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Apoio: CURSO INSTRUMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR MÓDULO I: INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO URBANO Professor: Benny Schavsberg PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 2 Apoio: SUMÁRIO INTRODUÇÃO: esclarecimentos conceituais e técnicos preliminares ....... 3 1. Algumas características do Planejamento urbano no Brasil ................ 5 2. Periodização do Planejamento urbano no Brasil ...................................... 8 2.1. Planejamento no período do Séc. XIX a 1930 ...................................... 8 2.2. Planejamento no período de 1930 a 1988 ........................................... 9 2.3. Planejamento urbano pós-1988 ...................................................... 12 3. Problemas e Desafios para o Planejamento urbano no Brasil............ 15 CONCLUSÃO .................................................................................................. 24 REFERÊNCIAS BÁSICAS............................................................................... 26 ANEXO 1.......................................................................................................... 30 PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 3 Apoio: Planejamento Urbano INTRODUÇÃO: esclarecimentos conceituais e técnicos preliminares A trajetória das práticas e teorias do planejamento urbano no Brasil apresenta várias modalidades. De acordo com Villaça (2010), a mais antiga dentre elas é o Zoneamento; posteriormente surgiram os Planos de Embelezamento e Melhoramentos, o Plano de Avenidas e os Planos Diretores que sempre tiveram presente a noção de zoneamento. O termo Urbanismo, frequentemente utilizado junto ao termo Planejamento Urbano, tem sua designação como ciência e arte de ordenação urbana atribuída ao arquiteto espanhol Ildefonso Cerdá, registrado na sua obra Teoria Geral da Urbanização, de 1867 (HAROUEL, 2004 citado por BORGES, 2007). E foi cunhado, então, para designar uma disciplina nova voltada para o estudo e prática da transformação e construção da cidade da era industrial. Esses esclarecimentos iniciais são necessários, uma vez que, é comum a confusão entre alguns termos como Zoneamento e Plano Diretor, Planejamento Urbano e Plano Diretor, Plano Diretor e Uso e Ocupação do Solo, além de confusões a respeito dos termos Urbanismo e Plano. Os termos Zoneamento e Plano Diretor são referências cuja tradução remete à tradição inglesa, o primeiro, e à francesa, o segundo; sendo muitas vezes confundidos entre si, e até mesmo, tendo a mesma conotação. Historicamente, o zoneamento foi um das primeiras ferramentas utilizadas no planejamento urbano das cidades brasileiras do Rio de Janeiro e São Paulo, a partir de meados do Séc. XIX, mas de forma rudimentar, como sustenta Villaça (2010). Apesar PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 4 Apoio: de ser provavelmente o mais antigo instrumento do planejamento urbano brasileiro, segue ainda hoje amplamente utilizado, sob diversas formas, como um dos conceitos e técnicas mais usuais da elaboração dos planos diretores municipais como demonstra a pesquisa realizada pela Rede Nacional de Avaliação dos Planos Diretores Participativos (SNPU/MCidades, IPPUR, 2010). Nesta pesquisa, tendo como amostra mais de 500 (quinhentos) planos diretores elaborados recentemente, o zoneamento é o instrumento que mais aparece. Utilizou-se a designação de Plano Diretor no Plano Agache feito em 1930 para a cidade do RJ e, desde então, Planos Diretores foram desenvolvidos em várias cidades brasileiras, com algumas alterações ao longo das décadas suscitando adequações ao nome, como Plano de Avenidas, Plano Urbanístico Básico, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado e os mais recentes, Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental, Plano Diretor Estratégico, Plano Diretor Participativo, Plano de Ordenamento Territorial etc. Mesmo com o Plano Diretor tendo renovado sua importância a partir do capítulo de Política Urbana da Constituição Federal de 1988, como instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana, ao nível dos municípios, que passaram a ter a competência fundamental sobre a ordenação do uso e ocupação do solo, ainda há confusão entre tais termos. Adotaremos aqui uma conceituação básica, o zoneamento, de acordo com Pólis (2001, p.38), “significa a divisão do conjunto do território urbanizado (ou a ser urbanizado) em zonas diferenciadas, para as quais são aplicados parâmetros de uso e ocupação específicos”. Já o uso e ocupação do solo, de acordo com a mesma fonte (Pólis, 2001, p.34) “é visto como um mecanismo de regulação dos usos urbanos baseado principalmente em modelos ideais de distribuição de densidades e compatibilidade de usos”. Há municípios que incorporam na lei do Plano Diretor os parâmetros de uso e ocupação do solo, e outros que editam leis específicas do uso e PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 5 Apoio: ocupação do solo de forma separada dos seus Planos Diretores, o que geralmente compromete a autoaplicabilidade do PD. Assim, a elaboração de Planos Diretores e sua efetiva implementação nos termos do Estatuto da Cidade se constituem em ferramentas importantes para os Municípios. Entretanto, o processo permanente de planejamento urbano é mais amplo em suas dimensões técnicas e políticas e coloca desafios que não se esgotam na produção e implementação de Planos Diretores, como se discutirá adiante. 1. Algumas características do Planejamento urbano no Brasil As experiências de planejamento urbano no Brasil passaram por vários períodos com visões e práticas diversificadas. No atual marco jurídico urbanístico brasileiro está consolidado o conceito de que para uma cidade possuir algum nível de planejamento urbano é necessário que ela tenha um Plano Diretor como seu principal instrumento de expansão urbana. E ainda, que a falta de um Plano e de uma prática permanente de planejamento e gestão urbana teria relação com mazelas tais como índices de criminalidade elevados devido à falta de equipamentos públicos, serviços e infraestrutura adequada. Portanto, vigora a ideia de que cidades ordenadas, com infraestrutura e baixos índices de violência urbana, necessitam de boas praticas de planejamento e gestão, assim como de Planos eficazes. Na trajetória das cidades brasileiras são raros os momentos em que, o planejamento urbano e os investimentos e obras na cidade confluem na mesma direção. De um lado, predominam ações e intervenções, públicas e privadas, sem relação com o planejamento e os planos; e de outro, planejamentos e planos que não se efetivam em obras e investimentosrealizados no território das cidades. Assim, do ponto de vista de um crescimento ordenado, socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável das cidades, o planejamento sem ação é tão ineficaz quanto as ações sem planejamento. Não é razoável a expectativa de que o planejamento e os Planos, por mais qualidade técnica PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 6 Apoio: e participativa que possuam, tenham poderes extraordinários para resolver problemas urbanos estruturais das cidades brasileiras tais como as enchentes, ocupação de áreas de risco, congestionamentos, ausência de transporte publico, saneamento básico, moradia digna e urbanização dos bairros populares. Especialmente os Planos Diretores, na experiência brasileira recente, mostram a diversidade desse instrumento e de sua capacidade de orientar o ordenamento e expansão de nossas cidades. Mas tornou-se necessário e obrigatório1 tê-los em consideração, sobretudo na perspectiva de uma política urbana que efetive o Direito à Cidade para todos, e faça cumprir a função social da cidade e da propriedade. É conhecida a crítica de que a descontinuidade administrativa, e o caráter errático das políticas urbanas, levam à ineficácia e ao desordenamento das cidades. Da mesma forma, a falta de investimentos, ou o descompasso de investimentos com a orientação dos Planos, leva a uma cidade “desordenada”, talvez mais do que a não obediência a um plano. A experiência brasileira mostra ainda que, o melhor Plano Diretor não substitui um processo permanente e qualificado de planejamento e gestão urbana, que implica em dispor o município de capacidade técnica instalada para o licenciamento, controle, monitoramento e fiscalização das atividades urbanas, com cartografia atualizada e sob controle social participativo. Assim, o Plano, assim como o planejamento e a gestão, são portadores de políticas urbanas que, por sua vez, se materializam em um duplo movimento: de um lado, nos parâmetros de uso e ocupação do solo, geralmente estabelecidos na lógica do zoneamento, que geram valorização ou desvalorização imobiliária diferenciada na cidade; e de outro, na orientação das ações, intervenções e obras concretizadas no espaço urbano. A natureza e orientação dessas últimas, 1 O Plano Diretor é obrigatório para cidades: com mais de 20 mil hab.; integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no § 4o do art. 182 da Constituição Federal; integrantes de áreas de especial interesse turístico; inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional; e incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos. (BRASIL, 2001) PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 7 Apoio: principalmente, são capazes de definir os grandes rumos tomados pelo crescimento urbano e territorial, e os segmentos sociais privilegiados e os secundarizados por este crescimento em cada cidade e localidade. Ao estudar a história do planejamento brasileiro, Villaça (1999) sistematiza 5 correntes principais, conforme Fig.1. Figura 1: Cinco correntes apontadas por Villaça no Planejamento urbano no Brasil. Fonte:Villaça 1999 No planejamento urbano brasileiro essas cinco correntes ocorrem por períodos que podem ser classificados em: Planejamento urbano no período do Séc. XIX a 1930, de 1930 a 1990 e do período de 1990 aos dias atuais. No período entre o Séc. XIX e o início da década de 1930, são atuantes as correntes do zoneamento, o planejamento de novas cidades (O Plano de Belo Horizonte de 1898), dos planos de embelezamento e melhoramento, do urbanismo “sanitarista” e dos planos de infraestrutura. No período subsequente, de 1930 até início de 1990, são atuantes as correntes dos Planos de infraestrutura urbana, o Planejamento Scrictu Sensu e o planejamento de novas cidades, PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 8 Apoio: com destaque para o Plano de Brasília de 1957. No período de 1990 aos dias atuais, que passam por novos marcos jurídicos é atuante o chamado Planejamento Scrictu Sensu. Para entendermos melhor, passaremos adiante por um breve detalhamento desta trajetória do Planejamento urbano no Brasil, tendo como objetivo chegarmos ao período recente que deu origem aos Planos Diretores atuais constituindo os principais instrumentos das cidades brasileiras para alcançar o ordenamento e o desenvolvimento urbanos. 2. Periodização do Planejamento urbano no Brasil 2.1. Planejamento no período do Séc. XIX a 1930 Com o intuito do planejamento urbano de promover e organizar o espaço urbano no Brasil houve um início rudimentar, ainda no século XIX, o zoneamento, aplicado no RJ. Sendo o zoneamento incluído em leis, decretos e editais desde 1834, conforme descreve Borges (2007), data do 1º código de Posturas Urbanas no RJ, estabelecendo duas zonas: a cidade e os campos; em 1914, passa para 3 zonas: urbana, suburbana e rural, definida em mapa em 1918; e, em 1925, é incluída mais uma zona - a central - é nesse período que os cortiços são banidos da zona urbana e central do RJ por se tratar de espaços propícios à doenças, também se estabeleceu o aproveitamento do solo em função das larguras das ruas e avenidas. Ainda no Séc. XIX, o surgimento da corrente do planejamento de novas cidades, o Plano de Aarão Reis para Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Esse projeto tem reflexo do urbanismo monumental e barroco de Washington e Paris de Haussman e não utiliza nenhum tipo de instrumento de planejamento, como o zoneamento, sendo mais projeto de cidade. Após a criação de Belo Horizonte e ao mesmo tempo da aplicação do zoneamento, surgiram os planos de melhoramento, a partir de 1904, com Pereira Passos, PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 9 Apoio: abrindo vias para expandir a cidade do RJ, assim como Haussman fez em 1850-1870, em Paris. Nesse período dos Planos de Embelezamento, Melhoramento e extensão das cidades com medidas sanitaristas surgiram o Plano Geral de Melhoramentos de Porto Alegre, datado de 1914; e, em 1930 o Plano Agache, no Rio de Janeiro, que incluiu pela primeira vez o termo Plano Diretor, pelo urbanista francês, Donat-Alfred Agache. Nesses planos, o objetivo principal era abertura de vias para melhorar o trânsito, o embelezamento e a higienização das cidades. De 1905 a 1912, o urbanismo “sanitarista” surgiu pelo então engenheiro sanitarista, Saturnino de Brito, que desenvolveu um programa de saneamento, separando por canais as águas de rios e córregos das águas do esgoto na cidadede Santos/SP, para evitar que, uma série de doenças exterminasse a população. Sendo assim, o planejamento urbano brasileiro do primeiro período utiliza-se do zoneamento primitivo, depois o planejamento de novas cidades, exemplificado como projeto de Belo Horizonte; os planos de embelezamento e melhoramento que tinham objetivos de formosear a cidade, criar vias para melhorar o tráfego e higienizar a cidade devido às enchentes da época que traziam doenças, como no Rio de Janeiro. E, por fim o urbanismo “sanitarista” que tinha o objetivo de higienizar a cidade, para impedir a dizimação da população, como em Santos/SP. 2.2. Planejamento no período de 1930 a 1988 Na década de 1930 continuam a ser utilizados os planos de melhoramento, como planos de infraestrutura, ou seja, projetos de vias e avenidas, pois o trânsito continua a ser estimulado nos Planos subsequentes ao Plano Agache, como o Plano de Avenidas em SP, por Prestes Maia, em fins da década de 1930. Na década de 1940, o planejamento urbano brasileiro é marcado por decretos- leis que estabelecem, entre outras coisas, as obrigações urbanísticas e os planos de PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 10 Apoio: urbanização (REZENDE, 2005; BRASIL, 1941), são dessa época alguns planos desenvolvidos com o apoio do urbanista francês Donat-Alfred Agache, como os de Curitiba/PR (1940-1943) e Vitória/ES (1945). Também são desse período outros planos importantes, como o Plano de Urbanização de Porto Alegre/RS e o Plano Urbanístico da Cidade de Salvador/BA. Até a década de 1940, na administração municipal, a expressão recorrente era o “embelezamento urbano”. Vários órgãos de planejamento e/ou comissões de planos se instalam nos anos 1940, se intensificam nos anos 1950 e se multiplicam especialmente a partir da criação do SERFHAU – Serviço Federal de Habitação e Urbanismo em 1964, e de sua regulamentação em 1966. Com a criação do SERFHAU, a liberação de recursos para elaboração de planos ficou condicionada à instalação de órgãos técnicos de planejamento nas prefeituras. Ao mesmo tempo em que se fraqueava a possibilidade de contratação pelas prefeituras de empresas de consultoria para elaboração de planos, o que passou a vicejar largamente até hoje. Nessa trajetória, os planos foram marcados por serem basicamente realizados somente por técnicos, sem maior preocupação com a participação da sociedade, e contendo propostas muitas vezes irrealizáveis e ineficazes. (FELDMAN, 2005; SCHASBERG, 2006; FERREIRA, 2007; CYMBALISTA E SANTORO, 2009). Na década de 1950, em São Paulo, o Padre francês Louis-Joseph Lebret desenvolveu uma das maiores pesquisas urbanas do Brasil, conhecida como Pesquisa de Estrutura Urbana da Aglomeração Paulistana, para conhecer a cidade, não fazendo parte de plano algum. Em fins dessa mesma década, o Padre Lebret dirige a SAGMACS – Sociedade para Analise Gráfica e Mecanográfica Aplicada a Complexos Sociais que expande a aplicação da sua metodologia aplicando suas pesquisas para Belo Horizonte/MG e o Rio de Janeiro. São pesquisas e análises importantes para o planejamento dessas cidades, embora não tenham gerado necessariamente Planos Urbanos. PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 11 Apoio: Nas décadas de 1960 e 1970, o Brasil presenciou em seu planejamento um grande número de planos diretores realizados nas grandes e médias cidades, financiados pelo Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU), que vinculava o repasse de recursos à existência dos planos diretores como verdadeiros instrumentos de controle político (BRASIL, 2005; FELDMAN, 2005; MUNIZ, 2006; FERREIRA, 2007; CYMBALISTA E SANTORO, 2009). Esse período utiliza a expressão Planejamento Local Integrado, visando o desenvolvimento integrado de algumas regiões metropolitanas. Ainda nos anos de 1960, surgem grandes estudos como diagnósticos multidisciplinares e a introdução dos estudos econômicos nos planos urbanos integrados no Brasil. Em 1965, surge o Plano Doxíadis (1965) para o RJ, e em seguida o Plano Urbanístico Básico de São Paulo – PUB-SP (1968-1969) – que rejeita o nome plano diretor e aborda muitos temas detalhadamente, como um diagnóstico de SP, prática dominante no período da SERPHAU. Nesse período também surge o projeto de Brasília, com princípios do urbanismo modernista, tida à época como uma cidade planejada. Na década de 1970 o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (1971) para São Paulo, ao contrário dos grandes diagnósticos, foi uma simples lei com pouca aplicabilidade e sem mapas, posteriormente sendo considerado obsoleto; no mesmo período é desenvolvida a lei estadual de parcelamento do solo de SP (19972), o PUB – RIO (1977) e a Lei Federal Nº 6.766/79 de parcelamento do solo, que perdura até recentemente quando tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei 3.057 de revisão daquela lei. Os Planos Diretores da década de 1960 e 1970 tiveram baixa operacionalidade e eficácia do ponto de vista do planejamento urbano, ou seja, de sua capacidade de promover ordenação do espaço urbano. As leis de zoneamento e de parcelamento do solo tiveram maior aplicabilidade como instrumentos de ordenamento e controle das cidades. PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 12 Apoio: A partir de 1980, com o regime militar em declínio e o aumento de movimentos populares por melhores condições de vida, resultou em 1988, na inclusão dos Art. 182 e 183 na nova Constituição Federal, constituindo pela primeira vez um capítulo de política urbana iniciando um novo marco jurídico urbanístico no Brasil. Na década de 1990, os planos diretores começaram a ser desenvolvidos a partir do estabelecido na Constituição de 1988, incluindo instrumentos inovadores anunciados no capítulo da política urbana, muito embora ainda predominasse a cultura tecnocrática. O fato de a participação popular não estar garantida na elaboração dos planos diretores nas décadas de 1980 e 1990 não quer dizer que não houve um significativo esforço de órgãos públicos (dentre eles as prefeituras), equipes acadêmicas, a mobilização da sociedade organizada e dos movimentos sociais para que os princípios de direito à cidade e da função social da cidade e da propriedade fossem contemplados; ou seja, esses agentes foram fundamentais para que o movimento da reforma urbana tomasse força para aprovar o que viria a ser o Estatuto da Cidade (EC) regulamentando o capítulo da Política Urbana. 2.3. Planejamento urbano pós-1988 O Estatuto da Cidade pode ser entendido como uma “caixa de ferramentas”, onde seus instrumentos podem ser utilizados para ordenar e induzir o desenvolvimento urbano, promover a regularização fundiária e a gestão democrática das cidades. Dessa maneira, abriu-se um novo período no planejamento urbano no Brasil, pós-Estatuto da Cidade, trazendo uma nova dimensão para o desenvolvimento do planejamento urbano. Surge uma nova “safra” de planos diretores, com a utilização dos instrumentos do Estatuto e novas experiências de planejamento urbano, sobretudo nos municípios, elevados à condição de entes federativose com atribuição inequívoca de controle e ordenamento do uso e ocupação do solo em seu território urbano e rural. PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 13 Apoio: A nova safra de Planos Diretores pós-Estatuto da Cidade tem como um de seus traços o esforço por incorporar aspectos socioeconômicos e instrumentos de política urbana regulamentados pelo EC, além dos tradicionais aspectos físico-territoriais. De acordo com a pesquisa realizada pela Rede de Planos Diretores2, no entanto, observa-se que poucos utilizaram de forma autoaplicável os instrumentos enunciados em seus artigos; quando apresentaram os instrumentos, o fizeram em geral de forma vaga e genérica, raros planos apresentaram os instrumentos mapeados e espacialmente bem delimitados em sua aplicação. Outra conhecida limitação para a prática do planejamento urbano é a precária qualificação técnica instalada nas administrações locais. Com raras exceções, prefeituras de pequeno e mesmo médio porte não possuem nenhum órgão específico para tratar do planejamento e ordenamento urbano e territorial, o que dificulta ainda mais a elaboração e implementação de um processo permanente de planejamento das cidades e municípios. Nesse sentido dos órgãos destinados ao desenvolvimento do Planejamento Urbano no Brasil, uma nova expectativa ocorreu quando da criação de um órgão nacional para a Política Urbana, com a criação do Ministério das Cidades em 2003, Como afirma Maricato (2006, p. 214), a criação do Ministério veio para “ocupar um vazio institucional que retirava completamente o governo federal da discussão sobre a política urbana e o destino das cidades”, pois desde a queda do regime militar não havia uma proposta de política urbana que conseguisse ser implementada nos municípios. O Ministério das Cidades foi estruturado, inicialmente, em torno dos três eixos tradicionais de políticas urbanas setoriais: a moradia, o transporte, nesse momento com o conceito atualizado de mobilidade urbana, e o saneamento, também atualizado nesse momento com o conceito de saneamento ambiental. Em face da demanda da regularização fundiária e do planejamento territorial para o desenvolvimento urbano, foi incorporado mais um eixo: o do planejamento territorial e regularização fundiária, 2 Veja-se a respeito Relatório de Avaliação dos Planos Diretores Disponível em: <http://web.observatoriodasmetropoles.net/planosdiretores/>. PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 14 Apoio: conformando assim as quatro secretarias do Ministério das Cidades: Habitação, Saneamento Ambiental, Transporte e Mobilidade Urbana, e Programas Urbanos, onde estão alocados os programas de regularização fundiária e apoio ao planejamento urbano e territorial. Com a reorganização da área de política urbana no âmbito do governo federal, a partir de 2003, há um impulso estruturador onde se insere o movimento de construção de novos marcos regulatórios para as políticas setoriais que incidem diretamente no planejamento urbano. Nesse sentido destacam-se: � A Lei Federal 11.124/2005, que institui o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social e o FNHIS - Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social, e cria os Planos Municipais de Habitação e os Conselhos Municipais de Habitação de Interesse Social, como condição para os municípios se habilitarem a receber os recursos do FNHIS. � A Lei Federal 11.445/2007, que estabeleceu o novo marco regulatório do Saneamento Básico, que estabelece o papel de estados e municípios na prestação e gestão destes serviços, e prevê que, cada município deve possuir um Plano Municipal de Saneamento Básico. � A Lei Federal 11.977/2009, que institui o Programa Minha Casa Minha Vida e a Regularização Fundiária de Assentamentos em Áreas Urbanas, posteriormente modificada pela Lei Federal 12.424/2011 conhecida como Minha Casa Minha Vida II. � Plano Nacional de Habitação – PlanHab é um dos mais importantes instrumentos para a implementação da nova Política Nacional de Habitação. Previsto na Lei 11.124/05, que estruturou o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social. � Mais recentemente, a Lei Federal 12.587/2012, que estabelece a Política Nacional de Mobilidade Urbana, onde fica clara a prioridade à veículos não PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 15 Apoio: motorizados, à calçadas, ciclovias e ciclofaixas, ao transporte publico e à integração do automóvel a um sistema de mobilidade sustentável. Desde o período do regime militar em que foi elaborada uma PNDU - Política Nacional de Desenvolvimento Urbano no âmbito do II PND – Plano Nacional de Desenvolvimento, o Brasil carece de formulação de uma nova PNDU. Neste aspecto cabe ressaltar, na escala nacional do planejamento urbano recente, o processo das Conferências das Cidades promovidas pelo Ministério das Cidades desde a primeira em 2003, e as posteriores em 2005, 2007, 2009 e 2011. Estas conferências são relevantes à medida que acumularam diretrizes e orientações para a elaboração desta nova Política Nacional de Desenvolvimento Urbano. Em síntese, o Planejamento Urbano no Brasil avançou em novos conteúdos e referências na década de 2000 após a aprovação do Estatuto da Cidade e sua colocação em prática neste período recente. Este avanço manifesta-se: nas diversas experiências desenvolvidas; na criação do Ministério das Cidades; no desenvolvimento de cerca de 1.600 Planos Diretores novos ou revisados à luz do Estatuto da Cidade; na criação dos novos marcos regulatórios nacionais para a habitação, o saneamento e a mobilidade urbana; no esforço de capacitação de prefeituras, entidades e movimentos sociais que, nas cidades e municípios, se engajam no planejamento urbano na escala local. E, sobretudo, pode-se falar em avanço na retomada dos investimentos e recursos disponibilizados para o desenvolvimento urbano no Brasil. Evidentemente, o conjunto de aspectos aqui destacados não pode desconhecer as limitações, problemas e desafios, novos e velhos que persistem para o planejamento urbano brasileiro em todas as suas escalas, que serão objeto da sessão seguinte. 3. Problemas e Desafios para o Planejamento urbano no Brasil Não obstante os avanços do período recente acima analisados, na perspectiva dos desafios para a formulação e implementação da política e planejamento urbano PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 16 Apoio: brasileiro, há um conjunto de dilemas, percalços e impasses a serem atualizados. Nesse sentido, da persistência e aprofundamento das questões mais frequentemente estudadas na problemática do planejamento urbano, cabe destacar cinco temas estruturantes: � A mobilidade, com a crise do transporte público que, embora de forma diferenciada, atravessa todo o território das cidadesbrasileiras, fortemente pautada no modelo urbanístico rodoviarista que privilegia o transporte sobre pneus, e que, nos anos recentes em virtude de políticas anticíclicas adotadas no país em face da crise financeira internacional, agravou-se com o incremento da produção da indústria automobilística nacional; � O saneamento básico, que não se universalizou com vistas a alcançar toda a população, especialmente a urbana, que contempla cerca de 82% da população total, e mais especificamente a periferia das 13 maiores regiões metropolitanas, que concentram grande parte da população favelada; � A demanda habitacional associada aos problemas derivados do boom imobiliário que tem alcançado as cidades brasileiras com a maior disponibilidade de crédito imobiliário, de um lado; e de outro, aos problemas derivados do padrão de implementação dos empreendimentos dos programas federais Minha Casa Minha Vida e PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, especialmente as ações da sua componente de infraestrutura social urbana; � O “nó fundiário”, relativo à dificuldade de acesso à terra urbanizada, bem localizada do ponto de vista do acesso às oportunidades de emprego e renda, regularizada e com infraestrutura, para os segmentos de baixa renda, tendo em vista a crônica concentração da propriedade e a normativa urbanística excludente reproduzida nos Planos Diretores, Leis de Uso e Ocupação do Solo, Leis de Parcelamento e Códigos de Obras e Edificações; PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 17 Apoio: � O modelo de expansão urbana baseado no espraiamento e dispersão do tecido das cidades de forma perdulária do ponto de vista fundiário, predatório do ponto de vista ambiental, irracional e caro do ponto de vista da extensão das redes de infraestrutura, equipamentos e serviços urbanos. Neste modelo, bastante difundido internacionalmente, com ênfase no tema da violência e insegurança, vicejam ao mesmo tempo: � O crescimento das chamadas “gated comunities” – condomínios fechados, loteamentos exclusivos, que tornam as cidades ainda mais segregadas e excludentes do ponto de vista social; � Centros degradados, constituindo objeto de desejos de revitalizações ou reabilitações na lógica de mercado, resultando, via de regra, em espaços elitizados (gentrificados), assim como as antigas áreas portuárias; � A pobreza urbana destinada à periferia cada vez mais distante, precária e ilegal, lógica muitas das vezes incorporada nos próprios programas de governo, sob a justificativa da falta de terra disponível para os programas habitacionais somada à escalada de valorização imobiliária oportunizada pelos investimentos oficiais e até mesmo pelos impactos dos grandes eventos (Copa do Mundo e Olimpíadas); � Vazios urbanos infraestruturados e grande estoque imobiliário desocupado, parcialmente ocupado ou subutilizado, sem cumprir a função social da propriedade, pública e privada. No tocante ao atendimento por Saneamento ambiental, no Brasil, ainda é insuficiente, como mostra as Fig. 2 e 3, para abastecimento de água e esgotamento sanitário, respectivamente. Sendo que, a cor branca é o indicativo de inexistência do serviço, portanto, é inexistente o serviço de abastecimento de água em boa parte da região norte, principalmente no Estado do Amazonas; e a situação ainda é mais precária PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 18 Apoio: (inexistente) sobre o esgotamento sanitário, que inclui, a parte Norte dos Estados do RS, MG, MT, parte sul do Estado do PR, parte significativa da Região Nordeste e quase toda a Região Norte do país. Figura 2: Atendimento com abastecimento de água no Brasil- dados 2004. Fonte: SNIS. Figura 3:Atendimento com Esgotamento Sanitário no Brasil - Dados 2004. Fonte: SNIS. Sobre a situação habitacional no Brasil, um número cada vez maior de pessoas vive em aglomerados precários ou “subnormais”, conforme designa o IBGE, geralmente em áreas ambientais protegidas. O último censo 2010 (IBGE, 2010) mostrou um número maior de aglomerados subnormais nas regiões Sudeste e Nordeste, como mostra a Fig. 4, as duas regiões que concentram quase 74% da população (urbana e rural) do país. PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 19 Apoio: Região Norte 16% Região Nordeste 28% Região Centro-Oeste 2% Região Sudeste 49% Região Sul 5% Figura 4:Aglomerados subnormais por regiões brasileiras, indicado em %. Fonte: IBGE, 2010. Associado àqueles problemas renova-se o desafio estruturante do modelo de ocupação desigual e fragmentado, construído e implantado em quase todo o território brasileiro, devido a diversos aspectos tais como: a) Dos 5.565 municípios, dos quais 75 %, cerca de 4.173 municípios possuem até 20 mil habitantes3; b) 48% da população urbana se concentra nas nove maiores Regiões Metropolitanas; c) Pobreza urbana concentrada em dois endereços: nos pequenos municípios menores que 20 mil e, predominantemente, na periferia das RMs; d) Território de dimensão continental, onde mais de 80 % é considerado rural, com uma estrutura fundiária perversamente concentrada, onde se renova o histórico desafio da reforma agrária; assim como é perversamente concentrada a estrutura fundiária nas nossas cidades. 3 IBGE. Municípios de até 20 mil habitantes são maioria no Brasil. 2012. Disponível em:<http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/noticias/municipios.html>. Acesso em: 17 mai.2012. PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 20 Apoio: Para enfrentar esse quadro, há um esforço perceptível na nova leva de Planos Diretores no sentido de delimitar e informar a oferta de áreas para HIS - Habitação de Interesse Social, com a demarcação de Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS). Entretanto, geralmente trata-se de áreas ocupadas a serem regularizadas. No caso de novas áreas vazias, não obstante a sensibilidade das equipes técnicas e a pressão dos movimentos sociais, é comum a disponibilização de terras em bairros e periferias às margens do perímetro urbano, raramente se logra a destinação de áreas boas do ponto de vista urbanístico e ambiental, e bem localizadas. Outro desafio refere-se à busca pelo desenvolvimento urbano e territorial sustentável e socialmente inclusivo, quando o discurso pela competitividade urbana ou pela “sustentabilidade” econômica das cidades continua permeando boa parte dos planos diretores produzidos recentemente. Esse dilema pode ser visto no Relatório Estadual de Avaliação dos Planos Diretores dos Municípios do Rio de Janeiro4, quando destaca a crítica às experiências recentes dominadas pelo chamado “planejamento estratégico” da cidade,vista como mercadoria; no quadro da disputa entre cidades para atrair investimentos; na generalização da fórmula: “turismo sustentável + cidade verde + indústria limpa informática + marketing urbano e empreendedorismo etc.”. Um desafio de grande relevância crescentemente incorporado ao planejamento urbano, sobretudo dos municípios de pequeno e médio porte, certamente é o da alavancagem de sua autonomia econômico financeira. Recoloca-se o debate de que a Constituição Federal de 1988, embora numa perspectiva dita “descentralizadora e municipalista”, descentralizou mais ônus e encargos do que recursos e poder de decisão, ainda que a política, o planejamento e a gestão do uso do solo tenham se tornado matéria municipal inequívoca. Os municípios deste porte, imensa maioria como já visto,“sobrevive” do ponto de vista financeiro basicamente em função do repasse de recursos federais do FPM – Fundo de Participação dos Municípios – e dos repasses 4 Veja-se a respeito Relatório de Avaliação dos Planos Diretores in:http://web.observatoriodasmetropoles.net/planosdiretores/ PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 21 Apoio: constitucionais de saúde e educação etc. Diante da relevância dessa temática, reitera-se a premência da capacidade técnica instalada municipal no sentido da capacitação de quadros profissionais locais para a aplicação dos instrumentos urbanísticos, jurídicos e tributários, na organização de sua ocupação, com o desenvolvimento de políticas fiscais e tributárias, que estimulem o cumprimento da função social da propriedade e da cidade, conforme o Estatuto da Cidade. Cabe ressaltar que, em alguns Municípios, os embates propiciados pela discussão e aprovação do Plano Diretor tiveram o mérito de dar visibilidade à disputa de projetos para os diversos territórios urbanos. Inclusive com a entrada em cena do Ministério Público, a partir de representações provocadas pela mobilização de entidades da sociedade civil. Em alguns casos, promoveram-se ações judiciais que resultaram na retirada da eficácia de dezenas de artigos dos Planos aprovados pelos Legislativos, como ocorreu no caso de Salvador/BA e do Distrito Federal, situações onde o mercado imobiliário é reconhecidamente voraz e especulativo5. Do ponto de vista da gestão democrática, conceito central no novo arcabouço jurídico urbanístico brasileiro, avança-se lentamente nos métodos, técnicas e processos de planejamento urbano que viabilizem a “participação da população e de associações representativas de vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento” das decisões no processo do planejamento urbano, a partir da aplicação dos instrumentos definidos no Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001). Com a mínima instrumentalização dos municípios neste aspecto, como a gestão democrática participativa e o controle social das políticas urbanas, cria-se o ambiente propício a uma nova cultura urbana e consciência urbanística, o entendimento da dinâmica da cidade, principalmente a partir de uma publicização mais intensa das regras urbanísticas onde se joga o jogo (SANTOS, 1988) da disputa pela valorização imobiliária. No entanto, se 5 O Ministerio Publico, instado por entidades da sociedade civil, promoveu acão civil publica que resultou na suspensão da eficácia de um conjunto expressivo de artigos do Plano Diretor de Salvador/BA e do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal. PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 22 Apoio: pelo menos os instrumentos da gestão democrática da cidade, mormente os Conselhos da Cidade nos moldes da composição praticada no Conselho das Cidades Nacional, forem amplamente divulgados, difundidos e implementados, será um passo imprescindível para novas práticas de planejamento urbano. A Lei 11.888/2008, que versa sobre o direito a Assistência Técnica, foi regulamentada por meio da Instrução Normativa 46/2009 pelo MCidades6 e assegura às famílias de menor renda (até 3 salários mínimos) e ainda, moradores de áreas rurais ou urbanas, o direito à assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social para sua própria moradia. É tímida ainda a sua aplicação, uma vez que, na maioria dos municípios, o convênio e outras modalidades de contratação de assistência técnica com os órgãos públicos é quase inexistente, mesmo sendo um importante instrumento para efetivação do direito constitucional à moradia e do direito à cidade. A plena aplicação da Lei da Assistência Técnica associada ao aumento da oferta de terra urbanizada e bem localizada, boa do ponto de vista urbanístico e ambiental para as maiorias, especialmente para abrigar na cidade a população de baixa renda, sendo a maior parcela da população do país, é um componente relevante para transpor os desafios contemporâneos do planejamento urbano nos municípios. Por fim, o desafio da promoção da interescalaridade7 e intersetorialidade no planejamento urbano, que envolve: � Integrar as iniciativas de políticas, planejamento e programas urbanos na esfera da União, Estados, municípios e as Regiões Metropolitanas. Desenvolver 6 Instrução Normativa 46/2009 – Ministério das Cidades que, regulamenta a ação orçamentária de Prestação de Serviços de Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social, do Programa de Habitação de Interesse Social, executada com recursos do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social - FNHIS, válida para o período 2008/2011, e dá outras providências. 7 A interescalaridade tem o sentido de trabalhar de forma integrada no planejamento urbano o cruzamento entres as escalas: nacional, territorial, regional e local. PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 23 Apoio: Políticas e Planos nacionais, regionais, estaduais, metropolitanos e municipais de forma articulada; � Integrar os Programas MCMV e PAC com os Planos Diretores nos municípios; � Integrar as políticas urbanas setoriais de habitação, saneamento e mobilidade com o ordenamento, controle do uso e ocupação no planejamento, e gestão urbana e territorial; � Integrar as políticas setoriais de saúde, assistência social, trabalho, cultura, educação, segurança, ciência e tecnologia etc. no planejamento urbano e territorial. PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 24 Apoio: CONCLUSÃO O Planejamento Urbano envolve processos permanentes e qualificados de planejamento e gestão urbana e territorial, articulados a políticas urbanas. Estes processos não se esgotam na elaboração e implementação dos Planos Diretorese de seus instrumentos de política urbana, não obstante constituírem-se em importantes ferramentas disponibilizadas pelo novo marco jurídico urbanístico brasileiro para a efetividade e eficácia desses processos. Nesse sentido, foi apresentada uma breve trajetória do Planejamento Urbano no Brasil, assim como foram apontados limites, avanços e desafios para o desenvolvimento urbano no Brasil, colocados pelo período pós-Constituição de 1988. Especialmente, o aprofundamento e ampliação de problemas urbanos relacionados à políticas e práticas tecnocráticas e setorialistas de planejamento urbano, como o sucateamento e ineficiência de transportes e mobilidade urbana desarticulados do uso do solo; a insuficiência da oferta de habitação social qualificada e a reprodução de aglomerados ilegais e precários nas cidades. Além dos problemas de saneamento ambiental que não alcança os territórios populares da cidade, agravado pelo modelo urbanístico de ocupação desigual e dispersa, perdulário do ponto de vista fundiário, predatório do ponto de vista ambiental, segregador do ponto de vista social, irracional e caro do ponto de vista da extensão de infraestrutura como já visto. Nesse sentido, atualiza-se a necessidade de renovar criticamente as práticas de planejamento na perspectiva de um desenvolvimento urbano e territorial sustentável ambientalmente e socialmente inclusivo. Sobretudo quando ainda é muito presente o discurso da chamada competitividade urbana ou pela “sustentabilidade” econômica das cidades, recoloca-se fortemente a tarefa de promover o direito constitucional à moradia digna, à mobilidade e transporte público eficientes, o que certamente demanda um PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 25 Apoio: esforço compartilhado entre o poder público na esfera da União, Estados e Municípios, e a sociedade civil mobilizada na construção de cidades mais justas. E assim, enfrentar os antigos e os renovados desafios do excessivo espraiamento das cidades em vista de aumentar o acesso à terra urbanizada bem localizada para todos os segmentos; de ampliar e descentralizar a capacidade técnica local (principalmente do interior) e aplicar a Lei de Assistência técnica, para proporcionar um desenvolvimento territorial e uma gestão democrática difundindo a consciência urbanística e ambiental para que a cidade e a propriedade urbana cumpram a sua função sócio ambiental. PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 26 Apoio: REFERÊNCIAS BÁSICAS BORGES, Marília Vicente.O zoneamento na cidade do Rio de Janeiro: gênese, evolução e aplicação. Rio de Janeiro: UFRJ, 2007. 223 p. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. BRASIL. Constituição (1988). Constituição [da] Republica Federativa do Brasil. 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Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 16. dez. 2008. _______. Ministério das Cidades . Plano Nacional de Saneamento Básico 2011. 2011b. Disponível em:<http://www.cidades.gov.br/index.php? option=com_content&view=article&id=736:brasil-tera-seu-plano-nacional-de-san eamento-basico-em-2011&catid=84&Itemid=113>. Acesso em: 04 mar. 2012. _______. Ministério das Cidades. Programas e Ações. 2012. Disponível em:<http://www.cidades.gov.br/index.php?option=com_content&view=category&layou t=blog&id=84&Itemid=113>. Acesso em 04 mar.2012. _______. Lei Nº 12.608, de 10 de abril de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC; dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC; autoriza a criação de sistema de informações e monitoramento de desastres; altera as Leis nos 12.340, de 1o de dezembro de 2010, 10.257, de 10 de julho de 2001, 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.239, de 4 de outubro de 1991, e 9.394, de 20 de dezembro PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 27 Apoio: de 1996; e dá outras providências. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 11. abr. 2012. O Estatuto da Cidade. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. CYMBALISTA, Renato. SANTORO, Paula Freire. (Orgs.) 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PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 30 Apoio: ANEXO 1 A Tabela 01 sistematiza alguns dos principais desafios a serem enfrentados, elenca problemas e possíveis estratégias, para avanço no Planejamento Urbano no Brasil. Tabela 01: Desafios, problemas e possíveis passos para avanços no Planejamento Urbano no Brasil. DESAFIOS PROBLEMAS PASSOS PARA O AVANÇO Sustentabilida de ambiental, urbanidade e justiça social Tal desafio deve-se ao modelo de espraiamento horizontal com dispersão do tecido urbano; pobreza excluída e destinada à periferia precária e ilegal; centros degradados, sendo objeto de desejos revitalizações na lógica exclusiva de mercado, sendo espaços gentrificados; aumento de condomínios fechados potencializando a segregação sócio espacial; vazios urbanos infraestruturados sem cumprir a função social da propriedade. � Evitar dispersão na destinação de áreas para alocação de novos conjuntos habitacionais horizontais na cidade; � Buscar recolocação da população desfavorecida em áreas já infraestruturadas (pavimentadas, com abastecimento de água, esgoto e energia elétrica); � Requalificar os centros degradados, constituindo opção para inclusão social em moradias dignas; � Aplicar instrumentos para indução da ocupação em vazios urbanos dotados de infraestrutura. Acesso à moradia adequada A população desfavorecida, de menor renda, destinada à regiões longínquas, precárias, à margem da legalidade, em áreas ambientalmente frágeis como margens de córregos, rios, mananciais e represas (ex. Guarapiranga- SP) que, em épocas chuvosas são frequentemente alagadas e focos de transmissão de epidemias e moléstias. O acesso à terra bem localizada é um privilégio de poucos, a periferia precária e nas “margens” da cidade, é a ocupação da pobreza, devido a uma sociedade excludente, que não é capaz de prover de moradia digna em áreas centrais da cidade, sendo um grande desafio para os planejadores. � Aplicação dos instrumentos de indução do desenvolvimento urbano para utilização de vazios urbanos dotados de infraestrutura em prol da moradia de Interesse Social disponibilizando moradia digna, de boa qualidade e bem localizada, ou seja, próximo as centros urbanos e próximos às áreas de empregos; � Requalificar os centros degradados para a moradia de Interesse Social, digna, de boa qualidade e bem localizada. � Realocação de população de menor renda de áreas ambientalmente frágeis para áreas urbanística e ambientalmente adequadas. � Incluir no Plano Diretor novas áreas destinadas à oferta de Habitação de Interesse Social, com a demarcação de Zonas Especiais de Interesse Social bem localizadas. PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 31 Apoio: Desenvolvime nto urbano e territorial sustentável para construir cidades com equilíbrio ecológico e inclusão sócio- econômica Cuidado com armadilhas: este é um desafio fortemente apropriado pelo discurso pela competitividade urbana ou pela “sustentabilidade” econômica das cidades que continua permeando boa parte dos planos diretores produzidos recentemente. � Incluir nos Planos Diretores instrumentos de contenção do uso de áreas de proteção ambiental e manejo ambiental quando for o caso de expansão das cidades, cujas áreas deverão previamente planejadas e projetadas com equipamentos e serviços conforme MP 547convertida na Lei Nº 12.608, de 10 de abril de 2012. � Incluir os instrumentos para indução do desenvolvimento de áreas já infraestruturadas e vazias. � Incluir e aplicar os instrumentos de Transferência do direito de construir. Recursos, ônus e encargos da gestão municipal A Constituição Federal de 1988, embora numa perspectiva dita “descentralizadora e municipalista”, descentralizou mais ônus e encargos do que recursos e poderde decisão, ainda que a política, o planejamento e a gestão do uso do solo constituam matéria municipal fundamental. A imensa maioria dos municípios brasileiros sobrevive do ponto de vista financeiro em função do repasse de recursos federais do FPM – Fundo de Participação dos Municípios e dos repasses constitucionais de saúde e educação etc. � Desenvolver estratégias de utilização integrada dos recursos federais, estaduais e municipais, disponíveis para a gestão municipal ordenar o território e desenvolver as cidades. Fator de impedância nas prefeituras Em seus quadros técnicos as prefeituras não possuem à disposição profissionais capazes de executar os instrumentos urbanísticos, jurídicos e tributários, a constituição de capacidade técnica instalada torna possível a implementação dos instrumentos urbanísticos jurídicos e tributários para o efetivo desenvolvimento das cidades, organizando sua ocupação, com a cobrança de impostos para aqueles que descumprem a função social da propriedade e da cidade, conforme estabelecido no Estatuto da Cidade. � Utilizar da Lei de Assistência Técnica (AT), Lei nº 11.888/2008 que, assegura as famílias de menor renda, de até 3 salários mínimos, sejam moradores de áreas rurais ou urbanas, o direito à assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social para sua própria moradia Programas MCMV e Programa Nacional de Habitação Rural - PNHR. � Obter o financiamento para a AT, por meio de apoio da União, Estados, Distrito Federal e dos Municípios para garantir a gratuidade do serviço arquitetônico, urbanístico e de engenharia, conforme estabelecido por Brasil (2008). � Utilizar os profissionais acima para instrumentalizar o poder público local e aplicar os instrumentos do EC. PARTE 1 – PLANEJAMENTO URBANO E PLANO DIRETOR Módulo I – Introdução ao Planejamento Urbano 32 Apoio: Gestão democrática A participação da população e de associações representativas de vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento, nas decisões no processo do planejamento ainda é tímida frente às discussões em prol do município como Orçamento Participativo, a participação no processo de elaboração dos Planos Diretores municipais. � Aplicar os instrumentos definidos no Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001). � Induzir a gestão democrática e informar a população para a consciência urbanística, o entender a cidade, principalmente a partir de uma publicização e transparência mais intensa da gestão urbana. Os instrumentos da gestão democrática da cidade implementados são um grande passo para a participação da sociedade no processo de Planejamento Urbano no Brasil. � O planejamento urbano executado com a participação massiva da sociedade (representantes de entidades, movimentos, ONGs etc) enfrentando os conflitos de forma clara e republicana informando a sociedade ajudando-a a aproximar da questão urbana e do planejamento urbano no Brasil. Aplicação da lei de assistência técnica regulamentada (Lei nº 11.888/2008) Dificuldade de aplicação da lei de assistência técnica regulamentada (Lei nº 11.888/2008) que assegura as famílias de menor renda, de até 3 salários mínimos, sejam moradores de áreas rurais ou urbanas, o direito à assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social para sua própria moradia. Ainda não está em plena aplicação, pois o convênio e contratação da assistência técnica com os órgão públicos é quase inexistente. � Gestionar convênios ou contratos com os órgão públicos que podem ser desenvolvidos por servidores públicos, integrantes de ONG´s, profissionais inscritos em programas de residência acadêmica em arquitetura, urbanismo ou engenharia, programas de extensão universitária como escritórios-modelos e profissionais autônomos que sejam credenciados selecionados e contratados pelos órgão públicos (da União, Estado, Distrito Federal ou Município). Direito à cidade O Direito à Cidade estabelecido pelo Estatuto da Cidade, ou seja, direito à cidade sustentável, com o aumento da oferta de terra urbanizada e bem localizada, boa do ponto de vista urbanístico e ambiental para as maiorias, especialmente para abrigar na cidade a população de baixa renda que é a maioria da população do país. � Utilizar plena e efetiva dos instrumentos definidos pelo Estatuto da Cidade em prol do ordenamento e desenvolvimento urbano.
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