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ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 1 DIREITO DAS SUCESSÕES 2ª PARTE HERANÇA NA UNIÃO ESTÁVEL SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 2 SUCESSÃO NA UNIÃO ESTÁVEL 1 A ordem da vocação hereditária e a sucessão do companheiro sobrevivente. As regras do artigo 1.790 do Código Civil 1. “Status” sucessório do companheiro sobrevivente As pessoas unidas estavelmente são denominadas companheiros ou conviventes. Já os casados são chamados cônjuges. Falecido um dos companheiros, o outro passa a ser denominado de companheiro sobrevivente ou viúvo. Falecido um dos cônjuges, o outro passa a ser chamado de cônjuge sobrevivente ou viúvo. Os direitos sucessórios do cônjuge e do companheiro sobreviventes também são diferentes. Morrendo o companheiro, a herança será entregue e partilhada aos herdeiros conforme as regras previstas no artigo 1.790. Morrendo o cônjuge, a herança será entregue e partilhada aos herdeiros conforme as regras previstas nos artigos 1.829 e seguintes do Código Civil. . A Lei 8.971/94 que regulamentava a matéria garantia ao companheiro, na ausência de descendentes e ascendentes, o direito à totalidade da herança. O novo estatuto civil retrocedeu sob este aspecto porque estabelece que o companheiro sobrevivente só receberá a totalidade da herança se não houver parentes sucessíveis (descendentes, ascendentes e colaterais), conforme disposto no artigo 1790, IV. Assim o companheiro ocupa a quarta classe dos sucessíveis, ou seja, só terá a totalidade da herança se o falecido não tiver deixado nenhum descendente, ascendente ou colateral, é o que dispõe o inciso IV do artigo 1.790. STJ. FATO NOVO. UNIÃO ESTÁVEL. A aplicação do art. 462 do CPC (fato novo) não se restringe às instâncias ordinárias, devendo o STJ também observá-lo. Assim, visto que o recorrente trouxe aos autos sentença de reconhecimento de união estável entre ele e a autora da herança exarada após a interposição do REsp e diante da inexistência de descendentes ou ascendentes, há que aplicar o disposto no art. 2º, III, da Lei n. 8.971/1994 à sucessão aberta antes do CC/2002 e garantir a totalidade da herança ao companheiro pelo afastamento do colateral (irmão da falecida) do inventário. Precedentes citados: REsp 500.182-RJ, DJe 21/9/2009; REsp 688.151-MG, DJ 8/8/2005; REsp 12.673-RS, DJ 21/9/1992; REsp 747.619-SP, DJ 1º/7/2005, e REsp 397.168-SP, DJ 6/12/2004. Resp 704.637 RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/3/2011. O companheiro sobrevivente, diferentemente do cônjuge, não é herdeiro necessário (Art. 1.845), portanto, para excluí-lo da sucessão, basta elaborar testamento e dispor da parte disponível sem contemplá-lo. 2 Pressupostos para existência do direito sucessório do companheiro 2.1 Existência de união estável O concubinato (artigo 1.727) não cria entre os concubinos direitos sucessórios e sim direitos oriundos da sociedade de fato, provando a contribuição de cada um na aquisição de patrimônio. ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 3 Se, por outro lado, no momento da morte o “de cujus” estava unido estavelmente, o companheiro sobrevivente poderá ter direito sucessório nos termos do artigo 1.790, pouco importa o tempo de convivência, desde que não exista entre eles impedimento para casar (concubinato). Necessário salientar, contudo, que se o “de cujus” era casado, mas encontrava-se separado de fato, razoável, entender que o companheiro sobrevivente só terá direito hereditário se ficar comprovado que o falecido estava separado de fato há mais de dois anos, tendo em vista que antes deste prazo o “cônjuge so brevivente” terá garantido seu direito hereditário nos termos do artigo 1.830. O cônjuge sobrevivente só perderá direito hereditário se encontrar separado de fato por mais de dois anos. 2.2 Existência de bens adquiridos onerosamente na constãncia da união O caput do artigo 1790 do CC exclui claramente os direitos sucessórios do companheiro em relação aos bens adquiridos antes da união estável e em relação aos bens adquiridos na constância da união a título gratuito. O direito hereditário do companheiro sobrevivente refere-se tão somente aos bens adquiridos onerosamente na constância da união. Bens particulares do falecido não estão compreendidos no direito hereditário do convivente. Exemplo: Jairo é unido estavelmente com Neusa. Jairo e Neusa tem um filho. Jairo na constância da união estável compra vários bens avaliados em R$ 150.000,00. Jairo falece. Nesta situação Neusa terá direito a meação que corresponde a metade dos bens comprados e também parte na outra metade em razão de seu direito hereditário nos bens adquiridos na vigência da união estável. Neusa terá o direito de receber R$ 75.000,00 a título de meação, e, R$ 37.500,00 a título de herança. O filho tocará o valor de R$ 37.500,00 por ser herdeiro. Se estes bens fossem adquiridos pelo falecido antes da união estável, Neusa nada receberia, nem a título de meação, nem a título de herança. Não se deve esquecer que prevalece na união estável o regime da comunhão parcial de bens (artigo 1.725). Assim, dissolvido a união estável pela separação do casal ou pela morte surge o direito de meação em relação aos bens comprados na constância da união estável. Portanto, dependendo da situação fática, o viúvo terá direito a meação dos bens e também a herança. Neste sentido: SUCESSÃO – COMPANHEIRA SUPÉRSTITE – HERANÇA – FILHOS – Além da meação dos bens onerosamente adquiridos na vigência da união estável, a companheira também concorre na condição de herdeira do falecido companheiro nos termos do art. 1.790 do Código Civil. (TJRO – AC 100.001.2003.011930-7 – C.Cív. – Rel. Juiz Conv. Raduan Miguel Filho – J. 12.07.2005) 2.3 Concorrência do companheiro sobrevivente com os descendentes (artigo 1.790, I e II) Nos termos do inciso I do artigo 1790, se o companheiro sobrevivente concorrer com filhos comuns, receberá a mesma quota que couber àqueles. Em relação a este inciso, a III Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho da Justiça Federal, aprovou o seguinte enunciado: Aplica-se o inciso I do art. 1790 também na hipótese de concorrência do companheiro sobrevivente com outros descendentes comuns e não apenas na concorrência com filhos comuns. Se, porém o companheiro sobrevivente concorrer com descendentes só do autor da herança, terá direito a metade que couber a cada um deles (inciso II, art. 1790). Diferentemente da regra prevista no inciso em que a herança será partilhada igualmente entre o viúvo e os filhos comuns, a regra constante no inciso II determina a partilha desigual. O companheiro sobrevivente receberá menos que os filhos ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 4 exclusivos do falecido. Os filhos recebem duas vezes mais que o viúvo. Se o viúvo recebe a metade, o filho logicamente recebe o dobro. Exemplificando: José falece e deixa companheira sobrevivente e um filho de outro relacionamento. O patrimônio é constituído somente de bens comprados na constância da união estável, avaliados por R$ 120.000,00. A viúva terá direito de meação (R$ 60.000,00). Os outros R$ 60.000,00 constitui a herança a qual será distribuida aos herdeiros (a companheirae o filho) conforme a regra do inciso II do artigo 1.790. O filho recebe duas partes da herança (dobro) e a viúva uma parte (metade do filho). Dividindo-se os R$ 60.000,00 por três encontramos R$ 20.000,00. Assim, a viúva receberá R$ 20.000,00 (uma parte – metade) e o filho receberá R$ 40.000,00 (duas partes – dobro). Entendemos, ainda, que se houver descendentes comuns e descendentes incomuns (descendência hibrida), deve-se aplicar o disposto no inciso I do artigo já mencionado, ou seja, entende-se que todos são comuns e, portanto, o companheira receberá quota igual aos filhos, face a omissão legislativa. Ressalte-se contudo que esta posição não é pacífica: contra devendo aplicar o inciso II: Zeno Veloso e outros. A favor devendo aplicar o inciso I: Silvio de Salvo Venosa e outros. Há outro posicionamento em que, neste caso, deverá ser aplicadas regras de proporções matemáticas (Flávio Augusto Monteiro de Barros). 2.4 Concorrência do companheiro sobrevivente com ascendentes e colaterais (artigo 1.790, III) Se concorrer com outros parentes sucessíveis o companheiro sobrevivente terá direito a um terço da herança. Entende-se por outros parentes sucessíveis os ascendentes e colaterais até o quarto grau. O cônjuge sobrevivente na falta de descendentes e ascendentes herda tudo, é a regra do artigo 1.838 do CC. Esta regra não se aplica ao companheiro sobrevivente. Havendo colaterais estes também herdam juntamente com o companheiro o qual receberá um terço da herança. Exemplificando: José falece deixando a companheira sobrevivente, dois avós paternos e um avô materno. O patrimônio é constituído somente de bens comprados na constância da união estável, avaliados por R$ 120.000,00. A viúva terá direito de meação (R$ 60.000,00). Os outros R$ 60.000,00 constituem a herança a qual será distribuida aos herdeiros (a companheira e avós) conforme a regra do inciso III artigo 1.790, e, 1836, parágrafo 2º do CC. A viúva receberá 1/3 (R$ 20.000,00) e os avós o restante (R$ 40.000,00), sendo que os avós paternos recebem a metade (R$ 20.000,00) e o avô materno a outra metade (R$ 20.000,00) conforme regra prevista no parágrafo 2º do artigo 1.836 do CC. 2.5 O companheiro sobrevivente como herdeiro único Na ausência de descendentes, ascendentes e colaterais, o companheiro sobrevivente terá direito a totalidade da herança. Os artigos 1.790, inciso IV e 1844 deixam claro este direito, pouco importando se os bens foram ou não adquiridos na constância da união estável, assim é porque o município só terá a herança integralmente se não existirem cônjuge, companheiro, descendentes, ascendentes e colaterais. Portanto, se o falecido tiver deixado bens (adquiridos ou não na constância da união estável) e não existirem parentes sucessíveis a herança será entregue exclusivamente ao companheiro. 2.6 Direito real de habitação O parágrafo único do artigo 7º da lei 9.278, de 10 de maio de 1996 conferia direito real de habitação ao companheiro sobrevivente nos seguintes termos: ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 5 Dissolvida a união estável por morte de um dos conviventes, o sobrevivente terá direito real de habitação, enquanto viver ou não constituir nova união ou casamento, relativamente ao imóvel destinado à residência da família. Entretanto o novo Código Civil ao regular o direito sucessório do companheiro sobrevivente silenciou sobre o direito real de habitação, não obstante a doutrina e jurisprudência tem entendido que o companheiro sobrevivente tem sim direito real de habitação, aplicando-se neste caso o dispostos no artigo 1.831 do CC. O direito real de habitação deve ser estendido ao companheiro, seja por não ter sido revogada a previsão da Lei 9.278/96, seja em razão da interpretação analógica do artigo 1831, informado pelo artigo 6º da CF/88. (Enunciado 117 aprovado nas Jornadas de Direito Civil de 2002 promovido pelo Conselho de Justiça Federal) ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 6 SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA CAPÍTULO I DO TESTAMENTO EM GERAL 1 Conceito e fundamento da sucessão testamentária A sucessão testamentária é aquela em que a transmissão dos bens do falecido se opera por ato de última vontade formalizado através de um documento escrito e solene denominado testamento ou codicilo. Simplificando: é aquela em que a herança ou o legado são entregues às pessoas expressamente indicadas no testamento pelo falecido. Assim, uma pessoa é herdeira quando consta do rol do artigo 1829, ou, quando consta do rol apresentado pelo falecido no testamento. A lei faculta às pessoas, através de um documento escrito denominado testamento, transferirem parte ou a totalidade de seus bens a quem quiser desde que não existam herdeiros necessários, já que estes, por disposição expressa da lei (arts. 1789, 1846 e 1847), não podem ter sua quota hereditária afastada pelo testador, salvo no caso de deserdação (arts. 1961 a 1965). Ressalte-se, ainda, que os artigos 1788 e 1966 do CC admite a possibilidade de coexistirem as duas modalidades de sucessão (legítima e a testamentária) se o testamento não compreender todos os bens do testador. 2 Princípios da sucessão testamentária São dois os princípios que regem a sucessão testamentária: a) Autonomia da vontade: significa que a pessoa tem ampla liberdade de dispor de seu patrimônio através do testamento; b) Supremacia da ordem pública: é o princípio segundo o qual a lei restringe a liberdade de testar, proibindo que a pessoa disponha da totalidade de seus bens se tiver herdeiros necessários, ou, que contemple as pessoas indicadas no artigo 1801 do CC. O Código Civil acolheu ambos os princípios, ou seja, se não houver herdeiros necessários, o testador tem total liberdade de transferir seu patrimônio para quem quiser, exceto para as pessoas mencionadas nos artigos 1801 do CC. Destaca-se que o Código Civil em seu artigo 1849 permite que “que o herdeiro necessário, a quem o testador deixar sua parte disponível, ou algum legado continua tendo direito à legítima”. 3 O testamento 3.1 Conceito e conteúdo Testamento é um ato de última vontade pelo qual alguém dispõe dos seus bens para depois de sua morte e também faz outras disposições sem caráter patrimonial. ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 7 Regra geral, o testamento tem por conteúdo a disposição de bens (caráter patrimonial), entretanto, permite o legislador que se faça um testamento que contenha total ou parcialmente questões de outra ordem (parágrafo 2º, artigo 1.857). É o que ocorre quando o testador faz um testamento somente para nomear tutor ao filho (art. 1634 e 1728), para dispensar o herdeiro necessário da colação (art. 544), para revogar testamento (art. 1969), para reabilitar o indigno (art. 1818), para deserdar (art. 1964), para reconhecer filhos (art. 1609), instituir fundação (art. 64). 3.2 Características O testamento é um negócio jurídico destinado a produzir efeitos após a morte do autor da herança e diferencia-se dos outros negócios em razão das seguintes características: a) Unilateral: o testamento se aperfeiçoa somente com a vontade do testador e o cumprimento dos requisitos legais. A posterior aceitação do benefício pelo herdeiroou legatário é um outro ao ato unilateral, o qual não entra na formação de vontade do testador; b) Gratuito: As deixas testamentárias serão sempre gratuitas porque emanam de uma única vontade. Não há contraprestação. Entretanto alguns doutrinadores entendem que em se tratando de testamento com encargo (art. 1897), o herdeiro acaba sendo onerado (art. 1913), sendo, neste caso, o testamento considerado oneroso; c) Personalíssimo: O artigo 1858 proibe testar através de procurador ou deixar ao arbítrio de terceiro a escolha de herdeiro ou legatário (art. 1900, III e IV); d) Unipessoal: Cada instrumento (papel) deve conter apenas um testamento. Os cônjuges deverão utilizar instrumentos diferentes para elaborar testamento. No entanto, nada impede que, em instrumentos diferentes, pessoas, inclusive cônjuges, se instituam herdeiras umas das outras. e) Solene: o testamento deve obedecer as formalidades e solenidades descritas na lei, sendo inválido o testamento realizado sem a observância dos requisitos legais. Assim, para cada forma de testamento ordinário (público, cerrado e particular) existem solenidades ou requisitos a serem preenchidos sob pena de nulidade (art. 166, V); f) Revogável: O testamento poderá ser cancelado a qualquer tempo. Enquanto o testador viver, o testamento não passa de mero projeto. O Código Civil trata da revogação nos 1969 a 1972. A revogação pode ser expressa ou tácita. g) Causa mortis: Só produz efeitos após o óbito do autor da herança. Antes da morte nenhum direito oriundo do testamento podem pretender herdeiros ou legatários ali nomeados. Na realidade os herdeiros ou legatários nomeados no testamento tem mera expectativa de futuramente receber a herança ou legado, entretanto, esta expectativa poderá ser frustrada se o testador, por exemplo, revogar o testamento. ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 8 3.3 Da capacidade testamentária A capacidade testamentária é um dos requisitos de validade do testamento (artigo 166, I do CC). Em relação ao testamento, a capacidade será ativa e passiva. A capacidade testamentária ativa é a aptidão para fazer testamento e a capacidade testamentária passiva é a aptidão para herdeiro ou legatário no testamento. A incapacidade acarreta a nulidade total ou parcial do testamento. A regra estampada no artigo 1798 de que legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão é aplicável tanto na sucessão legítima como na sucessão testamentária. Logicamente somente as pessoas que estiverem vivas no momento do falecimento do de cujus é que estarão aptas a receberem a herança ou o legado, ficando, entretanto, assegurados os direitos sucessórios do nascituro que, apesar de ainda não ter nascido, receberá a herança ou o legado, mas condicionado ao nascimento com vida. Os concebidos (nascituros) dependem de nascer com vida. O nascituro no momento da morte é chamado a suceder como se fosse nascido. Se nascer vivo ser-lhe-á deferida a sucessão. Se nascer morto será considerado como se nunca tivesse existido. 4 Formas do testamento 4.1 Introdução Sendo o testamento um ato solene, a sua eficácia subordina-se às formas e solenidades previstas em lei (art. 166, IV, CC), sob pena de nulidade absoluta, que pode ser decretada de ofício pelo juiz (art. 168, par, único, CC). O Código Civil prevê três formas ordinárias de testamento: público, cerrado e particular. Prevê ainda três formas especiais de testamento: marítimo, o aeronáutico e o militar. 4.2 Formas de testamento Por ser o testamento um negócio jurídico solene, a lei exige que a vontade de dispor de bens após a morte seja manifestada na forma e de acordo com as solenidades previamente previstas na lei. Nos termos do artigo 166, incisos IV e V do Código Civil será nulo o testamento que não obedecer a forma ou as solenidades predeterminadas. O Código Civil prevê duas formas de testamento: a forma ordinária e a forma especial. Testamentos realizados sob a forma ordinária são aqueles escritos em condições normais e testamentos realizados sob a forma especial são aqueles elaborados em situações específicas e excepcionais ou extraordinárias. O artigo 1.862 esclarece que o testamento público, o testamento cerrado e o testamento particular são formas ordinárias de testamento. O artigo 1.886 relaciona que o testamento marítimo, o testamento aeronáutico e o testamento militar são formas especiais de testamento. Necessário esclarecer que qualquer outra forma de testamento não é válida. ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 9 4.3 Formas ordinárias de testamento Testamento público É o testamento escrito por oficial público, em seu livro de notas, conforme as declarações do testador, em presença de duas testemunhas. Tem capacidade testamentária ativa para fazer esta espécie de testamento o surdo e analfabeto e o cego, conforme espressamente prevê os artigos 1.865, 1.866 e 1.867. Não tem capacidade testamentária ativa o mudo posto que esta espécie de testamento exige-se a declaração de viva voz conforme interpretação doutrinária do artigo 1.864, I do Código Civil. Esta interpretação tem por base o Código Civil anterior que contemplava expressamente esta solenidade (viva voz). Testamento cerrado, secreto ou místico Escrito pelo próprio testador, ou alguém a seu rogo e entregue, depois, ao tabelião, na presença de duas testemunhas, para aprovação e devolução ao testador, em invólucro lacrado (arts. 1868 a 1875, CC). Morto o testador, o testamento cerrado será apresentado ao juiz que o abrirá e o fará registrar para ser devidamente cumprido (art. 1.875 do Código Civil e 1.125 do CPC). O testamento cerrado é elaborado em duas fases: a fase da cédula testamentária e a fase do auto de aprovação. Poderá ser escrito em língua nacional ou estrangeira (art. 1870). Tem capacidade testamentária ativa o surdo-mudo alfabetizado (1.873). Não tem capacidade testamentária ativa para fazer este testamento o cego e a pessoa que não saiba ou não possa ler por força dos artigos 1.867 e 1.872. Testamento particular ou hológrafo É aquele testamento escrito e assinado pelo testador (de próprio punho ou mecanicamente) e lido perante três testemunhas que o assinarão conforme as solenidades previstas nos artigos 1876 a 1880 do Código Civil. Morto o testador, será o testamento publicado em juízo, com a citação dos herdeiros, devendo ser ouvidas pelo menos uma testemunha (artigo 1.878). Este testamento pode ser escrito em língua estrangeira (art. 1880) desde que as testemunhas o compreendam. O artigo 1.879 permite testamento particular sem testemunhas desde que a sua realização ocorra em situação excepcional, tais como, o sequestro do testador. Nesta situação a pessoa poderá elaborar testamento particular sem testemunhas desde que declare expressamente o motivo excepcional que impossibilitou a presença de testemunhas. Somente a pessoa alfabetizada tem capacidade testamentária ativa para elaborar testamento particular, não se admitindo assinatura a rogo. 4.4 Formas especiais de testamento ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 10 São testamentos especiais o marítimo, o militar e o aeronáutico. Estes testamentos possuem duas características especiais: excepcionalidade (só podem ser feitos em situações extraordinárias,sob pena de nulidade) e provisoriedade (não terão eficácia se o testador não morrer nos noventas dias subsequentes). Testamento marítimo ou aeronáutico Estes testamentos podem ser públicos ou cerrados. Públicos quando ditados ao comandante em presença de duas testemunhas (art. 1888, CC). A outra forma assemelha-se ao testamento cerrado, sendo escrito pelo testador e apresentado ao comandante ou escrivão de bordo, perante duas testemunhas, para autenticação (art. 1889, CC). O testamento marítimo perde a sua validade se o testador não morrer dentro de três meses após o desembarque (art. 1891, CC). Testamento militar Há três modalidades de testamento militar. A primeira assemelha-se ao público, escrito pelo comandante ou oficial de saúde (art. 1893, §§ 1o, 2o, 3o). A segunda assemelha-se ao cerrado, escrito pelo testador e apresentado ao auditor, na presença de duas testemunhas, para autenticação (art. 1894, CC). A terceira forma é o nuncupativo, em que a pessoa em combate ou ferida confie sua última vontade a duas testemunhas (art. 1896, CC). O testamento nuncupativo é o testamento oral, não escrito. Esta espécie de testamento só é permitido para militares nas situações descritas no artigo 1.896 do Código Civil. O testamento nuncupativo é o único em que a lei admite a oralidade, os demais devem ser escritos, sob pena de nulidade absoluta. O testamento militar perde a validade se o testador não morrer na guerra ou em razão do ferimento. 5 Testemunhas testamentárias Testemunhas são as pessoas que têm capacidade para atestar a veracidade do que se quer provar, subscrevendo-o. Em todas as formas de testamento há intervenção necessária de testemunhas. São absolutamente incapazes de testemunhar: os menores de 16 anos (art. 228, I, CC); os que, por enfermidade ou doença mental, não tiverem discernimento (art. 228, II); os surdos e cegos (art. 228, III) e os analfabetos, já que a testemunha tem que assinar o instrumento de próprio punho, devendo ter compreensão daquilo que atesta. São relativamente incapazes de testemunhar: o herdeiro instituído, seus ascendentes, descendentes, irmãos e cônjuges (art. 228, IV e V), os legatários, seus ascendentes e descendentes, irmãos e cônjuges (art. 228, IV e V). ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 11 6 Do codicilo Codicilo é um documento particular escrito e assinado (hológrafo) pela própria pessoa, dispondo sobre seu enterro, sobre esmolas de pequena monta, móveis, roupas e jóias de pequeno valor, de seu uso pessoal. Neste documento a pessoa poderá nomear testamenteiros (art. 1883), perdoar indigno (art. 1818), nomear tutor (art. 1729) e também reconhecer filhos (art. 1.609). É documento autônomo porque sua existência independe de ter o “de cujus” deixado testamento. Entretanto, havendo testamento posterior e este não o confirmar, o codicilo considerar-se-á revogado. Por fim não se pode nomear ou deserdar herdeiros por codicilo. CAPÍTULO II DAS DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS EM GERAL 1 Introdução Inicialmente o legislador civil nos artigos 1.857 a 1896 se preocupou em estabelecer regras acerca dos elementos extrínsicos do testamento, quais sejam, capacidade testamentária, formas e os requisitos de validade do testamento. Os artigos 1.897 e seguintes do Código Civil passam a regulamentar o conteúdo do testamento os seus elementos intrínsicos, o seu teor, as suas disposições, as suas cláusulas ou deixas testamentárias. Assim, a lei não só se preocupa com o aspecto externo do testamento, mas também com sua parte interna. 2 Formas de nomeação de herdeiro ou legatário O testador ao nomear sucessor terá duas opções: indicar o bem que o sucessor irá receber após a morte ou ordenar que o sucessor receba a universalidade dos bens. No primei;ro caso temos o legado, e, no segundo temos a herança. Portanto, o testamento é meio idôneo para nomear herdeiros ou legatários. Exemplo de deixa testamentária nomeando herdeiro: Deixo para Paulo todo o meu patrimônio, ou, Deixo para Maria 1/3 do meu patrimônio. Paulo e Maria são herdeiros testamentários porque o testador não identificou o bem a ser recebido Exemplo de deixa testamentária nomeando legatário: Deixo para Paulo minha casa situada nesta cidade; Deixo para Maria minha fazenda no município de Goiânia GO. Paulo e Maria são legatários porque o testador idenficou os bens a serem recebidos por ambos. Conforme norma permissiva do artigo 1897, o herdeiro ou legatário poderá ser nomeado: a) Pura e simplesmente: é a nomeação sem qualquer limitação ou ônus ao direito. Exemplo: Deixo para Paulo minha parte disponível; b) Condicionalmente: é a nomeação que contém uma cláusula suspensiva ou extintiva do direito. Ex: Deixo para Paulo minha fazenda se casar com a minha irmã; c) Para certo fim ou modo: é um encargo imposto ao beneficiado. Exemplo: Deixo a fazenda para Paulo, devendo este contruir uma escola. ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 12 d) Por certo motivo: é a nomeação em que o testador explica porque escolheu determinada pessoa para ser seu sucessor. Ex: Deixo meu carro para Paulo porque foi um aluno exemplar. Necessário salientar que é proibido nomear herdeiro a termo, fixando prazo para iniciar ou terminar o direito do herdeiro (artigo 1.898). Por outro, lado não é proibido nomear legatário a termo. Somente é admissível fixar prazo para o direito do herdeiro nomeado se o testador fazer constar no testamento a chamada substituição fideicomissária (artigo 1.951). 3 Interpretação dos testamentos O ideal é que o conteúdo do testamento seja o mais claro, simples e objetivo possível com a finalidade de efetivamente ser cumprida a última vontade da pessoa expressa na cartula. Entretanto, se o testador não tomou estes cuidados necessário se faz necessária a intervenção do Magistrado para fazer prevalecer a interpretação que melhor assegure a observância da vontade do julgador é o que diz o artigo 1.899 do CC, devendo para isto atentar para a intenção do que a literalidade do texto (artigo 112 do CC). Sendo omissa ou obscura a cláusula testamentária, regra geral, o julgador deverá captar a vontade do testador diretamente do ato, exceto quando a cláusula contiver erro na designação do sucessor nomeado ou do objeto do legado. Neste caso o juiz esta autorizado a utilizar outros meios de provas, tais como documentos, para saber quem é o sucessor ou o descobrir qual o objeto legado (artigo 1.903). Não sendo possível esclarecer o erro ou entender o que o testador quis dizer a cláusula testamentária é invalidada, nada recebendo o herdeiro ou legatário nomeado passando o legado e a herança aos herdeiros legítimos. Por outro lado, a omissão do testador quanto ao quinhão de cada sucessor não invalidará a disposição e sim aplicar-se-á as regras interpretativas dos artigos 1.904 a 1.908, substituindo a vontade do testador. Exemplificando: Exemplo referente ao artigo 1.904: Nomeio como meus únicos herdeiros “A”, “B”, “C” e “D”. Face a omissão da parte que caberá a cada um, manda o artigo 1.904 partilhar por igual. Neste caso cada herdeiro ficará com 25% da herança. Exemplo referente ao artigo 1.905: Nomeio como meus únicos herdeiros “A”, “B” e o filhos de “C”. Vê-se que o testador nomeou “A” e “B” individualmente e os filhos de “C” coletivamente, não discriminando a parte que caberá a cada um. Neste caso o artigo 1.905 manda que a herança sejadividida em três partes, uma parte para “A” (1/3), outra parte para “B” (1/3) e os filhos de “C” (1/3) pouco importa quantos sejam. Finalmente, os artigos 1.906 a 1.908 traz outras regras lógicas de interpretação em face da omissão do testador. Assim, se o testamento não absorver toda a herança logicamente a sobra irá para os herdeiros legítimos (1.906); Se o testador dispor de toda a herança e determinar a quota de alguns herdeiros e de outros não, estes receberão em partes iguais o que restar (1.907), e, finalmente se por acaso o testador escrever que determinado bem (um carro) não será do herdeiro testamentário, este bem será entregue aos herdeiros legítimos (1.908). Vale ressaltar, ainda, que estas regras somente serão aplicadas se as disposições forem omissas. Regra geral, as normas da sucessão testamentária na realidade são normas supletivas à vontade do testador, ou seja, só serão aplicadas se o testador nada disser o contrário. ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 13 Entretanto, as regras proibitivas não podem ser alteradas pela vontade da pessoa, como por exemplo, a que proibe dispor de mais da metade da herança quando o testador tiver herdeiros necessários, ou a proibição de nomear as pessoas indicadas no artigo 1.801. Nestes casos, se houver violação destas normas, a vontade do testador não valerá nesta parte. 2 Nulidade das disposições testamentárias Os artigos 1.898 e 1.900 do CC proibem que o testador elabore determinadas cláusulas testamentárias. Assim, o artigo 1.898 proibe que o testador indique prazo para o herdeiro iniciar ou terminar o seu direito, todavia, quando se tratar de substituição fideicomissária admite-se a nomeação de herdeiro a termo conforme autorização do artigo 1.951. O artigo 1.900 estabelece ainda outras proibições: a) Não se pode instituir herdeiro ou legatário sob a condição de que este também disponha em testamento em seu favor ou de terceiro. Testamento não é troca de favores. Exemplo: Nomeio José meu herdeiro se ele também fizer um testamento me nomeando como seu herdeiro; b) Proibido a nomeação de pessoa incerta, cuja identidade não se possa verificar. Exemplo: Nomeio como único herdeiro a pessoa mais honesta da Capital Federal. Neste exemplo a pessoa não é identificada no testamento e muito menos é possível identificá-la posteriormente; c) Também não é permitido a nomeação de herdeiro ou legatário a ser escolhido por terceiro. Ora o testamento é um ato personalíssimo, portanto, quem escolhe o sucessor é o testador e mais ninguém. Assim, o testador não pode determinar que um terceiro escolha quem será seu herdeiro ou legatário. Exemplo: Deixo meu carro para a pessoa que meu amigo José escolher; 3 Cláusula de inalienabilidade O artigo 1911 do CC autoriza ao testador impor cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade, ressaltando que a cláusula de inalienabilidade implica necessariamente a impenhorabilidade e a incomunicabilidade. Nada obsta, porém, a inserção apenas da cláusula de impenhorabilidade e incomunicabilidade (restringe-se ao donatário casado no regime da comunhão universal de bens). Havendo herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge sobrevivente), o testador só poderá estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade sobre os bens da legítima declarando justa causa (art. 1848), como exemplo, alegando a prodigalidade do filho. Observe que mesmo em relação aos testamentos elaborados antes da vigência do atual Código Civil, o testador é obrigado a constar a justa causa, sob pena de não valer a restrição aos bens da legítima dos herdeiros necessários nos termos do artigo 2.042 do CC. ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 14 CAPÍTULO III DOS LEGADOS 1 Conceito Legado é uma coisa certa, individualizada ou não, que, por testamento ou codicilo é deixada para alguém chamada legatário. O herdeiro sucede a título universal, assumindo o lugar do morto. O legatário sucede a título singular, recebendo apenas a coisa concreta do acervo hereditário. O herdeiro responde pelas dívidas, o legatário não; O herdeiro poderá ajuizar ações possessórias porque tem a posse desde a abertura da sucessão; o legatário não, a posse só adquire, regra geral, após a partilha em processo de inventário. 2 Espécies de legado 2.1 Legado de coisa alheia Regra geral o legado de coisa certa que não pertença ao testador é ineficaz, ou seja, não produz efeitos. É irrelevante o fato de a coisa ter pertencido ao testador quando testou, posto que a existência ou não do legado será aferida no momento da abertura da sucessão e não da facção testamentária (art. 1.912). 2.2 Legado de coisa comum Ocorre quando a coisa legada pertencer ao testador e a outros condôminos (art. 1914) 2.3 Legado de coisa indicada pelo gênero ou espécie O artigo 1915 do CC abre uma das exceções em que não vale o legado de coisa alheia. Assim se o testador deixa a alguém um carro (gênero) ou um carro GM (espécie), o acervo deverá adquirir o bem, cumprindo-se o legado. O mesmo se aplica ao imóvel. 2.4 Legado de coisa certa ou individualizada Se o testador individualizar o legado, este só terá valor se existir entre os bens da herança quando da abertura da sucessão, caso contrário o legado será ineficaz. Exemplo: Deixo a Carlos meu carro, placa 000, chassis abcede15, VW, ano 1954. Se este carro não mais existir, Carlos não terá direito de pedi-lo ou receber o valor correspondente. 2.5 Legado de coisa localizada Refere-se a coisa que deve ser encontrada em determinado lugar. Ex: joiás e dinheiro em determinado Banco. Se houve remoção o legado será ineficaz. 2.6 Legado de crédito e quitação de dívida É a transferência do crédito do testador para o legatário. O espólio não responde pela existência do crédito ou solvência do devedor. Exemplo: Deixo a Carlos o valor de R$ 10.000 que tenho a receber de Alfredo. Se o testador em vida receber o crédito o legado caducará. ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 15 Legado de quitação de dívida é o perdão do testador da dívida. O legatário é o devedor da dívida. Este legado não compreende as dívidas posteriores ao testamento. Se houve o pagamento da dívida, o legado caduca. 2.7 Legado de alimentos, legado de usufruto e legado de renda Legado de alimentos abrange a cura e vestuário enquanto viver o legatário, e, se for menor também compreenderá a educação (art. 1920). Se o testador não fixar valor, o juiz fixará na medida da necessidade do legatário e possibilidade do espólio. Este legado pode ser imposto como encargo ao herdeiro. Exemplo: Paulo é meu herdeiro, desde que pague uma pensão alimentícia ao meu sobrinho Hugo no valor de R$ 1.000,00 mensais. Legado de usufruto é a instituição do usufruto por testamento. Exemplo: Deixo o usufruto da casa X para Alfredo. No silêncio o usufruto é vitalício. Legado de renda é o que deve ser pago em prestações periódicas. Pode ser vitalícia ou temporária. São devidas desde a morte do testador. 2.8 Legado de obrigação alternativa É o que recai sobre uma coisa ou outra. Exemplo: Deixo a Marcus o meu carro ou meu lote não edificado. No silêncio a escolha caberá ao herdeiro e não ao legatário. 3 Frutos da coisa legada Regra geral os frutos da coisa legada pertencemao legatário a partir da morte do testador, salvo se tratar-se de legado sob condição suspensiva e legado a termo inicial (são devidos a partir do implemento da condição ou do termo) e legado em dinheiro (são devidos os juros a partir da mora, ou seja, depende de notificação). 4 Encargos e entrega dos legados Conforme dispõe o artigo 1937, a coisa legada deverá ser entregue ao legatário com seus acessórios no lugar e estado em que se achava ao falecer o testador, passando ao legatário com todos os encargos que a oneram. Acessórios são os frutos, benfeitorias e pertenças. Encargos compreendem os direitos reais de garantia (penhor, hipoteca e anticrese) e os ônus que recaem sobre o bem (IPTU e taxa condominial). Finalmente, a coisa legada deve ser entregue no lugar em que se encontrava ao falecer o testador. 5 Pagamento do legado Conforme dispõe o artigo 1923, o legatário desde a abertura da sucessão adquire a propriedade da coisa legada infungível (certa), salvo se houver condição suspensiva. Entretanto a posse deverá ser pedida, portanto, necessário que se requeira a coisa legada certa ao juiz do inventário. Se o legado for de coisa incerta (fungível) a propriedade e a posse só serão adquiridos com a partilha. Observe-se que é possível a entrega antecipada desde que todos os herdeiros concordem. ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 16 Ressalta-se ainda que o direito de pedir o legado pode ser exercido desde a abertura da sucessão, exceto quando se tratar de legado sob termo, sob condição ou quando pendente ação de invalidade do testamento. 6 Caducidade dos legados O artigo 1939 relata as hipóteses de caducidade. Caducidade é a ineficácia do legado por fato posterior ao testamento. Ocorrendo a caducidade, o legado será revertido aos herdeiros legítimos do testador, salvo se houver direito de acrescer ou substituição. São fatos que acarretam a caducidade do legado: a) o testador modificar radicalmente a coisa legada, alterando-lhe a forma e a denominação (pano convertido em roupa, madeira em mobília, barra de ouro em pulseira, construção de uma casa no terreno não edificado - artigo 1922). b) o testador após a facção testamentária vender (inclusive para o próprio legatário, malgrado entendimentos contrários) ou doar o bem legado. c) o legatário falecer antes do testador, quando houver o perecimento da coisa legada, o legatário renunciar ou for declarado indigno, etc.
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