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Trabalho e Contemporaneidade

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VII Seminário de Saúde do Trabalhador e V Seminário O Trabalho em Debate 
“Saúde Mental Relacionada ao Trabalho” 
SERVIÇO SOCIAL E TRABALHO: LUTAS E ESTRATÉGIAS FRENTE À 
PRECARIZAÇÃO NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL 
Lesliane Caputi1; 
 Lucimara P. dos Santos Benatti2 
 
RESUMO 
A categoria trabalho, neste relato, é entendida como fundante do ser social e, 
contraditoriamente, eixo central das relações sociais de produção do mundo 
capitalista, cuja reestruturação produtiva como estratégia do capital, coloca 
desafios na qualidade da formação profissional, uma vez que, a Educação 
Superior passa a ser estruturada como mercadoria e não como direito. Neste 
contexto, expressa a experiência construída no âmbito da coordenação 
político-pedagógica do colegiado de curso de graduação em Serviço Social, na 
consolidação e legitimidade de lutas e estratégias frente a esta precarização na 
formação profissional, buscando assim, efetivar os princípios do projeto ético-
político da profissão. 
Palavras Chaves: Serviço Social. Formação Profissional. Trabalho. 
 
 
SERVIÇO SOCIAL E FORMAÇÃO PROFISSIONAL: DESAFIOS 
IMPERATIVOS E CONTEMPORÂNEOS! 
 
Neste debate do Serviço Social e Trabalho, enfocando a formação profissional, 
se faz necessária uma reflexão articulada com as transformações no mundo do trabalho 
e os desafios postos no cotidiano profissional na luta e construção de estratégias, 
amparadas em um método de análise crítico, frente à precarização da formação 
profissional construída no cenário nacional a partir da década de 1990 com o projeto 
neoliberal e seu acirramento nos últimos anos da atual década. Um projeto que se 
consolida na (contra) Reforma do Estado e da Educação Brasileira – Reforma 
Universitária. 
Com a implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/1996), há a 
consolidação de uma nova organização educacional que está articulada com a Reforma 
Universitária e aos interesses de organismos internacionais, influenciando 
principalmente, as UFAs (Unidade de Formação Acadêmica) privadas, na conformação 
de uma gestão vinculada aos interesses dos empresários e de um novo mercado, o do 
ensino superior. O que se institui no plano político é um modelo de UFA associado à 
prestação de serviços, acentuando a competitividade entre as mesmas, bem como, 
instalando uma profunda precarização no sistema do ensino superior no Brasil. 
Presenciamos um rebatimento para a formação profissional, no qual, o Ministério da 
Educação e Cultura (MEC), atendendo aos imperativos do capital, incentivou e 
 
1 Assistente Social. Doutoranda em Serviço Social pela UNESP-Franca. Bolsista Capes/DS. 
2 Assistente Social. Doutoranda em Serviço Social pela PUC-SP. Bolsista Capes/ PROEX – modalidade 
II parcial. 
VII Seminário de Saúde do Trabalhador e V Seminário O Trabalho em Debate 
“Saúde Mental Relacionada ao Trabalho” 
incentiva a proliferação de aberturas de cursos no Brasil, que opera sob a modalidade 
presencial, semi-presencial e à distância, confrontando, no caso do Serviço Social, com 
os princípios éticos de um novo projeto de formação profissional, construído pela 
categoria nos últimos tempos, legitimado como Projeto Ético-Político. 
As Diretrizes Curriculares para a formação profissional em Serviço Social 
(ABEPSS/1996) têm remado contra a corrente, bem como, sido alvo de banalização 
perante os novos modelos de educação superior construídos no Brasil, o que nos remete 
afirmar que estamos no “fio da navalha”, lutando no limiar entre, a universalidade de 
uma educação de qualidade e, o sucateamento de uma política de Estado que fortalece 
aos interesses mercadológicos do ensino. 
 O Estado capitalista, tanto em países desenvolvidos como subdesenvolvidos, a 
partir da década de 1970 com a crise na acumulação do modo de produção capitalista, 
apoiando-se nas estratégias da ordem burguesa para seu enfrentamento, orienta e 
reordena novos modelos de produção e no sistema de proteção social3, ou seja, institui-
se a reestruturação produtiva, a difusão do projeto neoliberal e a reforma do estado, 
ampliando e abrindo os intercâmbios do sistema financeiro mundial. 
 Na década de 1980, com a derrocada do mundo socialista – queda do Muro de 
Berlim (1989) – temos o fortalecimento, sobremaneira da investida do ordenamento do 
capital, em todas as dimensões da vida humana, social e política. E, segundo Antunes 
apud Pereira (2007, p. 03) essa investida favoreceu os detentores do meio de produção, 
haja vista que a reestruturação produtiva ocasionou “altas taxas de dessindicalização, 
precarização das condições de trabalho, desemprego estrutural e, portanto, fragilização 
dos tradicionais processos organizativos daqueles que vivem do seu trabalho.” 
 É preciso considerar, ainda, que essas medidas de Estado compõem o marco das 
políticas de ajuste “recomendadas” por organismos multilaterais, como o Banco 
Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) que segundo Iamamoto (2000, 
p. 35), “[...] cria o suporte normativo necessário para viabilizar a reforma educacional.” 
E, um destes normativos apresenta-se na Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional (LDB) – Lei 9.394, de 20/12/1996 que possibilita vicissitudes no contexto da 
Educação no Brasil, neste caso, a Superior. 
 
3 Segundo Oliveira apud Pereira (2007) o Estado de Bem-Estar Social (Welfare State), consolidado após 
a II Guerra Mundial constitui-se num padrão de financiamento público da economia capitalista, 
associando o financiamento das políticas públicas, bem como, possibilitando a reprodução da força de 
trabalho. 
VII Seminário de Saúde do Trabalhador e V Seminário O Trabalho em Debate 
“Saúde Mental Relacionada ao Trabalho” 
 Esse projeto, em suma, vem arquitetando a lógica sob a égide das leis de 
mercado, que estimula o processo de privatização e mercantilização da política nacional 
de educação, deixando-a como objeto de direito privado, mas, estimulando e 
financiando com verbas públicas a mesma, haja vista, o Financiamento Estudantil 
(FIES) e o Programa Universidade para Todos (PROUNI) que subsidiam o 
financiamento aos estudantes de Faculdades Privadas, ou seja, aplicam investimento 
público em órgãos privados. 
 Com isso, temos que a educação superior na contemporaneidade, vem 
enfrentando desafios colocados para além da dinâmica da vida social, mas pela nova 
lógica do ensino superior regulamentadas pela LDB (1996), que inaugurou um conjunto 
significativo de mudanças na concepção e na operacionalização do ensino com a 
política de governo pautada numa perspectiva de estratégia de redefinição das relações 
sociais, imprimindo nas universidades um modelo de gestão empresarial, estimulando a 
sua privatização, o que Chauí (1999) denomina de “universidade operacional” ou 
“universidade de resultados de serviços.” 
O novo modelo de ensino superior, caracterizado no artigo 44 da LDB (1996), 
explicita uma preocupação da educação vinculada às necessidades do mundo do 
trabalho, mostrando uma gama de diversificação e flexibilização do ensino que favorece 
a expansão do mercado universitário que se encarregará de acordo com Maciel (2007) 
“de viabilizar tais modalidades de ensino superior”. 
A conseqüência desta reforma rebate diretamente na formação profissional do 
assistente social, que no atual contexto encontra-se demandado e desafiado a fortalecer 
seu projeto de formação e ideário profissional, o que propõe posicionamento em defesa 
da educação como um direito e não como serviço ou mercadoria. 
A lógica curricular para a formação profissional do assistente social estabelece 
concepção de ensino-aprendizagem em sintonia com a dinâmica da vida social. Indica 
que diante das necessidades postas hoje à profissão, precisamos estar atentos ao 
reordenamento do padrão de acumulaçãocapitalista, bem como de regulação da vida 
social, o que exige do profissional o redimensionamento na sua forma de pensar e agir, 
indicando que a inserção dos profissionais, nos diversos espaços sócio-ocupacionais, 
deve ser compreendida com olhar crítico/investigativo, pautado em referencial teórico-
metodológico crítico. Tal referencial embasa a postura ético-política, ao mesmo tempo 
em que ofereça condições para o uso do arsenal técnico-operativo que ultrapasse o 
campo da imediaticidade, e que permita construir ações que promovam a emancipação 
VII Seminário de Saúde do Trabalhador e V Seminário O Trabalho em Debate 
“Saúde Mental Relacionada ao Trabalho” 
dos sujeitos usuários dos serviços. (ABEPSS n. 7, 1997). 
As Diretrizes Curriculares são compostas por um conjunto de conhecimentos 
indispensáveis à formação profissional, que estão articulados em três núcleos de 
fundamentação: núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social; núcleo de 
fundamentos da formação sócio-histórica da sociedade brasileira; e, núcleo de 
fundamentos do trabalho profissional, os quais não se apresentam de forma 
fragmentada, ao contrário, à medida que o primeiro articula o ser social em uma 
perspectiva de totalidade histórica e tem como finalidade desvelar os elementos 
fundamentais da vida social, o segundo e o terceiro tratam das particularidades desses 
elementos fundamentais para formação em Serviço Social. 
Esses núcleos reúnem entre si os conteúdos que fundamentam o trabalho do 
assistente social, estabelecendo-se em eixos norteadores e articuladores da formação 
profissional. Esses eixos desdobram-se em áreas do conhecimento que são traduzidas, 
pedagogicamente, pelo conjunto das matérias básicas que são de fundamental 
importância no conjunto de conhecimentos necessários à formação profissional, e, nessa 
nova lógica curricular, podem ser operacionalizados mediante pesquisas, oficinas, 
núcleos e seminários temáticos, monitorias, extensão e atividades acadêmicas 
complementares, buscando romper com o mito da disciplina como forma quase única de 
se transmitir e construir conhecimentos. Assim, busca garantir mais flexibilidade à 
proposta curricular e pauta as atividades na perspectiva de ensino-aprendizagem e de 
indissociabilidade do tripé ensino-pesquisa-extensão, a fim de formar profissionais com 
referencial teórico-metodológico, ético-político e técnico-operacional capaz de 
intervir/investigar e responder as necessidades sociais da classe trabalhadora, e, 
possibilita construção de estratégias para garantir uma formação profissional de 
qualidade coerente com o projeto ético-político profissional. 
Refletimos, contudo, que os desafios enfrentados cotidianamente pelos 
assistentes sociais, especialmente docentes das UFAs, a destacar no âmbito privado, que 
comungam do projeto ético-político da profissão e das diretrizes curriculares 
concentram-se no embate de defendê-los da “perversa” lógica empresarial 
consubstanciada do ensino superior. E, urge, a necessidade de encaminhamento de 
ordem jurídica e legal envolvendo o conjunto Conselho Federal de Serviço Social 
(CFESS), Conselho Regional de Serviço Social (CRESS), Associação Brasileira de 
Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), Executiva Nacional de Estudante de 
Serviço Social (ENESSO), Associação Latino-Americana de Ensino e Pesquisa em 
VII Seminário de Saúde do Trabalhador e V Seminário O Trabalho em Debate 
“Saúde Mental Relacionada ao Trabalho” 
Serviço Social (ALAEITS), CNE4 (Conselho Nacional de Educação) e MEC/Sesu 
(Ministério da Educação e Secretaria de Ensino Superior) para garantir a efetividade dos 
projetos da profissão, conforme debatido, construído e legitimado pela categoria. 
 
SERVIÇO SOCIAL, TRABALHO E PRÁXIS: DIMENSÃO ONTOLÓGICA DO 
SER SOCIAL NA LUTA E NA CONSTRUÇÃO DE ESTRATÉGIAS FRENTE À 
PRECARIZAÇÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL 
 
 Abordar a questão do Serviço Social e Trabalho na sociedade contemporânea 
não é tarefa fácil, pelo contrário, complexa, porém fundamental e necessária. Assim, 
entendendo que o Serviço Social é uma profissão inserida na divisão social e técnica do 
trabalho, desenvolvendo, em seus diversos espaços sócio-ocupacionais processos de 
trabalho, problematizamos essa discussão concorde Granemann (1999, p. 159), 
 
[...] o reconhecimento do Serviço Social como trabalho está hipotecado ao 
entendimento da gênese de várias profissões que em um dado tempo do 
desenvolvimento do modo de produção tornaram-se quase tão igualmente 
necessárias para a sua continuidade como o próprio trabalho operário. De tal 
modo, isso é possível constatar no movimento do real, que não foi tão-
somente o Serviço Social que surgiu na passagem do capitalismo 
concorrencial ao capitalismo monopolista. Acompanharam-no, por exemplo, 
os surgimentos de engenharias de produção, da propaganda (e de outras 
ligadas à comunicação) e do conhecimento da subjetividade humana. 
 
 As profissões oriundas da sociedade burguesa madura expressa uma 
determinação sócio-histórica e política, além, do aspecto ideológico de tê-las sido 
formadas para responder as especificidades impostas pelo capital, no caso em questão, o 
Serviço Social surge como forma de “instrumento ideológico do Estado no trato da 
amenização da questão social” – nos aportes conservadores/positivistas, assumindo ao 
longo de sua trajetória uma postura de resistência, luta organizativa e política para a 
 
4 É relevante considerar que o Conselho Nacional de Educação (CNE) no Brasil é dividido em duas 
Câmaras – Educação Básica e Educação Superior, sendo composto por conselheiros indicados pelas 
Instituições de Educação e sancionado pelo Ministro da Educação em exercício. Os conselheiros, que são 
12 para cada câmara, tendo seus mandatos por 04 anos, sendo renováveis por mais quatro, possuem pouca 
legitimidade para deliberar, decidir e sancionar as pautas discutidas, pois, todas as deliberações, 
resoluções, propostas de leis advindas deste Conselho, segue para aprovação na Câmara dos Deputados, 
no Senado e no Ministério da Educação, ou seja, o Conselho não delibera sozinho, prejudicando o caráter 
nato dos conselhos que é o do controle social sobre as políticas públicas. Neste sentido, analisamos que é 
preciso avançar, lutar, criar estratégias para que o CNE crie força política, interferindo, a partir das 
proposições de seus conselheiros, todavia sendo emanado a partir dos interesses das instituições que os 
mesmos representam, alicerçando de forma democrática a fiscalização, proposição e ampliação da 
discussão sobre a Educação no Brasil, prezando para que a mesma seja de qualidade, emancipatória e 
livre de viés políticos partidários e empresariais. Assim, defendemos o processo eleitoral dentro do CNE e 
não apenas a aprovação final do ministro da educação, ou seja, é preciso que as Instituições de Ensino 
Públicas e Privadas indiquem seus representantes, mas, que os mesmos sejam eleitos entre seus pares, 
legitimados pelo aparato jurídico-democrático vigente no Brasil, sobretudo, a partir da CF/88. 
VII Seminário de Saúde do Trabalhador e V Seminário O Trabalho em Debate 
“Saúde Mental Relacionada ao Trabalho” 
“ruptura” com essas bases, ou nos termos de Martinelli (1991) para (re)construir uma 
identidade profissional no processo histórico da realidade e, não mais aceitar os 
elementos a nós atribuídos enquanto categoria profissional. E, fica o Serviço Social 
como profissão legitimada pelo delineamento de seu objeto de intervenção/investigação 
– as expressões da questão social. Estas, que são reconhecidas pelo Estado, via políticas 
públicas a partir da luta da classe trabalhadora no âmago da sociedade capitalista entre 
os séculos XIX e XX. 
 Entretanto, a categoria trabalho, segundo Paulo Netto e Braz (2006), é muito 
mais do que um elementopara a compreensão da atividade econômica no âmbito da 
sociedade burguesa, mas uma categoria vinculada ao próprio modo de ser dos homens e 
da sociedade – portanto – uma categoria central para a compreensão do próprio 
“fenômeno humano-social”. 
 Segue os autores problematizando o trabalho como atividade diferente das 
realizadas pelos animais – que não impõe elementos intencionais à sua ação, bem como, 
não cria novas necessidades e nem se relaciona no bojo das relações sociais de 
produção, sem contar, com a limitada e quase inexistente relação entre si. E, assim, o 
trabalho foi se organizando e se desenvolvendo no processo histórico da sociedade, 
diferenciando-se da atividade natural dos animais irracionais, devido ao fato de que: 
 
- em primeiro lugar, porque o trabalho não se opera como uma atuação 
imediata sobre a matéria natural; diferentemente, ele exige instrumentos 
que, no seu desenvolvimento, vão cada vez mais se interpondo entre aqueles 
que o executam e a matéria; 
- em segundo lugar, porque o trabalho não se realiza cumprindo 
determinações genéticas; bem ao contrário, passar a exigir habilidades e 
conhecimentos que se adquirem inicialmente por repetição e experimentação 
e que se transmitem aprendizado; 
- em terceiro lugar, porque o trabalho não atende a um elenco limitado e 
praticamente invariável de necessidades, nem as satisfaz sob formas fixas; se 
é verdade que há um conjunto de necessidades que sempre deve ser atendido 
(alimentação, proteção contra intempéries, reprodução biológica etc.), as 
formas desse atendimento variam muitíssimo e, sobretudo, implicam o 
desenvolvimento, quase sem limites de novas necessidades (PAULO 
NETTO; BRAZ, 2006, p. 30-31- grifos dos autores). 
 
Neste sentido, é notório que o gênero humano rompe com o padrão naturalizado 
e invariável do trabalho, em outras palavras é através do trabalho que a humanidade se 
constituiu – salto ontológico5. 
 
5 O salto ontológico é discutível no âmbito científico, pois, há várias hipóteses sobre o surgimento 
da espécie humana, mas para fins do entendimento do surgimento de um novo ser – ser social – 
compreendemos esta discussão sobre a questão do trabalho em três esferas: orgânica, inorgânica e social. 
A inorgânica não dispõe de propriedade para se reproduzir; a orgânica possui vida e possibilidade de 
VII Seminário de Saúde do Trabalhador e V Seminário O Trabalho em Debate 
“Saúde Mental Relacionada ao Trabalho” 
O trabalho cria uma sociabilidade entre o homem6 e a natureza, bem como, 
deste com outros homens vivendo em sociedade, pois, o trabalho é eminentemente 
coletivo e combinado, uma vez que cada trabalhador realiza seu trabalho mediado pelas 
condições objetivas e subjetivas da realidade, em diversos espaços e âmbitos 
profissionais. Assim, o trabalho não é circunstancial e sim essencial ao ser humano, de 
outro modo, é condição ontológica do ser social – e constitutivo do mesmo. 
Na linha deste pensamento temos a questão da causalidade e intencionalidade 
(teleologia) no âmbito do processo do trabalho humano, quer seja, há as determinações 
da sociedade capitalista, nos aspectos econômicos e as intenções e objetivações do 
trabalhador que tem a ideação do produto de seu trabalho, rumo às transformações que 
se deseja construir – estamos aqui nos aproximando de um determinado tipo de 
trabalhador humano e social – o ser social. 
No pensamento marxista o ser social é ao mesmo tempo humano-genérico e 
singular-particular, donde, singular é o espaço da vida cotidiana, cuja legalidade, forma 
de ser, leva ao senso comum, ao pragmatismo, imediatismo do cotidiano e, o humano-
genérico é mediatizado pela vontade coletiva através da política, arte, ética e filosofia. O 
ser social está intrinsecamente relacionado ao trabalho, no qual constrói suas relações, e 
também, as constrói e reconstrói, na guisa de um trabalho consciente, crítico, a partir da 
sua consciência. 
 Como já dito, anteriormente, o trabalho é constitutivo do ser social, mas o ser 
social não se reduz ou esgota no trabalho – o seu desenvolvimento e suas objetivações – 
transcendem esse âmbito, envolvendo outra dimensão que é a práxis. E, segundo Marx 
apud Vázquez (2007) “toda vida social é essencialmente prática”, mas essa totalidade 
prático-social pode ser decomposta em diferentes setores se levarmos em conta o objeto 
ou material sobre o qual o homem exerce sua atividade prática transformadora. 
Entendemos que se a práxis é a ação do homem sobre a matéria e criação de uma nova 
realidade, assim, podemos falar de diferentes níveis da práxis de acordo com o nível de 
consciência do sujeito ativo no processo prático e de criação - ou humanização da 
matéria transformadora destacado no produto de sua atividade prática. 
 
reproduzir a si mesmo e a social a possibilidade de produzir o novo, novas necessidades, sociabilidades. 
É, sobretudo, a diferenciação do homem perante outros seres naturais. 
6 Ao utilizarmos a terminologia homem não estamos concebendo-a de forma machista e singular no 
âmbito da discussão de gênero, mas assim, como Paulo Netto e Braz (2006) estamos entendendo-o como 
parte do gênero humano. 
VII Seminário de Saúde do Trabalhador e V Seminário O Trabalho em Debate 
“Saúde Mental Relacionada ao Trabalho” 
A práxis é precipuamente uma atividade humana sobre a vida social prática, com 
capacidade objetivada pela consciência crítica e ativa de sujeitos históricos para agir e 
transformar, recriar a realidade, reconstruindo-a. Para tal, utiliza-se da mediação como 
instrumento de realização desta intervenção na realidade. 
As mediações - formas da reflexão/razão/ação - permitem que por aproximações 
sucessivas chegue-se negando ao imediato/fatos, desvendando as forças e processos que 
determinam à gênese e o modo de ser dos complexos e fenômenos que existem em uma 
determinada sociedade. E, parafraseando Barroco (2001, p. 26) “[...] as mediações, 
capacidades essenciais postas em movimento através de sua atividade vital, não dadas a 
ele; são conquistadas no processo histórico de sua autocriação pelo trabalho”. 
Amparadas nestes fundamentos filosóficos, teóricos, éticos e políticos, e, 
sobretudo, mediadas pela compreensão do trabalho como categoria constitutiva e 
constituinte do ser social, realizada pela práxis, tornou-se possível desvendar o real e 
construir mediações para as lutas e resistências, bem como, estratégias de enfrentamento 
ao desmonte da Formação Profissional em Serviço Social, discutidas na gênese deste 
artigo. 
Dentro dos limites determinados pelo capitalismo na sociedade contemporânea – 
no qual vive a classe trabalhadora – a criação de possibilidades vinculadas a um projeto 
societário pautado na luta pela realização da emancipação política, e na direção da 
competência profissional necessária a consolidação do projeto ético-político do Serviço 
Social faz-se a partir da apreensão do homem como ser social autoconstruído através do 
trabalho, da cultura e da ética como capacidade humana essencial e objetivadora da 
consciência da liberdade humana. Assim, a construção de possibilidades concretas se dá 
num processo de desenvolvimento histórico para além da concepção teoricamente 
apreendida, na construção de instrumentos críticos fundamentados nas 
intencionalidades. 
No contexto da experiência profissional das autoras7, no âmbito da coordenação 
político-pedagógica do colegiado de curso de graduação em Serviço Social, estratégias e 
mediações foram criadas nas dimensões da Educação Superior (Ensino, Pesquisa e 
Extensão), as quais perpassam os núcleos de fundamentos da formação profissional, 
 
7 As experiênciasapresentadas referem-se ao período de 2006 até o presente, na Fundação Educacional 
de Fernandópolis/FEF, no qual ambas as autoras exerceram, em períodos diferenciados, a competência da 
coordenação político-pedagógica do colegiado do curso de graduação em Serviço Social. 
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contemplando as recomendações das diretrizes curriculares no que tange a flexibilidade 
do processo de ensino aprendizagem. 
Na dimensão do Ensino, para além das disciplinas, matérias e conteúdos 
tradicionalmente trabalhados em sala de aula implantamos Oficinas Pedagógicas 
capazes de articular de forma dialética o conhecimento sócio-histórico, político, ético, 
técnico-operativo, propiciando ao estudante a superação de uma visão singular-
individual para o alcance do humano-genérico. A intencionalidade deste instrumento 
pauta-se na necessidade da reflexão filosófica do estudante, levando-o a se identificar 
como um ser social, introjetando o ethos profissional – modo de ser profissional que é 
especifico do Assistente Social; somente este profissional, regido pela razão, pode 
compreender os ditames do capitalismo imperante e instituir coletivamente um mundo 
mais justo, igualitário, enfim, uma nova ordem societária. Nesta perspectiva, buscamos 
com estas oficinas o desenvolvimento da apreensão crítica da realidade social pelos 
alunos, capaz de transformar a vida cotidiana – impregnada do senso comum - em uma 
vida cheia e plena de sentidos, tornando-os sujeitos ético-políticos. 
Objetivamente as Oficinas Pedagógicas foram realizadas através de debates 
teóricos, práticos sobre temas contemporâneos diversos, coerentes com as diretrizes 
curriculares e a realidade social; as quais foram exploradas com o aporte metodológico 
de filmes, documentários, dinâmicas, palestras, literatura, poemas e poesias, seminários, 
entre outros construídos coletivamente, versando sobre os temas: trabalho, educação, 
violência doméstica contra criança/adolescente, mulher, idoso; violência estrutural, 
pobreza, cidadania, globalização, meio ambiente, estudo sócio-econômico, político e 
cultural, políticas públicas, relações de gênero, família, entre outros. 
Na dimensão da Pesquisa, entendendo-a com caráter de transversalidade na 
matriz curricular, com vistas ao estabelecimento das dimensões investigativa e 
interpretativa como princípios formativos e condição central da formação profissional e 
da relação de unidade diversa entre teoria e prática, bem como, a indissociabilidade das 
dimensões aqui tratadas Ensino, Pesquisa e Extensão. Uma das estratégias adotadas foi 
à luta para a consolidação e implantação de uma Política Institucional de Iniciação à 
Pesquisa e criação da Revista UNIVERSITAS que paulatinamente adquiriu o selo 
QUALIS C, da CAPES. Neste interregno, para a coordenação e seu respectivo 
colegiado se tornou condição sine qua non o desenvolvimento de projetos de pesquisa 
propostos pelos alunos e docentes. 
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Na dimensão da Extensão, compreendendo-a como uma construção sócio-
histórica do Serviço Social, a mesma tem sido desenvolvida como estratégia de 
aproximação da UFA com a realidade social, buscando nas diversas experiências o 
aperfeiçoamento de práticas profissionais em campos variados, envolvendo a atividade 
de ensino e pesquisa, cumprindo o princípio universitário e a possibilidade da efetivação 
de uma formação crítica, legitimando a função social da universidade que é produzir, 
socializar conhecimentos necessários e úteis a sociedade, tal como, prestar serviços a 
comunidade. Nesta perspectiva foram criados 05 projetos: Arte de Educar que tem 
como objeto de intervenção/investigação a violência doméstica contra criança e 
adolescente; GEPAPP/Grupo de Estudo, Pesquisa e Assessoria em Políticas Públicas; 
KANONI, trabalha com o segmento criança e adolescente, bem como, na formação 
política de conselheiros de direito; Clínicas, contempla o trabalho do Serviço Social nas 
clínicas integradas da UFA; BASEE – Programa Bolsa de Assistência Sócio-Econômica 
Estudantil. Tais projetos, além de extensão também se configuram como campos de 
estágio alternativos aos estudantes-trabalhadores que apresentam dificuldade para 
cumprir o estágio obrigatório no horário de funcionamento das instituições sociais. 
Vale considerar que a atividade de Estágio Supervisionado, bem como, a 
dimensão da Supervisão Acadêmica e de Campo, o Trabalho de Conclusão de Curso, a 
Monitoria e as Atividades Complementares foram estruturadas intrinsecamente as 
dimensões acima mencionadas, confirmando as intencionalidades das autoras. O Núcleo 
de Supervisão Acadêmica e Formação Profissional em Serviço Social foi implantado na 
perspectiva de congregar o debate político, democrático e coletivo entre corpo docente, 
supervisores acadêmico e de campo, estudantes e demais sujeitos envolvidos neste 
processo de formação que contempla as dimensões aqui discutidas. E, a partir deste 
direcionamento foi constituído o GREPSS – Grupo Regional de Estudos e Pesquisa em 
Serviço Social composto por Supervisores de Estágio, egressos e docentes da referida 
UFA para garantir estrategicamente o movimento de amadurecimento intelectual, 
político e organizativo da categoria, entorno da necessária articulação entre exercício e 
formação profissional. Ainda, periodicamente são realizadas Jornadas Acadêmicas, 
Fórum de Supervisores e Visitas Institucionais. 
 
RETOMANDO O CAMINHO CONSTRUÍDO NA LUTA FRENTE À 
PRECARIZAÇÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL 
 
 
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“Saúde Mental Relacionada ao Trabalho” 
 A guisa de considerações finais reafirmamos a importância do trabalho como 
categoria de criação e autocriação da imagem da profissão e do profissional frente ao 
contexto de precarização do mundo do trabalho e, neste relato de experiência, 
especialmente, na Educação Superior que rebate na Formação Profissional em Serviço 
Social. 
 Mesmo diante dos desafios imperativos do capitalismo, reiteramos que há 
possibilidades de luta coletiva da categoria e construção de estratégias no cotidiano do 
trabalho profissional, as quais são identificadas pelo método de análise crítico da 
realidade social e numa articulação conjunta das entidades representativas da categoria. 
No que tange as deliberações por melhores condições na formação profissional 
em Serviço Social, do trabalho profissional e redução de carga horária semanal, temos a 
destacar que os órgãos da categoria profissional ABEPSS, CFESS, ENESSO tem 
travado lutas e, conseqüentemente, conquistas de ordem jurídica, na qual celebramos a 
aprovação no Senado Nacional referente à PL 30 horas (PLC 152/2008). Entretanto, há, 
ainda, muito que lutar e destacamos uma pauta significativa sobre a questão do CNE, do 
MEC/Sesu entendendo que é preciso provocar uma discussão para o reordenamento 
político e democrático destes órgãos e suas respectivas prerrogativas enquanto espaços 
públicos que legislam e executam ações junto à política de educação. Sendo assim, no 
intuito em que possamos, enquanto organização política da categoria, amparada pelos 
movimentos sociais em prol da educação de qualidade, repensar e interferir nos 
caminhos da Educação Superior no Brasil, sempre no sentido de sua ampla qualidade. 
 Contundo, entendemos que é possível criar condições socialmente concretas 
para mudanças desde que estas sejam construídas e, que as limitações à autonomia 
sejam superadas. Estamos falando de projetos sociais criados na direção da 
transformação da realidade e de realização da liberdade, ou seja, da construção de uma 
nova sociabilidade – a qual participamos como “homem-inteiro”(Lukács). 
 
Não deliberamos e nem decidimos sobre aquilo que é regido pela natureza, 
isto é, pela necessidade. Mas, deliberamos e decidimos sobre tudo aquilo que, 
para ser e acontecer, depende de nossa vontade e de nossa ação. ... 
Deliberamos sobre o possível, isto é, sobre aquilo que pode ser ou deixar de 
ser... (CHAUÍ, 1995, p. 341). 
 
REFERÊNCIAS 
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Profissional: trajetórias e desafios. Cadernos ABESS. n.7. Edição Especial. São Paulo: 
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