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RESUMO Sucessão Testamentária e Sucessão na União Estável (1)

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ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES 
Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 
 
 
 
 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO DAS SUCESSÕES 
2ª PARTE 
HERANÇA NA UNIÃO ESTÁVEL 
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES 
Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 
 
 
 
 2 
 
SUCESSÃO NA UNIÃO ESTÁVEL 
 
 
1 A ordem da vocação hereditária e a sucessão do companheiro sobrevivente. As 
regras do artigo 1.790 do Código Civil 
 
1. “Status” sucessório do companheiro sobrevivente 
 
 As pessoas unidas estavelmente são denominadas companheiros ou conviventes. Já os casados são 
chamados cônjuges. Falecido um dos companheiros, o outro passa a ser denominado de companheiro 
sobrevivente ou viúvo. Falecido um dos cônjuges, o outro passa a ser chamado de cônjuge sobrevivente 
ou viúvo. 
 
Os direitos sucessórios do cônjuge e do companheiro sobreviventes também são diferentes. 
Morrendo o companheiro, a herança será entregue e partilhada aos herdeiros conforme as regras previstas 
no artigo 1.790. Morrendo o cônjuge, a herança será entregue e partilhada aos herdeiros conforme as 
regras previstas nos artigos 1.829 e seguintes do Código Civil. . 
 
 A Lei 8.971/94 que regulamentava a matéria garantia ao companheiro, na ausência de 
descendentes e ascendentes, o direito à totalidade da herança. O novo estatuto civil retrocedeu sob este 
aspecto porque estabelece que o companheiro sobrevivente só receberá a totalidade da herança se não 
houver parentes sucessíveis (descendentes, ascendentes e colaterais), conforme disposto no artigo 1790, 
IV. 
 
Assim o companheiro ocupa a quarta classe dos sucessíveis, ou seja, só terá a totalidade da 
herança se o falecido não tiver deixado nenhum descendente, ascendente ou colateral, é o que dispõe o 
inciso IV do artigo 1.790. 
 
STJ. FATO NOVO. UNIÃO ESTÁVEL. A aplicação do art. 462 do CPC (fato novo) não se restringe às 
instâncias ordinárias, devendo o STJ também observá-lo. Assim, visto que o recorrente trouxe aos autos 
sentença de reconhecimento de união estável entre ele e a autora da herança exarada após a 
interposição do REsp e diante da inexistência de descendentes ou ascendentes, há que aplicar o 
disposto no art. 2º, III, da Lei n. 8.971/1994 à sucessão aberta antes do CC/2002 e garantir a 
totalidade da herança ao companheiro pelo afastamento do colateral (irmão da falecida) do 
inventário. Precedentes citados: REsp 500.182-RJ, DJe 21/9/2009; REsp 688.151-MG, DJ 8/8/2005; REsp 
12.673-RS, DJ 21/9/1992; REsp 747.619-SP, DJ 1º/7/2005, e REsp 397.168-SP, DJ 6/12/2004. Resp 
704.637 RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/3/2011. 
 
 O companheiro sobrevivente, diferentemente do cônjuge, não é herdeiro necessário (Art. 1.845), 
portanto, para excluí-lo da sucessão, basta elaborar testamento e dispor da parte disponível sem 
contemplá-lo. 
 
2 Pressupostos para existência do direito sucessório do companheiro 
 
 2.1 Existência de união estável 
 
O concubinato (artigo 1.727) não cria entre os concubinos direitos sucessórios e sim direitos 
oriundos da sociedade de fato, provando a contribuição de cada um na aquisição de patrimônio. 
ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES 
Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 
 
 
 
 3 
 
Se, por outro lado, no momento da morte o “de cujus” estava unido estavelmente, o companheiro 
sobrevivente poderá ter direito sucessório nos termos do artigo 1.790, pouco importa o tempo de 
convivência, desde que não exista entre eles impedimento para casar (concubinato). 
 
Necessário salientar, contudo, que se o “de cujus” era casado, mas encontrava-se separado de fato, 
razoável, entender que o companheiro sobrevivente só terá direito hereditário se ficar comprovado que o 
falecido estava separado de fato há mais de dois anos, tendo em vista que antes deste prazo o “cônjuge so 
brevivente” terá garantido seu direito hereditário nos termos do artigo 1.830. O cônjuge sobrevivente só 
perderá direito hereditário se encontrar separado de fato por mais de dois anos. 
 
 2.2 Existência de bens adquiridos onerosamente na constãncia da união 
 
O caput do artigo 1790 do CC exclui claramente os direitos sucessórios do companheiro em 
relação aos bens adquiridos antes da união estável e em relação aos bens adquiridos na constância da 
união a título gratuito. O direito hereditário do companheiro sobrevivente refere-se tão somente aos bens 
adquiridos onerosamente na constância da união. Bens particulares do falecido não estão compreendidos 
no direito hereditário do convivente. Exemplo: 
 
Jairo é unido estavelmente com Neusa. Jairo e Neusa tem um filho. Jairo na constância da união estável 
compra vários bens avaliados em R$ 150.000,00. Jairo falece. Nesta situação Neusa terá direito a meação 
que corresponde a metade dos bens comprados e também parte na outra metade em razão de seu direito 
hereditário nos bens adquiridos na vigência da união estável. Neusa terá o direito de receber R$ 75.000,00 a 
título de meação, e, R$ 37.500,00 a título de herança. O filho tocará o valor de R$ 37.500,00 por ser 
herdeiro. Se estes bens fossem adquiridos pelo falecido antes da união estável, Neusa nada receberia, nem a 
título de meação, nem a título de herança. 
 
 Não se deve esquecer que prevalece na união estável o regime da comunhão parcial de bens 
(artigo 1.725). Assim, dissolvido a união estável pela separação do casal ou pela morte surge o direito de 
meação em relação aos bens comprados na constância da união estável. Portanto, dependendo da situação 
fática, o viúvo terá direito a meação dos bens e também a herança. Neste sentido: 
 
SUCESSÃO – COMPANHEIRA SUPÉRSTITE – HERANÇA – FILHOS – Além da meação dos bens 
onerosamente adquiridos na vigência da união estável, a companheira também concorre na condição de 
herdeira do falecido companheiro nos termos do art. 1.790 do Código Civil. (TJRO – AC 
100.001.2003.011930-7 – C.Cív. – Rel. Juiz Conv. Raduan Miguel Filho – J. 12.07.2005) 
 
 2.3 Concorrência do companheiro sobrevivente com os descendentes (artigo 1.790, I e II) 
 
 Nos termos do inciso I do artigo 1790, se o companheiro sobrevivente concorrer com filhos 
comuns, receberá a mesma quota que couber àqueles. Em relação a este inciso, a III Jornada de Direito 
Civil, promovida pelo Conselho da Justiça Federal, aprovou o seguinte enunciado: 
 
Aplica-se o inciso I do art. 1790 também na hipótese de concorrência do companheiro sobrevivente com 
outros descendentes comuns e não apenas na concorrência com filhos comuns. 
 
 Se, porém o companheiro sobrevivente concorrer com descendentes só do autor da herança, terá 
direito a metade que couber a cada um deles (inciso II, art. 1790). Diferentemente da regra prevista no 
inciso em que a herança será partilhada igualmente entre o viúvo e os filhos comuns, a regra constante no 
inciso II determina a partilha desigual. O companheiro sobrevivente receberá menos que os filhos 
ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES 
Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 
 
 
 
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exclusivos do falecido. Os filhos recebem duas vezes mais que o viúvo. Se o viúvo recebe a metade, o 
filho logicamente recebe o dobro. Exemplificando: 
 
José falece e deixa companheira sobrevivente e um filho de outro relacionamento. O patrimônio é 
constituído somente de bens comprados na constância da união estável, avaliados por R$ 120.000,00. A 
viúva terá direito de meação (R$ 60.000,00). Os outros R$ 60.000,00 constitui a herança a qual será 
distribuida aos herdeiros (a companheirae o filho) conforme a regra do inciso II do artigo 1.790. O filho 
recebe duas partes da herança (dobro) e a viúva uma parte (metade do filho). Dividindo-se os R$ 60.000,00 
por três encontramos R$ 20.000,00. Assim, a viúva receberá R$ 20.000,00 (uma parte – metade) e o filho 
receberá R$ 40.000,00 (duas partes – dobro). 
 
 Entendemos, ainda, que se houver descendentes comuns e descendentes incomuns (descendência 
hibrida), deve-se aplicar o disposto no inciso I do artigo já mencionado, ou seja, entende-se que todos são 
comuns e, portanto, o companheira receberá quota igual aos filhos, face a omissão legislativa. 
 
Ressalte-se contudo que esta posição não é pacífica: contra devendo aplicar o inciso II: Zeno 
Veloso e outros. A favor devendo aplicar o inciso I: Silvio de Salvo Venosa e outros. Há outro 
posicionamento em que, neste caso, deverá ser aplicadas regras de proporções matemáticas (Flávio 
Augusto Monteiro de Barros). 
 
2.4 Concorrência do companheiro sobrevivente com ascendentes e colaterais (artigo 1.790, III) 
 
 Se concorrer com outros parentes sucessíveis o companheiro sobrevivente terá direito a um terço 
da herança. Entende-se por outros parentes sucessíveis os ascendentes e colaterais até o quarto grau. 
 
 O cônjuge sobrevivente na falta de descendentes e ascendentes herda tudo, é a regra do artigo 
1.838 do CC. Esta regra não se aplica ao companheiro sobrevivente. Havendo colaterais estes também 
herdam juntamente com o companheiro o qual receberá um terço da herança. Exemplificando: 
 
José falece deixando a companheira sobrevivente, dois avós paternos e um avô materno. O patrimônio é 
constituído somente de bens comprados na constância da união estável, avaliados por R$ 120.000,00. A 
viúva terá direito de meação (R$ 60.000,00). Os outros R$ 60.000,00 constituem a herança a qual será 
distribuida aos herdeiros (a companheira e avós) conforme a regra do inciso III artigo 1.790, e, 1836, 
parágrafo 2º do CC. A viúva receberá 1/3 (R$ 20.000,00) e os avós o restante (R$ 40.000,00), sendo que os 
avós paternos recebem a metade (R$ 20.000,00) e o avô materno a outra metade (R$ 20.000,00) conforme 
regra prevista no parágrafo 2º do artigo 1.836 do CC. 
 
 2.5 O companheiro sobrevivente como herdeiro único 
 
 Na ausência de descendentes, ascendentes e colaterais, o companheiro sobrevivente terá direito a 
totalidade da herança. Os artigos 1.790, inciso IV e 1844 deixam claro este direito, pouco importando se 
os bens foram ou não adquiridos na constância da união estável, assim é porque o município só terá a 
herança integralmente se não existirem cônjuge, companheiro, descendentes, ascendentes e colaterais. 
 
 Portanto, se o falecido tiver deixado bens (adquiridos ou não na constância da união estável) e não 
existirem parentes sucessíveis a herança será entregue exclusivamente ao companheiro. 
 
2.6 Direito real de habitação 
 
 O parágrafo único do artigo 7º da lei 9.278, de 10 de maio de 1996 conferia direito real de 
habitação ao companheiro sobrevivente nos seguintes termos: 
ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES 
Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 
 
 
 
 5 
 
Dissolvida a união estável por morte de um dos conviventes, o sobrevivente terá direito real de habitação, 
enquanto viver ou não constituir nova união ou casamento, relativamente ao imóvel destinado à residência 
da família. 
 
 Entretanto o novo Código Civil ao regular o direito sucessório do companheiro sobrevivente 
silenciou sobre o direito real de habitação, não obstante a doutrina e jurisprudência tem entendido que o 
companheiro sobrevivente tem sim direito real de habitação, aplicando-se neste caso o dispostos no artigo 
1.831 do CC. 
 
O direito real de habitação deve ser estendido ao companheiro, seja por não ter sido revogada a previsão da 
Lei 9.278/96, seja em razão da interpretação analógica do artigo 1831, informado pelo artigo 6º da CF/88. 
(Enunciado 117 aprovado nas Jornadas de Direito Civil de 2002 promovido pelo Conselho de Justiça 
Federal) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES 
Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 
 
 
 
 6 
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA 
 
CAPÍTULO I 
DO TESTAMENTO EM GERAL 
 
1 Conceito e fundamento da sucessão testamentária 
 
 A sucessão testamentária é aquela em que a transmissão dos bens do falecido se opera por ato de 
última vontade formalizado através de um documento escrito e solene denominado testamento ou 
codicilo. Simplificando: é aquela em que a herança ou o legado são entregues às pessoas expressamente 
indicadas no testamento pelo falecido. 
 
Assim, uma pessoa é herdeira quando consta do rol do artigo 1829, ou, quando consta do rol 
apresentado pelo falecido no testamento. 
 
A lei faculta às pessoas, através de um documento escrito denominado testamento, transferirem 
parte ou a totalidade de seus bens a quem quiser desde que não existam herdeiros necessários, já que 
estes, por disposição expressa da lei (arts. 1789, 1846 e 1847), não podem ter sua quota hereditária 
afastada pelo testador, salvo no caso de deserdação (arts. 1961 a 1965). 
 
 Ressalte-se, ainda, que os artigos 1788 e 1966 do CC admite a possibilidade de coexistirem as 
duas modalidades de sucessão (legítima e a testamentária) se o testamento não compreender todos os bens 
do testador. 
 
2 Princípios da sucessão testamentária 
 
São dois os princípios que regem a sucessão testamentária: 
 
a) Autonomia da vontade: significa que a pessoa tem ampla liberdade de dispor de seu patrimônio 
através do testamento; 
 
b) Supremacia da ordem pública: é o princípio segundo o qual a lei restringe a liberdade de testar, 
proibindo que a pessoa disponha da totalidade de seus bens se tiver herdeiros necessários, ou, que 
contemple as pessoas indicadas no artigo 1801 do CC. 
 
 O Código Civil acolheu ambos os princípios, ou seja, se não houver herdeiros necessários, o 
testador tem total liberdade de transferir seu patrimônio para quem quiser, exceto para as pessoas 
mencionadas nos artigos 1801 do CC. 
 
 Destaca-se que o Código Civil em seu artigo 1849 permite que “que o herdeiro necessário, a quem 
o testador deixar sua parte disponível, ou algum legado continua tendo direito à legítima”. 
 
3 O testamento 
 
 3.1 Conceito e conteúdo 
 
 Testamento é um ato de última vontade pelo qual alguém dispõe dos seus bens para depois de sua 
morte e também faz outras disposições sem caráter patrimonial. 
ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES 
Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 
 
 
 
 7 
 
 Regra geral, o testamento tem por conteúdo a disposição de bens (caráter patrimonial), entretanto, 
permite o legislador que se faça um testamento que contenha total ou parcialmente questões de outra 
ordem (parágrafo 2º, artigo 1.857). 
 
 É o que ocorre quando o testador faz um testamento somente para nomear tutor ao filho (art. 1634 
e 1728), para dispensar o herdeiro necessário da colação (art. 544), para revogar testamento (art. 1969), 
para reabilitar o indigno (art. 1818), para deserdar (art. 1964), para reconhecer filhos (art. 1609), instituir 
fundação (art. 64). 
 
 3.2 Características 
 
 O testamento é um negócio jurídico destinado a produzir efeitos após a morte do autor da herança 
e diferencia-se dos outros negócios em razão das seguintes características: 
 
a) Unilateral: o testamento se aperfeiçoa somente com a vontade do testador e o cumprimento dos 
requisitos legais. A posterior aceitação do benefício pelo herdeiroou legatário é um outro ao ato 
unilateral, o qual não entra na formação de vontade do testador; 
 
b) Gratuito: As deixas testamentárias serão sempre gratuitas porque emanam de uma única 
vontade. Não há contraprestação. Entretanto alguns doutrinadores entendem que em se tratando de 
testamento com encargo (art. 1897), o herdeiro acaba sendo onerado (art. 1913), sendo, neste caso, o 
testamento considerado oneroso; 
 
c) Personalíssimo: O artigo 1858 proibe testar através de procurador ou deixar ao arbítrio de 
terceiro a escolha de herdeiro ou legatário (art. 1900, III e IV); 
 
d) Unipessoal: Cada instrumento (papel) deve conter apenas um testamento. Os cônjuges deverão 
utilizar instrumentos diferentes para elaborar testamento. No entanto, nada impede que, em instrumentos 
diferentes, pessoas, inclusive cônjuges, se instituam herdeiras umas das outras. 
 
e) Solene: o testamento deve obedecer as formalidades e solenidades descritas na lei, sendo 
inválido o testamento realizado sem a observância dos requisitos legais. Assim, para cada forma de 
testamento ordinário (público, cerrado e particular) existem solenidades ou requisitos a serem preenchidos 
sob pena de nulidade (art. 166, V); 
 
f) Revogável: O testamento poderá ser cancelado a qualquer tempo. Enquanto o testador viver, o 
testamento não passa de mero projeto. O Código Civil trata da revogação nos 1969 a 1972. A revogação 
pode ser expressa ou tácita. 
 
g) Causa mortis: Só produz efeitos após o óbito do autor da herança. Antes da morte nenhum 
direito oriundo do testamento podem pretender herdeiros ou legatários ali nomeados. Na realidade os 
herdeiros ou legatários nomeados no testamento tem mera expectativa de futuramente receber a herança 
ou legado, entretanto, esta expectativa poderá ser frustrada se o testador, por exemplo, revogar o 
testamento. 
 
 
 
 
ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES 
Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 
 
 
 
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3.3 Da capacidade testamentária 
 
 A capacidade testamentária é um dos requisitos de validade do testamento (artigo 166, I do CC). 
Em relação ao testamento, a capacidade será ativa e passiva. A capacidade testamentária ativa é a aptidão 
para fazer testamento e a capacidade testamentária passiva é a aptidão para herdeiro ou legatário no 
testamento. A incapacidade acarreta a nulidade total ou parcial do testamento. 
 
 A regra estampada no artigo 1798 de que legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já 
concebidas no momento da abertura da sucessão é aplicável tanto na sucessão legítima como na sucessão 
testamentária. 
 
Logicamente somente as pessoas que estiverem vivas no momento do falecimento do de cujus é 
que estarão aptas a receberem a herança ou o legado, ficando, entretanto, assegurados os direitos 
sucessórios do nascituro que, apesar de ainda não ter nascido, receberá a herança ou o legado, mas 
condicionado ao nascimento com vida. 
 
 Os concebidos (nascituros) dependem de nascer com vida. O nascituro no momento da morte é 
chamado a suceder como se fosse nascido. Se nascer vivo ser-lhe-á deferida a sucessão. Se nascer morto 
será considerado como se nunca tivesse existido. 
 
4 Formas do testamento 
 
4.1 Introdução 
 
 Sendo o testamento um ato solene, a sua eficácia subordina-se às formas e solenidades previstas 
em lei (art. 166, IV, CC), sob pena de nulidade absoluta, que pode ser decretada de ofício pelo juiz (art. 
168, par, único, CC). 
 O Código Civil prevê três formas ordinárias de testamento: público, cerrado e particular. Prevê 
ainda três formas especiais de testamento: marítimo, o aeronáutico e o militar. 
 
4.2 Formas de testamento 
 
 Por ser o testamento um negócio jurídico solene, a lei exige que a vontade de dispor de bens após 
a morte seja manifestada na forma e de acordo com as solenidades previamente previstas na lei. Nos 
termos do artigo 166, incisos IV e V do Código Civil será nulo o testamento que não obedecer a forma ou 
as solenidades predeterminadas. 
 
 O Código Civil prevê duas formas de testamento: a forma ordinária e a forma especial. 
Testamentos realizados sob a forma ordinária são aqueles escritos em condições normais e testamentos 
realizados sob a forma especial são aqueles elaborados em situações específicas e excepcionais ou 
extraordinárias. 
 
 O artigo 1.862 esclarece que o testamento público, o testamento cerrado e o testamento particular 
são formas ordinárias de testamento. O artigo 1.886 relaciona que o testamento marítimo, o testamento 
aeronáutico e o testamento militar são formas especiais de testamento. Necessário esclarecer que qualquer 
outra forma de testamento não é válida. 
 
 
 
ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES 
Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 
 
 
 
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4.3 Formas ordinárias de testamento 
 
 Testamento público 
 
 É o testamento escrito por oficial público, em seu livro de notas, conforme as declarações do 
testador, em presença de duas testemunhas. 
 
 Tem capacidade testamentária ativa para fazer esta espécie de testamento o surdo e analfabeto e o 
cego, conforme espressamente prevê os artigos 1.865, 1.866 e 1.867. 
 
 Não tem capacidade testamentária ativa o mudo posto que esta espécie de testamento exige-se a 
declaração de viva voz conforme interpretação doutrinária do artigo 1.864, I do Código Civil. Esta 
interpretação tem por base o Código Civil anterior que contemplava expressamente esta solenidade (viva 
voz). 
 
 Testamento cerrado, secreto ou místico 
 
 Escrito pelo próprio testador, ou alguém a seu rogo e entregue, depois, ao tabelião, na presença de 
duas testemunhas, para aprovação e devolução ao testador, em invólucro lacrado (arts. 1868 a 1875, CC). 
Morto o testador, o testamento cerrado será apresentado ao juiz que o abrirá e o fará registrar para ser 
devidamente cumprido (art. 1.875 do Código Civil e 1.125 do CPC). 
 
O testamento cerrado é elaborado em duas fases: a fase da cédula testamentária e a fase do auto de 
aprovação. Poderá ser escrito em língua nacional ou estrangeira (art. 1870). 
 
Tem capacidade testamentária ativa o surdo-mudo alfabetizado (1.873). Não tem capacidade 
testamentária ativa para fazer este testamento o cego e a pessoa que não saiba ou não possa ler por força 
dos artigos 1.867 e 1.872. 
 
 Testamento particular ou hológrafo 
 
 É aquele testamento escrito e assinado pelo testador (de próprio punho ou mecanicamente) e lido 
perante três testemunhas que o assinarão conforme as solenidades previstas nos artigos 1876 a 1880 do 
Código Civil. 
 
 Morto o testador, será o testamento publicado em juízo, com a citação dos herdeiros, devendo ser 
ouvidas pelo menos uma testemunha (artigo 1.878). Este testamento pode ser escrito em língua 
estrangeira (art. 1880) desde que as testemunhas o compreendam. 
 
 O artigo 1.879 permite testamento particular sem testemunhas desde que a sua realização ocorra 
em situação excepcional, tais como, o sequestro do testador. Nesta situação a pessoa poderá elaborar 
testamento particular sem testemunhas desde que declare expressamente o motivo excepcional que 
impossibilitou a presença de testemunhas. 
 
 Somente a pessoa alfabetizada tem capacidade testamentária ativa para elaborar testamento 
particular, não se admitindo assinatura a rogo. 
 
4.4 Formas especiais de testamento 
 
ANOTAÇÕES DE DIREITO DAS SUCESSÕES 
Professor Luís Fernando Ferreira de Abreu 
 
 
 
 10 
 São testamentos especiais o marítimo, o militar e o aeronáutico. 
 
 Estes testamentos possuem duas características especiais: excepcionalidade (só podem ser feitos 
em situações extraordinárias,sob pena de nulidade) e provisoriedade (não terão eficácia se o testador não 
morrer nos noventas dias subsequentes). 
 
 Testamento marítimo ou aeronáutico 
 
 Estes testamentos podem ser públicos ou cerrados. Públicos quando ditados ao comandante em 
presença de duas testemunhas (art. 1888, CC). A outra forma assemelha-se ao testamento cerrado, sendo 
escrito pelo testador e apresentado ao comandante ou escrivão de bordo, perante duas testemunhas, para 
autenticação (art. 1889, CC). 
 
 O testamento marítimo perde a sua validade se o testador não morrer dentro de três meses após o 
desembarque (art. 1891, CC). 
 
 Testamento militar 
 
 Há três modalidades de testamento militar. A primeira assemelha-se ao público, escrito pelo 
comandante ou oficial de saúde (art. 1893, §§ 1o, 2o, 3o). A segunda assemelha-se ao cerrado, escrito pelo 
testador e apresentado ao auditor, na presença de duas testemunhas, para autenticação (art. 1894, CC). A 
terceira forma é o nuncupativo, em que a pessoa em combate ou ferida confie sua última vontade a duas 
testemunhas (art. 1896, CC). 
 
 O testamento nuncupativo é o testamento oral, não escrito. Esta espécie de testamento só é 
permitido para militares nas situações descritas no artigo 1.896 do Código Civil. 
 
 O testamento nuncupativo é o único em que a lei admite a oralidade, os demais devem ser escritos, 
sob pena de nulidade absoluta. 
 
 O testamento militar perde a validade se o testador não morrer na guerra ou em razão do 
ferimento. 
 
5 Testemunhas testamentárias 
 
 Testemunhas são as pessoas que têm capacidade para atestar a veracidade do que se quer provar, 
subscrevendo-o. Em todas as formas de testamento há intervenção necessária de testemunhas. 
 
 São absolutamente incapazes de testemunhar: os menores de 16 anos (art. 228, I, CC); os que, por 
enfermidade ou doença mental, não tiverem discernimento (art. 228, II); os surdos e cegos (art. 228, III) e 
os analfabetos, já que a testemunha tem que assinar o instrumento de próprio punho, devendo ter 
compreensão daquilo que atesta. 
 
 São relativamente incapazes de testemunhar: o herdeiro instituído, seus ascendentes, 
descendentes, irmãos e cônjuges (art. 228, IV e V), os legatários, seus ascendentes e descendentes, irmãos 
e cônjuges (art. 228, IV e V). 
 
 
 
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6 Do codicilo 
 
 Codicilo é um documento particular escrito e assinado (hológrafo) pela própria pessoa, dispondo 
sobre seu enterro, sobre esmolas de pequena monta, móveis, roupas e jóias de pequeno valor, de seu uso 
pessoal. Neste documento a pessoa poderá nomear testamenteiros (art. 1883), perdoar indigno (art. 1818), 
nomear tutor (art. 1729) e também reconhecer filhos (art. 1.609). 
 
 É documento autônomo porque sua existência independe de ter o “de cujus” deixado testamento. 
Entretanto, havendo testamento posterior e este não o confirmar, o codicilo considerar-se-á revogado. Por 
fim não se pode nomear ou deserdar herdeiros por codicilo. 
 
 
 
CAPÍTULO II 
DAS DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS EM GERAL 
 
 1 Introdução 
 
Inicialmente o legislador civil nos artigos 1.857 a 1896 se preocupou em estabelecer regras acerca 
dos elementos extrínsicos do testamento, quais sejam, capacidade testamentária, formas e os requisitos de 
validade do testamento. Os artigos 1.897 e seguintes do Código Civil passam a regulamentar o conteúdo 
do testamento os seus elementos intrínsicos, o seu teor, as suas disposições, as suas cláusulas ou deixas 
testamentárias. 
 
Assim, a lei não só se preocupa com o aspecto externo do testamento, mas também com sua parte 
interna. 
 
2 Formas de nomeação de herdeiro ou legatário 
 
O testador ao nomear sucessor terá duas opções: indicar o bem que o sucessor irá receber após a 
morte ou ordenar que o sucessor receba a universalidade dos bens. No primei;ro caso temos o legado, e, 
no segundo temos a herança. Portanto, o testamento é meio idôneo para nomear herdeiros ou legatários. 
 
Exemplo de deixa testamentária nomeando herdeiro: Deixo para Paulo todo o meu patrimônio, ou, 
Deixo para Maria 1/3 do meu patrimônio. Paulo e Maria são herdeiros testamentários porque o testador 
não identificou o bem a ser recebido 
 
Exemplo de deixa testamentária nomeando legatário: Deixo para Paulo minha casa situada nesta 
cidade; Deixo para Maria minha fazenda no município de Goiânia GO. Paulo e Maria são legatários 
porque o testador idenficou os bens a serem recebidos por ambos. 
 
Conforme norma permissiva do artigo 1897, o herdeiro ou legatário poderá ser nomeado: 
 
a) Pura e simplesmente: é a nomeação sem qualquer limitação ou ônus ao direito. Exemplo: 
Deixo para Paulo minha parte disponível; 
b) Condicionalmente: é a nomeação que contém uma cláusula suspensiva ou extintiva do 
direito. Ex: Deixo para Paulo minha fazenda se casar com a minha irmã; 
c) Para certo fim ou modo: é um encargo imposto ao beneficiado. Exemplo: Deixo a fazenda 
para Paulo, devendo este contruir uma escola. 
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d) Por certo motivo: é a nomeação em que o testador explica porque escolheu determinada 
pessoa para ser seu sucessor. Ex: Deixo meu carro para Paulo porque foi um aluno exemplar. 
 
Necessário salientar que é proibido nomear herdeiro a termo, fixando prazo para iniciar ou 
terminar o direito do herdeiro (artigo 1.898). Por outro, lado não é proibido nomear legatário a termo. 
 
Somente é admissível fixar prazo para o direito do herdeiro nomeado se o testador fazer constar no 
testamento a chamada substituição fideicomissária (artigo 1.951). 
 
3 Interpretação dos testamentos 
 
 O ideal é que o conteúdo do testamento seja o mais claro, simples e objetivo possível com a 
finalidade de efetivamente ser cumprida a última vontade da pessoa expressa na cartula. Entretanto, se o 
testador não tomou estes cuidados necessário se faz necessária a intervenção do Magistrado para fazer 
prevalecer a interpretação que melhor assegure a observância da vontade do julgador é o que diz o artigo 
1.899 do CC, devendo para isto atentar para a intenção do que a literalidade do texto (artigo 112 do CC). 
 
 Sendo omissa ou obscura a cláusula testamentária, regra geral, o julgador deverá captar a vontade 
do testador diretamente do ato, exceto quando a cláusula contiver erro na designação do sucessor 
nomeado ou do objeto do legado. Neste caso o juiz esta autorizado a utilizar outros meios de provas, tais 
como documentos, para saber quem é o sucessor ou o descobrir qual o objeto legado (artigo 1.903). 
 
 Não sendo possível esclarecer o erro ou entender o que o testador quis dizer a cláusula 
testamentária é invalidada, nada recebendo o herdeiro ou legatário nomeado passando o legado e a 
herança aos herdeiros legítimos. 
 
 Por outro lado, a omissão do testador quanto ao quinhão de cada sucessor não invalidará a 
disposição e sim aplicar-se-á as regras interpretativas dos artigos 1.904 a 1.908, substituindo a vontade do 
testador. Exemplificando: 
 
Exemplo referente ao artigo 1.904: Nomeio como meus únicos herdeiros “A”, “B”, “C” e “D”. Face a 
omissão da parte que caberá a cada um, manda o artigo 1.904 partilhar por igual. Neste caso cada herdeiro 
ficará com 25% da herança. 
 
Exemplo referente ao artigo 1.905: Nomeio como meus únicos herdeiros “A”, “B” e o filhos de “C”. Vê-se 
que o testador nomeou “A” e “B” individualmente e os filhos de “C” coletivamente, não discriminando a 
parte que caberá a cada um. Neste caso o artigo 1.905 manda que a herança sejadividida em três partes, 
uma parte para “A” (1/3), outra parte para “B” (1/3) e os filhos de “C” (1/3) pouco importa quantos sejam. 
 
 Finalmente, os artigos 1.906 a 1.908 traz outras regras lógicas de interpretação em face da omissão 
do testador. Assim, se o testamento não absorver toda a herança logicamente a sobra irá para os herdeiros 
legítimos (1.906); Se o testador dispor de toda a herança e determinar a quota de alguns herdeiros e de 
outros não, estes receberão em partes iguais o que restar (1.907), e, finalmente se por acaso o testador 
escrever que determinado bem (um carro) não será do herdeiro testamentário, este bem será entregue aos 
herdeiros legítimos (1.908). 
 
 Vale ressaltar, ainda, que estas regras somente serão aplicadas se as disposições forem omissas. 
Regra geral, as normas da sucessão testamentária na realidade são normas supletivas à vontade do 
testador, ou seja, só serão aplicadas se o testador nada disser o contrário. 
 
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 Entretanto, as regras proibitivas não podem ser alteradas pela vontade da pessoa, como por 
exemplo, a que proibe dispor de mais da metade da herança quando o testador tiver herdeiros necessários, 
ou a proibição de nomear as pessoas indicadas no artigo 1.801. Nestes casos, se houver violação destas 
normas, a vontade do testador não valerá nesta parte. 
 
2 Nulidade das disposições testamentárias 
 
 Os artigos 1.898 e 1.900 do CC proibem que o testador elabore determinadas cláusulas 
testamentárias. Assim, o artigo 1.898 proibe que o testador indique prazo para o herdeiro iniciar ou 
terminar o seu direito, todavia, quando se tratar de substituição fideicomissária admite-se a nomeação de 
herdeiro a termo conforme autorização do artigo 1.951. 
 
 O artigo 1.900 estabelece ainda outras proibições: 
 
 a) Não se pode instituir herdeiro ou legatário sob a condição de que este também disponha em 
testamento em seu favor ou de terceiro. Testamento não é troca de favores. Exemplo: Nomeio José meu 
herdeiro se ele também fizer um testamento me nomeando como seu herdeiro; 
 
 b) Proibido a nomeação de pessoa incerta, cuja identidade não se possa verificar. Exemplo: 
Nomeio como único herdeiro a pessoa mais honesta da Capital Federal. Neste exemplo a pessoa não é 
identificada no testamento e muito menos é possível identificá-la posteriormente; 
 
 c) Também não é permitido a nomeação de herdeiro ou legatário a ser escolhido por terceiro. 
Ora o testamento é um ato personalíssimo, portanto, quem escolhe o sucessor é o testador e mais 
ninguém. Assim, o testador não pode determinar que um terceiro escolha quem será seu herdeiro ou 
legatário. Exemplo: Deixo meu carro para a pessoa que meu amigo José escolher; 
 
 
3 Cláusula de inalienabilidade 
 
 O artigo 1911 do CC autoriza ao testador impor cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e 
incomunicabilidade, ressaltando que a cláusula de inalienabilidade implica necessariamente a 
impenhorabilidade e a incomunicabilidade. Nada obsta, porém, a inserção apenas da cláusula de 
impenhorabilidade e incomunicabilidade (restringe-se ao donatário casado no regime da comunhão 
universal de bens). 
 
 Havendo herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge sobrevivente), o testador só 
poderá estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade sobre os bens da 
legítima declarando justa causa (art. 1848), como exemplo, alegando a prodigalidade do filho. 
 
 Observe que mesmo em relação aos testamentos elaborados antes da vigência do atual Código 
Civil, o testador é obrigado a constar a justa causa, sob pena de não valer a restrição aos bens da legítima 
dos herdeiros necessários nos termos do artigo 2.042 do CC. 
 
 
 
 
 
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CAPÍTULO III 
DOS LEGADOS 
 
1 Conceito 
 
 Legado é uma coisa certa, individualizada ou não, que, por testamento ou codicilo é deixada para 
alguém chamada legatário. 
 
 O herdeiro sucede a título universal, assumindo o lugar do morto. O legatário sucede a título 
singular, recebendo apenas a coisa concreta do acervo hereditário. O herdeiro responde pelas dívidas, o 
legatário não; O herdeiro poderá ajuizar ações possessórias porque tem a posse desde a abertura da 
sucessão; o legatário não, a posse só adquire, regra geral, após a partilha em processo de inventário. 
 
2 Espécies de legado 
 
2.1 Legado de coisa alheia 
 
 Regra geral o legado de coisa certa que não pertença ao testador é ineficaz, ou seja, não produz 
efeitos. É irrelevante o fato de a coisa ter pertencido ao testador quando testou, posto que a existência ou 
não do legado será aferida no momento da abertura da sucessão e não da facção testamentária (art. 1.912). 
 
2.2 Legado de coisa comum 
 
 Ocorre quando a coisa legada pertencer ao testador e a outros condôminos (art. 1914) 
 
2.3 Legado de coisa indicada pelo gênero ou espécie 
 
 O artigo 1915 do CC abre uma das exceções em que não vale o legado de coisa alheia. Assim se o 
testador deixa a alguém um carro (gênero) ou um carro GM (espécie), o acervo deverá adquirir o bem, 
cumprindo-se o legado. O mesmo se aplica ao imóvel. 
 
2.4 Legado de coisa certa ou individualizada 
 
 Se o testador individualizar o legado, este só terá valor se existir entre os bens da herança quando 
da abertura da sucessão, caso contrário o legado será ineficaz. Exemplo: Deixo a Carlos meu carro, placa 
000, chassis abcede15, VW, ano 1954. Se este carro não mais existir, Carlos não terá direito de pedi-lo ou 
receber o valor correspondente. 
 
2.5 Legado de coisa localizada 
 
 Refere-se a coisa que deve ser encontrada em determinado lugar. Ex: joiás e dinheiro em 
determinado Banco. Se houve remoção o legado será ineficaz. 
 
2.6 Legado de crédito e quitação de dívida 
 
 É a transferência do crédito do testador para o legatário. O espólio não responde pela existência do 
crédito ou solvência do devedor. Exemplo: Deixo a Carlos o valor de R$ 10.000 que tenho a receber de 
Alfredo. Se o testador em vida receber o crédito o legado caducará. 
 
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 Legado de quitação de dívida é o perdão do testador da dívida. O legatário é o devedor da dívida. 
Este legado não compreende as dívidas posteriores ao testamento. Se houve o pagamento da dívida, o 
legado caduca. 
 
2.7 Legado de alimentos, legado de usufruto e legado de renda 
 
 Legado de alimentos abrange a cura e vestuário enquanto viver o legatário, e, se for menor 
também compreenderá a educação (art. 1920). Se o testador não fixar valor, o juiz fixará na medida da 
necessidade do legatário e possibilidade do espólio. Este legado pode ser imposto como encargo ao 
herdeiro. Exemplo: Paulo é meu herdeiro, desde que pague uma pensão alimentícia ao meu sobrinho 
Hugo no valor de R$ 1.000,00 mensais. 
 
 Legado de usufruto é a instituição do usufruto por testamento. Exemplo: Deixo o usufruto da casa 
X para Alfredo. No silêncio o usufruto é vitalício. 
 
 Legado de renda é o que deve ser pago em prestações periódicas. Pode ser vitalícia ou temporária. 
São devidas desde a morte do testador. 
 
2.8 Legado de obrigação alternativa 
 
 É o que recai sobre uma coisa ou outra. Exemplo: Deixo a Marcus o meu carro ou meu lote não 
edificado. No silêncio a escolha caberá ao herdeiro e não ao legatário. 
 
3 Frutos da coisa legada 
 
 Regra geral os frutos da coisa legada pertencemao legatário a partir da morte do testador, salvo se 
tratar-se de legado sob condição suspensiva e legado a termo inicial (são devidos a partir do implemento 
da condição ou do termo) e legado em dinheiro (são devidos os juros a partir da mora, ou seja, depende de 
notificação). 
 
4 Encargos e entrega dos legados 
 
 Conforme dispõe o artigo 1937, a coisa legada deverá ser entregue ao legatário com seus 
acessórios no lugar e estado em que se achava ao falecer o testador, passando ao legatário com todos os 
encargos que a oneram. 
 
 Acessórios são os frutos, benfeitorias e pertenças. Encargos compreendem os direitos reais de 
garantia (penhor, hipoteca e anticrese) e os ônus que recaem sobre o bem (IPTU e taxa condominial). 
 
 Finalmente, a coisa legada deve ser entregue no lugar em que se encontrava ao falecer o testador. 
 
5 Pagamento do legado 
 
 Conforme dispõe o artigo 1923, o legatário desde a abertura da sucessão adquire a propriedade da 
coisa legada infungível (certa), salvo se houver condição suspensiva. Entretanto a posse deverá ser 
pedida, portanto, necessário que se requeira a coisa legada certa ao juiz do inventário. 
 
 Se o legado for de coisa incerta (fungível) a propriedade e a posse só serão adquiridos com a 
partilha. Observe-se que é possível a entrega antecipada desde que todos os herdeiros concordem. 
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 Ressalta-se ainda que o direito de pedir o legado pode ser exercido desde a abertura da sucessão, 
exceto quando se tratar de legado sob termo, sob condição ou quando pendente ação de invalidade do 
testamento. 
 
6 Caducidade dos legados 
 
 O artigo 1939 relata as hipóteses de caducidade. 
 
Caducidade é a ineficácia do legado por fato posterior ao testamento. Ocorrendo a caducidade, o 
legado será revertido aos herdeiros legítimos do testador, salvo se houver direito de acrescer ou 
substituição. 
 
São fatos que acarretam a caducidade do legado: 
a) o testador modificar radicalmente a coisa legada, alterando-lhe a forma e a denominação (pano 
convertido em roupa, madeira em mobília, barra de ouro em pulseira, construção de uma casa 
no terreno não edificado - artigo 1922). 
 
b) o testador após a facção testamentária vender (inclusive para o próprio legatário, malgrado 
entendimentos contrários) ou doar o bem legado. 
 
c) o legatário falecer antes do testador, quando houver o perecimento da coisa legada, o legatário 
renunciar ou for declarado indigno, etc.

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