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IDA ROLF E OS DOIS PARADIGMAS DA SAÚDE

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IDA ROLF E OS DOIS PARADIGMAS DA SAÚDE 
Neste artigo, Sam Johnson situa o trabalho de Ida Rolf entre os dois modelos de 
saúde que presidiram - e ainda presidem - a medicina no mundo ocidental: o 
holismo e o método científico. Oferece a possibilidade de uma compreensão 
mais profunda da Integração Estrutural, criada pela bioquímica norte-americana, 
em seu contexto histórico e no interior do desenvolvimento das ciências 
médicas. Ida Rolf iniciou sua vida profissional no mundo da ciência mecanicista, 
que tem como base o modelo científico de Descartes, para construir um legado 
no outro extremo, o modelo holístico ou sistêmico, que por mais de dois mil 
anos, desde os tempos de Hipócrates, orientou a ciência, até meados do século 
XIX. O autor mostra como a Integração Estrutural pode ter cada um dos pés 
apoiados sobre os dois paradigmas, sem deixar de pertencer ao holismo. 
Oferece também uma base consistente para a reflexão e compreensão do 
caráter das próprias instituições que concentram e propagam o conhecimento 
gerado por Ida Rolf. Publicação autorizada a partir do original em inglês. 
Tradução: Armando Macedo. 
A história dos primeiros trabalhos de Ida Rolf no campo da bioquímica, muito 
antes de criar a Integração Estrutural, foi sempre resumida. PhD por Columbia, 
uma década de trabalho no Instituto Rockefeller, alguns poucos artigos 
publicados, e então ela deixa o mundo da ciência, tomando tardiamente um 
caminho longo e sinuoso até chegar à criação do trabalho pelo qual todos nós 
a conhecemos. 
Li recentemente algumas informações novas sobre o mundo em que ela viveu, 
e sobre o contexto no qual ela abraçou sua primeira profissão, que tornam sua 
história muito mais plena e rica. Permitem também uma apreciação da 
magnitude do salto dado no desenvolvimento da Integração Estrutural, além de 
nos oferecer alguns insights sobre o potencial e as armadilhas inerentes ao 
nosso campo de trabalho. 
A Dra. Ida Rolf ingressou oficialmente no mundo da ciência médica em 1917, 
quando foi contratada para trabalhar no Laboratório de Química do Instituto 
Rockefeller para a Pesquisa Médica. Entretanto, a história na verdade começa 
antes. 
Para entender a cultura na qual ela caminhou, a data importante é 12 de 
setembro de 1876. Neste dia, foi inaugurada a Universidade Johns Hopkins, em 
Baltimore, Maryland. Graças em grande parte ao primeiro diretor dessa escola 
médica, William Welch, a figura individual mais importante da história da 
medicina nos Estados Unidos, a Johns Hopkins pôde mudar a face da ciência 
americana e da medicina e estabelecer um paradigma que domina a ciência 
médica no mundo ocidental até os dias atuais. A primeira década da vida 
profissional da dra. Ida Rolf também foi um produto deste mesmo paradigma. 
Hipócrates e o holismo, primeira parte 
A fundação da Johns Hopkins foi importante, em parte, por causa do caos 
existente na medicina americana durante a maior parte do século XIX. Foi um 
caos criado por um vazio. As práticas médicas que existiram largamente sem 
mudanças, desde os tempos de Hipócrates, começaram a ficar fora de moda, à 
medida que a emergência do método científico punha em dúvida sua eficácia. 
Entretanto, as descobertas científicas não eram acompanhadas pelo 
aparecimento de novas práticas que substituíssem as velhas terapias. 
A grande ironia (em nosso campo e para muitos outros assim chamados novos 
paradigmas de abordagem da saúde), é que o paradigma que existia antes da 
revolução da medicina científica parecia-se muito com aquele que 
descreveríamos hoje como “novo”. Esse paradigma, que dominou o Ocidente e 
o Oriente Médio médicos durante mais de dois milênios, estava baseado 
largamente nos escritos de Hipócrates e seus colegas e estava firmemente 
baseado no princípio do holismo. 
Hipócrates via a saúde como um reflexo do equilíbrio corporal, e a 
doença consequentemente como resultado do desequilíbrio. 
Desequilíbrio interno, causado por hábitos de vida, fatores 
ambientais, higiene etc., era o que conduzia à doença. A partir dessa 
idéia seguiu-se a crença de que, se um médico pudesse intervir de 
tal maneira a restaurar o equilíbrio no corpo, a doença poderia ser debelada. A 
Hipócrates, no quinto século antes de Cristo, e não a Hahnemann ou Sutherland 
ou Still ou Alexander ou Ida Rolf, pode ser atribuído o crédito de ter sido o 
primeiro a popularizar esta noção no Ocidente. 
A abordagem da saúde promovida pelos escritos de Hipócrates era semelhante 
em espírito às de outras grandes tradições holísticas que existiram naquele 
tempo – a medicina tradicional chinesa e a medicina védica da Índia. Ambas 
existiram por milhares de anos antes de Hipócrates, e ambas destacaram o 
equilíbrio, apesar de seus sistemas de saúde divergirem enormemente. 
Hipócrates destacou a importância do poder inato da pessoa doente para 
recuperar a saúde. Ele foi o primeiro médico ocidental a articular o que viria a 
ser conhecido como - “Vis medicatrix naturae” – o poder de cura da natureza. 
Ele também sugeriu, compreendendo o poder do sistema imunológico, que 
dieta, repouso, limpeza e higiene eram fatores que explicavam as diferenças 
individuais na resistência à doença. 
Entretanto, havia dois problemas. Primeiro, muitos dos tratamentos então 
desenvolvidos eram agressivos e muitas vezes ineficazes. Purgantes, sangrias e 
cauterizações (por meio da queima da pele), frequentemente resultavam na 
morte do paciente. Segundo, não existia nenhum experimento feito para 
verificar se os tratamentos usados funcionavam. Esse problema do rigor – de 
submeter uma idéia e um tratamento a testes rigorosos – continuaria a 
assombrar o mundo do holismo durante séculos. 
Para complicar as coisas, os médicos eram obrigados a especular sobre o que 
havia dentro do corpo. Dissecação era algo que não era praticado em humanos 
e assim o conhecimento sobre a anatomia do corpo era pequeno. Os gregos da 
época de Hipócrates viam com estranheza a dissecação, e então, mais tarde, 
durante a Idade Média, a Igreja simplesmente a proibiu. Nada mudou até que 
Vesalius, no século XVI, realizou dissecações e produziu ilustrações sobre o que 
encontrou, de modo que o funcionamento interno do corpo foi estudado e 
descrito pela primeira vez. Apenas por pouco escapou da morte por essa heresia. 
Descartes e o alvorecer do reducionismo 
E foi assim por dois mil anos. O curso da medicina ocidental 
continuou largamente imutável até o século XVII. Em 1628, anos 
depois das dissecações realizadas por Vesalius, William Harvey 
descreveu a circulação do sangue, um feito que frequentemente foi 
chamado de a maior realização na história da medicina (embora um 
médico muçulmano, Ibn Nafis, tenha recebido o crédito, no 
essencial, por essa mesma descoberta, séculos antes, no Cairo). 
Mas a mudança realmente significativa ocorrida naquele tempo veio do filósofo 
René Descartes. No início do século XVII ele estabeleceu a noção de dualidade. 
A mente e o corpo humano seriam entidades distintas, e nenhuma poderia 
afetar a outra diretamente. Em sua visão dualista, tudo no campo da realidade 
física funciona de modo puramente mecânico. Descartes incluíu o corpo como 
parte da realidade física, concebendo-o como uma máquina biológica sem livre 
arbítrio. 
Uma das propriedades da máquina ou mecanismo é que pode ser dividido em 
pequenas partes ou mecanismos menores. Pode ser reduzido a suas partes 
constitutivas. Assim o reducionismo cartesiano nasceu, estabelecendo o 
paradigma que iria mudar o curso da ciência e, mais tarde, igualmente o da 
medicina. 
O dualismo foi útil naquele tempo – ele separou o físico do espiritual, e isso 
permitiu aos cientistas estudar ouniverso físico sem a ameaça de heresia por 
parte da Igreja. Abriu caminho para o trabalho revolucionário de Isaac Newton 
nos campos da matemática e da física e para o desenvolvimento do método 
científico. Mas a concepção do corpo como uma máquina conduziria mais tarde 
a uma abordagem puramente mecanicista da medicina e, durante os três séculos 
seguintes, minimizaria a compreensão dos efeitos da opinião e atitudes do 
paciente, suas emoções e a fé, e o poder do relacionamento médico-paciente 
sobre o processo de cura. 
Descartes publicou em 1637 seu Discurso sobre o Método, o qual estabeleceu 
os fundamentos para o desenvolvimento do método científico. Esta foi uma 
contribuição crucial – o método científico poderia dar aos cientistas um meio 
para estudar a natureza. O livro deu ao reducionismo o instrumento para estudar 
sistematicamente as partes que constituíam os mescanismos físicos. 
Enquanto os progressos nas ciências físicas explodiam após Newton, as coisas 
moveram-se mais devagar nas ciências biológicas. Na década de 1740, James 
Lind, dirigindo experiências controladas, descobriu que o escorbuto poderia ser 
prevenido por meio da ingestão de cítricos (e desde então os marinheiros 
britânicos são chamados de limeys). Somente em 1798, Edward Jenner publicou 
um trabalho que viria a ser uma baliza para o novo método científico. Ele 
descobrira a vacina contra a varíola. Tão ou mais importante que a descoberta 
foi o rigor de sua metodologia. Assegurou-se de que seus resultados fossem 
inquestionáveis e pudessem ser repetidos antes que viessem a público. Pela 
primeira vez, um pesquisador em ciências biológicas tinha oferecido sua própria 
mão à palmatória. 
As descobertas vieram mais rapidamente no alvorecer do século XIX. Na França, 
Xavier Bichat descobriu que os órgãos eram compostos por um material discreto 
(frequentemente organizado em camadas) que ele chamou de “tecidos”. Pierre 
Louis começou a usar autópsias para comparar tecidos saudáveis com tecidos 
doentes. Na Inglaterra, John Snow engenhosamente usou a matemática para 
analisar uma manifestação de cólera e concluiu que a água contaminada havia 
causado a doença. Fundava assim o campo da epidemologia. E, na Alemanha, 
Jacob Henle e outros formularam a teoria do germe da doença, que viria a ser 
um marco no desenvolvimento da medicina no século XIX. 
Alguma coisa estava acontecendo que mudava 
substancialmente a relação médico-paciente. 
Pesquisadores (e depois também os clínicos) estavam 
então usando de forma cada vez mais difundida 
instrumentos para estudar e diagnosticar. O 
estetoscópio foi inventado. Médicos incorporaram o uso do termômetro, que 
havia sido inventado duzentos anos antes, para medir a temperatura corporal 
dos pacientes. Pulsação e pressão sanguínea eram mensuradas. O laringoscópio 
e o oftalmoscópio foram desenvolvidos. Mais significativo ainda, o miscroscópio 
com lentes acromáticas passou a ser usado na década de 1830 e um universo 
inteiro de possibilidades explodiu para os pesquisadores, permitindo o estudo 
de um mundo que nunca havia sido visto antes. 
Entretanto, a confiança nos instrumentos criou uma nova distância entre o 
médico e o paciente. Médicos começaram a confiar menos em suas observações 
e em seus sentidos (uma referência central no pensamento hipocrático), e mais 
em instrumentos, números e dados. Para desânimo de muitos críticos daquele 
tempo (e de não poucos desde então), o corpo humano tornou-se um objeto a 
ser testado e provado (Descartes!), e os resultados analisados nos campos da 
matemática e da química. 
Durante esse período, a Alemanha era o centro do universo médico. Numerosos 
laboratórios foram estabelecidos, com os grandes cientistas daquele tempo 
sondando ativamente a natureza do corpo, explorando suas partes e suas 
funções de maneira a que refletisse de forma exemplar o moderno método 
científico. Os escritores hipocráticos tinham acreditado que a natureza deveria 
ser observada passivamente para que as teorias fossem desenvolvidas. Os 
laboratórios alemães demoliram essa concepção – eles construíram 
experimentos controlados que estimularam, dividiram e manipularam a natureza 
para ver que segredos poderiam achar. Jacob Henle, o primeiro a formular a 
teoria moderna do germe, resumia o credo básico no novo método na seguinte 
fórmula: “A natureza só responde quando é questionada”. 
O problema com tudo isso era que, tanto quanto era revolucionária na teoria, 
muito pouco a nova medicina era traduzida em novos tratamentos e na 
prevenção das doenças. As concepções antigas saíam de moda e os médicos 
cada vez mais abandonavam os tratamentos aceitos durante milhares de anos. 
Mas nada havia para subistituí-los. Formou-se um vácuo. (A medicina holística 
iria parcialmente preenchê-lo durante o século XIX, e ainda mais nos anos 
seguintes). 
Ironicamente, algumas das descobertas práticas que podiam salvar vidas 
estavam no campo da limpeza e da higiene públicas. Cientistas descobriram que 
a água contaminada causava cólera, que o tifo era transmitido por meio dos 
alimentos e da água consumidos, que as pragas eram disseminadas por ratos 
infestados por pulgas. Os cientistas descobriam o poder de salvar vidas por meio 
da limpeza e da higiene, um fato apontado por Hipócrates vários séculos antes. 
Enquanto as descobertas científicas fervilhavam na Europa durante o século XIX, 
a América passava ao largo da revolução. Os Estados Unidos experimentaram o 
mesmo vácuo a respeito de tratamentos efetivos existente na Europa, mas em 
acréscimo, a situaçao da pesquisa e da formação clínica estava tão catastrófica 
que o presidente da Harvard afirmou em 1869 que “a ignorância e a 
incompetência generalizada do graduado médio americano nas escolas médicas 
(…) é algo horrível de se contemplar”. Muitos estados não dispunham de licença 
para a prática médica. Muitas escolas médicas não dispunham de padrões 
admissionais, exceto a disponibilidade de pagamento das taxas. Nenhuma 
faculdade de medicina americana permitia a realização de autópisas e o cantato 
com pacientes. Nenhuma ensinava aos estudantes o uso de microscópios. Na 
metade do mesmo século, nenhuma universidade ou instituição médica na 
América dava suporte a qualquer pesquisa. Muitos médicos americanos faziam 
peregrinações para estudar nos grandes centros de pesquisa da Europa, mas 
eles retornavam para um gigantesco vazio, onde sua formação e habilidades 
não tinham como ser aproveitadas. 
 
A revolução chega à América 
Quando Johns Hopkins morreu em 1873, deixou uma base 
confiável para a formação de uma universidade e um hospital. Seus 
depositários, vendo o número de estudantes americanos de 
medicina que iam estudar na Europa, decidiram (seguindo os 
conselhos dos educadores mais bem reconhecidos daquele tempo) 
criar a universidade de acordo com o modelo das grandes 
universidades alemãs. Isso significava uma universidade onde o questionamento 
e a pesquisa não apenas eram permitidos, mas estimulados, e onde estudantes 
deviam atender a exigências severas de admissão, algo desconhecido em 
qualquer instituição médica americana da época. Os depositários pretenderam 
criar uma instituição que fosse tão rigorosa como suas congêneres européias 
tomadas como modelo. 
Depois de sua fundação em 1876, o novo presidente da Johns 
Hopkins começou a construir uma faculdade internacional, e a 
escola principiou modestamente oferecendo cursos de 
graduação. Em1884, William Welch foi contratado para criar e 
fazer funcionar a escola de medicina. A escola propriamente só 
seria aberta nove anos mais tarde, mas o Laboratório de 
Patologia iniciou as atividades imediatamente. E nomesmo instante a medicina 
nos Estados Unidos se transformou, e Welch, que havia estudado e sido treinado 
com os maiores cientistas da Europa, afirmou-se como um dos mais (senão o 
mais) influentes cientistas do mundo. 
Ele criou a faculdade e abriu seu laboratório, e o campus da Hopkins 
transformou-se muito rapidamente em algo único, um caldeirão efervecente de 
questionamentos como ninguém tinha visto antes. A faculdade, os 
pesquisadores e estudantes reuniam-se em uma experiência diária, socializando, 
debatendo, colaborando, gerando novas idéias, estimulando-se mutuamente, 
num ambiente que os colegas comparavam ao do clima apaixonado de um 
monastério. Cada um compartilhava a visão de que estavam criando algo novo 
e importante. Os estudantes faziam algo que os estudantes americanos de 
medicina nunca tinham feito antes: eles visitavam os hospitais, examinavam os 
pacientes e faziam diagnósticos, testando o conhecimento adquirido no 
trabalho em laboratório e nas autópsias. Eles não ficaram limitados somente aos 
livros, como os estudantes das outras escolas; fizeram uma imersão na ciência e 
na prática da medicina. 
Sabendo que isso estava disponível, os estudantes afluíram à Hopkins. Os 
requisitos de admissão eram rigorosos, inéditos na America, mas mesmo assim 
os estudantes chegavam em bandos. Era o lugar onde todos queriam estar. Era 
também o lugar que cada diretor e cada universidade queriam imitar. Seus 
formandos e pesquisadores eram requisitados – e alguns hospitais só admitiam 
médicos treinados na Hopkins. Entre os quatro primeiros premiados com o 
Nobel em medicina, três haviam sido treinados na Hopkins (o quarto fora 
formado na Europa). Seus graduados eram chamados a dirigir escolas médicas 
em Harvard, Yale, Columbia, Rochester, e outras universidades, adotando nelas 
os padrões próprios da Hopkins. 
Welch era a força propulsora por trás disso tudo, e ele continuou a preconizar 
as mudanças. Começou a dirigir aos laboratórios e aos pesquisadores que ele 
julgava dignos um fluxo de milhões de dólares. Um de seus protegidos 
encabeçaria os esforços para a adoção de padrões mínimos para as faculdades 
de medicina e os próprios médicos. Desde quando aceitou sua tarefa na 
Hopkins, nos 25 anos seguintes Welch supervisionaria a transformação da 
medicina nos Estados Unidos, e essa transformação permitiu que a comunidade 
científica americana alcançasse e em algumas áreas ultrapassasse seus colegas 
na Europa. 
Enquanto isso, o ataque às doenças infecciosas continuou nos laboratórios da 
Europa, e os primeiros resultados começaram a aparecer. A teoria dos germes 
tinha aberto as comportas para os pesquisadores. Em 1880, Pasteur vacinou com 
sucesso animais contra a cólera e depois antraz. A cólera e a febre tifóide eram 
contidas pela primeira vez, com base na compreensão de como elas se 
propagavam. Então finalmente, em 1891, em Berlim, pesquisadores trataram 
com sucesso um paciente que sofria de difteria, usando uma antitoxina. Era a 
primeira cura real propiciada pela nova era científica. Em seguida, na cidade de 
Nova York, pesquisadores aprenderam como produzir a antitoxina em massa, e 
ela se tornou disponível em larga escala. Os médicos tinham então uma 
ferramenta eficaz para prevenir e curar doenças mortais. Seria a primeira de 
muitas conquistas. 
O campo da medicina era agora uma ciência, e a revolução reducionista estava 
agora quase completa. Seus sucessos foram criados em laboratório e cada vez 
mais no próprio teatro de operações. Os campos da patologia, epidemologia, 
da quimioterapia, da medicina forense, da bacteriologia tinham desabrochado. 
O campo de luta da medicina transferira-se do consultório médico para o 
laboratório. 
A magnitude da mudança de paradigma desde os dias de Hipócrates foi 
estrondosa. Por dois milênios, a saúde fora entendida como o reflexo do 
equilíbrio sistêmico. Agora o foco tinha se deslocado do macro para o micro, do 
sistema integral para suas partes mínimas. O reducionismo estava na ordem do 
dia, e Hipócrates tinha sido abandonado quase que completamente em favor de 
Descartes. A medicina era agora o estudo de coisas ínfimas, dos menores 
componentes da máquina, que só podiam ser vistos com o uso de instrumentos. 
O microscópio era agora a mais poderosa ferramenta do arsenal à disposição 
dos pesquisadores, e ele simbolizou a mudança – trouxe à luz o mundo das 
coisas muito pequenas. A cura agora vinha de fora, orientada pelo microscópio 
para a batalha contra os invasores externos que atacavam o corpo. 
O campo da pesquisa era agora o lugar onde a ação se desenvolvia. O próximo 
grande passo no desenvolvimento envolvia as instituições de pesquisa que se 
tornariam modelo para o mundo científico. Assim, sob a supervisão de William 
Welch, em 1909 foi criado o Instituto Rockefeller para a Pesquisa Médica. 
O instituto e sua missão 
“Aqui está uma instituição cujo valor toca a vida de todo ser humano… Quem 
não sentiu o impulso do desejo de ser útil a todo o mundo? Aqui ao menos está 
um trabalho para toda a humanidade, que satisfaz plenamente e preenche esta 
gloriosa aspiração. Uma vocação que vai de encontro aos fundamentos da 
própria vida…” Frederick Gates, à direção Instituto Rockefeller, por ocasião do 
décimo aniversário dos laboratórios, em 1914. 
A finalidade do Instituto Rockefeller era objetiva – proporcionar aos 
cientistas os recursos necessários à pesquisa no campo da 
medicina. A orientação era mais geral que a dos congêneres 
europeus, mas estava centrada em primeiro lugar nas doenças 
infecciosas. Rockefeller no entanto visou um espectro amplo da 
prática médica. Além dos estudos sobre as doenças infecciosas, os 
cientistas explorariam técnicas cirúrgicas (que pavimentaram o caminho para os 
transplantes de órgãos) e começaram a pesquisar o câncer (Peyton Rous, um 
graduado pela Hopkins que fez pesquisas no Rockefeller, descobriu em 1911 
que um vírus poderia causar o câncer, e meio século depois, teve seus esforços 
reconhecidos com o Prêmio Nobel). No instituto foi realizado também o 
trabalho básico que conduziria a um dos grandes feitos científicos no século XX 
– o mapeamento da molécula do DNA. 
Welch escolheu um protegido, Simon Flexner, para liderar o novo instituto. 
Flexner imprimiu ao instituto seu próprio caráter – “cortante, nervoso, frio.” Ele 
era descrito como áspero, brilhante e intimidativo. Foi temido por alguns dos 
melhores cientistas do mundo. Ele procurava somente os melhores para 
trabalhar para ele, e demitia aqueles cujo trabalho acreditava não atender aos 
padrões exigidos. Mas podia ser paciente e acolhedor quando via uma 
promessa, e oferecia um largo campo de ação quando via um pesquisador com 
talento verdadeiro. Ele também apoiou a abertura e o debate, a competição e a 
discordância. Procurou individualistas, dissidentes destemidos capazes de 
pensar em novas direções, e estimulou trocas vivas e regulares de idéias. Seu 
objetivo foi o de criar não um instituto, mas um organismo vivo, e o resultado 
foi um ambiente que exigia igualmente, mas também excitava, provocava e 
despertava a criatividade. 
Desde o começo, o novo instituto produziu regularmente manchetes, não só na 
América, mas internacionalmente. Teve imediatamente um enorme impacto no 
mundo científico, bem como no publico em geral. Suas realizações ganharam 
frequentemente grande publicidade, e com muita fanfarra. A imprensa amou 
Flexner e seu instituto, e ele a tratou da mesma forma. Embora tivesse críticos, 
que zombavam da máquina publicitária, o instituto rapidamente tornou-se para 
a pesquisa o que a Hopkins havia se tornado para o estudo e a formação médica 
– o lugar para estarpara um cientista desejoso de fazer um nome para si mesmo 
no campo da pesquisa. O Rockefeller estaria envolvido, e frequentemente no 
centro, de cada desenvolvimento médico realmente significativo na América 
durante alguns dos anos seguintes. 
Este periodo, que compreende o final do século XIX e o início do século XX, tem 
sido chamado de “os anos de ouro” da medicina americana. Descobertas 
importantes ocorriam praticamente todos os dias, surgiam vacinas e 
tratamentos para algumas das doenças mais fatais que acometiam a 
humanidade, e as ciências biológicas haviam se tornado o centro do universo 
médico. Muitos dos processos destinados a preparar as culturas e a conduzir as 
pesquisas relativas às doenças infecciosas, que foram desenvolvidos naquele 
período, são práticas adotadas até hoje, e, em alguns casos, os pesquisadores 
conseguiram resultados com pacientes superiores aos obtidos com os métodos 
farmacêuticos modernos. As grandes pragas que tinham atacado a humanidade 
por séculos – varíola, cólera, tifo, febre bubônica, febre amarela – estavam sendo 
contidas e vidas estavam sendo salvas das epidemias aos milhões. 
 
Ida Rolf, cientista e bioquímica 
Este foi o ambiente científico em que Ida Rolf começou sua carreira. 
Ela havia obtido sua graduação no Barnard College, em1916, e no 
ano seguinte começou oficialmente a trabalhar como técnica no 
Intituto Rockefeller. Ao mesmo tempo, iniciou seus estudos para o 
doutorado na Universidade Columbia. Foi aceita assim como 
bioquímica, no ponto mais alto da revolução da medicina científica, 
na instituição que era o merco zero para a pesquisa de laboratório na América, 
sem dúvida o lugar do mundo de maior prestígio onde um cientista poderia 
trabalhar. 
A crença geral é a de que Ida Rolf foi aceita devido à falta de homens 
qualificados naquele tempo – os rapazes estavam fora na guerra e, assim, era 
concedida às mulheres a oportunidade de estudar e praticar na arena da ciência. 
Isto pode explicar parcialmente sua aceitação na Columbia (ela começou seus 
estudos na Columbia em fins de 1917, depois de os Estados Unidos aderirem à 
Primeira Guerra Mundial), mas provavelmente não no Instituto Rockefeller. Ela 
aparentemente tinha alguma conexão com uma das organizações da família 
Rockefeller na cidade de Nova York, no período em que estava para se graduar 
no Barnard. Em 3 de abril de 1916, uma notícia no jornal do Barnard College 
mencionava Ida Rolf, então uma veterana em vias de graduar-se, e notava que 
ela estava “trabalhando em química na Fundação Rockefeller”. A Fundação 
Rockefeller era uma instituição de caridade, também criada pela família 
Rockefeller, a qual naquele tempo estava focada nas ciências, na saúde pública 
e na educação médica. Não se sabe se ela de fato trabalhou na fundação, ou se 
a informação no jornal era incorreta e ela na verdade já fazia seu trabalho no 
instituto. Mas, de qualquer forma, isso ocorrera mais de um ano depois de os 
Estados Unidos entrarem na Guerra. 
O Instituto Rockefeller contratara muitas mulheres naquele tempo, mas 
aparentemente para ocupar posições baixas e somente em funções destinadas 
a principiantes. Era muito mais difícil para uma mullher atingir os degraus mais 
altos da escala científica. Em 1918, Ida Rolf retornou ao Barnard para falar aos 
alunos em vias de graduar-se sobre as oportunidades de emprego no 
Rockefeller. Ela afirmou que “…em todos os laboratórios mulheres eram 
empregadas sem discriminação e alçadas a posições de grande 
responsabilidade.” 
Contudo, em Uma História do Insituto Rockefeller, George Washington Carver 
não menciona nenhuma mulher cientista naquele período inicial. Todos os 
chefes de departamento e numerosos associados e assistentes foram 
mencionados ao longo de seu trabalho e mal há qualquer registro de uma 
mulher. Ao descrever a direção do laboratório de Química, Carver registra 
“aproximadamente 40 homens “, passando por seu laboratório quando de sua 
posse. O autor descreve uma organização cujo domínio pertence quase que 
exclusivamente a homens, pelo menos no que diz respeito aos pesquisadores. 
A maioria das mulheres que estavam empregadas no Rockefeller muito 
provavelmente começava em cargos da área administrativa ou ini ciava-se como 
técnica nos laboratórios. Progredir era o desafio. Ida Rolf foi aparentemente uma 
das poucas que conseguiu avançar. 
O nome da Dra. Ida Rolf apareceu oficialmente na lista de empregados do 
instituto em l917. Ela também começou seus estudos em bioquímica na 
Colúmbia em fins desse mesmo ano. Naquele periodo, Rockefeller funcionava 
basicamente como uma universidade especializada em pós-graduação, ainda 
que quase todos os cientistas já fossem PhD’s ao serem admitidos. Contudo, 
assim como Ida Rolf, muitos outros começavam como técnicos e usavam seu 
trabalho no Rockefeller para ganhar seus PhD’s na Columbia. Muitos dos 
cientistas gastariam vários anos – de cinco a sete pelo menos – no instituto, até 
vir a ocupar cargos em universidades ou trabalharem na indústria. Somente um 
pequeno número se tornaria membro pleno e dedicaria a vida à instituição. 
A Dra. Ida Rolf começou seu trabalho no laboratório de química como assistente 
de Phoebus Levene. Levene fora trazido para o instituto por Flexner em 1905 e 
dois anos mais tarde fora nomeado membro pleno e escolhido para chefiar o 
laboratório de química. Ele havia imigrado para os Estados Unidos em 1893 e, 
assim como Ida Rolf, tinha ingressado na Columbia e começado suas pesquisas 
em química. No curso de sua vida profissional, contribuiu para um corpo enorme 
de pesquisas no campo da bioquímica, em diversas áreas importantes. Ele é mais 
conhecido por duas contribuições principais (e por um erro igualmente 
importante) no que diz respeito à descoberta e compreensão da molécula do 
DNA. 
O laboratório Levene 
Levene era culto e altamente 
educado, falava seis idiomas, era um 
amante da arte, generoso e popular 
com seus colegas. De algum modo 
porém o ajustamento dele em relação 
ao Instituto Rockefeller era imperfeito. 
Flexner o considerou incialmente 
como “esoterico em seus interesses 
científicos” (o significado dessa 
afirmação é desconhecido, mas 
desperta a curiosidade sobre a hipótese de que Levene , como supervisor direto 
de Ida Rolf, a tenha influenciado em suas próprias buscas esotéricas durante os 
anos 1920. Ele assim desenvolveu uma reputação de administrador ineficaz – de 
quem escapavam os detalhes práticos do trabalho no laboratório. 
Levene tinha outra qualidade que pode eventualmente ter causado o 
desassossego de Ida Rolf no Rockefeller. Todos os chefes de departamento 
tinham pleno controle sobre seus laboratórios, e alguns deram a seus assistentes 
e associados grande liberdade para seguir seus próprios interesses em pesquisa. 
Levene estava no outro extremo – esperava que seus assistentes fizessem 
somente a pesquisa que ele mesmo definia. Tinham pouca liberdade para 
explorar seus próprios interesses; em conseqüência, desenvolveu poucos 
cientistas proeminentes em comparação com as outras chefias de 
departamento. Isto conduziu Flexner a expressar em 1919 que os cientistas 
liderados por Levene “… não estavam treinados para o trabalho independente.” 
Seu departamento ficou muito instável - os cientistas sairiam, procurando outras 
oportunidades. Tão popular e querido como era, e apesar de ter a reputação de 
ser um professor excelente, Levene não teve competência para desenvolver 
talentos. 
A dra. Ida Rolf foi nomeada assistente em 1918. Em 1920 recebeu seu PhD da 
Columbia e em 1922 foi promovida a associada, a posição não-vitalícia mais 
elevada para um cientista no Instituto Rockefeller.Permaneceu como associada 
até sua demissão. De 1919 a 1927, publicou quinze artigos de pesquisa 
conhecidos, além de sua dissertação de doutorado, principalmente a respeito 
de dois fosfatídeos, a lecitina e a cefalina. 
O trabalho da Dra. Rolf, como o da maioria em seu tempo no Rockefeller, era 
explorar mais a estrutura e a natureza da lecitina e de seus primos químicos (os 
fosfatídeos eram uma área do interesse pessoal de Levene). Era um trabalho 
passo a passo, detalhado, da ciência de laboratório - como extrair 
eficientemente a lecitina das gemas, como determinar mais exatamente sua 
estrutura química. Seus artigos eram, em uma palavra, secos (um cientista os 
descreveu, depois de lê-los, como uma cura maravilhosa para a insônia). 
A pesquisa de Ida Rolf teve sempre Levene como coautor – o nome dele 
apareceu sempre acima do dela em seus artigos. Era comum naquele tempo 
mandar chefias de laboratório pôr o nome sobre toda a pesquisa que saísse de 
seu laboratório, não importava se o chefe do laboratório tivesse tido 
participação real no estudo ou não. Assim não é possível saber se ele trabalhou 
ativamente com ela em sua pesquisa publicada ou atuou simplesmente como 
supervisor. 
 
Duas Guerras 
Durante os primeiros anos da permanência de Ida Rolf 
no Rockefeller, o trabalho e o ambiente do instituto 
foram influenciados fortemente por duas guerras. 
Inicialmente, foi a Primeira Guerra Mundial. Embora a 
guerra tivesse começado na Europa em 1914, o 
presidente Woodrow Wilson havia decidido durante 
todo seu primeiro madato manter os Estados Unidos 
fora do conflito. Seu lema de campanha para a 
reeleição em 1916 era “ele nos manteve fora da 
guerra.” Só pediu autorização ao congresso para 
declarar a guerra em abril de 1917, depois de uma série 
de ataques alemães, com submarinos, a navios 
mercantes americanos. A declaração de guerra saiu em maio 1917. 
Assim que a guerra foi declarada, virtualmente cada instituição pública e privada 
nos Estados Unidos foi convertida de uma ou outra forma ao esforço de guerra. 
Isto incluiu a maioria das instituições educativas. Nesse ambiente, havia o temor 
no Instituto Rockefeller de perder cientistas, fosse por alistamento ou por 
convocação. 
Assim Flexner providenciou para que o instituto inteiro fosse incorporado ao 
exército. O Instituto Rockefeller transformou-se oficialmente no laboratório 
auxiliar número um do exército. Os cientistas receberam patente de oficial e 
eram saudados nos corredores pelos guardas de serviço e pelos técnicos, agora 
transformados em sargentos (o que naquele tempo incluía a dra. Ida Rolf). O 
trabalho da equipe de funcionários foi mudado. A maioria dos pesquisadores 
começou a instruir doutores militares ou a deslocar a pesquisa para assuntos 
relacionados à guerra. Pelo menos um bioquímico estudou o gás tóxico. Outros 
trabalharam com materiais para a fabricação de bombas. Outros treinaram 
médicos do exército para tratar doenças infecciosas. Como parte da equipe 
técnica (e como mulher), a Ida Rolf não seria provavelmnete oferecida uma 
patente. Não há nenhum registro de que lhe tenha sido oferecida uma, e é 
provável que tenha passado muito de seu tempo durante seus primeiros anos 
estudando e fazendo seu trabalho de doutorado na Columbia. 
A Primeira Guerra Mundial, em que a dra. Rolf desempenhou um papel menor, 
foi travada também em laboratórios do mundo inteiro, e contra um inimigo 
muito mais mortal. Em fins de janeiro de 1918, no condado de Haskell, no 
Kansas, um médico local começou a observar pacientes que sofriam de algo que 
parecia ser particularmente violento, uma forma de gripe aguda e mortal. 
Segundo epidemologistas, um soldado em licença trouxe a gripe ao local e 
depois a levou de volta a sua base do exército , de onde ela se espalhou 
gradualmente através do país, através do oceano nos navios que conduzim as 
tropas, e possivelmente a quase cada canto da terra. Era o começo provável do 
que se transformou na praga mais mortal da história da humanidade, a 
pandemia de gripe de 1918-1919, em que de 50 milhões a 100 milhões de vidas 
foram perdidas. 
É difícil conceber hoje o nível da histeria e do medo paralizante que varreram os 
Estados Unidos (e o resto do mundo), enquanto o vírus espalhava-se de uma 
cidade, uma base do exército, de um estado a outro. A tensão provocada pela 
gripe nunca fora vista antes, devido em parte à velocidade e a ferocidade com 
que matava. No mundo inteiro registraram-se casos em que populações que 
não exibiam de todo qualquer sintoma, no período de poucas horas de repente 
eram duramente golpeadas. E, ao contrário da maioria das manifestações 
conhecidas de gripe, ela golpeava indistintamente os membros mais vigorosos 
de uma comunidade - de algum modo, atacou os sistemas imunológicos das 
populações mais saudáveis tão de repente que sua própria resposta 
imunológica as matou, e as matou com uma velocidade frenética. Usando 
estimativas (aceitas hoje por muitos epidemilogistas como razoáveis), acredita-
se que 5% da população do mundo foi morta pela gripe, e que uma 
percentagem muito elevada desse número era composta por adultos jovens, os 
membros mais saudáveis da população. A maioria das mortes ocorreu no 
mundo inteiro durante um período dramático de dezesseis semanas, no fim de 
1918. 
A epidemia foi apresentada da pior forma pela máquina de propaganda 
destinada a concentrar e manter o vigor do esforço de guerra. O governo não 
quis que o medo da gripe desviasse a atenção do país do trabalho de 
sustentação total da guerra, e assim a informação exata e verdadeira sobre a 
profundidade do perigo não foi comunicada ao público antes que já fosse 
demasiadamente tarde. O exército ignorou os conselhos (as medidas 
preventivas, mais exatamente) propostas por seu próprio general cirurgião e não 
tomou as proteções adequadas. Em conseqüência, suas bases foram devastadas 
pelo vírus. 
As iniciativas públicas e privadas paralizaram-se - ninguém queria mais ficar 
perto de ninguém. Familiares morriam porque ninguém chegava perto do leito 
para ajudar, com receio do vírus. Devido à quantidade reduzida de médicos e 
enfermeiras disponíveis era mesmo impossível produzir um impacto mínimo na 
maioria das áreas. 
Em fins de 1918, quando a segunda onda mortal da epidemia estava no ápice e 
a situação chegava a um ponto trágico , um esforço mundial e maciço de 
pesquisa tinha sido mobilizado para isolar o virus da gripe, encontrar 
tratamentos eficazes e desenvolver uma vacina. A comunidade científica centrou 
sua atenção (tanto quanto possível com a guerra ainda em pleno andamento) 
sobre a doença. Com o Instituto Rockefeller não foi diferente, e alguns de seus 
melhores e mais conhecidos cientistas dedicariam-se ao problema e passariam 
mais tarde a maior parte de suas vidas profissionais na pesquisa sobre a 
influenza, como ficou conhecida a gripe. 
É possível fazer algumas suposições sobre a natureza da pesquisa realizada por 
Ida Rolf. Seu trabalho teve como foco a natureza dos fosfatídeos, em particular, 
da lecitina. A lecitina joga um papel chave na estrutura membranosa das células 
- sem ela, as células não poderiam manter uma estrutura distinta do ambiente 
que as circundam . A lecitina foi descoberta em 1846, e antes do trabalho da dra. 
Ida Rolf no Rockefeller, já era uma fonte de curiosidade na área da bioquímica. 
Parte do interesse pode ter tido a ver com a natureza dos vírus. 
Quando um vírus ataca o corpo, muito da batalha de vida ou morte que é 
travada ocorre na membrana da célula. É na membrana que o vírus tenta unir 
seus ligamentos aos ligamentos próprios da célula (ou, no caso da gripe, onde 
deslizanas células dos pulmões, evitando totalmente sua detecção pelo sistema 
imunológico). Assim uma compreensão do papel da lecitina na estrutura da 
membrana celular seria importante para a compreensão do que ocorre 
realmente no ponto em que os vírus atacam. 
Não se sabe se o trabalho da Dra. Ida Rolf com lecitina ocorreu no contexto do 
enfoque do Instituto Rockefeller em meio à epidemia da gripe, com o objetivo 
de compreender a natureza de como o vírus ataca o corpo. Mas vale a pena 
notar que Levene deu muito pouca atenção à lecitina até 1918, e a seguir 
publicou dúzias de artigos entre os documentos sobre o assunto, com Ida Rolf 
e outro pesquisador, ao passo que anos 30 pareceu perder o interesse no 
assunto. Assim seu trabalho foi provavelmente em parte ciência pura e em outra 
parte possivelmente estimulado pela pesquisa a respeito da gripe e doenças 
infecciosas. 
 
Retorno a Hipócrates pelo caminho da Física 
Em 1925, a Dra. Ida Rolf solicitou licença para estudar 
na Europa. Ela pretendera continuar seus estudos na 
Europa desde quando fazia sua graduação no Barnard, 
assim como incontáveis outros cientistas tinham feito 
desde os fins do século XIX. Mas a guerra impedira a 
viagem. Ao solicitar a licença, escreveu a Simon Flexner 
sobre a necessidade de um descanso e de afastar-se de 
seu trabalho, que era cada vez mais agitado no 
instituto. A licença foi concedida no final do ano, e, em 
janeiro de 1926, ela embarcou em um navio com 
destino à França, iniciando sua viagem de estudos no Instituto de Pasteur. 
Quando estava a caminho, Flexner enviou-lhe uma carta. Nela, incluiu um 
cheque de duzentos dólares, quantia destinada a ajudá-la a pagar por sua 
estada na Europa. Confirmava também o que ela já estava sentindo sobre seu 
relacionamento com o Rockefeller. Flexner dizia na carta pensar que o trabalho 
dela no instituto já se havia cumprido com vantagens para ambos os lados, e 
encorajou-a começar a olhar, logo depois que retornasse aos Estados Unidos, 
para uma outra colocação. (Isto é consideravelmente adequado com o que é 
sabido sobre Flexner. Ida Rolf estivera empregada em nível de assistente 
associada por sete anos, atingindo o tempo máximo que a maioria dos 
empregados não-vitalícios permaneciam no instituto. Flexner nunca era tímido 
em relação a dizer aos cientistas o que pensava ser o melhor para ele mesmo, e 
sobre quando era hora de irem embora.) 
A dra. Ida Rolf recebeu a carta em Paris. Respondeu com uma nota escrita à mão 
dirigida a Flexner. “… Eu estou de completo acordo com sua opinião de que o 
período de eficiência máxima dessa relação, para o instituto e para mim mesma, 
terminou.” Acrescentou que era um alívio não ter ela própria de tomar a decisão 
de sair do instituto. Expressou sua gratidão para com Flexner e Levene pela 
oportunidade que lhe tinham dado e o seu sentimento de obrigação de 
reembolsá-los pelos recursos oferecidos para a licença. Ela parecia ao mesmo 
tempo aliviada e excitada, descrevendo suas aventuras no aprendizado do 
francês e a respeito do estudo no Instituto Pasteur. 
A dra. Ida Rolf, em “Rolfing e realidade física,” (Summus Editorial) menciona sua 
participação em estudos médicos durante sua permanência em Zurique, e a 
visita a Genebra para estudar homeopatia. Mas nada muito mais que isso é 
conhecido sobre este seu período na Europa. 
(Quão excitante deve ter sido estudar física na Europa em 1926? Os anos 20 
foram possivelmente o período mais emocionante na história da física, e a 
Europa era o cenário do drama. Heisenberg, Schrodinger, Niels Bohr, Einstein e 
outros elucidavam os detalhes da mecânica quântica, criavam uma física nova 
inteira e mudavam nossa compreensão do universo em um ritmo alucinante. A 
dra. Ida Rolf começou seu deslocamento da química para a física quase 
precisamente no momento em que o mundo da física experimentava um 
deslocamento de paradigma tão significativo como aquele experimentado na 
época de Descartes.) 
Outros dois artigos ainda apareceram, mais tarde, em 1927, em coautoria com 
Levene, a respeito da lecitina e da cefalina. Eram possivelmente resultado do 
trabalho de pesquisa concluído antes do início de sua licença, ou diziam respeito 
a um trabalho terminado após seu retorno, antes de ela deixar definitivamente 
o instituto. Sua demissão do Rockefeller realizou-se oficialmente em 1927, 
quando deixou o mundo da medicina científica para sempre. Aproximadamente 
14 anos depois que seu último artigo científico foi publicado, atendeu por volta 
de 1940 seu primeiro cliente, uma professora de piano, no Bronx, realizando com 
ela o trabalho que se tornaria mais tarde a Integração Estrutural (Veja entrevista). 
“E vocês vêem que tudo isso é algo que, na medida em que vocês estão 
realmente estão considerando o homem,… vocês têm de pensar nesses termos, 
porque este homem, o homem é um campo de energia, de consolidação de 
energia. Em termos dos métodos ortodoxos usados pelos seus médicos, em 
geral eles estão considerando somente a química do corpo. Eles não estão 
considerando este homem no pólo do tótem, este homem esquecido, este 
elemento esquecido do corpo, este elemento da realidade física do corpo.” Ida 
Rolf, 1966. 
Ida Rolf tinha começado sua carreira como um produto do maior deslocamento 
de paradigma na história da medicina. Dos anos 20 aos anos 40, seu 
deslocamento profissional tirou-a da medicina científica para conduzi-la de 
volta ao holismo. Há assim uma ironia em seu desembarque na Europa. Durante 
as últimas décadas do século XIX, os cientistas americanos tinham feito suas 
peregrinações ao velho continente para abraçar as ciências biológicas. Era onde 
poderiam estudar as coisas minúsculas, assim que puderam ser observadas por 
meio do microscópio. Décadas mais tarde ela fez também sua peregrinação 
como cientista, mas a peregrinação simbolizou igualmente uma transição. 
Começou a licença do Rockeffeller como especialista em bioquímica, estudando 
no laboratório fundado por Louis Pasteur. Então deixou o microscópio para trás 
e, em Zurique, no estudo da matemática e da física, descobriu a linguagem da 
energia. Enquanto o modelo de Descartes conquistava a supremacia na ciência 
americana, Ida Rolf retornava a Hipócrates. 
 
Pressão contra a abordagem holística 
Enquanto isso, o holismo tinha experimentado um boom durante a emergência 
do paradigma científico como força dominante. No vácuo aberto no mundo 
científico americano do século XIX, diversas disciplinas holísticas haviam 
emergido. A homeopatia e a higiene natural ganharam importância, e a seguir, 
nas últimas décadas do século, a quiropraxia, a naturopatia e a osteopatia foram 
desenvolvidas. Todas se apoiavam firmemente na tradição holística, todas se 
dedicavam ao objetivo hipocrático de restabelecer o equilíbrio do sistema como 
base para a cura. E todas tiveram vários graus de acolhimento por parte do 
público (John D. Rockefeller teve um médico homeopata mesmo enquanto dava 
forma a seu instituto.) 
Entretanto, o século XX que se iniciava não era amável para com as modalidades 
novas. Os ambientes políticos e culturais inclinavam-se quase totalmente em 
favor da biomedicina. Em 1910, patrocinado pela Fundação Carnegie, saiu o 
Relatório Flexner, tendo como autor Abraham, irmão de Simon Flexner. Seu 
objetivo fora examinar as condições nas faculdades de medicina americanas. 
Fazia acusações duras, recomendando que em 80% de todas as faculdades de 
medicina os cursos fossem interrompidos. Mas o relatório focalizou também as 
escolas de orientação homeopática e osteopática, e usou de palavras rudes na 
avaliação de suas atividades. O relatório usou os termos “totalmente 
impossíveis”,“absurdamente inadequadas” e “irremediavelmente defeituosas” 
para descrever as escolas holísticas visitadas por Flexner. Qualificou a 
quiropraxia como algo indigno de consideração, afirmando que os quiropráticos 
“grasnavam desmedidamente” e que “os magistrados do Ministério Público e o 
Grande Júri são as agências apropriadas para tratar deles”. Considerou 
“indefensáveis” as concepções holísticas ou alternativas, na era da nova 
medicina científica. 
Para além do Relatório Flexner, as escolas e os médicos holísticos passaram a 
ser vistos pelo mundo médico e em certo grau também pelo grande público 
como incompetentes, no melhor dos casos, e como fraudes, no pior dos casos. 
Ao mesmo tempo, William Welch usava seus poderes para dirigir o fluxo do 
dinheiro da pesquisa no campo da medicina, e o dinheiro decididamente não 
fluiu no sentido de algumas das disciplinas holisticas. Em conseqüência, os 
médicos holísticos foram deixados à margem, dedicando-se aos cuidados de 
menor importância. 
(Uma das ironias da carreira da Dra. Rolf foi que o irmão de seu chefe no Instituto 
Rockefeller - e ela teve muita admiração e respeito para Simon Flexner – 
trabalhou para erradicar o campo em que ela passaria mais tarde a maior parte 
de sua vida profissional.) 
Einstein e o holismo, Parte Dois 
Mas, enquanto o reducionismo reinava supremo no mundo 
médico no alvorecer do século XX, o mundo científico estava 
a ponto de submeter-se a um novo deslocamento tectônico. 
Hipócrates estava prestes a retornar à luta, na figura de um 
obscuro escriturário de cartório. Em 1905, Albert Einstein 
publicou dois artigos, um sobre a teoria da relatividade 
restrita e outro que ajudaria a desenvolver a teoria quântica. 
Em 1916, ano em que Ida Rolf graduou-se pela faculdade de 
Barnard, Einstein adicionou a gravidade ao conjunto para 
apresentar sua teoria da relatividade geral. A gravidade, de acordo com Einstein, 
não é uma força, coforme a definição de Newton, mas uma curvatura do espaço-
tempo. A terra não se move em uma órbita elíptica em torno do sol; antes, move-
se em uma linha reta aparente que segue a curvatura do espaço. 
As implicações da teoria da relatividade e da teoria quântica, e seu impacto na 
ciência e a cultura no século XX estão fora do alcance deste artigo ( Capra de 
Fritjof sozinho tem diversos livros sobre o assunto). Mas a física do século XX - 
em especial a teoria quântica - estabeleceu uma estrutura científica mediante a 
qual o holismo poderia ser compreendido e apreciado. Igualmente mostrou que 
Descartes estava errado, ou no mínimo limitado de acordo com pelo menos um 
ponto de vista. 
Descartes acreditou em um universo físico feito das partes separadas, que 
poderiam ser estudadas e compreendidas. A teoria do quantum mostrou que as 
coisas não eram desta maneira. No menor, no nível mais fundamental - o 
atômico - as menores partículas não são coisas distintas: são mais 
apropriadamente pensadas como interconexões (a própria palavra “partícula” é 
inadequada e errônea em nível atômico). A teoria quântica conduz não às coisas, 
mas ao relacionamento constante. O mundo pode ser dividido em partes até 
certo ponto, mas quando as partes ficam cada vez mais e mais minúsculas, 
transformam-se em algo que pode ser concebido menos exatamente como 
peças e mais exatamente como uma complexa rede de relações. 
Descartes igualmente acreditou na existência de uma verdade absoluta em 
ciência, e que a verdade poderia ser comprovada pelo método científico. Capra 
de Fritjof argumenta que “no ponto de retorno”, “a física do século XX nos tem 
mostrado muito vigorosamente que não há nenhuma verdade absoluta em 
ciência, que todos os nossos conceitos e teorias são limitados e aproximados.” 
Os críticos do reducionismo argumentam que o método científico, quando útil 
e poderoso, tem seus limites na realidade compreensível. 
Uma observação sobre a teoria de relatividade é útil aqui. Einstein nunca 
acreditou que sua teoria deveria ou poderia ser aplicada acuradamente às 
matérias morais ou metafísicas. Um grande número de filósofos e físicos acredita 
que Capra e outros empregaram mal a teoria da relatividade, ao reivindicar a 
aplicação do relativismo em outros campos. Entretanto, há também que defenda 
que ele provavelmente se encontra em terreno firme, ao estendê-la a outros 
domínios. 
“O mundo surge assim como um tecido complicado de eventos, em que as 
conexões de diferentes tipos se alternam ou se sobrepõem ou combinam e 
determinam desse modo a textura do todo.” Werner Heisenberg. 
“Sua segurança vem somente das relações…O único terreno seguro para um 
rolfista é estabelecer relações equilibradas no corpo. Esta é sua base segura, e 
não é possivel convertê-la em algo que seja tão sólido como uma parede.” Ida 
Rolf. 
Pesquisa e os dois paradigmas 
É fácil compreender como a revolução biomédica veio relegar o holismo. A 
medicina científica e o método científico moderno fazem um casamento 
perfeito. Ambos estão firmemente enraizados em suposições cartesianas… que 
o universo é composto por partes distintas que podem ser isoladas, estudadas 
e compreendidas. O relacionamento entre as partes importa, mas a natureza de 
cada uma delas pode ser estudada e compreendida sem relação com as outras. 
As contribuições do ponto de vista reducionista à 
medicina foram enormes. Exemplos óbvios são a 
cirurgia moderna e o tratamento dos traumatismos. 
Outro exemplo é o campo das doenças infecciosas, 
onde vidas incontáveis foram preservadas por causa 
das descobertas feitas pela medicina científica. As 
grandes pragas que mataram milhões durante toda a 
história da humanidade são agora em sua maior parte 
evitáveis e tratáveis. (Ironicamenete, muitas das lutas 
contra as grandes pragas validaram as proposições de 
Hipócrates – manter limpas as fontes de água, lavar as 
mãos, manter o ambiente livre de dejetos orgânicos, foram algumas das 
descobertas avançadas que ajudaram a limitar as doenças mais perigosas.) Além 
disso, o método científico forneceu um modelo para a investigação rigorosa, 
que foi adotado por todas as ciências. 
Entretanto, de várias maneiras, nós estamos testemunhando hoje a revolução 
biomédica levada a seu extremo lógico. Se os seres humanos são máquinas 
biológicas, então a biologia é a resposta para todos os problemas. O que nós 
vemos agora é a adoção de drogas para cada aflição concebível, para cada 
aberração da norma, tanto física como emocional. A união do método científico 
e da medicina biológica conduziu ao Viagra, ao Prozac…e a todas as pílulas 
mágicas. 
Por outro lado, o holismo e o método científico têm um relacionamento difícil. 
Uma das suposições básicas do holismo - a primazia do relacionamento, o 
interconexão de todos os aspectos do universo – torna o estudo das partes 
muito mais do que um desafio. O holismo resiste por natureza à noção de isolar 
- o ato de isolar ou separar em partes a fim de atender às finalidades da pesquisa 
conduz a um resultado incompleto e parcial. 
Assim a pergunta que se apresenta é: pode a pesquisa eficaz ser feita dentro do 
paradigma holístico? Usando a Integração Estrututal como exemplo: uma 
disciplina pode ser mais completamente holística? Uma disciplica que considera 
o ser humano como uma relação no interior do campo gravitacional - Einstein e 
Heisenberg ficariam orgulhosos. Entretanto, que parte da Integração Estrutural 
é fundamental? A seqüência da série de sessões? O relacionamento entre o 
profissional e o cliente? As técnicas usadas? A experiência e o treinamento do 
profissional ou sua habilidade para trabalhar? Sua habilidade para escutar, sua 
inteligência, sua capacidade paraacolher? A vontade do cliente de mudar? Que 
sessão é mais importante? Como separar todos esses aspectos de todo o 
processo? 
Um exemplo vívido da diferença entre os dois paradigmas é o efeito placebo 
(definido por padrão como uma melhoria na saúde que não é atribuível ao 
tratamento). O paradigma cartesiano considera o efeito placebo como um fator 
que deve ser isolado a fim de que se possa avaliar a eficácia de um tratamento. 
O holismo adota o efeito placebo considerando que a opinião, a psicologia e as 
expectativas do cliente em relação ao tratamento são uma parte vital do próprio 
tratamento, de modo que o próprio conceito, útil no reducionismo, não tem 
sentido no holismo. 
Dito isso, vemos que o holismo tem muito a aprender com Descartes. Desde os 
seus primórdios, o holismo teve um problema com rigor. Foi tradicionalmente 
demasiado fácil e tentador para os profissionais holísticos escrever sobre seus 
assuntos sem levar em consideração suas falhas ou passos em falso, sem o teste 
rigoroso de suas idéias, e sem certificar-se de que seus tratamentos fazem 
realmente o que prometem fazer. Havia alguma verdade nas críticas de Abraham 
Flexner às escolas holísticas. Elas faziam proposições sem nunca incomodar-se 
em verificá-las. Até hoje, médicos holísticos reinvidicam os benefícios de sua 
abordagem sem um fragmento sequer comprovação, com excessão dos “casos 
selecionados de sucesso”. 
Este é um desafio para a Integração Estrutural, mesmo sem reivindicar a cura ou 
o tratamento de qualquer coisa. Como profissionais, temos uma inclinação forte 
para a pesquisa, para validar a eficácia do nosso trabalho. Mas, eficácia em que? 
Queremos que a pesquisa prove o quê em nosso campo? Desejamos a 
comprovação de que a Integração Estrutural melhora a saúde total, a vitalidade 
e o funcionamento? Definidos em que bases? Para provar nossa eficácia, a 
pesquisa deve começar por quebrar nosso trabalho ou seus efeitos, para separá-
los em partes. Melhora o equilíbrio? Diminui a dor? Fornece mais energia. E, se 
provado, o que isso o que significa? Reforça o sistema imunológico? Diminui ou 
alivia os sintomas de uma variedade de doenças e condições? 
É justo nos perguntarmos o que nós queremos exatamente da pesquisa. É 
igualmente importante considerar que a pesquisa é, em grande parte, um 
fenômeno que pertence a outro paradigma. Porque se é útil e poderoso e 
inteligente interagir com o paradigma cartesiano e o mundo da investigação 
científica, pode igualmente ser útil lembrar-se de que nós não pertencemos a 
esse paradigma. Nossas suposições são fundamentalmente diferentes. 
Descartes pode ser um parceiro maravilhoso de dança, com quem se pode 
investir tempo e aprender, mas que retorna para uma casa diferente da nossa. 
Primeiramente, nós precisamos correr riscos, como faz cada disciplina que faz 
reivindicações a respeito de sua ação sobre a saúde e o bem-estar. É bom e 
saudável e honesto ser rigoroso e ter nossas reivindicações e opiniões 
examinadas continuamente. Como filhos de Hippocrates, esta é a grande lição 
que nós podemos aprender com Descartes - continuar a fazer perguntas difíceis 
sobre nosso trabalho e sobre o que ele realiza, e convidar outros fazerem o 
mesmo, e considerar se as respostas mesmo quando elas não vão de encontro 
a nossas expectativas ou esperanças. 
Em segundo lugar, isso faz justiça à dra. Ida Rolf e a seu espírito de pesquisadora. 
Através dela, nós temos nossas raizes em Descartes. A mulher que criou nosso 
campo ergueu-se profissionalmente no mundo da medicina científica, e sua 
história é a história dos dois paradigmas, não de apenas um. Valorizar o que ela 
teve de melhor, e valorizar o espírito que corresponde às origens da Integração 
Estrutural, significa honrar o melhor de ambos os mundos. 
 
Epílogo 
Quando a primeira metade do século XX chegou ao 
fim, os dias de glória do Instituto Rockefeller como o 
centro da investigação médica americana terminaram 
para sempre. Em 1955, o instituto começou a admitir 
estudantes de terceiro ciclo pela primeira vez. Sua 
vitalidade já não poderia ser mantida como uma 
instituição puramente de pesquisa, e admitir 
estudantes era um reconhecimento da parte de sua 
liderança de que os tempos tinham mudado. De 
alguma maneira tinha se transformado em uma vítima 
de seu próprio sucesso. Em grande parte por causa da 
influência do instituto, uma carreira no ensino e a 
pesquisa tinham-se tornado tão desejáveis que as escolas, com seu diálogo 
entre o professor e o estudante, se tinham transformado em viveiros da 
pesquisa. Rockefeller já não poderia competir com as faculdades pelos melhores 
e mais brilhantes cientistas. Em 1965, mudaria oficialmente seu nome para 
Universidade Rockefeller. Em seu apogeu, tinha estado no centro de uma 
revolução na medicina, tinha sido o lugar onde se deveria estar para realizar 
investigação científica pura em ciências biológicas – a instituição científica mais 
importante da América. Mas seu momento de brilho terminara. 
Mais ou menos na mesma época, no final de 1954 e começo de 1955, Ida Rolf 
ensinou a primeira classe de Integração Estrutural, no lado oeste do rio 
Mississípi, na Faculdade de Osteopatia e Cirurgia de Kansas City. Na ocasião, 
chamou sua criação de Dinâmica Postural, e a ensinou aproximadamente no 
formato da mesma série de dez sessões que ainda estaria ensinando duas 
décadas mais tarde. De uma maneira inimaginável estava agora em um mundo 
separado do mundo em que se iniciara profissionalmente, quase quarenta anos 
antes, no laboratório de química do Instituto Rockefeller. Mas… nessa classe, ela 
e seus estudantes conduziram dois projetos de investigação, incluindo um 
estudo sobre os efeitos de seu trabalho em nível do colesterol. Apesar de seu 
enorme salto profissional, seu trabalho ainda era marcado e estimulado pelo 
espírito científico, com cada um dos pés apoiados sobre cada um dos dois 
mundos. 
Sendo assim, o que vem agora? Ida Rolf cortejou Descartes e então escolheu 
Hipócrates, mas essa foi a história dela. Agora somos nós que, como 
profissionais, temos escolhas a fazer. Nós representamos um campo novo, já 
carregando algumas feridas auto-infligidas, tentando novamente fazer caber as 
partes em um todo coerente e saudável. Nós conseguimos lutar para nos 
definirmos a nós mesmos, para definirmos sobre como falar sobre nosso 
trabalho e sobre como relacionar-se com o mundo mais amplo da medicina e 
da saúde, que frequentemente não compartilha de nossas sensibilidades, e 
sobre como adaptar-se enquanto as areias continuam a deslocar-se. Nós 
encaramos perguntas sobre como e quando nos encontrar na fronteira entre os 
dois mundos, quando jogar no campo deles, quando permanecer em nosso 
próprio território, e como permanecer continuamente rigorosos conosco 
mesmos. Nossas escolhas apresentam-se continuamente. Nós escrevemos 
nossa história agora.

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