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Rumo a Sociedade do Conhecimento Peter Drucker

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Rumo a Sociedade do Conhecimento
A sociedade do futuro.
Peter Drucker
 A nova economia pode ou não se tornar realidade, mas não há dúvida de que uma nova sociedade estará conosco em breve. No mundo desenvolvido, e provavelmente nos países emergentes, essa nova sociedade será muito mais importante do que a nova economia (se é que esta terá alguma relevância). Apresentará diferenças consideráveis em relação à sociedade existente no final do século 20 e não coincidirá com as expectativas da maior parte das pessoas. Várias de suas características serão absolutamente originais. Outras já são visíveis, ou vêm emergindo rapidamente. 
 Nos países desenvolvidos, o aspecto preponderante da nova sociedade será algo em que as pessoas apenas começam a prestar atenção: o rápido crescimento da população idosa e o acelerado encolhimento da população jovem. Políticos de toda parte ainda prometem manter o sistema atual de pensões, mas sabem - assim como seus eleitores - que dentro de 25 anos as pessoas precisarão continuar trabalhando depois dos 70 anos de idade, se a saúde permitir. 
 O que ainda não foi assimilado é que um número crescente de pessoas mais velhas - as que têm mais de 50 anos, por exemplo - não manterão empregos tradicionais, das 9 da manhã às 5 da tarde, mas participarão da força de trabalho de maneiras novas e diferentes: como funcionários temporários, como contratados por meio período, como consultores ou em outras funções especiais. Aquilo que antes se chamava departamento pessoal e hoje é conhecido por "recursos humanos" ainda faz presumir que as pessoas que trabalham para uma empresa são funcionários em tempo integral. Leis e regulamentações trabalhistas baseiam-se no mesmo pressuposto. Entretanto, em 20 ou 25 anos, até metade das pessoas que trabalham para uma organização talvez não sejam empregadas ali, certamente não em período integral. Isso vale principalmente para os mais velhos. Novos métodos de se trabalhar com pessoas à distância representarão a questão administrativa central das organizações contratantes. 
 A diminuição da população jovem causará mudanças ainda maiores: nada parecido ocorre desde os séculos finais do império romano. Em todo país desenvolvido, como também na China e no Brasil, a taxa de natalidade está bem abaixo da taxa de fecundidade, que é de 2,2 nascidos vivos por mulher em idade reprodutiva. Politicamente, isso significa que a imigração constituirá uma questão importante e altamente determinante entre as nações ricas. Deverá permear todos os alinhamentos políticos tradicionais. Economicamente, o declínio da população jovem alterará os mercados de maneira crucial. O crescimento da formação de famílias tem sido a força motriz de todos os mercados domésticos do mundo desenvolvido. Contudo, a taxa de formação de famílias seguramente recuará, a menos que seja escorada por movimentos migratórios, de jovens, em larga escala. O mercado de massa homogêneo, que surgiu em todos os países ricos depois da Segunda Guerra, sempre teve por base a juventude. Agora, terá como alicerce a meia idade ou, mais provavelmente, será dividido em dois: um mercado determinado por populações de meia idade e outro, muito menor, por jovens. E, como a quantidade de jovens diminuirá, a criação de novas estruturas empregatícias que possam atrair e manter o crescente número de pessoas mais velhas (e instruídas, principalmente) ganhará em importância. 
 Conhecimento é tudo: A nova sociedade será uma sociedade do conhecimento. O conhecimento será seu principal recurso e os trabalhadores do conhecimento constituirão o grupo dominante na força de trabalho. As três características principais dessa sociedade serão: 
 * Inexistência de fronteiras: o conhecimento se move de modo ainda mais fluido que o dinheiro. 
 * Mobilidade vertical disponível a todos, através de instrução formal facilmente acessível. 
 
 * Potencial para o fracasso, assim como para o sucesso. Qualquer um pode obter os "meios de produção", isto é, o conhecimento exigido para o trabalho, mas nem todos podemzvencer. 
 Juntas, essas três características tornarão a sociedade fundamentada no conhecimento altamente competitiva, tanto para empresas, como para indivíduos. A tecnologia da informação, embora seja apenas um dos novos aspectos da sociedade do amanhã, já exerce um efeito importantíssimo: permite que o conhecimento se dissemine quase que instantaneamente e seja universalmente acessível. Dadas a facilidade e a velocidade com que a informação viaja, todas as instituições da sociedade fundamentada no conhecimento - não apenas as empresas, mas também escolas, universidades, hospitais e órgãos governamentais - precisam ser competitivas globalmente, embora a maioria das organizações continue local em termos de atividade e mercado. Isso ocorre porque a internet manterá o consumidor informado sobre o que está disponível em qualquer lugar do mundo, e a que preço.
 Essa economia com base no conhecimento dependerá intensamente de trabalhadores do conhecimento. Atualmente, essa expressão é utilizada para descrever pessoas com importante conhecimento teórico e aprendizado: médicos, advogados, professores, contadores, engenheiros químicos. O crescimento mais notável, porém, deverá dar-se entre os "tecnólogos do conhecimento": técnicos de computação, projetistas de software, analistas de laboratórios clínicos, tecnólogos de manufatura, assistentes de advogados. Essas pessoas podem ser consideradas, ao mesmo tempo, trabalhadores manuais e do conhecimento. Normalmente, utilizam muito mais as mãos do que o cérebro. Mas esse trabalho manual resulta de um sólido conhecimento teórico, que só pode ser obtido através de instrução formal, e não por meio de aprendizado simplesmente prático. Essas pessoas geralmente não são mais bem remuneradas que os trabalhadores qualificados tradicionais, mas vêem-se como "profissionais". Assim como o operário manual sem qualificação constituiu a força política e social dominante no século 20, o tecnólogo do conhecimento deve tornar-se a força social dominante - e, talvez, também política - das próximas décadas. 
 O novo protecionismo. Estruturalmente, também, a nova sociedade já diverge do tipo de sociedade em que quase todos ainda vivemos. O século 20 testemunhou o rápido declínio do setor que dominou a sociedade por quase 10 mil anos: a agricultura. Em termos de volume, a produção agrícola hoje é pelo menos quatro ou cinco vezes superior ao que era antes da Primeira Guerra. Em 1913, porém, produtos agrícolas respondiam por 70% do comércio mundial, enquanto hoje chegam no máximo a 17%. No início do século 20, a agricultura dos países mais desenvolvidos representava a principal contribuição para o PIB; atualmente, nas nações ricas, essa participação encolheu a ponto de ser meramente marginal. A população agrícola 
também se reduziu a uma pequena fração do total. 
 A indústria fez o mesmo percurso. Desde a Segunda Guerra, a produção industrial no mundo desenvolvido provavelmente triplicou em volume, enquanto os preços dos bens industriais, ajustados pela inflação, caíam sensivelmente. Já o preço de bens fundamentalmente associados ao conhecimento - assistência à saúde e educação - triplicou (também considerando a inflação). O poder de compra relativo de bens industriais frente aos produtos do conhecimento é, hoje, apenas um quinto ou um sexto do que era há 50 anos. O nível de emprego industrial nos EUA caiu de 35% da força de trabalho, na década de 50, para menos da metade disso, atualmente, sem que houvesse grandes rupturas sociais. Entretanto, talvez não se deva esperar uma transição igualmente suave em países como Japão ou Alemanha, onde operários de chão de fábrica ainda formam de 25% a 30% da força de trabalho. 
 O declínio da agricultura como geradora de riqueza e de sustento individual abriu caminho para que o protecionismo no setor chegasse a um pontoinimaginável antes da Segunda Guerra. Da mesma forma, o recuo da produção industrial levará a uma explosão do protecionismo industrial - apesar dos incentivos declarados ao livre comércio. Esse protecionismo não tomará necessariamente a forma de tarifas convencionais, mas virá como subsídios, cotas e regulamentos de todos os tipos. Ainda mais provável é que surjam blocos regionais em que o comércio interno seja livre, mas que serão altamente protecionistas nas suas relações externas. A União Européia, o Nafta e o Mercosul já apontam nessa direção. 
 O futuro das corporações. Estatisticamente, empresas multinacionais desempenham hoje praticamente o mesmo papel na economia mundial que tinham em 1913. Entretanto, sua forma mudou muito. As multinacionais, em 1913, eram companhias domésticas com subsidiárias fora do país, cada uma delas operava independentemente, estava encarregada de um território definido politicamente e desfrutavam de alto grau de autonomia. Hoje, as multinacionais tendem a organizar-se globalmente, em torno de linhas de produtos e serviços. Contudo, à maneira das empresas de 1913, são mantidas juntas e são controladas por meio da propriedade. As multinacionais de 2025 deverão ser integradas e controladas pela estratégia. A propriedade ainda existirá, naturalmente. Entretanto, alianças, joint ventures, participações minoritárias, acordos e contratos de know-how farão, cada vez mais, as vezes de fundações de uma confederação. Esse tipo de organização exigirá um novo tipo de alta gerência. 
 Na maioria dos países, e até em grandes e complexos organismos empresariais, a alta gerência ainda é vista como extensão da gerência operacional. A alta gerência do futuro, porém, provavelmente será um órgão diferente e separado: representará a empresa. Uma das principais tarefas da alta gerência das grandes empresas de amanhã, especialmente as multinacionais, será buscar o equilíbrio entre pressões conflitantes que se exercem sobre a gestão dos negócios: a necessidade de se obterem resultados no curto e longo prazos e as exigências dos vários públicos com os quais a corporação deve entender-se - dos clientes aos acionistas (especialmente, investidores institucionais e fundos de pensão), dos funcionários que são trabalhadores do conhecimento a comunidades. 
 Contra esse pano de fundo, este estudo [aqui reproduzido em parte] pretende responder a duas perguntas: o que os dirigentes de empresas podem e devem fazer agora para se preparar para a nova sociedade? E quais outras grandes mudanças podem estar por vir, das quais ainda não estamos cientes?
A Nova força de trabalho
Os trabalhadores do conhecimento são 
os novos capitalistas: possuem os meios 
de produção e são donos de empresas.
 Há um século, a vasta maioria da população dos países desenvolvidos era constituída por pessoas que trabalhavam com as mãos: em propriedades agrícolas, serviços domésticos, pequenas oficinas de artesãos e (na época, uma ainda pequena minoria) em fábricas. Passados 50 anos, a participação dos trabalhadores manuais na força de trabalho dos EUA havia encolhido para 50%, aproximadamente, e os trabalhadores industriais representavam 35% da força de trabalho - o maior segmento profissional de toda a economia. Agora, passados outros 50 anos, menos de um quarto dos trabalhadores americanos ganha a vida com atividades manuais. A maioria ainda está no setor industrial, mas a participação dos trabalhadores industriais no conjunto da força de trabalho caiu para 15% - quase a mesma de 100 anos atrás. 
 Hoje, de todos os grandes países desenvolvidos, os EUA são os que detêm a menor proporção de trabalhadores fabris em sua força de trabalho. O Reino Unido não fica muito atrás. No Japão e na Alemanha, esse segmento ainda representa em torno de um quarto do total, mas sua participação vem encolhendo em ritmo constante. Em certa medida, isso remete a um problema de definição. Numa empresa do setor industrial, como a Ford, os funcionários responsáveis pelo processamento de dados são considerados trabalhadores industriais. Se a Ford terceiriza seu processamento de dados, as pessoas que o executam serão incluídas no setor de serviços, embora o trabalho seja exatamente o mesmo. Mas não se deve atribuir excessiva importância a essa questão. Numerosos estudos sobre o setor industrial mostram que o declínio do número de pessoas que efetivamente trabalham em fábricas é bastante similar ao indicado pelas estatísticas oficiais.
	
 Antes da Primeira Guerra Mundial, não havia sequer uma palavra para designar as pessoas que ganhavam a vida realizando atividades não-manuais. A expressão "trabalhador do setor de serviços" foi cunhada por volta de 1920, mas acabou por tornar-se enganosa. Hoje, menos da metade dos trabalhadores não-manuais atuam, de fato, neste setor. No conjunto da força de trabalho dos EUA e de todos os países desenvolvidos, o único grupo que atualmente cresce em ritmo acelerado é o dos "trabalhadores do conhecimento" - pessoas cujos empregos exigem elevados níveis de escolaridade formal. Este grupo representa nada menos que um terço da força de trabalho dos EUA, excedendo os trabalhadores fabris na proporção de dois para um. Em cerca de 20 anos, deve-se chegar a quase dois quintos da força de trabalho de todos os países desenvolvidos. 
 As expressões "empresas do conhecimento", "trabalho de conhecimento" e "trabalhador do conhecimento" têm apenas 40 anos. Foram cunhadas simultâneamente, mas independentemente, por volta de 1960. A primeira, por Fritz Machlup, economista de Princeton; a segunda e a terceira pelo autor deste texto. Atualmente, todos as empregam, mas são poucos os que compreendem suas implicações para os valores humanos e para o comportamento dos homens, para a administração de pessoas e para a sua produtividade, para a economia e para a política. Já ficou claro, porém, que a emergente sociedade do conhecimento e a emergente economia do conhecimento serão radicalmente diferentes da sociedade e da economia do fim do século 20. Isso acontecerá das seguintes maneiras. 
	
	
 Coletivamente, os trabalhadores do conhecimento são os novos capitalistas. O conhecimento tornou-se o principal recurso econômico, e o único marcado pela escassez. Isso significa que os trabalhadores do conhecimento detêm coletivamente seus próprios meios de produção. Mas, enquanto grupo, também são capitalistas no velho sentido do termo: por meio de seus investimentos em fundos de pensão e fundos mútuos, tornaram-se acionistas majoritários e proprietários de várias das grandes empresas da sociedade do conhecimento. 
 Para ser eficaz, o conhecimento deve ser especializado, o que implica dizer que os trabalhadores do conhecimento precisam ter acesso a uma organização - isto é, uma entidade coletiva capaz de congregar ampla diversidade de trabalhadores do conhecimento e aplicar suas especialidades na obtenção de um produto final comum. O mais bem dotado professor de matemática do ensino médio só é eficaz quando integra um corpo docente. O mais brilhante consultor de desenvolvimento de produtos só é eficaz na presença de uma empresa suficientemente bem organizada e competente para converter seus conselhos em ação. O mais genial designer de softwares precisa de um fabricante de computadores. Por sua vez, a escola de ensino médio precisa do professor de matemática, a empresa precisa do especialista em desenvolvimento de produtos e o fabricante de computadores precisa do programador. Deste modo, os trabalhadores do conhecimento vêem-se em pé de igualdade com os que empregam seus serviços, pois consideram-se "profissionais" e não "funcionários". A sociedade do conhecimento é uma sociedade de seniors e juniors, não de chefes e subordinados.
	
	
 Deles e delas. Isso tem implicações importantes para o papel das mulheres na força de trabalho. Historicamente, a participação feminina no mundo do trabalho sempre se igualou à do homem. A senhoraque se senta ociosamente em sua sala de visitas é rara exceção, mesmo para as abastadas sociedades do século 19. Para serem viáveis, propriedades agrícolas, oficinas de artesãos ou pequenas lojas tinham de ser administradas por casais. Até o início do século 20, os médicos só podiam começar a clinicar depois de se casarem: precisavam das esposas para marcar consultas, abrir a porta, registrar o histórico dos pacientes e mandar a cobrança dos honorários. 
 Embora as mulheres tenham sempre trabalhado, dedicaram-se, desde tempos imemoriais, a atividades diferentes das dos homens. Havia trabalhos masculinos e trabalhos femininos. Na Bíblia, ir a um poço pegar água é tarefa realizada por incontáveis mulheres; não há, no texto sagrado, um único homem que a execute. Fiar é outro desses ofícios que os homens jamais exercitaram. O trabalho do conhecimento, ao contrário, é "unissex" - não em resposta às pressões feministas, mas porque pode ser igualmente bem realizado por ambos os sexos. Dito isto, o fato é que, ao surgirem, os primeiros trabalhos modernos de conhecimento destinavam-se, exclusivamente, ou a homens ou a mulheres. A profissão de professor, inventada em 1794, ano de fundação da École Normale de Paris, era vista como atividade estritamente masculina. Sessenta anos depois, durante a Guerra da Criméia (1853/56), Florence Nightingale fundou a segunda nova profissão do conhecimento: a enfermagem. Esta, por sua vez, era uma atividade considerada exclusivamente feminina. Mas, por volta de 1850, homens e mulheres já se dedicavam ao ensino por toda parte e, em 2000, dois quintos dos alunos das escolas de enfermagem dos EUA eram homens. 
 Na Europa, até a última década do século 19 não havia mulheres médicas. Conta-se, porém, que uma das primeiras mulheres a se habilitar ao exercício da medicina, a grande educadora italiana Maria Montessori, dizia: "Não sou uma mulher médica; sou uma médica que, por força das circunstâncias, é também mulher." A mesma lógica se aplica a todos os trabalhos de conhecimento. Seja qual for seu sexo, os trabalhadores do conhecimento são profissionais que aplicam os mesmos conhecimentos, realizam as mesmas atividades, seguem os mesmos critérios e são julgados pelo mesmo tipo de resultado. 
 A existência de trabalhadores que precisam dominar alta dose de conhecimento, como médicos, advogados, cientistas, clérigos e professores, não é fenômeno recente - embora seu número venha aumentando exponencialmente nos últimos 100 anos. Contudo, dentre os trabalhadores do conhecimento de hoje, o grupo mais numeroso mal existia no início do século 20, e somente passou a ter papel mais expressivo após o fim da Segunda Guerra. São os tecnólogos do conhecimento - pessoas que fazem grande parte de seus trabalhos com as mãos (são, neste sentido, os sucessores dos trabalhadores especializados), mas cujo salário é determinado pela quantidade de conhecimento que armazenam entre uma orelha e outra, um conhecimento obtido por meio de anos de educação formal, não de aprendizagem informal. Neste grupo incluem-se: técnicos em raios X, fisioterapeutas, especialistas em ultra-sonografia, assistentes psiquiátricos, técnicos dentários e muitos outros. Nos últimos 30 anos, o segmento da força de trabalho dos EUA que mais cresceu foi o dos tecnólogos de medicina. O mesmo deve ter acontecido no Reino Unido. 
 Nos próximos 20 ou 30 anos, o número de técnologos do conhecimento em segmentos como computação, processos industriais e educação tende a crescer ainda mais. Tecnólogos de funções administrativas, como os assistentes legais, também proliferam. E não é por acaso que as "secretárias" de ontem transformam-se rapidamente em "assistentes", encarregando-se de gerenciar o escritório do chefe e seu trabalho. Dentro de duas ou três décadas, os tecnólogos do conhecimento serão o grupo dominante da força de trabalho de todos os países desenvolvidos, ocupando a mesma posição que os trabalhadores sindicalizados da indústria detinham quando, nos anos 50 e 60, chegaram ao auge de seu poder. 
 A peculiaridade mais importante desses trabalhadores do conhecimento é que não se vêem como "trabalhadores", e sim como "profissionais". Muitos gastam boa parte de seu tempo em tarefas que são, em grande medida, não especializadas, como arrumar a cama dos pacientes, atender ao telefone ou arquivar documentos. Mas o que os identifica, a seus olhos e aos do público, é que parte do seu trabalho exige a aplicação prática do conhecimento formal de que dispõem. Isso os torna genuínos trabalhadores do conhecimento. 
 São duas as principais necessidades desses trabalhadores. Educação formal, que é condição fundamental para que possam obter a habilitação necessária à realização de trabalhos de conhecimento. E educação continuada, por toda a vida profissional, indispensável para que possam se manter atualizados. Os trabalhadores que precisam dominar alta dose de conhecimento, como médicos, clérigos e advogados, contam há vários séculos com acesso à educação formal. No caso dos tecnólogos do conhecimento, até o momento, apenas alguns países oferecem preparação sistemática e organizada. O fato, porém, é que as novas necessidades sociais sempre suscitaram a criação de novas instituições. Desta vez, não será diferente: nas próximas décadas, as instituições educacionais destinadas à preparação de tecnólogos do conhecimento deverão multiplicar-se em todos os países desenvolvidos e emergentes. A novidade agora é a necessidade de educação continuada para adultos que já são bem treinados e dominam grande bagagem de conhecimentos. Tradicionalmente, a educação escolar terminava onde começava o trabalho. Na sociedade do conhecimento, não tem fim. 
	
	
 O conhecimento difere das habilidades tradicionais, que mudam muito pouco. Um museu próximo a Barcelona, na Espanha, exibe uma vasta coleção de instrumentos manuais, utilizados pelos artesãos do final do império romano, que qualquer artesão dos dias de hoje reconheceria de imediato, tal a semelhança com os instrumentos ainda em uso. Para fins de treinamento em habilidades, portanto, é razoável admitir que o que foi aprendido na idade de 17 ou 18 anos permanece para o resto da vida. 
 De modo oposto, o conhecimento torna-se rapidamente obsoleto e os trabalhadores que o utilizam devem regularmente retornar à escola. Dar sequência à formação de adultos com nível já elevado de educação será, por conseguinte, uma grande área de crescimento na sociedade do futuro. O grosso dessa formação será dado por meios não tradicionais, variando desde seminários de fim de semana até programas de treinamento on-line, e nos mais variados locais, da universidade tradicional à casa do aluno. A revolução da informação, que deverá ter impacto enorme sobre a educação, as escolas e as universidades tradicionais, provavelmente terá efeito ainda maior na continuidade da formação dos trabalhadores do conhecimento. 
 Os trabalhadores do conhecimento de todos os gêneros tendem a identificar-se com o seu saber. Eles se apresentam dizendo: "Sou antropólogo" ou "sou psicoterapeuta". Podem mostrar-se orgulhosos da organização para a qual trabalham, seja uma empresa, uma universidade ou uma agência do governo, mas " trabalham na organização" e não "pertencem a ela". A maioria sente, provavelmente, que tem mais coisas em comum com alguém da mesma área de especialização em outra instituição do que com seus colegas da sua própria organização que trabalham em uma área de conhecimento diferente. 
 Embora a emergência do conhecimento como recurso importante signifique cada vez mais especialização, os trabalhadores do conhecimento são altamente móveis dentro de seu campo de especialização. Não têm qualquer tipo de problema em deixar uma universidade, uma empresa ou um país por outro, desde que permaneçam em sua área de conhecimento. Há muita conversa em torno de esforços para restabelecer a lealdade dos trabalhadores do conhecimento à organização que os emprega. Serãoinfrutíferos. Os trabalhadores do conhecimento podem ter vínculos com uma organização na qual se sintam confortáveis, mas a sua fidelidade primeira é ao seu campo especializado de conhecimento.
	
	
 O conhecimento é não-hierárquico. Em dada situação, ou é relevante ou não é. Um cirurgião de coração pode ser muito mais bem pago do que, digamos, um fonoaudiólogo, e usufruir de status social mais elevado; no entanto, se determinada situação requer a reabilitação da vítima de um derrame, o conhecimento do fonoaudiólogo é muito superior ao do cirurgião. É por isso que os trabalhadores do conhecimento de todos os gêneros vêem-se não como subordinados, mas, sim, como profissionais, e é dessa forma que esperam ser tratados. 
 O dinheiro é tão importante para os trabalhadores do conhecimento como para qualquer outra pessoa, mas não é o padrão de referência final, nem eles consideram que seja um substituto para o desempenho e a realização profissional. Em agudo contraste com os trabalhadores do passado, para os quais o emprego era somente um meio de sobrevivência, a maior parte dos trabalhadores do conhecimento considera que o seu emprego é, na verdade, a sua vida. 
 Para cima, sempre. A sociedade do conhecimento é a primeira sociedade da espécie humana na qual a mobilidade para cima, potencialmente, não tem limites. O conhecimento difere de todos os outros meios de produção porque não pode ser legado ou herdado. Tem que ser adquirido pelo indivíduo e todos partem do mesmo nível de ignorância total. 
 O conhecimento tem que ser colocado de forma a poder ser ensinado, o que significa torná-lo público. É sempre acessível universalmente, ou então, logo torna-se assim. Isto tudo confere alta mobilidade à sociedade do conhecimento. Qualquer um pode adquirir qualquer tipo de conhecimento em uma escola, mediante um processo estabelecido de aprendizagem, mais do que como aprendiz de um mestre. 
 Até 1850 ou, talvez mesmo, 1900, havia pouca mobilidade em todas as sociedades. O caso extremo era o sistema de castas da Índia, pelo qual o nascimento determina não apenas o status do indivíduo na sociedade, mas também a sua ocupação. Mas também na maior parte das outras sociedades, se o pai era camponês, o filho seria camponês e as filhas se casariam com camponeses. De modo geral, a única mobilidade era para baixo, causada por guerras ou doenças, infortúnios pessoais ou maus hábitos, como a bebida e o jogo. 
 Mesmo nos EUA, a terra das oportunidades ilimitadas, havia muito menos ascensão vertical do que costumeiramente se acredita. A grande maioria dos profissionais e administradores, nos EUA, na primeira metade do século 20, ainda era de filhos de profissionais e administradores, ou seja, mais do que de fazendeiros, pequenos comerciantes ou operários. O que distinguia os EUA, em forte contraste com a maior parte dos países europeus, não era tanto a mobilidade vertical do ponto de vista quantitativo, mas o modo como era bem aceita, estimulada e valorizada. 
 A sociedade do conhecimento leva ainda mais longe a aprovação da mobilidade para cima: considera qualquer impedimento a ela uma forma de discriminação. Isso implica que toda pessoa pode esperar tornar-se um "sucesso", idéia que pareceria uma piada para gerações anteriores. Naturalmente, apenas um pequeno número de pessoas chega a um sucesso notável, mas um número bastante grande consegue êxito razoável. 
 Em 1958, John Kenneth Galbraith escreveu a respeito, pela primeira vez, no livro A Sociedade Afluente. Não se tratava de uma sociedade com muito mais ricos, ou na qual os ricos eram ainda mais ricos, mas de uma sociedade na qual a maioria das pessoas podia sentir-se financeiramente segura. Na sociedade do conhecimento, um grande número de pessoas, talvez mesmo a maioria, possui algo mais importante do que segurança financeira: posição social ou "afluência social". 
 O preço do sucesso. A mobilidade vertical da sociedade do conhecimento vem, no entanto, com um preço alto: as pressões psicológicas e os traumas emocionais de uma contínua agitação. Só pode haver vencedores se houver perdedores. Isto não se aplicava às sociedades anteriores. O filho de um trabalhador sem terra que se tornasse, ele mesmo, um sem-terra não era apontado como um fracasso. Na sociedade do conhecimento, porém, ele não é somente um fracasso pessoal, mas também um fracasso da sociedade. 
 Os jovens japoneses sofrem de falta de sono porque passam suas noites em aulas em que conhecimentos lhes são socados sistematicamente, para ajudá-los a passar nas provas. Senão, não serão capazes de entrar para a universidade de prestígio de sua escolha e daí, para um bom emprego. Essas pressões geram hostilidade ao ato de aprender. Também ameaçam minar a apreciada igualdade econômica do Japão e transformam o país em uma plutocracia, porque somente os pais em melhor situação econômica podem bancar o custo proibitivo de preparar seus jovens para a universidade. Outros países, como EUA, Reino Unido e França, também estão deixando suas escolas tornarem-se cruelmente competitivas. Que isso tenha acontecido em um período tão curto - não mais do que 30 ou 40 anos - demonstra quanto o medo do fracasso já permeou a sociedade do conhecimento. 
 Com tal empenho competitivo, um número cada vez maior de trabalhadores do conhecimento de ambos os sexos, plenamente exitosos - administradores de empresas, professores universitários, diretores de museus, médicos - chega ao seu plateau na faixa dos quarenta anos de idade. Sabem que já alcançaram tudo que terão podido alcançar. Se o seu trabalho é tudo que têm, estão em apuros. Os trabalhadores do conhecimento, principalmente se ainda são jovens, precisam, então, levar uma vida não competitiva, com interesses próprios e um engajamento sério em qualquer área externa, seja trabalhando como voluntário na comunidade, tocando na orquestra local ou tomando parte ativa no governo de uma pequena cidade. É este interesse externo que lhes dará a oportunidade da contribuição e da realização pessoal.
	Mauro Nakata
	
O paradoxo da indústria
Como é possível conseguir muito mais 
produção com muito menos trabalhadores? 
Nem sempre a pergunta é desinteressada.
 Nos últimos anos do século 20, o preço mundial do maior produto da indústria siderúrgica - a bobina de chapa laminada a quente, matéria-prima para carrocerias de automóveis - caiu de US$ 460 para US$ 260 a tonelada. No entanto, esses anos foram de prosperidade nos EUA e na maior parte da Europa continental, com a produção automotiva estabelecendo novos recordes. A experiência da indústria siderúrgica é típica do setor industrial como um todo. Entre 1960 e 1999, a participação da indústria no PIB dos EUA e no total de empregos caíram pela metade, para 15%. Nos mesmos 40 anos, a produção física da indústria dobrou ou triplicou. Em 1960, a indústria era o centro da economia americana e das economias de todos os outros países desenvolvidos. Em 2000, o setor financeiro passou-lhe à frente, facilmente, como contribuinte para o PIB. 
 O poder de compra relativo dos bens manufaturados caiu 75% nos últimos 40 anos. Enquanto os preços dos bens industriais, corrigidos pela inflação, estão 40% menores, os dos dois principais produtos de conhecimento - assistência à saúde e educação - subiram cerca de três vezes mais rápido que a inflação. Em 2000, portanto, eram necessárias cinco vezes mais unidades de bens industriais para comprar os principais produtos de conhecimento do que há 40 anos. 
 O poder de compra dos trabalhadores na indústria também caiu, embora em porcentagem bem menor que a dos seus produtos. Sua produtividade subiu tanto que a maior parte da renda real foi preservada. Há 40 anos, os custos da mão-de-obra representavam 30% do total dos custos industriais; hoje, estão na faixa de 12% a 15%. Mesmo na indústria automotiva, ainda a mais intensiva em mão-de-obra, dentre todas as áreas de engenharia, oscustos de mão-de-obra das fábricas mais avançadas não passam de 20%. Os trabalhadores industriais, especialmente nos EUA, deixaram de constituir a espinha dorsal do mercado de consumo. No auge da crise do "cinturão da ferrugem", quando o emprego nos grandes centros industriais americanos foi impiedosamente cortado, as vendas nacionais de bens de consumo pouco caíram. 
 O que fez mudar a indústria e elevou drasticamente sua produtividade são novos conceitos. Informação e automação são menos importantes que novas teorias de fabricação, as quais constituem um avanço comparável ao advento da produção em massa, 80 anos atrás. Algumas dessas teorias, como a da "fabricação enxuta" da Toyota, eliminam robôs, computadores e automação. Exemplo muito conhecido envolveu a substituição de uma das linhas automatizadas de pintura e secagem da Toyota por meia dúzia de secadores de cabelos comprados num supermercado. 
 A indústria está seguindo o mesmo caminho já trilhado pela agricultura. A partir de 1920 - em especial, depois da Segunda Guerra Mundial - a produção agrícola disparou em todos os países desenvolvidos. Antes da Primeira Guerra Mundial, muitos países da Europa Ocidental importavam produtos agrícolas. Hoje, resta somente um importador líquido: o Japão. Cada país europeu tem hoje grandes excedentes agrícolas, cada vez menos vendáveis. Em termos quantitativos, é provável que a produção agrícola na maior parte dos países desenvolvidos seja, no mínimo, quatro vezes maior que em 1920 e três vezes maior que em 1950 (exceto no Japão). Mas, enquanto no início do século 20 os agricultores constituiam o maior grupo isolado da população economicamente ativa em quase todos os países desenvolvidos, hoje eles representam não mais que 3% nesses mesmos países. E, enquanto no início do século 20, a agricultura era a maior contribuinte para a renda nacional na maior parte dos países desenvolvidos, em 2000, nos EUA, contribuiu com menos de 2% para o PIB. 
 É pouco provável que a indústria aumente sua produção, em volume, tanto quanto a agricultura, ou que encolha tanto como produtora de riqueza e empregos. Contudo, a previsão mais digna de crédito para 2020 sugere que a produção industrial nos países desenvolvidos deverá no mínimo dobrar, ao passo que o número de pessoas empregadas se reduzirá a 10-12% da força de trabalho. 
 Nos EUA, essa transição já ocorreu, em grande parte, e com um mínimo deslocamento sócio-econômico. O único grupo duramente atingido foi o dos afro-americanos. O aumento do número de empregos industriais, depois da Segunda Guerra, ofereceu-lhes oportunidades de rápido avanço econômico, com empregos que, em sua maioria, agora não mais existem. Mesmo em lugares que dependiam fortemente de algumas grandes fábricas, porém, o desemprego permaneceu alto somente por pouco tempo. E o impacto político foi mínimo. 
 Será assim fácil em outros países? No Reino Unido, o número de empregos industriais já caiu bastante, sem causar qualquer inquietação, embora pareça ter gerado problemas sociais e psicológicos. Mas, o que acontecerá em países como Alemanha e França, onde os mercados de mão-de-obra permanecem rígidos e, até recentemente, havia pouca mobilidade vertical induzida pela educação? Esses países, que já têm desemprego substancial e aparentemente insolúvel, como na região alemã do Ruhr e na antiga área industrial da França, em torno de Lille, poderão enfrentar um doloroso período de transição, com agitação social. 
 O maior ponto de interrogação está sobre o Japão. É verdade que o país não tem uma cultura de classe trabalhadora e conhece há muito o valor da educação como instrumento de mobilidade vertical. Mas a estabilidade social está baseada na segurança de emprego, em especial para os operários nas grandes empresas industriais, que vão desaparecendo rapidamente. Antes da introdução da segurança de emprego, nos anos 50, o Japão era um país de extrema turbulência trabalhista. A parcela da indústria no total de empregos ainda é a mais alta dentre os países desenvolvidos (cerca de um quarto), praticamente não há mercado de trabalho e é pouca a mobilidade da mão-de-obra. 
 Também em termos psicológicos o Japão é o menos preparado para lidar com o declínio da indústria. Afinal, sua ascensão à posição de grande potência econômica na segunda metade do século 20 deve-se ao fato de ter se tornado o virtuose mundial da indústria. Mas, não se deve subestimar os japoneses. Em sua história, eles têm demonstrado capacidade inigualável para enfrentar a realidade e mudar rapidamente. De todo modo, o declínio da indústria como a chave para o sucesso econômico representa para o Japão um dos maiores desafios jamais enfrentados.
	
	
 O declínio da indústria como produtora de riqueza e empregos altera o cenário social e político do mundo e torna cada vez mais difíceis os "milagres econômicos" para os países em desenvolvimento. Os milagres econômicos da segunda metade do século 20 - Japão, Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Cingapura - foram baseados na exportação, para os países ricos, de manufaturados produzidos com tecnologia e produtividade do primeiro mundo, mas com custos de mão-de-obra de países emergentes. Isto não funciona mais. Uma forma de gerar desenvolvimento econômico pode ser a integração da economia de um país emergente a uma região desenvolvida - que é o que Vicente Fox, o presidente mexicano, pretende com sua proposta para uma integração total da América do Norte - EUA, Canadá e México. Em termos econômicos, a proposta faz muito sentido, mas é quase impensável politicamente. A alternativa - que está sendo seguida pela China - é tentar alcançar o crescimento econômico desenvolvendo o mercado doméstico. Índia, Brasil e México também têm, ao menos em teoria, populações suficientemente grandes para tornar viável o desenvolvimento econômico baseado no mercado interno. Mas será que os países menores, como Paraguai ou Tailândia, poderão exportar para os grandes mercados de países emergentes, como o Brasil? 
 O declínio da indústria como criadora de riqueza e empregos deverá gerar, inevitavelmente, uma nova onda de protecionismo, refletindo mais uma vez aquilo que aconteceu antes na agricultura. Para cada 1% de queda nos preços agrícolas e nos níveis de emprego, no século 20, os subsídios e as medidas de proteção à agricultura em todos os países do primeiro mundo, inclusive nos EUA, subiram pelo menos 1% - com frequência, mais. E, quanto menor o número de eleitores nas áreas agrícolas, mais importante tornou-se o "voto rural". Com a redução das suas fileiras, os agricultores passaram a ser um grupo unificado de interesse especial, com influência desproporcionalmente grande em todos os países ricos. 
 O protecionismo na indústria já está evidente, embora tenda a assumir a forma de subsídios, em vez das tarifas tradicionais. Os novos blocos econômicos regionais, como União Européia, Nafta ou Mercosul, criam grandes mercados regionais com tarifas internas mais baixas, mas protegem-se com barreiras mais altas contra os produtores de outras regiões. E as barreiras não tarifárias de todos os tipos não param de crescer. Na mesma semana em que a queda de 40% nos preços das chapas de aço foi anunciada na imprensa americana, o governo dos EUA proibiu as importações de aço sob a alegação de "dumping". Por mais louváveis que sejam seus objetivos, a insistência dos países desenvolvidos a respeito de leis trabalhistas justas e regras ambientais para os fabricantes de países em desenvolvimento atua como uma poderosa barreira à importação de seus produtos. 
 Menor número, influência maior. Também em termos políticos, a indústria está se tornando mais influente, à medida que se reduz o número de seus trabalhadores, em especial nos EUA. Na eleição presidencial do ano passado, o voto dos trabalhadores foi mais importante do que 40 ou 50 anos antes, precisamente por que o número de membros de sindicatos caiu tanto como porcentagem da populaçãovotante. Sentindo-se ameaçados, eles cerraram fileiras. Há algumas décadas, uma minoria substancial dos membros de sindicatos americanos eram republicanos; estima-se que, por ocasião da última eleição, mais de 90% deles votaram no candidato democrata (Al Gore, que perdeu). 
 Por mais de cem anos, os sindicatos americanos foram fortes partidários do livre comércio, ao menos em sua retórica. Nos últimos anos, porém, tornaram-se firmemente protecionistas e inimigos declarados da "globalização". Não importa que a verdadeira ameaça aos empregos na indústria não seja a concorrência externa, mas sim o seu rápido declínio como geradora de empregos: é simplesmente incompreensível que a produção industrial possa crescer enquanto o número de empregos decresce, e não só para os sindicalistas, mas também para os políticos, jornalistas, economistas e o público em geral. Em sua maioria, as pessoas continuam a acreditar que, quando cai o número de empregos industriais, a base industrial do país está ameaçada e tem de ser protegida. As pessoas encontram grande dificuldade em aceitar que, pela primeira vez na história, a sociedade e a economia não estão mais dominadas pelo trabalho manual e que um país é capaz de produzir alimentos, habitações e roupas para si mesmo com apenas uma pequena minoria da população empenhada nesse trabalho. 
 O novo protecionismo é motivado pela nostalgia e por emoções profundas, da mesma forma que por interesses econômicos e pelo poder político. Contudo, nada se conseguirá com isso, porque "proteger" indústrias envelhecidas não funciona. Essa é a lição clara de 70 anos de subsídios agrícolas. As velhas culturas - milho, trigo, algodão, nas quais os EUA injetaram inúmeros bilhões desde os anos 30 - tiveram todas fracos resultados, ao passo que culturas novas e não protegidas - como a da soja - floresceram. A lição é clara: as políticas que pagam para que indústrias velhas sustentem pessoal em excesso só podem fazer mal. O dinheiro gasto dessa forma deveria ser destinado a subsidiar trabalhadores mais velhos desempregados e ao retreinamento e à recolocação dos trabalhadores mais jovens.
O caminho pela frente
É agora o momento de nos prepararmos para 
a sociedade do futuro – com alguns objetivos
em mente e simpatia pelo imponderável.
 A sociedade do futuro ainda não chegou, mas seus muitos sinais de aproximação já recomendam que se considere a necessidade de ação nas seguintes áreas:
 A empresa do futuro. Empreendimentos - inclusive, os não comerciais, como as universidades - deveriam experimentar novas formas de organização e realizar estudos-piloto, em especial sobre alianças, parceiros e joint ventures. Devem também definir novas estruturas e atribuir novas tarefas à alta gerência. São necessários novos modelos para a diversificação das multinacionais em termos de geografia e produtos, assim como um novo equilíbrio entre concentração e diversificação.
 Políticas de recursos humanos. A administração de pessoal quase sempre parte do princípio de que a força de trabalho continua sendo formada por funcionários que trabalham em tempo integral para a empresa, até que sejam despedidos ou que chegue o momento da demissão, aposentadoria ou morte. Contudo, em muitas organizações, dois quintos da força de trabalho já não são funcionários fixos e não trabalham em tempo integral. 
 Os gerentes de recursos humanos também continuam entendendo que os empregados mais desejáveis e mais baratos são os jovens. Nos EUA, em especial, os mais velhos, e particularmente os gerentes e profissionais especializados mais velhos, foram empurrados para uma aposentadoria precoce, para dar lugar a pessoas mais jovens. Estas, segundo se acredita, custam menos ou estão mais atualizadas nos requisitos desejados. O resultado dessa política não tem sido animador. Em geral, após dois anos, os custos salariais por empregado, para os jovens recém-recrutados, tende a voltar aos níveis anteriores à saída dos "velhos", se não forem mais altos. Ao que tudo indica, o número de empregados assalariados está subindo pelo menos tão depressa quanto a produção ou as vendas - o que significa que os novos contratados não são mais produtivos do que eram os antigos. De qualquer forma, as tendências demográficas tornarão a política atual cada vez mais onerosa e ineficiente. 
 É fundamental que a política de recursos humanos alcance todos os que trabalham para a empresa, sejam funcionários fixos ou não. Afinal, interessa o desempenho de cada um deles. Até agora, parece que ninguém encontrou uma solução satisfatória para este problema. Em segundo lugar, as empresas precisam atrair, conservar e tornar produtivas as pessoas que já atingiram a idade oficial de aposentadoria, assim como as que se tornaram prestadoras de serviço independentes, ou que não podem ser funcionários fixos em tempo integral. Por exemplo, pessoas mais velhas instruídas e altamente capacitadas poderiam, em vez de se aposentar, ter a opção de continuar mantendo uma relação com a empresa na condição de inside outsiders, ou seja, como prestadores de serviço temporários por um prazo mais longo. Desta forma, beneficiariam a empresa com suas habilidades e seus conhecimentos e, ao mesmo tempo, ganhariam a flexibilidade e a liberdade que desejam e podem oferecer. 
 Existe um modelo para isso, mas que vem do mundo acadêmico: o professor emérito, que já desocupou sua cátedra e não recebe mais salário fixo. Ele continua livre para lecionar, mas só é pago pelas aulas de fato ministradas. Muitos professores eméritos aposentam-se, mas talvez a metade continua lecionando em tempo parcial e muitos continuam a fazer pesquisa em tempo integral. Arranjo semelhante poderia ser conveniente para os profissionais mais velhos na esfera empresarial. Uma grande empresa americana está tentando implementar um esquema do gênero para o pessoal de primeiro escalão em seus departamentos legal e de tributos, pesquisa e desenvolvimento e em funções mais gerais. Para funções operacionais, como vendas ou produção industrial, será preciso criar algo diferente.
 Informações externas. Por surpreendente que seja, pode-se argumentar que a revolução da informação está criando gerentes menos informados. Eles têm mais dados à disposição, sem dúvida, mas a maior parte da informação hoje disponibilizada com tanta facilidade pela tecnologia trata de assuntos internos da empresa. Contudo, as mudanças mais importantes que hoje afetam uma instituição são as externas - e sobre estas os atuais sistemas de informação oferecem muito poucas pistas. 
 Um dos motivos é que a informação sobre o mundo exterior em geral não está disponível em forma adequada para computação. Em geral, não são dados codificados, nem quantificados. É por isso que o pessoal de tecnologia da informação (TI) e seus clientes executivos costumam desprezar informações acerca do mundo exterior, considerando-as como nada mais que casos ou exemplos. Ademais, muitos executivos entendem que a sociedade que conheceram permanecerá igual para sempre. 
 Informações sobre o mundo exterior hoje estão disponíveis pela internet. Embora ainda se distribuam de forma desorganizada, é possível para um executivo perguntar de quais informações externas necessita, como primeiro passo para criar um sistema adequado de coleta de dados relevantes.
 Agentes de mudança. Para sobreviver e ter sucesso, cada organização terá de transformar-se num agente de mudanças. A maneira mais eficiente de administrar bem as mudanças é criá-las. A experiência já demonstrou que é inútil tentar implantar inovações numa empresa tradicional; é a própria empresa que precisa transformar-se num agente da mudança. Isso exige que se abandone, de maneira organizada, qualquer coisa que já mostrou ser ineficiente. Exige também a melhoria organizada e contínua de todos os produtos, serviços e processos dentro da empresa (é o que os japoneses chamam de kaizen). É algo que requer o aproveitamento de todos os sucessos,em especial os inesperados e não planejados, assim como a inovação sistemática. O essencial dessa transformação da empresa em agente de mudança é que muda a mentalidade de toda a organização. Em vez de encarar a mudança como uma ameaça, os funcionários passarão a considerá-la uma oportunidade. 
 E então ? Tudo isso pode ser dito acerca da preparação para um futuro que já vemos tomar forma. O que dizer, porém, sobre as futuras tendências e acontecimentos dos quais ainda nem temos consciência? Se existe uma previsão garantida, é que o futuro tomará rumos inesperados. 
 Veja-se, por exemplo, a revolução da informação. Quase todos têm duas certezas a respeito desse fato. Primeira, que está se desenrolando numa velocidade sem precedentes; segunda, que seus efeitos serão mais radicais do que qualquer acontecimento anterior. Errado, e errado de novo. Tanto na velocidade, como no impacto, a revolução da informação guarda estranha semelhança com suas duas antecessoras dos últimos 200 anos - a primeira revolução industrial, no final do século 18 e início do 19, e a segunda revolução industrial, no final do século 19. 
 A primeira revolução industrial, deflagrada pela máquina a vapor, aperfeiçoada por James Watt em meados dos anos 70 do século 18, exerceu impacto enorme e imediato na imaginação do Ocidente. Entretanto, não produziu grandes mudanças sociais e econômicas até a invenção da estrada de ferro, em 1829, e do telégrafo e do serviço postal pré-pago, na década seguinte. O mesmo ocorreu com a invenção do computador em meados da década de 40 - o equivalente à máquina a vapor na revolução da informação. O computador estimulou a imaginação popular, mas apenas 40 anos depois, com a difusão da internet na década de 90, a revolução da informação passou a trazer grandes mudanças econômicas e sociais. 
 Da mesma forma, hoje ficamos confusos e alarmados com a crescente desigualdade de renda e riqueza e com o surgimento dos "super-ricos", como Bill Gates da Microsoft. Contudo, o mesmo aumento súbito e inexplicável da desigualdade e o mesmo surgimento dos super-ricos caracterizaram as duas revoluções industriais. Em relação à renda média e à riqueza média da sua época e do seu país, aqueles primeiros super-ricos eram muito mais ricos do que alguém como Bill Gates é hoje em relação aos atuais níveis de renda e riqueza nos EUA. 
 Esses paralelos são suficientemente próximos e marcantes para que possamos dizer, quase com certeza, que, assim como nas revoluções industriais anteriores, os principais efeitos da revolução da informação sobre a sociedade ainda estão por vir. As décadas do século 19 que se seguiram à primeira e à segunda revoluções industriais foram os períodos mais inovadores e férteis, desde o século 16, para a criação de novas instituições e novas teorias. A primeira revolução industrial transformou a fábrica no principal centro de produção e criação de riquezas. O operariado transformou-se numa nova classe social - a primeira desde o surgimento dos cavaleiros andantes com suas armaduras, mais de mil anos antes. A casa Rothschild, que surgiu como a principal potência financeira mundial depois no princípio do século 19, não era apenas o primeiro banco de investimento, mas também a primeira empresa multinacional desde a Liga Hanseática e a família Médici, no século 15. A primeira revolução industrial trouxe, entre muitas outras coisas, a propriedade intelectual, a incorporação universal, a responsabilidade limitada, o sindicato, a cooperativa, a universidade técnica e o jornal diário. A segunda revolução industrial produziu o moderno funcionalismo público e a moderna empresa, o banco comercial, a escola de administração de empresas e os primeiros empregos não-braçais para as mulheres que trabalhavam fora de casa. 
 As duas revoluções industriais também geraram novas teorias e novas ideologias. O Manifesto Comunista foi uma resposta à primeira revolução industrial. As teorias políticas que, conjuntamente, deram forma às democracias do século 20 - o Estado do bem-estar social de Bismarck, o socialismo cristão e os socialistas fabianos do Reino Unido, a regulamentação das empresas nos EUA - foram respostas à segunda revolução industrial. Assim também foi a "administração científica" de Frederick Winslow Taylor (a partir de 1881), geradora de uma explosão de produtividade. 
 Grandes idéias. A partir da revolução da informação, vemos mais uma vez o surgimento de novas instituições e novas teorias. As novas regiões econômicas - a União Européia, o Nafta e a proposta Alca - não têm tradição de livre comércio, nem tampouco de protecionismo. Procuram atingir um novo equilíbrio entre essas duas posições e também entre a soberania econômica dos Estados nacionais e a tomada de decisões econômicas em nível supranacional. Da mesma forma, não existe precedente real para empresas como Citigroup, Goldman Sachs ou ING Barings, que passaram a dominar as finanças mundiais. Não são multinacionais, mas, sim, transnacionais. O dinheiro com que lidam está quase totalmente fora do controle de qualquer governo ou banco central. 
 Veja-se também o aumento do interesse pelos postulados de Joseph Schumpeter sobre o "desequilíbrio dinâmico" como o único estado estável da economia; pela "destruição criativa" dos inovadores como a força motriz da economia; pelas novas tecnologias como os principais, se não únicos, agentes de mudança econômica. São a própria antítese das teorias econômicas anteriores, baseadas na idéia do equilíbrio como norma saudável da economia, políticas monetárias e fiscais como forças propulsoras da economia moderna e tecnologia como uma "externalidade". 
 Tudo isso sugere que as maiores mudanças ainda estão por acontecer. Também podemos ter certeza de que a sociedade do ano 2030 será muito diferente da nossa e terá pouca semelhança com as previsões dos atuais futuristas em seus best-sellers. Não será dominada, nem sequer moldada, pela tecnologia da informação. A tecnologia da informação será importante, é claro, mas será apenas uma entre várias novas tecnologias importantes. A característica central da sociedade futura, assim como de suas antecessoras, são as novas instituições e as novas teorias, ideologias e problemas.

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