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RESBCAL, São Paulo, v.1 n.3, p. 263-269, jul./ago./set. 2012 263 ISSN 2238-1589 RE SU MO breve comuNIcação Centro de Experimentação Animal, Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – Rio de Janeiro, Brasil. Autor para correspondência: Carlos Alberto Müller E-mail: camuller@ioc.fiocruz.br Recebido para publicação: 15/04/2012 Aceito para publicação: 02/08/2012 A IMPORTÂNCIA DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E O TRABALHO EM EQUIPE NO BIOTÉRIO DE ExPERIMENTAÇÃO maria alice do amaral Kuzel, Tatiana Pádua Tavares de Freitas, Giuliana viegas Schirato, Jenif braga de Souza, carlos alberto müller O objetivo do presente trabalho foi demonstrar a necessidade da presença do médico veterinário nas pesquisas e no monitoramento dos procedimentos e das rotinas rea- lizadas nos Biotérios de Experimentação, independentemente do tipo de instalações dos mesmos; e a importância da qualificação profissional dos técnicos que atuam nos Biotérios de Experimentação. Com base no levantamento de pontos críticos dos biotérios do Centro de Experimentação Animal do Instituto Oswaldo Cruz (CEA/IOC), foram identificados os riscos das atividades realizadas, que, consequentemente, foram minimizados devido à presença do médico veterinário e de suas orientações aos técnicos do biotério e usuários (pesquisadores, tecnologistas, alunos de pós-graduação e técni- cos de outros laboratórios). Foram observados os técnicos dos biotérios do CEA/IOC, após as orientações supra-citadas e aos cursos de capacitação profissional oferecidos pela instituição, tais como: Curso de Especialização para Técnicos, de Biossegurança em Laboratório de Pesquisa Biomédica, de Biossegurança em Biotérios, de Boas Prá- ticas de Laboratório e de Prevenção de Incêndios. Diante do exposto, recomenda-se que os profissionais devem ser capacitados para exercer o manuseio e a pesquisa em animais, dentro destes conceitos. Devido à presença do médico veterinário e de suas orientações aos técnicos do biotério e usuários, e da capacitação oferecida aos bioteristas do CEA/IOC, como também o aumento da preocupação com o bem-estar e a segurança dos profissionais e dos animais envolvidos na experimentação, os riscos foram minimizados. A mudança de procedimentos nas rotinas aplicadas é eficaz para que os animais possam responder satisfatoriamente aos experimentos neles realizados e para que haja segurança aos que os manipulam. CEUA/Fiocruz LW-38/11, LW-08/10, L-024/09, LW-42/11. Palavras-chave: Biotério. Médico veterinário. Biossegurança. Técnico em biotério. 1 INTRODUÇÃO O uso científico de animais de laboratório ainda é absolutamente necessário para produzir avanços na compreensão dos fenômenos biológi- cos, bioquímicos, fisiológicos, comportamentais e de processos patológicos e indispensáveis, até o presente momento, na produção e no controle da qualidade de imunobiológicos e fármacos. Devido a pouca disponibilidade de métodos alternativos e/ou substitutivos, é necessário o estabelecimento de uma cultura de cuidados com os animais, com consciência e responsabilidade, que preservem o seu bem-estar e levem também, à melhoria e à confiabilidade das descobertas científicas1. Os investigadores e as instituições de pesquisa, ensino e produção possuem a responsabilidade moral, A IMPORTÂNCIA DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E O TRABALHO EM EQUIPE EM BIOTÉRIO ExPERIMENTAL 264 RESBCAL, São Paulo, v.1 n.3, p. 263-269, jul./ago./set. 2012 ética e legal de minimizar a dor e o sofrimento dos animais. Devem ser consideradas as questões das práticas e do manejo, tanto no planejamento quanto no desenvolvimento do experimento. Para tal, faz-se necessária a colaboração estreita entre médico veterinário, como responsável técnico, técnicos em biotério e pesquisadores, com o ob- jetivo do uso humanitário dos animais2. Outros benefícios, além do aumento de qualidade na ciência, é a sensibilização da percepção pública quanto à experimentação animal, das oportunida- des de financiamento e da colaboração com outros centros de pesquisa.3 O primeiro passo, para que se possa alcançar um elevado grau na melhoria do bem-estar dos animais, deve ser dado através de educação e treinamento dos profissionais que irão utilizá-los. O conhecimento da biologia, da fisiologia e do comportamento faz com que estes profissionais identifiquem as necessidades de cada espécie e possam tratá-la de forma correta, com atitudes de respeito para com elas, diminuindo, assim, o estresse causado por um manejo inadequado e proporcionando-lhes maior bem-estar4. Profissionais envolvidos na concepção e condu- ção de experimentos em animais devem ser edu- cados e adequadamente treinados para tal tarefa5. Complementarmente ao treinamento, deve haver o acompanhamento do iniciante por profissional com experiência comprovada em experimentação animal, por um período mínimo a ser estabelecido por cada instituição, considerando a formação, o conhecimento e as habilidades do iniciante quanto aos procedimentos operacionais e de biossegu- rança e do biotério, bem como nas práticas expe- rimentais a serem utilizadas no desenvolvimento dos ensaios biológicos específicos6. Os profissionais, que atuam nas instalações de um biotério, qualquer que seja o nível de biossegurança, devem possuir treinamento nessa área e ser supervisionados por um profissional de nível superior7. A formação contínua no local de trabalho é essencial para manter o pessoal sensibi- lizado quanto aos procedimentos de segurança8. O ingresso de um novo funcionário depende de um período de treinamento, da realização dos exames admissionais e dos exames específicos para a área de atuação9. O médico veterinário é o profissional responsá- vel pela saúde e bem-estar dos animais utilizados em pesquisa na instituição. Os procedimentos clínicos, como a eutanásia, são de responsabi- lidade privativa do médico veterinário10. Para isso o mesmo deve estar legalmente inscrito no Conselho Regional do local onde trabalha11. Neste contexto, está inserida a sua atuação, es- sencial para o estabelecimento e manutenção das condições adequadas em uma unidade de criação ou de experimentação animal. A instituição deve fornecer um profissional com experiência em animais de laboratório, com autoridade suficiente, incluindo o acesso a todos os animais e os res- pectivos protocolos de pesquisa dos animais que estão sendo utilizados12,13. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Objetivou-se, com esse trabalho, demonstrar a importância da qualificação profissional dos técni- cos dos biotérios nas rotinas realizadas nos Bioté- rios de Experimentação, e a necessidade, além da obrigação legal, da presença do médico veterinário nas pesquisas e rotinas realizadas nos mesmos, independentemente do tipo de instalações. O presente trabalho foi realizado em biotérios do Centro de Experimentação Animal (CEA)/Ins- tituto Oswaldo Cruz (IOC). Os biotérios possuem estrutura física e linhas de pesquisas diferentes. Todos possuem veterinários como responsáveis técnicos. Em um primeiro momento, foi realizado o levantamento do fluxo de trabalho nos diferentes biotérios do CEA/IOC, onde foi identificada a rotina das atividades desenvolvidas, tais como: recebimento de animais e insumos, processos de esterilização e descontaminação, manejo dos animais e descarte de resíduos. Posteriormente, com base na literatura, na legislação e nas nor- mativas vigentes, foram identificados os riscos das atividades realizadas e, conseqüentemente, a RESBCAL, São Paulo, v.1 n.3, p. 263-269, jul./ago./set. 2012 265 Maria Alice do Amaral Kuzel, Tatiana Pádua Tavares de Freitas, Giuliana Viegas Schirato, Jenif Braga de Souza, Carlos Alberto Müller identificação dos pontos críticos dos trabalhos de pesquisa e os rotineiramenteefetuados14. Esse levantamento foi feito por observação do trabalho dos técnicos e usuários do biotério. Houve registro das observações dos técnicos em dia de limpeza das estantes e de recebimentos de animais, quando ocorrem manejos de animais, esterilização e descarte de resíduos. Foram ano- tados os procedimentos dos técnicos em relação à biossegurança e o bem estar animal. Os usuários foram observados desde o momento da entrada no biotério, sua conduta em relação aos animais do seu experimento, até a saída quando ocorre o descarte dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Todos os protocolos de pesquisa realizados pelos pesquisadores usuários dos biotérios foram aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Ani- mais (CEUA/Fiocruz), e os parâmetros ambientais e de manejo também foram avaliados pela referida comissão. Protocolos aprovados: LW-38/11, LW- 08/10, L-024/09, LW-42/11. 3 RESULTADOS Após a identificação dos pontos críticos e ris- cos, os médicos veterinários, através de estratégias específicas de cada biotério do Centro Experimen- tação Animal (CEA), ou seja, para cada realidade, estabeleceram planos para a minimização dos referidos riscos para que tanto os técnicos como os usuários fossem capazes de realizar seus serviços e pesquisas dentro das normas vigentes. Os procedimentos errados e percebidos na ho- ra, foram imediatamente corrigidos; porém os observados após a saída do usuário eram anotados no livro de ocorrência do biotério para posterior- mente ser discutido de forma a se estabelecer as normas do biotério. O foco principal da atividade do médico vete- rinário é supervisionar o atendimento, o bem-estar e a clínica de animais utilizados em pesquisa, testes, ensino e produção. Esta responsabilidade estende-se a monitorar e promover bem-estar ani- mal durante a sua utilização e em todas as fases de sua vida12. Constatou-se a necessidade de sensibilizar e orientar os usuários, tais como: pesquisadores, alunos de pós-graduação e técnicos de outros labo- ratórios e, também, orientar e capacitar os técnicos de cada biotério no uso de EPIs (Figuras 1 e 2), uma vez que foram observados casos de retirada de EPIs, como máscaras (motivadas pelo emba- çamento de óculos, dificuldade de respiração) e a perda de sapatilhas, sem que qualquer providência fosse tomada pelo usuário e/ou técnico. No manejo e contenção dos animais de labo- ratório os técnicos e usuários foram orientados e treinados (Figuras 3 e 4). No quesito “bem-estar animal”, os casos de ausência do veterinário responsável pelo protocolo e a falta de pessoal capacitado no momento da eutanásia, em qualquer espécie, foram os mais fre- qüentes. Além disso, constatou-se o despreparo do pessoal no manejo de coelhos (Oryctolagus cuni- culis), quer na simples contenção, na aplicação de injeções intramusculares e na coleta de sangue, causando o aumento do sofrimento do animal em experimentação. Em alguns casos, mesmo o usuá- rio conhecendo o próprio despreparo, continuava Figura 2: Uso de EPI para área de lavagem Figura 1: Uso de EPI para entrada no biotério. A IMPORTÂNCIA DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E O TRABALHO EM EQUIPE EM BIOTÉRIO ExPERIMENTAL 266 RESBCAL, São Paulo, v.1 n.3, p. 263-269, jul./ago./set. 2012 promovendo o sofrimento do animal, obrigando a intervenção do médico veterinário responsável pelo biotério; ou, após o manuseio dos animais, era comum que os mesmos fossem recolocados nas estantes sem água ou comida. Em relação aos técnicos, a falta mais observada foi a aceitação de animais com características dife- rentes daquelas pedidas pelo usuário. Outra falha notada no trabalho dos técnicos foi o excesso de rapidez na troca de caixas e limpeza das estantes, o que produzia maior estresse aos animais. Além disso, notou-se expressiva mudança de comportamento dos técnicos após as capacitações oferecidas pela instituição. Além de saírem mais conscientizados, se sentiram prestigiados pela oportunidade que lhes foi fornecida. 4 DISCUSSÃO Os biotérios de experimentação necessitam cui- dados rigorosos, pois são ambientes artificiais nos quais os animais ficam alojados durante o período experimental, sendo inevitável o seu manuseio, tanto nas rotinas, como nos experimentos. Há de se oferecer aos animais um ambiente adequado, bem como cuidados adicionais, à alimentação e hidratação. O Centro de Experimentação Animal fornece EPIs descartáveis e de alta qualidade a todos os usuários e técnicos de biotérios, não aceitando a entrada de profissionais com EPIs que já foram utilizados em outras áreas. Para os técnicos que não faziam uso adequado de EPIs foram feitas explanações de conscientiza- ção a respeito da importância do uso correto desses equipamentos nas rotinas do biotério Para os usuários foi instaurada uma dinâmica de acompanhamento durante as primeiras visitas. Deste modo, conseguiu-se demonstrar a forma correta de se paramentar e as condutas de biosse- gurança a serem seguidas no interior do biotério. Quando notado o uso indevido de EPIs mesmo após os primeiros acompanhamentos, o médico veterinário fornecia-os novamente, aproveitando da ocasião para falar sobre a importância do uso de EPIs para a segurança do profissional, dos demais usuários e na qualidade do resultado da pesquisa. No intuito de sedimentar a boa prática do uso do EPI, o médico veterinário promovia o acompa- nhamento dos usuários que tivessem apresentado algum tipo de rejeição ao uso do EPI em opor- tunidades pretéritas, demonstrando novamente cada fase da paramentação e os locais de acesso às sapatilhas, luvas, jalecos, máscaras e demais equipamentos, no caso de haver necessidade de sua substituição durante a etapa de pesquisa. Como dito anteriormente, cada biotério pos- sui uma realidade diferente, e os biotérios de experimentação devem ser projetados de acordo com o grupo de risco dos agentes que serão ali manipulados, tendo em vista as recomendações para diferentes níveis de biossegurança6. O pro- jeto das instalações que compõem um biotério ou um laboratório de experimentação animal, constitui um dos fatores de maior importância, pois assegura a eficácia de seu funcionamento e, consequentemente, o cuidado e a vigilância adequados à manutenção dos animais ali aloja- dos12. Por isso, mesmo que as condições espaciais (estrutura física e construtiva) tenham sofrido um Figura 3: Manipulação correta dos animais. Figura 4: Contenção correta dos animais. RESBCAL, São Paulo, v.1 n.3, p. 263-269, jul./ago./set. 2012 267 Maria Alice do Amaral Kuzel, Tatiana Pádua Tavares de Freitas, Giuliana Viegas Schirato, Jenif Braga de Souza, Carlos Alberto Müller processo de adequação, ou seja, com adaptações arquitetônicas, há pontos críticos a serem mini- mizados através de condutas preconizadas pelo médico veterinário responsável por cada biotério, respeitando-se a realidade local. Para se ter uma idéia da necessidade de orientação e da presença do profissional supracitado, é necessária uma organização funcional que permita a experimen- tação dentro de padrões de conforto, higiene e segurança exigidos pela utilização de diferentes espécies, já que tanto os animais de criação quanto aqueles em experimentação requerem uma permanente vigilância ambiental, higiênica e nutricional. Há de se ter a definição do fluxo- grama das operações de rotina dos técnicos do biotério, tais como por exemplo: recebimento e armazenamento correto de insumos e equipamen- tos inerentes ao biotério; descarte de carcaças e outros resíduos; lavagem, esterilização e descon- taminação de materiais (gaiolas e bebedouros), que garantam a higidez do ambiente; a utiliza- ção, para tanto, das normas e dos procedimentos de biossegurança e/ou segurançado trabalho, levando-se em consideração a alta rotatividade dos usuários nos biotérios de experimentação, devido ao grande número de procedimentos nas pesquisas científicas. O acesso ao biotério deve ser restrito aos profissionais envolvidos nas ati- vidades nele desenvolvidas7. Neste contexto, a presença do médico vete- rinário é essencial para garantir as condições adequadas num biotério de experimentação, de forma a prevenir, minimizar ou eliminar os riscos das atividades desenvolvidas, sem comprometer o meio ambiente, o homem e a qualidade dos trabalhos, como preconiza as normas de bios- segurança. No que tange às falhas de contenção, inicial- mente foi colocado técnico capacitado à dis- posição dos usuários, de forma a oferecer-lhes auxílio e orientações adequadas sobre as formas de contenção. Esquecimentos de recolocação dos animais com água e comida raramente ocorrem. Nessas situações, além de se orientar os usuários numa próxima entrada no biotério, os técnicos fazem inspeções duas vezes ao dia, para verificar as salas dos animais e as salas de procedimentos. Quando notória a falta de habilidade de um usuário em relação ao experimento, fazia-se que a equipe retornasse acompanhada do médico veteri- nário responsável pelo protocolo, ou com alguém treinado pelo mesmo. Corroborava-se, assim, com o preconizado, em que o uso de modelos animais deve ser pautado por princípios éticos, além de condutas que minimizem a dor e o sofrimento do animal; que todos os procedimentos com animais que possam causar dor devem ser desenvolvidos com sedação, analgesia e, se necessário, com anestesia adequada6. Como esses são considerados procedimentos clínicos, assim como a eutanásia, são de responsabilidade privativa do médico vete- rinário, ou seja, é obrigatória sua participação na supervisão ou execução, em todas as circunstân- cias que se faça necessária7,10, pois erros humanos e técnicas inadequadas podem comprometer as melhores salvaguardas de proteção do pessoal8. Por isso, o caso de eutanásia deve ser resultante de vários treinamentos, realizando-se um reveza- mento entre os técnicos, com o objetivo de que estes não fiquem insensíveis ao procedimento9. Um médico veterinário ou outra autoridade com- petente deve ter função de consultor5. O recebimento de animais com características diferentes das solicitados pelos usuários trazia grande transtorno, pois era necessário contatar o biotério de criação e pedir a troca dos animais. Após, tal atividade de pedir a correção do erro ser colocada sob a supervisão do médico veterinário responsável pelo biotério, os técnicos passaram a ter maior atenção nesta fase. Quanto à excessiva pressa em terminar o serviço de troca de caixas e de limpeza das estantes, escolheu-se, dentro da equipe, quem possuía maior aptidão para a tarefa ou preferência por determinada espécie, apesar de o treinamento ser feito em todos os elementos da mesma. Assim, os procedimentos técnicos ou administrativos passaram a ser des- critos e de conhecimento de toda a equipe, e o técnico escolhido para limpeza de determinada sala passou a ser treinado para fazer o trabalho de forma correta; no início, com acompanhamento do A IMPORTÂNCIA DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E O TRABALHO EM EQUIPE EM BIOTÉRIO ExPERIMENTAL 268 RESBCAL, São Paulo, v.1 n.3, p. 263-269, jul./ago./set. 2012 médico veterinário e, mais tarde, com entradas em horários diferentes para supervisionar e corrigir as falhas. Foi notado que tantos os animais quanto os técnicos ficaram menos estressados. Outro fato interessante é que o técnico responsável pela sala passou a se sentir valorizado e à vontade para tirar dúvidas ou fazer pedido de material para a melhoria de seu trabalho. O atendimento ao usuário melhorou, pois o responsável pela sala, agora, é conhecedor de toda realidade local, repassada, de forma segura, para o veterinário responsável e para o usuário. Os técnicos com aptidão para a área de lavagem, melhoraram a qualidade de seus serviços. Esses fatos são reforçados pela opinião de outros autores que afirmam que se deve executar uma gestão que venha oferecer aos animais um ambiente adequa- do ao seu bem estar6, que venha a demonstrar responsabilidade e respeito à vida; minimizar a dor ou o sofrimento; proporcionar um ambiente controlado, que diminua as condições de estresse e garantir a qualidade dos animais experimentais em seu papel como “reagentes biológicos”4. Se- gundo Lee-Parritz (2001), em relação ao principio dos Três Rs (Replacement, reduction, refinament) formulados por Russel e Burch, o refinamento é considerado o mais importante no trabalho com animais de experimentação2. Após a participação dos técnicos nos cursos oferecidos, foram observadas mudanças posi- tivas de postura no trabalho dos mesmos. Há consenso que, além da atualização da formação técnica, é imperioso exigir conscientização, ética e imputação de responsabilidade legal na manipulação animal1. Esse fato é de extrema importância porque não há dúvidas sobre as vantagens advindas da qualificação profissional, o que contribui para o fortalecimento das pesqui- sas na área da saúde e das ciências biológicas. Assim, deve haver o incentivo na atualização do profissional em relação às tendências e ino- vações tecnológicas das áreas de atuação e das necessidades do serviço, pois o emprego de ani- mais na experimentação fornece conhecimentos que contribuem de forma significativa para o bem-estar tanto do homem quanto dos animais. Objetiva-se uma melhor compreensão da fisiolo- gia e patologias das espécies e a busca de novos investimentos na descoberta de imunobiológicos e fármacos a serem utilizados na prevenção e tratamento da saúde humana e animal. O uso de animais de experimentação é vital para a pesquisa biomédica2. Profissionais que realizam experimentos e os que cuidam dos animais devem ter formação e treinamento adequados. Em particular, profissio- nais que realizam ou supervisionam a execução de experimentos devem ter disciplina e compe- tência de acordo com o trabalho experimental a ser realizado, sendo capazes de lidar e cuidar de animais de laboratório5. Ao usarem-se animais em investigações, existe uma obrigação legal e moral de salvaguardar seu bem-estar e causar-lhes o menor sofrimento possível3. 5 CONCLUSÃO Todos os profissionais devem ser capacitados para exercer o manuseio e a pesquisa em animais dentro destes conceitos. Devido à presença do mé- dico veterinário e de suas orientações aos técnicos do biotério e usuários, e da capacitação oferecida aos bioteristas do CEA/IOC à preocupação com o bem-estar e a segurança dos profissionais e dos animais envolvidos na experimentação, e, natu- ralmente, com a qualidade animal para obter a validação da pesquisa experimental, os riscos são minimizados. Como a maioria dos biotérios de experimentação não foi estruturalmente planejada, e sim sofreu uma adequação física, a mudança de procedimentos nas rotinas aplicadas é eficaz para que os animais possam responder satisfatoriamen- te aos experimentos neles realizados e para que haja segurança aos que os manipulam. RESBCAL, São Paulo, v.1 n.3, p. 263-269, jul./ago./set. 2012 269 Maria Alice do Amaral Kuzel, Tatiana Pádua Tavares de Freitas, Giuliana Viegas Schirato, Jenif Braga de Souza, Carlos Alberto Müller AB ST RA CT RE FE Rê NC IA S THE IMPORTANCE OF QUALIFIED PROFESSIONALS AND TEAMWORK IN AN ExPERIMENTAL BIOTHERIUM This study’s objective is to demonstrate the need for the veterinarian in the research and monitoring of procedures and routines that are performed in animal experimentation facilities. This need is independent of the premises and includes the importance of profes- sional qualifications for thetechnicians who work therein. A survey was conducted on the critical points of the Animal Experimentation Center; Oswaldo Cruz Institute (CEA / IOC). Certain risks were identified and then minimized, due to the presence of the veterinarian, through their professional guidance to the biotherium’s technicians and users (researchers, technologists, graduate students and technicians from other labs). Observations were also made after sending the CEA/IOC technicians to training courses offered by the institution, including the aforementioned guidelines. These included: A Specialization Course for Technicians, Biomedical Research Biosafety, Biosecurity in Biotheriums, Good Laboratory Practices and Fire Prevention. From this it can be determined that professionals should be trained in animal handling and research. Within the established guidelines. It can be concluded that due to the presence of the veterinarian, as well as the training offered, risks and concerns for the safety and welfare of both the professionals and animals were minimized. Changes in routine procedures when applied effectively allow the animals to respond satisfactorily to the experiments performed on them, in addition to providing safety to those who handle them. CEUA/Fiocruz LW-38/11, LW-08/10, L-024/09, LW-42/11. Keywords: Biotherium. Veterinarian. Laboratory Technician. 1. Molinaro EM, Majerowicz J, Couto SER, Borges CCA, Moreira WC, Ramos S. Animais de Laboratório. In: Molinaro E, Caputo L, Amendoeira R, editores. Conceitos e métodos para formação de profissionais e laboratório de saúde: volume 1. Rio de Janeiro: EPSJV/IOC; 2009. p.155. 2. Lee-Parritz D. Animal care and maintenance. In: Souba WW, Wilmore SW, editors. Surgical Research. London: Academic Press; 2001. p.47-61. 3. Comisíon Nacional de Investigacíon Cientifica y Tecnológica; Comité Asesor de Bioética FONDECYT-CONICYT. 4º Taller de bioética - aspectos bioéticos de la experimentación animal: 2009. Santiago: CONICYT; 2009. 4. Frajblat M, Amaral VLL, Rivera EAB. Ciência em animais de laboratório. Cienc Cult. 2008;60(2):44-6. 5. Van Zutphena LFM, van der Valkb JBF. Developments on the implementation of the Three Rs in research and education. Toxicol In Vitro. 2001;15: 591-5. 6. Majerowicz J. Boas práticas em biotérios e biossegurança. Rio de Janeiro: Interciência; 2008. 7. Brasil.Ministério da Saúde. Diretrizes Gerais para o trabalho em contenção com agentes biológicos. 3rd ed. Brasília: Editora MS; 2010. 8. Organização Mundial da Saúde. Manual de Segurança Biológica em Laboratório. 3rd ed. Genebra: OMS; 2004. 9. Silva APR, Valentini EJG, Távora MFCLF, Rodrigues UP, Moreira VB, Mattaraia VGM. Animais de experimentação: cuidados e descarte. Biotec Ciên Desenv. 2005;35:16-20. 10. Brasil. Conselho Federal de Medicina Veterinária. Resolução Normativa n°. 1.000, de 11 de maio de 2012. Dispõe sobre procedimentos e métodos de eutanásia em animais e dá outras providências. Diário Oficial da União 16 maio 2012; Seção 1. 11. Brasil.Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal. Resolução Normativa n°. 6, de 10 de julho de 2012. Altera a Resolução Normativa nº 1, de 9 de julho de 2010, que “Dispõe sobre a instalação e o funcionamento das Comissões de Éticas no Uso de Animais (CEUA’s)”. Diário Oficial da União 11 jul 2012; Seção1. 12. National Research Council of the National Academies. Guide for the care and use of laboratory animals. 8th ed. Washington: The National Academies Press; 2010. 13. Cardoso TAO. Considerações Sobre a Biossegurança em Arquitetura de Biotérios. Bol Centr Panam Fiebre Aftosa. 1998-2001; 64-67: 3-17. 14. Molinaro EM, Majerowicz J, Valle S. Biossegurança em biotérios. Rio de Janeiro: Interciências; 2008.
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