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DIRCEU DIAS PEREIRA FÍSICA MÉDICA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE RADIOPROTEÇÃO E DOSIMENTRIA – IRD RADIODIAGNÓSTICO – OUTUBRO DE 2016. 1. Produção de Raios X A produção dos raios X ocorre devido à conversão de energia cinética de um elétron, suficientemente energético, em uma onda eletromagnética ou mais especificamente em um fóton. Esta conversão se dá devido a interação do elétron com o campo coulombiano do átomo (Bremsstrahlung) ou com a interação com os elétrons presentes na eletrosfera (Raio X característico). A figura 1 mostra o esquema de produção de Raios X de freamento e Raios Gama (como não é o objetivo do presente trabalho vamos ignorar o processo de produção dos Raios Gama). 1.1 Raios X de Freamento ou Bremsstrahlung No chamado Raio X de freamento ou Bremsstrahlung o elétron sofre uma aceleração negativa quando se aproxima do campo potencial coulombiano presente no átomo de forma que a energia dissipada pelo elétron durante a desaceleração é emitida em forma de fótons. Quando o elétron possui energia suficiente para emitir um fóton com energia suficiente para ionização de outros átomos, ou seja, quando há produção de radiação ionizante, denominamos que foi produzido o Raio X de freamento ou Bremsstrahlung. Apenas uma pequena parte dos elétrons incidentes sobre o átomo produz Raio X, considerando que a maior parte dos elétrons emite fótons de energias mais baixas, o fato é que a eficiência na produção de Raios X de um gerador utilizado em medicina é aproximadamente de 3%, enquanto o restante da energia cinética do elétron é convertida em calor. Figura 1 - Esquema de produção de Raios X de freamento e Raios Gama. [1] 1.2 Raios X característicos A Figura 2 mostra o processo de produção dos Raios X característicos é devido a “colisão” do elétron incidente com um elétron da eletrosfera, nesta situação a transferência de momento é suficiente para ejetar o elétron da eletrosfera e consequentemente criar uma vacância na camada, afim de reestabelecer o equilíbrio energético do átomo, um elétron de uma camada mais energética emite, em forma de fóton, a diferença de energia entre as duas camadas permitindo-o “descer” à camada de energia mais baixa. O Fóton emitido por este processo tem a energia exata da diferença dos dois níveis energéticos, devido a esta propriedade ser intrínseca de cada tipo de átomo este fóton é dito característico de determinado elemento químico, de tal forma que nomeamos Raios X Característicos. A eficiência de produção de Raios X citada no tópico anterior já considera a soma de todos os tipos de Raios X produzidos, porém se considerarmos somente a produção dos Raios X característicos esta eficiência é muito menor dada as condições necessárias para que haja este tipo de interação entre os elétrons (incidente e da eletrosfera). 1.3 Espectro de Raios X A produção de Raios X tem sido avaliada, até o momento, como um processo solitário, porém na verdade dentro de um tubo de produção de raios X ocorrem centenas de milhares destas pequenas interações em um período muito curto. Todas estas interações dão origem ao espectro de energia do Raio X. A Figura 3 mostra o espectro de Raios X produzidos por freamento, observe que o eixo horizontal apresenta o valor em energia dos fótons emitidos após a interação com o campo Figura 2 - Esquema de produção de Raios X Característico. [1] Figura 3 – Espectro de Raios X de freamento. [1] coulombiano de forma que um elétron incidente com energia cinética máxima de 90 KeV somente pode emitir um fóton de mesma energia máxima. A discussão sobre o espectro de Raios X filtrados e não filtrados se dará em uma secção exclusiva logo em seguida. A figura 4 mostra a soma do espectro formado pelos processos de freamento do elétron incidente e de colisão com o elétron da eletrosfera, de forma que a contagem de fótons com energias específicas cresce consideravelmente, na figura surgem então novos picos referentes aos fótons de Raios X característicos, outra nomenclatura também utilizada para este fóton é de Raios X de fluorescência, porém é necessário observar que no processo de formação de Raios X característicos não há nenhum tipo de fluorescência, este nome é somente pela semelhança com o processo de emissão de fótons na região do visível, a rigor a principal diferença entre os dois processos são as faixas de energias que cada um está sujeito. Os picos de Raios X característicos na figura 4 são classificados de forma a discriminar as camadas de origem do elétron emissor do fóton. α são transições de elétrons entre camadas eletrônicas adjacentes, enquanto as β são transições de fótons entre camadas não adjacentes. Os picos Kα representam os fótons emitidos após a passagem de um elétron da camada L para a camada K do átomo de Tungstênio, em quanto o pico Kβ representa os fótons emitidos após a passagem de elétrons das camadas M, N ou O para a camada K. É possível compreender a posição dos picos, a energia dos fótons Kβ deve ser maior que a dos fótons Kα somente analisando a diferença de energia entre os níveis. 1.4 Tubo de Raios X O tubo de Raios X é um invólucro que fornece as condições necessárias para produção dos fótons de raio X. É composto, em geral, de um Catodo, um Anodo, um Rotor, uma fonte de alta tensão, algum tipo de material refrigerante, um envelope de metal ou vidro que contém todas as partes citadas e uma janela de saída para a radiação. A figura 5 mostra uma montagem simplificada de um tubo de Raios X. Neste sistema os elétrons são emitidos pelo catado e acelerados até o anodo através da grande diferença de potencial aplicada. A colisão do feixe de elétrons com o anodo permite a produção de Raios X e calor. Algumas relações importantes devem ser ressaltadas, a teoria de radiações ionizantes mostra que a energia cinética das partículas carregadas está Figura 4 – Espectro de Raios X. [1] intimamente ligada ao poder de penetração destas, de modo que quanto mais energética é uma partícula maior será o poder seu poder de penetração, outros fatores devem ser levados em consideração na hora de compreender as interações dos elétrons com a matéria, como Stopping Power e LET, porém, por hora, não se faz necessária a análise mais cuidadosa, fica estabelecido que um elétron com grande energia cinética produz um fóton com grande energia e portanto com alto poder de penetração, esta relação será relembrada quando comentarmos sobre o efeito anódico que será abordado em secções posteriores. Outra relação indispensável para o bom entendimento do leitor sobre a produção dos Raios X é a dependência do número de elétrons emitidos com a corrente aplicada ao catodo, desta retiramos que quanto maior a corrente aplicada maior será a quantidade de elétrons emitidos e, por consequência, maior será o número de fótons de Raios X (1 mA = 6,24 x EXP15 elétrons/s). CATODO: É o terminal negativo do tubo de Raios X, composto de um filamento e lentes focais. O filamento é semelhante aos encontrados em lâmpadas incandescentes exceto que no caso do tudo este é composto de Tungstênio, podendo suportar grande variação da corrente aplicada (40 ~ 1200 mA). Quando energizado, o filamento aquece devido a passagem de corrente elétrica, elétrons são arrancados e a diferença de potencial é responsável por acelera-los até o anodo. As lentes focais são simplesmente eletroímãs responsáveis por direcionar os elétrons emitidos para um determinadoponto do anodo chamado focal spot. ANODO: É o terminal positivo do tubo de Raios X, formado por um alvo de metal, geralmente Tungstênio, não somente devido seu número atômico alto (Z=74) mas também devido sua alta resistência térmica, sabendo que cerca de 97% da energia dos elétrons incidentes é convertida em calor. Molibdênio (Mo=42) e Rodio (Rh=45) são bastante usados em tubos de Raios X para mamografia. Uma outra solução encontrada para o problema do superaquecimento do anodo é a utilização de um rotor, neste tipo de anodo o focal spot muda ao longo da produção permitindo que as regiões do anodo que não estão sendo atingidas por elétrons tenham algum tempo para resfriar-se. Esta construção foi uma grande evolução aumentando em muito tempo a expectativa de vida do tubo. FONTE DE ALTA TENSÃO: É responsável pela aceleração dos elétrons emitidos pelo catodo, energia que pode ser relacionada com o poder de penetração do fóton de Figura 5 – Esquema do tubo de Raios X. [2] Raio X produzido, os tubos de Raios X diagnóstico costumam utilizar tensões entre 40 e 150 KeV. MATERIAL REFRIGERANTE: A produção de calor é extremamente alta em alguns sistemas. Na fluoroscopia, devido aos longos tempos de ativação do tudo, é de suma importância um sistema eficiente de refrigeração do anodo. INVÓLUCRO DE METAL OU VIDRO: É importante que os elétrons arrancados do catodo sejam direcionados de forma bastante precisa para uma determinada região do anodo, por causa desta necessidade estes elétrons devem sofrer a menor quantidade possível de interações ao longo do percurso entre os terminais de alta tensão. O invólucro é responsável pela condição de vácuo do sistema certificando que os elétrons encontrem o alvo com toda energia fornecida pela diferença de potencial. 1.5 Efeito anódico O Anodo é construído para que a produção dos Raios X seja direcionada, como as energias, em diagnóstico, são no máximo de 150 KeV, o ângulo de saída dos fótons produzidos é algo próximo de 70°, somados à angulação do anodo temos a maior parte dos Raios X produzidos saindo com um ângulo de 90° da superfície do anodo. O efeito anódico descreve um fenômeno no qual a intensidade do campo de Raios X é maior ne região mais próxima do catodo. Isto deve-se pela atenuação que ocorre dentro do próprio anodo, parte dos fótons produzido devem percorrer um percurso maior dentro do anodo de forma que a atenuação é relevante como mostra a figura 6. 1.6 Filtração e Colimadores A produção de Raios X, como já comentado em itens anteriores, são apresenta limitações quanto ao valor das energias dos fótons emitidos de forma que o espectro teórico deveria ser a linha decrescente presente na figura 3a. A construção desta ideia Figura 5 – Esquema do efeito anódico. [1] é relativamente simples, basta assumirmos que a probabilidade de interações que transferem toda a energia dos elétrons para os fótons é extremamente baixa enquanto a probabilidade de interações onde a conversão de pequenas porções das energias dos elétrons é bastante maior, porém esta montagem é completamente teórica devido a construção do tudo de Raios X. A necessidade do invólucro de metal ou vidro insere uma blindagem inerente à construção do sistema, deste modo os fótons com energias mais baixas, baixo poder de penetração, são barrados dentro do próprio invólucro utilizado para produção destes fótons. Além desta são utilizadas outros tipos de filtragens para que fótons de energias pouco penetrantes, aqueles que não produzem imagem, sejam atenuados afim de evitar exposição desnecessária do paciente. A preocupação com a exposição nos leva à utilização um sistema capaz de limitar o campo de irradiação, esta construção é formada por placas de material atenuante, geralmente chumbo, na janela de saída do feixe de fótons, criando assim um modo de limitar as fronteiras entre regiões que serão irradiadas. Referências [1] - BUSHBERG, J. T., SEIBERT, J. A., LEIDHOLDT, E. M. – The Essential Physics of Medical Imaging – Third Edition – Wolters Kluwer/Lippincott Williams & Wilkins. [2] – CANEVARO, L. V. – Physical and techinical aspectes in interventional radiology – Revista Brasileira de Física Médica. 2009;3(1):101-15
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