados 
fica submetido à sua lei pessoal ao tempo da celebração do contrato (lex domicilii), 
observando a existência de preceito de ordem pública internacional vedando a celebração 
ou modificação de pactos antenupciais na constância do casamento ou alteração do regime 
de bens por mudança de nacionalidade ou de domicílio posterior ao casamento, de nada 
importando que o domicílio se transfira de um país a outro. No que tange ao regime 
matrimonial de bens, prevalece a lei do domicílio que ambos os nubentes tiverem no 
momento do casamento ou a do primeiro domicílio conjugal, na falta daquele comum, 
salientando que de nada adianta a mudança domiciliar com intuito de subtrair o regime 
matrimonial submetido anteriormente.
Ainda sobre o tema, é importante ressaltar que na hipótese de regime ou casamento 
convencionados no Brasil, ou mesmo casamento aqui realizado mas sem convenção de 
regime, o mesmo deverá ser apreciado pelo direito brasileiro. No caso de os cônjuges 
pretenderem fixar seu primeiro domicílio fora do Brasil, a jurisdição brasileira não será 
competente, pois o regime nesse caso será apreciado pela jurisdição internacional.
No caso de duas pessoas casarem aqui, domiciliadas no Brasil, e possuírem bens em 
diversos países, a lei brasileira não poderá se aplicar em relação a estes, em Estados onde 
impera a lex rei sitae, por respeito à mesma.
§ 5º O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa 
anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de 
naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de 
bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro.
O novo Código Civil, em seu artigo 1.639, § 2º, dispõe que qualquer modificação após a 
celebração do ato nupcial é permitida, desde que haja autorização judicial atendendo a um 
pedido motivado de ambos os cônjuges, verificadas as razões por eles invocadas e a 
certeza de que tal mudança não venha a causar qualquer gravame a direitos de terceiros, 
obedecendo ao princípio da mutabilidade justificada do regime adotado.
O § 5º do art. 7º da LICC permite ao estrangeiro naturalizado brasileiro, com a expressa 
anuência de seu cônjuge, a adoção da comunhão parcial de bens, que é o regime 
matrimonial comum no Brasil, resguardados os direitos de terceiros anteriores à concessão 
da naturalização, ficando os mesmos inalterados, como se o regime não tivesse sofrido 
qualquer alteração. De acordo com o princípio da mutabilidade justificada do regime 
adotado, disposto no Código Civil, que visa a garantir terceiro de qualquer surpresa que 
advenha de um regime matrimonial de bens mutável, é exigido o registro da adoção do 
regime da comunhão parcial de bens, funcionando como meio de publicidade da alteração 
feita pelo brasileiro naturalizado29.
§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem 
brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de três anos da data da sentença, 
salvo se houver sido antecedida de separarão judicial por igual prazo, caso em que a 
homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a 
eficácia das sentenças estrangeiras no País. O Supremo Tribunal Federal, na forma 
de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, 
decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de 
divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais.
O divórcio de cônjuges estrangeiros domiciliados no Brasil é reconhecido em nosso país, 
mas tratando-se de divórcio realizado no estrangeiro, quando um ou ambos os cônjuges 
forem brasileiros, só será aqui admitido após um ano (art. 226, § 6º, da CF/88) da data da 
sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em 
que a homologação terá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a 
eficácia das sentenças estrangeiras no país (art. 49 da Lei 6.515/77).
Maria Helena Diniz verifica que a lei brasileira constitui um obstáculo invencível ao 
reconhecimento do divórcio antes do prazo de um ano, contado da sentença, se um ou 
ambos os cônjuges forem brasileiros, excetuando-se o fato de que já exista concessão da 
medida cautelar de separação de corpos, cuja data constitui marco inicial para a contagem 
daquele prazo legal, embora a separação de cama e mesa possa ter significação na 
contagem do prazo da conversão da separação judicial em divórcio30.
Uma vez homologado o divórcio obtido no estrangeiro, é permitido novo casamento no 
Brasil, exigindo-se para isso a prova da sentença do divórcio na habilitação matrimonial, 
que é a certidão da sentença de divórcio proferida no estrangeiro, devidamente 
homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (EC 45/2004).
O estrangeiro ou apátrida, cuja sentença de divórcio ainda não tenha sido homologada, e 
que deseje contrair novas núpcias no Brasil, está sujeito à anulação de casamento caso sua 
sentença de divórcio seja negada pelo STJ. Washington de Barros Monteiro esclarece 
ainda que a homologação de sentença pode ser negada quando estrangeiros aqui 
domiciliados se dirigem à justiça de outro país para obter a sentença de divórcio, burlando 
a soberania nacional, sendo isso apenas tolerado se o divórcio foi pronunciado no foro dos 
cônjuges. No caso de a sentença for proferida em país onde jamais os cônjuges residiram 
ou de onde não são naturais, a homologação tem sido denegada, podendo ser apenas 
concedida, com restrições, para fins patrimoniais31.
§ 7º. Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro 
cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua 
guarda.
De acordo com o critério da unidade domiciliar, mantido § 7º do art. 7º da LICC, no que 
diz respeito às relações pessoais entre os cônjuges, seus direitos e deveres recíprocos, e aos 
direitos e obrigações decorrentes da filiação, aplicar-se-á a lei do domicílio familiar, que se 
estende aos cônjuges e aos filhos menores não emancipados.
Maria Helena Diniz salienta que “Preciso será esclarecer que não mais se considera a 
pessoa do marido em si, mas o domicílio da família, ou seja, de ambos os consortes, ou 
melhor, o do País onde o casal fixou domicílio logo após as núpcias, com intenção de 
constituir família e o seu centro negocial”, respeitando assim o princípio da igualdade 
jurídica dos cônjuges, representando um sistema familiar em que as decisões devem ser 
tomadas de comum acordo entre marido e mulher (arts. 1.567 e 1.569 do CC)32.
No que tange aos tutelados e curatelados, depois de assumido o encargo tutelar, em em 
virtude de estarem sob sua guarda, submeter-se-ão à lei domiciliar de seus tutores e 
curadores.
Assim, o § 7º do art. 7º trata do caso de domicílio internacional legal quando dispõe que, 
exceto na hipótese de abandono, o domicílio familiar, eleito pelo casal ou em alguns países 
pelo marido, estende-se ao outro cônjuge, quando for o caso, e aos filhos menores não 
emancipados, e o do tutor ou curador, aos incapazes sob sua guarda (Código Bustamante, 
art. 24).
§ 8º. Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de 
sua residência ou naquele em que se encontre.
O Código Bustamante, em seu artigo 26, preleciona que aquele que não tiver domicílio 
conhecido, considerar-se-á domiciliado no local de sua residênciaacidental ou naquele em 
que se encontrar, impossibilitando a hipótese de dupla residência.
Na falta do critério do domicílio, que é a conexão principal, a lei indica critérios de 
conexão subsidiários, ou seja, o lugar da residência ou daquele em que a pessoa se achar, 
aplicados sucessivamente na medida em que o anterior não possa preencher sua função, 
não se tratando de concurso cumulativo, mas sim sucessivo.
Art. 8º. Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á 
a lei do país em que estiverem situados.
A lei territorial é a que se aplica somente no território nacional, atendendo a interesses 
internos relativos à nação de origem, obrigando unicamente dentro do território, ou seja, o 
órgão judicante somente poderá aplicar no território nacional aquela norma. A lei é 
extraterritorial quando permite que o magistrado possa aplicar lei diversa de seu 
ordenamento jurídico, em relação a fatos ocorridos no seu território ou no estrangeiro, 
como por exemplo nas hipóteses em que o próprio art. 8º, §§ 1º e 2º da LICC dispõem.
O artigo 8º da LICC define a qualificação dos bens como territorial, já que a eles se 
aplicam as leis do país onde estiverem situados.
Sendo assim, o critério jurídico que visa a regular coisas móveis de situação permanente, 
incluindo as de uso pessoal ou imóveis (ius in re) é o da lex rei sitae, que importa na 
determinação do território, que é o espaço limitado no qual o Estado exerce competência. 
No que diz respeito ao regime da posse, da propriedade e dos direitos reais sobre coisa 
alheia, nenhuma lei poderá ter competência maior do que a do território onde se 
encontrarem os bens que constituem seu objeto33.
É importante ressaltar que a lex rei sitae regulará apenas os bens móveis ou imóveis 
considerados individualmente (uti singuli), pertencentes a nacionais ou estrangeiros, 
domiciliados no país ou não; enquanto que os bens uti universitas, como p. ex. o espólio e 
o patrimônio conjugal, são regidos pela lei reguladora da sucessão (lex domicilii do autor 
da herança), excetuando-se as hipóteses de desapropriação de imóvel de tutelado ou da 
massa falida, ocasiões em que os bens uti universitas também poderão ser disciplinados 
pela lex rei sitae.
Nas hipóteses de mudança de situação de um bem móvel, a lei que disciplina a nova 
situação deverá ser aplicada, respeitados os direitos adquiridos. Acerca do tema, Pillet e 
Neboyet afirmam que “todo o direito adquirido sobre um móvel corpóreo, na 
conformidade das disposições da lei do lugar da sua situação, deve ser respeitado no 
segundo país, para o qual tenha sido transportado, até que nasça um direito diferente, 
segundo a lei deste último país”34.
Em relação aos navios e aeronaves, os mesmos serão regidos pela lei do pavilhão, ou seja, 
pela lei do país em que estiverem matriculados e cuja competência só será afastada nos 
casos em que a ordem pública o exigir.
§ 1º. Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens 
moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.
O § 1º do art. 8º da LICC prevê a aplicação da lex domicilii do proprietário no que tange 
aos bens móveis que o mesmo trouxer consigo, para uso pessoal ou em razão de negócio 
mercantil, que podem transitar por vários lugares até chegar ao local de destino.
Em função da instabilidade de localização ou mesmo da mudança transitória de tais bens, 
afasta-se aqui a aplicação da lex rei sitae,aplicada aos bens localizados permanentemente, 
e aplica-se a lex domicilii de seu proprietário, ou seja, o direito de Estado no qual o mesmo 
tem domicílio, visando a atender interesses econômicos, políticos e práticos.
§ 2º. O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se 
encontre a coisa apenhada.
No que tange ao penhor, a LICC dispõe que a lei do domicílio do possuidor da coisa 
empenhada é que será aplicada, tanto no que diz respeito ao objeto sobre o qual recairá o 
direito real e quais seus efeitos, quanto nas questões atinentes à publicidade, à necessidade 
ou dispensa de tradição real para sua validade.
Importante salientar que pouco importará a localização do bem dado em penhor, pois pela 
lei este estará situado no domicílio do possuidor (fictio iuris) no momento de ser 
constituído o direito real de garantia, resguardando assim a segurança negocial, e 
garantindo direitos de terceiros.
Art. 9º. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se 
constituirem.
No que diz respeito às obrigações, o art. 9º da LICC dispõe que a lei do país onde se 
constituírem as mesmas é que serão aplicadas para qualificá-las e regê-las.
Em se tratando de obrigações ex lege, o art. 165 do Código Bustamante afirma que as 
mesmas serão regidas pelo direito que as estiver estabelecido, já que são conseqüência de 
uma relação jurídica principal, da qual são acessórias. Devido ao fato de não serem 
autônomas, acabam reguladas pela mesma lei que disciplina a relação principal.
As obrigações ex delicto, que são as decorrentes da prática de um ato ilícito, são regidas 
pela lei do lugar onde o delito foi cometido (lex loci delicti commissi), solucionando 
questões sobre causas justificativas e dirimentes, culpabilidade, qualificação do ato como 
ilícito, etc. No caso de o ilícito ter sido praticado em vários lugares, levar-se-á em conta o 
local onde ocorreu o último fato necessário para a caracterização da responsabilidade do 
lesante.
Em relação às obrigações convencionais (civis e comerciais) e as decorrentes de atos 
unilaterais, as mesmas se regerão a) quanto à forma ad probationem tantum (simplesmente 
para provar) e ad solemnitatem (para a solenidade) pela lei do local onde se originaram, ou 
seja, deve ser apreciada a forma da manifestação volitiva pelo direito vigente no local onde 
o ato for realizado. Importante ressaltar que essa norma somente vigorará no fórum que 
aceitar que o ato seja realizado no exterior, pela forma estabelecida no ius loci actus; b) 
quanto à capacidade, pela lei pessoal das partes (art. 7º) que é a lei domiciliar, observando-
se a ressalva em relação à ordem pública, uma vez que a lex fori não admitirá que produza 
efeito o ato que tiver conteúdo contrário à lei, à moral e ordem pública do país. Na 
hipótese de as partes estiverem domiciliadas em Estados diferentes, a capacidade de cada 
uma obedecerá à sua lei domiciliar35.
Necessária se faz a delimitação da norma que disciplina as condições intrínsecas dos atos 
jurídicos decorrentes da declaração de vontade, antes de analisar qual a lei competente para 
reger os efeitos das obrigações deles resultantes. Quando se tratar de ato unilateral, 
prevalecerá a lei pessoal do declarante, enquanto que nos atos bilaterais, como nos 
contratos, p. exemplo, existem cinco correntes doutrinárias: a) competência da lei pessoal 
dos contratantes, através da qual as declarações de vontade devem ser examinadas 
separadamente, cada uma de acordo com a lei do declarante (Frankenstein, Dreyfus, J. 
Aubry e Audinet); b) competência da lei do local da celebração negocial (Pillet e 
Neboyet); c) competência da lei que rege a relação constituída pelo ato jurídico (Machado 
Villela); d) competência da lei escolhida internacionalmente pelos contratantes para reger o 
acordo (proper law of the contractI ou applicable lawdos ingleses) e e) competência da lex 
fori nos conflitos de lei que surjam entre o Brasil e os países signatários do Código 
Bustamante (art. 177) e a da lei do local da constituição da obrigação entre os demais 
Estados que não o ratificaram36.
Em se tratando da forma extrínseca do ato, é a locus regis actum, norma de direito 
internacional privado, que é aceita pelos juristas para indicar a lei aplicável. Através dessa 
norma, o ato, revestido de forma externa prevista pela lei do lugar e do tempo ondefoi 
celebrado, será válido e poderá servir de como prova em qualquer local onde tiver que 
produzir efeitos.
Em se tratando de contratos internacionais, o princípio da autonomia da vontade não é 
acolhido como elemento de conexão para reger contratos na seara do direito internacional, 
preconizando a liberdade contratual dentro das limitações fixadas em lei, ou seja, a mesma 
só prevalecerá quando não for conflitante com norma imperativa ou ordem pública, 
ressaltando-se a previsão que a própria LICC faz em seu artigo 17 quando considera 
ineficaz qualquer ato que ofenda a ordem pública interna, a soberania nacional e os bons 
costumes. Isso não significa que o art. 9º afasta a autonomia da vontade, pois a 
manifestação da livre vontade dos contratantes é admitida pela LICC quando o for pela lei 
do contrato local, desde que observada a norma imperativa.
Nos casos em que a intenção do agente for de burlar a lei nacional, praticando negócio em 
país estrangeiro com o intuito de fugir às exigências da lei pátria, ou seja, tal ato não 
subsistirá, por tratar-se de fraude.
Obeservar-se-ão algumas exceções ao disposto no art. 9º da LICC, nas seguintes 
hipóteses37:
a) quando se tratar de contrato de trabalho, o mesmo deverá obedecer à lei do local da 
execução do serviço ou trabalho. O art. 6º da Convenção de Roma, de 1980, afirma que em 
se tratando de contrato individual de trabalho, a aplicação da lei escolhida não poderá 
privar o trabalhador da proteção que lhe for conferida pela lei: a) do país onde o 
trabalhador, ao executar o trabalho, habitualmente exerce seu ofício; b) do Estado em cujo 
território se encontra situada a empresa que contratou o empregado, que não realiza de 
modo habitual seu trabalho no mesmo país.
b) nas hipóteses dos contratos de transferência de tecnologia, pois nesses casos verificar-
se-á competência absoluta do direito pátrio interno, em consonância com o art. 17 da LICC 
e com os princípios de direito internacional econômico defendidos pelo Brasil, por tratar-
se de normas de ordem pública, garantindo interesses nacionais.
c) nos atos relativos à economia dirigida ou aos regimes de Bolsa e Mercados, que serão 
subordinados à lex loci solutionis (place of performance), filiando-se à lei do país de sua 
execução.
§ 1º. Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma 
essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto 
aos requisitos extrínsecos do ato.
De acordo com o disposto no § 1º do art. 9º da LICC, a obrigação contraída no exterior e 
executada no Brasil será observada segundo a lei brasileira, atendendo as peculiaridades da 
lei alienígena em relação à forma extrínseca.
Isto significa que a lei da constituição do local da obrigação mantém-se, pois admitidas 
serão suas peculiaridades, como a validade e a produção de seus efeitos, enquanto a lei 
brasileira será competente para disciplinar os atos e medidas necessárias para a execução 
da mesma em território nacional, tais como a tradição da coisa, forma de pagamento ou 
quitação, indenização nos casos de inadimplemento, etc.
Em relação aos contratos não exeqüíveis no Brasil, mas aqui acionáveis, não se aplicará o 
disposto no art. 9º, § 1º, da LICC, mas sim o locus regis actum, ou seja, a lei local é que 
regerá o ato.
§ 2º. A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir 
o proponente.
O lugar onde se tem por concluído o contrato é de fundamental importância para o direito 
internacional privado, já que através dele emanará qual a lei deverá ser aplicada para a 
disciplinar a relação contratual e também a apuração do foro competente.
O art. 9º, § 2º da LICC afirma que a obrigação resultante do contrato se constitui no lugar 
em que residir o proponente, sendo aplicável quando os contratantes estiverem em Estados 
diversos, enquanto que o art. 435 do Código Civil reputa celebrado o contrato no lugar em 
que foi proposto.
Maria Helena Diniz38 afirma que o verbo “residir” significa “estabelecer morada” ou 
“achar-se em”, “estar”, e é nessa última acepção que vem sendo empregado o disposto no § 
2º, do art. 9º da LICC, significando que o lugar em que residir o proponente seja o lugar 
onde estiver o proponente, afastando assim o critério domiciliar por entender que a adoção 
do elemento “residência” daria mais mobilidade aos negócios, já que não raro os mesmos 
se efetivam fora do domicílio dos contratantes.
Assim, de acordo com a LICC, a obrigação contratada entre ausentes será regida pela lei 
do país onde residir o proponente, não importando o momento ou local da celebração 
contratual, aplicando-se a lei do lugar onde foi feita a proposta. Em relação aos contratos 
entre presentes, no que diz respeito ao direito internacional, serão regidos pela lei do lugar 
em que foram contraídos, desconsiderando-se a nacionalidade, domicílio ou residência dos 
contratantes.
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que 
domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação 
dos bens.
O art. 10 da LICC abrange tanto a sucessão causa mortis (seja ela legítima ou 
testamentária) como também a sucessão por ausência.
Perante a teoria da unidade sucessória, que é a adotada pela LICC, a sucessão causa 
mortis deverá ser regida pelo lei do domicílio do de cujus, desprezando-se a nacionalidade 
do autor da herança e a de seu sucessor e a natureza e a situação dos bens, unificando a 
jurisdição do último domicílio do de cujus para apreciação de todas as questões relativas à 
sucessão e, desta forma, simplificando as questões oriundas da mesma.
Mesmo nos casos em que o finado tiver mais de uma residência (CC, art. 71), competente 
será o foro onde o inventário foi requerido primeiro.
Maria Helena Diniz39, ao tratar sobre o tema, afirma que a lei do domicílio do de cujus, no 
momento de sua morte, determinará: a) a instituição e a substituição da pessoa sucessível; 
b) a ordem de vocação hereditária, quando se tratar de sucessão legítima; c) a medida dos 
direitos sucessórios dos herdeiros ou legatários, sejam eles nacionais ou estrangeiros; d) os 
limites da capacidade de testar; e) a existência e a proporção da legítima do herdeiro 
necessário; f) a causa da deserdação; g) a colação; h) a redução das disposições 
testamentárias; i) a partilha dos bens do acervo hereditário; j) o pagamento das dívidas do 
espólio.
O art. 10 da LICC não faz menção expressa à comoriência ou morte simultânea, e nesses 
casos, observar-se-ão as leis de domicílio de cada um dos finados relativas à sucessão, de 
acordo com o disposto no art. 29 do Código Bustamante que dispõe que nos casos de 
presunções de sobrevivência ou de morte simultânea, quando não houver prova, as mesmas 
serão reguladas pela lei pessoal de cada um dos falecidos em relação à sua respectiva 
sucessão. Desta forma, tendo os comorientes domicílios diversos, a sua sucessão será 
regida pela lei pessoal de cada um.
Nos casos de morte presumida ou ausência, a lei domiciliar do ausente será aplicada, seja 
qual for a natureza e a localização dos bens que compõem seu patrimônio, no que diz 
respeito às condições da declaração de ausência e seus efeitos e aos direitos eventuais do 
ausente (Código Bustamante, arts. 73-83). Sendo assim, não é possível que a pessoa seja 
declarada ausente por juiz brasileiro quando a mesma não tiver tido seu domicílio em 
nosso país, assim como não será possível proceder à sucessão provisória, processar 
inventário e partilha e declarar presunção de morte, nos casos de sucessão definitiva.
§ 1º. A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei 
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, 
sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
Nos casosaventados pelo § 1º, em relação à sucessão de bens de estrangeiro situados no 
País, observa-se exceção à variação da ordem de vocação hereditária determinada pelo art. 
1829 do Código Civil40, não se aplicando o princípio de que a existência de herdeiro de 
uma classe exclui da sucessão os herdeiros da classe subseqüente.
A própria Constituição Federal, em seu art. 5º, XXXI, também prevê que “a sucessão de 
bens de estrangeiro situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do 
cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal 
dode cujus”.
A exceção se dá em relação à possibilidade de alteração da ordem da vocação hereditária 
pois, nos casos em que, se tratando de bens existentes no Brasil, de propriedade de 
estrangeiro falecido e casado com brasileira ou com filhos brasileiros, é aplicada a lei 
nacional dode cujus quando for mais vantajosa aos sucessores do que a lei brasileira.
Assim, estará a sucessão sujeita à aplicação da lei brasileira quando: a) os bens estiverem 
no Brasil; b) houverem cônjuge ou filhos brasileiros, ou quem os represente e c) quando a 
lei pessoal do de cujus não lhes for mais favorável.
Importante lembrar que anteriormente vigorava no Brasil o instituto do usufruto vidual, 
que admitia, nos casos de casamento entre brasileiro com estrangeira, a sucessão no 
usufruto de cônjuge supérstite. Hoje admite-se a sucessão no direito real de habitação, de 
acordo com o art. 1.831 do CC, no imóvel destinado à residência, quando este for o único 
do gênero a ser inventariado, em qualquer dos regimes de bens e sem prejuízo da 
participação que lhe caiba na herança.
§ 2º. A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.
A interpretação do § 2º, do art. 10 da LICC, deve ser feita com cuidado no que diz respeito 
à capacidade para suceder.
Maria Helena Diniz41, ao versar sobre o tema, ressalva que “se deve repelir toda e 
qualquer interpretação extensiva a esse dispositivo legal, devido à ambigüidade do termo 
‘capacidade para suceder’”. De acordo com a autora, é necessário que se distinga: a) a 
capacidade para ter direito à sucessão, que se sujeita à lei do domicílio do auctor 
sucessionis; b) da capacidade de agir em relação aos direitos sucessórios, ou seja, que tem 
a ver com a aptidão para suceder, para aceitar ou para exercer direitos do sucessor, que se 
subordina à lei pessoal do herdeiro ou sucessível.
Assim, importante reconhecer que o § 2º do art. 10 da LICC diz respeito à capacidade de 
exercer o direito de suceder, que é reconhecido pela lei domiciliar do autor da herança e 
regido pela lei pessoal do sucessor, enquanto que a capacidade para suceder é disciplinada 
pela lei do domicílio do falecido.
Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e 
as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem.
O artigo 11 da LICC impõe que a lei do Estado em que as pessoas jurídicas de direito 
privado se constituírem é que irá determinar as condições de sua existência ou do 
reconhecimento de sua personalidade jurídica, sendo o seu fórum competente para versar 
sobre sua criação, funcionamento e dissolução, pouco importando o lugar onde se dá o 
exercício de sua atividade.
A nacionalidade das pessoas jurídicas não é mencionada expressamente pela LICC, mas 
entende-se prevista implicitamente no art. 11 da LICC e expressamente nos arts. 1.126 a 
1.141 do Código Civil, quando é determinada pela lei na qual tem sua origem, pelo 
princípio locus regit actum.
§ 1º. Não poderão, entretanto. ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes 
de serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à 
lei brasileira.
O § 1º do art. 11 da LICC condiciona a abertura de filiais, agências ou estabelecimentos de 
pessoa jurídica estrangeira no Brasil à aprovação de seu estatuto social ou ato constitutivo 
pelo governo brasileiro, com o intuito de evitar fraudes à lei e fazendo com que a mesma 
se sujeite à lei brasileira, uma vez que adquirirá domicílio no Brasil (CC, arts. 1.134 a 
1.141).
Não será necessária a autorização governamental nos casos em que a pessoa jurídica 
estrangeira não pretenda fixar no Brasil agência ou filial, pois obedecerá à lei do país de 
sua constituição, sendo possível exercer atividade no Brasil desde que não contrária à 
nossa ordem social.
A competência para decidir e praticar os atos de funcionamento no Brasil de organizações 
estrangeiras destinadas a fins de interesse coletivo, incluindo-se aqui alterações de estatuto 
e cassação de autorização de funcionamento, ficou delegada ao Ministro de Estado de 
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, sendo vedada a subdelegação.
§ 2º. Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que 
eles tenham constituído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão 
adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptiveis de desapropriação.
O § 2º do art. 11 da LICC versa sobre as restrições submetidas às pessoas jurídicas de 
direito público em relação à aquisição, gozo e exercício de direito real no território 
brasileiro.
Tal posição se justifica pelo entendimento que a ausência de tais restrições representariam 
um perigo à soberania nacional, através da possível ocorrência de problemas diplomáticos. 
Maria Helena Diniz, ao tratar do tema, afirma que “as pessoas jurídicas de direito público 
externo, serão, por lei, absolutamente incapazes para adquirir a posse e a propriedade de 
imóvel situado no Brasil ou de bens suscetíveis de desapropriação, como direitos autorais, 
patentes de invenção, direitos reais sobre coisa alheia de fruição, ações de sociedade 
anônima, etc”42.
Tal impedimento dar-se-á não somente via testamento, como também através de qualquer 
título, como compra e venda, doação, permuta, etc.
§ 3º. Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários 
à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares.
O § 3º do art. 11 da LICC trata de exceção ao disposto no parágrafo anterior quando 
permite que as pessoas jurídicas de direito público possam adquirir prédios para sede de 
representantes diplomáticos ou agentes consulares, assegurando o livre exercício de 
funções diplomáticas e de atividades consulares.
Assim, o direito de propriedade imobiliária de um Estado estrangeiro ficará restrito ao 
edifício de sua embaixada, consulado e legações, necessários à prestação de serviços 
diplomáticos, e aos prédio residenciais dos agentes consulares e diplomáticos, mesmo que 
neles não se encontre a chancelaria.
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu 
domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
O art. 12 da LICC fixa a competência da autoridade judicial brasileira nos casos em que o 
réu, seja ele brasileiro ou estrangeiro, tenha domicílio no Brasil, podendo aqui ser 
intentada qualquer ação que lhes diga respeito. Nas hipóteses em que dois sejam réus e 
apenas um deles esteja aqui domiciliado, admite-se a competência do juiz que vier a tomar 
conhecimento da causa em primeiro lugar, de acordo com o princípio da prevenção.
Admite-se assim que o estrangeiro, aqui domiciliado ou não, possa comparecer, como 
autor ou réu, perante o tribunal brasileiro quando haja alguma controvérsia de seu 
interesse, desde que sua capacidade para estar em juízo obedeça à lex domicilii e com a 
ressalva da lex fori no que diz respeito a preceito de ordem pública (art. 7º da LICC).
Nos casos em que a obrigação for exeqüível no Brasil, competente será a autoridade 
brasileira, visto tratar-se de competência especial, prevalecendo sobre a competência do 
local onde a obrigação foi constituída e sobre a competência da lei domiciliar.
Alguns entendem que tal competênciaé obrigatória, enquanto parte da doutrina entende 
apenas que o seja em relação ao § 1º do art. 12, nas hipóteses de ações concernentes aos 
bens imóveis situados no Brasil, afirmando que o art. 12 da LICC c.c. os arts. 314 e 316 do 
Código Bustamante, contém norma supletiva, na medida que entende permitida a 
competência estrangeira nos casos em que o réu não for domiciliado no Brasil, se a 
obrigação não tiver que ser aqui executada e nos casos em que a ação não verse sobre 
imóveis situados no território brasileiro43.
§ 1º. Só à .autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações, relativas a 
imóveis situados no Brasil.
O § 1º do art. 12 da LICC diz respeito não só às ações reais imobiliárias mas sim a todas as 
ações que tratem de imóveis situados no Brasil e trata-se de norma compulsória, na medida 
que impõe a competência judiciária brasileira para processar e julgar ações que versem 
sobre imóveis situados no território brasileiro, competindo a nossa justiça fazer a 
qualificação do bem e a natureza da ação intentada.
Nas hipóteses de o imóvel estar localizado em países diversos, cada Estado será 
competente para julgar ação relativa à parcela do bem que se encontrar em seu território.
No que diz respeito às ações que versem sobre bens móveis, as mesmas deverão ser 
propostas no foro do domicílio do réu (CPC, art. 94) e quando tratarem sobre bens móveis 
que venham a se deslocar após proposta a demanda, será competente o foro do domicílio 
das partes no momento em que a ação foi proposta (CPC, art. 87).
§ 2º. A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e segundo a 
forma estabelecida pele lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade 
estrangeira competente, observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências.
A previsão do § 2º do art. 12 da LICC diz respeito ao cumprimento, pela autoridade 
judiciária brasileira, das cartas e comissões rogatórias com a finalidade de investigação, e 
das diligências deprecadas pelas autoridades locais competentes, satisfazendo o que lhes 
foi requerido pela autoridade estrangeira.
As cartas rogatórias são pedidos feitos pelo juiz de um país ao de outro solicitando a 
prática de atos processuais, sem caráter executório, e subordinam-se à lei do país rogante, 
no que tange ao conteúdo ou matéria de que são objeto e, em relação ao procedimento, são 
disciplinadas conforme a lei do país do rogado. As diligências de caráter executório, como 
por exemplo arresto e seqüestro, não poderão ser objeto de carta rogatória (RTJ, 
72:659,93:517 e 103:536).
Mesmo se referindo apenas à competência em sentido estrito, poderá o juiz levantar o 
conflito de jurisdição a ser decidido na forma da lei brasileira, pois o próprio art. 17 da 
LICC impede o cumprimento de rogatória quando a mesma for ofensiva à ordem pública e 
aos bons costumes, já que os atos processuais estão sujeitos à lex fori, sendo inadmitidos 
os que atentem contra a legislação brasileira.
A carta rogatória é remetida através da via diplomática e ao Procurador-Geral da República 
é dado vista da mesma para que possa impugná-la nos casos de contrariedade da ordem 
pública, soberania nacional ou falta de autenticidade. Uma vez concedido o exequatur ou 
“cumpra-se”, a rogatória é enviada ao juiz da comarca onde deverá ser cumprida a 
diligência, observado o direito estrangeiro quanto ao seu objeto. Tendo sido cumprida, a 
rogatória é devolvida à justiça rogante através do Ministério da Justiça.
No que diz respeito ao tema, Maria Helena Diniz afirma que oexequatur ou sua denegação 
não produzirão coisa julgada formal, motivo pelo qual os pedidos poderão ser renovados e 
as concessões revogadas quando se perceber, por exemplo, que para processar e julgar a 
causa, apenas a justiça brasileira é competente, pois o juiz rogado poderá resolver sobre 
sua própria competência ratione materiae para o ato que se lhe atribui (Código 
Bustamante, art. 390)44.
Tendo sido concedido o exequatur à carta rogatória, não será necessária a homologação da 
sentença que vier a ser prolatada por autoridade estrangeira no mesmo processo.
Sendo indispensável para o encerramento da instrução, a carta rogatória deverá ser 
devolvida, quando requerida antes do despacho saneador, suspendendo o processo até que 
seja devolvida. Nas outras hipóteses não terá efeito suspensivo, podendo ser pronunciada 
decisão sem a devolução da carta devidamente cumprida.
Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele 
vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais 
brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.
O art. 13 da LICC diz respeito à prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro, 
preconizando que a mesma será regida pela lei do lugar onde ocorrer (lex loci), enquanto 
que o ônus e meio de produzi-la serão regidos pela lex fori, não sendo admitida, no curso 
da ação, qualquer prova não autorizada pela lei do juiz, sob pena de contrariar o sistema da 
territorialidade da disciplina do processo.
No que diz respeito à apreciação das provas, a mesma dependerá da lei do juiz (Código 
Bustamente, art. 401), devendo o mesmo basear-se nas prescrições legais de seu país, 
averiguando:
a) a ilicitude do ato ou contrato;
b) a capacidade das pessoas que se obrigaram;
c) a observância das formas extrínsecas ou solenidades requeridas pela lei do lugar da 
celebração do ato (locus regit actum);
d) autenticidade do documento, que deverá estar traduzido no idioma usado no país da lex 
fori e legalizado pelo cônsul.
Importante ressaltar que mesmo o modo de produção de provas sendo de competência 
da lex fori, não pode-se em hipótese alguma, permitir quaisquer meios probatórios não 
autorizados pela lei do órgão judicante, ou seja, a prova do fato ocorrido no estrangeiro 
deve ser produzida por meio conhecido do direito pátrio, caso contrário não será aplicável 
por juiz local.
Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca 
prova do texto e da vigência.
Estando o magistrado diante de um caso de direito internacional privado, o mesmo deverá 
decidir se é aplicável o direito brasileiro ou o estrangeiro, e, verificando a inaplicabilidade 
da norma brasileira, determinará qual a legislação estrangeira aplicável àquele caso 
concreto. A aplicação da lei estrangeira pelo juiz pode ser dar ex officio, quando dela tenha 
conhecimento e mesmo sendo esta contra a vontade das partes.
Nos casos em que desconhecer a norma estrangeira, já que não é obrigado a conhecê-la e 
nem tem o dever de prová-la, é permitido ao juiz, pelo art. 14 da LICC, reclamar a prova 
do direito estrangeiro de quem a alega, tendo o juiz o dever de inteirar-se das normas 
mesmo quando não fornecida pelas partes.
Maria Helena Diniz, ao discorrer sobre o tema, dispõe que, a observância do direito 
estrangeiro, seja ex officio pelo juiz ou quando invocado pela parte litigante, poderá se dar 
das seguintes formas: a) o magistrado deverá aplicar a lei estrangeira, mesmo sem alegação 
e prova da parte interessada, sempre que o direito privado (lex fori) julgar competente 
aquela lei; b) se o juiz não conhecer o direito estrangeiro poderá exigir prova da parte a 
quem aproveita (CPC, art. 337); c) o interessado, sem a provocação do juiz, poderá alegar 
a lei que lhe é aplicável, propondo-se a provar sua sua existência e conteúdo e d) o órgão 
judicante poderá de ofício investigar a norma estrangeira alegada pela parte, se a prova 
apresentada não o convencer, não estando o mesmo adstrito às afirmações ou provas 
produzidas por ela.
Nos casos em que, mesmo tomando todas as providências necessárias, seja impossível 
determinar com segurança qual o direito alienígena deva ser aplicado, os juristas têm 
apontado algumas soluções, como: a) a conversão do julgamento em diligência; b) o

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