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A Hermenêutica jurídica e sua aplicabilidade

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jusbrasil.com.br
11 de Outubro de 2016
A Hermenêutica jurídica e sua aplicabilidade
Autoria: Ana Claudia Gabriele
1. INTRODUÇÃO
Ao adentrarmos no campo das ciências jurídicas, faz­se necessária a
constante interpretação das normas, fazendo com que essas sejam
conhecidas na plenitude de seu sentido e alcance.
Neste ponto, deparamo­nos com a hermenêutica jurídica, ciência que, ao
utilizar­se de métodos na interpretação dos textos legais, conduz à
aplicação da melhor forma de direito, não se restringindo à rigidez textual
do legislador.
Ao abordar o presente tema, relevante ressaltar que a norma jurídica deve
ser aplicada considerando, para tanto, a amplitude do sistema jurídico
vigente, ou seja, é preciso que esta se vincule às necessidades sociais por
intermédio da flexibilidade interpretativa, o que será evidenciado quando
da análise do Artigo 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro.
2. JUSTIFICATIVA
Ao longo da história a sociedade está em constante evolução e,
concomitantemente, a necessidade de regular novas relações jurídicas.
Assim se dá a evolução da ciência do direito e consequentemente, a
impossibilidade do legislador prever, de pronto, todas as situações da
aplicabilidade da lei.
A constante busca pelo conhecimento e no intuito de aclará­lo no âmbito
das ciências sociais, torna­se, segundo Reale (2001), “insustentável o
propósito de uma teoria da interpretação cega para o mundo dos valores
e dos fins e, mais ainda, alheia ou indiferente à problemática filosófica”.
Neste sentido, busca­se uma abordagem da importância que a
hermenêutica, como ciência da interpretação, tem para a fixação do sentido
e alcance da norma. De sua indispensabilidade na mantença do equilíbrio e
compreensão da observância adequada desta.
3. CONCEITO DE HERMENÊUTICA
A definição mais acertada e tecnicamente mais célebre da palavra
“hermenêutica”, nos dias atuais, é “Ciência da Interpretação”. A existência
de confusão semântica é nítida pelo fato da palavra "hermenêutica" ser de
origem grega, significando interpretação.
Segundo alguns estudiosos, sua origem está no nome do deus da mitologia
grega Hermes, a quem era atribuído o dom de interpretar a linguagem dos
deuses.
As raízes da palavra “hermenêutica” provêm do verbo grego hermeneuein e
do substantivo hermeneia, ambas concatenadas ao mito do deus grego,
Hermes (Mercúrio na tradição romana). De acordo com a mitologia,
Hermes era o filho de Zeus encarregado de levar a mensagem dos deuses
do Olimpo aos homens, utilizando­se de suas velozes asas para realizar tal
tarefa. (PALMER, 1969. P.23)
Curioso era do fato de que o deus mensageiro deveria “traduzir” e
“interpretar” as mensagens dos deuses para os mortais, vez que a língua de
um era incompreensível ao outro. Assim, Hermes acabou elaborando uma
escrita e uma linguagem para melhorar a comunicação entre eles.
(SOARES, 2014)
A hermenêutica teve sua origem na teologia pagã, depois migrou para a
teologia cristã, de onde transferiu­se para a filosofia e só depois para o
direito. O estudo da hermenêutica jurídica, ou seja, a técnica e os métodos
para a correta interpretação das leis se torna fundamental para o estudo da
ciência do direito.
Na área jurídica, hermenêutica é a ciência que forma as regras e métodos
para interpretação das normas, fazendo com que elas sejam divulgadas
com seu sentido e alcance.
Toda norma jurídica deve ser aplicada em razão do todo do sistema
jurídico vigente, e não depende da interpretação de cada um, ela deve estar
ligada aos mandamentos legais de uma sociedade, sendo que o primeiro
homem a empregá­la como palavra técnica foi o filosofo Platão.
Destarte, a hermenêutica é a disciplina da interpretação e a ciência que
expõe os princípios, investiga as leis do pensamento e da linguagem e
classifica os seus acontecimentos e consequências.
4 APLICABILIDADE DA HERMENÊUTICA
A Hermenêutica tem por finalidade o estudo e a sistematização dos
processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões
do direito. (PEREIRA, 2014)
As próprias escolas hermenêuticas que se desenvolveram ao longo dos
séculos sugeriram dos métodos passados, do caráter de “aparência” do
sentido que poderia alcançar.
Não cabe à hermenêutica determinar o que é certo ou incerto. O sentido
encontrado deve ser justificado ora pela intenção do autor, ora pela forma
como o intérprete analisa e “visualiza” o conteúdo.
No passado, nem sempre essa possibilidade foi conferida ao intérprete
(FRANÇA, 1988. P. 22), essa evolução deu­se ao longo do tempo.
Exemplificando a rigidez de outrora, a lição de R. Limonge França:
No terceiro prefácio ao Digesto, o Imperador Justiniano determinou
que quem ousasse tecer comentários interpretativos à sua compilação
incorreria em crime de falso e as suas obras seriam sequestradas e
destruídas. (FRANÇA, 1988. P. 22)
Modernamente, todo fato e lei são passíveis de interpretação, considerando
tratar­se de fenômenos sociais e jurídicos. A compreensão dos sistemas de
ideias a respeito da interpretação do Direito pressupõe alguma noção sobre
a evolução de sua história. (PEREIRA, 2014)
No intuito de compreender essa evolução será abordado no próximo tópico
as chamadas “Escolas de Interpretação”.
5 ESCOLAS DE INTERPRETAÇÃO
As chamadas Escolas de Interpretação ou Sistemas Hermenêuticos são
modos de pensamento que surgiram no século XIX, em virtude das grandes
codificações, e influenciaram subjetivamente certas épocas, procurando
estabelecer a forma ideal de relacionamento entre a norma e seu aplicador,
tentando determinar quais as interpretações possíveis e qual o grau de
liberdade seria conferida ao juiz.
Das Escolas que se destacaram nesse contexto, são quatro as principais,
posto que se diferenciaram pela maior ou menor influencia positivista.
5.1. Escola da Exegese ou Dogmática
Essa escola não aprovava quaisquer outras fontes senão a própria lei, esta
representava todo o Direito conhecido.
Havia o encantamento das codificações que eram avaliadas como obras
perfeitas e completas, não se aventando a possibilidade de lacunas ou a
atividade criativa da jurisprudência.
Esta escola, em sua tradução original, adotou ideias deveras incoerentes e
radicais como a de que o juiz, ao se deparar com situações não previstas,
deveria se abster de julgar. (TEIXEIRA, 2014)
A importância dessa escola no início do século XIX é explicável pelo
momento histórico, vez que surge juntamente ao Código de Napoleão que
foi inicialmente considerado obra irretocável.
Neste contexto, vale a citação extraída do livro “História Resumida do
Direito” do autor Ralph Lopes Pinheiro, ao mencionar Napoleão Bonaparte
“Minha verdadeira glória não está em ter ganho quarenta batalhas;
Waterloo apagará a lembrança de tantas vitórias. O que não se apagará,
o que viverá, eternamente, é o meu Código Civil”. (PINHEIRO, 1981, p.88)
Importante ressaltar que a burguesia, classe dominante à época, vinha de
um período de sofrimento, por vezes praticado pelo arbítrio judicial, razão
pela qual levavam às últimas consequências a teoria da separação dos
poderes, e achavam que se o juiz tivesse liberdade de interpretação, haveria
a possibilidade da tirania regressar, por isso faziam do magistrado um
vassalo do legislador. (TEIXEIRA, 2014)
Na atualidade, em função da impossibilidade da aplicação de princípios
rígidos e intolerantes, esta escola possui valor meramente histórico.
5.2. Escola Histórico­Evolutiva
Ao contrário do que imaginavam os exegetas, nessa escola a lei se reveste
de vida própria e se desprende totalmente do legislador; deixando­se de
buscar a “mens legislatoris”, a intenção do legislador, para se buscar a
“mens legis”, ou seja, o espírito da própria lei, extraída pelo aplicador em
qualquer tempo. (TEIXEIRA, 2014)
Assim, o relevante não é mais “o que o legislador queria no momento da
elaboração”,mas sim “o que ele iria querer se vivesse no momento e
contexto atuais.” A ideia principal era adaptar a velha lei aos novos tempos,
“dando vida aos Códigos”.(HERKENHOFF, 1999. P. 43)
É de se salientar que, inobstante tal linha de pensamento, o intérprete não
tinha qualquer discricionariedade, devendo manter­se no âmbito do texto
legal pela inadmissibilidade de que o sistema fosse omisso.
(HERKENHOFF, 1999. P. 43)
5.3. Escola da Livre Investigação Científica
Essa escola ainda circundava a vontade do legislador e a investigação da
chamada “occasio legis” (ocasião da lei) era inerente, ou segundo registrou
Carlos Maximiliano:
(...) o complexo de circunstâncias específicas atinentes ao objeto da
norma, que constituíram o impulso exterior à emanação do texto;
causas mediatas e imediatas, razão política e jurídica, fundamento dos
dispositivos, necessidades que levaram a promulgá­los; fatos
contemporâneos da elaboração; momento histórico, ambiente social,
condições culturais e psicológicas sob as quais a lei surgiu e que
diretamente contribuíram para a promulgação; conjunto de motivos
ocasionais que serviram de justificação ou pretexto para regular a
hipótese; enfim o mal que se pretendeu corrigir e o modo pelo qual se
projetou remediá­lo, ou melhor, as relações de fato que o legislador
quis organizar juridicamente. (MAXIMILIANO, 2009)
Ainda assim, passível distingui­la da escola dogmática em função do
entendimento de que a lei possuía limites impostos pelo tempo e que
nesses casos o intérprete não deveria imprimir força ao entendimento da
norma, admitindo que as lacunas deveriam ser integradas. Seu diferencial
estava no fato de aceitar outras fontes, não somente a lei. (TEIXEIRA,
2014)
Malgrado, ressai­se que o intérprete não tinha o poder de contrariar o texto
legal, mas tão só explicá­lo ou completá­lo, quando necessário. A livre
investigação só teria cabimento no caso de lacuna das fontes formais do
Direito e não quando a norma fosse considerada injusta. (id., 2014)
5.4. Escola do Direito Livre
Essa escola teve início quando da publicação da obra “A Luta pela Ciência
do Direito”, em 1906, por Hermann Kantorowicz (com o pseudônimo de
Gnaeus Flavius), vez que trazia uma revolucionária concepção de
interpretação e aplicação do Direito ao defender a plena liberdade do juiz
no momento de decidir os litígios, podendo, até mesmo, confrontar o que
reza a lei (MELLO FILHO, 2014).
Para os adeptos do Direito Livre, o ordenamento jurídico não deve estar
vinculado apenas ao Estado, mas ser livre em sua realização e constituir­se
de convicções numa relação de tempo e espaço, deixando de ser uma
imposição estatal para ser legitimado, também, pela sociedade em razão de
suas necessidades. (id., 2014)
Na aplicação do direito deve prevalecer a ideia deste enquanto justiça,
podendo o juiz agir não somente através da Ciência Jurídica, mas também
pela sua convicção pessoal. Nessa ocasião o magistrado teria o animus de
aplicação da norma dentro de uma percepção de justo.
De acordo com Aftalión (1991 apud MELLO FILHO, 2014):
o que caracteriza em geral o movimento do direito livre é a liberação
do jurista em relação ao estatismo e, portanto, a liberação do
intérprete da submissão absoluta aos textos legais, que inclusive
poderá deixar de lado em certas oportunidades.
Nessa escola, o arbítrio do juiz é de grandes proporções, vez que, em
função de uma convicção de justiça, o magistrado pode decidir até mesmo
contra legem. (MELLO FILHO, 2014)
Essa corrente de interpretação desenvolvida na Alemanha, entende que o
objetivo único do Direito é a Justiça e, portanto haja ou não uma lei escrita,
o magistrado estará autorizado a se basear por essa finalidade maior. A
grande máxima dessa escola é “fiat justitia, pereat mundus”, que quer
dizer “faça­se justiça, ainda que o mundo pereça”. (TEIXEIRA, 2014)
6 ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO
A doutrina tem a preocupação de organizar sistematicamente a
interpretação, e para tal classifica­se segundo sua origem, natureza e
resultado.
6.1. Classificação quanto às origens
Segundo França (1988), uma das classificações para a interpretação é
acerca do agente, ou seja, baseada no órgão prolator do entendimento da
lei.
Quanto às suas espécies, teremos, portanto, a interpretação pública ou a
privada.
No tocante a interpretação pública, esta é “prolatada pelos órgãos do
Poder Público, quer do Legislativo, quer do Executivo, quer do
Judiciário”. (FRAÇA, 1988).
Esta, geralmente é dividida pela doutrina em subespécies, a saber:
i. Autêntica: oriunda da interpretação levada a efeito pelo órgão criador da
norma. Assim será interpretação autêntica a explicação que um dispositivo
legal dá a um outro, ou que uma lei dá a outra. (TEIXEIRA, 2014)
ii. Judicial: é a realizada pelos órgãos do poder judiciário.
Esta espécie de interpretação está intimamente entrosada com o problema
da jurisprudência como forma de expressão de direito. Na verdade, em
certos casos, conforme as características que apresenta, ela pode
enquadrar­se no conceito de costume judiciário, passando a possuir efeito
vinculativo. (FRANÇA, 1988)
Hoje, a maioria dos autores ressalta a inconveniência da interpretação
autêntica, pelo fato de que muitas vezes esse recurso ainda deixa dúvidas,
nascendo então a interpretação da interpretação. (TEIXEIRA, 2014)
Segundo Reale (2001) a interpretação autêntica é somente aquela que se
opera por meio de outro ato normativo: a interpretação não retroage, pois
disciplina a matéria tal como nela foi esclarecido, tão­somente a partir de
sua vigência.
Atualmente, uma terceira variedade de interpretação pública tem sido
mencionada pelos doutrinadores, a administrativa.
Esta interpretação é a elaborada pelo órgão que irá executar a norma,
assim ocorre, por exemplo, quando o Secretário da Ciência e Tecnologia,
através de uma Portaria, ato administrativo inferior, explica como devem
ser cumpridas as determinações de um decreto governamental.
Quanto à interpretação privada, também denominada doutrinária, há que
se ponderar que está diretamente relacionada à questão do direito
científico como forma de expressão de direito. (FRANÇA, 1988)
O jurista, estudioso da ciência do direito, está constantemente dedicado a
produzir, bem como a buscar o verdadeiro sentido do que já se produziu no
Direito. É a interpretação que se impõe exclusivamente pela força dos
argumentos, sendo dentre todas as interpretações a mais livre, em razão de
não estar comprometida com quaisquer autoridades ou poderes.
(TEIXEIRA, 2014)
O doutrinador só deve fidelidade às suas próprias convicções e à Ciência
Jurídica. (id., 2014)
6.2. Classificação quanto à natureza
À luz de França (1988), a classificação quanto à natureza tem como
fundamento os diversos tipos de elementos contidos nas leis, servindo
como ponto de partida para sua compreensão.
Dentro dessa classificação estão compreendidas a gramatical, a lógica, a
histórica e a sistemática, aduzidas a seguir:
i. Gramatical ou literal: tem como ponto de partida o alcance e significado
dos elementos que compõem seu texto. Seu sentido encontra­se restrito a
base da lei. Esta interpretação, por si só, é insuficiente para conduzir o
intérprete a um resultado conclusivo, sendo necessário a articulação de
outras espécies de interpretações a fim de propiciar o resultado almejado.
(FRANÇA, 1988)
ii. Lógica: “é aquela que se leva a efeito, mediante a perquirição do sentido
das diversas locuções e orações do texto legal, bem assim através do
estabelecimento da conexão entre os mesmos”. (id., 1988)
iii. Histórica: aquela que indaga as condições e o momento de elaboração
da norma, bem como, leva em consideração as causas pretéritas da solução
dada pelo legislador. (FRANÇA, 1988)
iv. Sistemática: na interpretação sistemática a norma jurídica pode e deve
ser pesquisada em conexão com todo o sistemalegislativo.
A interpretação sistemática busca manter a coerência entre as normas, e
isso se torna ainda mais adequado em sistemas como o nosso que segundo
Herkenhoff (1999, apud TEIXEIRA, 2014) possui “constituições
pormenorizadas, exaustivas, regulando matérias atinentes aos mais
diversos campos do Direito”.
6.3. Classificação quanto ao resultado
Esta abordagem refere­se à extensão da interpretação, ou seja, se atém ao
produto final, à conclusão a que chegou o intérprete após a análise do texto
normativo. (TEIXEIRA, 2014)
Quanto às espécies de extensão, estas podem ser:
i. Declarativa: esta espécie limita a declarar ou especificar o pensamento
expresso ou contínuo de forma explicativa da norma jurídica, sem para
tanto, estendê­la a casos não previstos ou restringi­la mediante a exclusão
de casos inadmissíveis, constatando, o intérprete, tão somente o que as
palavras expressam. (TEIXEIRA, 2014)
ii. Restritiva: é a interpretação cujo resultado leva a afirmar que o
legislador usou expressões aparentemente mais amplas que seu
pensamento, restringindo o sentido da norma ou limitando sua incidência.
(FRANÇA, 1988)
iii. Extensiva: conclui que a abrangência semântica da regra é mais ampla
que seus termos. Deste modo, afirma­se que o legislador escreveu menos
do que realmente intencionava dizer e o intérprete, por sua vez, amplia a
incompletude da regra. (TEIXEIRA, 2014)
7. O DIREITO DIANTE DA HERMENÊUTICA
Segundo Ricoeur (1990, apud SUNAKOZAWA, 2014), a amplitude que
alcança a interpretação e seu entendimento passa pela compreensão total
do fenômeno jurídico analisado, o que, por si só não possui o condão de
afastar ou negar a existência do homem e nem de sua influência no papel
interpretativo.
Ao escólio de Gadamer (1993, apud SUNAKOZAWA, 2014) “as ciências do
espírito são ciências morais e por isso destinam­se aos homens e a sua
dinamicidade, logo, em termos hermenêuticos a experiência entre a
compreensão e interpretação conduz à busca da verdade.”
Neste sentido, vale ressaltar que o processo de compreensão da norma
tecnicamente viabiliza a inserção da hermenêutica, cujo objetivo se pauta
na mais perfeita tradução da legitimidade perante às necessidades sociais.
Tanto é fato, que o sistema normativo brasileiro por intermédio do Artigo
5º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto­Lei nº
4.657, de 4 de setembro de 1942, alterado pela redação da Lei nº 12.376, de
2010), dispõe: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que
ela se dirige e às exigências do bem comum.”
Por sua importância intrinsecamente relacionada à hermenêutica que será
tema de abordagem do Capítulo 8.
8. APLICAÇÃO DO ARTIGO 5º DA LINDB
“Art. 5º ­ Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela
se dirige e às exigências do bem comum.”
Na atividade interpretativa da ciência do direito, a hermenêutica surge
dando a esta múltiplas possibilidades técnicas, liberdade jurídica na
escolha dessas vias, identificação e possibilidade de preenchimento de
lacunas jurídicas, além de promover o afastamento de contradições
normativas, através da indicação de critérios para solucioná­las. (PIVA,
2014)
Consoante Maria Helena Diniz (2007, apud PIVA 2014):
A ciência jurídica exerce funções relevantes, não só para o estudo do
direito, mas também para a aplicação jurídica, viabilizando­o como
elemento de controle do comportamento humano ao permitir a
flexibilidade interpretativa das normas, autorizada pelo art. 5º da Lei de
Introdução, e ao propiciar, por suas criações teóricas, a adequação das
normas no momento de sua aplicação.
Destarte, na interpretação da norma, há que se considerar o coeficiente
axiológico e social nela contido, baseando­se no momento histórico vez
que, a norma geral, per si deixa em aberto várias possibilidades, deixando
essa decisão a um ato de produção normativa. (PIVA, 2014)
Salienta­se que, ao aplicar a norma ao caso concreto, o magistrado deve
fazê­la atendendo à sua finalidade social e ao bem comum.
Com relação ao fim social, ao escólio de Maria Helena Diniz (2007, apud
PIVA 2014) afirma­se que:
pode se dizer que não há norma jurídica que não deva sua origem a um
fim, um propósito ou um motivo prático, que consistem em produzir, na
realidade social, determinados efeitos que são desejados por serem
valiosos, justos, convenientes, adequados à subsistência de uma
sociedade, oportunos, etc.
Os fins sociais são do direito, já que a ordem jurídica como um todo, é um
conjunto de normas para tornar possível a sociabilidade humana; logo
dever­se­á encontrar nas normas o seu fim, que não poderá ser anti­social.
(FERRAZ JUNIOR, 2003, apud PIVA 2014)
Em cada caso sub judice, há que se verificar se a norma atende à finalidade
social, devendo sua interpretação se dar nos meandros do próprio meio
social em que está presente, já que permanece imersa nele e
consectariamente, sob constante simbiose com o mesmo. (PIVA, 2014)
No tocante ao bem comum, sua noção é complexa e composta de inúmeros
elementos ou fatores. De qualquer modo, são passivamente reconhecidos
como elementos do bem comum a liberdade, a paz, a justiça, a utilidade
social, a solidariedade ou cooperação, não resultando o bem comum da
simples justaposição destes elementos, mas de sua harmonização face à
realidade sociológica. (Id., 2014)
Dessarte, verifica­se que toda interpretação deve basear­se na concreção de
determinado valor positivo ou objetivo, almejando o bem comum por
intermédio do respeito ao indivíduo e a coletividade.
Exemplificando a aplicabilidade do Artigo 5º sub examine, cabe aqui
mencionar decisão exarada pelo Exmo. Ministro Ayres Brito, ao decidir
sobre o reconhecimento da união homoafetiva como entidade
familiar, vez que esta não encontra previsão na legislação
brasileira.
Os ministros fundamentaram que, em função da inexistência de
respaldo constitucional contrário, tal reconhecimento deveria
ser feito nos mesmos moldes da união estável heteroafetiva,
conforme se depreende da transcrição parcial do voto do Exmo.
Ministro Relator:
Pelo que dou ao art. 1.723 do Código Civil interpretação
conforme à Constituição para dele excluir qualquer
significado que impeça o reconhecimento da união contínua,
pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como
“entidade familiar”, entendida esta como sinônimo perfeito
de “família”. Reconhecimento que é de ser feito segundo as
mesmas regras e com as mesmas conseqüências da união
estável heteroafetiva. (ADI 4277 DF. Rel. Min. AYRES BRITTO
– Tribunal Pleno – julgamento 05/05/2011 ­ DJe­198 DIVULG
13­10­2011 PUBLIC 14­10­2011 EMENT VOL­02607­03 PP­
00341).
Ao caso concreto, verifica­se interpretação dada ao Artigo 1.723 do Código
Civil de modo a preencher uma lacuna legislativa, ação essa, possibilitada
pela inteligência do sobredito Artigo 5º, o qual permite a integração da
realidade aos fatos sócio­jurídicos.
9. CONCLUSÃO
Mediante explanação, torna­se plausível a afirmação da inexistência de
valores mais desejados que a justiça. Seja esta em função da isonomia, seja
em função da realidade social inserida em um contexto histórico.
Aqui, vale relembrar o conceito de Aristóteles, que considerava a justiça
como um hábito.
Essa justiça, reconhecida como valor humano, forma a estrutura valorativa
do Direito Natural, ao qual curva­se o Direito Positivo, inobstante se
reconheça que essa só se satisfaz quando devidamente equacionada com os
demais valores jurídicos, principalmente com suas exigências éticas.
Significa dizer que a lei somente terá garantia do fiel cumprimento de sua
vontade se estiver relacionada a um sistema de valores sendo que, tal
percepção é possível em função da aplicação hermenêutica, a qual não se
restringe a elementos textuais.
Categoricamente citando Mello Filho (2014):
O Direito deve acompanhar as transformações e perceberos anseios da
sociedade hodierna e, nesse sentido, muito acrescenta o Movimento
Alternativo que defende a aplicação de um Direito mais justo e que não se
resume à lei positivada pelo Estado. O próprio ordenamento jurídico
reconhece a necessidade da observância dos clamores sociais, como reza o
artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil: "Na aplicação da lei, o juiz
atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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