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Análise dos Efeitos Gerados pelo Custeio por Absorção na apuração do lucro para Tributação de uma Indústria1 Wilmar José de Oliveira2 Sebastião Eustáquio Pereira3 Resumo O artigo analisa possíveis efeitos gerados na apuração do lucro real de uma indústria decorrentes da exigência de se utilizar o Método de Custeio por Absorção para apropriação dos custos de fixos de produção. Foram elaboradas análises e reflexões sobre a teoria e a prática da contabilização dos custos, os quais resultaram nas hipóteses em que se baseou este estudo, a primeira, é analisar se o governo obtém algum tipo de benefício com a possível antecipação do imposto a ser recolhido com a adoção do Método do Custeio por Absorção , e a segunda , se há sentido atualmente a obrigatoriedade do uso deste custeio, que pode estar gerando um custo adicional a empresa. Palavras-chave Absorção, Efeitos, Indústria, Governo e Tributação Analysis of the Effect Generated for Custeio for Absorption in the verification of the profit for Taxation of an Industry1 Summary The article analyzes possible effect generated in the verification of the real profit of an Industry decurrent of the requirement of if using the Method of Expenditure fo Absorption for appropriation of the costs of production fixtures. Analyses and reflections on the theory and the pratical one of the accounting of the costs had been elaborated, which had resulted in the hypothesis where if it based this study, the first one, that it is to analyse if the government gets some type of benefit with the possible anticipation of the tax to be collected with the adoption of the Method of Custeio for Absorption , and the second , if has currently felt the obligatoriness of the use of this defrays, that it can be generating and additional cost the company. Keywords Absorption, Effect, Industry, Government and Taxation 1 Trabalho desenvolvido na graduação em Ciências Contábeis da UCB 2 Bacharelando do 1º semestre de 2003 Curso de Ciências Contábeis da Universidade Católica de Brasília 3 Professor Orientador do Trabalho 2 1.INTRODUÇÃO Este artigo realiza um estudo comparativo dos efeitos nos estoques e nos resultados de uma indústria hipotética, caso sejam adotados o Método de Custeio Variável ou o Método de Custeio por Absorção, único admitido pelo Fisco para fins de apuração do lucro para tributação. Vários pesquisadores já se perguntaram o por que, ainda, da obrigatoriedade de se ratear os custos de produção apenas pelo custeio por absorção para fins fiscais e vários estudos já foram desenvolvidos com vistas a dar uma resposta conclusiva sobre esta questão, que reflete sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade, mas até hoje não há uma resposta definitiva para este questionamento. No Método de Custeio por Absorção, todos os custos que possam ser relacionados com a produção, estando vinculados diretamente ou indiretamente aos produtos são alocados aos bens fabricados. Nos custos que se relacionam diretamente aos produtos é fácil fazer sua alocação aos mesmos, eles podem ser identificados como parte integrante de um ou de outro produto. Mas o que ocorre com os custos indiretos no processo produtivo é diferente, já que não se pode afirmar de maneira precisa o quanto cada produto foi responsável pelo montante incorrido dos mesmos. Desta maneira eles só podem ser alocados mediantes critérios de rateio. É justamente isso que torna o método vulnerável, em termos de decisão, não só para quem está elaborando as informações, como também para quem vai analisar um demonstrativo elaborado para fins de Imposto de Renda (Governo Federal) que foi elaborado por este método. Através da simulação das Demonstrações de Resultado do Exercício de uma Indústria hipotética, envolvendo algumas situações com variações no nível de estoques com a utilização dos dois métodos de custeio diferentes , Custeio por Absorção e Custeio Variável, poderemos constatar mais claramente os efeitos os quais pretendemos abordar. A questão que se coloca é por que, mesmo dentro da moderna forma de produção e administração de estoques das indústrias atuais, continua sendo obrigatório para fins fiscais o uso do método de Custeio por Absorção na valorização de estoques? Conclusões sobre o assunto explorado serão relatadas ao final deste estudo. 3 2.REVISÃO CONCEITUAL Neste estudo, será comparado os métodos de Custeio por absorção e o Método de Custeio Variável (ou Direto), analisando suas principais divergências no que diz respeito à apropriação dos custos de produção por cada método. Para Martins, o Método de Custeio por Absorção é o método que consiste na apropriação de todos os custos de produção aos bens elaborados, e só os de produção, sendo que nele todos os gastos relativos a esforço de fabricação são distribuídos para todos os produtos feitos. (MARTINS, 2000). Conforme a afirmação do autor supra citado “...só os de produção,...”, é de suma importância que saibamos distinguir claramente os custos ligados à fabricação dos produtos dos custos do período, pois o segundo independentemente do método de custeio a ser adotado, figurará sempre como despesas na demonstração de resultado do período em que elas ocorreram, obedecendo o regime de competência. Leone define custeio por absorção como aquele que faz debitar ao custo dos produtos todos os custos da área de fabricação, sejam esses custos definidos como custos diretos ou indiretos, fixos ou variáveis, de estrutura ou operacionais, observando ainda que o procedimento é fazer com que cada produto (ou serviço) absorva uma parcela dos custos diretos e indiretos relacionados à fabricação. (LEONE, 2000). Para Horngren o Custeio por Absorção é definido como o método de custeio de estoque no qual todos os custos de fabricação, variáveis e fixos, são considerados custos inventariáveis, ou seja, o estoque absorve todos es custos da produção. Horngren ainda explica que os custos inventariáveis são os custos associados à aquisição e conversão de materiais e de todos os insumos em produtos destinados à venda, sendo que estes custos são primeiramente registrados como um ativo e subseqüentemente se transformam em despesa, quando os produtos são vendidos. (HORNGREN, 2000). Martins referindo-se ao Custeio Variável, oferece o entendimento de que esse método significa a apropriação de todos os custos variáveis, quer diretos quer indiretos, e tão somente os variáveis, ficando os custos fixos separados e considerados como despesas do período, indo diretamente para o resultado, ficando então nos estoques só os custos variáveis.(MARTINS, 2000) Leone referindo-se ao Custeio Variável, o qual prefere listar as qualificações básicas que necessitam ser atendidas para se chegar ao custo do produto, diz: “ ...que os custos sejam diretamente relacionados ao objeto cujo custo está sendo apurado e que ele seja variável em relação há um parâmetro operacional representativo da operação que está sendo custeada”. (LEONE, 2000). Cada autor procura dar, de forma individual, uma definição de cada método, nas quais fica bastante clara a distinção entre os dois métodos, ficando entendido que a diferença é decorrente do tratamento que é dado aos custos fixos dos produtos, que no Método de Custeio por Absorção vai para os estoques e no Método de Custeio Variável vai diretamente para o resultado do período em que incorreram. 4 CUSTOS FIXOS PRODUÇÃO CUSTO DO PRODUTO BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO DRE RECEITA VENDAS CPV________ L. OPER. BRUTO REC. OPERACIONAISDESPESAS OPERAC. FLUXO DO CUSTO FIXO X CUSTEIO ADOTADO ESTOQUES ( CUSTO INVENTARIÁVEL) CUSTEIO VARIÁVEL NÃ O VE ND ID O CUSTEIO ABSORÇÃO VENDIDO Fig.1 . Fluxo do custo fixo de produção de acordo com o método de custeio adotado. 3.TRIBUTAÇÃO INCIDENTE SOBRE O LUCRO LÍQUIDO De acordo com a legislação , a base de cálculo do imposto é o montante real, arbitrado ou presumido da renda ou dos proventos tributáveis. As duas últimas são pouco usadas e não tem a importância da primeira, que é chamada de apuração pelo chamado Lucro Real, onde se enquadra a maioria das grandes empresas do país. (RIR / 99). O chamado Lucro Real é aquele apurado levando-se em consideração o resultado contábil do período, ajustado pelas adições, exclusões e compensações, de acordo com a Lei e determinado pelo Regulamento do Imposto de Renda do exercício. Aplicam-se também a Contribuição Social os mesmos ajustes ao lucro líquido previstos para o Imposto de Renda. (RIR / 99). O Imposto de Renda devido corresponde à aplicação de uma alíquota de 15% sobre o lucro tributável, acrescido de 10% sobre a base anual que exceder a R$ 240.000,00. (RIR / 99). A Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, CSLL, que tem a sua base de cálculo apurada da mesma forma que o Imposto de Renda, tem a sua alíquota em 2003 fixada em 9%. (Lei nº 10.637/02, art. 37). 5 Baseado nos índices fornecidos pela legislação fiscal em vigor, podemos observar que a tributação incidente sobre o lucro de uma Indústria é considerávelmente alta, e por isto o método de custeio adotado, que tem implicação direta no lucro das empresas , é uma importante variável a ser administrada pelas políticas gerenciais adotadas. 4. POR QUE A OBRIGAÇÃO DE UTILIZAR O CUSTEIO POR ABSORÇÃO? Primeiramente , pelos aspectos legais, de acordo com a Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976 (Lei das S.A.’s), na parte que se refere a critérios de mensuração do Ativo, encontramos: Art. 183. No balanço os elementos do ativo serão avaliados segundo os seguintes critérios: II – os direitos que tiverem por objeto mercadorias e produtos do comércio da companhia, assim como matérias primas, produtos em fabricação e bens em almoxarifado, pelo custo de aquisição ou produção, deduzido de provisão para ajustá-lo ao valor de mercado, quando este for inferior; De acordo com a lei, há uma determinação para que se avalie pelo custo de aquisição ou de mercado, dos dois o menor. Quanto ao custo de produção, não há uma determinação explícita de como mensurá-lo, porem, na parte referente à Escrituração, encontramos o seguinte: Art. 177. A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes , com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta lei e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência. Assim, a lei determina a obediência aos princípios contábeis. Iudícibus comenta que pelo princípio de competência e da confrontação de receitas não é possível considerar no resultado do período, antes da realização da venda dos produtos, os custos fixos necessários à obtenção dos mesmos. Conforme o previsto pelos Princípios Contábeis, é necessário ativar estes custos nos estoques, e isto só é possível através do uso do Custeio por Absorção. (IUDÍCIBUS, 2000). Pelo aspecto Fiscal, que exerce grande influência na decisão das empresas quanto à elaboração dos demonstrativos, na legislação fiscal, mais especificamente no (RIR/99), a seguinte determinação é encontrada, quanto ao que deve fazer parte da composição dos custos de produção: Art. 290. O custo de produção dos bens ou serviços compreenderá, obrigatoriamente: I – o custo de aquisição de matéria-prima e quaisquer outros bens ou serviços aplicados ou consumidos na produção; 6 II – o custo do pessoal aplicado na produção, inclusive de supervisão direta, manutenção e guarda das instalações da produção; III – os custos de locação, manutenção e reparo e os encargos de depreciação dos bens aplicados na produção; IV – os encargos de amortização diretamente relacionados com a produção; V – os encargos de exaustão dos recursos naturais utilizados na produção. Desta maneira vemos que o Fisco entende que todos os custos, fixos e variáveis, devem integrar o custo de produção, e isto só é possível se fizermos o rateio dos custos, ou seja, devemos utilizar o Método de Custeio por Absorção. 5. EFEITOS GERADOS PELO CUSTEIO POR ABSORÇÃO Vamos procurar abordar neste tópico os respectivos efeitos gerados pelo custeio por Absorção, citados por pesquisadores e estudiosos do assunto, a fim de fazermos uma avaliação mais concreta dos mesmos. Martins, na obra citada, enumera três grandes problemas do Método de Custeio por Absorção. (MARTINS, 2000). Primeiro Martins enfatiza que, como os custos fixos existem independentemente do volume fabricado, dentro de certos limites, sendo muito mais um encargo para a indústria operar, do que sacrifício para se obter a unidade fabricada. Outra problema citado por ele é a já mencionada arbitrariedade quando se realizam os rateios dos custos fixos aos produtos, o que pode fazer com que, dependendo dos critérios usados, se transforme um produto em mais ou menos rentável, ou até mesmo transformar um produto que de uma maneira estaria dando lucro em um produto deficitário, ou vice-versa. A terceira crítica citada é o fato do custo fixo unitário acabar dependendo do volume de produção, o que pode até gerar um paradoxo, pois se eventualmente para melhorar a empresa decidirmos reduzir o volume de produção de um produto, devido ao mesmo não estar sendo lucrativo, a situação do produto deverá ficar pior, pois o produto ficará ainda mais caro para produzir, por unidade, o que pode acabar gerando um círculo vicioso. Outra grande distorção provocada por esta característica é que o custo de um produto acaba sendo dependente não só de si mesmo, mas principalmente da quantidade de outros produtos fabricados pela empresa, no período. Após demostrar que pode haver alguns pontos de equilíbrio com um demonstrativo de resultados elaborado de acordo com o Custeio por Absorção, Horngren afirma que este método pode ser utilizado para aumentar o lucro operacional, por meio do artifício de aumentar a produção e posterior estocagem, mesmo quando não houver demanda imediata para esta produção adicional, e que esta é a principal conseqüência negativa do tratamento do custo de fabricação indireto e fixo como custos do produto, observando ainda que essas conseqüências negativas poderiam ser realçadas pela utilização de 7 variáveis financeiras e não financeiras na avaliação do desempenho. (HORNGREN, 2000). No custeio Variável os custos fixos do período são imediatamente incorporados ao resultado, fazendo com isto diminuir o Lucro Líquido, tendo havido ou não a venda dos produtos da empresa. No Custeio por Absorção, por sua vez, os custos fixos não são incorporados diretamente para o período, mas sim rateados aos produtos, permanecendo em estoques e só vão para o resultado quando ocorrer a venda efetiva destes produtos. (LEONE, 2000). Portanto, se compararmos os dois métodos, à primeira vista pareceria que o custeio por absorção deveria resultar em um custo menor e consequentemente um receita maior, o que significaria um lucro tributável maior no período, e portanto um valor maior dos tributos a serem recolhidos pela indústria. Porém, isto já não resiste a uma análise mais detalhada, pois como no custeio por absorção o resultado não depende só das vendas, mas também do nível de produção, seanalisarmos veremos que se o nível do estoque aumenta durante um período contábil, o custeio por absorção apresentará um lucro maior que o custeio variável, uma vez que os custos fixos ficarão em estoque e consequentemente os custos das vendas será menor. Entretanto, se o nível de estoques diminuir no mesmo período, deverá ocorrer o contrário, ou seja, o lucro menor será obtido pelo custeio por absorção (fig. 2) (GARRISON , 2001). Dados Básicos Preço Venda por unid.................................................................................................... 25,00 Custo produção Variável / unid.................................................................................... 10,00 Custo Indireto fixo de produção/ano............................................................................. 300000,00 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Unidades no estoque inicial 0 0 10000 Unidades produzidas 40000 50000 30000 Unidades Vendidas 40000 40000 40000 Unidades no estoque final 0 10000 0 Custos Unitários dos Produtos Pelo Custeio Variável ( apenas custos de fabric. Variáveis) 10,00 10,00 10,00 Pelo Custeio por absorção Custos de fabricação variáveis 10,00 10,00 10,00 CIF de produção ( 300.000 / total de unid. Produzidas) 7,50 6,00 10,00 Custo total por unid. Segundo o Custeio por Absorção 17,50 16,00 20,00 Fig.2 . Sensibilidade dos Métodos de custeio às variações de Produção – Dados Hipotéticos. 8 Após analisarmos o comportamento dos custos fixos de produção da nossa indústria hipotética (fig. 2 ), fica evidenciado a sensibilidade do método de custeio por absorção às variações no nível de produção. Do ano 1 para o ano 2, houve um aumento da produção mantendo-se estável o volume das vendas, o que implicou numa redução do custo unitário do produto devido a um alargamento na base de rateio do custo fixo ( quantidade de unid. produzidas). Já no período subsequente, ano 2 para ano 3, nota-se que houve uma queda na produção gerando uma diminuição na base de rateio o que fez com que o custo unitário aumentasse considerávelmente, que é uma conseqüência natural, pois é praticamente incoerente para uma empresa aumentar indefinidamente seus estoques em relação ao período anterior. Garrison afirma que: “É impossível para qualquer empresa continuar indefinidamente reduzindo seus estoques em relação ao exercício anterior.”, logo perceberemos que a médio e longo prazos, as divisões de receita dos Fiscos não irão obter vantagens com a obrigação do uso do custeio por absorção pelas empresas. (GARRISON , 2001). Pelo que foi visto até este ponto, conclui-se que o Método de Custeio por Absorção torna-se obrigatório na elaboração dos demonstrativos financeiros, para fins fiscais. Com isto, Neves afirma que o Fisco esteja procurando de alguma maneira garantir que os impostos incidentes sobre o lucro sejam arrecadados em um intervalo de tempo mais breve possível, e que esta seja a causa de sua decisão de obrigar a adoção desse método de custeio. (NEVES, 2000). Será que isto ainda representa a verdade do mercado atual? No próximo tópico encontram-se algumas considerações que poderão auxiliar na resposta desta pergunta. 6. MERCADO ATUAL E SISTEMA JUST-IN-TIME “Os últimos anos foram de profundas mudanças na economia mundial, com fortes impactos na realidade brasileira, com a abertura de mercado promovida pelos últimos governos e a conseqüente competitividade resultante entre as empresas.” (GUERREIRO,2001). Segundo Guerreiro, as indústrias nacionais tiveram que se adaptar a estas mudanças, procurando meios para se manter no mercado. Com o mercado aberto, não são mais as empresas, de maneira geral, que impõe os preços, mas elas tem que aceitar o preço praticado no mercado e procurar ajustar suas margens a este preço. (GUERREIRO, 2001). Mas, se os preços não são uma variável fácil de se manipular, a única maneira de se conseguir margens é empurrando seus custos para baixo, com o mínimo de prejuízo na qualidade de seus produtos, para não sair perdendo em termos de competitividade. Isto obriga então indústrias a produzirem quase que exatamente o que é necessário no momento, ou seja, “ produzir o que vai se vender hoje”, o que fez nascer o novo conceito de produção Just-in-Time, que procuraremos fazer uma breve abordagem, para estudar suas características. 9 O termo Just-in-Time de produção, significa ter os estoques tendendo a zero, ou seja, só produzir o que vai se vender no momento. Apesar de parecer um conceito simples, ele envolve uma revolução nos conceitos de produção, desde a compra dos insumos, passando pela produção e estocagem, até a venda e entrega das mercadorias. (GARRISON , 2001). Segundo Horngren, just-in-time é um sistema no qual os materiais chegam exatamente à medida que são necessários. A demanda direciona a solicitação ou a produção de qualquer material, e a entrega imediata elimina o tempo de espera e a necessidade de estoques. O conceito envolve vários elementos, entre eles o de compras e produção just-in-time. (HORNGREN, 2000). Agora surge o questionamento: Com um sistema de produção tão moderno, que método de custeio utilizar? Como já foi abordado anteriormente, a manutenção dos estoques a níveis baixíssimos faz com que aquelas diferenças que antes haviam ao se mensurar o lucro do período, com o uso ou do custeio por absorção ou do custeio variável, agora fiquem reduzidas, e às vezes, até zeradas.( Ver fig. 2, Anexo ). Então, mesmo que se admitisse a existência de vantagens do Fisco com o custeio por absorção, agora com os estoques tendendo a zero, ele não teria mais nenhuma vantagem financeira. Além de estar penalizando as empresas, que se vêem na obrigação de manter dois sistemas em paralelo, um para atender a legislação fiscal e outro para atender as suas necessidades de informações úteis para fins de decisões gerenciais. De acordo com o ( RIR/99 ) ,o Imposto de Renda e a Contribuição Social são calculados sobre o lucro e devem ser recolhidos no prazo regulamentar pelas empresas. Mas se a empresa tiver registrado prejuízo fiscal em exercícios anteriores, ele pode ser usado para compensar esses prejuízos, obedecendo a algumas regras já definidas e regulamentadas pela legislação. E essa situação pode acarretar que, dependendo da situação da empresa, poderia ser mais interessante para ela, em determinado exercício, apresentar um lucro tributável maior ou menor, de acordo com sua conveniência de compensar prejuízo neste exercício ou aguardar para exercícios seguintes. Outra conseqüência que pode estar ocorrendo também, é o controle dos custos do exercício com o uso de artifícios visando alterar a divisão de dividendos, muitas vezes em prejuízo dos acionistas minoritários, que não tem controle sobre a empresa. (GARRISON , 2001). Baseado no que estudamos até o presente momento, qual método permite o controle sobre o lucro, utilizando-se da técnica de produzir mais ou menos do que se vai vender? Certamente só se é possível com a utilização do método de custeio por Absorção. E quando falamos de lucros ou prejuízos de grandes indústrias nacionais, isto significa cifras elevadíssimas, cuja manipulação pode alterar considerávelmente os níveis de arrecadação do Estado. E tudo isto, se realizado, é feito de maneira legal, sem a mínima oportunidade de contestação por parte dos prejudicados e das autoridades reguladoras, uma vez que não existe e nem poderia existir leis que proibissem as empresas de produzir mais ou menos do que vendem no exercício. 10 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo empírico realizadopossibilitou a verificação das hipóteses levantadas inicialmente sobre as quais constatamos que o método de custeio por absorção pode não estar mais atendendo ao governo a fim de determinar o verdadeiro lucro tributável do período, evidenciado que não é uma alternativa para forçar a antecipação de receitas de impostos, obrigando a ativação dos custos fixos para não abater no resultado do período, pois no médio e longo prazos as próprias empresas que não conseguiriam manipular estoques por vários períodos consecutivos, e já não atende os demais usuários das demonstrações que utilizam métodos de custeios paralelos, rateados sobre bases mais confiáveis, para tomada de decisões, o que gera um custo adicional à empresa. Através das simulações obtidas nas demonstrações contábeis da indústria hipotética, observamos claramente que quando os níveis de estoques estão muito baixos ou praticamente zerados, o saldo apurado no final do exercício pelos métodos de custeio variável e absorção não apresentou diferenças consideráveis que assegurassem tal exigência do método questionado. Para o Fisco, com a abertura da economia, a globalização e a modernização das empresas, o que antes poderia dar a ele uma pequena vantagem temporária em termos de antecipação de impostos, tende cada vez mais a não surtir efeito, pelo contrário, com a adesão cada vez maior pelas grandes empresas, e consequentemente, em mais ou menos tempo, pelas médias e pequenas empresas, do sistema just-in-time e da manutenção de estoques baixíssimos, a vantagem para o Estado não só esta deixando de existir, como passou, com a possibilidade de se usar o custeio por absorção, a ser uma arma usada contra o próprio Estado, devido a possibilidade que ele proporciona de controlar os níveis de estoque influenciando no valor do Lucro, e consequentemente dos tributos devidos pela indústria. Por que ainda em todo o mundo, continuamos a utilizar o “ Absorção Plena”? Para Iudícibus: “Vários pesquisadores já se questionaram e vários estudos já foram feitos com vistas a dar uma resposta conclusiva sobre esta questão, mas até hoje não há uma resposta definitiva para este questionamento’’. (IUDÍCIBUS, 2000). Hendriksen e Van Breda demostram em sua obra que a busca de princípios tem sido demorada e até mesmo inútil. Reconhecem que é frustrante para uma ciência que tem 500 anos e ainda não encontrou os seus princípios. A explicação que dão para este fenômeno é a complexidade da contabilidade, que gera divergências quanto a seus objetivos e a natureza do ambiente que se atua. (HENDRIKSEN , 1999). Minha opinião é convergente com a daqueles que antes defendiam tais conceitos, existe uma necessidade imediata de uma revisão no que diz respeito à exigência do método de custeio por absorção na apuração do lucro tributável pelo Fisco, buscando adaptar-se à nova realidade econômica e financeira mundial, visto que tanto o Governo quanto as empresas só tendem a ganhar com as novas mudanças. 11 8. BIBLIOGRAFIA (Lei das S/A’s) BRASIL, Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações. 6ª edição. São Paulo: Saraiva , 2001. (HENDRIKSEN, 1999) HENDRIKSEN, Eldon S. VAN BREDA, Michel F. Teoria da Contabilidade. 5ª ed. S. Paulo: Atlas, 1999. (MARTINS, 2000) MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. (HORNGREN, 2000) HORNGREN, Charles T. FOSTER, George. DATAR, Srikant M. Contabilidade de Custos. 9ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. (GARRISON, 2001) GARRISON, Ray H. NORREN, Eric H. Contabilidade Gerencial. 9ª ed. São Paulo: LPC, 2001 (IUDÍCIBUS, 2000) IUDÍCIBUS, Sérgio de . MARTINS, Eliseu. GELBCKE, Ernesto R. Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações. 5ª ed. São Paulo: Atlas , 2000. (LEONE, 2000) LEONE, George S. G. Custos: Planejamento, Implantação e Controle. 3ª ed. São Paulo: Atlas , 2000. (RIR / 99) RECEITA FEDERAL. Decreto nº 3.000/99. Regulamento do Imposto de Renda de 1999. Disponível em: < http:www.receita.fazenda.gov.br/legislação>
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