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CAPÍTULO 4 Aplicações Lineares e Adjuntas Neste Capítulo estudamos aplicações lineares T : E → F, em que E, F são espaços com produto interno. No caso em que E = F, uma aplicação linear T : E → E muitas vezes é chamada de operador linear ou, simplesmente, operador. Algumas propriedades importantes são apenas obtidas se T for contínua e os espaços E, F forem completos. Por esse motivo, em muitos textos, aplicações lineares contínuas T apenas são tratadas no contexto T : H1 → H2, em que H1,H2 são espaços de Hilbert. Decidimos pela abordagem mais geral tanto para ressaltar quais propriedades dos espaços envolvidos são necessárias como para tornar o texto mais acessível. Além disso, se H1,H2 forem os completamentos de E e F, respectivamente, a continuidade de T : E → F garante a existência de uma extensão linear contínua T¯ : H1 → H2, conforme vimos no Exercício ?? do Capítulo ??. Em muitos exemplos e aplicações importantes temos que lidar com aplicações lineares descontínuas. Esse é um tópico mais avançado, que trataremos superficialmente neste texto. Nesse caso, como veremos, somos naturalmente levados ao estudo de aplicações lineares descontínuas T : D(T) ⊂ H1 → H2 entre espaços de HilbertH1,H2, em que D(T), o domínio de T, é um subespaço denso em H1. Uma vez que D(T) é um espaço com produto interno, também nesse caso estamos lidando com aplicações T : E → F, em que E = D(T) é denso em seu completamento H1 e F = H2. 4.1 Exemplos Exemplo 4.1 Seja E, F espaços com produto interno. Os exemplos mais simples de aplicações lineares contínuas são o operador identidade I : E → E, definido por Ix = x para todo x ∈ E e a aplicação nula 0 : E → F, definida por 0x = 0 para todo x ∈ E. ¢ Exemplo 4.2 Sejam B = {v1, . . . , vn} uma base ortonormal do espaço com produto interno (de dimensão finita) V e T : V → V uma aplicação linear. Temos que v = α1v1 + . . . + αnvn ⇔ αj = 〈v, vj〉 (4.1) e já vimos que a aplicação v 7→ [v]B = α1 α2 ... αn ∈ Kn 1 2 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS estabelece um homeomorfismo linear entre V e Kn. O vetor [v]B ∈ Kn é chamado representação de v na base B. A decomposição (4.1) garante que Tv = 〈Tv, v1〉v1 + . . .+ 〈Tv, vn〉vn, de modo que, para v = α1v1 + . . . + αnvn, temos Tv = n ∑ i,j=1 αj〈Tvj, vi〉 vi = 〈Tv1, v1〉 〈Tv2, v1〉 · · · 〈Tvn, v1〉 〈Tv1, v2〉 〈Tv2, v2〉 · · · 〈Tvn, v2〉 ... ... 〈Tv1, vn〉 〈Tv2, vn〉 · · · 〈Tvn, vn〉 α1 α2 ... αn . A matriz A = (aij), com aij = 〈Tvj, vi〉 é chamada representação de T na base B e denotada por A = TB . ¢ Exemplo 4.3 Consideremos o espaço `0 (veja os Exemplos ?? e ??) de todas as seqüência (xi) com xi = 0 exceto talvez para um número finito de índices. Definimos a aplicação linear U : `0 → `0 por U(ek) = (kek), em que em que ek denota a seqüência com todos os termos nulos, exceto o k-ésimo, que é igual a 1. (Essa é uma base de Hamel de `0.) Claramente U é descontínua. ¢ Exemplo 4.4 Seja H um espaço de Hilbert com base (enumerável) {ei : i ∈ N} e T : H → H uma aplicação linear contínua. Então, se x = ∑∞i=1 xiei, então T ( ∞ ∑ i=1 xiei ) = T ( lim n→∞ n ∑ i=1 xiei ) = lim n→∞ T ( n ∑ i=1 xiei ) = lim n→∞ n ∑ i=1 xi Tei = ∞ ∑ i=1 xi Tei. Não é difícil mostrar que o mesmo resultado é válido para espaços de Hilbert com bases não enumeráveis. (Veja o Exercício 7.) Mas o mesmo resultado não vale sem supor que T seja contínua. Consideremos, por exemplo, uma base (enumerável) S = {ei : i ∈ N} do espaço de Hilbert H e < S > o espaço das combinações lineares (finitas) de elementos de S .1 Definimos Sei = ei e estendemos linearmente S a < S >. Completamos a definição de S : H → H definindo Sx = 0, se x 6∈ < S >. É claro que S não é contínua (veja o Exercício 7) e S ( ∞ ∑ i=1 xiei ) 6= ∞ ∑ i=1 xi Sei. ¢ Exemplo 4.5 Dado x = (xi) ∈ `2, definimos o operador R : `2 → `2 por Rx = R(x1, x2, . . . , xn, . . .) = (0, x1, x2, . . . , xn, . . .). O operador R é chamado de right shift (deslocamento à direita). Claramente temos que 〈Rx, Ry〉 = ∞ ∑ i=1 xi yi = 〈x, y〉, 1No caso de H = `2, esse espaço é `0. 4.1. EXEMPLOS 3 provando que R é uma isometria (e, portanto, R é injetor). Contudo, R não é sobrejetor: a imagem imR é formada por todas as seqüências (0, y2, . . . , yn, . . .) ∈ `2 cuja primeiro termo é nulo. Assim, o operador R não possui inversa. Definimos também o operador L : `2 → `2 por Lx = L(x1, x2, . . . , xn, . . .) = (x2, x3, . . . , xn, . . .). O operador L é chamado left shift (deslocamento à esquerda). Claramente temos que L é sobrejetor, enquanto ker L = { (x1, 0, . . . , 0, . . .) } . Note que LR : `2 → `2 é a aplicação identidade, apesar de R e L não serem invertíveis.2 (Lembre-se que, se A, B são matrizes quadradas e AB possui inversa, então tanto A quanto B possuem inversa.) ¢ Exemplo 4.6 Consideremos o espaço de Hilbert L2 = L2 ( [−pi, pi],R). Dado f ∈ L2, o operador derivada D, dado por D f (x) = f ′(x), só está bem definido se f for uma função diferenciável. Assim, podemos considerar o domínio D(D) do operador D como o subespaço C1([−pi, pi],R) ⊂ L2 de todas as funções reais de classe C1 definidas no intervalo [−pi, pi]. O operador D : D(D) → L2 não é contínuo. De fato, se considerarmos a seqüência fn(x) = sen nx, então ‖ fn‖L2 = (∫ pi −pi sen2 nx dx )1/2 = √ pi. Contudo, ‖D fn‖L2 = (∫ pi −pi n2 cos2 nx dx )1/2 = n √ pi, mostrando que ‖D fn‖L2 = n‖ fn‖L2 , igualdade que prova que D não é limitado. ¢ Exemplo 4.7 Seja κ : [a, b] × [a, b] → K uma função contínua e E = CL2 ( [a, b],K ) . Definimos o operador integral K : E → E por K( f )(x) = ∫ b a κ(x, y) f (y)dy. Decorre da desigualdade de Cauchy-Schwarz que ‖K f ‖2L2 = ∫ b a ∣∣∣∣∫ ba κ(x, y) f (y)dy ∣∣∣∣2 dx ≤ ∫ b a (∫ b a |κ(x, y)|2dy ∫ b a | f (y)|2dy ) dx ≤ (∫ b a ∫ b a |κ(x, y)|2dydx ) ‖ f ‖2, (4.2) 2No contexto da Mecânica Quântica, é usual chamar R e L de operadores de criação e aniquilamento, respectivamente. 4 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS mostrando que K f ∈ L2([a, b]). Para x0 ∈ [a, b] fixo, decorre do Exercício ?? do Capítulo ?? que, dado e > 0, existe δ > 0 tal que x ∈ [a, b] e ‖x − x0‖ < δ implicam |κ(x, y) − κ(x0, y)| < e, para todo y ∈ [a, b]. Assim, ‖K f (x)− K f (x0)‖ = ∣∣∣∣∫ ba [κ(x, y)− κ(x0, y)] f (y)dy ∣∣∣∣ ≤ ∫ b a |κ(x, y)− κ(x0, y)| | f (y)| dy ≤ e ∫ b a | f (y)|dy, mostrando a continuidade de K f e completando a prova que K f ∈ E. Observe que (4.2) garante que K é um operador contínuo, com ‖K‖ ≤ (∫ b a ∫ b a |κ(x, y)|2dydx )1/2 . Mais geralmente, note que os mesmos cálculos mostram que, se f ∈ L2([a, b],K) e se(∫ b a ∫ b a |κ(x, y)|2dydx )1/2 < ∞, então K : L2 ( [a, b],K )→ L2([a, b],K) é um operador contínuo. O operador K é chamado operador integral associado ao núcleo κ(x, y) ou operador de Hilbert-Schmidt com núcleo κ. Várias propriedades destes operadores serão apresentadas neste texto. ¢ 4.2 A Adjunta Sejam E, F espaços com produto interno. Começamos definindo a adjunta de uma aplicação f : E → F. Definição 4.8 Sejam E, F espaços com produto interno e f : E → F uma aplicação. Uma aplicação f ∗ : F → E é adjunta de f , se ela satisfizer 〈 f (x), y〉 = 〈x, f ∗(y)〉 ∀ x ∈ E, y ∈ F. Lema 4.9 Sejam E, F espaços com produto interno e T : E → F uma aplicação linear. Se T possuir adjunta, então essa é única. Além disso, T∗ é linear. Demonstração: Sejam y, z ∈ F e λ ∈ K. Então, 〈x, T∗(y + λz)〉 = 〈T(x), y + λz〉 = 〈T(x), y〉+ λ¯〈T(x), z〉 = 〈x, T∗(y)〉+ 〈x, λT∗(z)〉. Assim, 〈x, T∗(y + λz)− T∗(y)− λT∗(z)〉 = 0. Escolhendo x = T∗(y + λz)− T∗(y)− λT∗(z), concluímos que ‖T∗(y + λz)− T∗(y)− λT∗(z)‖ = 0, decorrendodaí a linearidade de T∗. O mesmo argumento prova sua unicidade. (Compare com a prova do Teorema ??.) 2 Note que a demonstração apresentada independe de T ser linear! 4.2. A ADJUNTA 5 Exemplo 4.10 Sejam E = Cn e (aij), i, j = 1, . . . , n, a matriz que representa o operador A : Cn → Cn com relação à base canônica (veja o Exemplo 4.2). Assim, aij = 〈Aej, ei〉. Afirmamos que a representação matricial (com relação à base canônica) da adjunta B = A∗ é a matriz adjunta de (aij). Ou seja, se bij = 〈Bej, ei〉, afirmamos que bij = aji. De fato, bij = 〈Bej, ei〉 = 〈ei, Bej〉 = 〈Aei, ej〉 = aji. Esse exemplo generaliza-se facilmente para uma base ortonormal qualquer B = {v1, . . . , vn} de um espaço com produto interno. ¢ Exemplo 4.11 Seja E um espaço com produto interno. Então a adjunta da aplicação identidade I : E → E é a própria aplicação I. ¢ Exemplo 4.12 Consideremos os operadores R : `2 → `2 e L : `2 → `2, definidos no Exemplo 4.5. Para x = (xn) e y = (yn) arbitrários, temos 〈Rx, y〉 = ∞ ∑ n=1 xn yn+1 = 〈x, Ly〉, de modo que podemos concluir que R∗ = L. ¢ Exemplo 4.13 Sejam E, F espaços com produto interno. Suponhamos que T : E → F possua adjunta T∗ : F → E. Se xn ⇀ x, então Txn ⇀ Tx. De fato, para todo y ∈ H temos 〈Txn, y〉 = 〈xn, T∗y〉 → 〈x, T∗y〉 = 〈Tx, y〉, mostrando o afirmado. ¢ Algumas propriedades fundamentais da adjunta são dadas pela Proposição 4.14 Sejam E, F, G espaços com produto interno, S, T : E → F e U : F → G aplicações lineares. Suponhamos a existência de S∗, T∗ e U∗. Então vale: (i) (S + T)∗ = S∗ + T∗; (ii) (λT)∗ = λT∗; (iii) (UT)∗ = T∗U∗; (iv) (T∗)∗ = T. Demonstração: As demonstrações são simples e muito semelhantes. Mostraremos apenas algumas delas. Em (i), temos 〈x, (S + T)∗y〉 = 〈(S + T)x, y〉 = 〈Sx, y〉 + 〈Tx, y〉 = 〈x, S∗y〉+ 〈x, T∗y〉 = 〈x, (S∗ + T∗)y〉. A unicidade da adjunta garante então que (S + T)∗ = S∗ + T∗. Para mostrar (iv), notamos que 〈T∗x, y〉 = 〈y, T∗x〉 = 〈Ty, x〉 = 〈x, Ty〉. (4.3) De novo, a unicidade da adjunta garante o afirmado. 2 Denotaremos (T∗)∗ = T∗∗. Mas, como garantir a existência da adjunta? 6 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS Teorema 4.15 Sejam H um espaço de Hilbert e F um espaço com produto interno. Então sempre existe a adjunta de uma aplicação linear contínua T : H → F. Demonstração: Para todo y ∈ F fixo, o funcional linear x 7→ 〈Tx, y〉 é contínuo, pois T é contínua. O Teorema de Representação de Riesz garante então que existe um único w ∈ H (dependendo de y ∈ F) tal que 〈Tx, y〉 = 〈x, w〉, ∀ x ∈ H. Defina T∗y = w. Está assim definida, para cada y ∈ F, uma aplicação T∗ : F → H. A linearidade de T∗, bem como sua unicidade, foram mostradas no Lema 4.9. 2 Observação 4.16 Podemos garantir a existência da adjunta de uma aplicação linear contínua T : E → F entre espaços com produto interno? Se E não for completo, não podemos aplicar o Teorema de Representação de Riesz (veja o Teorema ??), passo fundamental na demonstração da existência de T∗. Mas ainda há como remediar a situação. Consideremos os completamentos H1 e H2 dos espaços E e F, respectivamente. A aplicação contínua T : E → F é naturalmente identificada com a aplicação T : E → H2. Uma vez que H2 é completo e T é contínua, podemos aplicar o Exercício ?? do Capítulo ?? e obter uma extensão contínua T¯ : H1 → H2 de T. Essa extensão satisfaz as hipóteses do Teorema 4.15, de modo que existe T¯∗ : H2 → H1. Assim, passando aos completamentos dos espaços envolvidos, a existência da adjunta de T¯ está assegurada. (Note que não é suficiente restringir T¯∗ ao subespaço F para encontrar a adjunta de T; para y ∈ F, não podemos garantir que T¯∗y ∈ E. O Exemplo 4.21 mostra que mesmo operadores contínuos T : E → E podem não possuir adjunto.) Outros exemplos em que não existe a adjunta T∗ de uma aplicação linear T serão tratados nas próximas seções. ¢ A continuidade de T : E → F garante a continuidade de T∗ : F → E, se a adjunta existir: Proposição 4.17 Sejam E, F espaços com produto interno e T : E → F uma aplicação linear contínua. Suponha a existência de T∗ : F → E. Então T∗ é contínua e vale ‖T‖ = ‖T∗‖ e ‖T∗T‖ = ‖TT∗‖ = ‖T‖2. Demonstração: Seguindo o caminho trilhado na Proposição ??, decorre da desigualdade de Cauchy-Schwarz que∣∣〈x, T∗y〉∣∣ = ∣∣〈Tx, y〉∣∣ ≤ ‖Tx‖ ‖y‖ ≤ ‖T‖ ‖x‖ ‖y‖, de modo que, para x = T∗y, obtemos ‖T∗y‖2 ≤ ‖T‖ ‖T∗y‖ ‖y‖, desigualdade que acarreta ‖T∗‖ ≤ ‖T‖. Uma vez que a equação (4.3) garante que (T∗)∗ = T, a desigualdade anterior aplicada a (T∗)∗ = T nos mostra que ‖T‖ = ‖(T∗)∗‖ ≤ ‖T∗‖, 4.2. A ADJUNTA 7 provando que ‖T‖ = ‖T∗‖. Temos que ‖T∗T‖ ≤ ‖T∗‖ ‖T‖ = ‖T‖2. Por outro lado, ‖Tx‖2 = 〈Tx, Tx〉 = 〈T∗Tx, x〉 ≤ ‖T∗Tx‖ ‖x‖ ≤ ‖T∗T‖ ‖x‖2, de onde decorre que ‖T‖2 ≤ ‖T∗T‖. Assim, ‖T‖2 = ‖T∗T‖. Tomando o adjunto nesta expressão, obtemos a segunda igualdade. 2 Podemos melhorar o resultado anterior no caso de aplicações definidas em espaços de Hilbert:3 Teorema 4.18 SejamH um espaço de Hilbert e F um espaço com produto interno. Suponhamos que a aplicação linear T : H → F possua adjunta T∗ : F → H. Então T∗ é contínua. Demonstração: Caso contrário, existiria uma seqüência (yn) em F, com ‖yn‖ = 1 e lim n→∞ ‖T ∗yn‖ = ∞. Fixe x ∈ H. Então∣∣〈x, T∗yn〉| = ∣∣〈Tx, yn〉∣∣ ≤ ‖Tx‖ ‖yn‖ = ‖Tx‖. Mostramos, assim, que a seqüência (T∗yn) é tal que ∣∣〈x, T∗yn〉∣∣ é limitada para todo x ∈ H. De acordo com o Princípio da Limitação Uniforme (Teorema ??), isso significa que ‖T∗yn‖ é limitada, uma contradição que garante que T∗ é contínua. 2 Corolário 4.19 Se T : H → F possui adjunta, então T e T∗ são contínuas. Demonstração: Basta aplicar a Proposição 4.17 à aplicação contínua T∗ : E → H e sua adjunta T∗∗ = T. 2 Note que, combinando com o Teorema 4.15, T : H → E possui adjunta se, e somente se, T for contínua. Voltemos agora à situação da Observação 4.16 e consideremos aplicações lineares T : E → F entre espaços com produto interno. Exemplo 4.20 Consideremos o subespaço de CL2([−pi, pi],R) definido por E = { f ∈ C∞L2 ( [−pi, pi],R) : supp f ⊂ (−pi, pi)}, isto é, o conjunto de todas as funções f : [−pi, pi]→ R de classe C∞ que satisfazem supp f = {x ∈ [−pi, pi] : f (x) 6= 0} ⊂ (−pi, pi). Consideramos a aplicação linear derivada D, já abordada no Exemplo 4.6, como operador no espaço E. O Exercício 9 pede que se mostre que D f ∈ E para todo f ∈ E e que o operador D : E → E não é limitado. Vamos mostrar que o operador D : E → E possui adjunto. De fato, integração por partes mostra que 〈D f , g〉 = ∫ pi −pi f ′(x) g(x) dx = f (x)g(x) ∣∣∣x=pi x=−pi − ∫ pi −pi f (x) g′(x) dx = 〈 f ,−Dg〉. 3Note que não estamos supondo que T seja contínua. Compare com o Teorema 4.15. 8 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS Isso mostra que o adjunto de D : E → E é o operador −D : E → E, dado por Dg = −g′. ¢ Assim, existem aplicações lineares descontínuas T : E → F que possuem adjunta T∗ : F → E. Por outro lado, existem aplicações contínuas que não possuem adjunta: Exemplo 4.21 Consideremos o subespaço `0 ⊂ `2 (apresentado nos Exemplos ??, ?? e 4.3) de todas as seqüência (xi) com xi = 0 exceto talvez para um número finito de índices. Temos que {e1, . . . , en, . . .} é uma base (de Hamel e também ortonormal) de `0, em que ek é a seqüência cujo k-ésimo elemento é igual a 1, os restantes sendo todos nulos. Defina a aplicação linear T : `0 → `0 por Tek = 1k2 e1, para todo k ∈ N. (Assim, a imagem de T é unidimensional.) Temos que T é contínua. De fato, para todo x = ∑Nk=1 xkek (em que N é o maior índice tal que xk 6= 0), então ‖x‖`2 = 1 se, e somente se, ∑Nk=1 |xk|2 = 1. Assim, Tx = N ∑ k=1 xkTek = N ∑ k=1 xk k2 e1, de modo que ‖Tx‖`2 = (∣∣∣∣∣ N∑k=1 xkk2 ∣∣∣∣∣ )2 ≤ ( N ∑ k=1 |xk| k2 )2 < ∞. Consideremos a extensão contínua T¯ : `2 → `2 de T. (Veja o Exercício ?? do Capítulo ??. Qual é a expressão de T¯?) Então 〈T¯ek, e1〉= 1k ⇒ T¯ ∗e1 = ∞ ∑ k=1 ek k . Como T¯∗ei 6∈ `0, concluímos que T : `0 → `0 não possui adjunta. ¢ Lema 4.22 Seja R, S subconjuntos quaisquer do espaço com produto interno E. Então (i) S⊥ é um subespaço fechado de E; (ii) R ⊂ S implica S⊥ ⊂ R⊥; (iii) S⊥ = ( < S > )⊥; (iv) < S > ⊂ S⊥⊥ = (S⊥)⊥. Se E for um espaço de Hilbert, então (v) < S > = S⊥⊥; em particular, se S for um subespaço, S = S⊥⊥. Demonstração: Se u ∈ S, x1, x2 ∈ S⊥ e α ∈ K, então 0 = α〈x1, u〉 + 〈x2, u〉 = 〈αx1 + x2, u〉, mostrando que αx1 + x2 ∈ S⊥. Se x ∈ S⊥, então existe xn ∈ S⊥ tal que xn → x. Então, para todo u ∈ S, temos 0 = 〈xn, u〉, de modo que 〈x, u〉 = 〈limn→∞ xn, u〉 = limn→∞〈xn, u〉 = 0, mostrando que x ∈ S⊥ e provando (i). Tome y ∈ S⊥; então 〈y, u〉 = 0 para todo u ∈ S e, em particular, para todo u ∈ R. Assim, y ∈ R⊥, mostrando (ii). 4.2. A ADJUNTA 9 Temos S ⊂ < S > ⊂ < S >; aplicando (ii), vem (< S >)⊥ ⊂ S⊥. Se x ⊥ S, então x ⊥ < S > e, portanto x ⊥ < S > (de acordo com a prova de (i)), de modo que S⊥ ⊂ (< S >)⊥, o que completa a prova de (iii). Se x ∈ S, então existe (xn) ∈ S tal que xn → x. Assim, 〈xn, u〉 = 0 para todo u ∈ S⊥. Daí decorre que 〈u, x〉 = 0 para todo u ∈ S⊥, o que implica que x ∈ S⊥⊥ e mostra (iv). Seja E for um espaço de Hilbert. Pelo Teorema ?? e pelo item (iii) temos a decomposição E = < S >⊕ S⊥. Se x ∈ S⊥⊥ \< S >, então x ∈ S⊥. Mas E = S⊥⊕ S⊥⊥, o que implica x = 0, absurdo, pois 0 ∈ < S >. O item (v) está provado. 2 Proposição 4.23 Sejam E, F espaços com produto interno e T : E → F uma aplicação linear. Suponhamos a existência de T∗ : F → E e, para subespaços M1 ⊂ E e M2 ⊂ F, que T(M1) ⊂ M2. Então T∗(M⊥2 ) ⊂ M⊥1 . Demonstração: Se x ∈ T∗(M⊥2 ), então existe y ∈ M⊥2 tal que T∗y = x. Assim, se m1 ∈ M1, então 〈m1, x〉 = 〈m1, T∗y〉 = 〈Tm1, y〉 = 0, pois T(M1) ⊂ M2 e y ∈ M⊥2 . Logo, x ∈ M⊥1 , mostrando o afirmado. 2 Teorema 4.24 Sejam E, F espaços com produto interno e T : E → F uma aplicação linear. Suponhamos a existência de T∗. Então: (i) ker T∗ = (imT)⊥; (ii) ker T = (imT∗)⊥; (iii) imT ⊂ (ker T∗)⊥. Se F for um espaço de Hilbert, vale a igualdade; (iv) imT∗ ⊂ (ker T)⊥. Se E for um espaço de Hilbert, vale a igualdade. (Admitida a existência de T∗, note que (i) e (ii) mostram que ker T e ker T∗ são subconjuntos fechados, mesmo que T não seja contínua!) Demonstração: Mostramos a afirmação (i) da seguinte maneira: y ∈ ker T∗ ⇔ T∗y = 0 ⇔ 〈x, T∗y〉 = 0 ∀ x ∈ E ⇔ 〈Tx, y〉 = 0 ∀ x ∈ E ⇔ y ∈ (imT)⊥. Do mesmo modo mostra-se (ii). De (i) decorre (ker T∗)⊥ = (imT)⊥⊥. O Lema 4.22 garante que imT ⊂ (imT)⊥⊥, a igualdade sendo válida no caso de F ser um espaço de Hilbert. A demonstração de (iv) é análoga. 2 Corolário 4.25 Sejam H um espaço de Hilbert e F um espaço com produto interno. Se a aplicação linear T : H → F for contínua, então vale a decomposição ortogonal H = ker T ⊕ imT∗. 10 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS Demonstração: O Teorema 4.15 garante a existência de T∗. Uma vez que ker T é fechado, vale a decomposição ortogonal H = ker T⊕ (ker T)⊥. Como ker T⊥ = imT∗, o resultado está demonstrado. 2 A demonstração do próximo resultado é completamente análoga à do resultado anterior. Note que a existência de T∗ implica a continuidade de T e T∗, pela Proposição 4.17. Corolário 4.26 Sejam E um espaço com produto interno,H um espaço de Hilbert e T : E → H uma aplicação linear. Suponhamos a existência de T∗ : H → E. Então vale a decomposição ortogonal H = ker T∗ ⊕ imT. � � � � � � � � � � � �� � � � � � � � � � � � �� H1 � ker T im T � - T ff T � � � � � � � � � � � � �� � � � � � � � � � � � �� H2 � ker T � im T Figura 4.1: Uma aplicação linear contínua T : H1 → H2 entre espaços de Hilbert decompõe o domínio e a imagem de T. Os espaços ker T∗ e ker T nem sempre são isomorfos. Exemplo 4.27 Consideremos os operadores R, L : `2 → `2 definidos no Exemplo 4.5. Temos que ker R = {0}, imL = `2, ker L = {(x1, 0, . . . , 0, . . .) ∈ `2}, (ker L)⊥ = imR e R∗ = L. Note que ker R e ker L não são isomorfos. ¢ 4.3 Operadores e Adjuntos No caso especial de operadores, podemos complementar a Proposição 4.14. Valem os seguintes resultados: Proposição 4.28 Seja E um espaço com produto interno. Suponhamos a existência do adjunto T∗ do operador T : E → E. Então: (i) se existir (T−1)∗ ou (T∗)−1, então (T−1)∗ = (T∗)−1; (ii) se F ⊂ E for um subespaço invariante por T e T∗, então F⊥ é invariante por T e T∗ e (T|F)∗ = T∗|F. 4.3. OPERADORES E ADJUNTOS 11 Demonstração: Suponhamos a existência de (T−1)∗. Para provar (i), basta notar que T−1T = I = TT−1 implica, como conseqüência da Proposição 4.14 (iii), que T∗(T−1)∗ = I = (T−1)∗T∗. O caso em que existe (T∗)−1 é análogo. Para mostrar (ii), notamos que a Proposição 4.23 garante que F⊥ é invariante por T∗, pois F é invariante por T. Mas F invariante por T∗ implica que F⊥ é invariante por T∗∗ = T. Seja S = T|F. Então, se x, y ∈ F, temos 〈Sx, y〉 = 〈Tx, y〉 = 〈x, T∗y〉. Isso mostra que S∗ = T∗|F, completando a prova de (ii). 2 Definição 4.29 Sejam E um espaço com produto interno e T : E → E um operador linear. Suponhamos a existência de T∗. Dizemos que (i) T é unitário, se T∗T = TT∗ = I; (ii) T é simétrico, se T∗ = T; (iii) T é anti-simétrico, se T∗ = −T; (iv) T é normal, se T∗T = TT∗. Operadores unitários também são chamados de ortogonais (especialmente no caso em que E for um espaço real), enquanto operadores simétricos também são chamados de hermitianos, essa denominação sendo mais empregada no caso de E ser um espaço complexo. Por esse motivo, a denominação anti-hermitiano também é utilizada para um operador anti-simétrico. Operadores simétricos, anti-simétricos e unitários são sempre normais, como pode-se verificar facilmente. Observação 4.30 É importante ressaltar que a denominação auto-adjunto não pode ser indistintamente aplicada a um operador simétrico. Trataremos de operadores auto- adjuntos na Seção 4.4. ¢ Teorema 4.31 Seja E um espaço com produto interno. Suponha que exista o adjunto do operador T : E → E. Então (i) T é uma isometria se, e somente se, T∗T = I; (ii) T é unitário se, e somente se, T e T∗ forem isometrias. Demonstração: Para todos x, y ∈ E, temos 〈Tx, Ty〉 = 〈x, y〉 ⇔ 〈T∗Tx, y〉 = 〈x, y〉 ⇔ T∗T = I, mostrando (i), de acordo com a Proposição ??. Daí e da definição de um operador unitário decorre que T e T∗ são isometrias. 2 Corolário 4.32 Seja E um espaço com produto interno e T : E → E uma isometria.4 Suponha que exista T∗. Então ‖T‖ = 1. Em particular, todo operador unitário T : E → E satisfaz ‖T‖ = 1. 4Observe que uma isometria é sempre contínua. 12 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS Demonstração: Se T for uma isometria e T∗ existir, a Proposição 4.17 garante que ‖T‖2 = ‖T∗T‖ = ‖I‖ = 1, resultado que é válido, em particular, para um operador unitário. 2 Exemplo 4.33 Podemos ter que um operador seja uma isometria, mesmo não sendo unitário. Um exemplo simples é o operador right shift R : `2 → `2, definido no Exemplo 4.5. Vimos que R∗ = L e LR = I; contudo, não vale RL = I. ¢ O significado de TT∗ no caso de uma isometria que não é unitária T : E → E é dado pelo Exercício 28. Proposição 4.34 Sejam E um espaço com produto interno e T : E → E uma isometria sobrejetora. Então T é um operador unitário e T∗ = T−1. Demonstração: Basta notar que, como T é uma isometria, vale 〈Tx, y〉 = 〈Tx, TT−1y〉 = 〈Tx, T(T−1y)〉 = 〈x, T−1y〉. 2 Agora vamos estudar algumas propriedades de operadores simétricos. Começamos com o seguinte resultado, que justifica a denominação de hermitiano para um operador simétrico: Teorema 4.35 Sejam E um espaço com produto interno e T : E → E um operador. Então as seguintes afirmações são equivalentes: (i) T é simétrico; (ii) a forma sesquilinear B : E× E → K definida por B(x, y) = 〈Tx, y〉 éhermitiana; Se o espaço E for complexo, essas condições são equivalentes a (iii) a forma quadrática qB, dada por qB(x) = 〈Tx, x〉, é uma função real. Se o operador T : E → E for simétrico e contínuo, vale ‖T‖ = ‖qB‖ := sup ‖x‖=1 |B(x, x)| = sup ‖x‖=1 ∣∣〈Tx, x〉∣∣, em que a segunda igualdade define ‖qB‖. Demonstração: Para verificar que as condições (i) e (ii) são equivalentes, basta notar que B(x, y) = B(y, x) ⇔ 〈Tx, y〉 = 〈Ty, x〉 ⇔ 〈Tx, y〉 = 〈x, Ty〉. Suponhamos agora que E seja um espaço complexo. Se B for hermitiana, então qB(x) = B(x, x) = B(x, x) = qB(x), mostrando que qB(x) ∈ R. Para mostrar a recíproca, partimos da identidade B(y, x) = 1 4 [qB(y + x)− qB(y− x)] + i4 [qB(y + ix)− qB(y− ix)], (4.4) 4.3. OPERADORES E ADJUNTOS 13 que é facilmente verificada ao se desenvolver o lado direito da igualdade. (Essa identidade (também) é conhecida como identidade de polarização.) Uma vez que qB(x) = qB(−x) = qB(ix) = qB(−ix), temos B(y, x) = 1 4 [qB(x + y)− qB(x− y)] + i4 [qB(x− iy)− qB(x + iy)] = 1 4 [qB(x + y)− qB(x− y)]− i4 [qB(x + iy)− qB(x− iy)] = B(x, y), a última igualdade sendo verdadeira porque qB(x) ∈ R para todo x ∈ E. Verificamos, assim, (ii). Se ‖x‖ = 1 = ‖y‖, a identidade (4.4) garante que5 |Re B(x, y)| ≤ 1 4 [|qB(x + y)|+ |qB(x− y)|] ≤ 1 4 ‖qB‖ [‖x + y‖2 + ‖x− y‖2] = 1 2 ‖qB‖ [‖x‖2 + ‖y‖2] = ‖qB‖. (4.6) (O fundamento desse procedimento é a utilização da identidade do paralelogramo (??), válida apenas se o produto interno gerar a norma ‖ · ‖. Note que, tomando o supremo com ‖x‖ = 1 = ‖y‖, provamos o caso em que B é bilinear.) Se B(x, y) ∈ C, escrevemos sua forma polar: B(x, y) = reiθ . Definindo α = e−iθ , obtemos αB(x, y) = r = |B(x, y)|. Para ‖x‖ = 1 = ‖y‖, decorre então de (4.6) que ‖qB‖ ≥ ∣∣Re B(αx, y)∣∣ = ∣∣Re αB(x, y)∣∣ = |B(x, y)|. Consequentemente, em qualquer caso temos que ‖qB‖ ≥ sup ‖x‖=1=‖y‖ |B(x, y)| = ‖B‖. 2 Exemplo 4.36 Sejam E = CL2 ( [a, b],K ) e h : [a, b] → R uma função contínua. Consideremos o operador de multiplicação T : E → E definido por (T f )(x) = h(x) f (x). Note que ‖T f ‖ ≤ maxx∈[a,b] |h(x)| ‖ f ‖ e que T f é função contínua. 5No caso real, a identidade B(y, x) = 1 4 [qB(x + y)− qB(x− y)] (4.5) é válida apenas se B(x, y) = B(y, x) for simétrica. Verifique! No caso complexo, estamos usando que qB(x) ∈ R. 14 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS Uma vez que 〈T f , g〉 = ∫ b a h(x) f (x)g(x) dx = ∫ b a f (x)h(x)g(x) dx = 〈 f , Tg〉, vemos que T∗ existe e que T é simétrico. É fácil verificar que T possui extensão contínua T¯ : L2 ( [a, b],K )→ L2([a, b],K). ¢ Exemplo 4.37 (Continuação do Exemplo 4.7) Se E = CL2([a, b],K), consideremos o operador integral K : E → E dado por K( f )(x) = ∫ b a k(x, y) f (y)dy, em que seu núcleo k : [a, b]× [a, b] → K é uma função contínua. Já mostramos que K é um operador limitado. Aplicando o Teorema de Fubini (citação em livro que não usa medida!!), temos que 〈K f , g〉 = ∫ b a (∫ b a κ(x, y) f (y)dy ) g(x)dx = ∫ b a f (y) (∫ b a κ(x, y)g(x)dx ) dy = ∫ b a f (y) (∫ b a κ(x, y)g(x)dx ) dy = 〈 f , K∗g〉. Isso mostra que K possui adjunto K∗ : E → E dado por K∗( f )(y) = ∫ b a κ(x, y) f (x)dx. Em particular, o operador K é simétrico se, e somente se, seu núcleo κ(x, y) satisfizer κ(x, y) = κ(y, x). ¢ Exemplo 4.38 Se T : E → E um operador no espaço com produto interno E. Suponha que T∗ exista. Então os operadores T1 = T + T∗ e T2 = T∗T são simétricos. De fato, para x, y ∈ E vale 〈T1x, y〉 = 〈(T + T∗)x, y〉 = 〈x, (T + T∗)∗y〉 = 〈x, T1y〉 e 〈T2x, y〉 = 〈(T∗T)x, y〉 = 〈Tx, Ty〉 = 〈x, T∗Ty〉 = 〈x, T2y〉, provando o afirmado. ¢ Exemplo 4.39 Consideremos o espaço E de todas as funções f : R → C de classe C∞ tais que limx→±∞ f (k)(x) = 0 (com k = 0, 1, 2, . . .) e que satisfazem ‖ f ‖L2 = (∫ ∞ −∞ | f (x)|2dx )1/2 < ∞. 4.3. OPERADORES E ADJUNTOS 15 É fácil verificar que E é um espaço com produto interno se definirmos 〈 f , g〉 = ∫ ∞ −∞ f (x)g(x) dx. Consideremos o operador S : E → E definido por S f = i f ′. Integrando por partes, temos: 〈S f , g〉 = ∫ ∞ −∞ ( i f ′(x) ) g(x) dx = ∫ ∞ −∞ f (x) ( ig′(x) ) dx = 〈 f , Sg〉, de modo que S é um operador simétrico. ¢ Agora passamos a considerar alguns exemplos e propriedades de operadores anti- simétricos. Se E for um espaço complexo, decorre da Identidade de Polarização (4.4) que um operador T : E → E satisfaz 〈Tx, x〉 = 0 para todo x ∈ E se, e somente se, T ≡ 0. Mas, e se o operador contínuo T : E → E estiver definido sobre um espaço real E? Exemplo 4.40 Consideremos E = R2 e T : R2 → R2 definida por T = ( 0 −1 1 0 ) . Temos qB(x) = 〈x, Tx〉 = 〈Tx, x〉 ≡ 0, mas T não é identicamente nulo. Compare com o Teorema 4.35. ¢ Teorema 4.41 Sejam E um espaço real com produto interno e T : E → E um operador que possua adjunto T∗ : E → E. Então 〈Tx, x〉 = 0 para todo x ∈ E se, e somente se, T for anti-simétrico. Demonstração: Suponhamos que 〈Tx, x〉 = 0 para todo x ∈ E. Então 0 = 〈T(x + y), x + y〉 = 〈Tx, y〉+ 〈Ty, x〉 = 〈Tx, y〉+ 〈x, Ty〉 = 〈Tx, y〉+ 〈T∗x, y〉. Assim, 0 = 〈Tx, y〉+ 〈T∗x, y〉 = 〈(T + T∗)x, y〉 ∀ x, y ∈ E. Tomando y = (T + T∗)x, daí decorre imediatamente que T = −T∗. Reciprocamente, se T = −T∗, então 〈Tx, x〉 = 〈x, T∗x〉 = −〈x, Tx〉 = −〈Tx, x〉, provando o afirmado. 2 16 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS Verifique o Teorema 4.41 no caso de E = C∞L2,0(R,R) e o operador definido no Exemplo 4.20. Uma caracterização de operadores anti-simétricos em espaços complexos é dada no comentário após o Teorema 4.45. Exemplo 4.42 Seja E um espaço complexo com produto interno e T : E → E um operador simétrico. Defina S = iT. Então 〈Sx, y〉 = i〈Tx, y〉 = i〈x, Ty〉 = 〈x,−iTy〉 = 〈x,−Sy〉, de onde obtemos que S∗ = −S. ¢ Apresentamos agora algumas propriedades de operadores normais. Lembramos que operadores unitários, simétricos e anti-simétricos sempre são operadores normais. Teorema 4.43 Seja N : E → E um operador normal no espaço com produto interno E. Então: (i) ‖Nx‖ = ‖N∗x‖ para todo x ∈ E; reciprocamente, se essa igualdade for válida para todo x ∈ E, então N é normal; (ii) se N for contínuo e E = H, em queH é um espaço de Hilbert, então N∗ = UN = NU, em que U é unitário. Em particular, imN = imN∗ e vale a decomposição ortogonal H = ker N ⊕ imN. Demonstração: Suponhamos que N seja normal. Então ‖Nx‖2 = 〈Nx, Nx〉 = 〈N∗Nx, x〉 = 〈NN∗x, x〉 = 〈N∗x, N∗x〉 = ‖N∗x‖2. Reciprocamente, de ‖Nx‖ = ‖N∗x‖ obtemos (como acima) 〈N∗Nx, x〉 = 〈NN∗x, x〉 ⇒ 〈(N∗N − NN∗)x, x〉 = 0 ∀ x ∈ E. Como NN∗ − N∗N é simétrico, do Teorema 4.35 inferimos que N∗N − NN∗ = 0, provando (i). Suponhamos que N : H → H seja contínuo. Defina V : imN → imN∗ por V(Nx) = N∗x. De acordo com o que provamos em (i), V é uma isometria e, portanto, injetora. Uma vez que imN∗ é um subespaço completo deH, o Exercício ?? do Capítulo ?? garante que podemos estender V a uma isometria V¯ : imN → imN∗. Como (i) implica que ker N∗ = ker N, o Teorema 4.24 garante que ker N ⊕ imN = H = ker N ⊕ imN∗. (4.7) Daí decorre que V¯ : imN → imN∗ é uma aplicação sobrejetora. Definimos agora U : imN ⊕ ker N → imN∗ ⊕ ker N∗ por U(x1 + x2) = V¯x1 + x2. Como a decomposição (4.7) é ortogonal, temos que U preserva norma sendo, portanto, uma isometria. Como V¯ é sobrejetora, U é sobrejetora. A Proposição 4.34 implica, então, que U é um operador unitário. Se x ∈ E, então UNx = V(Nx) = N∗x, provando que N∗ = UN. Como U é unitário, a relação N∗ = UN mostra que imN∗ = imN. Tomando o adjunto na igualdade N∗ = UN, obtemos N = (UN)∗ = N∗U∗. Multiplicando por U, vem NU = N∗U∗U = N∗, pois U é uma isometria. Provamos assim que NU = UN. 2 4.4. APLICAÇÕES DESCONTÍNUAS 17 Corolário 4.44 Se T : E → E for um operador normal, então ‖T2‖ = ‖T‖2.Demonstração: Seja x = Ty. Então, ‖T2y‖ = ‖T(Ty)‖ = ‖T∗(Ty)‖ para todo y ∈ E, de modo que ‖T2‖ = ‖T∗T‖. O resultado decorre da Proposição 4.17. 2 Teorema 4.45 Seja T : E → E um operador no espaço com produto interno E. Suponhamos que E seja um espaço complexo e que exista T∗. Então (i) existem únicos operadores T1, T2 : E → E, simétricos, tais que T = T1 + iT2. Além disso, T∗ = T1 − iT2; (ii) o operador T é normal se, e somente se, T1T2 = T2T1. Demonstração: Defina T1 = (T + T∗)/2 e T2 = (T − T∗)/(2i). Claramente T1 e T2 são simétricos e T = T1 + iT2. Se T = A + iB com A e B auto-adjuntos, então T∗ = A− iB. Daí decorre T + T∗ = 2A e T − T∗ = 2iB, de onde decorre a unicidade de T1 e T2. Uma vez que T∗T = T21 + T 2 2 + i(T1T2 − T2T1) e TT∗ = T21 + T 2 2 − i(T1T2 − T2T1), se T for normal, concluímos que T1T2− T2T1 = 0. Reciprocamente, as expressões acima garantem que TT∗ = T∗T, se T1 e T2 comutarem. 2 Assim, se E for um espaço complexo com produto interno e se existir o adjunto do operador T : E → E, concluímos que T2 = 0, se T for simétrico. Por outro lado, se T for um operador anti-simétrico, então T1 = 0, resultado que complementa o Teorema 4.41. 4.4 Aplicações Descontínuas Como vimos, aplicações contínuas T : E → F entre espaços com produto interno são satisfatoriamente tratadas no contexto T : H1 → H2, em que H1,H2 são os completamentos dos espaços E e F, respectivamente. Nesse contexto, o Teorema de Representação de Riesz sempre garante a existência da adjunta T∗ : H2 → H1. (Veja também a Observação 4.16.) Por outro lado, já mostramos que aplicações descontínuas T : E → F nem sempre possuem adjunta T∗ : F → E. Para contornar essa situação, reduzimos os domínios das aplicações envolvidas, agora subespaços de espaços de Hilbert: Definição 4.46 Sejam H1,H2 espaços de Hilbert e T : D(T) → H2 uma aplicação linear definida no subespaço D(T) ⊂ H1. Definimos D(T∗) como o conjunto de todos os pontos y ∈ H2 tais que 〈Tx, y〉 = 〈x, uy〉 para algum uy ∈ H1 e todo x ∈ D(T). 18 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS É imediato que y = 0 ∈ D(T∗) (com u0 = 0) e que D(T∗) é um subespaço de H2. Observe que, dada uma aplicação T : E → F entre espaços com produto interno, sempre podemos considerar os completamentos H1,H2 de E e F, respectivamente, e considerar D(T) = E. Lema 4.47 Sejam H1,H2 espaços de Hilbert e T : D(T) → H2 uma aplicação linear definida no subespaço D(T) ⊂ H1. Para cada y ∈ D(T∗) está associado um único uy ∈ H1 se, e somente se, D(T) for denso em H1. Demonstração: Suponhamos que D(T) seja denso em H1 e que 〈x, u〉 = 〈Tx, y〉 = 〈x, u˜〉 para y ∈ D(T∗) e u, u˜ ∈ H2 e todo x ∈ D(T). Então 〈x, u− u˜〉 = 0. Isso quer dizer que u − u˜ ∈ [D(T)]⊥. Daí decorre que u − u˜ ∈ [D(T)]⊥ = H⊥1 = {0}, o que implica u = u˜. Por outro lado, se D(T) 6= H1, então existe 0 6= z ∈ [D(T)]⊥. Logo u + z 6= u e 〈Tx, y〉 = 〈x, u〉 = 〈x, u + z〉. 2 Definição 4.48 Sejam H1,H2 espaços de Hilbert e T : D(T) → H2 uma aplicação linear definida no subespaço denso D(T) ⊂ H1. Definimos a adjunta de T, T∗ : D(T∗) → H1 por T∗y = uy, em que uy é o único ponto em H1 tal que 〈Tx, y〉 = 〈x, uy〉 para todo x ∈ D(T). Assim, 〈Tx, y〉 = 〈x, T∗y〉, ∀ x ∈ D(T), ∀ y ∈ D(T∗). (4.8) Elucidamos as Definições 4.46 e 4.48 ao oferecermos um tratamento alternativo: o domínio D(T∗) pode ser entendido como o conjunto do pontos y tais que fy(x) = 〈Tx, y〉 é um funcional linear contínuo; como esse funcional está definido no subespaço denso D(T) ⊂ H1, ele possui uma extensão contínua f¯y : H1 → K. Pelo Teorema de Representação de Riesz, existe um único elemento uy ∈ H1 tal que f¯y(x) = 〈x, u〉. O operador T∗ é definido por T∗y = uy. Lema 4.49 A aplicação T∗ : D(T∗)→ H1 é linear. Demonstração: Claramente vale, para todos x ∈ D(T), y1, y2 ∈ D(T∗) e α ∈ K, 〈x, T∗(y1 + αy2)〉 = 〈Tx, y1 + αy2〉 = 〈Tx, y1〉+ α¯〈Tx, y2〉 = 〈x, T∗y1〉+ α¯〈x, T∗y2〉 = 〈x, T∗y1 + αT∗y2〉. A unicidadade de T∗(y1 + αy2) garante o afirmado. 2 Observação 4.50 Note que, diferentemente da demonstração do Lema 4.9, não podemos tomar x = T∗(y1 + αy2) − T∗y1 − αT∗y2 para concluir a linearidade de T∗, pois não sabemos se esse ponto pertence a D(T). ¢ Observação 4.51 Observe que a definição de T∗ introduz uma assimetria no comportamento de T e T∗: o domínio de T∗ é o maior conjunto de pontos y ∈ H2 tais que 〈Tx, y〉 = 〈x, T∗y〉 para todo x ∈ D(T). Mas, considerada a aplicação linear T∗ : D(T∗) → H1, podem existir pontos x ∈ H1 \ D(T) tais que 〈x, T∗y〉 = 〈v, y〉 para algum v ∈ H2. Como antes, a unicidade de v depende do domínioD(T∗) ser denso em H2. ¢ 4.4. APLICAÇÕES DESCONTÍNUAS 19 Definição 4.52 Sejam H1,H2 espaços de Hilbert, D(T),D(S) subespaços densos de H1. Dizemos que S é uma extensão de T, denotado T ⊂ S, se D(T) ⊂ D(S) e Tx = Sx para todo x ∈ D(T). Ao considerarmos a soma S+ T ou a composta UT de aplicações lineares, devemos ter em mente onde elas estão definidas. Por exemplo, o domínio de S + T é D(S) ∩ D(T), enquanto o domínio de UT é {x ∈ D(T) : Tx ∈ D(U)}. Proposição 4.53 SejamH1,H2,H3 espaços de Hilbert,D(T),D(S) subespaços densos deH1 e T : D(T)→ H2, S : D(S)→ H2 aplicações lineares. Então vale: (i) (αT)∗ = α¯T∗ e (T + αI)∗ = T∗ + α¯I para todo α ∈ K; (ii) T ⊂ S implica S∗ ⊂ T∗; (iii) T∗ + S∗ ⊂ (T + S)∗, com D(T + S) = D(T) ∩ D(S) e D(T∗ + S∗) = D(T∗) ∩ D(S∗); (iv) Se D(T∗) = H2, então T ⊂ (T∗)∗ = T∗∗. Se D(U) for um subespaço denso em H2 e U : D(U)→ H3 for linear, então (v) T∗U∗ ⊂ (UT)∗. Apesar de serem semelhantes, apresentaremos a prova de todos os itens desse resultado. Demonstração: Para x ∈ D(T), y ∈ D(T∗) e α ∈ K temos 〈αTx, y〉 = 〈x, α¯T∗y〉. A unicidade de (αT)∗ garante que (αT)∗ = α¯T∗. Além disso, 〈x, (T + αI)∗y〉 = 〈(T + αI)x, y〉 = 〈Tx, y〉 + 〈αIx, y〉 = 〈x, T∗y〉+ 〈x, α¯Iy〉 = 〈x, T∗y + α¯Iy〉, completando a prova de (i). Uma vez que 〈Sx, y〉 = 〈x, S∗y〉 para quaisquer x ∈ D(S) e y ∈ D(S∗), como S é uma extensão de T, vale 〈Tx, y〉 = 〈x, S∗y〉 para todo x ∈ D(T) e para todo y ∈ D(S∗). Isso implica que D(S∗) ⊂ D(T∗) e S∗y = T∗y para todo y ∈ D(S∗), mostrando (ii). Da mesma forma, como 〈T∗y, x〉 = 〈y, Tx〉 para quaisquer y ∈ D(T∗) e x ∈ D(T), temos que D(T) ⊂ D(T∗∗) e T∗∗x = Tx para todo x ∈ D(T), mostrando (iv). Para x ∈ D(T + S) = D(T) ∩D(S) e y ∈ D(T∗ + S∗) = D(T∗) ∩D(S∗), temos 〈(T + S)x, y〉 = 〈Tx, y〉+ 〈Sx, y〉 = 〈x, T∗y〉+ 〈x, S∗y〉 = 〈x, (T∗ + S∗)y〉. Isso quer dizer que y ∈ D((T + S)∗) e (T + S)∗y = T∗y + S∗y, mostrando (iii). Sejam x ∈ D(UT) e y ∈ D(T∗U∗). Como x ∈ D(T) e U∗y ∈ D(T∗), temos 〈Tx, U∗y〉 = 〈x, T∗U∗y〉. Mas também temos que Tx ∈ D(U) e y ∈ D(U∗), de modo que 〈UTx, y〉 = 〈Tx, U∗y〉. Assim, 〈UTx, y〉 = 〈x, T∗U∗y〉. Como essa igualdade vale para todo x ∈ D(UT), temos que y ∈ D((UT)∗) e (UT)∗y = T∗U∗y, provando (v). 2 Proposição 4.54 Sejam H1,H2 espaços de Hilbert e T : D(T) ⊂ H1 → H2 uma aplicação densamente definida e injetora. Se im T for denso em H2, então T∗ é injetor e (T∗)−1 = (T−1)∗. 20 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS Demonstração: Tome y ∈ D(T∗) e x ∈ D(T−1). Então T−1x ∈ D(T) e 〈T−1x, T∗y〉 = 〈TT−1x, y〉 = 〈x, y〉. A Definição 4.48 garante então que T∗y ∈ D((T−1)∗) e (T−1)∗T∗y = (TT−1)∗y = y. (4.9) Tome então y ∈ D((T−1)∗) e x ∈ D(T). Então Tx ∈ D(T−1) e〈 Tx, ( T−1 )∗y〉 = 〈T−1Tx, y〉 = 〈x, y〉, de onde decorre que (T−1)∗y ∈ D(T∗) e T∗ ( T−1 )∗y = (T−1T)∗y = y. (4.10) O resultado é, então, consequência de (4.9) e (4.10). 2 Se a aplicação T : H1 → H2 estiver definida em todo o espaçoH1, então sua adjunta é sempre contínua (compare com o Teorema 4.18): Teorema 4.55 Sejam H1,H2 espaços de Hilbert. Se a aplicação T : H1 → H2 estiver definida em todo o espaço H1, então T∗ : D(T∗) ⊂ H2 → H1 é contínua. Demonstração: Se T∗ não fosse limitada, existiria uma seqüência (yn) ⊂ D(T∗), com ‖yn‖ = 1, tal que lim n→∞ ‖T ∗yn‖ = ∞. Mas |〈x, T∗yn〉| = |〈Tx, yn〉| ≤ ‖Tx‖, implica que a seqüência (〈x, T∗yn〉) é limitada. Pelo Princípio daLimitação Uniforme (Teorema ??), teríamos (‖T∗yn‖) limitada, o que estabelece uma contradição. 2 Considerando D(T∗) = E, a demonstração do Teorema 4.55 é a mesma daquela do Teorema 4.18, mas agora não estamos supondo a existência de T∗. Note, contudo, que não podemos concluir que T é contínua (o que foi obtido, naquele caso, no Corolário 4.19). Lá, tínhamos que T : H → E e tínhamos a unicidade da adjunta. Aqui, não podemos garantir que im T ⊂ D(T∗). Teorema 4.56 Seja T : H1 → H2. Suponhamos que D(T∗) = H2. Então T é limitado. Demonstração: Aplicando o Teorema 4.55 a T∗ : H2 → H1, concluímos que T∗∗ é limitado. Do item (iv) da Proposição 4.53 temos T ⊂ T∗∗. Mas D(T∗∗) = H1 = D(T), de modo que T∗∗ = T, provando que T é contínua. 2 Definição 4.57 Seja H um espaço de Hilbert. O operador densamente definido T : D(T) ⊂ H → H é (i) auto-adjunto, se T = T∗, isto é, D(T) = D(T∗) e Tx = T∗x ∀ x ∈ D(T). (ii) simétrico, se 〈Tx, y〉 = 〈x, Ty〉 ∀ x, y ∈ D(T). 4.4. APLICAÇÕES DESCONTÍNUAS 21 Pode ocorrer que T possua um adjunto T∗ tal que T(x) = T∗(x) para todo x ∈ D(T) ∩ D(T∗), mas D(T) 6= D(T∗) e, portanto, T não é auto-adjunto. É o que veremos no próximo exemplo: Exemplo 4.58 Existem operadores simétricos que não são auto-adjuntos. De fato, consideremos o operador diferencial D = i(d/dt), com o domínio de D definido por D(D) = { f : [a, b]→ C : f ∈ C1, f (a) = f (b) = 0 } . É claro que D(D) é um subespaço de L2 = L2([a, b],C). Decorre do Teorema ?? que esse subespaço é denso em L2. Assim, D é um operador densamente definido. Se f , g ∈ D(D), então temos 〈D f , g〉 − 〈 f , Dg〉 = ∫ b a i f ′(t)g(t)dt− ∫ b a f (t)ig′(t)dt = i ∫ b a d dt ( f (t)g¯(t) ) dt = i f (t)g(t) ∣∣∣t=b t=a = 0, mostrando que D é um operador linear simétrico. Contudo, a igualdade anterior mostra que 〈D f , g〉 = 〈 f , Dg〉 mesmo que a função g não satisfaça g(a) = g(b) = 0. Quer dizer,{ g : [a, b]→ C : g ∈ C1 } ⊂ D(D∗), Em textos mais avançados determina-se do domínio do operador D∗. Veja, por exemplo, [?]. ¢ Proposição 4.59 Seja H um espaço de Hilbert. O operador densamente definido T : D(T) ⊂ H → H é simétrico se, e somente se, T ⊂ T∗. Se T for simétrico e D(T) = H, então T é auto-adjunto e contínuo. Demonstração: Se T ⊂ T∗, decorre de (4.8) que 〈Tx, y〉 = 〈x, Ty〉 para todos x, y ∈ D(T), mostrando que T é simétrico. Se T for simétrico, temos T ⊂ T∗ por definição. Se T ⊂ T∗ e D(T) = H, então D(T∗) = H, mostrando que T = T∗. Assim, o Teorema 4.56 garante que T é contínuo. 2 Assim, todo operador T : H → H simétrico é contínuo, resultado que é conhecido como Teorema de Hellinger-Töplitz.. Esse resultado não é válido se o espaço com produto interno E não for completo, como mostra o seguinte exemplo: Exemplo 4.60 Seja `0 o subespaço de `2 formado por todas as seqüências (xk) tais que xk = 0, exceto talvez para um número finito de índices k. Definimos T : `0 → `0 por Tx = T(xk) = (kxk). Claramente 〈Tx, y〉 = ∑ k∈N kxkyk = ∑ k∈N xkkyk = 〈x, Ty〉. Como Ten = nen para todo n ∈ N, vemos que T não é limitado. ¢ 22 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS 4.5 O Teorema do Gráfico Fechado A importância de alguns exemplos envolvendo aplicações lineares descontínuas motiva a procura de alguma propriedade que possa substituir a continuidade, ainda que em um sentido mais fraco, e que seja satisfeita por uma grande classe de tais aplicações. O estudo de propriedades de aplicações fechadas será aqui apenas introduzido. Para um tratamento mais extenso veja, por exemplo, Brezis [?]. Definição 4.61 Sejam E, F espaços normados e D ⊂ E um subespaço. Uma aplicação linear T : D → F é fechada, se xn → x e Txn → y ⇒ x ∈ D e Tx = y. Sejam H1,H2 espaços de Hilbert. Vamos provar que todo operador fechado T : H1 → H2 definido em todo espaço H1 é contínuo (veja o Teorema do Gráfico Fechado 4.72). Como consequência, o domínio de uma aplicação descontínua T : D(T) ⊂ H1 → H2 não pode ser fechado. Proposição 4.62 Sejam F um espaço de Banach e T : D ⊂ E → F uma aplicação linear contínua. Então T é fechada se, e somente se, D = D¯, isto é, se D for um subespaço fechado. Demonstração: Suponhamos D fechado. Se xn → x e Txn → y, então (xn) ⊂ D. Como D é fechado, x ∈ D. Como T é contínua, Txn → Tx, mostrando que T é fechada. Se D não for fechado, existe uma seqüência (xn) em D tal que xn → x e x 6∈ D. A seqüência (xn) é de Cauchy, pois é convergente. Como ‖Txn − Txm‖ ≤ ‖T‖ ‖xn − xm‖, (Txn) é de Cauchy no espaço completo F. Logo, existe y ∈ F tal que Txn → y. Mostramos, assim, que T não é fechada. 2 Exemplo 4.63 Sejam E o espaço C ( [0, 1],R ) com a norma do sup e D = C1 ( [0, 1],R ) ⊂ E. Consideremos o operador linear T : D ⊂ E → E definido por T f = f ′. Tomando a seqüência hn(t) = tn, vemos que Thn = ntn−1, de modo que ‖Thn‖sup = n, pois ‖hn‖sup = 1 para todo n ∈ N. Assim, T não é contínuo. Mas T é fechado. De fato, suponhamos que fn → f e T fn → g. Decorre do Teorema Fundamental do Cálculo e da convergência uniforme que a função f é diferenciável e que f ′ = g.6 ¢ Exemplo 4.64 Consideremos o subespaço `0 ⊂ `2 de todas as seqüência (xi) com xi = 0 exceto talvez para um número finito de índices (veja os Exemplos ?? e ??). Defina a aplicação linear descontínua T : `0 → `0 por Tej = jej, em que ej é a seqüência com todas as coordenadas nula, exceto a j-ésima, que é igual a 1. Afirmamos que T não é fechada. De fato, considere a seqüência x1 = ( 1 12 , 0, . . . ) , x2 = ( 1 12 , 1 22 , 0, . . . ) , . . . , xn = ( 1 12 , 1 22 , . . . , 1 n2 , 0, . . . ) . 6Veja [?], Teorema 7, p. 302. 4.5. O TEOREMA DO GRÁFICO FECHADO 23 Então xn → x = ( 1 12 , . . . , 1 n2 , 1 (n + 1)2 , . . . ) ∈ `2 e Txn → y = ( 1 1 , . . . , 1 n , 1 n + 1 , . . . ) ∈ `2. Como x 6∈ `0, T não é fechada. ¢ Proposição 4.65 Sejam E, F espaços normados e D ⊂ E um subespaço. Se a aplicação T : D → F for fechada e injetora, então T−1 : im T ⊂ F → D também é fechada. Demonstração: A linearidade de T garante a linearidade de T−1 : im T → D. Consideremos uma seqüência (yn) em im T tal que yn → y e T−1yn → x. Defina xn = T−1yn. Logo, xn → x e yn = Txn → y. Uma vez que T é fechada, temos x ∈ D e Tx = y. Isso garante que y ∈ im T e x = T−1y. Mostramos que T−1 é fechada. 2 No próximo resultado, a existência de T∗ é garantida pela Definição 4.48: Proposição 4.66 Sejam H1,H2 espaços de Hilbert e T : D(T) ⊂ H1 → H2 uma aplicação linear, comD(T) denso emH1. Então T∗ é fechada. Em particular, toda aplicação auto-adjunta é fechada. Demonstração: Denotando por D(T∗) ⊂ H2 o domínio da aplicação linear T∗ : D(T∗)→ H1, seja yn ∈ D(T∗) com yn → y e T∗yn → u. Então, para todo x ∈ D(T) vale 〈Tx, y〉 = lim n→∞〈Tx, yn〉 = limn→∞〈x, T ∗yn〉 = 〈x, u〉. Daí decorre y ∈ D(T∗) e u = T∗y. 2 Uma vez que a restrição a um subespaço de uma aplicação fechada pode não ser uma aplicação fechada, no resultado anterior não podemos substituir a hipótese de T ser auto-adjunta por T ser simétrica. Para E, F espaços com produto interno, 〈(x, y), (x¯, y¯)〉E×F = 〈x, x¯〉+ 〈y, y¯〉 define um produto interno em E× F. Se E, F forem espaços de Hilbert, então E× F é um espaço de Hilbert. Se E, F forem espaços normados, consideraremos em E × F a topologia gerada pela norma ‖ · ‖s (veja o Exemplo ??). Note que a topologia gerada por 〈·, ·〉H1×H2 coincide com a topologia gerada pela norma ‖ · ‖s. Na sequência, ao considerarmos o produto cartesiano E× F, associaremos sempre essa topologia. Agora apresentamos uma caracterização de uma aplicação fechada: Definição 4.67 E, F espaços normados e D ⊂ E um subespaço. Definimos o gráfico de uma aplicação T : D → F por Gr T = { (x, y) ∈ D× F : y = Tx}. Proposição 4.68 Sejam E, F espaços normados e D ⊂ E um subespaço. Então uma aplicaçãoT : D → F é fechada se, e somente se, Gr T for um subconjunto fechado em E× F. 24 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS Demonstração: Suponhamos que T seja fechada. Seja (x, y) ∈ Gr T. Por definição, existe (xn, Txn) ∈ Gr T tal que (xn, Txn) → (x, y). Isso quer dizer que xn → x e Txn → y. Como T é fechada, x ∈ D e Tx = y, mostrando que (x, y) ∈ Gr T. Reciprocamente, suponhamos que Gr T seja fechado. Se tomarmos xn ∈ D tal que xn → x e Txn → y, então (xn, Txn) → (x, y). Como Gr T é fechado, temos que (x, y) ∈ Gr T. Isso quer dizer que x ∈ D e Tx = y, mostrando que T é fechada. 2 A demonstração do próximo resultado é imediata: Lema 4.69 Sejam E, F espaços normados. Definimos as aplicações V1 : E × F → F × E (x , y) 7→ (y , −x) V2 : F × E → E × F (y , x) 7→ (x , −y). Então V1 e V2 são isometrias lineares bijetoras e V2V1 = −I : E× F → E× F, enquanto V1V2 = −I : F× E → F× E. Teorema 4.70 Sejam H1,H2 espaços de Hilbert, T : D(T) → H2 linear, com D(T) um subespaço denso de H1. Então Gr T∗ = ( V1Gr T )⊥ e H2 ×H1 = V1Gr T ⊕Gr T∗, com soma direta ortogonal. Além disso, Gr T = (V2Gr T∗)⊥. Demonstração: Temos, para x ∈ D(T) e y0 ∈ D(T∗), (y0, T∗y0) ∈ Gr T∗ ⇔ 〈Tx, y0〉 = 〈x, T∗y0〉 ⇔ 〈x, T∗y0〉+ 〈Tx,−y0〉 = 0 ⇔ 〈(x, Tx), (T∗y0,−y0)〉H1×H2 = 0 ⇔ 〈V1(x, Tx), V1(T∗y0,−y0)〉H1×H2 = 0 ⇔ (y0, T∗y0) ⊥ V1Gr T ⇔ (y0, T∗y0) ⊥ V1Gr T = V1Gr T ⇔ (y0, T∗y0) ∈ (V1Gr T)⊥, mostrando que H2 ×H1 = V1Gr T ⊕ Gr T∗. Note que V1 ser uma isometria garante que 〈V1(x, Tx), V1(u0,−y0)〉H1×H2 = 〈(x, Tx), (u0,−y0)〉H1×H2 . Decorre do Lema 4.22 que Gr T∗ = (V1Gr T)⊥. Assim, se (x, u) ∈ Gr T e (y, T∗y) ∈ Gr T∗, então 〈V1(x, u), (y, T∗y)〉 = 0 ⇔ 〈V2V1(x, u), V2(y, T∗y)〉 = 0, pois V2 é uma isometria. Daí decorre que (x, u) ⊥ V2Gr T∗, ou seja, Gr T = (V2Gr T∗)⊥. 2 Teorema 4.71 Sejam H1,H2 espaços de Hilbert e T : D(T) → H2 uma aplicação linear, com D(T) denso em H1. Então T é fechada se, e somente se, D(T∗) = H2 e T∗∗ = T. 4.6. O TEOREMA DA APLICAÇÃO ABERTA 25 Demonstração: Se D(T∗) = H2, a Proposição 4.66 garante que T∗∗ é fechada. Como T∗∗ = T, mostramos uma das implicações. Se T for fechada, então Gr T = Gr T e Gr T = (V2Gr T∗)⊥, de acordo com a Proposição 4.68 e o Teorema 4.70. Suponhamos que D(T∗) 6= H2. Então existiria 0 6= y ⊥ D(T∗). Em particular, (y, 0) ⊥ Gr T∗ e, portanto, V2(y, 0) ⊥ Gr T∗, ou seja, (0,−y) ∈ V2Gr T∗ = Gr T. Assim, teríamos T0 = −y, absurdo. Para completar a prova, mostraremos que T∗∗ = T. De fato, decorre do Teorema 4.70 aplicado a T∗ que Gr T∗∗ = (V2Gr T∗)⊥ = V2Gr T∗, pois a Proposição 4.66 garante que T∗ é fechada. Uma nova aplicação do Teorema 4.70 implica que Gr T∗∗ = Gr T, o que significa T = T∗∗. 2 Teorema 4.72 (do Gráfico Fechado) Sejam H1,H2 espaços de Hilbert e T : H1 → H2 linear e fechada. Então T é limitada. Demonstração: De acordo com o Teorema 4.55, a aplicação T∗ : D(T∗) → H1 é contínua. Mas, pela Proposição 4.66, T∗ também é fechada. Uma vez que o Teorema 4.71 garante queD(T∗) é denso emH2 e a Proposição 4.62 garante queD(T∗) é fechado, concluímos que D(T∗) = H2. Uma nova aplicação do Teorema 4.55 garante que T∗∗ é contínua. Mas, pelo Teorema 4.71, T∗∗ = T. Assim, T é contínua. 2 O Teorema do Gráfico Fechado pode ser estendido para aplicações lineares fechadas entre espaços de Banach. 4.6 O Teorema da Aplicação Aberta O Teorema do Gráfico Fechado, visto na seção anterior, nos diz que uma aplicação linear é contínua se, e somente se seu gráfico for fechado. Esse é um fato peculiar das aplicações lineares. Definitivamente o gráfico ser fechado não é condição suficiente para continuidade de uma função em geral. Basta olhar para a função real f (x) = 1/x. Definição 4.73 Sejam X, Y espaços normados. Uma aplicação f : X → Y é aberta se f (V) ⊂ F for um aberto, para todo V ⊂ E aberto. Veremos agora um outro fato bastante surpreendente sobre aplicações lineares. Suponha uma transformação linear T : X → Y entre espaços de Banach. Observamos que, se a aplicação T for aberta, então necessariamente T será sobrejetora. Este fato é conseqüência da preservação da homotetia por parte de uma transformação linear. Vejamos: a imagem T(Br(0)) é um aberto de Y que contém a origem, pois T(0) = 0. Logo, existe e > 0 tal que Be(0) ⊂ T(Br(0)). Daí decorre facilmente que a aplicação T é sobrejetora.7 Assim, a pergunta que se impõe é: uma aplicação linear sobrejetora é necessariamente aberta? Certamente vamos impor a continuidade de T, visto que há exemplos de bijeções lineares que não são contínuas. Esta pergunta tem resposta afirmativa e o resultado decorre do Teorema do Gráfico Fechado. Na verdade são resultados equivalentes, ou seja, um pode ser demonstrado a partir do outro e vice-versa. Aqui usaremos o Gráfico Fechado, visto na seção anterior, para demonstrar que uma aplicação linear contínua sobrejetora entre espaços de Hilbert é necessariamente aberta. 7Veja o Exercício 35. 26 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS Teorema 4.74 (da Aplicação Aberta) Sejam H1,H2 espaços de Hilbert e T : H1 → H2 uma aplicação linear contínua e sobrejetora. Então T é aberta. Demonstração: Seja N = ker T. Sabemos que o espaçoH1 se decompõe em soma direta H1 = N ⊕ M, em que M = N⊥. Defina S : M → H2 como sendo a restrição de T ao subespaço M. É fácil verificar que S é uma bijeção (linear) entre os espaços de Hilbert M e H2. E S é contínua, como restrição de uma aplicação contínua. Assim, o gráfico da aplicação inversa S−1 é fechado, visto que o gráfico de uma função e o gráfico de sua inversa coincidem. Decorre do Teorema do Gráfico Fechado que a inversa S−1 é uma aplicação contínua, o que significa que a aplicação S é aberta, ou seja, S leva conjuntos abertos de M em conjuntos abertos de H2. Veremos agora que decorre desse resultado que a aplicação T também é aberta. Para isso seja V um aberto de H1 = N ⊕ M. Devemos verificar que T(V) é aberto em H2. Seja T(z0) um ponto arbitrário de T(V), em que z0 = x0 + y0 ∈ V, com x0 ∈ N e y0 ∈ M. Mostraremos que T(z0) = T(y0) = S(y0) é um ponto interior de T(V). Tome r > 0 tal que Br(z0) ⊂ V. Existe um e > 0, suficientemente pequeno (e dependendo de r), tal que BNe (x0) + BMe (y0) ⊂ Br(z0). Aqui estamos denotando por BNe (x0) e BMe (y0) as bolas abertas de raio e, com centro x0 e contida em N e com centro y0 e contida em M, respectivamente. Temos: T(z0) ∈ T ( BNe (x0) + B M e (y0) ) ⊂ T(Br(z0)) ⊂ T(V). Mas, como BNe (x0) ⊂ N = ker T, temos T(z0) ∈ T ( BNe (x0) + B M e (y0) ) = T ( BMe (y0) ) ⊂ T(Br(z0)) ⊂ T(V). Assim, T(z0) ∈ T ( BMe (y0) ) = S ( BMe (y0) ) ⊂ T(V). Como S é uma aplicação aberta, temos o resultado. 2 Como corolário imediato temos o importante resultado: uma bijeção linear contínua entre espaços de Hilbert tem inversa contínua, ou seja, toda bijeção linear contínua é um homeomorfismo linear. Corolário 4.75 Uma bijeção T : H1 → H2 contínua sempre possui inversa contínua. O Teorema da Aplicação Aberta pode ser estendido para espaços de Banach. 4.7 Exercícios Denotaremos por H um espaço de Hilbert. Se você não tiver estudado bases não enumeráveis em espaços de Hilbert, considere que elas são enumeráveis. 1. Sejam S = {xα : α ∈ A} uma base de H e X um espaço normado. Suponha que as aplicações lineares contínuas S, T : H → X satisfaçam Sxα = Txα para todo α ∈ A. Mostre que S = T. 4.7. EXERCÍCIOS 27 2. Seja H um espaço de Hilbert complexo, com base ortonormal {eα : α ∈ A} e M = {zα ∈ C : α ∈ A} tal que Γ := supα∈A |zα| < ∞. Mostre que existe apenas uma aplicação linear contínua V : H → H tal que Veα = zαeα, ∀ α ∈ A. Mostre que (a) V (∑α∈A xαeα) = ∑α∈A xαzαeα e ‖V‖ = Γ; (b) V∗eα = zαeα; (c) V∗ (∑α∈A xαeα) = ∑α∈A xαzαeα; (d) V∗V = VV∗. 3. Seja H∗ o dual do espaço de Hilbert H. Dado x ∈ H, mostre que ‖x‖ = sup ‖x∗‖=1,x∗∈H∗ |x∗(x)‖ = sup ‖y‖=1 |〈x, y〉. 4. Sejam S, T : H → H operadores lineares tais queS∗S + T∗T = 0, o operador identicamente nulo. Mostre que S = 0 = T. 5. Seja {en : n ∈ Z} uma base de espaço H. Mostre que existe um único operador limitado T : H → H tal que Ten = en+1 para todo n ∈ Z. Mostre que T é isométrico e unitário. 6. Considere o Exemplo 4.3 e a aplicação linear U : `0 → `0. Verifique que, para quaisquer x, y ∈ `0, vale 〈Ux, y〉 = 〈x, Uy〉, de modo que U∗ = U. 7. No Exemplo 4.4, mostre que (a) Se T : H → H for contínua e {eα} uma base (não enumerável) de H, então T ( ∑ α xα eα ) = ∑ α xα Teα. (b) Mostre que o operador S definido naquele exemplo não é contínuo; (c) Mostre que S ( ∞ ∑ i=1 xiei ) 6= ∞ ∑ i=1 xi Sei. 8. Sejam H um espaço de Hilbert e U, V : H → H aplicações lineares contínuas tais que U∗U +V∗V = 0. Mostre que U = V = 0 9. No Exemplo 4.20, mostre que D f ∈ E e que D não é contínuo. 10. Sejam E = ( C1 [ 0, 1],R ) , ‖ · ‖∞ ) e F = ( C [ 0, 1],R ) , ‖ · ‖∞ ) . Considere o operador D : E → F definido por D f = f ′. Para f ∈ E, defina fn(x) = f (x) + e−nxn . Mostre que fn → f em E, mas D fn 6→ D f em F. 11. Seja T : H → H um operador simétrico tal que ‖T‖ < 1. Mostre que 〈(I − T)x, x〉 ≥ (1− ‖T‖)‖x‖2 para todo x ∈ H. 28 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS 12. Seja T : H1 → H2 uma isometria entre os espaços de HilbertH1 eH2. Mostre que imT ⊂ H2 é um subespaço fechado. 13. Mostre que o domínio D(T) de uma aplicação descontínua T : D(T) ⊂ H1 → H2 entre os espaços de Hilbert H1,H2 não pode ser fechado. 14. Sejam E, F espaços com produto interno e T : E → F uma aplicação linear fechada. Mostre que, se K ⊂ E for um conjunto compacto, então T(K) ⊂ F é um conjunto fechado. O mesmo resultado vale se K for apenas fechado? 15. Sejam E, F espaços com produto interno e T : E → F uma aplicação linear fechada. Mostre que, se K ⊂ F for um conjunto compacto, então a imagem inversa T−1(K) é um subconjunto fechado de E Definição 4.76 Seja V um espaço vetorial. Um operador linear P : V → V é uma projeção se P2 = P. 16. Mostre que, se P : V → V for uma projeção, então V = ker P⊕ im P. 17. Se M, N forem subespaços de V tais que V = M ⊕ N, mostre que existe uma projeção P : V → V tal que ker P = M e imP = N. Definição 4.77 Seja H um espaço de Hilbert. Uma projeção ortogonal é um operador linear Π : H → H tal que Π2 = Π e 〈Px, y〉 = 〈x, Py〉 ∀ x ∈ H. 18. Se Π : H → H for uma projeção linear e Π 6= 0, então ‖Π‖ = 1. Existe uma correspondência bijetora entre projeções ortogonais Π e subespaços fechados M ⊂ H, com imΠ = N. O núcleo de Π é N⊥. 19. Se Π : H → H for uma projeção ortogonal, então imΠ é fechado e vale a decomposição ortogonal H = ker Π⊕ imΠ. 20. Seja N um subespaço fechado de H. Mostre que existe uma projeção ortogonal Π : H → H tal que imΠ = N e ker Π = N⊥. 21. Sejam Π1, Π2 : H → H projeções ortogonais sobre os subespaços F e G, respec- tivamente. As seguintes afirmações são equivalentes: (a) Π1Π2 = Π2Π1; (b) Π1Π2 é uma projeção ortogonal; (c) Π2Π1 é uma projeção ortogonal. Mostre, então, que se Π1Π2 for uma projeção ortogonal, então imΠ1Π2 = imΠ1 ∩ imΠ2. 22. Sejam Π1 : H → imΠ1 = M e Π2 : H → imΠ2 = N projeções ortogonais. Mostre que as seguintes afirmações são equivalentes: 4.7. EXERCÍCIOS 29 (a) M ⊥ N; (b) Π1(N) = {0}; (c) Π2(M) = {0}; (d) Π1Π2 = 0; (e) Π2Π1 = 0; (f) Π1 + Π2 é uma projeção ortogonal. Nesse caso, Π1 + Π2 é uma projeção sobre M + N. 23. Sejam Π1 : H → imΠ1 = M e Π2 : H → imΠ2 = N projeções ortogonais. Mostre que as seguintes afirmações são equivalentes: (a) M ⊂ N; (b) Π2Π1 = Π1; (c) Π1Π2 = Π1; (d) ‖Π1x‖ ≤ ‖Π2x‖ para todo x ∈ H; (e) 〈(Π1 −Π1)x, x〉 ≥ 0 para todo x ∈ H; (f) Π2 −Π1 é uma projeção ortogonal. Nesse caso, Π2 −Π1 é uma projeção ortogonal sobre N \ M = N ∩ M⊥. Definição 4.78 Seja M ⊂ H um subespaço fechado. O subespaço M reduz o operador contínuo T : H → H, se M e M⊥ forem invariantes por T, isto é, T(M) ⊂ M e T(M⊥) ⊂ M⊥. 24. Suponhamos que o subespaço M ⊂ H reduza o operador contínuo T : H → H. Sejam Π1 : H → M e Π2 : H → M⊥ as projeções ortogonais nos espaços M e M⊥, respectivamente. Denotando T1 = TΠ1 e T2 = TΠ2, mostre que T = T1 + T2. 25. Sejam M ⊂ H um subespaço fechado e T : H → H um operador contínuo. Mostre que as seguintes afirmativas são equivalentes: (a) M reduz T; (b) M⊥ reduz T; (c) M reduz T∗; (d) M é invariante por T e T∗; (e) Π1T = TΠ1, em que Π1 : H → M é a projeção ortogonal sobre M. 26. Mostre que, se M ⊂ H for um subespaço fechado que reduz o operador contínuo T : H → H, então a restrição T|M : M → H satisfaz (T|M)∗ = T∗|M. Mostre que, se T for normal, então T|M é normal. Mostre que se T for simétrico, então T|M é simétrico. 27. Seja T : H → H um operador contínuo. Mostre que T(H) é invariante por T. 28. Sejam H espaço de Hilbert e M : H → H uma isometria linear. Dê uma interpretação para MM∗. 30 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS 29. Sejam E, F espaços normados e T : D ⊂ E → F uma aplicação linear. Mostre que o gráfico de T é fechado se, e somente se, xn → 0 em D e Txn → w em F implicam w = 0. 30. Demonstre o Teorema de Hellinger-Töplitz (veja a Proposição 4.59) aplicando o Teorema do Gráfico Fechado. 31. Nesse exercício vamos apresentar uma demonstração alternativa de que a inversa de uma bijeção linear T : H → H é necessariamente contínua (Corolário 4.75). Seja T : H → H um operador contínuo e não nulo. (i) Aplicando os Corolários ?? e 4.26, mostre que o operador T−1 : H → H existe e é contínuo se, e somente se, T∗ for injetor e existir κ > 0 tal que ‖Tx‖ ≥ κ‖x‖ para todo x ∈ H; (ii) Se T for sobrejetor, existe κ > 0 tal que ‖T∗x‖ ≥ κ‖x‖ para todo x ∈ H; (iii) Se T : H → H for uma bijeção, então T−1 é contínuo. 32. Sejam S, T : E → E dois operadores simétricos no espaço com produto interno E. Mostre que ST é simétrico se, e somente se, ST = TS. 33. Seja T : D(T) ⊂ H → H um operador densamente definido, auto-adjunto e injetor. Mostre que D(T−1) = H e que T−1 é auto-adjunto. 34. Seja T : H → H um operador linear simétrico. Aplicando o Teorema do Gráfico Fechado, mostre que T é contínuo. (Veja a Proposição 4.59.) 35. Sejam X, Y espaços de Banach. Demonstre que toda aplicação linear T : X → Y aberta é sobrejetora. 36. Sejam V um espaço vetorial e N um subespaço. Defina em V a relação x ∼ y se, e somente se, x− y ∈ N. (a) Mostre que ∼ é uma relação de equivalência em V ; (b) Mostre que o conjunto das classes de equivalências [x] = {v ∈ V : v ∼ x} constitui um espaço vetorial, denotado por V/N, com a soma definida por [x] + [y] = [x + y] e a multiplicação por escalar definida por λ[x] = [λx]; (A classe de equivalência [x], muitas vezes, é representada por x + N.) (c) Suponha que V seja um espaço normado. Defina em V/N a função ‖ · ‖ por∥∥[x]∥∥ = infz∈N ‖x− z‖. Mostre que ‖ · ‖ é uma norma em V/N se, e somente se, N for um subespaço fechado em V . (d) Suponha que V seja normado e que N seja fechado. Mostre que V/N será um espaço de Banach se V for completo. Dê um exemplo mostrando que a recíproca é falsa. 37. Seja 0 6= v um elemento do espaço vetorial V . Mostre que V/ < v > é isomorfo a um subespaço de codimensão 1. 4.7. EXERCÍCIOS 31 38. Sejam X um espaço normado e N ⊂ X um subespaço fechado. Mostre que a aplicação pi : X → X/N definida por pi(x) = [x] é contínua e aberta, isto é, leva conjuntos abertos de X em conjuntos aberto de X/N. 39. Sejam X e Y espaços normados. Considere uma aplicação linear contínua T : X → Y. Suponha que T seja sobrejetora e denote por N o núcleo da aplicação T. Defina então a aplicação S : X/N → Y por S([x]) = T(x). Mostre que S está bem definida e é uma bijeção linear contínua. 40. Suponha, no Exercício 39, que os espaços X e Y sejam completos. Mostre que o gráfico de S−1 : Y → X/N é fechado no espaço produto X/N. (Sugestão: S é umaaplicação contínua, logo seu gráfico é fechado). Suponha verdadeiro o teorema do gráfico fechado para aplicações entre espaços de Banach e conclua daí que T é uma aplicação aberta.) 41. Considere o teorema da aplicação aberta verdadeiro para aplicações entre espaços de Banach. A partir dessa hipótese demonstre o teorema do gráfico fechado. (Sugestão: defina o operador G(x) = (x, T(x)); mostre que a imagem de G é um subespaço fechado no espaço produto pertinente; use agora o teorema da aplicação aberta para a função G e conclua que T é uma aplicação contínua.) 42. Seja H um espaço de Hilbert. Se M ⊂ H for um subespaço fechado, mostre que H/M será linearmente homeomorfo a M⊥. 43. Seja V um espaço vetorial. Suponha que V seja a soma direta dos subespaços U e W. Mostre que V/U é linearmente isomorfo a W. Se V for um espaço de Banach, mostre que teremos um homeomorfismo linear. 44. Sejam E = { (x, y) ∈ R2} e N = {(x, 0)}. Defina Π : E → N por Π(x, y) = y. Mostre que E/N é linearmente homeomorfo a Π(E) = N. 45. Seja T : C→ C uma aplicação linear. Mostre que, necessariamente, T(z) = λz para alguma constante complexa λ. Evidentemente T pode ser vista como uma aplicação linear real de R2 para R2. Mostre que uma aplicação linear T : R2 → R2 pode ser vista como uma aplicação linear T : C→ C se, e somente se, sua matriz com relação à base canônica do R2 for da forma( a −b b a ) , em que a e b são números reais. Demonstre, a partir desse fato, as relações de Cauchy-Riemann com relação à diferenciabilidade complexa. em que a e b são números reais. Demonstre a partir deste fato as condições de Cauchy-Riemann com relação à diferenciabilidade complexa. 46. Seja T : X → Y uma aplicação linear entre os espaços normados X e Y. Suponha que dim im T < ∞. Mostre que T é contínua se, e somente se, ker T for fechado em E. Dê um contra exemplo mostrando que esse resultado é falso sem a hipótese dim im T < ∞. 32 CAPÍTULO 4. APLICAÇÕES LINEARES E ADJUNTAS 47. Sejam X, Y espaços de Banach e T : X → Y uma aplicação linear sobrejetora. Supondo válido o Teorema da Aplicação Aberta para espaços de Banach, mostre que existe c > 0 tal que ‖x‖ ≤ c‖Tx‖ para todo x ∈ X. (Compare com o Corolário ?? do Capítulo ??.) 48. Sejam Y, Z subespaços fechados do espaço de Banach X. Suponha que Y + Z seja fechado. Mostre que existe c > 0 tal que, para todo x = y + z ∈ Y + Z, vale ‖y‖ ≤ c‖x‖ e ‖z‖ ≤ c‖x‖. Sugestão: Considere o espaço cartesiano Y × Z dotado da norma ‖(y, z)‖ = ‖y‖+ ‖z‖ e defina a aplicação linear T : Y× Z → Y + Z ⊂ X por T(y, z) = y + z e aplique o Exercício 47. Apêndices ÍNDICE REMISSIVO adjunta, 4, 18 aplicação aberta, 25 aplicação linear adjunta, 4 adjunta de uma, 18 nula, 1 espaço invariante, 10 Hilbert-Schmidt operador de, 4, 14 identidade de polarização, 13 operador anti-hermitiano, 11 anti-simétrico, 11 de Hilbert-Schimidt, 4 de Hilbert-Schmidt, 14 de multiplicação, 14 hermitiano, 11 identidade, 1 integral, 3, 14 núcleo de um, 4 normal, 11 ortogonal, 11 projeção, 28 ortogonal, 28 simétrico, 11 unitário, 11 projeção, 28 ortogonal, 28 subespaço invariante, 10 teorema da aplicação aberta, 26 de Hellinger-Töplitz, 21 do gráfico fechado, 25 35
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