Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
HISTORIA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO 0 texto desta Histdria da Cidade do Rio de Janeiru foi pu blicado originalmente em 1926, quando o Brasil atravessava urn momento de grande efervdncia cultural e polftica, conhecido corno 'a crise dos anos 20", marcado por fatos corno o movimento modernists, o tenentismo, a forma@o da wluna Prestes, a perda da hegemonia da sociedade agro-exportadora e ascensh da burguesia 0 Rio de Janeiro, cenCio de uma grande reforrna urbana, tern, como capital federal, um papel fundamental nesse pocesso de 'repensar o palsn que entao se desenvolve. E a Histdna da Cidade do Rrb de Janeiru pretendia ser, na defini* de seu autor, Delgado de Carvalho, urn 'pequeno cornphdio moderno" para uso nas escolas pimbias, onde fora aiada a disciplina Hist6ria do Distrito Federal, wmo uma introdu@o & Hist6ria do Brasil. Modifica- subseqiientes no programa das escolas pdblicas suptimiram, lamentavelmente, essa disciplina do curriwlo das escolas, mas a obra de Delgado de Carvalho sobreviveu sua fun@o inicial e se tornou um cl4ssico. disputado por colecionadores e pesquisadores nos ' s e w da cidade. PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Marcello Alencar SECRETARIO MUNICIPAL DE CULTURA, TURISMO E ESPORTES Gerardo Mello Mourlo DIRETOR DO REPARTAMENTO GERAL DE DOCUMENTACAO E INFORMACAO CULTURAL Afonso Carlos Marques dos Santos DIRETOR DA DIVISAO DE EDITORACAO Paulo Roberto de Araujo Santos - Rcha catalogrhfica elaborada pela Divislo de DocumentaqW e Biblioteca do CIDGDI Delgado de Carvalho, Carlos, 1884-1980 D352h Hist6ria da Cidade do Rio de Janeiro 1 Carlos Delgado de Carvalho. - Rio de Janeiro : Secret. Mun. de Cultura, Dep. Geral de Doc. e lnf Cultural, 1990. 126 p. : il. - (Biblioteca Carloca; v. 6) 1. Rio de Janeiro (cidade) - Hist6ria. I. Ti- tulo. ll. Sbrie. CDD 981.54 CDU 981.531 - Delgado de Carvalho 2? Edigilo Reimpresslo PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes Departamento Geral de Docurnenta~Io e InformacIo Cultural I copyright@1988, 1990 Astrogildes Feiteira Delgado de Carvalho Direitos desta edi~ito reservados ao Departamento Geral de Docurnenta~lo e lnforrna~ao Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, Turisrno e Esportes. Proibida a reprodu~50 total ou parcial, e por qualquer meio. sem expressa autoriza~Co. + lrnpresso no Brasit - Printed in Brazil ISBN 85-8509G08-x Edi@o e revisso de text0 - Comiss5o de Editora~go do CIDGDI: Ana Lucia Machado de Oliveira, Diva Maria Dias Graciosa, Luzia Regina Gomes dos Santos Alves, Rosa Maria de Carvalho Gens, Rosemary de Siqueira Ramos. Capa I6da Botelho Artelcapa: Ana Paula Ferreira Projeto grifico: Luzia Regina Gomes dos Santos Alves Secretaria Municipal de Cultura, Turisrno e Esportes Departamento Geral de ~ocurnenta~&o e InformagBo Cultural Rua Afonso Cavalcanti, 455 - 24 andar - Rio de Janeiro NOTA INTRODUTORIA de Carlos Augusto Addor 9 PREFACIO DA 25 EDICAO 13 NOTA DO EDITOR 15 HISTORIA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO 17 Dedicat6ria Pref6cio Capitulo I - A Funda~go da Cidade Primeiros estabelecimentos 23 0 fator geografico no seculo da descoberta 26 Capitulo I1 - A Capital do Sul 31 A cidade no seculo XVll 3 1 0 Segundo govern0 de Salvador de SB 32 0 s sucessores de Salvador de S4 37 A vida econ6mica da cidade 40 Capitulo 111 - 0 18%6culo 43 As invasdes francesas e 0 s ljltimos governadores 0 governo de Gomes Freire A expuls2o dos jesultas Capitulo IV - A Capital dos Vice-Reis 55 . . 0 s primeiros vice-reis 55 0 govern0 do Marques be Lavradio 57 D. Lufs de Vasconcelos 60 0 Conde de Resende e a Inconfidencra 60 Capitulo V - A Sede da Monarquia Portuguesa 65 D. Jo5o VI no Rio de Janeiro 65 Capitulo VI - 0 Municipio Neutro 7 1 A "Muito Leal e Her6ica Cidade Imperial" 71 0 Segundo Reinado Instru~Bo e Saljde Pljblica Festas e tradi~bes do tempo do lmpkrio A evolu~%o do pals e o Rio de Janeiro A vida social na Corte Capitulo VII - A Capital Federal A Prefeitura do Distrito Federal A administraG80 Pereira Passos A Era dos Melhoramentos A obra de Osvaldo Cruz 0 s ljltimos prefeitos A vida carioca no fim do 19' seculo Capitulo Vlll - Governo e Administra~ao Posi~Bo geografico-polltica a 0 s textos consti!ucionais A lei orginica Divisgo administrativa A publ ica~o da obra de Delgado de Carvalho, Hbt6rla da CMade do R b de Janeirq dd continuidade a urn trabalho cujo objetivo principal 8 contribuir para que a popula~io carioca mnheya melhor, de forma mais profunda, mais detalhada e mais d i c a a sua cidade, com ela se identifique e lute pela preseffaqio de seus valo- res culturais, assim c o m amplie sua participaqa no prwsso de produqSo cultural no espago do Rio de Janeiro. Nos anos vinte, o Brasil e o Rio de Janeiro vivem um m e mento de grande efervesct5ncia politica e cultural. As crises de super- producio de caft?, as rebelicjes dos militares, a formaqao da Coluna Prestes, as dissidencias oligzfrquicas, a f u n d a ~ o do Partido Comu- nista do Brasil, a revoluq&~ estbtica do Modemism, a exposi@o in- ternacional de cornernorap70 do centendno da Independ&cia e o ar- rasamento do mom do Castelo no quadro de uma nova reforma ur- bana sSo processes e eventos que marcam o periudo - conhecido como "a q ~ s e dos anos vinte" - no pals e na cidade. Trata-se de fato de uma crise, wise do Estado Republica- no' OligArquico e ao mesmo tempo h e da hegemonia da burguesia agrpexportadora cafeeira, articulada em torno do binbmio liberalis- mdfederaq30. Essa crise e essa efervesc8nc1a cultural, que tBm m mo ponto de inflex30 a autodenominada "Revolu~i3o de 193O1; s io vividas com a maior inter~sidade no Rio de Janeiro, capital federal. E nesse context0 - em 9ue se process um "rrepensar o pals" - que Delgado de Carvalho publica em 1926 sua Hist6ria da CMade do Rio de Janeirq com o objetivo principal de auxiliar as professoras pdblicas a lecionarem a cadeira de Hist6ria do Distnto Federal que seria, no ciclo dos estudos prim$n'm, u r n in t rvdqa B Histdria do Brasil. No seu "Prefdcio': Delgado de Carvalho se propSe, a pattir da "modema wienta@o da histdria: apvesentar aos mestres e alunos as t?pocas como quadros sucessivos em que, d o somente agem cer- tos personagens que possuem o poder polRico, mas em que tamb6m vivem, trabalharn, sofrem e se diver- tern todas as carnadas sociais de urna popula~b. Continuando, diz o autoc A hist6ria do Rio de Janeiro n5o 6 a hist6ria de seus governadores, de seus vice-reis, de seus monarcas, presidentes e prefeitos: algumas datas cblebres, al- guns nomes importantes podem e devem marcar eta- pas na sucessao dos tempos, no desenrolar dos acontecimentos; mas os assuntos capitais desta hist6ria s5o as condi~bes de vida dos pr6prios cario- cas, em diferentes epocas, suas tradi~bes, seus cos- tumes, seus usos, suas necessidades. suas festas. Essa preocupa~ib de Delqado de Can~alho em retratar o wtidiano da popula~o carioca aproxima o autor ae perspectivas re- centes, tanfo na reflexao tedrica em torno da quest30 do trabalho do historiador - na linha da histdria social -, quanto na produc3o histo- riogrdfica brasileira, particularmente a que vem se desenvolvendo, em vdrias institui@es, a partir de linhas de pesquisa - como a da histdria urhana - que buscam aprofundar o conhecimento a respeito das condi~6es de vida e trabalho de setores - classes e grupos sociais - da popula~io carioca. E bem verdade que, enquanto esses trabalhos mais recen- tes fundamentam de maneira mais sdlida - tanto do ponto de vista da elaboracio conceitual, como do pontode vista do embasamento emplrco - suas conclu~es, De!gado de Carvalho apresenta na sua Historia da Cidade do Rio de Janeiro aspectos do cotidiano da po- pula~io carioca de maneira mais descritiva, impressionista, quase jomalistica. E mesmo dentro dessa perSpectiva, esse objetivo do au- tor nao e' plenamente realizado ao longo da obra. Em muitos momen- tos do livro, a histdria do Rio de Janeiro 6 a histdvia de seus governa- dores, vicereis, monarcas, presidentes e prefeitos, esses "nomes im- portantes" marcando efetivamente "etapas na sucessdo dos tempos", ou seja, periodizando a histdria da cidade. Com efeito, Delgado de Carvalho wmbina essa preocupacio em descrever a vida cotidiana da popula~o carioca - histdria social - com uma perspectiva mais traditional de histdria administrativa, que aparece claramente no lndi- ce do livro, na sua divisio em capitulos e itens e na prdpria estrutu- raco do texto, acabando por predominar no conjunto da obra. Sio dois os momentos em que a vida cotidiana da popu- lac0 carioca 6,aprespntads w m majsriqueza de detalhes. 0 primei- ro B o item A vida social na-Corte - do capltulo VI - 0 Municipio Neutro; nessa passagem o autor descreve inicialmente a vida fami- liar nas moradias das classes abastadas (as chdcaras), as refeiqdes, a instruqao e o lazer domdstico - onde os moleques e negrinhas ser- vem como verdadeiros "brinquedos humanos" aos "nhonhss volunta- riosos e egoistas e & sinhazinhas pamonhas", os "tiranetes das sen- zalas". Em seguida Delgado de Can/alho retrata aspectos da vida da cidade: as "conferdncias populares", as ruas il noite e a- iluminaqio noturna, os transportes pLiblicos (g6ndolas1 calqas, cup&, diligdn- cias, tilburis, maxambombas, bondes), passeios, visitas, o teatro - onde se destaca o nascente "nativism': representado principalmente pelas obras de Martins Pena. 0 autor conclui o capitplo exaltando a Rua do Ouvidor, "o 'pulso' da cidade, que pertence ao Rio de 3aneiro de todas, as 6pocasJ: 0 Ggundo momento mencionado B o item - A vida ca- rioca no fim do 19Q &ulo - do capltulo VII - A Capital Federal Ai novamente Delgado de Carvalho descreve aspectos da vida cotidiana da cidade, hdbitos de sua populaqib: a hora de acordar, a hora das refeigjes, jomais que eram lidos, compras, namros, passeios, trajes de 6poca. Reaparecem os bondes e os lampi6es, reaparece a Rua do Ouvidor, como pimipal "'onto de reuniio': o teatro (agora incluindo o teatro de revista); aparecem o car naval (o "entrudo"), a Avenida, o automdvel, o cinema, o ruge, a saia curta, o cabelo cortado, a i m prensa amarela. . .; hdbitos caseims notumos s2o descritos, a vkpora, o piano, as festas de aniversArio e casamento, onde se danpvam polcas e quadrilhas. Um Liltimo wmentdrio: d importante ressaltar que o autor n io elabora uma visa0 cdtica em rela@o il gestio de Francisco Pe- reira Passos na Prefeitura do Ria de Janeiro, quandp foi o principal responsdvel pela reforma urbana conhecida como :Era dos Melhora- mentos" - e rebatizada recentemente como "Era das Demoliqdes". Delgado de Carvalho chega rnesmo a contribuir para um pmcesso de mitifica~io da figura do prefeito, a cuja memdria dedica o livro. Veja- se a seguinte passagem: Para fazer da velha cidacie colonial uma capital mo- derna foi precis0 a energia do velho de setenta anos que, com sua viajada expenencia, sua aka com- petencia e seu entusiasrno de moCo, levou ao -fim o seu plano. custa de urn trabalho asslduo diario de / , . - muitas horas. Essa obsetvaqio torna-se necessdria, principalmente na .medida em que trabalhos e teses recentes v6m mostrando o outre lado dessa era de "progresso e a'viliza~io", de "higienizapio; embe lezamento e modemiza@oR da Capital Federal: o enorme custo s e cia1 pago pelas classes subaltemas, por significativos mntingentes da popula@o pobre do Rio de Janeiro, subitamente desabrigados. De qualquer forma, a leitura da obra de Delgado de Carva- Iho e indispensdvel - pela quantidade de informa@es nela contidas - a quem se poponha cunhecer mais profunda e detalhadamente a Histdria da Cidade do Rio de Janeiro, e sua atual publicacio vem tornar isso possivel a um nlimero maior de leitores. Carlos Augusto Addor - So um dos livros de Carlos Delgado de Carvalho, a Geo- grafia do Brasil, editado em 1913, teve prefcfcio assinado por Olivei- ra Lima. 0 da Historia da Cidade do Rio de Janeiro foi feito pelo prdprio autor. Dai a responsabilidade desta sua disc@ula, e assistente de trabalho durante vinte e cinco anos consecutivos, ao prefaciar a ' nova edigio desta obra, que veio a luz em 1926, quando fazia pouw tempo que entrara o mestre para a antiga Escola Normal, hoje Institu- to de Educa~io. Como naquela epoca o programa relativo ao 4? ano prima- rio transf~rmava a Histdria da entiio Capital da Repljblica numa in- trodu~iio B Historia do Brasil, publicou Delgado de Carvalho esta obra, que o Departamento Geral de Documenta~o e Informa~io Cul- tural da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro vem reedi- tar. Niio costumava Delgado de Carvalho homenagear nin- guem em seus livros. Houve, porem, duas exce@es: a sua Geografia do Brasil, dedicada ao lmperador Pedro 11, que conhecera aos cinw anos; e esta obra, dedicada a Francisco Pereira Passos, por ele cha- mado "o grande Prefeito". Niio omitiu tambdm o nome do colabora- dor de Pereira Passos - Alfredo America de Sousa Rangel, que eu soube, em conversas com meu mestre e amigo, ser seu concunhado, e que, mais velho do que ele, Ihe fazia as vezes de wnselheiro e "quase pai': Carlos Delgado de Carvalho nasceu a 10 de abril de 1884 na Legaqgo do Brasil em Paris, onde exercia seu pai as funG6es de Secretario de Embaixada. Alias, comentando o fato, prognosticava a Condessa de Barral, em carta a D. Pedro 11, que niio sobreviveria aquela crian~a, que, no entanto, chegaria aos 96 anos. . . Seus primeiros 22 anos de vida repartiu-os entre Paris, Londres, Lyon e Lausanne; os restantes 74 anos viveu-os na sua ci- dade por elei@o, o Rio de Janeiro, de que escreveu esta Historia e me contou tantas e tantas estdrias. Delgado de Carvalho era carioca por adoqo e sempre amou o RIO, que conhecia palmo a palmo: o Rio dos tilburis, dos bondes, do banho de mar discreto nas praias desertas do Leme, Co- pacabana, lpanema e Leblon; dos saraus, dos bolos na casa da Sazi- ta, dos jantares 2s quatro e meia da tarde, do caf6 no Paschoal, c;bs fraques, da politica que enchia o vazio da vida nacional; das Aveni- das Central e Presidente Vargas, que viu construir; dos morros do Castelo e de Santo Antdnio, que viu desaparecer;' da Copacabana que viu nascer . . . e que o viu moner. Na cidade do Rio de Janeiro, Delgado de Carvalho foi o protdtipo do mestre: lecionou no Col6gio Pedro /I, no Coldgio Bennett. no lnstituto de Educa~io e na Universidade do Distrito Fe- deral, que viu transformar-se na Universidade do Brasil, mas nao chegou a visitar no Fundao como Universidade Federal do Rio de Ja- neiro. Na cidade do Rio de Janeiro foi membru da Comissao do Livro Diddtics (1939), levando gerafles e geraws a estudarem, nos seus comp611dios de Geografia e Histdria, rnatdrias que dinamizou, ti- rando-as, como me dizia, "da simples rnemoriza@o, pois que pela quantidade de rios, cabos, cidades, datas e nomes, pareciam ser ver- dadeiras listas telefdnicas . . . ". Foi diretor fundador do lnstituto de Pesquisas do Departamento de Educa~o (1933), tendo, no ano em que publicou a sua Histdria da Cidade do Rio de Janeiro (1926), fundado e exercido o cargo de Presidente da Sociedade Brasileira de Educa@o. Carlos Delgado de Carvalho faleceu a 4 de outubro de 1980 e ficou na Histbrla da cidade, que ele escreveu, como grande educador e professor. Venerado pelas gerafles passadas, quevenha agora, com o reaparecimento deste livro, servir de estimulo As raovas gerac6es. Therezinha de Castro NOTA DO EDITOR Todos os nomes pr6prios - personativos, locatives e de qualquer natureza -, citados ao longo da obra, sofreram o mesmo processo de atualizagio grdfica a que estio sujeitos os nomes ce muns, conforme as Instrug5es para a organiza~o bb vocabulArio or- togrdfico da lingua portuguesa (Formuldrio ortogrdfico, XI. 39). Foi atualizada a relagio de govemantes do Rio de Janeiro, ate o ano de 1990. Mantiveram-se, entretanto, no corpo do texto, as infor- m a m s tais quais aparecem na primeira edigio. Nem todas as ilustra@es existentes no original puderarn ser encontradas. Procedeuse sua substitui@o por imagens simila- res, quando posslvel e, tambh, p r o c u r ~ . ~ g ? g u i r a disposigZio Ori- ginal das fotos. Abreviaturas utilizadas para indicar a procedgncia das ilustragbes: AGCRJ (Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro); MIS (Museu da Jmagem e do Som); MHN (Museu Hist6rico National) e IHGB (I'nstituto Histdrico e GeogrAfico Brasileiro). A memoria do grande prefeito Francisco Pereira Passos e de seu colaborador e amigo Alfredo Americo de Sousa Rangel, Dire- tor da Carta Cadastral (1 900- 1909). Pref acio 0 programa de Hist6ria, relativo ao quarto ano primirio, abrange a Histdria do Distrito Federal. Uma das felizes consequen- cias da ado~50 do mktodo conc6ntric0, no ciclo dos estudos primi- rios, determina assim que seja a histdria da capital da Repljblica uma introduG5o a Histdria do Brasil. E, pois, de grande valor diditico que venha a ser preliminarmente dado aos alunos um apanhado hist6rico cujos elementos principais, locais, monumentos, e vestigios, est5o ainda as nossas vistas, ao alcance de nossos sentidos e podem mui- to mais facilmente impressionar jovens imagina~ees, do que outras narraqdes, cujos quadros necessitam de urn esforqo do espirito para a sua reconstituit$io. Mais numerosas do que as fontes geogrificas relativas ao Distrito Federal, s5o as fontes histbicas de seu passado. Vieira Fa- zenda, Noronha Santos, Melo Morais, Ferreira de Rosa, Felisbelo Freire, Macedo, Escragnolle Dbria, Morales de 10s Rios e muitos ou- tros escreveram preciosas paginas sobre o assunto, sem contar o forrnidAvel reposit6rio que representa a Revista do lnstituto Histdri- co. Seria longo fazer aqui uma bibliografia do assunto. Faltando, porem, um pequeno comp6ndio moderno, destinado a facilitar as pro- fessoras pliblicas a coleta de dados esparsos, preparei este folheto para o uso das escolas primdrias, de acordo com o programa novo (1926). Multipliquei as citaqdes, a propdsito dos fatos de maior inte- . resse, para orientar o leitor desejoso de obter maiores detalhes em obras de ficil consulta. Procurei dar sobre cada assunto informa~des mais completas do que exige o programa, deixando assim ao mestre a escolha dos pontos a desenvolver, segundo as oportunidades e as conveniencias do audit6rio. De urn mod0 geral, encontrar-se-i pouco espaGo dedicado aqui a pontos de Hist6ria Geral do Brasil, como sejam: a Inde- pendencia, a histdria politica do Imperio, a AboliG50, a ProclamaG50 da Repljblica, as agita~des e os episddios de cariter politico, que s6 tiveram o Rio de Janeiro como teatro principal, pelo fato de ser capi- tal do pais. Tais quest6es requerem outros dados e informa~6es co- lhidas em comp6ndios de Hist6ria do Brasil. A moderna orientaG50 da Histbria, sob o ponto de vista didiitico, tende a limitar ao estrito necessirio a parte puramente mnemotecnica. datas, fatos e nomes. As epocas devem suceder; na vis5o do aluno, como quadros sucessivos em que n5o somente agem certos personagens que possuem o poder politico, mas em que Francisco Pereira Passos, o grande Prefeito (1836- 1913). AGCRJ. 20 tambem vivem, trabalham, sofrem e se divertem todas as camadas sociais de urna populagio. A histdria do Rio de Janeiro n8o e a histd ria de seus governadores, de seus vice-reis, de seus monarcas, presi- dentes e prefeitos: algumas datas celebres, alguns nomes importan- tes podem e devem marcar etapas na sucess3o dos tempos, no de- senrolar dos acontecimentos; mas os assuntos capitais desta hist6ria s5o as condic8es de vida dos prbpr~os cariocas, em diferentes Bpo- cas, suas tradicdes, seus costumes, seus usos, suas necessidades, suas festas. Tambem devem formar o fundo do quadro as grandes preocupaq5es politicas do tempo que tiveram repercuss80 sobre a seguranca e os destinos dos habitantes do Rio: defesa contra o ini- migo, politica exterior, ideias da metrbpole, monumentos nacionais etc. Cada vez que pode um pensamento ou um acontecimento ficar ligado a um monumento histbrico, 6 do dever do mestre procural evocar nas jovens imaginac6es o quadro hist6rico que centralizou. E na interpreta~go destas piginas de pedra e de ferro que se gravam mais profundamente na mem6ria os acontecimentos que tiveram real alcance. Assim como a hist6ria de Portugal se acha escrita nos "marcos miliirios", nas muralhas de Santarem, no aqueduto de Sert6- rio, na casa de Viriato, no castelo de Guimarges, na Santa Clara de Coimbra, no mosteiro da Batalha, nos Jer6nimos, no Paco de Cintra, na Mafra, assim tambem lemos a histbria de nossa querida cidade na Iipide da sepultura de Esticio de S i , no aqueduto da Carioca, no mostelro de S. Bento, no Chafariz Colonial, na Lampadosa, na Lapa dos Mascates, na Boa Vista, no antigo P a ~ o da Cidade. Nem sempre 6 quest50 de beleza arquitetbnica, de impon6ncia monumental: mais eloquente 6 o feixe de lembrancas que se prendem as pedras super- postas, como as raizes adventicias de hera, simbolo do tempo que passa, mas nho morre na membria das coisas. Ao mestre a quem cabe o primeiro ensinamento de hist6 ria nacional a urna crian~a, e dada urna miss50 sublime: 6 o desper- tar de, urna inteligencia, o desabrochar de urna alma As coisas da Ph- tria. E importante que seja bem dado este primeiro passo em t5o grave assunto. Ao amor e 3 dedica~ao it necessario juntar-se o entu- siasma ai nestas horas decisivas da vida do cidadgo, deve vibrar a corda sensivel da solidariedade nacional. A Erian~a deveri ter a com- preens30 de que faz parte de um todo, urna na~50, e que se acha li-' gada a um longo passado, representado pelos que Ihe prepararam a SUB miss80. Esta solidariedade com o passado, evocando responsa- bilibade no futuro, 4 o laso mais forte do patriotismo. Raca, lingua, r e Ilg~Zio, nada pode Ihe ser comparado em fo r~a de coesso, para a cr~a@o de um espir~to nac~onal. E a comunhso dos ~nteresses mate- rials e morals que prendem as a!mas, os espir~tos e as forqas e cons- tituem um povo. E 6 na hist6ria que s30 hauridos os ensinamentos que servem de base e justifiqao a estes elos poderosos das ativi- dades dos homens. Seria preteens30 querer dar aqui conselhos a urn corpo do- cente ao qua1 sobram qualidades de cornpetencia e de patriotism0 para o cabal desempenho de sua alta miss30 educadora. Mas o que eu procurei fazer foi salientar, cada um no seu quadro histhim, os grandes vultos da Hist6ria do Rio de Janeiro, os nomes que podem servir de exemplos As geraMes: Salvador de S6, Gomes Freire, Lavradio, Luis de Vasconcelos, Femandes Viana, P e dro II, Pereira Passos e Osvaldo Cruz, reconstituindo, a propc5sito de cada um deles, o meio em que viveu, agiu e lutou pela causa co- - mum. Por isso tambbm 6 este folheto uma homenagem prestada a estes ilustres brasileiros, a eles pr6prios e por eles tambbm aos seus auxiliares, a todos os que os ajudaram e secundaram na grande obra da forma@io da nossa nacionalidade. Delgado de Calvalho Rio, julho de 1926 A Fundagio da Cidade Primeiros estabelecimentos - Em janeiro de 6504, err trou pelaprimeira vez, na baia de Guanabara, o nav@ante portuguQs Gon~alo Coelho. Julgou o descobridor ter aportado na foz de um lar- go rio, e dal o nome dado entiio i3 regi6o. E posslvel que alguma nau da frota de Cabral jd tivesse anteriormente avistado a bala, mas cou- be provavelmente a Gon~alo Coelho o primeiro desembarque com tentativas de ocupa@o e de relafles com os lndios. 0 local da insta- la@o primitiva recebeu o nome de Carioca, isto 6, "casa de branco". Pensa Porto Seguro que ali descansaram dois ou tr6s anos os portu- gueses. Em 151 9, entretanto, jd se achqa abandonada a bala, quando Fern60 de Magalhiies, de passagem por ela, deu-lhe o nome de bala de Santa Luzia. As expedi@es sucessivas tentadas pelo governo da m e tr6pole desanimaram-no pelas suas dificuldades e falta de interesse imediato. Continuavam, pordm, as incurdes particulares, detennina- das principalmente pelo lucro que podia entiio auferir o comdrcio de pau-brasil. 0 s estrangeiros aportavam, por isso, freqiientemente, e apesar das representaMes feitas, em 1516, A Corte de Fran~a'pela diplomacia de D. Manuel. Diz o historiador portugues Oliveira Martins: 0 Brasil, porhm, que durante o reinado de D. Manuel nao merecera a ?ten@o dos estadistas embriagados na admira~ao da India, deve ao governo de D. Joao I l l , o rei colonizador, o princlpio de sua existencia. Foi ele o suberano que sem se deixar ensandecer com o esplendor cartagin& do impbrio oriental, se consumlu em vao, a buscar organi- zA-lo, moralizd-lo, e~pregandese ao mesmo tempo a fundar, 00s sertks americanos, um novo Portugal, a nossa honra hist6sicaI e por tanto tempo o amparo de nossa'existGncia europ6ia Este pensamen- to, tao felizmente refletido pelo grande historiador peninsular, traduz bem a id6ia polftica que determinou as expedi~6es de Crist6vZio Jac- ques, em 1525 e de Martim Afonso, em 1530. - Demovido Portugal de sua inatividade em relqBo ao Bra- sil, coube a Md im Afonso a capitania de S. Vicehte, que inclula as terras de Canandia a Cabo Frio, e, por conseguinte, a bala de Gua- nabara. 0 donatmo estabelecgu-se na enseada onde desdgua o rio Comprido, mas cedo preferiu as terras de S. Vicente e caiu novamen- te no abandono a terra carioca (1532). Anos depois (15551567), deu-se o epis6dio da Franqi AqtArtica, que se desenvolveu na bala de Guanabara. 0 nobre Cava- leiro de Malta, Nicolau Durand de Villegaignon, amigo do almirante Coligny e apreciado pel0 pr6prio rei de F rqa , Henrique II, aportou no ilhdu da Laje, por ele chamado Ratier, em novembro de 1555. Ins- talaram-se os franceses na ilha de Seregipe, hoje Villegaignon, e ai levantaram o Forte Coligny. Em 1557 chegaram rnais franceses, sob o comando de Bois-le-Comte. Mas as dissen*s religiosas que entb reinavam em Fran~a tiveram eco na Franqa AntArtica e Ville- gaignon retirou-se, deixando a pequena colbnia estabelecida na mar- gem ocidental da bala e na ilha de Paranapua (hoje Governador). No ano de 1560 wnseguiram os portugueses, sob o go- verno de Mem de SA, expulsar os franceses das ilhas e arrasar as suas fortifica@es, implantando novamente na bala de Guanabara o domlnio de Portugal. 0s franceses, acolhidos pelos tamoios, seus aliados contra os lusos, voltararn a ocupar posiws B margem oci- dental da bda e estabeleceram-se na aldeia de Urusumirim, na atual praia do Flamengo. Foi necess&rio um novo esforcp por parte dos portugue- ses, aconselhado nao SJ? por M4m de SA como tamMm pelos padres Anchieta e N6brega. De Lisboa tinha chegado um sobrinho do gover- nador, Estdcio de Sk organizadas as expedi@es na Bahia e em S. Vicente, chegaram novamente B Guanabara os portugueses, para, desta vez, nil0 mais abandonar a sua preciosa conquista (1 565). Reinava entao em Portugal D. Sebastigo; desembarcado em cometp de 1565, ao p6 do Pao de AsLScar, EstAcio de Sd lanwu os fundamentos da cidade de S5o Sebastiao do Rio de Janeiro. Foi entre o P b de Agdcar e o morro chamado da Cara de Cgo (hoje Sao Job), numa vdrzea em que "a terra d baixa e chB, segundo a expo- si@o ds Gabriel Soares, que nasceu a m&r6pole carioca. A este propihito, escreve A Morales de 10s Rios, que mui- to tern estudado e discutido as origens de nossa cidade: ESsa primitiva cidade n b foi fundada nas vizinhangas do penhasco da Urca; nem ao p6 dele pela banda que deita para o interior da bafa, nem na Praia Vermelha, como pretendeu Adolfo de Varnha- gen. Foi sobre o cume e as ladeiras da terra enti30 ilhada, que Gabriel Soares de Sousa, corn pre priedade e parecenga, que ainda hoje se percebe, chamou de Cara de Cao, pela semelhanga que tern corn a de um lebrel: ele cuidou de n8o chamh-la C a bega de C8o com impiopriedade. Esse trecho montuoso de terra ilhada estava separado da continental da Urca por um brago de mar, ou barreta madtima, impraticavel a p6, pelo menos, por mar6 alta; ao depois vargem lodosa, logo arenosa e, enfim, terra firme como 6 hoje em feig8o Istrnica, e impr6pria para receber a urbanizagao a mais incipiente naquelas primitivas condigbs. Defrontando no continente a Cara de CBo, estava na base da Urca o lugar denominado Capocaituba, que era, segundo incompleta informa- g b de alguns cronisbs, "0. lugar dondese chatfta- vam remadores para ir cidaden, o que confirmaria o ilhamento desta. Por isso, o lugar de Capocaituba foi t ambh chamado praia dos Remeiros, que era a fra- ca enseada onde hoje esta o balnehrio da Llrca. A Urca com o Pilo de Agbcar forrnam o penhyico unido, que desenha um dos labios da boca da pafa do Rio de Janeiro, cujo lugar os indlgenas denominavam "Mombucaben ou "Mombucaba"; como nos revela o primeir~ que a essas paragens se refe- riu: o alem8o Hans Staden. 0 mar sobre que esao esses penhas- cos, dentro da bala, ni30 6 o da Guanabara (rio das curvas, rio das voltas, rio torto, rio sinuoso, rio mean- drico), porque Guanabara 6 o seio mais para o fundo da bala, para al6m da Armar$o, mais vulgarizado pe- 10s escritos franceses do tempo, sob a corruptela Ganabara, que empregaram frei Andre Thevet e J o b de Lery. 0 mar que dentro da bala banha os ali- cerces da Urca e do P b de Agbcar 6 do outro seio que, com o do Guanabara, conformam a tonalidade da area da. bala do Rio de Janeiro. Esse segundo seio se chamou Niter6i (Agua oculta ou escondida), menos vulgarizado que o de Guanabara, entre os au- tores. A 20 de janeiro de 1567, dia consagrado ao padroeiro da cidade, os portugueses resolveram dar o assalto aos franceses e seus aliados. Ferido no rosto, por flecha, EstAcio de SA veio a falecer cerca de um mgs depois da vit6ria. As setas do escudo da cidade nao representam, pois, somente as do martlrio de Sao Sebastiao. Diz ainda Oliveira Martins: Metade do Brasil estava salva, e lan~a- das as bases da futura prosperidade de todo ele, com a posse da grande bafa do continente austral. Mem de SA, que foi o Afonso Henriques dessa nova na@o, nEio pudera, porbrr;, como o nosso Afonso Henriques n5o pdde, levar sozinho a empresa a cabo. 0 papel que no s6culo XI1 coube na metr6pole, ao Papado, pertencia, no XVI, As colanias, aos jesuftas. A crise manifestara a fo r~a deles, e a vit6ria dava-lhes meta- de do trono. 0 fator geografico no sdculo da descoberta - As alter- nativas historicas de ocupaqSo e de abandon0 da Guanabara; a in- sistencia das naus francesas em apoderar-se do ponto que tinham escolhido os portugueses; a utilizaqBo dos promont6rios e das ilhas, segundo as necessidades da hora, pelos adversdrios em presenqa, tudo vem sugerir a importhcia decisiva do conflito travado em torno da nossa futura metr6pole; conflito este ditado por razbes de Estado, pela polltica do momento, continuado, porbm, pelas contingencias fi- siogrhficas do local em que se deu.Sob o ponto da geografia humana 6, pois, significativa es- ta c~nquista de uma posiqio definitiva dos portugueses sobre a costa oriental da America. E possivel que, em seus detalhes historicos, alguns pro- blemas da colonizaqSo antiga do Rio de Janeiro nSo estejam ainda esclarecidos, mas as informaqbes s5o abundantes e. jA estao traqa- das as linhas gerais para o estudo geogrdfico do caso. Devem, p is , ser salientadas as grandes correlaqbes hist6ricegeogrdficas. Diz JoSo Ribeiro: As primeiras cidadek do Brasil comecam pelos morros e s6 tarde descem A planicie e nunca se formam borda do mar e, mesmo nos rios, s6 nos lugares onde n5o chega o navio de longo cur- so - essa 6 a prudencia dos fundadores no s6culo XVI e no seguinte, que foram uma luta pela posse da terra" (Histdria do Brasil, p. 81). A esta regra de "prudencia" obedeceu tambem o Rio de Janeiro. . A localiza$So dos portugueses na baia de Guanabara foi determinada pelos seguintes fatores geogrificos: 1. Para os navegantes que seguiam o :umo do sul, repre- sentava a nossa baia o primeiro ancoradouro que for~osarnente devia atrair as naves, oferecendo-lhes excepcionais condi~bes de abrigo e seguraya. Era, al6m disso, uma boa base naval, pois, apesar de co- nhecerem a existencia da baia de Guanabara, os portugueses s6 liga- ram importincia a seu valor estrategico, quando a insist6ncia dos franceses em estabelecer-se nela tornou-se perigosa para Portugal. 0 s marinheiros normandos do Havre Dieppe e de Honfleur tinham desde 1503 (data da primeira viagem de Paulmier de Gonneville), uma ideia da importancia da posi@o. Foi a expedi~So de Villegaig- non que recolheu os resultados de conhecimentos anteriores. Ellie Chaudet, um dos mais ricos armadores de Honfleur, era protestante e dai o interesse que tomaram os protestantes franceses "a expedi~5o de Villegaignon. 2 Em segundo lugar, o fator geogrhfico que deterrninou a Iocaliza~Eio da cidade, na margem ocidental da entrada e nEio do lado de Niteroi, foi a facilidade de obter Agua fresca abundante. As agua- das siio frequentemente mencionadas nos mapas do seculo XVII: as hguas da Carioca eram procuradas pelos navegantes. 0 local cha- mado Aguada dos Marinheiros foi at6 ponto de combates. Perto do sac0 de S. Diogo, havia outra aguada procurada, onde. acarxlpou Ara- rib6ia (Bica dos Marinheiros), na atual praia Formosa. Diz Vieira Fazenda a este prop6sito: * - Ainda em nossos dias, conservou-se por muito tempo a coluna de pedra, 6ltimo vesilgio da pequena fonte, cujas Aguas foram em principio apro- veitadas e canalizadas pelos jesultas, proprietdrios de todos esses terrenos, desde o rio Catumbi ate Inhalima. Antes de ser conclulda a bica em quest20 e . nos primeiros tempos, iam os marinheiros prover-se de hgua no rio Ca?ioca, das Laranjeiras ou dos Cabo- clos; por esse motivo era a praia, hoje do Flamengo, conhecida por praia da Aguada dos Marinheiros. 3. 0 terceiro fator que influiu na escolha da vertente ca- r iqa foi a forma dos morros, em pequenos maci~os isolados, menos acessiveis em geral e por conseguinte mais fhceis de defender. Re- presentava isto na bpoca, wmo salientou Jo5o Ribeiro, um dos'ele mentos mais importantes de uma localiza@o. A defesa era necessd- ria, niio somente contra os invasores franceses e outros europeus, como tamb6m contra as incurs6es de seus aliados, os tamoios. Por isso foi cedo abandonada a povoagBo fundada por EstAcio de SA, na Vila Velha, entre o RBo de A~dcar e o Cara de CBo, para um lugar mais seguro, o morro do Castelo. 0 erro dos franceses, aliados dos indios da vizinhan~a, foi talvez de nBo estabelecer-se logo e fortifi- car-se no mono de S. Janudrio. EstAcio de SA nBo m e fazklo, por- que, em 1565, este morro estava na zona ocupada pelos franceses e defendida pelas trincheiras do Utu~umirim. Mas, repelido o inimigo, Mem de SB nBo hesitou em transferir a cidade para este morro de S. JanuArio (depois morro do Cast,elo). Diz Felisbelo Freire, que critica, entretanto, o ponto esco- lhido para funda~ao de uma cidade destinada a se desenvolver. Mas a escolha do morro tern para nbs a seguinte explicagao: era uma espbcie de atalaia, de- fendida pelas lagoas que a cercavam e que serviam de defesa contra as inopinadas invasdes dos indios. A proximidade do porto exerceu sua influencia, servindo para tragar a diregb das ruas, quando a cidade des- cesse do morro para a planicie. 4. 0 quarto fator geogrhfico agira ao mesmo tempo para a esratxllzaCao e para a extensBo da posse primitiva. Sua importancia 6 quase que exclusivamente agricola e wnsiste em se acharem as varzeas principais e as melhores enwstas das serras do Distrito F e deral orientadas para leste, isto 6, para o sol nascente, o que teve a sua importancia na fase inicial do desenvolvimento das lavouras e do alastramento dos engenhos. A planlcie que existia entre os morros do Castelo, de Santo Antbnio, de SBo Bento e da ConceicBo foi durante muito tempo o celeiro do nlicleo de povoamento. Perten,cia A cidade, mas era limitada pela vala da atual Rua Uruguaiana. 0s pantanos e as lagoas foram os primeiros obstAculos a vencer para 'a expansBo da cidade. Por fim, o desenvolvimento do Rio de Janeiro se explica pela sua si tua~io geogrAfica, em relag30 sua proximidade relativa das serras. De Niter6i o acesso 6 dificultado pelo afastamento 'das serras para NE e principalmente pela extensa zona alagadi~a, que separa o pequeno maciw de Niter& da serra do Mar, a baixada do rio Macacu. Eram, por wnseguinte, numerosas as razdes geogrdficas que militavam em favor da escolha do Rio de Janeiro, em primeiro lugar wmo ponto de defesa e em segundo lugar como centro da irra- dia~Bo. Era destinada a margem carioca da Guanabara a um rBpido desenvolvimento econbmico e social. 0 movimento de alastramento para leste, esmado nos tempos da primeira coloniza~io, continua hoje com grande intensidade, e estA longe de terminado, pois o Dis- trito e suas extensas planicies continuam a oferecer novos horizontes a expansilo da popula$io, na sua marcha para Leste. As etapas desta marcha s io marcadas pelos sucessivos estados-da popula$io. Em 1585, era ainda de mends de 4.000 almas: levou cerca de 30 anos para triplicar. A Capital do Sul A cieade no skulo XVll - Cedo percebeu Mem de Sd que o local primitive da cidade era antes um ponto estratdgico do que um centro favorBvel ao desenvolvirnento de uma cidade. Por isso transferiu para o morro de S. Januho, depois charnado do Castelo, a sede da cidade, mnovando al as ceridnias da funda@o. 0 morro estava em pade isolado por lagoas, mtanos e planicies; foi fortifica- do e al se estabeleceram as autoridah militares, civis e religiosas. Mem de SB nomeou Salvador de SB, seu sobrink, gover- nador da nova capitania, quando em 1568 teve de regressar c?l Bahia Foi durante o govemo de Salvador de Sd que foram transferidos os restcc; mortais de Estkio de S8, da Vila Velha para o morro do Caste lo e que foi dado combate aos franceses de Cabo Frio, que ainda nio tinham perdido a esperaqa de se apoderar da nova cidade. Corne- p u m Salvador de SB um ativo rnovimento de coloniza@o dos la- dos de Iraj& Inhalima, Sunrl, Inhomerim e tambem de Niter6i e de Ma@. A ilk de Paranapu4 que pedencia a Salvador de S& passow a ser a do Governador. Dizem os Anais do Rio de Janeim, de B. da Silva Lisboa: Poupou o sangue dos indlgenas quanto Ihe foi posslvel, repeliu os inimigos externos, protegeu a inocencia, afugentbu o crime peb seu horror e des- prezo dos maus, ganhando a opinih pciblica no cam po da honra; pois, sem os socorros de Portugal, co- briu a sua fronte de bern merecidos buros. Pela sua probidade nao ousavam aproxhar-se dele os reptis venenosos da lisonja, a fkn de envenememoar puro que respirava A primeira adrninistra@o de Salvador de SB findou ern 1572. No fempo de Crist6vio de Banos, sucessor de Salvador de SA, resolveu a metr6pole dividir a col6nia em dois governos distik tos, o do Node, com sede na Bahia o o do Sul, corn sede no Rio de J d r o (1 572). Gte acontecimento politico foi entilo de pouco alcance pdltico, mas de grande significqtio. Cowagrava urn fata pela sua posi* geogrdfica acima descrita, pelas mas excepcionais facilida- des de defesa de todos os lados, pelos seus recursos econdmicos na- turais, o Rio se tornara rapidamente, segundo a express40 de Rocha Pombo, o "centro de vitalidade das wldnias do Sul", jA estava livre a costa dos traficantes que a infestham e a nova cidade tomara-se um centro direto de a ~ i o da metrdpole. Em Ilh6us, Porto Seguro, Sio Vicente e Esplrito Santo, lu- tavam ainda os capittles-mores w m a falta de for~as e recursos ma- teriais que caracteriza o primeiro s6culo de wloniza$io: grandes es- p m , grandes disthcias e grandes obstdculos a vencer com pouca gente, poucos meios e apoio problemAtico. No Rio de Janeiro crescia o prestlgio do governador, pre posto direto do rei. Dai a afluencia para o litoral de sua bala de grao- de ndmero de colonas, mesrno de vicentistas descontentes. Dai a preponderilncia do Rio nas coldnias do Sul. 0 centro de administrac40 criado em 1572 foi de pouca dura@o, de fato, mas,,estabeleceu os fundamentos da futura met& pole (Rocha Pombo,, tomo V). Durante o govemo de AntBnio Salema, principiou a alas- trar-se pela Tijuca, pelas Laranjeiras, pela Gdvea e pelo Andarai a la- voura a~ucareira. T o m especial importancia o engenho da lagoa Rodrigo de Freitas. Foi necesdrio construir sobre o rio Carioca a ponte de Salema, no local da atual Pra~a Jose de Alencar. Em 1577, anulava a metr6pole a dualidade de governo aiada poucos an- antes; praticamente, podm, wntinuou a ser o Rio a metr6pole do Sul, ponto de partida de todas as iniciativas nas re- g ibs continentais, centro de resistencia contra as agressdes exterio- res e fom de irradiaciio da coloniza@o na regiio fluminense. Segundo governo de Salvador de Sd - Voltou a ser go. vemador Salvador de Sd. Foi urn tempo de ativa preparaqao da defe sa do Rio de Janeiro, por meio de fortalezas nos promontdrios da bar- ra, e de coloniza@o, principalmente re!igiosa: os jesuitas aldeavam os lndios entre Macacu e a serra dos Orgiios, os beneditinos no rio Guapi e os.wmelitas na ermida de N. Senhora do 0; estabelece ramse estes lil timos, tambem, em 1589, no morro de S. Bento. Coin- cidiam estes acontecimentos corn a passagem de Portugal e suas col6nias sob o domlnio espanhol. No fim do 169 &ub, informaes da 6poca atribuem ao Rio de Janeiro uma populac4o de 3.850 almas, em grande maioria de lndios, sendo apenas 750 os portugueses e cerca de 100 os africa- nos. 0 s habitantes do mono do Castelo tinham entio tres la- deiras para alcan~ar a planlcie: a Ladeira da Miseridrd~a, a Lade~ra Salvador Correia de SA, prirneiro governador da cidade (1568-1572 e 1577-1599). AGCRJ da Ajuda ou Passo do Porteiro e a Ladeira do Cotovelo. Assim, foram as primeiras ruas da cidade a Rua da Misericdrdia, a Rua Direita, a Rua S. Jose e da Ajuda Esta ljltima levava para o interior e para as propriedades agrlcolas, passando pelo convento, pela Lapa e o Cate- te. A Rua da Miseric6rdia era o resultado da expansgo pela v6rzea da cidade; nela morava a aristocracia da epoca. A Rua,Direita, primeira e h i c a paralela ao litoral, nao era senio uma comunica$io mais di- reta com o Mosteiro de S. Bento. Na Rua de S. Jose, na esquina da Ladeira do Castelo, havia uma casa que servia de dep6sito a africa- nos importados, durante a primeira fase do trAfico; esta rua ngo co- municava com o convento da Ajuda por causa da lagoa da Carioca, que s6 mais tarde foi aterrada (Vide Felisbelo Freire, Histdria da Ci- dade do Rio de Janeiro, p. 76 e seguintes.) A importanc~a relat~va das d~ferentes ruas da cidade era determinaaa pelos fatores econ6micos do momento: a lavoura dos jesuitas no Engenho Velho, as fazendas agricolas de Rodrigo de Frei- tas, Catumbi e Mata-Cavalos de um lado e o porto das mercadorias ou Porto dos Padres da Companhia (hoje Rua D. Manuel) do outro. 0 s caminhos que faziam comunicar estes diferentes centros determina- vam as ruas de maior transito. Diz Felisbelo Freire: As ruas perpendiculares A costa tern um carater essencialmente econbmico e tanto mais acentuado quando nos reportamos A prhnitiva-6poca urbana, das quais existiam somente as Ruas de S. Jose, Assembleia (caminho de S. Francisco) e Mare- chal Floriano, entfio Vila Verde. E, A propor~30 que o tempo foi aumentando os interesses quer agricolas, quer comerciais, as ruas perpendiculares foram au- mentando em ndmero para economia de tempo e tra- balho, at6 que outra ordem de interesses for~aram a abertura das ruas paralelas ao litoral. A Rua da Quitanda, por exemplo, e tr3.n- sito aberto pelo com6rcio da carne verde e o comer- cio de mariscos e cereais, localizado em rua escu-- sa. . . De um lado, este comercio e do outro lado, no trilho que confina com S. Jose, o aCougue pdblico, o dnico que existia na cidade e sob a forma administra- tiva de concessao e privilegio. Foi debaixo dessa forma que nasceu o comercio de carne verde. Entre os principais habitantes e propriet~ribs da cidade destacavam-se, no fins do 160 s6cul0, os "conquistadores", isto 6, os auxiliares e companheiros de EstBcio de SB e de Mem de SB, cujos 2 serv i~s foram recompensados por importantes doa@es. Foi assim que o provedor Antdnio Marim; um dos homens de mais prestlgio da sua bpoca, obteve sesmarias em Niter& em Mag6, onde desenvol-' veu lavoura de a@car e no morro de S. Antdnio. Ari Femandes, outro conquistador, obteve terras em Mag6 e na Rua da Miseric6rdia; Jorge Ferreira, conquistador tamgm, na Rua Direita; Crispim da Cunfla, na Rua 3. Jose; Manuel de Brito etc. De um lado Pedro Cubas, filho de B r h Cubas, era grande proprietlrio no Rio e veio em 1609 de S. Vi- cente, vender as terras que aqui possuia. Dois fatos politicos do fim do 166 s&ulo e do principio do 1 P derarn ao Rio de Janeiro uma situa~io privilegiada em rela~io As terras brasileiras do sul: em primeiro lugar o domlnio espanhol que enfraqueceu o poder da metr6pole, e, em segundo lugar, a ocupa~Ao holandesa das capitanias do nordeste. 0 Rio de Janeiro toma-se entio, de fato, a capital do Sul, apesar de Ihe ser, em direito, altema- tivamente concedido e retirado o privilegio. A carta r6gia de 1572 que cria a divisio e o alvarl de 1577 que a revoga s5o ambos atosdo rei D. Sebastiio. Mas, durante a segunda parte do 1 P s6cul0, sucede ram-se as alternativas: em 1639, o Rio 4 centro politico e administra- tivo, porque a guerra justifica esta delegar$o do governo geral "crian do na zona meridional um governo de atribui~bes iguais hs locais. Mas essa ernancipa~ao foi transit6ria9' - diz F. Freire. Desde que a expulsio holandesa foi uma realidade, o prbprio governador da Bahia tratou de reivindicar atribui~ks que Ihe tinham sido usurpadas. Julga Rocha Pombo que a verdadeira forma~io do Rio de Janeiro data da segunda investidura de Salvador Correia de S6, em 1578. Durante vinte arms governou o Rio este integro administrador, recuperando assim a familia S l a hegemonia politica que perdera um tanto durante os govemos anteriores. Um filho de Salvador, Martim de S6, devia tambem, em princlpios do s&ulo seguinte, assumir duas vezes o govemo da cidade. Durante a segunda administra~Ao de Salvador de St4 o fi- Iho do Duque de Beja, conhecido sob o nome de Prior do Crato, ten- tou restabelecer em seu proveito a monarquia nacional em Portugal, e refugiou-se na wrte de Fran~a,para a1 organizar a resistencia. Em troca do senrip prestado na peninsula ao pretendente portugues, o Brasil teria entio passado aos franceses. Mas Salvador de SB ficou fie1 ao rei Felipe II e preservou assim nossa independdncia como uni- dade portuguesa na monarquia qspanhola. Quando chegaram as naus francesas, portadoras das car- tas d@ Prior do Crato, diz frei Vicente do Salvador: 0 Rio antes da Era dos Melhoramentos - a antiga Rua Treze de Maio, vista do sul para o norfe. MIS i Vista do Rio de Janeiro tomada do Convento d p Santa Teresa -2 esouerda, o Aqueduto; no fundo, o morro do Castelo. lHGB E porque a cidade estava sem gente e n8o havia mais nela que os moCos estudantes e al-, guns velhos que n8o podiam ir A guerra do sert80, destes se fez uma companhia e dona In& de Sousa, mulher de Salvador Correia de SB, fez outra de mu- lheres com seus chappus na cabe~a, arcos e flechas nas m%os, corn 0 que e corn o mandarem tocar mui- tas caixas e fazer muitos fogos de noite pela praia, fi- zeram imaginar aos franceses que era gente para de- fender a cidade e assim, a cabo de dez ou doze dias, levantaram as 8ncoras e se foram. A ausQnCia do governador, durante estes incidentes, mos- tra que al6m da coloniza~Zio, do alastramento das culturas e da indlistria incipiente da cana, jd se cogitava das incursdes pelo interior, A procura de indios para as lavouras e de minas a explorar. Mas, durante o dominio espanhol e a conseqijente ocu- pa@o holandesa, enquanto os governadores gerais, na Bahia, traba- lham a reconquista do Norte, os governadores do Rio de Janeiro cui- dam em suprir nas coldnias as deficiencias da metr6pole. Era mais fAcil, devido aos recursos acumulados no Rio, as suas riquezas, a sua seguranca resultante da posi@o e do afastamento do teatro das ope- ra@es, reorganizar aqui as for~as da wldnia, em vista de expulsar o estrangeiro. 0 dominio espanhol em Portugal n io preocupava o Rio de Janeiro: "era-nos indiferente - diz Fernandes Pinheiro - receber or- dens de Lisboa ou de Madri, porque nem uma, nem outra corte cui- dava seriamente de nossa prosperidade". Maior sensa~i30, todavia, causaram em 1624 a noticia da tomada da Bahia e em 1630 a da queda de Pernambuco. "Um s6 pensamento - diz o mesmo historia- dor -, o da defesa do porto e das fortifica~bes da cidade, animou a todos os habitantes que deram, nessa bpoca, inequivocas provas do seu acrisolado patriotismo." Datam desta 4poca as primeiras obras da fortaleza da Laje e o grande dique que existiu muito tempo entre a Carioca e a Prainha. 0 s sucessores de Salvador de Sa - Mas nem todos os govemos proporcionaram aos cariocas periodos de paz e de prosperi- dade compardveis aos da paternal administra~ao de Salvador Correia de SA. De 1617 a 1620, por exemplo, governou a cidade urn chamado Rui Vaz Pinto, cujos excessos e violencias marcaram na nossa hist6ria uma era,' curta felizmente, de desordens e pertur- ba~6es pollticas. Um conflito que se tomou permanente abriu-se en- tre o representante de Felipe Ill e a CAmara Municipal. 0 despotism do governador s6 ndo foi mais nocivo porque Ihe faltaram prestigio e for~a. Parece ter sido originado o conflito pela prido arbitrhria do juiz, que a CAmara mandou soltar. Nesta serie de desordens continuava o govemador os seus despotismos.., e a oprsssao dos povos aumentava, vendo espalhada por toda a cida- de uma geral perturba~ilo. Ele os obrigava corn pe- nas pecuniarias a fazerem guarda a sua porta, tanto de noite, corno de dia. . . e aos que faltavarn mandava condenar em 20 cruzados. (Manuscrito da BiM. Epis- copal Fluminense, in Revista do lnstituto Histdrico, tom0 1,1839). A linic; conseqiienc~a vantajosa deste period0 nefasto foi a maim descentralizag30 que dal resultou na administraqiio e uma maior autonomia da CAmara, que, durante o governo de Vaz Pinto, foi de grande e proflcua atividade (impost0 sobre vinhos para aplid- lo ao abastecimento d'dgua, regulamentos sanitasios, organiza@o dos s e ~ i w s de descarga no poilo, mediante contrato etc.). Outro membro da ilustre famllia Correia de SB estava des- tinado a desempenhar por duas vezes ainda o cargo de govemador: Salvador Correia de SA e Benevides, filho de Martim Correia de SB e net0 do primeiro Salvador, foi provido no governo da Capitania por El-Rei Felipe IV, em 1637. Deu-se, durante o seu governo, a restaura$do portuguesa de 1640, com a casa de Bragan~a e herdeiro legltimo D. Joio IV. A adesgo do governador do Rio de Janeiro a nova monarquia era um ponto importante: a Bahia jd se havia pronunciado, mas era de recear que Salvador de SB e Benevides, filho de mae espanhola e casado com uma espanhola, sobrinha do vice-rei do Mdxico, hesitasse em "se divorciar de mais de 10 mil cruzados de renda e mais 50 mil de fazenda de raiz e mdvel, que no Reino do Peru e Castela gozava com enwmendas, dote e heran~a e muitas promessas de mercQs pa- ra sua casa e fil hos. . ." (Relqdo. . . Revista do lnstituto Histdrid, t e mo V, p. 320). Salvador, rompendo os laws de familia, convocou os prin- cipais da cidade no col6gio dos jesultas e, obedecendo A vontade ge- ral, aclamou D. Jogo IV, corno acabava de fazer o Marques de Mow talvao, num altar no cruzeiro da S6 Matriz. Diz a "Rela~io" citada: Repetindo muitas vezes o viva que o po- vo pluralizava com notBvel aplauso sern saber por que, corno nem a quem se vitoriava tanto; dando a entender que o CBu confirmava a e le i~ io em que.os mais ignorantes dela se deixavam levar do gosto que comunicavam os que o sabiam, sem inquerirem nem saberem a quem se dedicavam seus vivas, que em todas as praGas da cidade se repetiram ao arvorar o Pendio Real.. . sem que houvesse pessoa que pro- curasse eximir-se de repetir vivas e deixasse de agregar ao tumult0 que ia aumentando-se corn a no- vidade. . . Em 1658, voltando ao govemo Salvador de SB e Benevi- des, a autonomia administrativa do Rio foi de novo conquistada; mas novamerlte passou a ser capitania "jurisdicionada" pela Bahia em 1663. No fim do s&ulo, por6m, o Rio de Janeiro comqou as suas conquistas definitivas: postos da milicia (1689), jurisdiq30 sobre mi- nas (1693), defesa militar, justi~a etc., extensgo de jurisdi~80 at4 a Coldnia do Sacramento (1 699). Restabelecida a independQncia portuguesa e autoridade na wlbnia, surgiram dificuldades econdmicas que tiveram ,mn- sequgncias locais e abalaram centros coloniais, como o Rio de Janei- ro. Uma Companhia de Com6rci0, com privilegio de navegaggo e monop6lio de quatro artigos (vinho, azeite, farinha e bacalhau) veio provocar a reclamago dos- prejudicados. Entre os principais episd dios provocados pela situa~so econ8mica, tributsria principalmente, salientou-se, no Rio de Janeiro a revolu@io organizada pela Ciimara contra a autoridade de Salvador de S& e Beneviaes, em novembro de 1 660. Diz o Anudrio de Estatistica Mllnicipal de 1922 0 s sucessos desta bpoca, pels gravida- de que assumiram, em face dos principios e das instii tui~8es do momento, refletem j4 os primeiros surtos do espirito novo, que se preparava para engrandecer e elevar a colania. No fim do 18g skulo, foi consider6vel a influgncia que teve sobre o desenvolvimento do Rio .de Janeiro a descoberta das minas. A estn nrnobsito, escreve Lemos Brito: 0 eixo econ8mico do pats comeGa a des- locar-se desde o dia em que se verificou a extensb e a riqueza das minas. . . Enquanto inesperadamente a populacjBo do sul da col6nia tomava essas espantosas pro- por~bes, o norte, que ,se considerava jl definitiva- mente estabilizado n8s su.5.s popuIacj&s, viu-se defi- nhar no Bxodo crescente de suas unidades politico- adrninistratiyas. Nern o Rio de Janelro escapou a este 6xodo. D. Alvaro de Albuquerque, dirigindo-se ao go-verno da Bahia, declarava-lhe: A terra despovoa-se corn as minas, constituindo elas urn verdadeiro fla- gelo ... A explora@io das rninas deslocava aque- le eixo para o sul. . . Pontos de Partida para a Histbria EconGmica. JB era grande a navega~go entre os portos da col6nia e medidas fiscais vieram obrigar todos os navios a fundear no Rio de Janeiro. Assim frequentado obrigatoriamente, achou o centro carioca urn rtipido escoadouro para toda a sua produ~io. As transa&!s se multiplicavam em sua praca de combrcio e aumentou em proporQ5es o movimento da cidade. 0 fechamento das estradas da Bahia e do Esplrito Santo para as minas veio tornar tambbm o Rio de Janeiro o ponto for~ado de passagem. Outras causas econ6micas (diminuiMo do valor do a~licar do norte, devido B concorrhcia das col8nias inglesas) e cau- sas pollticas (quest6es platinas) deviarn tamb6m influir mais tarde para acentuar a preponderiincia do Rio de Janeiro na vida da n a ~ i o em forma~io. Em 1680, foi a pedido da Ciimara do Rio de Janeiro que, para acabar com as incertezas de limites, D. Pedro, o regente, man dou estabelecer, A margem esquerda do Prata, a Coldnia do Sacra- mento. Foi o Governador Manuel Lobo incumbido da funda~io e tudo foi feito exclusivamente corn os recurs& do Rio de Janeiro: este simples fato mostra quais eram entio os recursos e as forc;as do cen- tro carioca. Mas a ColCSnia teve influencia prejudicial, drenando ho- mens e dinheiro do Rio de Janeiro, deteiminando a crise econCSmica de 1685. Entre os trabalhos pliblicos de maior vulto, realizados du- rante o fim do 1 P sbculo, destacamse as obras de fortificag30 e as - obras de canaliza~io das Aguas do rio da Carioca A vida econhica da cidade. - Passada a fase da r e conquista, entrou o nlicleo de povoamento carioca numa fase de ex- pansio, no fim do 160 seculo e no principio do sdculo seguinfe. JA aludimos ao desenvolvimento da cidade, na phrte pla- na, entre os quatro morros mais pr6ximos (Castelo. S. Bento, Santo Ant6nio e Concei@o). N io foi menor o seu progress0 material. Diz Rocha Pombo: Toma grande increment0 a colonizagfio do vasto distrito estabelecendo-se em' todas as ime dia~bes muitos lavradores. Em todas as direc;&s abrem-se caminhos para trafego das fazendas, e convergindo todas para as aguas do extenso laga- mar, p8de ser corn rnuita vantagem aproveitada a fa- cilidade de circula~Bo marltima. 0s engenhos de a~6car &o os primeiros a se multiplicar, necessitando esta expanao da rnBo-cbobra africana. De fato, at6 enao tinha sido suficiente a mb-deobra indigena. -Pacificados os Indios, depois da reconquista, tinham os antigos aliados dos france- ses, w se retirado para o interior, w se submetido a uma quase ser- vidilo, auxiliando o trabalho agricola dos colonos. Gratps A cateque- se, os naturais do pals, de boa lndole, n3o representavam mais um problema a vencer na coloniza&o da regiso. Cedo por6m tornou-se escasso o brap indigena e tjveram os cariocas de reconer a Angola. A este propbsito, diz Rocha Pita, aludindo &s embarca@?s que saern da AmMca portuguesa: Quase outro tanto nljmero de embar- ca@es rnenores navega para a costa da EUpla, 9 buscar escravos para o servlGo dos engenhos, rni- nas e lavouras, carregando gQneros da terra (meps ouro, que algurn tempo levavam e hoje se lhes probe) algurn a~ljcar e mais de clnquenta mil rolos de taba- co, de segunda e terceira qualidade. . . Eram estas, por conseguinte, as exporta- cariocas para a Africa. Mas os recursos da regiilo eram tambem de-pau-brasil do vale do Parafba e de rnuitos gQneros de consumo local. Diz ainda Rocha Pita: abundant0 de 'muitas hortali~as, legu- mes, plantas, frutas e Rores de Portugal, que todos os dias enchern a sua praCa, parecendo pomares e jar- dins port&eis os seus redores s8o cultivados . de aprazlveis e ferteis quintas, a que la charnam '"jaca- ras". No seu rec6ncavo houve cento e vinte'enge- nhos, os quais perrnanecem ao presente (1724) sao cento e urn, deixando de mover os outros, por se Ihe ' tirarem os escravos para as minas; e a rnesma falta experimentam as mais fazendas e lavouras, que fo- ram rnuitas. 0 s seus campos sf10 fecundlssims na criagao dos gados p i o r e menor, kndo tBo nurnero- sos nos dos'ltaqses (prolongados entre esta Capi- tania e a do Esplfito Santo) que da grande c6pia de leite que &, se fazern perfeitos e gostosos queijos, na forrna dos d8 Alentep e chegam a muitas partes do Brasil fresqulssimos. Criam os seus mares mariscos e pesca- dos menos regalados que os das Provincias que fi- cam para o norte, mas na mesma quantidade. Ha no seu distrito outros generos e culturas de preGo e re- gale; por6m correndo para as minas muita parte dos moradores e levando seus escravos para a lavra do ouro, ficaram menos assistidas as outras fAbricas; - causa pela qua1 hA menos a~~jcares e se experirnen- ta alguma diminui~ao nos viveres. A pesca era, de fato, um dos mais importantes recursos da coldnia carioca, wmo alids de todos os pontos colonizados do litoral. Sem campos de pastagem extensos e s6 com poucos gramados artiv ficiais, o Rio de Janeiro do seculo XVll n io dispunha da cria@o de gad0 em grande escala para a sua popula~%o crescente. S6 depois de abertas as wmunica$bes regulares com Sio Paulo 6 que pdde o Rio se abastecer de carnes. Era pois necessdrio recorrer ao peixe, alids abundante nas dguas da Guanabara, para alimentar a popu- la$tio carioca, que cedo tornou-se icti6faga. Era especialmente came de baleia que fazra objeto do ati- vo comercio no Rio de Janeiro. Entravam as baleias em maio B pro- cura das dguas mais tranqiiilas da bala para a 6poca da cria e, at6 fins de agosto, permaneciam numerosas. 0 peixe, fugindo aos cetA- ceos, recolhia-se entio nos baixos e recdncavos, tcrrnando-3e assim mais proveitosa a pesca. 0 primeiro wntrato da arma~iio 6 anterior mesmo a 1583 e deu o nome 8 peninsula da Armagio e seu respectivo morro, na ponta de S. Lourenco, em Niterdi. Eram ~rincipais produtos, al6m da carne, o chamado azeite de peixe, as barbatanas e os residuos cha- mados "borra" (galagala) que, ligados B cal do Reino, davam As edifi- ca~des uma consistencia notdvel. 0 s contratos de armagiio eram uma fonte de rendas importante para a Fazenda Real e davam para o pagamento da "folha eclesidstica" (cengruas do bispo, do cdnego e outros beneficiados da Catedral). 0 s depdsitos de azeite de peixe eram na Lapa dos Mercadores e no bairrode S. Jose. Foi w m o di- nheiro ganho na armagiio que o contratador Brds de Pina, proprietario na Rua Direita, construiu o cais dos Mineiros. Um alvard de 1801 veio extinguir todos os wntratos e mandou vender todas as armacbes, es- tabelecendo-assim a liberdade das pescarias. Cada baleia, calcula- va-se enttio, dava 16 pipas de azeite e 15 arrobas de barbatanas. S6 foi mais tarde introduzida na cidade, pelo Conde de Resende, a iluminacGo das ruas a azeite de peixe em larnpibes pr& prios. Era um grande progress0 sobre os candeeiros que, acesos pe- 10s fieis diante dos nichos, erarn os Onicos luminares das ruas estrei- tas e escuras. Durou o azeite at6 o g&, inaugurado, em 1854. As invasdes francesas - A gande extensiio territorial do Brasil e o isolamento relativo de suas respectivas regihs, do extre rwnorte, do norte, do interior e do sul, explicam o nlimero e diversi- dade dos interesses politicos e ewm9miws que preocupam cada r e gitio. No 189 skulo, mais talvez do que em qualquer outro perlodo de nossa hist6ria, salients-se este individualismo politico-econ6miw, p q u e surgem ao mesmo tempo crises de grande importhcia na forrnaflo da nacionalidade, em diferentes zonas do pais. 0 principio do s&ulo assist0 aos liltimos descobrimentos da expansiio dos ban- deirantes paulistas em GoiAse Mato Grosso, A Guerra dos Emboa- bas em Minas, As revoluws nativistas contra os mascates em Per- nambuw, as invades francesas no Rio de Jane~ro, A colonizaflo do Rio Grande do Sul e wnsolida~tio da ocupa~tio da ColBnia do Sa- cramento. Eram, p is , preocupa@es de tiio alta importancia polltica e administrativa que todas, ao rnesmo tempo, assaltaram o esplrito da administra~tio colonial. S6 vista deste sincronismo dos acontecimentos, levando em conta a mentalidade de um governo que, naquela kpoca, visava quase exclusivamente a explora$tio das minas, recentemente desco- bertas, s6 assim pode ser compreendido e interpretado o incidente da ocupa~iio do Rio de Janeiro pelos franceses. Na Guerra de Sucessiio de Espanha, desencadeada na Europa pelas pretensbs de Luis XIV, tomara Portugal parte contra ele, em favor dos aliados. 0 s franceses corsArios e contrabandistas, / desde 1695, vinham frequentando o porto do Rio de Janeiro e intro- duzindo clandestinamente mercadorias. Era principalmente por via da ilha 'Grande que entravam os contrabandistas. Multiplicavamse as causas de conflitos, e aproveitaram os corsArios franceses do estado de hostilidade para incurs6es militares organizadas e para a bcu- pa~i io e saque de ttio importante centro econ6mic0, wmo jd era o Rio de Janeiro. A primeira invaso foi em 1710, chefiada por Joao Fran- cisco Duclerc, natural da Guadalupe. Repelida a sua esquadra pela fortaleza de Santa CNZ, velejoua para a ~lha Grande e voltou para a ponta de Guaratiba, onde desembarcou cerca de mil homens; Levou uma semana a marcha sobre o Rio de Janeiro, passando os france- ses por Carnorim, Jacarepagua e Engenho Velho. Nada fez para detblos, nos monos e matas dos subhbios, o Govemador Francisco de Castro Morais, ficando entrincheirado no chamado Campo do RosMo, entre os monos da Conceich e de Santo AntMs. Foram habitantes da cidade e estudantes guiados por Amaral Gurgel e frei Francisco de Meneses que deram cornbate aos invasores. Duclerc, ao chegar ao Largo da Sentinela (esquina de Frei Caneca e Riachue- lo), contmw os monos para evitar a trincheira do Campo do M o e passou pelas atuais Ruas Evaristo da Veiga e Chile, sob o fogo das baterias do Castelo. Alcancpu o trapiche da Cidade e af fortificouse, esperando socorn> da esquadra. Depois de vMos combates, foi obri- gado a renders mm cerca de 650 hornens. Tempos depois, era Du- clerc misteriosarnente assassinado na casa ern que residia, na esqui- na das atuais Ruas da Chitarup e General C h a r a 0 fato foi deter- minado por motivos de vingaqa part~cular e nao de ordem polltica Em setembro de t711 deuse a segunda i n v W francesa, chefiada por Duguay-Tmuin, que com 6.200 htnens, 7 3 8 ' b de fogo em 18 vasos de guerra, veio vingar a malograda tentativa do ano anterior. Comqamn os franceses tomando a ilha das Cobras. Em seguida, desembarcararn na praia da Gamboa e ocuparam em trQs grupos os monos vizinhos. Recusada a rendi@o, principiw o bombardeio em mite de trovoada, relhpagos e chuva forte. Opera- ram, enGo, novo desembarque, ao pd do rnorro de $. Bento, e domi- naram a resistgncia 0 incapaz Govemador Castro M O ~ S tinha fugi- do para Iguap, e, retirados os defensores da cidade, fol ocupada es- ta pelo inimigo. 0s 6.000 hornens de AntBnio de Albuquerque, vindos de Minas para socomer a cidade, chegaram tarde e s6 deterrninaram Duguay-Trouin a preci pi tar a evacua~ao, median te resgate de 600.000 cruzados, fora os despojos do saque. Diz Joao Ribe~ro: Por falta de An~rr;b e prudencia fo~ o inep- to governador duramente condenado a degredo perpdtuo e sequestrados os seus bens. 0 govema- dor, todavia, era menos culpado que os seus compa- nheiros e auxiliares. Nesse tempo a preoucpa~30 das riquezas das minas havia, corn o esplnto das especu- l a w s , arnortecido o sentimento militar Hoje estA provado que Francisco de Castro s6 dispunha de 1.600 homens para resistir em combate, dos 2.200 que contava a guami@o; os demais estavam nas fortalezas. 0 eno talvez tenha si- do de ngo resistir at6 a chegada de AntBnio de Albuquerque. Al6m disso, os defenqres enganaram-se wntando corn a repeti~ao pelos franceses das indpcias de Duclerc. Logo em seguida tomou posse do governo AntGnio de Al- buquerque, por aclamaMo do povo e da guami@o. Fwam governadores da Capitania do Rio de Janeiro, de pois de Francisco de Castro Morais: Francism de TBvora:atb 1716. Antanio de Brito Meneses e Aires de Saldanha, de 1719 a 1725. Durante o govemo de TBvwa, widou-se da reconstru~io das fortificaciks e da devassa sobre os responshveis do desastre de 171.1. Albm do ex-governador, foram vArios oficiais ccndenados A d e porta~io para Angola. Passou entao o Rio de Janeiro por um pen'odo de crise social de violencias e assassinates, destacando-se espe- cialmente as rivalidades entre as tres farnilias - os Gurgbis, os Ve lhos e os Barbalhos - perturbadoras da ordem pOblica. 0 govemador em vArias ocasides teve de entrar em conflito corn a CArnara e o Juiz de Fora, a prop6sito de doacdes de terras. Na administra~ao de Aires de Saldanha, abrese um period0 de obras pirblicas ativas: fq-se o cal~amento de vBrias mas, adiantarnse as obras da Carioca Para reprimir a pirataria, estabelece o govemador o impost0 da Inau guarda-costa", cobrado por cabe~a de negro importado e por navio entrado. Cuidou tamb6m Aires de Saldanha da fiscaliza~io dos registros: o que existia ao pd da serra da Boa Vista, onde pagavam A real fazenda por cavalos, negros e ou- tros transeuntes destinados As. minas, era ma1 guardado e oferecia caminhos ocultos. Foi entio estabelecido o registro na passagem do caminho novo pelo rio Paraibuna. 0 fato mais caractedstico deste period0 hist6rico 6 o papel international da capitania do Rio de Janeiro, que pouco a pouco vai tomando maior importtincia com os acontecimentos do Sul. 0 Trata- do de Utrecht (1715) tinha restituldo a Portugal a Col6nia do Sacra- mento. A partir deste momento, cabia ao Governador do Rio de Ja- neiro a execu@o do programa politico trapdo em Lisboa. Surgiam, a qste prop6sit0, dificuldades com o governo de Buenos Aires, empe nhado em povoar Monteviddu. Em 1723, enviou Aires de Saldanha uma forw para ocupar e defender o presidio de Montevidbu. JB no governo de Brito Meneses tinha-se cuidado da colonizaqAo da ilha de Santa Catarina e do Rio Grande. 0s ultimos governadores - Em 1725 chegou ao Rio um - novo govemador, Luis Vala Monteiro, yadministrador de atividade ex- traordintlria e de simplicidade rude", diz Eduardo Marques Peixoto que compilou e publicou na Revista do lnstituto Histdrico extratos dos 15 volumes que formarn a obra escrita deste governador, conser- vada no Arquivo Nacional: Achava-se a Capitania entregue ti anar- quia do fisco. Era grande o contrabando, escreve Marques Peixoto, teve Vafa, de sustentar luta forte com os defraudadores da fazenda real, impedindo a salda dandestina de objetos da AHandega e de na- vios mercantes. E, devido A severidatle de rnedidas que adotou, nao s6 com relaqao A renda real, mas corn todas as 'outras questdes de interesse para a Corte, houve contra Vaia terrlvel corrente de oposiqao aos seus atos. 0 poder de que sempre gozou o mags- trado, neste ponto do domlnio portugu&s, era, naquela ocasiao, demasiado. E se alguns wmens de just i~a moderaram as suas atribuiqbes, outros se excede ram, de forma a fazer frente aos atos dos Governado- res, em administraqao quae que militar. Outro poder que impunha obediencia era, sem dljvida, a ordem religiosa. . . Vara nao duvidou em ir ao encontro da ordem religiosa. Obrigou a de- Wminados atos seus as confrarias religiosas, corn a de S. Bento, castigando com o desterro - a 80 16 guas do rnosteiro - o abade. E tais foram esses atos que a Catede Portugal teve que intervir. Vala usou de meios edrgi- cos para iinpedir que por uma cerca do mosteiro pas- sasse contrabando, provou a ilegitimidade da posse da ,ilha das Cobras pelos frades, e entrou nas lutas que muito interessam hist6ria local com multa dignC dade. TarnMm, por ocasiao d~ descaminho do ouro, foi notavel a sua energla 0s extravios do our0 em 1730 deram lugar a uma a@o judicial contra os criminosos, apesar das dificuldades promwidas p e lo ouvidor. 0 pr6pr1o Conselho Ultramarine foi eco das falsidades le vantadas contra Vaia Monteiro. Na mesma 6poca e~crevia ele a El- Rel: Depo~s de ter descoberto que se fundla our0 fora das casas reas de fundleeo para furtar os reals qu~ntos, ache1 por 6n1co remed~o evltar este roubo, enquanto V. M. nao dava outra prov~ddncla, ordenar que nesta casa da moeda se fizesse assento de todas as barras que entravam nela, e que n8o se entregasse o d~nhe~ro As partes antes de fazer uma conferdncla com os dltos assentos e uma relaego que mande~ pedlr aos governadores das Mnas Ge- rais e S. Paulo como )a dei conta a V. M. consideran- do que com a noticia desta provid6ncia se ngo atre- veria ningu6m a fabricar as ditas barras. . . A oposit$io que sofreu por parte dos poderes ptjblicos da cidade, por parte dos cidadios mais influentes e por parte da pr6pria metrdpole, de onde Ihe chegaram veementes admoesta@es, deter- minou em Vaia Monteiro um abalo cerebral que acabou em aliena~go mental. Foi no period0 de demQncia que recebeu do povo a alcunha de "On$an. Em 1732 foi o govemador deposto pela CAmara, vindo a falecer no ano seguinte. Figura incontestAvel, superior B de Rui Vaz Pinto, o hones- to e dedieado Vaia teve a infelicidade de intrometer-se na jurisdi~i30 da Chara, o que prova mais uma vez a crescente vitalidade das ins- titui~bes municipais entre n6s. No "tempo do Owan eram tratados sem as forrnalidades prescritas os oficiais camaristas, por isso que, segundo a expressao de Monsenhor Pizarro (Memdrias do Rio de Ja- neiro) "falava-lhe a constbciamo modo civil* e tinha "procedimentos deseonformes da razao". 0 govemo de Gomes Freire - Marca tamb6m um perlo- do saliente na hist6ria do Rio-de Janeiro, no 18%&ulo, o governo de Gomes Freire de Andrade, de 1733 a 1763, o melhor dos govemado- res dos tempos colonids, na opinigo de Vamhagen. Recolheu a su- cessiio de Vala Monteiro, numa 6poca em que o contrabando do our0 e a legislqiio mineira preocupavam o govemo da metr6pole. Sucederam-se trhs sistemas: tributo por bateia, impost0 das quintas, regime da capita~io. Diz Alexandre Max KI tzinger, na Revista do lnstituto histd- rice: 0 Govemo de Gomes Freire de Andrade, mais tarde Conde de Bobadela, durou perto de trinta anos. Este govemador, que bem mereceu do povo o nome de "Pai da Pdtria" e 6 o her6i do poema 6pico 'Uraguai", de Jose Basflio da Gama, prestou relevan- tlssimos servi~os ao Rio de Janeiro: edificou o convent0 de Santa Teresa; erigiu o chafariz de pe- dra-mdnnore no largo do Paldcio; reconstruiu o aque-, duto cia Carioca; fez a dupla ordem de arcaria de vol- ta inteira; recolheu os lkaros em dois prbdios, em S. Crist6vZi0, e langou a primeira pedra da catedral do Rio de Janeiro. Em 1743, mandou construir, na Praga do Canno (depois Largo do Pago, o novo ediflcio para residgncia dos governadores, e, junto A fonte da Ca- rioca, urn tanque de lavar para serventia da popu- IaqBo. De todas as dguas que abasteciam ent5o o Rio de Janeiro eram as mais afamadas, pela sua fresqura e suas virtudes de embe- lezar a clitis e de suavizar a voz, as Aguas da Carioca. 0 s manan- ciais de Santa Teresa, perfazendo cerca de oitocentos mil litros did- rios, s io ainda hoje encaminhados para o reservat6rio do Silvestre, no local chamado Mie d'Agua, urn dos passeios preferidos dos cario- cas, no 180 skulo. A canaliza~io destas 6guas tinha sido iniciada sob o go- vemo de Jog0 da Silva e Sousa, em 1673; mas os trabalhos tinham sido vtlrias vezes interrompidos e os planos modificados. S6 chega- ram ao alcance da popula@o urbana as dguas em 1723. Coube a Gomes Freire dar o passo definitivo corn a cons- trugio de 1744 a 1750 do grande aqueduto da Carioca que liga os morros de Santa Teresa e de Santo AntBnio. A extensio perwnida pelas dguas captadas 6 de cerca de 12 quil6metros. S5o 42 0s arms construidos, e medem 17 metros de altura. Esta obra de engenharia colonial 6 de tal solidez que, de aqueduto que era, pdde passar a ser viaduto. Quanto ao chafariz do Largo da ~aridca, retirado em 1926, datava de 1834 e tinha substituido a antiga fonte aa Carioca. Ordenou airida o prevldente govemador a edifica~ao da fortaleza da ConceiGBo, e prosseguiu as obras da fortaleza da ilha das Cobras, principiadas por seu imediato antecessor, Luis Vaia Monteiro, au- mentando-lhe o piano de fortifica@bs, e construindo outros fortins igualmente Irteis. Veio tornar a d i re~b destes trabalhos, mandado pela Corte, o brigadeiro Jose da Silva Pais, primeiro governador da capitania de Santa Catarina, criada por provisBo de 11 de agosto de 1738. Em 1752 embarcou para o Sul, como plenipotencitlrio do rei de Portugal, a fim de dsr exe- c u ~ b ao tratado de Madri de 13 de jupho de 1750, no aue dizia respeito A demarca~ao dos lirnites do Brasil corn as possess6es espanholas. (Alxandre Max Kit- zinger. Revista do lnstituto Histdrico, tom0 LXXVI). ~ i a j o u muito pelo Brasil o Conde de Bobaaela, indo a Mi- nas, ao Rio Grande e a Cuiabd. Em 1751 foi instituida a Rela@io do Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, Liltirno governador (1 733-1763). AGCRJ Rio de Janeiro, com al~ada igual a da Bahia. 0 Rio tinha entiio cerca de 30.000 habitantes. Coincidiu a segunda parte da administra~iio de Gomes Freire com a primeira fase do governo do Marques de Pombal, em Portugal. Nomeado pelo rei "brasileiro" D. Joiio V, foi tambem digno representante do grande ministro de D. Jose. Diz Oliveira Martins: 0 slstema das ideias polRicoecon6micas e as condiqbes novas criadas pela paz de Utrecht na Europa levaram Adefini~ao pura do reglmen centrali- zador e protetor. E o Marques de Pombal quem, por vanas formas, extingue finalmente o que restava ain- da dos primitivos direitos feudais dos donatarios, reu- nindo toda a autoridade nos governos dependentes da coroa. . . A coldnia constitula-se' rapidamente em n a ~ b ; e uma emigra~b abundante, excessiva at6 para as for~as da metr6pole, engrossava por toda parte os ndcleos constantemente criados. . . 0 sisterna de mon~p6lios protetores era, entao, consideradq como o melhor modo de fornentar 0 progress0 econ8mico. . . S o estes, pis, os principios que serviram de base B poli- tics colonial de Portugal durante o perfodo pombalino e que se tradu- zem, em rela~iio ao Brasil, pela animaq80 B agricultura, pela cria@o das grandes companhias de comBrcio qcom monop6lios, pela liber- ta@o dos indlgenas, pelas reforrnas da legisla@o e pelo impulso da- do B instru@io Mblica. Desculpando os atos de paixio malevolente e vingativa do grande prtuges, diz Latino Coelho: "mas o Marquds de Pombal era, no governo, mais do que um homem, era a iddia da revolu$8oW, e de- ve ser julgado corno um destes 'agentes sinistros do progresson. Gomes Freire interpretava bem o espirito liberal da sua Bpoca, quando reunia, em seu palAcio, a Academia dos Felizes e promovia em 1747 a funda~iio da primeira imprensa que se montou no Rio de Janeiro e foi imediatamente fechada por ordem do Conse Iho Ultramavino. Criou, alem disso, o governador aluAula de Artilharia" e os seminiirios de S. Jose e de S. Pedro, de acordo com o bispo Guadalupe. Em rela~80 aos indios, cuja situa@io social sempre fora o objeto de hesita~6es e contradi~6es na legisla~io
Compartilhar