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I 1. teono república tem mais de um significado. No seu sentido mais amplo, denota comunidade polí tica organizada. Tem como cor respondente, em grego, politéia - origem da palavra inglesa poli/y; Iam bém vertida em latim por cívitas, que, em inglês, Hobbes traduziu por commonwealth. Na terminologia das lín guas neolatinas, corresponde, grosso modo, ao atual conceito de Estado, de uso corrente a partir de Maquiavel que, semanticamente, Lransformou a situação - o status (de onde provém a palavra estado) rei publicae, em condição de uma comunidade política, assinalada pelos requisitos da existência de um povo, de um governo e de um território. A comunidade política, enquanto organização do governo de vida coletiva de um povo num território, tem, historicamente, várias modalidades ÚfwMJ HisllHicOJ, Mio de Janeiro, .. 0J. 2. n. 4, 1989, P. 214 ·22A. o Significado de República Celso Lafer possíveis. O estudo dessas modalidades e a sua avaliação é um dos temas recorrentes da teoria política, que as examina sob a rubrica de foonas de governo, e é neste contexto que o teono república passa a ter uma especificidade conceiwal que vou buscar explorar, com remissões à experiência brasileira, neste trabalho.' 2, Cabe registrar preliminarmente que, nos últimos 60 ou 70 anos, o desapareci mento generalizado dos governos mo nárquicos tomou a distinção entre mo· narquia e república uma classificação pouco abrangeme da realidade política. Entrelanto, até o século XIX, República, como foona de governo, contrapõe-se a Monarquia, e foi assim que em nosso país, no século passado, a propaganda republicana contestou a legitimidade do poder de uma só pessoa - o Imperador - exercido por direito hereditário que, dispensando o voto do povo, não seria representativo da maioria da nação. o SIGNIFlCAOO DE REPúBUCA 215 A contraposição enlIe Monarquia e República remonta aos romanos que. de pois da exclusão dos reis. subsútuíram o regllunl - o governo de um SÓ - pelo governo de um corpo coletivo_ É interes sante observar que. etimologiearnente. monarquia significa poder de um SÓ e que. nesta linha. os termos correspon dentes. que nos vêm da tradiçl!o grega desde Heródoto. e que eslllo incorpora dos em nossa língua. Sl!o os de aristocra cia - o poder dos melhores. que Sl!o poocos - e democracia - O poder do povo. que são mui lOS. O que há em comum nestes lIês termos. como tam bém em tirania. oligarquia e oclocracia. que Sl!o as suas formas negativas. é "areM". princípio. ou seja. o que se discute é o princípio do governo por parte de um. de poocos ou de muitos. Neste sentido. aliás. a partir do mo menlO em que. na Idade Moderna. as monarquias na Europa. a começar pela inglesa. consúLUcionalizararn-se e se par larnentarizaram. deixaram de scr o go verno de um só. Por isso. do ponlO de vista das formas de governo em que se examina a estrutura do poder e as rela ções entre os vários órgãos do Estado. a dicotomia Monarquia. governo de um SÓ. e República. govemo de um corpo • coletivo. deixou de ser precisa. E por r-SS3 razão que. atualmente. o que põe em evidência a diversa relação entre os poderes do Estado incumbidos do gover no da vida coletiva é a dicotomia presi dencialismo. na qual vigora uma separa çl!o entre o Poder Executivo e o legisla tivo. e o parlamentarismo. no qual pre valece um complexo jogo de interdepen dência entre o Executivo e o Legislativo. que Sl!o poderes distintos mas não inde pendentes um do outro.' Não é. no en tanlO. para O princípio do governo por parte de um. poucos ou muitos. e para a estrutura do poder e as relações entre os vários órgãos do Estado. que aponta a eúmologia de república 'que convém. por isso mesmo. referir. nesta tentativa de análise conceitual do LcnnO. 3. República vem do latim res publica. lil.Cralmente o bem público. chamando. portanto. a etimologia da palavra a alen çl!o para a coisa pública. a coisa comum. Foi Cícero quem classicamente exa minou a especincidade do conceito de república. ao diferenciar res publica de ouU"as, como a privata, a domestica, a familiaris. estabelecendo. dessa maneira. uma distinção enlIe o público. isto é. o comum- que corrcsponde. no grego an tigo. às formas substanciadas do adjetivo Iwinós (comum. público) e. moderna mente. à expresSl!o italiana il comUM. ao alemão die Gemeinde - e o privado. que não é comum a lOdos. mas é parti cular a alguns. Para Cícero. o público diz respeilO ao bem do povo que. para ele. não é uma multidão qualquer de homens mas sim um grupo numeroso de pessoas associa das pela adeSl!o a um mesmo direito e voltadas para o bem comum. São. por tanlO. na concepção ciceroniana. dois os vínculos que configuram o populus • como o destinário da res-publica: con sensus juris (o consenso do direito) e communis uli/ilalis (a comum utilidade). c são as conotações a eles inerentes o que vou tentar explorar. para delinear o significado de república.' 11 4. O consensus juris ciceroniano na história das idéias políticas indica o papel do direilO para que a res publica não se veja compromeúda pela violên- 216 ESTUDOS IUSTORICOS - 1989/4 cia e pelo arbítrio. Daí, modernamente, o ter este conceito em Kant se precisado na constituição, enquanto idéia re guladora da razão prática, necessária para e.<tabelecer-se um estado de direito, entre uma multiplicidade de homens em relação recíproca na rtS publica.' Por obra da irradiação da Revolução Francesa, de idéia reguladora, a consti tuição converteu-se na idéia-força de um "consensus juris" emanado de uma constituinte livre e soberana. Este ingre diente conceitual viu-se. assim, assoc ia do ao significado de república, pois O direito deixou de ser visto como a ex pressão do poder soberano do rei, pas sando a ser concebido como O poder da nação organizada É importante chamar a atenção para a nova relação acima mencionada entre República e Revolução Francesa, pois com esta a soberania deixou de ser a ex pressão ex portt principis de uma legi timidade dinástica e passou a ter, moder namente, como critério, a legitimidade haurida na vontade popular. Esta pers pectiva ex porte popuJi da soberania se expressa, também, no plano internacio nal. Dela decorre, no século XIX, O prin cípio das nacionalidades e, no século XX, O da autodeterminação dos povos. Ambos, com efeito, fundamentam- se na liberdade de aulO-expressAo individual e coletiva dos cidadãos e da comunidade política que a modernidade erigiu como um valor a ser tutelado. Por isso passou a ser o padrão para juíws, no sistema internacional, a respeito de como a sobe rania de um Estado pode ser afirmada ou transferida e de como se regula a suces são e a secessão de Estados.' Foi seguindo este critério de legitimi dade no plano interno e internacional que a política externa brasileira, logo após 1889, buscou afirmar no campo dos valUies a identidade republicana do Bra sil, tendo em vista que, nas Américas. era tido, desde a Independência, como o "diferente", por força das instiwiçOes monárquicas Afirmava Quintino Bocaiúva, o pri meiro chanceler da República, que a política internacional do Governo Provi sório visava, in/er alia, fazer "entrar O Brasil, antigo Império, na famOia das Repúblicas americanas, não como um estranho suspeito, mas como um irmão". Neste sentido, a "americanização" das relaçOes exteriores do Brasil - que se aprofundou com a República e que vai marcar um afastamento do "concerto eu ropeu" - viu-se justificada pela "repu blicanização" da política exterior do país' • E importante também observar que, tendo a Revolução Francesa sido concebida como uma ruptura com aHis tória francesa, a liberdade, na República dela derivada, não foi concebida à ingle sa - como liberdades, OU seja, como franquias, imunidades e privilégios sedi mentados pelo tempo, mas sim como uma liberdade baseada na igualdade. Va Ie dizer: na similitude da condição humana dos que, em conjunto, estão li vremente construindo a comunidade política, e que, além do mais, não são apenas livres e iguais, mas irmãos, por obra da secularização do conceito cristão de filhos de Deus, do qual deriva a fraternidade, O terceiro termo da divisa da Revolução Francesa.' Estes ingredientes conceituais tiveram vigência entre nós, pois foi nesta linha que o Manifesto Republicano de 1870 criticou a Constituição Imperial, como uma carta outorgada, de ranço dinástico, imposta à soberania nacional.' Por terem sido também outorg,.,Jas ex parte princi pis, foram criticadas as cartas de 1937 e o SIONIFJCADO DI! REPOBUCA 217 1969. Tancredo Neves, no seu discurso no Eslado do Espírito 58010, em 15 de novembro de 1984, sobre a Nova Repú blica, seguiu esIa l78diçao ao apo"1ar o papel que deveria ter a Constituinte a ser eleila em 1986, eliminando, na nova Constituição, os reslduos autoritários impostos pelo regime de 1964, e indica tivos da violência e do arbllrio. 111 S. A busca da cOmmJUlis ulililalis na res publica, o outro componente de que falava Cícero, requer um popuJus frugal e incorruptível. EsIaS características fo ram, na História das idéias políticas. vis IaS como o apanágio da Roma Republi cana, na qual vicejavam as virtudes de uma cidadania cuja ambiçao maior era servir à pálria No pensamento contemporâneo, a contribuiçao das vinudes clvicas do ci dadao, como ingrediente ind.ispcnsável de uma res publica demoerática - pois nao há democracia sem democralaS - foi devidamente realçada pelo esladisla francês Pierre Mendês-France no seu li vro de 1962 A República modufIlJ, que enriqueceu a reOexao sobre o tema, com a estética de seu estilo, por ele também iluminada com a ética de sua açao públi ca' • 6. Na reOexão polflica, o papel dos senumenLOs, inclusive os virtuosos. que fazem agir o populus, foram sublinhados de maneira muito interessante por Mon tesquieu, no EsplrilO das Leis. Com efeito, ao distinguir, no Livro li, O despotismo (para ele o governo de um só, sem leis fixas e eslabelccidas), a monarquia (no seu entender O governo de um SÓ de acordo com leis fIXas e esla- belecidas) e a república (onde O povo - democracia - ou pane do povo - aristocracia - delém o poder soberano), observa, no Livro lll, ao cuidar dos princípios que os impulsionam, que o despotismo depende do medo, a monar quia da honra e a república da virtude. A virtude republicana é, pois, para Montesquieu, que se inspira na lJadiçao romana, uma virtude polftica, um senti menlO que passa pelo respeito às leis e pela devoçao do indivíduo à coletivida de. Neste sentido, ao contrário da monar quia que se baseia na diferenciaçao e na desigualdade (o privilégio da religião, raça, sabedoria e posiçao, como dirá o ManifeslO Republicano de 1870), e do despotismo, que se funda na Igualdade dianle do medo e na impolência derivada da nao participaçao no poder soberano, a igualdade republicana, na liçao aggior fIlJla de Montesquieu, t uma igualdade na virtude. Esla dimensão de virtude, na campa nha republicana em nosso país, está vin culada ao positivismo que nao foi apenas um movimenlO de idéias, a exprimir o cientificismo então em voga, mas tam bém uma atitude cívica, que incutiu, como observou Afonso Arinos, dignida de pública ao ploc.edimenlO de muitoS pr6ceres e adeptos da idéia republi cana10 7. É interessanle lembrar que, na sua reOexão, MonleSquieu observa a exislên cia de liames entre o tipo de regime polí tico e a dimensão da sociedade. No livro VIII do Espírito das leis, indica que um império de vaslaS dimensOes territoriais pressupõe O despotismo; um Eslado de dimensão média, uma monarquia, e que é de natureza da república um território pequeno. Esla conexao entre o tamanho do território e o regime político está, de 218 ESTUDOS IDSTÓRJCOS - 1989/4 um lado, vinculada a uma percepção sociológica sobre os sentimenlos de medo, honra e virlude que o volume da sociedade pode ou não ensejar e, de ou tro, à observaçAo hislÓrica." HislOricamente, cabe observar que o Estado moderno, na Europa. nasceu e se consolidou como Estado monárquico. O mesmo, diga-se entre parêDleses, ocorreu entre nós, pois foi com 8 monarquia que nasceu o Estado brasileiro e se conso lidou o Estado nacional. É, portanto, também por razOes hislÓricas que, de Bodin a Hegel, a monarquia aparece como paradigma do Estado moderno. Já O despotismo, quando discutido neste arco teórico, surge como O exotismo dos impérios extra-europeus, e a república como o regime apropriado para peque nos terrilÓrios. Dal, no início da Idade Moderna, a divisa0 feita por Maquiavel, no capílulo I de O Pr(ncipe, entre os principados - ou seja, os reinos - que apontavam para as novas realidades da Inglaterra, da França e da Espanha, e as repúblicas (arislOCráticas ou democráticas), como Gênova, Veneza e Florença, que deles se diferenciavam inclusive pelo importante dado da extensao terrilOrial. Dal, tam bém, a referência por ele feita, no capI tulo IV de O Pr(ncipe, ao despotismo da relaçoo senhor-escravo que caracteriza va, na época, o vaslO Império Olomano." 8, A perfectibilidade de uma república, por obra das virtudes clvicas que ani mam a cidadania a buscar a commlU1is u/iIi/a/is, foi também discutida por Rousseau que, indo além de Montes quieu, deu ainda maior ênfase ao papel da afetividade do populus em relaçao ao construído racional da vida em socieda de, apropriadamente organizada por um Contra/o-socilll. Esta dimensao de afeti- vidade em Rosseau inspira-se no rnilO de Roma e tem como modelo hislÓrico a austeridade republicana da cidade de Genebra, da qual era cidadao, que con trastava com a corrupçoo de Paris da França monárquica Teoricamente, ela se tradllziu na importância de circunscrever o número dos que integram a res publica. Dal 8 relação que Rousseau estabelece entre o tamanho da sociedade e a possibilidade de bom governo, que requer um circulo limitado de pessoas que, pelas s"as relaçOes de proximidade, mantêm as virtudes cívicas. inclusive porque o comum se toma visível, ou seja, de conhecimenlO público." IV 9_ As relaçOes de congruência entre a república, como a forma de bom gover no viabilizado pela pequena extensão territorial e o número circunscrilO dos que virtuosa e igualilariamente integram o populus, tiveram que ser repensados com a Revoluçao Francesa e a Revolu ção Americana, pois eslas ense jararn o aparecimento de repúblicas modernas, em Estados cuja extensao territorial era muilO superior ao padrao até então visto como apropriado para uma república. No caso da França, modelo europeu por excelência da consolidaçoo do poder central do Estado através de uma monar quia, é interessante registrar o apareci menlO da categoria espfrilO público. Esta substituiu a de opinião pública, categoria usada pelos ilustrados como um tribunal de última instância para reduzir o impac- 10 dos que sofreram o impacto do arbí trio, mas que estava excessivamente ba seada, para os jacobinos, no subjeti vismo individualista de liberdade. Por isso preferiram elaborar o conceilO mais o SIONIFJCAOO DE REPÚBLICA 219 homOg!neo e coercitivo de espírito pú blico - que Saint-Just desejava ver co rno consciência pública - pois ambicio navam, com a RevoluçllO, refa:rec a Wli dade social, ressuscitando uma vida cívica unAnime. Esta, na visao jacobina, requereriauma vontade geral ativa, apta a condllzir uma sociedade corrupta à vir tude, pela prevalência do espírito públi co, ainda que imposto pelo telior. Este sonho jacobino de um espírilD público onipotente viu o seu fim com NapolellO, que com O Consulado e com o Império, substituiu-o pela obsessão conservadora com a ordem pública ... Na tradiçãO republicana francesa, a obsessllO com a ordem pública, em con· trapartida, tem como desdobramento democrático a idéia de que é possível o proglesso de uma razJ!o pública atra vés da instrução ao alcance de todos, na linha do que af iITIIlI o artigo 22 da Declaração dos DireilOS de 1793. Dal é que deriva a tese da educaçãiJ pública e laica, asseverada pela Terceira Repú Llica como um pilar necessário de um Estado republicano. De fato, sendo este um Estado de todos, pressupOe a escola para todos, também como um aprendizado em comum, necessário para O proglesso da razão pública na vida coleti va." No século XIX, a ação regeneradora da educação pública como. um caminho para assegurar as vinudes cívicas, conter os interesses, superar a baibárie e afll" mar a civilizaçllO, foi um dos temas de SarmienlD. Com efeilD, e como observa Natalio Botana na sua análise da tradição republicana na Argentina, a educação é um dos ingredientes afrrmados por esta tradição, visando, no processo de fIlllion· building, transformar uma república de habitantes numa república de cida dãos. " No Brasil do século XX, Rui Barbosa afrrmaria, ao tratar da instrução pública na plataforma da sua campanha presi dencial de 1910, que: "A instruçllO do povo, ao mesmo tempo que o civiliza e o melhora, tem especialmente em mira habilitá-lo a se governar a si mesmo, nomeando periodicamente, no mWlicí pio, no Estado, na UnillO, o chefe do Poder Executivo e a legislatura." Cabe também destacar que em nosso país a função pública da educaçllO foi afrrmada, na melhor tradição republicana, pelos glandes expoentes, como Fernando de Azevedo, das refollllas educacionais dos anos 20 e 30." 10. Foi diferente o caminho nOrle americano para lidar com O tema do rela cionamento entre virtude e extensão geográfica. Com efeito, nos Estados Unidos, que pela sua dimensão conti nental, em função das variáveis colo cadas pelo pensamento político de Mon tesquieu, exigiriam o despotismo, a Re pública foi instaurada por obra de um consensus juris original, que soube con ciliar tamanho e volume com a forma republicana. Esta conciliaçllO foi obtida através de uma fórmula: o federalismo, ou seja, graças à existência de uma pluralidade de centros de poder (os estados-mem bros da Federação) coordenados pela União, visando assegurar, juridicamente, a unidade polftica e econômica sem aba far a diversidade. Desta maneira, bus cou-se combinar a escala - necessária para lidar com a extensão geográfica - e o volume da sociedade com a descen tra1izaçllO e as vinudes do governo local, mais próximo da cidadania e, portanto, capaz de IDrnar o interesse comum visí vel pelas relaçOes de vizinhança entre governantes e governados. O princípio 220 ESTUDOS HISTóRICOS - 1989/4 federalista animou O debate político de inspiraçllo liberal no Brasil-Império, cabendo destacar a importância atri bulda por Tavares BaslOs à província e o projeto-de-lei de Joaquim Nabuco visando a criação de uma monarquia federativa. Existia, em slntese, nas palavras de Rui Barbosa, a percepção de que "A monarquia unitária e cen tralizaclora" estava "vivendo da seiva das localidades" e gerando "em lOda parte o desentendimento, a desconfiança, o desalento, cujo derradeiro fruto é o separatismo" .11 O princIpio federativo foi, por isso mesmo, como é sabido, um dos temas centrais da propaganda republicana, que via na descentralização a condição da manutençllo da unidade nacional alcan çada pelas instituiçOes monárquicas. Foi seguindo esta linha, afurnada no Mani feslO Republicano de 1870, que na Cons tituinte Republicana Júlio de Castilhos declarou: "Nós estamos aqui reunidos para instituir a República Federalista. Aqueles que, como nós, por longos anos, fizemos a propaganda da República, não a queremos unitária, mas sim federativa, essencialmente federativa. Nós entende mos, como sempre sustentamos, que a República Federativa é o único meio de garantir a unidacle política no meio da variedade e dos costumes da Nação. E, se a Federação não ficar instituJda na Constituição, havemos de ver ressurgir, sob a República, a mesma agitaçãO que se avolumou sob o Império. Pedíamos a República Federativa como condiçllo efi caz de garantir a homogeneidade política no meio da variedade dos interesses econômicos e das circunslâncias e costu mes da população:" A vocação federalista peillleia. pois, a tradição republicana do nosso país. A ela fez referência Tancredo Neves, no seu já mencionado discurso sobre a Nova Re pública no qual, ao criticar a concentra çllo de poder do regime de 1964, enfati zou a imporlância de se assegurar O de senvolvimento da pluralidade dos esta dos, dos municlpios e das regiOes, man tendo, ao mesmo tempo, a imprescindI vel unidade nacional. 11. A sugestividade da idéia federativa teve, também, o seu impaclO no plano das concepçOes de organi7.aç1lo da vida internacional. Neste sentido, importa mencionar a proposta de Kant para superar o estado de natureza do perma nente risco da guerra de IOdos contra IOdos por uma paz perpétua, baseada num DireilO Internacional. Este teria como fundamento um federalismo de estados livres, ou seja, uma fedcraçllo de povos organizados internamente por constil1liçOes republicanas. Dal a substil1lição do conceito da paz imposta por um império universal pela paz a ser trazida ex parle papuli por uma república universal de Estados confede rados. Estes, com efeilO, na medida em que fossem repúblicas, teriam um com promisso interno com a liberdade, que se traduziria no respeilO pelo Outro, o que, por sua vez, induziria, no plano externo, a paz, pois o respeilO pelo Outro susten taria o princIpio da nllo intervençllo. Em síntese, Kanl, na sua luta contra O Estado despótico, identifica como uma das principais cal-saS da guerra o arbítrio e os interesses privados dos príncipes, que seriam contidos pelas virtudes ine rentes à forma republicana que, respei tando a vontade popular, faria depender dos cidadaos qualquer decisão sobre a guerra, e estes, pondera ele, refletiriam muilO ao deliberar sobre as conseqüên cias sobre si próprios de um jogo tão grav�. o SIGNIFICADO DE REPúBUCA 221 A Sociedade das Nações e a Organi zaçao das Nações Unidas SIlo desdobrn mentos parciais destes conceitos que derivam da idéia republicana, cabendo também observar que a prática das orga ni.ações inlCrnacionais, hoje, ICm como inspiraçao as possibilidades de rcparú çao de competências que estão na raiz da fónnula federativa_lO 12_ No Brasil, a kantiana aspiração republicana de pa>, com temperos positi vistas, enconuou guarida na Conslitui çao de 1891 que, no seu artigo 88, inse rido no título V, que trata das disposi ções gerais, proíbe, direta ou indireta menlC, a guerra de conquista. Também merece destaque o artigo 34 - parágrafo II que, ao tratar das competências priva tivas do Congresso Nacional, estipula a de autorizar o governo a declarar a guer ra "se não tiver lugar ou malograr-se o recurso do arbitramento". Cabe, igual mente, mencionar que, na primeira Constiwição republicana, na crítica à re daçao do artigo 14, que fala das forças armadas como instituições nacionais per manentes, o senador Gil Goulart apon tou: ..... a palavra puman enles, con signada na nossa Constituição, faz supor que queremos imitar a Europaarmada, conservando grandes exércitos sempre em � de guerra e constiwindo uma ameaça às nações vizinhas. Devemos suprimir pa lavras inúteis que nos façam presu mir com veleidades guerreiras. A feição caraclCrfstica da nossa Cons tituição deve ser antes a de uma paz pennanenlC, como pensa e bem o Sr. Nilo Peçanha".lI Conforme se verifica, a primeira Constiwição republicana estabeleceu um limilC à poUtica externa - a proibiçao da guerra de conquista -..:.. e um estímulo à solUÇão pacífica de controvérsias - o arbitramemo. Esta vocaçao pacífica é parte da ltadi çao republicana no Brasil. Foi afmnada pela ação diplomática brasileira no cor rer deslC século. Viu-se reproduzida no art. 4' da Constituiçao de 1934; no art. 4' da Constituição de 1946 que, além do arbitramento, menciona outros meios paclficos de solução de conflitos por órgão internacional de que o Brasil participe; no art. 7' da Constituiçao de 1967 (mantido pela Emenda Consti tucional de 1969), que fala de negocia çOCs diretas, arbitragens e outros meios pacíficos, com a cooperação de organis mos internacionais de que o Brasil parti cipe; cabendo, finalmenlC, referir o arL 4' da Constiwição de 1988 que, entre os princfpios que regem as relações inlCr nacionais do Brasil, elenca a nao inlCr vençao, a igualdade entre os Estados, a defesa da paz e a solução pacífica de conflitos. v 13. Em símese, eslão presemes no conceito de República, que busquei deli near, fazendo também referência aos desdobramentos da idéia republicana em nosso pais: (i) a ênfase no bem público, que não se confunde com o inlCresse dos particulares; {i i) a importância do papel do direito para impedir a violência e o arbítrio; (iü) as virwdes cfvicas de cida dania, necessárias para aperfeiçoar a convivência coletiva, vollada para a uti lidade comum que ICm como um de seus inglediemes o ICma da educaçao pública ao alcance de IOdos; e (iv), o princípio federalista como fónnula capa> de con- 222 ESTIllXlS IDSTORlCOS - 1989/4 ciliar O tamanho com a proximidade, lanto no plario in\emo quanlD no plano internacional. Nesta comemoraçllo dos 100 anos da proclamaçllo da República, n1Io há dúvi da que existe um hiato entre os princí pios republicanos e a realidade nacional. NlIo t esta a Nova República com que sonhamos, podemos todos hoje dizer, repetindo o que disseram, logo em 1890, pr6ceres republicanos. É por essa raz1!o que cabe aos adeptos da tradiçllo republi cana enfrentar, nas palavras de Jaures, a dúvida do povo, pela perseverança no devotamento, tendo, como dizia Tocqueville, a preocupaçllo salutar com o futuro, que faz vigiar e cOlilbater.ll A referência a Tocqueville, expoente da tradiçllo liberal, e a Jaures, expoente da tradiçllo socialista, permite concluir este trabalho contrastando a República dos Antigos com a República dos Modernos, para, a seguir, indicar a vi gência da tradiçllo republicana tal como construída pela modernidade, para quem - como é o meu caso - identifica-se coou a afirmaç1lo de TocqueviUe em car ta a Stuart Mill, de junho de 1835: "J' aime la liberll par goUl, /' 19a1ill par insunel el par raison."ll Para os antigos, a defesa da liberdade dos cidadllos contra a tirania de um, poucos ou muilDs, transitava, de acordo com o ideal constitucional de Polfbio, • pela teoria do governo miSID, isto é, por um governo regido pelo equilíbrio de componentes monárquicos, aristocniti cos e democráticos, que foi o que carac terizou a República Romana.'" Não t este, como observa Bobbio, um bom fundamenlD para uma república demo cnitica, que se baseia no princípio da pCispectiva ex parle papuli e que n1Io pode deixar de levar em conta a impor tância do indivíduo diante do IOdo, instaurada pela modernidade, e positivada pela Declaraçllo dos Direitos do Homem trazidos pelas revoluçlles americana e francesa, instituidoras das primeiras repúblicas modernas." Como é sabido, na evoluçllo destes direitos, a herança libelal afumou os di reitos-garantia dos indivíduos e a heran ça socialista os direitos-de-<:rédito, de natureza sócio-econômieo-<:ull11ral, con jugando cada uma dessas heranças com dificuldade, o que a outra considera rele vante. É, no entanto, da convergência entre as liberdades clássicas e os direitos de crédito que depende a viabilidade da democracia no mundo contemporâneo. A convergência acima mencionada pode ser apadrinhada pelo ideal republicano, encarado, como sugerem Luc Ferry e Atain Renau!, enquanto uma idéia regu lativa kantiana. Esta, no jogo do pensar e do conhecer, exprime simultaneamente tanto a exigência da solidariOOade que o instinto e a razllo colocam no pólo de igualdade, quanlo a afirmaçllo da impor tância do gosto da liberdade do indiví duo no contexto da organização do governo da vida coletiva numa comuni dade poütica" Nota t. O. GiUkppe M.Bnini e Silvio Builc, Yer bc1e -Repubbtica" em AnlOnio Aura c. EmeJto Eula (ora..), NOllininto di,uto ilDliDno, val. XV, Torino, UrEI, 1968; Nobeno Ikhbio, A "MUI diu /omlO' tU ,Dl/trIlO, (uad. de Sir&Ío Bath), 8rasOi •. Ed. Uni\'cnidade de Brunia, 1980, p. 21':)0, e Estado, ,D'NrM, lot�doM. PGTa MIM l.e(Nid "r41 dtt poIlliaJ (1rId. de Marco Aurl:1io Noaucira), Rio de Janeiro, Pu e Terra. 1981, p. 65-67. 2. Cf. Norberto 8obbio, ElftJdo. lov,rltO. locitd04t.. c:it. p. 76--77. 107-108, Nicola Maueuci, "t'utc:IC "R.ep1bUca" an Nod .. rto Bobbio. Nicola Mllleuci e Gi.nffWIco PuqlÜno, Dicion4rio M po l/J" (trad. de I .11;' Guem.iro Pinto CaIC'i, d a!ü), BI'1I.OiA, Ed.. da Uni\'cnid"'e de B�flia.. 19&6. o SIOr.-"IF1CAOO DE REPúBUCA 223 3. Cf. Cícero. � ReptJblico. - I - XXV. em De Rtptlblic:a. IR Lt,ibtU (trad. C. W. Keyes). Lon dono Heinemann, 1952. p. 64; Enrioo 8erti,1I "Oc Rtpublico" di Cicuo td jJ puuiuo polilico dtusico. PadOVll, Antonio Milani.. 1963. p. 27 e seguintes. 4. E. Kant. Milapltysiq.u du mtHtUs - 1" parl� - DocJriM du droil (lrad.. A. PtliJonenko). Paris, Vrin, 1971, pu'amo 43, p. 193. 5. a. Maron Wrigh� SJUf"" of SltUu (ed. by Hcdley BuU). leic:x:ster.l.eioester Uni�l'1ity p�s. 1977, p. 153-113. 6. Cf. Amado Luiz. Cervo e Oodc.ldo Bueno. A política trlt,.,ro brQ.filtira - J822-198j. Sio Paulo, Aliea, 1986 • capo 5; Antonio Augusto C.nçado Trindade, R�JHrl6rio da prdJica brasi l tiro do direi,o illlt,.,rociolUll público (periodo 1889-1898), Bruni •• Fundação Aleundre de Gusmio. 1988. p. 53. 7. Cf. os veilxtes "Fntemilé" de Mona Ozouf; "übem" de Mona OzouJ; "Républjque" de Piene Nora. em François Furel/Mona oz.our. Dic· ,ionNlirt cri,iq.u dt la Ri'llollllioll FrallÇaut, Paris. Aammarion. 1988. 8. O Manifesto Republicano esli reproduzido em Rcynaldo CImeiro Pessoa (011.), A. idiia re publiC4M 110 Brasil alravb dos dOCWMttJOS. São Paulo, Alfa·Ornela. 1973, 39-66; pan um apa nhado sobre OI GOilponenles doulrinirios da cam panha republic&nl no Snsil, cf. Nelson Saldanha, O /NftSanun/o poltJU:o 110 Brasil, Rio de JlIlciro, Fc>c",c, 1979, p. 93-106. 9. Piene Mendb-France. A. República moct.rM (t,.d. de C. M. M. e Maria Manuel), Lisboa. Eu ropo-Amfrica, 1963, p. 229-252. 10. Afonso Arinos de Melo Franco, O SMl do OUlro SUtO - wm brevidrio Ij�ral, Rio de Janeiro. Ed. Civilização Brasileira. 1978. p. 169- 111. 11. Cf. Montesqu�u, De /' up,iJ du 10&1 tm Oellwu complilu (org. e .notado por Roaer Cai! lois), v. O, Paris. Gallimard. 1951, Livro O, capo I, UVIO m, cap. 3, 7, 9, UVIO vm, cap. 16, 17, 19; cf. Raymood Aran, Lu él4pu tU la pellSÜ sacio logiq�. P.ris. Gallim.rd, 1967. p. 27-76; Georges Vlachos, LA poliliq� dt Mo"usqwieM. Paris. Montchrt:.ltien, 1974, - 12 Cf. NOIbeno Bobbio. b,Mo.lowr"", so cudDdt, CiL, p. 105-101: A ,eoria da.r lorma.r de governo,Cil., capo VI e Xl; N. Macchi .... elli. /I PriltCipt.. Milano. Rizzoli. 1950, capo I.. capo IV- 2. 13. Cf. Jean Jleques Rowseau, DircolITs 311T I'origUte et lu 10NMfMIIS tU fega/iJl par,"; les Itommu, didicace 'm Oewru complilU, L m - Du conJraJ sociol - &:riu politiquea, Plris. Galli mud, 1964, p. 111-112; Lturu icrite3 de /0 monlagM. 6- leure. em 01'. cil.,p. 808; Bertnnd de Jouvenel. Du prÜtCipGl d tlJIJru uflu.ioIU pcli. tiqw.u, Paris, Hadleüe, 1912. p. 266-285; Denise Leduc-F. yeuc, J. J. ROIU,uQU et le If!Iy'lu lÜ. I'afl,iqwili, Paris. Vrin, 1974. capo 11 e pusim: Celso Lafer, A. ruolUtr"'Ç4o dM direiJtn Je"mallO.l - "'" didlogo com ° puuanulllo de HanfIQlt Areolldr, Sio Paulo, Ccmpanhia das Lecnl, 1988, cap. VIIL 14. cr. o verbete "Espril public" de Mona ozour em François Fun:t/Mona Ozouf, Dictioll Mire criJiq.u di. /Q RlvclllliOft FrQllçain, aL. Luc Ferry - Alam Rcnaut. Pltilosophu pcliJ",� - m - Du droiLf tU I' Jtomnv d ,. idü republic(JÜte, Paris, PUF, 19&5, p. 36. lS. Cf. Piaie Mcndb - France, La virili ,ui. doi, úws ptu. Paris, Gallimard. 1976. p. 53-69. 16. Cf. Natalia Bowla. La Imdk� repwbli C4IUI, B. Ai�s. Ed. SU1hmcrica, 1984. 17. Rui Sarbola., E.fcrilos e discIIT30S selt'os (seleçio, organizaçio e notas de Virgínia Cortes Lacerda), Rio de Janeiro, Aguüar. 1960, p. 365. Cf. igualmentc: Maria Luiza Perma, FtrMNJo (Ú Azevedo: �dw:aç4o e ,raflS!ormllç60, Sio Paulo, Ed. Peup:ctiva, 1987; Jorge Nagle, EdWCIJção e soci,dade fIQ Primeira R�p';'blico, São Paulo, E.P.U., 1976_ 18. Rui Barbosa, COfMttJ6rios à COlII,iJwipSo F�t:hral Brasileira (coligidos e ordenados por Homero Pires), v. I, Sio Paulo, Sataiva &. CP., 1932. p. 54. cr. Tavares SulOl. Ao ProvlJtCio - Es'wIo.J 30bre a tÚscefl,ralizaç40 fiO Brosil. Rio de Janeiro, Gamier, 1870. 19. Agenor de Roure, A. COIU,iJWnJe Republi caM. v. I. <Rio .de '.neiro, Imprensa Nacional, 1920, p. 70-71. 20. li. Kant, MI'aplt)Uiq.u da mDeWS. ciL, • par'aruo 53 e seguintes. p. '226 e seguintes: A paz pupi,JUJ (lrad. de Marco A. ZinS'ro), Porto A1cgre, LAPM, 1989, p. 33-43; N. Bobb;o, Estado, gD'l�,fI(), socudod�. p. 103. 21. Agenor de Roure, A Coru,itu;"'e Repwblicall/J,voU,cit.,r.232-233. A postura paci fina do Aposlolado Positivista. compa.tIvel, de resto, com • yjdo de Augusto Comt.e IObre a paz. po;Se ser e .. emplificada em posições assumidu na primeira Constituinle Republicana. Auim, no de bale sobre o arbitramento e a guerra, e no lema da Otttlpeténóa do Congresso Nacional para declarar a luer,., o Apostolado assim se manifeJlou: "Nenhuma suem p:»odcndo ter lu, •. salvo o caso de agrusio imedi ..... sem �r-se primeiro ao arbilnrnenlo". Cf. Agmor de Roure, op. cil .• P. 604. 22. A cilaçio de Jaures foi nlrafda do seu per m traçado por PierTe MendCs-France, 1.4 wriJi ,uidoiJ lew3 ptU. ciL. p. 97; a de Aluis de Toc� queville encontra-se na De la dbnocralie en Anti rique, lono 2 • .ta. parte, capo Vll, em Df. Ia di"",· 'ralie 'li A."';,",,,,, Souvenin, L' AncuII Rigime eI la Rlvolu,io" (inuod. c not.s de Jean Claude Lamberti e Fnnçoi.sc MéJonio), Paris, La!font. 1986, P. 656, c foi referida no oonte11O da 'rMliçio libe,.1 por Raymond Aron. De /Q co-dilioll ÂUlori q� d.w sociolo''''. Paris. Gallimard. 1971. 224 ESTUDOS IDSTÓRICOS - 1989/4 23. Apud Jean a.ude Lamberti, Tocqwvil/� �l lu tUlU dlmocraJu.r, Paris, PUF, 1983. p . 84. 24. Polybe. His'oir� (IBd. e anotado por Dm· nis Rousse1), Paris, Gallimard. 1970, Livro VI. ""p. S, p. 480-487. 25. Cf. Norberto Bobbio, FWIda�nto y folwo tU la d�mocrQcia (tud. de Gabriel deI F .... ero Valdts), Va1paraiso, Edeva1, 1986, p. 42-43. 26. Luc Ferry - Alain Renaul, PJuwsophit poliJU,1U • m - Dts droiJs de. I' hol'1V1V à l' idie. re.pub/icaillt., dI., p. J 56·18 J. Celso Lafer � doutor em ciência poUuca pela Universidade de ComeU (USA) e livre..<focentc de direito lnlemacional público pela Faculdade de Di· reito d. Universidade de Sio Paulo onde leciona direito internacional público c fLlosofia do direito. i! autor de "'rios livros, dos quais destacamos HaflNlh Are.ndJ: {UIUDfMI110. pe.rswutlo t. PO<UT (Rio de Janeiro, Paz e Tem, 1979); Comlrcio t. Te. laçõu internacionais (5io Paulo. Perspectiva, 1971) e O .Ji.rte.ma polílico brasileiro: utrWUTa e processo (São Paulo. Perspectiva, 1975). • ,
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