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A Censura à Imprensa durante o Estado Novo

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1. Imagem da SIC Notícias 
 
 
 
 
A Censura à Imprensa 
durante o Estado Novo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade Curricular: 
 História dos Media 
Docente: 
 Prof. Francisco Rui Cádima 
Discentes: 
 Rita Robalo Rosa nº 48527; 
 Rui Pedro Gonçalves Pereira nº 48528 
Ciências da Comunicação – 2º Semestre (2015/16) 
Pág. 2 
 
Índice 
 
Introdução .............................................................................................. 3 
Contextualização ..................................................................................... 3 
 Portugal e a Imprensa antes da Ditadura .................................................... 3 
 Portugal Ditatorial e a (re)instauração da Censura ......................................... 6 
 O que é a Censura e as suas implicações ................................................... 8 
A Imprensa durante a Censura ................................................................. 10 
Os exemplos mais predominantes ............................................................ 10 
A sua distribuição geográfica ................................................................... 15 
As práticas da Imprensa e como reagia à Censura ....................................... 16 
O Impacto Social da Imprensa ................................................................. 18 
O papel da Imprensa ao longo da Ditadura ................................................ 19 
Transição de Regimes: da Censura à Liberdade .......................................... 21 
Conclusão ............................................................................................ 22 
Referências Bibliográficas ....................................................................... 23 
Anexos ................................................................................................ 24 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 3 
 
Introdução 
No presente trabalho vamos abordar um tema sensível à sociedade portuguesa, 
em especial para a comunicação social: a Censura. O nosso trabalho focar-se-á na 
área da Imprensa, já estudada por alguns autores, nomeadamente Graça Franco no 
seu livro A Censura à Imprensa (1993). 
Apesar de nos focalizarmos na Imprensa, vamos apresentar uma breve 
contextualização da censura antes do Estado Novo, o seu ressurgimento e depois 
iremos falar da censura à Imprensa revelando os exemplos mais importantes, o seu 
desenvolvimento, o seu impacto social e o seu papel na transição de regimes. 
Com este trabalho pretendemos analisar especialmente as suas reações aos 
sucessivos cortes, as suas práticas, os exemplos mais importantes e o seu impacto 
social. O objetivo do trabalho é responder à seguinte questão: “Qual o papel da 
Imprensa no Estado Novo e após esse período?” 
 
Contextualização 
Portugal e a Imprensa antes da Ditadura 
Entre a Primeira República e o estabelecimento do Estado Novo, Portugal viveu 
anos bastante atribulados no que diz respeito a assuntos de carácter político. Devido 
à instabilidade política, de 1910 a 1926, a liberdade de expressão varia consoante o 
Governo que toma posse, contudo “as mudanças governativas não implicam, na 
maioria dos casos, alterações legislativas” (Franco, 1993, p. 9). Apesar disto, não foi 
com o 28 de maio que a estabilidade política voltou. 
Até chegar ao fim, a Monarquia “respeitara as regras do liberalismo, mantendo 
intocada a Liberdade de Imprensa.” (Franco, 1993, p. 35). Devido a isso, muitos 
jornais constituíram-se nessa altura, mas muitos eram republicanos, tendo papéis 
decisivos no “derrube do velho regime” – referindo-se à Monarquia – (apud Franco, 
1993, p. 35). O princípio da liberdade é aclamado com a Primeira República e logo 
na primeira Constituição republicana é consagrado o direito de livre expressão do 
Pág. 4 
 
pensamento “sem dependência de caução, censura ou autorização prévia” (Franco, 
1993, p. 37). O direito consagrado na Constituição demonstra o respeito que os 
republicanos tinham pela liberdade de expressão e “revoga a lei repressiva de 1907 
que João Franco lançara (…) numa última tentativa de calar a Oposição.” (Franco, 
1993, p. 37). Contudo – e não fosse este um período ambíguo – uns dias mais tarde 
foram proíbidas as vendas de “publicações pornográficas ou redigidas em linguagem 
despejada e provocadora” (Franco, 1993, p. 37), justificando com a explicitação da 
diferença entre os conceitos de liberdade e libertinagem. Ainda assim, afirmam que a 
censura é proibida, apesar de, mais uma vez, estarem previstos na lei “abusos de 
liberdade de Imprensa”, sendo estes relacionados com os crimes como cidadãos 
(Franco, 1993, p. 38). 
Independentemente desta liberalização do país, em 1912, quando Manuel de 
Arriaga esteve no poder, foram abolidos jornais devido a critérios muito subjetivos, 
“pois estavam sujeitos a apreensão os escritos «redigidos em linguagem despejada e 
provocadora contra a segurança do Estado, da ordem e da tranquilidade pública» 
(artigo 1º) da lei de 9 de julho de 1912” (Franco, 1993, p. 40). Tendo presente nesta 
lei a constante preocupação dos governantes pela agitação da população devido à 
instabilidade político-social, era impossível “ignorar o poder e o papel da imprensa na 
desestabilização social.” (Franco, 1993, p. 40). 
Durante a I Guerra Mundial, da qual Portugal fez parte a partir de 1916, o país 
viu-se num período de censura forte, embora “por motivo de guerra”. (Franco, 1993, 
p. 41). Podiam ser apreendidos artigos que alarmassem o espírito público ou 
causassem prejuízo ao Estado; condenavam-se afirmações ofensivas, entre outras 
(Franco, 1993, p. 42). Justificavam as suas decisões declarando que era a melhor 
opção dos jornais, prevenindo castigos de maior dimensão. 
Foi também no período da I Grande Guerra que foi instaurada a censura prévia, 
onde os censores eram, preferencialmente, “oficiais do exército de terra, mar e ar” 
(Franco, 1993, p. 45). Na censura prévia “deveriam ser apresentadas (…) provas de 
página” (Franco, 1993, p. 46) e a parte eliminada ficaria em branco, a não ser que a 
substituíssem e aprovassem dentro de uma hora. Mantendo o espaço em branco, isto 
implicava um risco diferente, segundo Graça Franco (1993): “os jornais podiam ser 
Pág. 5 
 
tentados a exagerar os relatos e forçar o «corte» de forma a aguçar a curiosidade dos 
leitores” (p. 46). Numa fase mais avançada as restrições aumentavam, mais uma vez 
relacionadas com a guerra. Para além das restrições também o número de páginas 
dos jornais era controlado. Os jornais juntaram-se contra as aplicações da “censura 
de guerra”, como iremos observar posteriormente. 
Mostrando novamente a instabilidade política de Portugal, é, após o período 
referido anteriormente, reposta a liberdade de imprensa. Contudo, a imprensa 
acabava por não ser totalmente livre visto que se mantinha a “censura militar sobre os 
telegramas, correspondência e outras noticias que se referiam ao movimento em 
questão” para não prejudicar as ações militares (Franco, 1993, p. 62). 
Com o Golpe de Estado de 28 de maio de 1926 (revolta militar de cariz 
nacionalista e antiparlamentar que pôs fim à Primeira República, levando à 
implantação da Ditadura Militar, depois autodenominada Ditadura Nacional e por fim 
transformada, após a aprovação da Constituição de 1933, em Estado Novo) voltou a 
censura ao país e desde então manteve-se até 1974. Foi o Estado Novo que acabou 
com o liberalismo em Portugal. Graça Franco (1993), dá-nos a conhecer uma 
entrevista que Gomes da Costa deu ao Diário da Tarde, onde afirma que não está 
disposto a estabelecer a censura, pelo menos enquanto os jornais não o 
incomodarem (p. 67). Pouco tempo depois estava a ser estabelecida a censura, o 
que revela que por de trás das decisões políticasestavam interesses pessoais – coisa 
que atualmente ainda se pode observar, contudo na época tinha maior ênfase pois 
não havia Democracia. 
Foi abolido o espaço em branco, pois os censores não queriam que o público 
conhecesse a ação da censura. Apesar das mudanças, e da, até ao momento, 
instabilidade política, nenhuma mudança adotou atitudes favorecedoras na abordagem 
da censura. 
 
 
 
Pág. 6 
 
Portugal Ditatorial e a (Re)Instauração da Censura 
 
Estando no “oficial”1 Estado Novo, a Censura não desaparece, mas sim intensifica-se 
e organiza-se não deixando margem para dúvidas: a Censura não iria acabar, no 
mínimo, não tão cedo quando todos esperavam. 
Descreve-nos Graça Franco (1993) uma entrevista de António Ferro a António 
Oliveira Salazar, onde o jornalista coloca a seguinte questão ao Ministro: “Não terá 
chegado o momento de acabar com a censura?” (p. 100), demonstrando as 
esperanças do corpo jornalístico português. A resposta não alterou grande coisa, sem 
ser a esperança do jornalista que se desvanecia, pois apenas indicava que entendia 
as irritações do jornalista: “não há nada que um homem considere mais sagrado do 
que o seu pensamento e a expressão do seu pensamento”, admitindo ainda que a 
Censura é “injusta por vezes” (Franco, 1993, p. 101). Quando enunciava as razões 
de não o fazer, acaba sempre por fugir à questão, voltando aos tempos primordiais da 
Censura: os ataques pessoais, a referência à política, a linguagem imprudente, entre 
outros. No entanto, a razão principal não passava do medo: medo da informação, 
medo que a população fosse informada, medo da oposição, medo que a população 
partilhasse os ideais da oposição, pois não era o ideal para o país, segundo a sua 
ideologia patriótica e rural. Salazar propõe ainda que se crie uma “Ordem dos 
Jornalistas”, contudo “tal Ordem não poderia ser mais do que a concretização 
institucional de um fantasma que pairava em todas as redações e que dava pelo 
nome de autocensura” (Franco, 1993, p. 103). 
Com a nova Constituição (1933) há um novo enquadramento legal, 
nomeadamente para a Censura. Esta Constituição não rege nem “conforma a prática 
política”, mas faz apelos aos “abusos de poder” (Franco, 1993, p. 105). A lei é um 
espelho da imagem de Salazar o projeto político executado confunde-se com o seu 
pensamento “neomiguelista, aniliberal e ultraconservador” usando a “ação autocrática 
que, quando preciso recorre a técnicas fascistas” (apud Franco, 1993, p. 105). A 
liberdade de expressão de pensamento é garantida como um “direito individual dos 
 
1 O reconhecimento como Estado Novo tornou-se oficial a partir de 1933 com Salazar no poder e a 
Constituição de 1933 concebida. 
Pág. 7 
 
cidadãos sob qualquer forma”, no entanto, atentamos a algumas leis que impedem 
“preventiva ou repressivamente a perversão da opinião pública na sua função de força 
social, e salvaguardar a integridade moral dos cidadãos” (Franco, 1993, p. 106). 
Segundo Graça Franco (1993), estava “aberto o caminho à institucionalização do 
exame prévio” (p. 106). A censura prévia impede a “perversão da opinião pública na 
sua função de força social” e “deverá ser exercida por forma a defendê-la de todos 
os fatores que a desorientem contra verdade, a justiça, a moral, a boa administração 
e o bem comum, e a evitar que sejam atacados os princípios fundamentais da 
organização da sociedade” (Franco, 1993, p. 107). Na Constituição passamos 
também a ser informados que as “comissões de censura ficam subordinadas ministro 
do Interior, por intermédio da Direção Geral dos Serviços de Censura” (Franco, 1993, 
p.107). A liberdade de imprensa parecia cada vez mais longíqua. 
Tudo isto fazia parte duma “política de espírito” do governo de Salazar. Foi 
António Ferro que sugeriu a Salazar em 1932 a conceção de uma organização que 
fizesse propaganda aos feitos do regime e foi dele, igualmente, a formulação 
doutrinária, a partir desse ano, dessa mesma política, que teve o seu nome pois era 
uma política de incentivo cultural obediente aos propósitos políticos do regime. 
Foi também António Ferro que dirigiu o Secretariado de Propaganda Nacional2, 
que tem uma relação com a Censura “cada vez mais estreita ao longo da vida”, pois 
Salazar “nunca abrirá mão nem da Censura nem da Propaganda” (Franco, 1993, p. 
108). 
No período em que Salazar concentra em si a maior parte do poder – em teoria 
e na prática – é quando os jornais da oposição desaparecem. Os jornais da oposição 
eram muitas vezes usados pelos jornalistas para publicar anúncios oficiais e outras 
coisas censuradas. 
A Censura parecia ser inacabável, “exercia-se a nível das cartas confidenciais, 
das circulares, por vezes das simples indicações verbais da Presidência”, era toda 
 
2 A instituição foi criada em 1933, com a designação de Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), 
adotando, em 1945, a denominação de Secretariado Nacional de Informação (SNI). Mais tarde, em 
1968, foi transformado na Secretaria de Estado da Informação e Turismo (SEIT). O grupo passará a 
referir-se apenas como Secretariado Nacional de Informação. 
Pág. 8 
 
uma rede complexa de proibições “que a quase nenhum jornalista poderiam agradar, 
por mais adepto do fosse do Regime” pois era um impedimento ao exercer esta 
profissão. Isto é comprovado pela carta que “João Amaral, diretor do Diário de 
Notícias, jornal afeto ao Governo” escreve dizendo que é “impossível trabalhar nestas 
condições humilhantes” (Franco, 1993, p. 117). 
 
O que é a Censura e as suas Implicações 
Censura é a aprovação ou condenação prévia (por exemplo, o exame prévio) de 
difusão de informação, tendo como objetivo a proteção dos interesses de um Estado 
ou grupo de poder – é comum entre religiões, multinacionais e Governos, como forma 
de manter o poder. O propósito da Censura é evitar alterações de pensamento num 
determinado grupo e a derivada vontade de mudança. A censura procura também 
evitar que certos conflitos e discussões se estabeleçam. A censura condena certas 
ações de comunicação, ou as suas tentativas. Compreende qualquer tentativa de 
eliminar informação, opiniões e até formas de expressão. 
A Censura pode ser explícita (se estiver prevista na lei como na Constituição de 
1933 – o que não quer dizer que a população tenha conhecimento da mesma), 
impedindo a informação de ser divulgada depois de ter sido examinada 
antecipadamente por uma entidade censora – os censores (que no caso de Portugal, 
respondiam perante o ministro do Interior, como já referido) – que avalia se a 
informação pode ou não ser publicada. Pode também exercer-se através da 
intimidação, onde as pessoas têm receio e incerteza de exprimir ou expor o seu apoio 
a certas opiniões, com medo de castigos, que sejam pessoais ou profissionais. 
Ambas as formas foram aplicadas em Portugal. 
A Censura pode ainda ser compreendida como a supressão de alguns pontos 
de vista e opiniões diferentes da entidade que exerce a Censura, através da 
propaganda, contrainformação ou manipulação dos meios de comunicação social (por 
exemplo, o Secretariado Nacional de Propaganda, dirigido por António Ferro). Esses 
procedimentos tendem a manipular/persuadir a opinião pública, de forma a precaver 
que distintas ideias sejam incutidas no povo. 
Pág. 9 
 
A confraternização diária com a Censura pode suscitar, entre os jornalistas e 
outros formadores de opinião – ou seja, entre os censurados –, uma postura 
defensiva bastante corrosiva: a autocensura. A autocensura – referenciada várias 
vezes por Graça Franco (1993) – consiste em evitar a abordagem de certos 
conteúdos ou a não manifestar opiniões que arrisquem a procriação de situações de 
confronto com o poder. 
É importanterealçar que a Censura esteve presente em Portugal ao longo de 
quase toda a sua história. O país foi submetido a normas que limitavam a liberdade 
de expressão desde o alargado período do Teocentrismo onde a Igreja mandava em 
toda a população, especialmente através da instituição da Inquisição. Apesar disso, 
na memória dos portugueses o que está mais presente é a política do regime de 
Salazar e o conhecido “lápis azul”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 10 
 
A Imprensa Durante A Censura 
Os Exemplos mais Predominantes 
No que diz respeito aos exemplos de Censura à Imprensa, Graça Franco 
mostra-nos no seu livro A Censura à Imprensa, provas3 concretas que iremos revelar 
ao longo deste ponto do trabalho. 
O Estado Novo teve vários períodos, uns mais atribulados que outros, contudo 
sempre existiram jornais a tentar impor-se como “vozes da oposição democrática ao 
regime”, como é o caso do “Primeiro de Janeiro, jornal de referência no Porto, e o 
Diário de Lisboa, o República e o Diário Popular, jornais da capital” (apud Afonso, 
2012, p. 32). Evidentemente a Censura fazia-se sentir de maneira maior, ou no 
mínimo, o Secretariado Nacional de Informação tinha mais atenção a esses casos. 
Em parte do seu livro, A Formação e a Consolidação Política do Salazarismo e 
do Franquismo, Manuel Baiôa (2012) apresenta-nos grandes exemplos de Censura à 
Imprensa entre os anos de 1933 e 1935. Apesar de ser uma época restrita, 
entendemos que, até 1974, a situação apesar de mudar nunca foi drasticamente. 
Entre as temáticas cortadas pela Censura podemos aprofundar a União 
Soviética/Comunismo, a defesa da Democracia, o Antinazismo, o Antifascismo e a 
Espanha Republicana. 
Dado à proximidade e à “importância capital para o regime” (Baiôa, 2012, p. 
173) as notícias que faziam referência à evolução do regime espanhol eram 
cuidadosamente avaliadas. Segundo Baiôa (2012), em Dezembro de 1933 e Janeiro 
de 1934 os artigos referentes à “Espanha Republicana” foram “os mais censurados” 
(Baiôa, 2012, p. 165). O autor refere duas temáticas principais adjacentes aos cortes 
relativos à “Espanha Republicana”: a “defesa clara dos ideais socialistas, operários e 
democráticos” e o “ataque intransigente aos ideais e aos grupos de direita” (Baiôa, 
2012, p. 174). 
 
3 Todas em formato de imagem estão na pasta “Anexos” no final do trabalho 
Pág. 11 
 
Isto leva-nos a outros dois tópicos censurados: o antifascismo e a defesa da 
democracia. Baiôa (2012) afirma que “os ataques ao fascismo italiano são mais 
contidos dos do que (…) ao nazismo.” (p. 179) – isto enquanto ambos os regimes 
estavam ativos. O objetivo era defender o regime, que, de certo modo, era mais 
parecido ao de Portugal (e Salazar nutria simpatia pelo “Duce”4) protegendo-o de 
“ataques ferozes e de críticas que pudessem (…) comprometer o modelo político, 
social, económico e cultural que o Estado Novo tinha adotado” (Baiôa, 2012, p. 179). 
“Todas as calúnias dirigidas a Mussolini seriam sistematicamente censuradas”, frase 
de Baiôa (2012, p. 179) que demonstra bem a afinidade que Salazar sentia pelo 
ditador italiano. Já quanto à defesa da democracia é natural que o “Estado Novo 
enquanto regime antidemocrático” não permitisse que fossem divulgados tais ideais 
“ainda que referentes a países estrangeiros.” (Baiôa, 2012, p. 180). A França era um 
“modelo a seguir” para os jornalistas portugueses, logo era sobre “este país que mais 
notícias eram sacrificadas pela censura.” (Baiôa, 2012, p. 180). A Censura também 
exerceu cortes sobre as “virtudes das eleições democráticas” (Baiôa, 2012, p. 180) 
onde Baiôa nos apresenta como exemplo A Voz da Justiça que se referiu a eleições 
livres na Checoslováquia, o artigo dizia que “o povo escolheu conscientemente e 
livremente” (Baiôa, 2012, p. 180) o que chegou para ser cortado. 
Outro tema constantemente censurado era o antinazismo, provavelmente a 
temática que “reúne artigos mais duros contra figuras políticas e contra regimes” 
(Baiôa, 2012, p. 175). “Os censores cortavam apenas os artigos mais violentos contra 
Hitler e contra o regime Nacional-Socilista.” (Baiôa, 2012, p. 175). O nazismo não 
era propriamente protegido pelo Estado, mas a Censura era explícita contra “injuriar 
chefes de Estado. Não obstante, os censores deixavam passar bastantes artigos de 
ataque a Hitler” (Baiôa, 2012, p. 176) e ao seu regime. Entre alguns artigos cortados, 
temos o exemplo do jornal a República, onde se comparava Hitler a Nero dizendo que 
o Führer “há de cair amaldiçoado” (Baiôa, 2012, p. 175); ou do Raio, que acusava a 
violência do regime comentando que “não podem viver sábios como «Einstein» com 
medo de serem espancados, mortos ou enclausurados” (Baiôa, 2012, p. 175). 
 
4 Palavra italiana que significa “líder” e, no regime fascista, referia-se a Benito Mussolini, ditador 
italiano. 
Pág. 12 
 
Como regime de direita, era evidente que se iria suprimir tudo o que fosse 
referente ao comunismo. Os comunistas eram o “inimigo principal do Estado Novo, 
mesmo antes de serem de facto um fator de risco importante para o regime” (Baiôa, 
2012, p. 172). Segundo Manuel Baiôa (2012), qualquer “referência elogiosa ou 
meramente factual (por vezes até críticas) era cortada pelos serviços de censura.” (p. 
172). A República referiu “resultados do desporto na URSS e ao referir o grande 
apoio que era dado pelo Estado, vê o seu artigo ser também censurado” (Baiôa, 
2012, p. 173). 
No que diz respeito aos jornais em si sabemos que nos “primeiros anos da 
Ditadura Militar a quase totalidade dos jornais apoiantes da I República 
desapareceram” (Baiôa, 2012, p. 166). Vamos apresentar como exemplos os 
seguintes jornais: a República; A Voz da Justiça; a Voz; o Raio; O Século; o Diário de 
Notícias; o Diário de Lisboa. 
“A República era o mais importante jornal” (Baiôa, 2012, p. 166) que se opunha 
ao regime. “Era um jornal tolerado”, pois não apresentava características dos 
republicanos radicais de esquerda, mas sim o “republicanismo conservador” que o 
regime tinha tentado atrair para o seu lado, até porque o jornal era “crítico em relação 
à I República, em particular à atitude do (…) Partido Republicano Português.” (Baiôa, 
2012, p. 166). Era um jornal vigiado, pois “era um dos poucos jornais republicanos 
que ainda se editavam” (Baiôa, 2012, p. 166). Foi o jornal mais censurado, visto que 
das “1117 notícias analisadas” (pelo autor, Manuel Baiôa), 339 pertenciam a este 
jornal, “o que representa 30% do total.” (Baiôa, 2012, p. 166). Neste jornal raramente 
surgiam referentes a Portugal e a Salazar uma vez que o mesmo “destacava as 
notícias internacionais em detrimento das notícias nacionais, por os serviços de 
censura serem mais tolerantes” (Baiôa, 2012, p. 166) com as internacionais. 
Também considerado um jornal da oposição era A Voz da Justiça, “jornal 
republicano (…) da Figueira da Foz (…) que deveria ser censurado pela Comissão de 
Censura da Zona Centro. No entanto, devido a ser considerado um jornal perigoso, 
Pág. 13 
 
passou a ser censurado pela Comissão de Censura de Lisboa5” (Baiôa, 2012, p. 
166). Este jornal, no que toca aos temas, era censurado por um pouco de tudo. 
Contudo os seus temas principais eram “sobre a União Soviética, sobre a defesa da 
democracia e do operariado e outros de crítica ao nazismo e fascismo.” (Baiôa, 2012, 
p. 170). 
O Raio era “uns dos (…) mais perigosos.” (Baiôa, 2012, p. 168). Foi muitas 
vezes “suspenso e objeto de um tratamento especial pela Direção Geral dos Serviços 
de Censura6”. Para um jornal da província – Covilhã – tinha a pior situação, pois era 
censurado conforme as regras de Lisboa, sendo obrigados a prestações de “«provas 
de página», a «cortetotal»” (Baiôa, 2012, p. 168), entre outros. Neste jornal são 
essencialmente censurados “artigos sobre a situação espanhola, a defesa da 
democracia, ataques ao nazismo e ao fascismo.” (Baiôa, 2012, p. 171). 
A Voz, “de feição monárquica” viu os seus artigos serem “alvo frequente do lápis 
censório” (Franco, 1993, p. 111) exatamente por defenderem a Monarquia. 
Jornais de grande dimensão como O Século, Diário de Notícias ou até mesmo 
Diário de Lisboa, “publicavam bastante informação internacional” e as notícias “mais 
censuradas nestes jornais” segundo Manuel Baiôa, eram “geralmente, telegramas que 
relatavam acontecimentos recentes, como atentados, revoltas, acordos comerciais, ou 
qualquer tipo de notícia sobre a União Soviética.” (Baiôa, 2012, p.169). 
É do jornal O Século que Graça Franco (1993) nos apresenta mais exemplos. 
Um desses exemplos refere-se a cortes de “notícias referentes a alterações na 
Polícia de Informações”7 (Franco, 1993, p. 83). Outra prova referente ao jornal O 
Século, refere-se à citação - rodeada de elogios – de Gago Coutinho que “pertencia 
à lista de nomes que o Regime tentava reduzir ao silêncio”8 (Franco, 1993, p. 110). 
Podemos ainda referir o corte a uma notícia “referente à deportação de presos 
 
5 “O exercício da censura estava a cargo das Comissões de Censura, de nomeação governamental, 
subordinadas ao Gabinete do Ministro do Interior, por intermédio da Comissão de Censura de Lisboa” 
Associação dos Amigos da Torre do Tombo 
6 Sucessora da “Comissão de Censura” 
7 Anexo 1 
8 Anexo 2 
Pág. 14 
 
políticos implicados no movimento chefiado por Mendes Norton”9 (Franco, 1993, p. 
116). 
Também são apresentados bastantes exemplos referentes ao Diário de Notícias, 
como é o caso do jogo de diferenças entre as duas “primeiras páginas” do dia 7 de 
fevereiro de 192710. Ambas se referem à altura em que “o movimento revolucionário 
parecia conseguir impor-se vencedor” (Franco, 1993, p. 86). Contudo, a primeira 
proclama valores como liberdade e democracia e foi uma edição feita por jornalistas 
que “horas mais tarde viriam a ser na sua maioria presos”, enquanto que a segunda é 
a primeira página que saiu efetivamente para o público, revista pela Comissão de 
Censura, dando uma volta completamente diferente à notícia. 
Segundo Graça Franco (1993) a Censura era feita “ao mínimo pormenor” e, 
como exemplo, temos o Jornal de Notícias e O Diabo – semanário – que queriam 
passaportes para permitir aos seus jornalistas “deslocar-se a Espanha em serviço de 
reportagem”. A sua capacidade como jornalistas foi reconhecida, contudo a resposta 
afirmava que “as atitudes políticas assumidas” pelos jornalistas não se harmonizavam 
“com a regalia” que foi solicitada (p. 109). 
Um dos grandes exemplos de Censura durante o Estado Novo foi a campanha 
do General Humberto Delgado. A maior parte dos exemplos referidos por Graça 
Franco aludem, mais uma vez, ao jornal O Século11. Muitas vezes as populações só 
sabiam da “visita do candidato (…) porque ele já aí tinha estado, ou viria a estar, mas 
não se sabia nem quando nem onde” (Franco, 1993, p. 131). Os cortes faziam-se 
também, a “referências elogiosas à oposição”, por exemplo n’O Século, a 17 de Maio 
de 195812: o título original seria “a oposição tem a força moral e a justiça pelo seu 
 
9 Anexo 3 
10 Anexo 4 
11 Anexos 5 e 6 
12 As eleições presidenciais portuguesas de 1958 realizaram-se, durante o Estado Novo, a 8 de junho 
de 1958. O então Presidente Francisco Craveiro Lopes entrou em conflito com Salazar e não quis um 
segundo mandato. O candidato do regime de Salazar e da União Nacional - partido único - foi o 
Almirante Américo Tomás. A oposição democrática apoiou o General Humberto Delgado. O resultado 
foi de 76,4% para Tomás e cerca de 23% para Delgado. Houve muitos relatos de fraude eleitoral, 
contudo tal resultado pode dever-se à falta de protagonismo nos meios de comunicação social 
dominados pela Censura. 
Pág. 15 
 
lado”, o que mudou para “O Regresso a Lisboa do Sr. General Humberto Delgado 
deu lugar a entusiásticas manifestações de simpatia que originaram diversos 
incidentes e protestos calorosos de adeptos do Sr. Presidente do Concelho”, mas 
ficou finalizado – com o corte de duas palavras – assim: “O Regresso a Lisboa do Sr. 
General Humberto Delgado deu lugar a manifestações que originaram diversos 
incidentes e protestos calorosos de adeptos do Sr. Presidente do Conselho” (Franco, 
1993, p. 131). Ainda neste jornal há provas de um corte referente “à proibição de 
manifestações em favor do general Humberto Delgado”13 (Franco, 1993, p. 132). 
Na pesquisa de Manuel Baiôa, uma das suas conclusões é que os “jornais 
oficiais do regime, como a União Nacional ou o Diário da Manhã obtiveram 1% dos 
cortes” (Baiôa, 2012, p. 169) das mais de mil notícias analisadas. Estes jornais eram 
modelados pela censura, “no sentido de limar certos extremismos que o Estado Novo 
queria evitar, para pacificar a sociedade portuguesa.” (Baiôa, 2012, p. 169). 
 
A sua Distribuição Geográfica 
De acordo com os textos analisados pelo grupo, chegámos à conclusão que a 
distribuição geográfica da Imprensa reflete a população portuguesa, totalmente 
“capitalizada”, ou seja, maior parte dos jornais eram encontrados na capital, Lisboa. 
De todos os jornais a que tivemos acesso - um total de treze jornais – sete 
tinham (ou ainda têm, como é o caso do Diário de Notícias) sede em Lisboa, são 
eles: Diário de Notícias, O Século, Diário de Lisboa, A Voz, República, União Nacional 
e Diário da Manhã. 
Quanto aos restantes seis, as conclusões dividem-se. Para três dos jornais com 
os quais tivemos contacto não conseguimos encontrar a sua sede, nomeadamente 
para: O Diabo (pois só encontrámos referências ao mais recente, fundado na década 
de 70), A Cidade e o Diário Liberal. Para os outros três jornais, apesar de terem sede 
em sítios diferentes, situavam-se todos no Norte – ou Centro Norte - do país: o 
 
13 Anexo 7 
Pág. 16 
 
Jornal de Notícias no Porto, O Raio na Covilhã e A Voz da Justiça na Figueira da 
Foz. 
Uma coisa é certa: nem todas as Comissões de Censura atuavam da mesma 
maneira. Os censores de cada distrito ou cidade, apesar de receberem instruções 
gerais quanto aos tópicos mais sensíveis a censurar, variavam muito no grau de 
severidade. De facto, verifica-se que houve regiões do país onde estes eram mais 
tolerantes e outras onde eram exageradamente repressivos. Por isso mesmo é que o 
jornal A Voz da Justiça, apesar de ser da zona Centro, era revisto pela Comissão de 
Censura de Lisboa, demasiado perigoso aos olhos do regime para deixar passar pelos 
censores condescendentes. 
 
As Práticas da Imprensa e como Reagia à Censura 
“Os jornais tiveram de moldar-se aos novos tempos se queriam sobreviver” 
(Baiôa, 2012, p. 161). Esta frase introduz bem este ponto do nosso trabalho onde 
pretendemos analisar as práticas da Imprensa e como ela regia à Censura. 
Todos os jornais tinham que “enviar todas as notícias que queriam publicar 
«com provas em triplicado», para serem examinadas pelos serviços de censura da 
sua área.” (Baiôa, 2012, p. 161). Depois disso, a notícia voltava ao jornal estando 
duplamente carimbada: “o primeiro indicava o local da comissão de censura 
juntamente com a palavra «visado»”; o segundo apresentava a decisão efetuada 
sobre o artigo, sendo “«autorizado»; «autorizado com cortes»; «suspenso»; «retido» ou 
«cortado»” (Baiôa, 2012, p. 161). 
Tudo isto aceleradamente levou a uma prática já referida neste trabalho: a 
autocensura. Os “jornalistas e os diretores dos jornais” esperavam antecipar “um 
possível corte (…) como forma de assegurara continuidade do jornal e a manutenção 
dos postos de trabalho” (Baiôa, 2012, p. 161). Esta autocensura não tendeu a 
diminuir, mesmo após a II Grande Guerra ainda era uma prática presente nas 
redações portuguesas, como mostra Graça Franco (1993): 
 
Pág. 17 
 
Com a institucionalização da Censura, nomeadamente após a Grande 
Guerra, o processo de sujeição dos jornais à Censura simplificou-se 
consideravelmente, apoiando-se no funcionamento paralelo de uma 
instituição real que se denomina «autocensura». O jornalista só escrevia 
o que achava suscetível de «passar»; as chefias, preocupadas com a 
leitura do jornal, só deixavam passar o que não tivesse hipótese de ficar 
retido (a atrasar o jornal) nos serviços de censura. 
Outra prática tentada durante o Estado Novo foi a transcrição de notícias 
estrangeiras. Os “jornalistas queriam transmitir credibilidade à informação, tentando 
assim ultrapassar a barreira da censura” (Baiôa, 2012, p. 186), não obstante, jamais 
funcionou, pois passou a fazer parte da Censura eliminar essas mesmas transcrições. 
Todos os jornalistas, até os mais afetos ao regime, sentiam a sua liberdade de 
expressão suprimida e, devido a isso, surgiram alguns protestos por parte de 
jornalistas, como o diretor d’A Voz, Fernando de Sousa, que numa “carta datada de 8 
de junho de 1934, escreve a Oliveira Salazar: «Estou há dezoito nos à testa de 
jornais e nunca a censura foi tão rigorosa, arbitrária e falha de critério como está 
sendo» “(Franco, 1993, p. 111). 
Outra prática que os jornalistas mostravam era noticiar nos jornais da oposição, 
no mínimo até eles deixarem de existir. Como mostra Graça Franco (1993), por vezes 
(…) alguns organismos oficiais fazem publicar anúncios, em jornais uja ideologia é 
oposta à do Estado e que incansavelmente trabalham por destruir os princípios 
fundamentais da Constituição Política.” (p. 113). 
A criação do Sindicato dos Jornalistas parecia que ia amenizar a grande 
instituição que era a Censura, contudo tudo se manteve praticamente igual até abril 
de 1974. 
 
 
 
Pág. 18 
 
O Impacto Social Da Imprensa 
“Muito dificilmente o público em geral tinha acesso aos textos originais 
estrangeiros que surgiam traduzidos, noticiados e comentados nos jornais. Sendo 
assim, era impossível a um leitor perceber quanta e que informação fora omitida, se 
os extractos reportados haviam sido reorganizados numa ordem diferente e que 
intenções poderiam estar por detrás disso, e ainda outras questões como: o que se 
tornava explícito ou se deixava implícito, o que se apontava como antecedentes ou 
consequências, o que era transformado em tema ou secundarizado, que categorias se 
criavam para representar os acontecimentos.” (apud. Afonso, 2012, p.22) 
 O excerto acima proporciona uma excelente resposta e introdução ao tema 
apresentado. Como demonstra a afirmação, a censura procurava moldar a opinião do 
povo português que, isolado nas suas fronteiras reais e comunicacionais, tinha de se 
contentar com a informação lançada com a aprovação do Estado. “Tudo o que iria ser 
difundido era para as pessoas terem um sentimento de pertencerem a uma nação, 
para que entendessem que esta tinha um sentido muito mais lato que «a nossa casa, 
a nossa terra, a nossa estrada, a nossa escola»” (Silva, 2009, p.4). A Censura era 
deste modo uma realização física do pensamento ideológico de Salazar: “só existe 
aquilo que se sabe que existe”. A Censura advinha de uma política de controlo 
informativo em que “só quem tivesse a confiança política do Governo podia estar à 
frente de um jornal” (Silva, 2009, p.4) ou qualquer outro meio de comunicação. Esta, 
que “de todos os mecanismos repressivos (…) foi sem dúvida o mais efeciente, 
aquele que conseguiu manter o regime sem alterações estruturais durante quatro 
décadas” (apud. Cádima, 2002), deixou assim um impacto social profundo. Isto pode 
ser observado particularmente imediatamente após o 25 de abril e o fim do chamado 
“lápis azul”. “Este fim da censura vem lançar o país numa desordem informativa, pois 
com a liberdade de expressão recentemente ganha, deixa de haver proibições sobre o 
que se diz em termos de política. Partidários de campos diferentes enfrentam-se nos 
meios de comunicação, lançando a confusão entre o povo. Na fase pós-
revolucionária, avultam as incompatibilidades entre as várias tendências ideológico-
partidárias, que afectam directamente os próprios meios de comunicação. 
Multiplicam-se os conflitos entre administrações e direcções com as comissões de 
Pág. 19 
 
trabalhadores e os conselhos de redacção, entretanto eleitos. Estes conflitos atingem, 
por vezes, proporções extremadas e inconciliáveis, como sucede no «caso 
República», em Maio e Junho de 1975, que adquire projecção internacional” (Faleiro, 
2006). Ou seja, a Censura enraizou-se de tal modo no solo lusitano que o seu fim 
ditou um caos ao invés da paz esperada, tudo isto devido a uma população 
portuguesa que, tão habituada ao sistema anterior, não soube lidar de imediato com a 
liberdade de expressão. 
 Outro impacto social que a Censura à Imprensa foi como a mesma abrandou o 
desenvolvimento da cultura nacional. Várias obras eram censuradas, impedidas de 
serem divulgadas ou publicadas e os próprios autores, quer de livros quer de 
crónicas, passaram a colocar em si mesmo uma “auto-censura” já referenicada, 
“auto-censura” esta fruto do receio do regime. Os efeitos ainda hoje se sentem, 
existindo claramente uma diferença cultural entre as elites e o resto do povo 
português, que vivem e se exprimem culturalmente de formas opostas. 
 
O Papel da Imprensa ao Longo da Ditadura 
 Há que enteder que “a história dos media em Portugal está inevitavelmente 
ancorada numa outra história absolutamente dramática na história moderna e 
contemporânea portuguesa - a história da censura” (Cádima, 2002). Assim sendo, 
neste período ditaturial, falar da imprensa é obrigatóriamente falar da Censura. 
 Com Salazar, foram poucas as vezes em que a imprensa escrita, radiofónica 
ou a televisão serviram como meio para se dirigir directamente à população. “Foram 
poucas as vezes que os seus discursos, proferidos nos mais diversos actos, foram 
posteriormente publicados na imprensa ou escritos com essa finalidade” (Silva, 2009, 
p.3), sendo que “com a rádio não foi muito diferente. Geralmente as suas prelecções 
radiofónicas ocorriam aquando eleições (…) mas foram momentos raros em tão longa 
governação” (Silva, 2009). Assim, podemos atribuir à televisão o papel central de 
meio de propaganda do Estado. 
Pág. 20 
 
 “Primeiro ao tempo de Salazar e mais tarde com Marcello Caetano, a RTP foi 
sempre, juntamente com a imprensa oficial e com a Emissora Nacional, o principal 
porta-voz da política do Estado Novo. Nessa medida, enquanto modelo protocolar e 
instrumento de propaganda, a televisão foi, necessariamente, a par do sistema 
repressivo policial e do sistema censório, um dos elos fundamentais do campo 
comunicacional do sistema monopartidário, campo esse também historicamente 
responsável pela manutenção de um regime político cujo fim se anuncia a 25 de Abril 
de 1974, ao fim de 48 anos de ditadura” (Cádima, 2002). Este foco na televisão e, 
em específico, no telejornal da RTP pretendia, no fundo, “provocar a subordinação 
das práticas do jornalismo às práticas da propaganda e manter a estratégia 
manipulatória e o «fazer persuasivo» como o eixo fundamental da rede reticular do 
sistema político e da sua perpetuação, ao longo dos consulados de Salazar e 
Caetano” (Cádima, 2013, pp. 57 e 58). A televisão e a informação televisiva eram 
assim com que “quase uma agenda do Governo, com um discurso oficioso e 
protocolar. As notícias vindas do estrangeiro eram cuidadosamente verificadas e 
muitas não passavam na censura” (Silva, 2009, p. 6). Marcelo Caetano bemdizia: “A 
televisão é nos tempos que correm um instrumento de acção política e nós não 
podemos hesitar na sua utilização”. 
 Podemos então concluir, que durante a ditadura, a televisão “é explícita e 
assumidamente um "instrumento" de uma acção política propagandística (…), a qual, 
de facto, sobretudo a partir de meados dos anos 60, tem já um impacto significativo 
no campo dos media no plano nacional, quer pela cobertura da RTP, quer pela 
audiência atingida, que nos anos 60 não teria ultrapassado o milhão de 
telespectadores” (Cádima, 2002). 
 
 
 
 
 
Pág. 21 
 
Transição de Regimes: Da Censura à Liberdade 
A Imprensa e a liberdade, que chega na forma da Revolução dos Cravos e 
acaba com o regime, estão interligadas, afinal “a revolução que conduziu Portugal à 
democracia começou com a apropriação dos meios de comunicação social, Rádio 
clube Português, Emissora Nacional e RTP, pelos militares do Movimento das Forças 
Armadas (MFA)” (Silva, 2009, p. 9). A revolta começou quando o locutor João Paulo 
Dinis, dos Emissores Associados de Lisboa, de acordo com as instruções recebidas 
de Otelo Saraiva de Carvalho, 5 minutos antes das 23 horas, do dia 24 de Abril de 
1974, pôs a tocar a música “E depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho (apud. Silva, 
2009, p.9). Foi esta forma de usar os media para seu benefício que permitiu mobilizar 
a população, podendo-se assim concluir “que a queda do Regime se deveu 
grandemente ao controle dos meios de comunicação” (Silva, 2009, p. 9). 
 Assim começava um novo período da História portuguesa – um período 
transacional da censura para a liberdade. Mas qual o impacto que isto teria? Como já 
foi explicado num outro ponto, o ajustamento do país à liberdade de imprensa passou 
por momentos difíceis. Para reforçar a ideia, podemos afirmar que “se, por um lado, o 
controlo político e a saturação ideológica dos media em Portugal no imediato pós-25 
de Abril permitiram congregar forças político-partid´´arias mais radicalizadas em torno 
de uma ideia utópica de «revolução» (…) por outro, teve de facto um efeito 
«boomerang», criando fortes resistências, tanto no plano militar como na opinião 
pública” (Cádima, 2013, pp. 118 e 119). 
 Podemos afirmar assim que esta mudança “significou o início de um novo ciclo 
para os meios de comunicação social que se traduziu numa uma série de 
transformações registadas na produção noticiosa” (Lima & Teixeira, 2015, p. 329). 
Após uns primeiros anos complicados em que a confusão e agitação social e política 
do país se alastraram à imprensa, “os órgãos de comunicação social ganham cada 
vez mais importância, pois quer governo quer oposição se socorrem destes meios 
para a divulgação das suas mensagens. Entretanto, com a liberdade de expressão 
surgem cada vez mais publicações, abordando as mais diversas temáticas e géneros 
jornalísticos. No entanto, ainda foi preciso um longo caminho de democracia para se 
Pág. 22 
 
poder falar de isenção dos media em relação ao poder político, principalmente em 
relação à RTP, que até os anos 90 era o único canal televisivo e sob a tutela do 
Estado” (Silva, 2009, p. 10). 
 
Conclusão 
 Após a elaboração deste trabalho e da pesquisa necessária para o mesmo, 
comprovamos que a temática que engloba a ditadura portuguesa, da Censura, da 
Imprensa e do 25 de abril é ainda de extrema relevância, não só por se tratarem de 
momentos importantes da história do nosso país como também por mostrarem ainda 
serem objetos de estudo de valor e merecedores de melhor análise e compreensão. 
Apercebemo-nos que a Censura não é de todo algo que se refere apenas ao 
Estado Novo, mas que já vem muito antes disso. Remete-nos para o tempo da 
Inquisição, contudo a memória do povo português centra-se no século XX durante o 
período estudado. Contudo, mesmo durante a I República - que impunha ideais 
liberais - a Censura esteve presente. 
Respondendo à pergunta inicialmente colocada, sabemos que a Imprensa teve 
um papel importante na transição de regimes – quando a população já estava 
cansada da situação do país e já era inevitável uma mudança -, no entanto, no 
Estado Novo a Imprensa tinha o seu papel restringindo pela Censura pois o Estado 
tinha noção que a Imprensa poderia influenciar bastante a opinião pública. 
 Concluimos o nosso trabalho com uma citação de Célia Maria Taborda da 
Silva, que pensamos representar bem a ideia final com que o grupo ficou após 
finalizar o trabalho: “No nosso país, depois dos órgãos de comunicação social terem 
ajudado a cair um Regime, quase sem derramar sangue, ninguém duvidava da sua 
importância, que veio em crescendo até aos nossos dias, não sendo de admirar que 
os media sejam considerados o 4º poder. 
 
 
Pág. 23 
 
Referências Bibliográficas 
Afonso, D.M.G. (2012). “A Tradução do Discurso Político: Contextos de Poder 
na Imprensa Portuguesa do Século XX”. Dissertação de Mestrado em Tradução – 
Especialização em Inglês. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade 
Nova de Lisboa. 
Baiôa, M. (2012). A Formação e a Consolidação do Salazarismo e do 
Franquismo (pp. 155 a 193). Lisboa: Edições Colibri 
Cádima, F.R. (2002). “A Comunicação Social em Portugal no Século XX – 
Fragmentos para a História de um Servidor de Dois Anos”. Panorama da Cultura 
Portuguesa. 
Cádima, F.R. (2013). História, Media, Poder. Lisboa: Quatrocês 
Lima, H. e Teixeira, P. (2015). “Impactos da Revolução de 1974 nas Primeiras 
Páginas dos Diários Portugueses”. Artigo em Revista Cientifica Nacional – Faculdade 
de Letras da Universidade do Porto. 
Silva, C.M. (2009). “A comunicação como estratégia política da Ditadura e da 
Democracia”. 6º Congresso SOPCOM. Universidade Lusófona do Porto. 
Franco, G. (1993). A Censura à Imprensa. Imprensa Nacional Casa da Moeda 
Faleiro, A.R. (2006). Capítulo “O fim da Censura em Portugal: consequências 
na sociedade de informação", in “Portugal: do 25 de Abril de 1974 aos nossos dias". 
Universidade de Santiago de Compostela. 
 
 
 
 
 
Pág. 24 
 
Anexos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Anexo 1 - cortes de “notícias referentes a alterações na Polícia de Informações”, 
no jornal O Século 
Pág. 25 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Anexo 2 - corte da citação - rodeada de elogios – de Gago Coutinho no jornal O Século 
Anexo 3 - corte a uma notícia “referente à deportação de presos políticos implicados no movimento 
chefiado por Mendes Norton” d’O Século 
Pág. 26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Anexo 4 - jogo de diferenças entre as duas “primeiras páginas”, do jornal Diário de Notícias, do dia 
7 de fevereiro de 1927; Esquerda: Primeira Página Original; Direita: Primeira Página Revista pela 
Censura 
Anexo 5 – cortes referentes à campanha de 1958, no jornal O Século 
Pág. 27 
 
 
Anexo 6 – corte de parte de um artigo referente à candidatura do 
General Humberto Delgado, d’O Século 
Anexo 7 - corte referente “à proibição de manifestações em favor do 
general Humberto Delgado” n’O Século

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