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História da Cidade do Rio de Janeiro Delgado de Carvalho

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HISTORIA DA CIDADE DO 
RIO DE JANEIRO 
0 texto desta Histdria da Cidade 
do Rio de Janeiru foi pu blicado 
originalmente em 1926, quando o Brasil 
atravessava urn momento de grande 
efervdncia cultural e polftica, 
conhecido corno 'a crise dos anos 20", 
marcado por fatos corno o movimento 
modernists, o tenentismo, a forma@o da 
wluna Prestes, a perda da hegemonia 
da sociedade agro-exportadora e 
ascensh da burguesia 
0 Rio de Janeiro, cenCio de uma 
grande reforrna urbana, tern, como 
capital federal, um papel fundamental 
nesse pocesso de 'repensar o palsn que 
entao se desenvolve. 
E a Histdna da Cidade do Rrb de 
Janeiru pretendia ser, na defini* de 
seu autor, Delgado de Carvalho, urn 
'pequeno cornphdio moderno" para uso 
nas escolas pimbias, onde fora aiada a 
disciplina Hist6ria do Distrito Federal, 
wmo uma introdu@o & Hist6ria do 
Brasil. 
Modifica- subseqiientes no 
programa das escolas pdblicas 
suptimiram, lamentavelmente, essa 
disciplina do curriwlo das escolas, mas 
a obra de Delgado de Carvalho 
sobreviveu sua fun@o inicial e se 
tornou um cl4ssico. disputado por 
colecionadores e pesquisadores nos 
' s e w da cidade. 
PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO 
Marcello Alencar 
SECRETARIO MUNICIPAL DE CULTURA, TURISMO E ESPORTES 
Gerardo Mello Mourlo 
DIRETOR DO REPARTAMENTO GERAL DE DOCUMENTACAO 
E INFORMACAO CULTURAL 
Afonso Carlos Marques dos Santos 
DIRETOR DA DIVISAO DE EDITORACAO 
Paulo Roberto de Araujo Santos 
- 
Rcha catalogrhfica elaborada pela Divislo 
de DocumentaqW e Biblioteca do CIDGDI 
Delgado de Carvalho, Carlos, 1884-1980 
D352h Hist6ria da Cidade do Rio de Janeiro 1 
Carlos Delgado de Carvalho. - Rio de Janeiro 
: Secret. Mun. de Cultura, Dep. Geral de Doc. 
e lnf Cultural, 1990. 
126 p. : il. - (Biblioteca Carloca; v. 6) 
1. Rio de Janeiro (cidade) - Hist6ria. I. Ti- 
tulo. ll. Sbrie. 
CDD 981.54 
CDU 981.531 
- 
Delgado de Carvalho 
2? Edigilo 
Reimpresslo 
PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO 
Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes 
Departamento Geral de Docurnenta~Io e 
InformacIo Cultural 
I 
copyright@1988, 1990 Astrogildes Feiteira Delgado de Carvalho 
Direitos desta edi~ito reservados ao Departamento Geral de 
Docurnenta~lo e lnforrna~ao Cultural da Secretaria Municipal 
de Cultura, Turisrno e Esportes. 
Proibida a reprodu~50 total ou parcial, e por qualquer meio. 
sem expressa autoriza~Co. + 
lrnpresso no Brasit - Printed in Brazil 
ISBN 85-8509G08-x 
Edi@o e revisso de text0 - Comiss5o de Editora~go do 
CIDGDI: 
Ana Lucia Machado de Oliveira, 
Diva Maria Dias Graciosa, 
Luzia Regina Gomes dos Santos Alves, 
Rosa Maria de Carvalho Gens, 
Rosemary de Siqueira Ramos. 
Capa I6da Botelho 
Artelcapa: Ana Paula Ferreira 
Projeto grifico: Luzia Regina Gomes dos Santos Alves 
Secretaria Municipal de Cultura, Turisrno e Esportes 
Departamento Geral de ~ocurnenta~&o e InformagBo Cultural 
Rua Afonso Cavalcanti, 455 - 24 andar - Rio de Janeiro 
NOTA INTRODUTORIA de Carlos Augusto Addor 9 
PREFACIO DA 25 EDICAO 13 
NOTA DO EDITOR 15 
HISTORIA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO 17 
Dedicat6ria 
Pref6cio 
Capitulo I - A Funda~go da Cidade 
Primeiros estabelecimentos 23 
0 fator geografico no seculo da descoberta 26 
Capitulo I1 - A Capital do Sul 31 
A cidade no seculo XVll 3 1 
0 Segundo govern0 de Salvador de SB 32 
0 s sucessores de Salvador de S4 37 
A vida econ6mica da cidade 40 
Capitulo 111 - 0 18%6culo 43 
As invasdes francesas 
e 0 s ljltimos governadores 
0 governo de Gomes Freire 
A expuls2o dos jesultas 
Capitulo IV - A Capital dos Vice-Reis 55 
. . 
0 s primeiros vice-reis 55 
0 govern0 do Marques be Lavradio 57 
D. Lufs de Vasconcelos 60 
0 Conde de Resende e a Inconfidencra 60 
Capitulo V - A Sede da Monarquia Portuguesa 65 
D. Jo5o VI no Rio de Janeiro 65 
Capitulo VI - 0 Municipio Neutro 7 1 
A "Muito Leal e Her6ica Cidade Imperial" 71 
0 Segundo Reinado 
Instru~Bo e Saljde Pljblica 
Festas e tradi~bes do tempo do lmpkrio 
A evolu~%o do pals e o Rio de Janeiro 
A vida social na Corte 
Capitulo VII - A Capital Federal 
A Prefeitura do Distrito Federal 
A administraG80 Pereira Passos 
A Era dos Melhoramentos 
A obra de Osvaldo Cruz 
0 s ljltimos prefeitos 
A vida carioca no fim do 19' seculo 
Capitulo Vlll - Governo e Administra~ao 
Posi~Bo geografico-polltica 
a 0 s textos consti!ucionais 
A lei orginica 
Divisgo administrativa 
A publ ica~o da obra de Delgado de Carvalho, Hbt6rla 
da CMade do R b de Janeirq dd continuidade a urn trabalho cujo 
objetivo principal 8 contribuir para que a popula~io carioca mnheya 
melhor, de forma mais profunda, mais detalhada e mais d i c a a sua 
cidade, com ela se identifique e lute pela preseffaqio de seus valo- 
res culturais, assim c o m amplie sua participaqa no prwsso de 
produqSo cultural no espago do Rio de Janeiro. 
Nos anos vinte, o Brasil e o Rio de Janeiro vivem um m e 
mento de grande efervesct5ncia politica e cultural. As crises de super- 
producio de caft?, as rebelicjes dos militares, a formaqao da Coluna 
Prestes, as dissidencias oligzfrquicas, a f u n d a ~ o do Partido Comu- 
nista do Brasil, a revoluq&~ estbtica do Modemism, a exposi@o in- 
ternacional de cornernorap70 do centendno da Independ&cia e o ar- 
rasamento do mom do Castelo no quadro de uma nova reforma ur- 
bana sSo processes e eventos que marcam o periudo - conhecido 
como "a q ~ s e dos anos vinte" - no pals e na cidade. 
Trata-se de fato de uma crise, wise do Estado Republica- 
no' OligArquico e ao mesmo tempo h e da hegemonia da burguesia 
agrpexportadora cafeeira, articulada em torno do binbmio liberalis- 
mdfederaq30. Essa crise e essa efervesc8nc1a cultural, que tBm m 
mo ponto de inflex30 a autodenominada "Revolu~i3o de 193O1; s io 
vividas com a maior inter~sidade no Rio de Janeiro, capital federal. 
E nesse context0 - em 9ue se process um "rrepensar o 
pals" - que Delgado de Carvalho publica em 1926 sua Hist6ria da 
CMade do Rio de Janeirq com o objetivo principal de auxiliar as 
professoras pdblicas a lecionarem a cadeira de Hist6ria do Distnto 
Federal que seria, no ciclo dos estudos prim$n'm, u r n in t rvdqa B 
Histdria do Brasil. 
No seu "Prefdcio': Delgado de Carvalho se propSe, a pattir 
da "modema wienta@o da histdria: apvesentar aos mestres e alunos 
as t?pocas como 
quadros sucessivos em que, d o somente agem cer- 
tos personagens que possuem o poder polRico, mas 
em que tamb6m vivem, trabalharn, sofrem e se diver- 
tern todas as carnadas sociais de urna popula~b. 
Continuando, diz o autoc 
A hist6ria do Rio de Janeiro n5o 6 a hist6ria de seus 
governadores, de seus vice-reis, de seus monarcas, 
presidentes e prefeitos: algumas datas cblebres, al- 
guns nomes importantes podem e devem marcar eta- 
pas na sucessao dos tempos, no desenrolar dos 
acontecimentos; mas os assuntos capitais desta 
hist6ria s5o as condi~bes de vida dos pr6prios cario- 
cas, em diferentes epocas, suas tradi~bes, seus cos- 
tumes, seus usos, suas necessidades. suas festas. 
Essa preocupa~ib de Delqado de Can~alho em retratar o 
wtidiano da popula~o carioca aproxima o autor ae perspectivas re- 
centes, tanfo na reflexao tedrica em torno da quest30 do trabalho do 
historiador - na linha da histdria social -, quanto na produc3o histo- 
riogrdfica brasileira, particularmente a que vem se desenvolvendo, em 
vdrias institui@es, a partir de linhas de pesquisa - como a da histdria 
urhana - que buscam aprofundar o conhecimento a respeito das 
condi~6es de vida e trabalho de setores - classes e grupos sociais - 
da popula~io carioca. 
E bem verdade que, enquanto esses trabalhos mais recen- 
tes fundamentam de maneira mais sdlida - tanto do ponto de vista 
da elaboracio conceitual, como do pontode vista do embasamento 
emplrco - suas conclu~es, De!gado de Carvalho apresenta na sua 
Historia da Cidade do Rio de Janeiro aspectos do cotidiano da po- 
pula~io carioca de maneira mais descritiva, impressionista, quase 
jomalistica. E mesmo dentro dessa perSpectiva, esse objetivo do au- 
tor nao e' plenamente realizado ao longo da obra. Em muitos momen- 
tos do livro, a histdria do Rio de Janeiro 6 a histdvia de seus governa- 
dores, vicereis, monarcas, presidentes e prefeitos, esses "nomes im- 
portantes" marcando efetivamente "etapas na sucessdo dos tempos", 
ou seja, periodizando a histdria da cidade. Com efeito, Delgado de 
Carvalho wmbina essa preocupacio em descrever a vida cotidiana 
da popula~o carioca - histdria social - com uma perspectiva mais 
traditional de histdria administrativa, que aparece claramente no lndi- 
ce do livro, na sua divisio em capitulos e itens e na prdpria estrutu- 
raco do texto, acabando por predominar no conjunto da obra. 
Sio dois os momentos em que a vida cotidiana da popu- 
lac0 carioca 6,aprespntads w m majsriqueza de detalhes. 0 primei- 
ro B o item A vida social na-Corte - do capltulo VI - 0 Municipio 
Neutro; nessa passagem o autor descreve inicialmente a vida fami- 
liar nas moradias das classes abastadas (as chdcaras), as refeiqdes, 
a instruqao e o lazer domdstico - onde os moleques e negrinhas ser- 
vem como verdadeiros "brinquedos humanos" aos "nhonhss volunta- 
riosos e egoistas e & sinhazinhas pamonhas", os "tiranetes das sen- 
zalas". Em seguida Delgado de Can/alho retrata aspectos da vida da 
cidade: as "conferdncias populares", as ruas il noite e a- iluminaqio 
noturna, os transportes pLiblicos (g6ndolas1 calqas, cup&, diligdn- 
cias, tilburis, maxambombas, bondes), passeios, visitas, o teatro - 
onde se destaca o nascente "nativism': representado principalmente 
pelas obras de Martins Pena. 0 autor conclui o capitplo exaltando a 
Rua do Ouvidor, "o 'pulso' da cidade, que pertence ao Rio de 3aneiro 
de todas, as 6pocasJ: 
0 Ggundo momento mencionado B o item - A vida ca- 
rioca no fim do 19Q &ulo - do capltulo VII - A Capital Federal Ai 
novamente Delgado de Carvalho descreve aspectos da vida cotidiana 
da cidade, hdbitos de sua populaqib: a hora de acordar, a hora das 
refeigjes, jomais que eram lidos, compras, namros, passeios, trajes 
de 6poca. Reaparecem os bondes e os lampi6es, reaparece a Rua do 
Ouvidor, como pimipal "'onto de reuniio': o teatro (agora incluindo 
o teatro de revista); aparecem o car naval (o "entrudo"), a Avenida, o 
automdvel, o cinema, o ruge, a saia curta, o cabelo cortado, a i m 
prensa amarela. . .; hdbitos caseims notumos s2o descritos, a vkpora, 
o piano, as festas de aniversArio e casamento, onde se danpvam 
polcas e quadrilhas. 
Um Liltimo wmentdrio: d importante ressaltar que o autor 
n io elabora uma visa0 cdtica em rela@o il gestio de Francisco Pe- 
reira Passos na Prefeitura do Ria de Janeiro, quandp foi o principal 
responsdvel pela reforma urbana conhecida como :Era dos Melhora- 
mentos" - e rebatizada recentemente como "Era das Demoliqdes". 
Delgado de Carvalho chega rnesmo a contribuir para um pmcesso de 
mitifica~io da figura do prefeito, a cuja memdria dedica o livro. Veja- 
se a seguinte passagem: 
Para fazer da velha cidacie colonial uma capital mo- 
derna foi precis0 a energia do velho de setenta anos 
que, com sua viajada expenencia, sua aka com- 
petencia e seu entusiasrno de moCo, levou ao -fim o 
seu plano. custa de urn trabalho asslduo diario de 
/ , . - 
muitas horas. 
Essa obsetvaqio torna-se necessdria, principalmente na 
.medida em que trabalhos e teses recentes v6m mostrando o outre 
lado dessa era de "progresso e a'viliza~io", de "higienizapio; embe 
lezamento e modemiza@oR da Capital Federal: o enorme custo s e 
cia1 pago pelas classes subaltemas, por significativos mntingentes da 
popula@o pobre do Rio de Janeiro, subitamente desabrigados. 
De qualquer forma, a leitura da obra de Delgado de Carva- 
Iho e indispensdvel - pela quantidade de informa@es nela contidas 
- a quem se poponha cunhecer mais profunda e detalhadamente a 
Histdria da Cidade do Rio de Janeiro, e sua atual publicacio vem 
tornar isso possivel a um nlimero maior de leitores. 
Carlos Augusto Addor - 
So um dos livros de Carlos Delgado de Carvalho, a Geo- 
grafia do Brasil, editado em 1913, teve prefcfcio assinado por Olivei- 
ra Lima. 0 da Historia da Cidade do Rio de Janeiro foi feito pelo 
prdprio autor. Dai a responsabilidade desta sua disc@ula, e assistente 
de trabalho durante vinte e cinco anos consecutivos, ao prefaciar a ' 
nova edigio desta obra, que veio a luz em 1926, quando fazia pouw 
tempo que entrara o mestre para a antiga Escola Normal, hoje Institu- 
to de Educa~io. 
Como naquela epoca o programa relativo ao 4? ano prima- 
rio transf~rmava a Histdria da entiio Capital da Repljblica numa in- 
trodu~iio B Historia do Brasil, publicou Delgado de Carvalho esta 
obra, que o Departamento Geral de Documenta~o e Informa~io Cul- 
tural da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro vem reedi- 
tar. 
Niio costumava Delgado de Carvalho homenagear nin- 
guem em seus livros. Houve, porem, duas exce@es: a sua Geografia 
do Brasil, dedicada ao lmperador Pedro 11, que conhecera aos cinw 
anos; e esta obra, dedicada a Francisco Pereira Passos, por ele cha- 
mado "o grande Prefeito". Niio omitiu tambdm o nome do colabora- 
dor de Pereira Passos - Alfredo America de Sousa Rangel, que eu 
soube, em conversas com meu mestre e amigo, ser seu concunhado, 
e que, mais velho do que ele, Ihe fazia as vezes de wnselheiro e 
"quase pai': 
Carlos Delgado de Carvalho nasceu a 10 de abril de 1884 
na Legaqgo do Brasil em Paris, onde exercia seu pai as funG6es de 
Secretario de Embaixada. Alias, comentando o fato, prognosticava a 
Condessa de Barral, em carta a D. Pedro 11, que niio sobreviveria 
aquela crian~a, que, no entanto, chegaria aos 96 anos. . . 
Seus primeiros 22 anos de vida repartiu-os entre Paris, 
Londres, Lyon e Lausanne; os restantes 74 anos viveu-os na sua ci- 
dade por elei@o, o Rio de Janeiro, de que escreveu esta Historia e 
me contou tantas e tantas estdrias. 
Delgado de Carvalho era carioca por adoqo e sempre 
amou o RIO, que conhecia palmo a palmo: o Rio dos tilburis, dos 
bondes, do banho de mar discreto nas praias desertas do Leme, Co- 
pacabana, lpanema e Leblon; dos saraus, dos bolos na casa da Sazi- 
ta, dos jantares 2s quatro e meia da tarde, do caf6 no Paschoal, c;bs 
fraques, da politica que enchia o vazio da vida nacional; das Aveni- 
das Central e Presidente Vargas, que viu construir; dos morros do 
Castelo e de Santo Antdnio, que viu desaparecer;' da Copacabana 
que viu nascer . . . e que o viu moner. 
Na cidade do Rio de Janeiro, Delgado de Carvalho foi o 
protdtipo do mestre: lecionou no Col6gio Pedro /I, no Coldgio 
Bennett. no lnstituto de Educa~io e na Universidade do Distrito Fe- 
deral, que viu transformar-se na Universidade do Brasil, mas nao 
chegou a visitar no Fundao como Universidade Federal do Rio de Ja- 
neiro. 
Na cidade do Rio de Janeiro foi membru da Comissao do 
Livro Diddtics (1939), levando gerafles e geraws a estudarem, nos 
seus comp611dios de Geografia e Histdria, rnatdrias que dinamizou, ti- 
rando-as, como me dizia, "da simples rnemoriza@o, pois que pela 
quantidade de rios, cabos, cidades, datas e nomes, pareciam ser ver- 
dadeiras listas telefdnicas . . . ". Foi diretor fundador do lnstituto de 
Pesquisas do Departamento de Educa~o (1933), tendo, no ano em 
que publicou a sua Histdria da Cidade do Rio de Janeiro (1926), 
fundado e exercido o cargo de Presidente da Sociedade Brasileira de 
Educa@o. 
Carlos Delgado de Carvalho faleceu a 4 de outubro de 
1980 e ficou na Histbrla da cidade, que ele escreveu, como grande 
educador e professor. Venerado pelas gerafles passadas, quevenha 
agora, com o reaparecimento deste livro, servir de estimulo As raovas 
gerac6es. 
Therezinha de Castro 
NOTA DO EDITOR 
Todos os nomes pr6prios - personativos, locatives e de 
qualquer natureza -, citados ao longo da obra, sofreram o mesmo 
processo de atualizagio grdfica a que estio sujeitos os nomes ce 
muns, conforme as Instrug5es para a organiza~o bb vocabulArio or- 
togrdfico da lingua portuguesa (Formuldrio ortogrdfico, XI. 39). 
Foi atualizada a relagio de govemantes do Rio de Janeiro, 
ate o ano de 1990. 
Mantiveram-se, entretanto, no corpo do texto, as infor- 
m a m s tais quais aparecem na primeira edigio. 
Nem todas as ilustra@es existentes no original puderarn 
ser encontradas. Procedeuse sua substitui@o por imagens simila- 
res, quando posslvel e, tambh, p r o c u r ~ . ~ g ? g u i r a disposigZio Ori- 
ginal das fotos. Abreviaturas utilizadas para indicar a procedgncia das 
ilustragbes: AGCRJ (Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro); MIS 
(Museu da Jmagem e do Som); MHN (Museu Hist6rico National) e 
IHGB (I'nstituto Histdrico e GeogrAfico Brasileiro). 
A memoria do grande prefeito Francisco Pereira Passos e 
de seu colaborador e amigo Alfredo Americo de Sousa Rangel, Dire- 
tor da Carta Cadastral (1 900- 1909). 
Pref acio 
0 programa de Hist6ria, relativo ao quarto ano primirio, 
abrange a Histdria do Distrito Federal. Uma das felizes consequen- 
cias da ado~50 do mktodo conc6ntric0, no ciclo dos estudos primi- 
rios, determina assim que seja a histdria da capital da Repljblica uma 
introduG5o a Histdria do Brasil. E, pois, de grande valor diditico que 
venha a ser preliminarmente dado aos alunos um apanhado hist6rico 
cujos elementos principais, locais, monumentos, e vestigios, est5o 
ainda as nossas vistas, ao alcance de nossos sentidos e podem mui- 
to mais facilmente impressionar jovens imagina~ees, do que outras 
narraqdes, cujos quadros necessitam de urn esforqo do espirito para a 
sua reconstituit$io. 
Mais numerosas do que as fontes geogrificas relativas ao 
Distrito Federal, s5o as fontes histbicas de seu passado. Vieira Fa- 
zenda, Noronha Santos, Melo Morais, Ferreira de Rosa, Felisbelo 
Freire, Macedo, Escragnolle Dbria, Morales de 10s Rios e muitos ou- 
tros escreveram preciosas paginas sobre o assunto, sem contar o 
forrnidAvel reposit6rio que representa a Revista do lnstituto Histdri- 
co. Seria longo fazer aqui uma bibliografia do assunto. Faltando, 
porem, um pequeno comp6ndio moderno, destinado a facilitar as pro- 
fessoras pliblicas a coleta de dados esparsos, preparei este folheto 
para o uso das escolas primdrias, de acordo com o programa novo 
(1926). Multipliquei as citaqdes, a propdsito dos fatos de maior inte- . 
resse, para orientar o leitor desejoso de obter maiores detalhes em 
obras de ficil consulta. Procurei dar sobre cada assunto informa~des 
mais completas do que exige o programa, deixando assim ao mestre 
a escolha dos pontos a desenvolver, segundo as oportunidades e as 
conveniencias do audit6rio. 
De urn mod0 geral, encontrar-se-i pouco espaGo dedicado 
aqui a pontos de Hist6ria Geral do Brasil, como sejam: a Inde- 
pendencia, a histdria politica do Imperio, a AboliG50, a ProclamaG50 
da Repljblica, as agita~des e os episddios de cariter politico, que s6 
tiveram o Rio de Janeiro como teatro principal, pelo fato de ser capi- 
tal do pais. Tais quest6es requerem outros dados e informa~6es co- 
lhidas em comp6ndios de Hist6ria do Brasil. 
A moderna orientaG50 da Histbria, sob o ponto de vista 
didiitico, tende a limitar ao estrito necessirio a parte puramente 
mnemotecnica. datas, fatos e nomes. As epocas devem suceder; na 
vis5o do aluno, como quadros sucessivos em que n5o somente agem 
certos personagens que possuem o poder politico, mas em que 
Francisco Pereira Passos, o grande Prefeito (1836- 1913). AGCRJ. 
20 
tambem vivem, trabalham, sofrem e se divertem todas as camadas 
sociais de urna populagio. A histdria do Rio de Janeiro n8o e a histd 
ria de seus governadores, de seus vice-reis, de seus monarcas, presi- 
dentes e prefeitos: algumas datas celebres, alguns nomes importan- 
tes podem e devem marcar etapas na sucess3o dos tempos, no de- 
senrolar dos acontecimentos; mas os assuntos capitais desta hist6ria 
s5o as condic8es de vida dos prbpr~os cariocas, em diferentes Bpo- 
cas, suas tradicdes, seus costumes, seus usos, suas necessidades, 
suas festas. Tambem devem formar o fundo do quadro as grandes 
preocupaq5es politicas do tempo que tiveram repercuss80 sobre a 
seguranca e os destinos dos habitantes do Rio: defesa contra o ini- 
migo, politica exterior, ideias da metrbpole, monumentos nacionais 
etc. 
Cada vez que pode um pensamento ou um acontecimento 
ficar ligado a um monumento histbrico, 6 do dever do mestre procural 
evocar nas jovens imaginac6es o quadro hist6rico que centralizou. E 
na interpreta~go destas piginas de pedra e de ferro que se gravam 
mais profundamente na mem6ria os acontecimentos que tiveram real 
alcance. 
Assim como a hist6ria de Portugal se acha escrita nos 
"marcos miliirios", nas muralhas de Santarem, no aqueduto de Sert6- 
rio, na casa de Viriato, no castelo de Guimarges, na Santa Clara de 
Coimbra, no mosteiro da Batalha, nos Jer6nimos, no Paco de Cintra, 
na Mafra, assim tambem lemos a histbria de nossa querida cidade na 
Iipide da sepultura de Esticio de S i , no aqueduto da Carioca, no 
mostelro de S. Bento, no Chafariz Colonial, na Lampadosa, na Lapa 
dos Mascates, na Boa Vista, no antigo P a ~ o da Cidade. Nem sempre 
6 quest50 de beleza arquitetbnica, de impon6ncia monumental: mais 
eloquente 6 o feixe de lembrancas que se prendem as pedras super- 
postas, como as raizes adventicias de hera, simbolo do tempo que 
passa, mas nho morre na membria das coisas. 
Ao mestre a quem cabe o primeiro ensinamento de hist6 
ria nacional a urna crian~a, e dada urna miss50 sublime: 6 o desper- 
tar de, urna inteligencia, o desabrochar de urna alma As coisas da Ph- 
tria. E importante que seja bem dado este primeiro passo em t5o 
grave assunto. Ao amor e 3 dedica~ao it necessario juntar-se o entu- 
siasma ai nestas horas decisivas da vida do cidadgo, deve vibrar a 
corda sensivel da solidariedade nacional. A Erian~a deveri ter a com- 
preens30 de que faz parte de um todo, urna na~50, e que se acha li-' 
gada a um longo passado, representado pelos que Ihe prepararam a 
SUB miss80. Esta solidariedade com o passado, evocando responsa- 
bilibade no futuro, 4 o laso mais forte do patriotismo. Raca, lingua, r e 
Ilg~Zio, nada pode Ihe ser comparado em fo r~a de coesso, para a 
cr~a@o de um espir~to nac~onal. E a comunhso dos ~nteresses mate- 
rials e morals que prendem as a!mas, os espir~tos e as forqas e cons- 
tituem um povo. E 6 na hist6ria que s30 hauridos os ensinamentos 
que servem de base e justifiqao a estes elos poderosos das ativi- 
dades dos homens. 
Seria preteens30 querer dar aqui conselhos a urn corpo do- 
cente ao qua1 sobram qualidades de cornpetencia e de patriotism0 
para o cabal desempenho de sua alta miss30 educadora. 
Mas o que eu procurei fazer foi salientar, cada um no seu 
quadro histhim, os grandes vultos da Hist6ria do Rio de Janeiro, os 
nomes que podem servir de exemplos As geraMes: Salvador de S6, 
Gomes Freire, Lavradio, Luis de Vasconcelos, Femandes Viana, P e 
dro II, Pereira Passos e Osvaldo Cruz, reconstituindo, a propc5sito de 
cada um deles, o meio em que viveu, agiu e lutou pela causa co- 
- 
mum. 
Por isso tambbm 6 este folheto uma homenagem prestada 
a estes ilustres brasileiros, a eles pr6prios e por eles tambbm aos 
seus auxiliares, a todos os que os ajudaram e secundaram na grande 
obra da forma@io da nossa nacionalidade. 
Delgado de Calvalho 
Rio, julho de 1926 
A Fundagio da Cidade 
Primeiros estabelecimentos - Em janeiro de 6504, err 
trou pelaprimeira vez, na baia de Guanabara, o nav@ante portuguQs 
Gon~alo Coelho. Julgou o descobridor ter aportado na foz de um lar- 
go rio, e dal o nome dado entiio i3 regi6o. E posslvel que alguma nau 
da frota de Cabral jd tivesse anteriormente avistado a bala, mas cou- 
be provavelmente a Gon~alo Coelho o primeiro desembarque com 
tentativas de ocupa@o e de relafles com os lndios. 0 local da insta- 
la@o primitiva recebeu o nome de Carioca, isto 6, "casa de branco". 
Pensa Porto Seguro que ali descansaram dois ou tr6s anos os portu- 
gueses. 
Em 151 9, entretanto, jd se achqa abandonada a bala, 
quando Fern60 de Magalhiies, de passagem por ela, deu-lhe o nome 
de bala de Santa Luzia. 
As expedi@es sucessivas tentadas pelo governo da m e 
tr6pole desanimaram-no pelas suas dificuldades e falta de interesse 
imediato. Continuavam, pordm, as incurdes particulares, detennina- 
das principalmente pelo lucro que podia entiio auferir o comdrcio de 
pau-brasil. 0 s estrangeiros aportavam, por isso, freqiientemente, e 
apesar das representaMes feitas, em 1516, A Corte de Fran~a'pela 
diplomacia de D. Manuel. 
Diz o historiador portugues Oliveira Martins: 
0 Brasil, porhm, que durante o reinado 
de D. Manuel nao merecera a ?ten@o dos estadistas 
embriagados na admira~ao da India, deve ao governo 
de D. Joao I l l , o rei colonizador, o princlpio de sua 
existencia. 
Foi ele o suberano que sem se deixar ensandecer com o esplendor 
cartagin& do impbrio oriental, se consumlu em vao, a buscar organi- 
zA-lo, moralizd-lo, e~pregandese ao mesmo tempo a fundar, 00s 
sertks americanos, um novo Portugal, a nossa honra hist6sicaI e por 
tanto tempo o amparo de nossa'existGncia europ6ia Este pensamen- 
to, tao felizmente refletido pelo grande historiador peninsular, traduz 
bem a id6ia polftica que determinou as expedi~6es de Crist6vZio Jac- 
ques, em 1525 e de Martim Afonso, em 1530. 
- 
Demovido Portugal de sua inatividade em relqBo ao Bra- 
sil, coube a Md im Afonso a capitania de S. Vicehte, que inclula as 
terras de Canandia a Cabo Frio, e, por conseguinte, a bala de Gua- 
nabara. 0 donatmo estabelecgu-se na enseada onde desdgua o rio 
Comprido, mas cedo preferiu as terras de S. Vicente e caiu novamen- 
te no abandono a terra carioca (1532). 
Anos depois (15551567), deu-se o epis6dio da Franqi 
AqtArtica, que se desenvolveu na bala de Guanabara. 0 nobre Cava- 
leiro de Malta, Nicolau Durand de Villegaignon, amigo do almirante 
Coligny e apreciado pel0 pr6prio rei de F rqa , Henrique II, aportou 
no ilhdu da Laje, por ele chamado Ratier, em novembro de 1555. Ins- 
talaram-se os franceses na ilha de Seregipe, hoje Villegaignon, e ai 
levantaram o Forte Coligny. Em 1557 chegaram rnais franceses, sob 
o comando de Bois-le-Comte. Mas as dissen*s religiosas que 
entb reinavam em Fran~a tiveram eco na Franqa AntArtica e Ville- 
gaignon retirou-se, deixando a pequena colbnia estabelecida na mar- 
gem ocidental da bala e na ilha de Paranapua (hoje Governador). 
No ano de 1560 wnseguiram os portugueses, sob o go- 
verno de Mem de SA, expulsar os franceses das ilhas e arrasar as 
suas fortifica@es, implantando novamente na bala de Guanabara o 
domlnio de Portugal. 0s franceses, acolhidos pelos tamoios, seus 
aliados contra os lusos, voltararn a ocupar posiws B margem oci- 
dental da bda e estabeleceram-se na aldeia de Urusumirim, na atual 
praia do Flamengo. 
Foi necess&rio um novo esforcp por parte dos portugue- 
ses, aconselhado nao SJ? por M4m de SA como tamMm pelos padres 
Anchieta e N6brega. De Lisboa tinha chegado um sobrinho do gover- 
nador, Estdcio de Sk organizadas as expedi@es na Bahia e em S. 
Vicente, chegaram novamente B Guanabara os portugueses, para, 
desta vez, nil0 mais abandonar a sua preciosa conquista (1 565). 
Reinava entao em Portugal D. Sebastigo; desembarcado 
em cometp de 1565, ao p6 do Pao de AsLScar, EstAcio de Sd lanwu 
os fundamentos da cidade de S5o Sebastiao do Rio de Janeiro. Foi 
entre o P b de Agdcar e o morro chamado da Cara de Cgo (hoje Sao 
Job), numa vdrzea em que "a terra d baixa e chB, segundo a expo- 
si@o ds Gabriel Soares, que nasceu a m&r6pole carioca. 
A este propihito, escreve A Morales de 10s Rios, que mui- 
to tern estudado e discutido as origens de nossa cidade: 
ESsa primitiva cidade n b foi fundada nas 
vizinhangas do penhasco da Urca; nem ao p6 dele 
pela banda que deita para o interior da bafa, nem na 
Praia Vermelha, como pretendeu Adolfo de Varnha- 
gen. 
Foi sobre o cume e as ladeiras da terra 
enti30 ilhada, que Gabriel Soares de Sousa, corn pre 
priedade e parecenga, que ainda hoje se percebe, 
chamou de Cara de Cao, pela semelhanga que tern 
corn a de um lebrel: ele cuidou de n8o chamh-la C a 
bega de C8o com impiopriedade. 
Esse trecho montuoso de terra ilhada 
estava separado da continental da Urca por um brago 
de mar, ou barreta madtima, impraticavel a p6, pelo 
menos, por mar6 alta; ao depois vargem lodosa, logo 
arenosa e, enfim, terra firme como 6 hoje em feig8o 
Istrnica, e impr6pria para receber a urbanizagao a 
mais incipiente naquelas primitivas condigbs. 
Defrontando no continente a Cara de 
CBo, estava na base da Urca o lugar denominado 
Capocaituba, que era, segundo incompleta informa- 
g b de alguns cronisbs, "0. lugar dondese chatfta- 
vam remadores para ir cidaden, o que confirmaria o 
ilhamento desta. 
Por isso, o lugar de Capocaituba foi 
t ambh chamado praia dos Remeiros, que era a fra- 
ca enseada onde hoje esta o balnehrio da Llrca. 
A Urca com o Pilo de Agbcar forrnam o 
penhyico unido, que desenha um dos labios da boca 
da pafa do Rio de Janeiro, cujo lugar os indlgenas 
denominavam "Mombucaben ou "Mombucaba"; como 
nos revela o primeir~ que a essas paragens se refe- 
riu: o alem8o Hans Staden. 
0 mar sobre que esao esses penhas- 
cos, dentro da bala, ni30 6 o da Guanabara (rio das 
curvas, rio das voltas, rio torto, rio sinuoso, rio mean- 
drico), porque Guanabara 6 o seio mais para o fundo 
da bala, para al6m da Armar$o, mais vulgarizado pe- 
10s escritos franceses do tempo, sob a corruptela 
Ganabara, que empregaram frei Andre Thevet e J o b 
de Lery. 
0 mar que dentro da bala banha os ali- 
cerces da Urca e do P b de Agbcar 6 do outro seio 
que, com o do Guanabara, conformam a tonalidade 
da area da. bala do Rio de Janeiro. Esse segundo 
seio se chamou Niter6i (Agua oculta ou escondida), 
menos vulgarizado que o de Guanabara, entre os au- 
tores. 
A 20 de janeiro de 1567, dia consagrado ao padroeiro da 
cidade, os portugueses resolveram dar o assalto aos franceses e 
seus aliados. Ferido no rosto, por flecha, EstAcio de SA veio a falecer 
cerca de um mgs depois da vit6ria. As setas do escudo da cidade 
nao representam, pois, somente as do martlrio de Sao Sebastiao. 
Diz ainda Oliveira Martins: 
Metade do Brasil estava salva, e lan~a- 
das as bases da futura prosperidade de todo ele, com 
a posse da grande bafa do continente austral. Mem 
de SA, que foi o Afonso Henriques dessa nova na@o, 
nEio pudera, porbrr;, como o nosso Afonso Henriques 
n5o pdde, levar sozinho a empresa a cabo. 0 papel 
que no s6culo XI1 coube na metr6pole, ao Papado, 
pertencia, no XVI, As colanias, aos jesuftas. A crise 
manifestara a fo r~a deles, e a vit6ria dava-lhes meta- 
de do trono. 
0 fator geografico no sdculo da descoberta - As alter- 
nativas historicas de ocupaqSo e de abandon0 da Guanabara; a in- 
sistencia das naus francesas em apoderar-se do ponto que tinham 
escolhido os portugueses; a utilizaqBo dos promont6rios e das ilhas, 
segundo as necessidades da hora, pelos adversdrios em presenqa, 
tudo vem sugerir a importhcia decisiva do conflito travado em torno 
da nossa futura metr6pole; conflito este ditado por razbes de Estado, 
pela polltica do momento, continuado, porbm, pelas contingencias fi- 
siogrhficas do local em que se deu.Sob o ponto da geografia humana 6, pois, significativa es- 
ta c~nquista de uma posiqio definitiva dos portugueses sobre a costa 
oriental da America. 
E possivel que, em seus detalhes historicos, alguns pro- 
blemas da colonizaqSo antiga do Rio de Janeiro nSo estejam ainda 
esclarecidos, mas as informaqbes s5o abundantes e. jA estao traqa- 
das as linhas gerais para o estudo geogrdfico do caso. Devem, p is , 
ser salientadas as grandes correlaqbes hist6ricegeogrdficas. 
Diz JoSo Ribeiro: 
As primeiras cidadek do Brasil comecam 
pelos morros e s6 tarde descem A planicie e 
nunca se formam borda do mar e, mesmo nos rios, 
s6 nos lugares onde n5o chega o navio de longo cur- 
so - essa 6 a prudencia dos fundadores no s6culo 
XVI e no seguinte, que foram uma luta pela posse da 
terra" (Histdria do Brasil, p. 81). 
A esta regra de "prudencia" obedeceu tambem o Rio de 
Janeiro. . 
A localiza$So dos portugueses na baia de Guanabara foi 
determinada pelos seguintes fatores geogrificos: 
1. Para os navegantes que seguiam o :umo do sul, repre- 
sentava a nossa baia o primeiro ancoradouro que for~osarnente devia 
atrair as naves, oferecendo-lhes excepcionais condi~bes de abrigo e 
seguraya. Era, al6m disso, uma boa base naval, pois, apesar de co- 
nhecerem a existencia da baia de Guanabara, os portugueses s6 liga- 
ram importincia a seu valor estrategico, quando a insist6ncia dos 
franceses em estabelecer-se nela tornou-se perigosa para Portugal. 
0 s marinheiros normandos do Havre Dieppe e de Honfleur tinham 
desde 1503 (data da primeira viagem de Paulmier de Gonneville), 
uma ideia da importancia da posi@o. Foi a expedi~So de Villegaig- 
non que recolheu os resultados de conhecimentos anteriores. Ellie 
Chaudet, um dos mais ricos armadores de Honfleur, era protestante e 
dai o interesse que tomaram os protestantes franceses "a expedi~5o 
de Villegaignon. 
2 Em segundo lugar, o fator geogrhfico que deterrninou a 
Iocaliza~Eio da cidade, na margem ocidental da entrada e nEio do lado 
de Niteroi, foi a facilidade de obter Agua fresca abundante. As agua- 
das siio frequentemente mencionadas nos mapas do seculo XVII: as 
hguas da Carioca eram procuradas pelos navegantes. 0 local cha- 
mado Aguada dos Marinheiros foi at6 ponto de combates. Perto do 
sac0 de S. Diogo, havia outra aguada procurada, onde. acarxlpou Ara- 
rib6ia (Bica dos Marinheiros), na atual praia Formosa. 
Diz Vieira Fazenda a este prop6sito: 
* - 
Ainda em nossos dias, conservou-se por 
muito tempo a coluna de pedra, 6ltimo vesilgio da 
pequena fonte, cujas Aguas foram em principio apro- 
veitadas e canalizadas pelos jesultas, proprietdrios 
de todos esses terrenos, desde o rio Catumbi ate 
Inhalima. Antes de ser conclulda a bica em quest20 e 
. 
nos primeiros tempos, iam os marinheiros prover-se 
de hgua no rio Ca?ioca, das Laranjeiras ou dos Cabo- 
clos; por esse motivo era a praia, hoje do Flamengo, 
conhecida por praia da Aguada dos Marinheiros. 
3. 0 terceiro fator que influiu na escolha da vertente ca- 
r iqa foi a forma dos morros, em pequenos maci~os isolados, menos 
acessiveis em geral e por conseguinte mais fhceis de defender. Re- 
presentava isto na bpoca, wmo salientou Jo5o Ribeiro, um dos'ele 
mentos mais importantes de uma localiza@o. A defesa era necessd- 
ria, niio somente contra os invasores franceses e outros europeus, 
como tamb6m contra as incurs6es de seus aliados, os tamoios. Por 
isso foi cedo abandonada a povoagBo fundada por EstAcio de SA, na 
Vila Velha, entre o RBo de A~dcar e o Cara de CBo, para um lugar 
mais seguro, o morro do Castelo. 0 erro dos franceses, aliados dos 
indios da vizinhan~a, foi talvez de nBo estabelecer-se logo e fortifi- 
car-se no mono de S. Janudrio. EstAcio de SA nBo m e fazklo, por- 
que, em 1565, este morro estava na zona ocupada pelos franceses e 
defendida pelas trincheiras do Utu~umirim. Mas, repelido o inimigo, 
Mem de SB nBo hesitou em transferir a cidade para este morro de S. 
JanuArio (depois morro do Cast,elo). 
Diz Felisbelo Freire, que critica, entretanto, o ponto esco- 
lhido para funda~ao de uma cidade destinada a se desenvolver. 
Mas a escolha do morro tern para nbs a 
seguinte explicagao: era uma espbcie de atalaia, de- 
fendida pelas lagoas que a cercavam e que serviam de 
defesa contra as inopinadas invasdes dos indios. A 
proximidade do porto exerceu sua influencia, servindo 
para tragar a diregb das ruas, quando a cidade des- 
cesse do morro para a planicie. 
4. 0 quarto fator geogrhfico agira ao mesmo tempo para a 
esratxllzaCao e para a extensBo da posse primitiva. Sua importancia 
6 quase que exclusivamente agricola e wnsiste em se acharem as 
varzeas principais e as melhores enwstas das serras do Distrito F e 
deral orientadas para leste, isto 6, para o sol nascente, o que teve a 
sua importancia na fase inicial do desenvolvimento das lavouras e do 
alastramento dos engenhos. A planlcie que existia entre os morros do 
Castelo, de Santo Antbnio, de SBo Bento e da ConceicBo foi durante 
muito tempo o celeiro do nlicleo de povoamento. Perten,cia A cidade, 
mas era limitada pela vala da atual Rua Uruguaiana. 0s pantanos e 
as lagoas foram os primeiros obstAculos a vencer para 'a expansBo da 
cidade. 
Por fim, o desenvolvimento do Rio de Janeiro se explica 
pela sua si tua~io geogrAfica, em relag30 sua proximidade relativa 
das serras. De Niter6i o acesso 6 dificultado pelo afastamento 'das 
serras para NE e principalmente pela extensa zona alagadi~a, que 
separa o pequeno maciw de Niter& da serra do Mar, a baixada do 
rio Macacu. 
Eram, por wnseguinte, numerosas as razdes geogrdficas 
que militavam em favor da escolha do Rio de Janeiro, em primeiro 
lugar wmo ponto de defesa e em segundo lugar como centro da irra- 
dia~Bo. Era destinada a margem carioca da Guanabara a um rBpido 
desenvolvimento econbmico e social. 0 movimento de alastramento 
para leste, esmado nos tempos da primeira coloniza~io, continua 
hoje com grande intensidade, e estA longe de terminado, pois o Dis- 
trito e suas extensas planicies continuam a oferecer novos horizontes 
a expansilo da popula$io, na sua marcha para Leste. 
As etapas desta marcha s io marcadas pelos sucessivos 
estados-da popula$io. Em 1585, era ainda de mends de 4.000 almas: 
levou cerca de 30 anos para triplicar. 
A Capital do Sul 
A cieade no skulo XVll - Cedo percebeu Mem de Sd 
que o local primitive da cidade era antes um ponto estratdgico do que 
um centro favorBvel ao desenvolvirnento de uma cidade. Por isso 
transferiu para o morro de S. Januho, depois charnado do Castelo, a 
sede da cidade, mnovando al as ceridnias da funda@o. 0 morro 
estava em pade isolado por lagoas, mtanos e planicies; foi fortifica- 
do e al se estabeleceram as autoridah militares, civis e religiosas. 
Mem de SB nomeou Salvador de SB, seu sobrink, gover- 
nador da nova capitania, quando em 1568 teve de regressar c?l Bahia 
Foi durante o govemo de Salvador de Sd que foram transferidos os 
restcc; mortais de Estkio de S8, da Vila Velha para o morro do Caste 
lo e que foi dado combate aos franceses de Cabo Frio, que ainda nio 
tinham perdido a esperaqa de se apoderar da nova cidade. Corne- 
p u m Salvador de SB um ativo rnovimento de coloniza@o dos la- 
dos de Iraj& Inhalima, Sunrl, Inhomerim e tambem de Niter6i e de 
Ma@. A ilk de Paranapu4 que pedencia a Salvador de S& passow 
a ser a do Governador. 
Dizem os Anais do Rio de Janeim, de B. da Silva Lisboa: 
Poupou o sangue dos indlgenas quanto 
Ihe foi posslvel, repeliu os inimigos externos, protegeu 
a inocencia, afugentbu o crime peb seu horror e des- 
prezo dos maus, ganhando a opinih pciblica no cam 
po da honra; pois, sem os socorros de Portugal, co- 
briu a sua fronte de bern merecidos buros. Pela sua 
probidade nao ousavam aproxhar-se dele os reptis 
venenosos da lisonja, a fkn de envenememoar puro 
que respirava 
A primeira adrninistra@o de Salvador de SB findou ern 
1572. 
No fempo de Crist6vio de Banos, sucessor de Salvador 
de SA, resolveu a metr6pole dividir a col6nia em dois governos distik 
tos, o do Node, com sede na Bahia o o do Sul, corn sede no Rio de 
J d r o (1 572). 
Gte acontecimento politico foi entilo de pouco alcance 
pdltico, mas de grande significqtio. Cowagrava urn fata pela sua 
posi* geogrdfica acima descrita, pelas mas excepcionais facilida- 
des de defesa de todos os lados, pelos seus recursos econdmicos na- 
turais, o Rio se tornara rapidamente, segundo a express40 de Rocha 
Pombo, o "centro de vitalidade das wldnias do Sul", jA estava livre a 
costa dos traficantes que a infestham e a nova cidade tomara-se um 
centro direto de a ~ i o da metrdpole. 
Em Ilh6us, Porto Seguro, Sio Vicente e Esplrito Santo, lu- 
tavam ainda os capittles-mores w m a falta de for~as e recursos ma- 
teriais que caracteriza o primeiro s6culo de wloniza$io: grandes es- 
p m , grandes disthcias e grandes obstdculos a vencer com pouca 
gente, poucos meios e apoio problemAtico. 
No Rio de Janeiro crescia o prestlgio do governador, pre 
posto direto do rei. Dai a afluencia para o litoral de sua bala de grao- 
de ndmero de colonas, mesrno de vicentistas descontentes. Dai a 
preponderilncia do Rio nas coldnias do Sul. 
0 centro de administrac40 criado em 1572 foi de pouca 
dura@o, de fato, mas,,estabeleceu os fundamentos da futura met& 
pole (Rocha Pombo,, tomo V). 
Durante o govemo de AntBnio Salema, principiou a alas- 
trar-se pela Tijuca, pelas Laranjeiras, pela Gdvea e pelo Andarai a la- 
voura a~ucareira. T o m especial importancia o engenho da lagoa 
Rodrigo de Freitas. Foi necesdrio construir sobre o rio Carioca a 
ponte de Salema, no local da atual Pra~a Jose de Alencar. 
Em 1577, anulava a metr6pole a dualidade de governo 
aiada poucos an- antes; praticamente, podm, wntinuou a ser o Rio 
a metr6pole do Sul, ponto de partida de todas as iniciativas nas re- 
g ibs continentais, centro de resistencia contra as agressdes exterio- 
res e fom de irradiaciio da coloniza@o na regiio fluminense. 
Segundo governo de Salvador de Sd - Voltou a ser go. 
vemador Salvador de Sd. Foi urn tempo de ativa preparaqao da defe 
sa do Rio de Janeiro, por meio de fortalezas nos promontdrios da bar- 
ra, e de coloniza@o, principalmente re!igiosa: os jesuitas aldeavam 
os lndios entre Macacu e a serra dos Orgiios, os beneditinos no rio 
Guapi e os.wmelitas na ermida de N. Senhora do 0; estabelece 
ramse estes lil timos, tambem, em 1589, no morro de S. Bento. Coin- 
cidiam estes acontecimentos corn a passagem de Portugal e suas 
col6nias sob o domlnio espanhol. 
No fim do 169 &ub, informaes da 6poca atribuem ao 
Rio de Janeiro uma populac4o de 3.850 almas, em grande maioria de 
lndios, sendo apenas 750 os portugueses e cerca de 100 os africa- 
nos. 
0 s habitantes do mono do Castelo tinham entio tres la- 
deiras para alcan~ar a planlcie: a Ladeira da Miseridrd~a, a Lade~ra 
Salvador Correia de SA, prirneiro governador da cidade (1568-1572 e 
1577-1599). AGCRJ 
da Ajuda ou Passo do Porteiro e a Ladeira do Cotovelo. Assim, foram 
as primeiras ruas da cidade a Rua da Misericdrdia, a Rua Direita, a 
Rua S. Jose e da Ajuda Esta ljltima levava para o interior e para as 
propriedades agrlcolas, passando pelo convento, pela Lapa e o Cate- 
te. A Rua da Miseric6rdia era o resultado da expansgo pela v6rzea da 
cidade; nela morava a aristocracia da epoca. A Rua,Direita, primeira 
e h i c a paralela ao litoral, nao era senio uma comunica$io mais di- 
reta com o Mosteiro de S. Bento. Na Rua de S. Jose, na esquina da 
Ladeira do Castelo, havia uma casa que servia de dep6sito a africa- 
nos importados, durante a primeira fase do trAfico; esta rua ngo co- 
municava com o convento da Ajuda por causa da lagoa da Carioca, 
que s6 mais tarde foi aterrada (Vide Felisbelo Freire, Histdria da Ci- 
dade do Rio de Janeiro, p. 76 e seguintes.) 
A importanc~a relat~va das d~ferentes ruas da cidade era 
determinaaa pelos fatores econ6micos do momento: a lavoura dos 
jesuitas no Engenho Velho, as fazendas agricolas de Rodrigo de Frei- 
tas, Catumbi e Mata-Cavalos de um lado e o porto das mercadorias ou 
Porto dos Padres da Companhia (hoje Rua D. Manuel) do outro. 0 s 
caminhos que faziam comunicar estes diferentes centros determina- 
vam as ruas de maior transito. 
Diz Felisbelo Freire: 
As ruas perpendiculares A costa tern um 
carater essencialmente econbmico e tanto mais 
acentuado quando nos reportamos A prhnitiva-6poca 
urbana, das quais existiam somente as Ruas de S. 
Jose, Assembleia (caminho de S. Francisco) e Mare- 
chal Floriano, entfio Vila Verde. E, A propor~30 que o 
tempo foi aumentando os interesses quer agricolas, 
quer comerciais, as ruas perpendiculares foram au- 
mentando em ndmero para economia de tempo e tra- 
balho, at6 que outra ordem de interesses for~aram a 
abertura das ruas paralelas ao litoral. 
A Rua da Quitanda, por exemplo, e tr3.n- 
sito aberto pelo com6rcio da carne verde e o comer- 
cio de mariscos e cereais, localizado em rua escu-- 
sa. . . De um lado, este comercio e do outro lado, no 
trilho que confina com S. Jose, o aCougue pdblico, o 
dnico que existia na cidade e sob a forma administra- 
tiva de concessao e privilegio. Foi debaixo dessa 
forma que nasceu o comercio de carne verde. 
Entre os principais habitantes e propriet~ribs da cidade 
destacavam-se, no fins do 160 s6cul0, os "conquistadores", isto 6, os 
auxiliares e companheiros de EstBcio de SB e de Mem de SB, cujos 
2 
serv i~s foram recompensados por importantes doa@es. Foi assim 
que o provedor Antdnio Marim; um dos homens de mais prestlgio da 
sua bpoca, obteve sesmarias em Niter& em Mag6, onde desenvol-' 
veu lavoura de a@car e no morro de S. Antdnio. Ari Femandes, outro 
conquistador, obteve terras em Mag6 e na Rua da Miseric6rdia; Jorge 
Ferreira, conquistador tamgm, na Rua Direita; Crispim da Cunfla, na 
Rua 3. Jose; Manuel de Brito etc. De um lado Pedro Cubas, filho de 
B r h Cubas, era grande proprietlrio no Rio e veio em 1609 de S. Vi- 
cente, vender as terras que aqui possuia. 
Dois fatos politicos do fim do 166 s&ulo e do principio do 
1 P derarn ao Rio de Janeiro uma situa~io privilegiada em rela~io As 
terras brasileiras do sul: em primeiro lugar o domlnio espanhol que 
enfraqueceu o poder da metr6pole, e, em segundo lugar, a ocupa~Ao 
holandesa das capitanias do nordeste. 0 Rio de Janeiro toma-se 
entio, de fato, a capital do Sul, apesar de Ihe ser, em direito, altema- 
tivamente concedido e retirado o privilegio. A carta r6gia de 1572 que 
cria a divisio e o alvarl de 1577 que a revoga s5o ambos atosdo rei 
D. Sebastiio. Mas, durante a segunda parte do 1 P s6cul0, sucede 
ram-se as alternativas: em 1639, o Rio 4 centro politico e administra- 
tivo, porque a guerra justifica esta delegar$o do governo geral "crian 
do na zona meridional um governo de atribui~bes iguais hs locais. 
Mas essa ernancipa~ao foi transit6ria9' - diz F. Freire. Desde que a 
expulsio holandesa foi uma realidade, o prbprio governador da Bahia 
tratou de reivindicar atribui~ks que Ihe tinham sido usurpadas. 
Julga Rocha Pombo que a verdadeira forma~io do Rio de 
Janeiro data da segunda investidura de Salvador Correia de S6, em 
1578. Durante vinte arms governou o Rio este integro administrador, 
recuperando assim a familia S l a hegemonia politica que perdera um 
tanto durante os govemos anteriores. Um filho de Salvador, Martim 
de S6, devia tambem, em princlpios do s&ulo seguinte, assumir duas 
vezes o govemo da cidade. 
Durante a segunda administra~Ao de Salvador de St4 o fi- 
Iho do Duque de Beja, conhecido sob o nome de Prior do Crato, ten- 
tou restabelecer em seu proveito a monarquia nacional em Portugal, 
e refugiou-se na wrte de Fran~a,para a1 organizar a resistencia. Em 
troca do senrip prestado na peninsula ao pretendente portugues, o 
Brasil teria entio passado aos franceses. Mas Salvador de SB ficou 
fie1 ao rei Felipe II e preservou assim nossa independdncia como uni- 
dade portuguesa na monarquia qspanhola. 
Quando chegaram as naus francesas, portadoras das car- 
tas d@ Prior do Crato, diz frei Vicente do Salvador: 
0 Rio antes da Era dos Melhoramentos - a antiga Rua Treze de Maio, vista 
do sul para o norfe. MIS 
i 
Vista do Rio de Janeiro tomada do Convento d p Santa Teresa -2 esouerda, 
o Aqueduto; no fundo, o morro do Castelo. lHGB 
E porque a cidade estava sem gente e 
n8o havia mais nela que os moCos estudantes e al-, 
guns velhos que n8o podiam ir A guerra do sert80, 
destes se fez uma companhia e dona In& de Sousa, 
mulher de Salvador Correia de SB, fez outra de mu- 
lheres com seus chappus na cabe~a, arcos e flechas 
nas m%os, corn 0 que e corn o mandarem tocar mui- 
tas caixas e fazer muitos fogos de noite pela praia, fi- 
zeram imaginar aos franceses que era gente para de- 
fender a cidade e assim, a cabo de dez ou doze dias, 
levantaram as 8ncoras e se foram. 
A ausQnCia do governador, durante estes incidentes, mos- 
tra que al6m da coloniza~Zio, do alastramento das culturas e da 
indlistria incipiente da cana, jd se cogitava das incursdes pelo interior, 
A procura de indios para as lavouras e de minas a explorar. 
Mas, durante o dominio espanhol e a conseqijente ocu- 
pa@o holandesa, enquanto os governadores gerais, na Bahia, traba- 
lham a reconquista do Norte, os governadores do Rio de Janeiro cui- 
dam em suprir nas coldnias as deficiencias da metr6pole. Era mais 
fAcil, devido aos recursos acumulados no Rio, as suas riquezas, a sua 
seguranca resultante da posi@o e do afastamento do teatro das ope- 
ra@es, reorganizar aqui as for~as da wldnia, em vista de expulsar o 
estrangeiro. 
0 dominio espanhol em Portugal n io preocupava o Rio de 
Janeiro: "era-nos indiferente - diz Fernandes Pinheiro - receber or- 
dens de Lisboa ou de Madri, porque nem uma, nem outra corte cui- 
dava seriamente de nossa prosperidade". Maior sensa~i30, todavia, 
causaram em 1624 a noticia da tomada da Bahia e em 1630 a da 
queda de Pernambuco. "Um s6 pensamento - diz o mesmo historia- 
dor -, o da defesa do porto e das fortifica~bes da cidade, animou a 
todos os habitantes que deram, nessa bpoca, inequivocas provas do 
seu acrisolado patriotismo." Datam desta 4poca as primeiras obras 
da fortaleza da Laje e o grande dique que existiu muito tempo entre a 
Carioca e a Prainha. 
0 s sucessores de Salvador de Sa - Mas nem todos os 
govemos proporcionaram aos cariocas periodos de paz e de prosperi- 
dade compardveis aos da paternal administra~ao de Salvador Correia 
de SA. 
De 1617 a 1620, por exemplo, governou a cidade urn 
chamado Rui Vaz Pinto, cujos excessos e violencias marcaram na 
nossa hist6ria uma era,' curta felizmente, de desordens e pertur- 
ba~6es pollticas. Um conflito que se tomou permanente abriu-se en- 
tre o representante de Felipe Ill e a CAmara Municipal. 0 despotism 
do governador s6 ndo foi mais nocivo porque Ihe faltaram prestigio e 
for~a. Parece ter sido originado o conflito pela prido arbitrhria do juiz, 
que a CAmara mandou soltar. 
Nesta serie de desordens continuava o 
govemador os seus despotismos.., e a oprsssao dos 
povos aumentava, vendo espalhada por toda a cida- 
de uma geral perturba~ilo. Ele os obrigava corn pe- 
nas pecuniarias a fazerem guarda a sua porta, tanto 
de noite, corno de dia. . . e aos que faltavarn mandava 
condenar em 20 cruzados. (Manuscrito da BiM. Epis- 
copal Fluminense, in Revista do lnstituto Histdrico, 
tom0 1,1839). 
A linic; conseqiienc~a vantajosa deste period0 nefasto foi 
a maim descentralizag30 que dal resultou na administraqiio e uma 
maior autonomia da CAmara, que, durante o governo de Vaz Pinto, 
foi de grande e proflcua atividade (impost0 sobre vinhos para aplid- 
lo ao abastecimento d'dgua, regulamentos sanitasios, organiza@o 
dos s e ~ i w s de descarga no poilo, mediante contrato etc.). 
Outro membro da ilustre famllia Correia de SB estava des- 
tinado a desempenhar por duas vezes ainda o cargo de govemador: 
Salvador Correia de SA e Benevides, filho de Martim Correia de SB e 
net0 do primeiro Salvador, foi provido no governo da Capitania por 
El-Rei Felipe IV, em 1637. 
Deu-se, durante o seu governo, a restaura$do portuguesa 
de 1640, com a casa de Bragan~a e herdeiro legltimo D. Joio IV. A 
adesgo do governador do Rio de Janeiro a nova monarquia era um 
ponto importante: a Bahia jd se havia pronunciado, mas era de recear 
que Salvador de SB e Benevides, filho de mae espanhola e casado 
com uma espanhola, sobrinha do vice-rei do Mdxico, hesitasse em 
"se divorciar de mais de 10 mil cruzados de renda e mais 50 mil de 
fazenda de raiz e mdvel, que no Reino do Peru e Castela gozava 
com enwmendas, dote e heran~a e muitas promessas de mercQs pa- 
ra sua casa e fil hos. . ." (Relqdo. . . Revista do lnstituto Histdrid, t e 
mo V, p. 320). 
Salvador, rompendo os laws de familia, convocou os prin- 
cipais da cidade no col6gio dos jesultas e, obedecendo A vontade ge- 
ral, aclamou D. Jogo IV, corno acabava de fazer o Marques de Mow 
talvao, num altar no cruzeiro da S6 Matriz. Diz a "Rela~io" citada: 
Repetindo muitas vezes o viva que o po- 
vo pluralizava com notBvel aplauso sern saber por 
que, corno nem a quem se vitoriava tanto; dando a 
entender que o CBu confirmava a e le i~ io em que.os 
mais ignorantes dela se deixavam levar do gosto que 
comunicavam os que o sabiam, sem inquerirem nem 
saberem a quem se dedicavam seus vivas, que em 
todas as praGas da cidade se repetiram ao arvorar o 
Pendio Real.. . sem que houvesse pessoa que pro- 
curasse eximir-se de repetir vivas e deixasse de 
agregar ao tumult0 que ia aumentando-se corn a no- 
vidade. . . 
Em 1658, voltando ao govemo Salvador de SB e Benevi- 
des, a autonomia administrativa do Rio foi de novo conquistada; mas 
novamerlte passou a ser capitania "jurisdicionada" pela Bahia em 
1663. No fim do s&ulo, por6m, o Rio de Janeiro comqou as suas 
conquistas definitivas: postos da milicia (1689), jurisdiq30 sobre mi- 
nas (1693), defesa militar, justi~a etc., extensgo de jurisdi~80 at4 a 
Coldnia do Sacramento (1 699). 
Restabelecida a independQncia portuguesa e autoridade 
na wlbnia, surgiram dificuldades econdmicas que tiveram ,mn- 
sequgncias locais e abalaram centros coloniais, como o Rio de Janei- 
ro. Uma Companhia de Com6rci0, com privilegio de navegaggo e 
monop6lio de quatro artigos (vinho, azeite, farinha e bacalhau) veio 
provocar a reclamago dos- prejudicados. Entre os principais episd 
dios provocados pela situa~so econ8mica, tributsria principalmente, 
salientou-se, no Rio de Janeiro a revolu@io organizada pela Ciimara 
contra a autoridade de Salvador de S& e Beneviaes, em novembro de 
1 660. Diz o Anudrio de Estatistica Mllnicipal de 1922 
0 s sucessos desta bpoca, pels gravida- 
de que assumiram, em face dos principios e das instii 
tui~8es do momento, refletem j4 os primeiros surtos 
do espirito novo, que se preparava para engrandecer 
e elevar a colania. 
No fim do 18g skulo, foi consider6vel a influgncia que 
teve sobre o desenvolvimento do Rio .de Janeiro a descoberta das 
minas. A estn nrnobsito, escreve Lemos Brito: 
0 eixo econ8mico do pats comeGa a des- 
locar-se desde o dia em que se verificou a extensb 
e a riqueza das minas. . . 
Enquanto inesperadamente a populacjBo 
do sul da col6nia tomava essas espantosas pro- 
por~bes, o norte, que ,se considerava jl definitiva- 
mente estabilizado n8s su.5.s popuIacj&s, viu-se defi- 
nhar no Bxodo crescente de suas unidades politico- 
adrninistratiyas. Nern o Rio de Janelro escapou a este 
6xodo. D. Alvaro de Albuquerque, dirigindo-se ao go-verno da Bahia, declarava-lhe: A terra despovoa-se 
corn as minas, constituindo elas urn verdadeiro fla- 
gelo ... 
A explora@io das rninas deslocava aque- 
le eixo para o sul. . . Pontos de Partida para a Histbria 
EconGmica. 
JB era grande a navega~go entre os portos da col6nia e 
medidas fiscais vieram obrigar todos os navios a fundear no Rio de 
Janeiro. Assim frequentado obrigatoriamente, achou o centro carioca 
urn rtipido escoadouro para toda a sua produ~io. As transa&!s se 
multiplicavam em sua praca de combrcio e aumentou em proporQ5es 
o movimento da cidade. 
0 fechamento das estradas da Bahia e do Esplrito Santo 
para as minas veio tornar tambbm o Rio de Janeiro o ponto for~ado 
de passagem. Outras causas econ6micas (diminuiMo do valor do 
a~licar do norte, devido B concorrhcia das col8nias inglesas) e cau- 
sas pollticas (quest6es platinas) deviarn tamb6m influir mais tarde 
para acentuar a preponderiincia do Rio de Janeiro na vida da n a ~ i o 
em forma~io. 
Em 1680, foi a pedido da Ciimara do Rio de Janeiro que, 
para acabar com as incertezas de limites, D. Pedro, o regente, man 
dou estabelecer, A margem esquerda do Prata, a Coldnia do Sacra- 
mento. Foi o Governador Manuel Lobo incumbido da funda~io e tudo 
foi feito exclusivamente corn os recurs& do Rio de Janeiro: este 
simples fato mostra quais eram entio os recursos e as forc;as do cen- 
tro carioca. Mas a ColCSnia teve influencia prejudicial, drenando ho- 
mens e dinheiro do Rio de Janeiro, deteiminando a crise econCSmica 
de 1685. 
Entre os trabalhos pliblicos de maior vulto, realizados du- 
rante o fim do 1 P sbculo, destacamse as obras de fortificag30 e as 
- obras de canaliza~io das Aguas do rio da Carioca 
A vida econhica da cidade. - Passada a fase da r e 
conquista, entrou o nlicleo de povoamento carioca numa fase de ex- 
pansio, no fim do 160 seculo e no principio do sdculo seguinfe. 
JA aludimos ao desenvolvimento da cidade, na phrte pla- 
na, entre os quatro morros mais pr6ximos (Castelo. S. Bento, Santo 
Ant6nio e Concei@o). N io foi menor o seu progress0 material. Diz 
Rocha Pombo: 
Toma grande increment0 a colonizagfio 
do vasto distrito estabelecendo-se em' todas as ime 
dia~bes muitos lavradores. Em todas as direc;&s 
abrem-se caminhos para trafego das fazendas, e 
convergindo todas para as aguas do extenso laga- 
mar, p8de ser corn rnuita vantagem aproveitada a fa- 
cilidade de circula~Bo marltima. 
0s engenhos de a~6car &o os primeiros a se multiplicar, 
necessitando esta expanao da rnBo-cbobra africana. De fato, at6 
enao tinha sido suficiente a mb-deobra indigena. -Pacificados os 
Indios, depois da reconquista, tinham os antigos aliados dos france- 
ses, w se retirado para o interior, w se submetido a uma quase ser- 
vidilo, auxiliando o trabalho agricola dos colonos. Gratps A cateque- 
se, os naturais do pals, de boa lndole, n3o representavam mais um 
problema a vencer na coloniza&o da regiso. Cedo por6m tornou-se 
escasso o brap indigena e tjveram os cariocas de reconer a Angola. 
A este propbsito, diz Rocha Pita, aludindo &s embarca@?s 
que saern da AmMca portuguesa: 
Quase outro tanto nljmero de embar- 
ca@es rnenores navega para a costa da EUpla, 9 
buscar escravos para o servlGo dos engenhos, rni- 
nas e lavouras, carregando gQneros da terra (meps 
ouro, que algurn tempo levavam e hoje se lhes probe) 
algurn a~ljcar e mais de clnquenta mil rolos de taba- 
co, de segunda e terceira qualidade. . . 
Eram estas, por conseguinte, as exporta- cariocas para 
a Africa. Mas os recursos da regiilo eram tambem de-pau-brasil do 
vale do Parafba e de rnuitos gQneros de consumo local. Diz ainda 
Rocha Pita: 
abundant0 de 'muitas hortali~as, legu- 
mes, plantas, frutas e Rores de Portugal, que todos os 
dias enchern a sua praCa, parecendo pomares e jar- 
dins port&eis os seus redores s8o cultivados . de 
aprazlveis e ferteis quintas, a que la charnam '"jaca- 
ras". No seu rec6ncavo houve cento e vinte'enge- 
nhos, os quais perrnanecem ao presente (1724) sao 
cento e urn, deixando de mover os outros, por se Ihe ' 
tirarem os escravos para as minas; e a rnesma falta 
experimentam as mais fazendas e lavouras, que fo- 
ram rnuitas. 0 s seus campos sf10 fecundlssims na 
criagao dos gados p i o r e menor, kndo tBo nurnero- 
sos nos dos'ltaqses (prolongados entre esta Capi- 
tania e a do Esplfito Santo) que da grande c6pia de 
leite que &, se fazern perfeitos e gostosos queijos, 
na forrna dos d8 Alentep e chegam a muitas partes 
do Brasil fresqulssimos. 
Criam os seus mares mariscos e pesca- 
dos menos regalados que os das Provincias que fi- 
cam para o norte, mas na mesma quantidade. Ha no 
seu distrito outros generos e culturas de preGo e re- 
gale; por6m correndo para as minas muita parte dos 
moradores e levando seus escravos para a lavra do 
ouro, ficaram menos assistidas as outras fAbricas; 
- causa pela qua1 hA menos a~~jcares e se experirnen- 
ta alguma diminui~ao nos viveres. 
A pesca era, de fato, um dos mais importantes recursos da 
coldnia carioca, wmo alids de todos os pontos colonizados do litoral. 
Sem campos de pastagem extensos e s6 com poucos gramados artiv 
ficiais, o Rio de Janeiro do seculo XVll n io dispunha da cria@o de 
gad0 em grande escala para a sua popula~%o crescente. S6 depois 
de abertas as wmunica$bes regulares com Sio Paulo 6 que pdde o 
Rio se abastecer de carnes. Era pois necessdrio recorrer ao peixe, 
alids abundante nas dguas da Guanabara, para alimentar a popu- 
la$tio carioca, que cedo tornou-se icti6faga. 
Era especialmente came de baleia que fazra objeto do ati- 
vo comercio no Rio de Janeiro. Entravam as baleias em maio B pro- 
cura das dguas mais tranqiiilas da bala para a 6poca da cria e, at6 
fins de agosto, permaneciam numerosas. 0 peixe, fugindo aos cetA- 
ceos, recolhia-se entio nos baixos e recdncavos, tcrrnando-3e assim 
mais proveitosa a pesca. 
0 primeiro wntrato da arma~iio 6 anterior mesmo a 1583 
e deu o nome 8 peninsula da Armagio e seu respectivo morro, na 
ponta de S. Lourenco, em Niterdi. Eram ~rincipais produtos, al6m da 
carne, o chamado azeite de peixe, as barbatanas e os residuos cha- 
mados "borra" (galagala) que, ligados B cal do Reino, davam As edifi- 
ca~des uma consistencia notdvel. 0 s contratos de armagiio eram 
uma fonte de rendas importante para a Fazenda Real e davam para 
o pagamento da "folha eclesidstica" (cengruas do bispo, do cdnego e 
outros beneficiados da Catedral). 0 s depdsitos de azeite de peixe 
eram na Lapa dos Mercadores e no bairrode S. Jose. Foi w m o di- 
nheiro ganho na armagiio que o contratador Brds de Pina, proprietario 
na Rua Direita, construiu o cais dos Mineiros. Um alvard de 1801 veio 
extinguir todos os wntratos e mandou vender todas as armacbes, es- 
tabelecendo-assim a liberdade das pescarias. Cada baleia, calcula- 
va-se enttio, dava 16 pipas de azeite e 15 arrobas de barbatanas. 
S6 foi mais tarde introduzida na cidade, pelo Conde de 
Resende, a iluminacGo das ruas a azeite de peixe em larnpibes pr& 
prios. Era um grande progress0 sobre os candeeiros que, acesos pe- 
10s fieis diante dos nichos, erarn os Onicos luminares das ruas estrei- 
tas e escuras. Durou o azeite at6 o g&, inaugurado, em 1854. 
As invasdes francesas - A gande extensiio territorial do 
Brasil e o isolamento relativo de suas respectivas regihs, do extre 
rwnorte, do norte, do interior e do sul, explicam o nlimero e diversi- 
dade dos interesses politicos e ewm9miws que preocupam cada r e 
gitio. No 189 skulo, mais talvez do que em qualquer outro perlodo de 
nossa hist6ria, salients-se este individualismo politico-econ6miw, 
p q u e surgem ao mesmo tempo crises de grande importhcia na 
forrnaflo da nacionalidade, em diferentes zonas do pais. 0 principio 
do s&ulo assist0 aos liltimos descobrimentos da expansiio dos ban- 
deirantes paulistas em GoiAse Mato Grosso, A Guerra dos Emboa- 
bas em Minas, As revoluws nativistas contra os mascates em Per- 
nambuw, as invades francesas no Rio de Jane~ro, A colonizaflo do 
Rio Grande do Sul e wnsolida~tio da ocupa~tio da ColBnia do Sa- 
cramento. Eram, p is , preocupa@es de tiio alta importancia polltica e 
administrativa que todas, ao rnesmo tempo, assaltaram o esplrito da 
administra~tio colonial. 
S6 vista deste sincronismo dos acontecimentos, levando 
em conta a mentalidade de um governo que, naquela kpoca, visava 
quase exclusivamente a explora$tio das minas, recentemente desco- 
bertas, s6 assim pode ser compreendido e interpretado o incidente da 
ocupa~iio do Rio de Janeiro pelos franceses. 
Na Guerra de Sucessiio de Espanha, desencadeada na 
Europa pelas pretensbs de Luis XIV, tomara Portugal parte contra 
ele, em favor dos aliados. 0 s franceses corsArios e contrabandistas, / 
desde 1695, vinham frequentando o porto do Rio de Janeiro e intro- 
duzindo clandestinamente mercadorias. Era principalmente por via da 
ilha 'Grande que entravam os contrabandistas. Multiplicavamse as 
causas de conflitos, e aproveitaram os corsArios franceses do estado 
de hostilidade para incurs6es militares organizadas e para a bcu- 
pa~i io e saque de ttio importante centro econ6mic0, wmo jd era o 
Rio de Janeiro. 
A primeira invaso foi em 1710, chefiada por Joao Fran- 
cisco Duclerc, natural da Guadalupe. Repelida a sua esquadra pela 
fortaleza de Santa CNZ, velejoua para a ~lha Grande e voltou para a 
ponta de Guaratiba, onde desembarcou cerca de mil homens; Levou 
uma semana a marcha sobre o Rio de Janeiro, passando os france- 
ses por Carnorim, Jacarepagua e Engenho Velho. Nada fez para 
detblos, nos monos e matas dos subhbios, o Govemador Francisco 
de Castro Morais, ficando entrincheirado no chamado Campo do 
RosMo, entre os monos da Conceich e de Santo AntMs. Foram 
habitantes da cidade e estudantes guiados por Amaral Gurgel e frei 
Francisco de Meneses que deram cornbate aos invasores. Duclerc, 
ao chegar ao Largo da Sentinela (esquina de Frei Caneca e Riachue- 
lo), contmw os monos para evitar a trincheira do Campo do M o 
e passou pelas atuais Ruas Evaristo da Veiga e Chile, sob o fogo das 
baterias do Castelo. Alcancpu o trapiche da Cidade e af fortificouse, 
esperando socorn> da esquadra. Depois de vMos combates, foi obri- 
gado a renders mm cerca de 650 hornens. Tempos depois, era Du- 
clerc misteriosarnente assassinado na casa ern que residia, na esqui- 
na das atuais Ruas da Chitarup e General C h a r a 0 fato foi deter- 
minado por motivos de vingaqa part~cular e nao de ordem polltica 
Em setembro de t711 deuse a segunda i n v W francesa, 
chefiada por Duguay-Tmuin, que com 6.200 htnens, 7 3 8 ' b de 
fogo em 18 vasos de guerra, veio vingar a malograda tentativa do 
ano anterior. Comqamn os franceses tomando a ilha das Cobras. 
Em seguida, desembarcararn na praia da Gamboa e ocuparam em 
trQs grupos os monos vizinhos. Recusada a rendi@o, principiw o 
bombardeio em mite de trovoada, relhpagos e chuva forte. Opera- 
ram, enGo, novo desembarque, ao pd do rnorro de $. Bento, e domi- 
naram a resistgncia 0 incapaz Govemador Castro M O ~ S tinha fugi- 
do para Iguap, e, retirados os defensores da cidade, fol ocupada es- 
ta pelo inimigo. 0s 6.000 hornens de AntBnio de Albuquerque, vindos 
de Minas para socomer a cidade, chegaram tarde e s6 deterrninaram 
Duguay-Trouin a preci pi tar a evacua~ao, median te resgate de 
600.000 cruzados, fora os despojos do saque. Diz Joao Ribe~ro: 
Por falta de An~rr;b e prudencia fo~ o inep- 
to governador duramente condenado a degredo 
perpdtuo e sequestrados os seus bens. 0 govema- 
dor, todavia, era menos culpado que os seus compa- 
nheiros e auxiliares. Nesse tempo a preoucpa~30 das 
riquezas das minas havia, corn o esplnto das especu- 
l a w s , arnortecido o sentimento militar 
Hoje estA provado que Francisco de Castro s6 dispunha 
de 1.600 homens para resistir em combate, dos 2.200 que contava a 
guami@o; os demais estavam nas fortalezas. 0 eno talvez tenha si- 
do de ngo resistir at6 a chegada de AntBnio de Albuquerque. Al6m 
disso, os defenqres enganaram-se wntando corn a repeti~ao pelos 
franceses das indpcias de Duclerc. 
Logo em seguida tomou posse do governo AntGnio de Al- 
buquerque, por aclamaMo do povo e da guami@o. 
Fwam governadores da Capitania do Rio de Janeiro, de 
pois de Francisco de Castro Morais: Francism de TBvora:atb 1716. 
Antanio de Brito Meneses e Aires de Saldanha, de 1719 a 1725. 
Durante o govemo de TBvwa, widou-se da reconstru~io 
das fortificaciks e da devassa sobre os responshveis do desastre de 
171.1. Albm do ex-governador, foram vArios oficiais ccndenados A d e 
porta~io para Angola. Passou entao o Rio de Janeiro por um pen'odo 
de crise social de violencias e assassinates, destacando-se espe- 
cialmente as rivalidades entre as tres farnilias - os Gurgbis, os Ve 
lhos e os Barbalhos - perturbadoras da ordem pOblica. 0 govemador 
em vArias ocasides teve de entrar em conflito corn a CArnara e o Juiz 
de Fora, a prop6sito de doacdes de terras. 
Na administra~ao de Aires de Saldanha, abrese um 
period0 de obras pirblicas ativas: fq-se o cal~amento de vBrias mas, 
adiantarnse as obras da Carioca Para reprimir a pirataria, estabelece 
o govemador o impost0 da Inau guarda-costa", cobrado por cabe~a 
de negro importado e por navio entrado. Cuidou tamb6m Aires de 
Saldanha da fiscaliza~io dos registros: o que existia ao pd da serra 
da Boa Vista, onde pagavam A real fazenda por cavalos, negros e ou- 
tros transeuntes destinados As. minas, era ma1 guardado e oferecia 
caminhos ocultos. Foi entio estabelecido o registro na passagem do 
caminho novo pelo rio Paraibuna. 
0 fato mais caractedstico deste period0 hist6rico 6 o papel 
international da capitania do Rio de Janeiro, que pouco a pouco vai 
tomando maior importtincia com os acontecimentos do Sul. 0 Trata- 
do de Utrecht (1715) tinha restituldo a Portugal a Col6nia do Sacra- 
mento. A partir deste momento, cabia ao Governador do Rio de Ja- 
neiro a execu@o do programa politico trapdo em Lisboa. Surgiam, a 
qste prop6sit0, dificuldades com o governo de Buenos Aires, empe 
nhado em povoar Monteviddu. Em 1723, enviou Aires de Saldanha 
uma forw para ocupar e defender o presidio de Montevidbu. JB no 
governo de Brito Meneses tinha-se cuidado da colonizaqAo da ilha de 
Santa Catarina e do Rio Grande. 
0s ultimos governadores - Em 1725 chegou ao Rio um - 
novo govemador, Luis Vala Monteiro, yadministrador de atividade ex- 
traordintlria e de simplicidade rude", diz Eduardo Marques Peixoto 
que compilou e publicou na Revista do lnstituto Histdrico extratos 
dos 15 volumes que formarn a obra escrita deste governador, conser- 
vada no Arquivo Nacional: 
Achava-se a Capitania entregue ti anar- 
quia do fisco. Era grande o contrabando, escreve 
Marques Peixoto, teve Vafa, de sustentar luta forte 
com os defraudadores da fazenda real, impedindo a 
salda dandestina de objetos da AHandega e de na- 
vios mercantes. 
E, devido A severidatle de rnedidas que 
adotou, nao s6 com relaqao A renda real, mas corn 
todas as 'outras questdes de interesse para a Corte, 
houve contra Vaia terrlvel corrente de oposiqao aos 
seus atos. 
0 poder de que sempre gozou o mags- 
trado, neste ponto do domlnio portugu&s, era, naquela 
ocasiao, demasiado. E se alguns wmens de just i~a 
moderaram as suas atribuiqbes, outros se excede 
ram, de forma a fazer frente aos atos dos Governado- 
res, em administraqao quae que militar. 
Outro poder que impunha obediencia era, 
sem dljvida, a ordem religiosa. . . Vara nao duvidou 
em ir ao encontro da ordem religiosa. Obrigou a de- 
Wminados atos seus as confrarias religiosas, corn 
a de S. Bento, castigando com o desterro - a 80 16 
guas do rnosteiro - o abade. 
E tais foram esses atos que a Catede 
Portugal teve que intervir. Vala usou de meios edrgi- 
cos para iinpedir que por uma cerca do mosteiro pas- 
sasse contrabando, provou a ilegitimidade da posse 
da ,ilha das Cobras pelos frades, e entrou nas lutas 
que muito interessam hist6ria local com multa dignC 
dade. 
TarnMm, por ocasiao d~ descaminho do ouro, foi notavel 
a sua energla 0s extravios do our0 em 1730 deram lugar a uma a@o 
judicial contra os criminosos, apesar das dificuldades promwidas p e 
lo ouvidor. 0 pr6pr1o Conselho Ultramarine foi eco das falsidades le 
vantadas contra Vaia Monteiro. Na mesma 6poca e~crevia ele a El- 
Rel: 
Depo~s de ter descoberto que se fundla 
our0 fora das casas reas de fundleeo para furtar os 
reals qu~ntos, ache1 por 6n1co remed~o evltar este 
roubo, enquanto V. M. nao dava outra prov~ddncla, 
ordenar que nesta casa da moeda se fizesse assento 
de todas as barras que entravam nela, e que n8o se 
entregasse o d~nhe~ro As partes antes de fazer uma 
conferdncla com os dltos assentos e uma relaego 
que mande~ pedlr aos governadores das Mnas Ge- 
rais e S. Paulo como )a dei conta a V. M. consideran- 
do que com a noticia desta provid6ncia se ngo atre- 
veria ningu6m a fabricar as ditas barras. . . 
A oposit$io que sofreu por parte dos poderes ptjblicos da 
cidade, por parte dos cidadios mais influentes e por parte da pr6pria 
metrdpole, de onde Ihe chegaram veementes admoesta@es, deter- 
minou em Vaia Monteiro um abalo cerebral que acabou em aliena~go 
mental. Foi no period0 de demQncia que recebeu do povo a alcunha 
de "On$an. Em 1732 foi o govemador deposto pela CAmara, vindo a 
falecer no ano seguinte. 
Figura incontestAvel, superior B de Rui Vaz Pinto, o hones- 
to e dedieado Vaia teve a infelicidade de intrometer-se na jurisdi~i30 
da Chara, o que prova mais uma vez a crescente vitalidade das ins- 
titui~bes municipais entre n6s. No "tempo do Owan eram tratados 
sem as forrnalidades prescritas os oficiais camaristas, por isso que, 
segundo a expressao de Monsenhor Pizarro (Memdrias do Rio de Ja- 
neiro) "falava-lhe a constbciamo modo civil* e tinha "procedimentos 
deseonformes da razao". 
0 govemo de Gomes Freire - Marca tamb6m um perlo- 
do saliente na hist6ria do Rio-de Janeiro, no 18%&ulo, o governo de 
Gomes Freire de Andrade, de 1733 a 1763, o melhor dos govemado- 
res dos tempos colonids, na opinigo de Vamhagen. Recolheu a su- 
cessiio de Vala Monteiro, numa 6poca em que o contrabando do our0 
e a legislqiio mineira preocupavam o govemo da metr6pole. 
Sucederam-se trhs sistemas: tributo por bateia, impost0 
das quintas, regime da capita~io. 
Diz Alexandre Max KI tzinger, na Revista do lnstituto histd- 
rice: 
0 Govemo de Gomes Freire de Andrade, 
mais tarde Conde de Bobadela, durou perto de trinta 
anos. Este govemador, que bem mereceu do povo o 
nome de "Pai da Pdtria" e 6 o her6i do poema 6pico 
'Uraguai", de Jose Basflio da Gama, prestou relevan- 
tlssimos servi~os ao Rio de Janeiro: edificou o 
convent0 de Santa Teresa; erigiu o chafariz de pe- 
dra-mdnnore no largo do Paldcio; reconstruiu o aque-, 
duto cia Carioca; fez a dupla ordem de arcaria de vol- 
ta inteira; recolheu os lkaros em dois prbdios, em S. 
Crist6vZi0, e langou a primeira pedra da catedral do 
Rio de Janeiro. Em 1743, mandou construir, na Praga 
do Canno (depois Largo do Pago, o novo ediflcio para 
residgncia dos governadores, e, junto A fonte da Ca- 
rioca, urn tanque de lavar para serventia da popu- 
IaqBo. 
De todas as dguas que abasteciam ent5o o Rio de Janeiro 
eram as mais afamadas, pela sua fresqura e suas virtudes de embe- 
lezar a clitis e de suavizar a voz, as Aguas da Carioca. 0 s manan- 
ciais de Santa Teresa, perfazendo cerca de oitocentos mil litros did- 
rios, s io ainda hoje encaminhados para o reservat6rio do Silvestre, 
no local chamado Mie d'Agua, urn dos passeios preferidos dos cario- 
cas, no 180 skulo. 
A canaliza~io destas 6guas tinha sido iniciada sob o go- 
vemo de Jog0 da Silva e Sousa, em 1673; mas os trabalhos tinham 
sido vtlrias vezes interrompidos e os planos modificados. S6 chega- 
ram ao alcance da popula@o urbana as dguas em 1723. 
Coube a Gomes Freire dar o passo definitivo corn a cons- 
trugio de 1744 a 1750 do grande aqueduto da Carioca que liga os 
morros de Santa Teresa e de Santo AntBnio. A extensio perwnida 
pelas dguas captadas 6 de cerca de 12 quil6metros. S5o 42 0s arms 
construidos, e medem 17 metros de altura. Esta obra de engenharia 
colonial 6 de tal solidez que, de aqueduto que era, pdde passar a ser 
viaduto. 
Quanto ao chafariz do Largo da ~aridca, retirado em 
1926, datava de 1834 e tinha substituido a antiga fonte aa Carioca. 
Ordenou airida o prevldente govemador a 
edifica~ao da fortaleza da ConceiGBo, e prosseguiu 
as obras da fortaleza da ilha das Cobras, principiadas 
por seu imediato antecessor, Luis Vaia Monteiro, au- 
mentando-lhe o piano de fortifica@bs, e construindo 
outros fortins igualmente Irteis. Veio tornar a d i re~b 
destes trabalhos, mandado pela Corte, o brigadeiro 
Jose da Silva Pais, primeiro governador da capitania 
de Santa Catarina, criada por provisBo de 11 de 
agosto de 1738. 
Em 1752 embarcou para o Sul, como 
plenipotencitlrio do rei de Portugal, a fim de dsr exe- 
c u ~ b ao tratado de Madri de 13 de jupho de 1750, no 
aue dizia respeito A demarca~ao dos lirnites do Brasil 
corn as possess6es espanholas. (Alxandre Max Kit- 
zinger. Revista do lnstituto Histdrico, tom0 LXXVI). 
~ i a j o u muito pelo Brasil o Conde de Bobaaela, indo a Mi- 
nas, ao Rio Grande e a Cuiabd. Em 1751 foi instituida a Rela@io do 
Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, Liltirno governador 
(1 733-1763). AGCRJ 
Rio de Janeiro, com al~ada igual a da Bahia. 0 Rio tinha entiio cerca 
de 30.000 habitantes. 
Coincidiu a segunda parte da administra~iio de Gomes 
Freire com a primeira fase do governo do Marques de Pombal, em 
Portugal. Nomeado pelo rei "brasileiro" D. Joiio V, foi tambem digno 
representante do grande ministro de D. Jose. 
Diz Oliveira Martins: 
0 slstema das ideias polRicoecon6micas 
e as condiqbes novas criadas pela paz de Utrecht na 
Europa levaram Adefini~ao pura do reglmen centrali- 
zador e protetor. E o Marques de Pombal quem, por 
vanas formas, extingue finalmente o que restava ain- 
da dos primitivos direitos feudais dos donatarios, reu- 
nindo toda a autoridade nos governos dependentes 
da coroa. . . 
A coldnia constitula-se' rapidamente em 
n a ~ b ; e uma emigra~b abundante, excessiva at6 
para as for~as da metr6pole, engrossava por toda 
parte os ndcleos constantemente criados. . . 
0 sisterna de mon~p6lios protetores era, 
entao, consideradq como o melhor modo de fornentar 
0 progress0 econ8mico. . . 
S o estes, pis, os principios que serviram de base B poli- 
tics colonial de Portugal durante o perfodo pombalino e que se tradu- 
zem, em rela~iio ao Brasil, pela animaq80 B agricultura, pela cria@o 
das grandes companhias de comBrcio qcom monop6lios, pela liber- 
ta@o dos indlgenas, pelas reforrnas da legisla@o e pelo impulso da- 
do B instru@io Mblica. 
Desculpando os atos de paixio malevolente e vingativa do 
grande prtuges, diz Latino Coelho: "mas o Marquds de Pombal era, 
no governo, mais do que um homem, era a iddia da revolu$8oW, e de- 
ve ser julgado corno um destes 'agentes sinistros do progresson. 
Gomes Freire interpretava bem o espirito liberal da sua 
Bpoca, quando reunia, em seu palAcio, a Academia dos Felizes e 
promovia em 1747 a funda~iio da primeira imprensa que se montou 
no Rio de Janeiro e foi imediatamente fechada por ordem do Conse 
Iho Ultramavino. Criou, alem disso, o governador aluAula de Artilharia" 
e os seminiirios de S. Jose e de S. Pedro, de acordo com o bispo 
Guadalupe. 
Em rela~80 aos indios, cuja situa@io social sempre fora o 
objeto de hesita~6es e contradi~6es na legisla~io

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