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Trabalho Penal competencia da JF

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Manual de Processo Penal 
Competência Criminal da Justiça Federal 
(continuação)
Por Renato Brasileiro de Lima
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4.4 Crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente (CF, Art. 109, inciso V)
Cabe a União representar o Estado brasileiro no âmbito internacional. Por conta disso, sempre que a União se compromete a reprimir determinado delito, passa a ter interesse direto em que tal crime seja reprimido quando ultrapasse as barreiras do território nacional.
Entende-se pela leitura do artigo 109, V, que não basta apenas que o delito esteja previsto em um tratado ou convenção internacional para ser de competência da Justiça Federal, sendo imprescindível que a execução do crime tenha início no Brasil e o resultado no estrangeiro, ou reciprocamente.
Exemplos: Tráfico de mulheres ou menores, guarda de moeda falsa.
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4.4.1 Tráfico Internacional de drogas
A convenção das Nações Unidas contra o tráfico ilícito de entorpecentes e substâncias psicotrópicas foi concluída em Viena em 20/12/1988, entrando em vigor internacional em 11/11/1990. O Brasil ratificou a convenção em 26/06/1991.
Tal crime previsto em tratado de convenção internacional deve ser processado e julgado pela Justiça Federal, a súmula 522 do STF diz: “Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, compete à justiça dos Estados o processo e julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.”
Especial atenção deve der dada ao caput do art. 70 da lei 11,343/06, segundo o qual o processo e julgamento dos crimes previstos nos artigos 33 e 37 da Lei de Drogas, se caracterizado ilícito transnacional, são de competência da justiça federal.
Segundo a lei de drogas, essa transnacionalidade deve ser compreendida como a violação à soberania de dois países, caracterizada pela circunstância de estender-se o fato, na sua prática, a mais de um país.
Acredita-se que a competência da justiça federal deva ser estabelecida pela CF e não pela lei de drogas, logo, para que o crime de tráfico de drogas seja processado julgado pela justiça federal, basta a satisfação de dois pressupostos constantes no art. 109, V, da CF: a) previsão criminal em tratado de convenção internacional; b) internacionalidade territorial do resultado relativamente à conduta delituosa.
O crime de tráfico internacional de drogas pressupõe a transferência de droga envolvendo mais de um país, dispensando, para sua caracterização a devida ocorrência do resultado. Portanto, responde pelo crime de tráfico internacional de drogas perante a justiça federal, o agente que, oriundo da Argentina, for flagrado no aeroporto do Galeão, durante procedimento de embarque em voo internacional para a Espanha, transportando cápsulas de cocaína em seu estômago.
A própria lei de drogas em seu art. 40 aponta circunstâncias indiciárias que devem ser observadas para a caracterização do ilícito transnacional, tais como a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato delituoso.
Para que se possa falar em tráfico internacional de drogas é indispensável que a droga apreendida no Brasil também seja ilícita no país de origem, do contrário teremos apenas um mero tráfico interno, que é de competência estadual.
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A – Desclassificação do tráfico internacional de drogas e perpetuação da competência
O que acontece se o juiz federal entende que a transnacionalidade do tráfico não está comprovada e que se trata apenas de tráfico interno de drogas, caso este de competência da Justiça Estadual?
Numa primeira corrente, é possível a aplicação da regra do art. 81 do CPP. Assim, mesmo o juiz federal entendendo que se trata de tráfico interno ele terá sua competência prorrogada, sendo inviável a alegação de nulidade absoluta do processo por violação do princípio do juiz natural.
Por outro ponto de vista, doutrinadores entendem que a partir do momento em que o juiz federal entende que não se trata mais de tráfico internacional, está se declarando absolutamente incompetente para apreciar o mérito da causa, não sendo possível a aplicação do art. 81 do CPP, pois se é crime de competência estadual, somente um juiz de direito poderá julgá-lo.
Todavia o entendimento do STF a respeito é que, embora a norma do art. 81 do CPP tenha como objeto privilegiar a celeridade, a economia e a efetividade processuais, a mesma não tem aptidão para modificar competência absoluta constitucionalmente estabelecida, como é a da Justiça Federal. 
Logo, se o juiz federal desclassifica o crime de tráfico internacional, que justifica sua competência, o mesmo deve determinar a remessa dos autos para a Justiça Estadual.
Já em caso de conexão de crimes, exemplo: tráfico internacional e roubo, caso haja absolvição do crime de tráfico a competência do juiz federal irá se prorrogar, em virtude da súmula 122 do STJ. Em síntese, ao afirmar sua competência julgando o crime de tráfico internacional de drogas, o juiz federal estende sua competência aos crimes conexos.
B – Delegação de competência federal
Com a entrada em vigor da nova Lei de Drogas no dia 8 de outubro de 2006 o disposto no art. 70 da lei 11,343/06 elucidou que os crimes praticados nos municípios que não sejam sede de vara federal serão processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva. 
Com este novo dispositivo surge a indagação acerca dos inquéritos e processos em curso perante varas estaduais quando da entrada em vigor da nova lei de drogas. Deveria estes permanecer nas varas estaduais ou serem remetidos à subseção judiciária federal competente?
Neste caso aplica-se a regra do art. 87 do CPC com fundamento no art. 3 do CPP, ou seja, a justiça estadual passa a ser absolutamente incompetente para julgar e processar os delitos de tráfico internacional de drogas, razão pela qual todos os processos em andamento devem ter sido remetidos a justiça federal respectiva, haja vista o princípio da aplicação imediata das normas genuinamente processuais previsto no art. 2 do CPP.
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4.4.2 Rol exemplificativo de crimes de competência da Justiça Federal com fundamento no artigo 109, V, da Constituição Federal.
A. Tráfico internacional de arma de fogo compete-se a Justiça Federal pois o Brasil é signatário da convenção interamericana contra a fabricação e o tráfico ilícitos de arma de fogo. Ainda, tal delito criminoso atende os requisitos necessários previstos no artigo 109 da CF em conjunto com o artigo 18 da lei 10.826/03 que tratam da internacionalidade do fato.
B. Tráfico Internacional de pessoas para fim de exploração sexual, crime previsto em tratado e convenção internacional, assim a justiça federal terá a competência para tratar e julgar esses casos visto a internacionalidade do fato.
C. Transferência ilegal de criança ou adolescente para o exterior será competente a justiça federal para tratar e julgar tão questão visto também a internacionalidade do fato. 
D. Pornografia infantil e pedofilia por meio da internet. Só será competente a justiça federal se preenchido os requisitos do artigo 109 da cf que trata-se da internacionalidade territorial do resultado em relação a conduta delituosa. Caso não seja preenchido esse requisito, será competente para julgar a Justiça Comum estadual.
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4.5 Incidente de Deslocamento de Competência para a Justiça Federal (CF, Art. 109, V-A, c/c Art. 109, §5º)
 
 
A Emenda Constitucional n 45/04 não fixou a competência exclusiva da Justiça Federal para o processo e julgamento de crimes contra os direitos humanos. Segundo este dispositivo, nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo.
União passou a ficar sujeita à responsabilização
internacional pelas violações de direitos humanos, sem que pudesse de instrumento jurídico idôneo ao cumprimento dos compromissos pactuados no âmbito internacional. É daí que surge a importância do inocente de deslocamento de competência previsto no art. 109, inciso V-A, e §5º. cuja finalidade precípua seria exatamente a de assegurar cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil sobre a matéria.
A criação desse incidente de deslocamento provocou e continua a provocar muita polêmica, dando ensejo, inclusive, à propositura de duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal contra a proposta pela associação dos magistrados brasileiros e a outra pela associação Nacional dos Magistrados Estaduais. Ambas, argumenta-se que os critérios são demasiadamente vagos para se definir o que seria uma grave violação de direitos humanos, do que decorreria violação ao princípio do juiz natural, em virtude de uma flexibilidade insustentável.
 
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Federação dos crimes contra os direitos humanos apresenta dois pressupostos:
A) Existência.
 
B) Demonstração concreta de risco de descumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil, resultante da inércia, negligencia, falta de vontade política ou de condição penal.
De acordo com o §5º do art. 109 da CF, a legitimidade para a propositura do inocente de deslocamento da competência é do Procurador-Geral da República, sendo a competência para apreciar e julgá-lo da 3º Sessão do Superior Tribunal de Justiça.
 
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 4.6 Crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira (CF, Art. 109, VI)
 
4.6.1. Crimes contra a organização do trabalho
 
De acordo com o art. 109, inciso VI, da CF, compete aos juízes federais processar e julgar os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira.
Em outras palavras, quando o art. 109, inciso VI, da CF, se refere a crimes contra a organização do trabalho, está a tratar dos que, típica e essencialmente, dizem respeito a relação de trabalho, e não aos que, eventualmente, possam ter relações circunstanciais com o trabalho, haja vista que apenas no primeiro caso se justifica a competência concernente ao trabalho. O sentido do retorno na Constituição diz respeito à proteção dos direitos e deveres dos trabalhadores em coletividade, com força de trabalho, não podendo ser confundido com aquele adotado pelo Código Penal que concebe um mero crime contra o patrimônio de um emprego como crime contra a organização do trabalho.
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Esse posicionamento foi modificado pelo Supremo Tribunal Federal, que passou a entender que quaisquer condutas que violem não só o sistema de órgão e instituição que preservam, coletivamente, os direitos e deveres dos trabalhadores, mas também o homem trabalhador, atingindo-o nas esferas em que a Constituição lhe confere proteção máxima, enquadram-se na categoria dos crimes contra a organização do trabalho, se praticado no contexto de relação de trabalho.
Porém condicionado a competência da Justiça Federal a hipótese do crime de redução à condição análoga à de escravo ser cometido em detrimento de um determinado grupo de trabalhadores, assim também tem se manifestado o Superior Tribunal de Justiça.
Destarte, quanto à competência criminal para processar e julgar crimes contra a organização do trabalho, este tem sido o entendimento jurisdicional:
A) Supressão de direitos trabalhistas individualmente considerados.
B) Aliciamento de trabalhadores de uma unidade da Federação para outra.
C) Falsidade ideológica praticada por advogados e supressão de direito individual dos trabalhadores.
D) Ações lesivas a direitos trabalhistas individuais, tal como atentado contra a liberdade de trabalho de uma funcionaria de estabelecimento comercial que, apos ter comunicado ao empregador seu estado de gravidez, teria sido submetida a cumprir seu horário de trabalho de forma constrangedora não configura crime contra a organização do trabalho susceptivo de fixar a competência da Justiça Federal.
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E) Supressão de direitos dos trabalhadores de uma mesma empresa.
F) Paralisação de trabalho, seguida de violência ou perturbação da ordem.
G) A fraude em homologação de rescisão contratual, por se caracterizar como lesão a direito individual e não como crime contra a organização do trabalho
H) Movimento paredista, articulado por sindicalista, com reação de segurança da empresa, não configura fato próprio da competência da Justiça Federal.
I) Interrupção de eleição para diretoria de sindicato.
J) A emenda Constitucional nº 45/2004 não atribuiu à Justiça do Trabalho competência para processar e julgar ações penais.
K) Lesão corporal decorrente de acidente de trabalho, por si só, não confere à Justiça Federal a competência para o processamento e julgamento de ação penal.
L) O crime de sabotagem industrial previsto no art. 202 do CP deve ser julgado pela justiça estadual se atingir apenas bens particulares sem repercussão no interesse da coletividade.
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4.6.2 Crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira.
 Estes crimes são de competência da Justiça Federal, sendo que o simples fato de se tratar de crime contra o sistema financeiro ou contra a ordem econômico-financeira não atrai a competência da Justiça Federal, devendo antes se verificar se assim dispõe a lei. Em caso de não dispor na lei a competência, automaticamente aceita-se a Justiça Estadual, salvo se houver lesão de bens, serviços ou interesse da União, suas empresas autárquicas ou empresas públicas. E necessária a análise das leis que dispõem sobre estes crimes, para o fim de saber se há ou não previsão legal quanto a competência da Justiça Federal. Com relação aos crimes contra a economia popular, diante do silêncio subentende-se que os crimes são de competência da Justiça Estadual. Quando a Lei dispõe sobre o Sistema Financeiro Nacional (Lei 7.492/86) prevalece o entendimento com relação a competência da Justiça Estatual, salvo dispositivo em contrário. 
Entretanto com relação a Lei que define os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, a competência é da Justiça Federal, sendo que há interesse da União na segurança e na confiabilidade do sistema financeiro nacional
Contra a pessoa física, se esta usava capital próprio para efetuar empréstimos a juros exorbitantes estará caracterizado o crime de usura sendo de competência da Justiça Estadual. 
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Por outro lado, compete a Justiça Federal processar e julgar a conduta daquele que, por meio de pessoa jurídica realize sem autorização legal, a capitação, intermediação, e recursos financeiros de terceiros. 
A Lei 8.137/90, que dispõe sobre crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo, silencia com relação a competência da Justiça Federal, diante disto para que os delitos ali previstos sejam processados e julgados pela Justiça Federal não o serão por se caracterizarem como crimes contra a ordem econômico-financeira referidos no art. 109, IV, CF, mas por outra razão. A competência da Justiça Federal só cabe se houver a supressão ou redução dos tributos federais. 
Com relação aos crimes de formação de cartel não há dispositivo expresso, indicando a competência da Justiça Federal, em regra e de competência já Justiça Estadual. 
O delito de venda de combustível adulterado, também não ha dispositivo que indique que a competência e da Justiça Federal. 
Quanto aos crimes de lavagem de capital, temos em regra que a competência e da Justiça Estadual, a própria lei de lavagem de capitais confirma tal competência, entretanto aponta os casos contrários, sendo: quando praticados contra o sistema financeiro, quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal.
O crime de lavagem de dinheiro não e, por si só, afeto a Justiça
Federal, se não sobressai a existência de infração penal antecedente de competência da Justiça Federal e se não se vislumbra, em princípio, qualquer lesão ao sistema financeiro nacional. 
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4.6.2.1 Varas especializadas para processar e julgar os crimes contra o sistema financeira nacional e os delitos de lavagem de capitas.
Por meio de uma pesquisa realizada em 2001 pelo centro de estudos judiciários, conseguiu-se apurar que o percentual de procedimentos que chegada ao judiciário federal ao delito de lavagem de dinheiro era insignificante, até setembro de 2001, apenas 260 inquéritos policiais tramitavam junto à polícia federal. Além de constatar que a maioria dos juízes não teriam tido oportunidade de desenvolver estudos formais sobre o referido delito.
Devido à necessidade de se otimizar a persecução penal em relação aos delitos de lavagem de capitais, diversas varas no âmbito da justiça federal foram especializadas no combate de crimes contra o sistema econômico-financeiro.
Foi editado pelo conselho da justiça federal a resolução número 314, em 12 de maio de 2003, segundo o qual os tribunais deveriam especializar, no prazo de 60 dias a contar da resolução, varas federais criminais com competência exclusiva ou concorrente ara processar e julgar crimes contra o sistema financeiro nacional e de lavagem ou ocultação de bem, direitos e valores.
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Com a especialização de varas federais para o processo de julgamento de crimes contra o sistema financeiro ou de lavagem de capitais pelos diversos tribunais regionais federais, surgiu intensa discussão nos tribunais quanto à (in)compatibilidade dessas varas especializadas com o princípio do juiz natural, bem como em torno da possibilidade de remessa dos processos em andamento a essas varas especializadas.
É verdade que o conselho da justiça federal, ao editar a resolução 314 exorbitou de sua competência ao definir atribuições de órgãos judiciais, na medida em que, de acordo com art. 105, parágrafo único, II da CF, ao conselho compete, tão somente, a supervisão administrativa e orçamentária da justiça federal de primeiro e segundo grau. No entanto, apesar da inconstitucionalidade da resolução, tal vício não tem o condão de macular as resoluções e provimentos expedidos pelos tribunais regionais federais, que encontram seu fundamento de validade no art. 12 da lei 5.010/66. Não se pode, pois, querer tachar tais provimentos de inconstitucionais ou ilegais, estando preservado o princípio do juiz natural, na medida em que há uma regra pré estabelecida para se determinar o juízo competente.
Quanto aos inquéritos e processos que já estavam em andamento quando da especialização das varas federais, acabou prevalecendo nos tribunais o entendimento segundo o qual seria possível a aplicação subsidiária da regra do art. 87 da CPC. Com a criação de vara especializada no combate à lavagem de capitais na seção subsidiaria, se o provimento nada dispuser em sentido contrário, à vara especializada deverão ser redistribuídos todos os processos em curso, tornando-se o juíz da vara federal diversa absolutamente incompetente para processar e julgar os delitos em questão pois a competência da vara especializada foi fixa em razão da matéria, portanto, de caráter absoluto.
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4.7 Habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição (CF, art. 109, VII) 
Na medida em que o art. 109, VII, da constituição federal, ressalva da competência dos juízes federais os atos que estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição, é importante não perder de vista o art. 108, I, a e d, da CF, segundo o qual compete aos tribunais regionais federais processar e julgar os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da justiça militar e da justiça do trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do ministério público da união ressalvada a competência da justiça eleitoral, bem como os habeas corpus quando a autoridade coatora for juiz natural. Se tratando da competência para o julgamento de habeas corpus na justiça federal o dispositivo do art. 109, inciso VII da CF deve ser lido conjunto com as alíneas a e d inciso I do art. 108. Caso o delegado da polícia federal tenha instaurado um inquérito policial a partir de uma requisição de procurador da república, tem-se que a autoridade coatora, para fins de impetração de habeas corpus será o órgão do parquet federal. O julgamento de habeas corpus contra o membro do ministério público, tem prevalecido que o entendimento de que o habeas corpus deve ser processado e julgado pelo tribunal no qual o membro do MP tem foro prerrogativa de função. Quanto ao processo e julgamento de Habeas corpus contra ao de promotor de justiça do MPDFT ou de órgão do MP militar perante o respectivo tribunal regional federal pensamos que a questão deve ser analisada caso a caso.
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4.8 Mandados de segurança contra ato de autoridade federal, excetuados aos casos de competência dos Tribunais Federais (CF, Art.109, VIII)
Em se tratando de mandado de segurança contra ato de juiz federal ou do próprio Tribunal, ao Tribunal Regional Federal caberá ao seu processo e julgamento. A contrário sensu, cuidando-se de autoridade federal que não esteja sujeita diretamente á jurisdição do Tribunal Regional Federal, recairá sobre os juízes federais a competência para o processo e julgamento do mandado de segurança. Segundo o art. 5, LXIX, da Carta Magna, no mandado de segurança somente é cabível sua impetração quando o direito não for amparado por habeas corpus ou habeas data. Logo, no âmbito criminal o habeas corpus prevalece sobre o mando de segurança, quando houver constrangimento a liberdade de locomoção, exemplos: 1- para o advogado ter vista dos autos de inquérito policial, que lhe é negada por um delegado federal; 2- para o advogado acompanhar seu cliente em diligência em inquérito policial em curso perante a Polícia Federal; 3- para obter restituição de coisas apreendidas pela autoridade.
O mandado de segurança está regulamentado na Lei nº12.016 de 7 de agosto de 2009.
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4.9 Crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar (CF, Art. 109, inciso IX)
Segundo a Constituição Federal, art. 109, inciso IX, compete a juízes federais processar e julgar crimes cometidos em navios (sendo excluídos, embarcações de pequeno porte ou pequeno calado, lanchas de recreio, bote com motor, jet-skis, etc. Sendo este competência da Justiça Estadual) e aeronave, com ressalva algumas a competência da justiça militar.
No caso para seguir o Art. 109 da Constituição Federal, não é somente necessário que o crime seja cometido a bordo da embarcação, mais quando houver em situação de deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento, ou seja se um passageiro venha a se acidentar ao tentar embarcar e não houver o implemento do potencial de deslocamento internacional, a competência é da justiça Estadual.
Em relação a aeronaves, não importa se encontra-se no ar ou em terra, comprovando que a prática criminosa ocorreu no interior da aeronave a competência será sempre da Justiça Federal, mesmo quando for delito de tráfico de drogas. Exemplo, se um agende é preso em flagrante no saguão do aeroporto, trata-se de crime doméstico, a ser julgado pela Justiça Estadual, não importando se está naquele aeroporto para uma conexão, e já ter sido transportado anteriormente até ali.
Se o crime ocorrido a bordo de navios ou aeronaves, for miliar será de competência da Justiça Militar, devido a ressalva no art. 109, inciso IX da Constituição Federal.815/80
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4.10 Crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiros (CF, Art 109, X)
Segundo o inciso X, do art. 109 da CF, compete aos juízes federais o processo e julgamento de qualquer crime referente ao ingresso e permanecia irregular, cometido pelo
estrangeiro com o intuito de regularizar o seu ingresso e permanecia no Brasil.
O ingresso irregular e demorar-se após esgotado o prazo legal de estada no território nacional configura mera infração administrativa, punida com deportação, disposta no art. 125, inciso I, da Lei nº 6.815/80.
O Estatuto do Estrangeiro também prevê infrações penais relativas ao ingresso ou permanência irregular do estrangeiro no território nacional, as quais deverão ser processadas e julgadas pela Justiça Federal.
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4.11. Disputa sobre direitos indígenas (CF, Art. 109, XI)
Nos termos exatos do art. 3º da Lei nº 6.001/73, Índio ou Silvícolas é todo individuo de origem ascendência pré-colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distinguem da sociedade nacional, e comunidade indígena ou grupo tribal é um conjunto de famílias ou comunidades índias quer vivendo em estado de completo isolamento em relação aos outros setores da comunhão nacional, quer em contatos intermitentes ou permanentes, sem, contudo estarem neles integrados.
Acerca da competência criminal, configura-se a jurisprudência no sentido de que crimes cometidos por ou contra índios são, em regra, da competência da Justiça Estadual, salvo se o delito envolver disputa sobre direitos indígenas. Neste sentido dispõe-se a sumula 140 do STJ que julga proceder e julgar crimes em que indígena figure como autor ou vítima. 
Portanto, se um crime de homicídio for cometido por um índio, motivado por desentendimento momentâneo, não guardando qualquer pertinência com direitos indígenas, será de todo irrelevante o fato de o delito ter ocorrido no interior de reserva indígena, a competência será da Justiça Estadual. 
Neste casos acima mencionado não se pode querer atribuir a competência à Justiça Federal pelo simples fato de recair sobre o FUNAI a tutela sobre os índios, nem tampouco pelo fato do art. 37 da LC 75/93, atribuir ao MPF a defesa de direitos e interesses dos índios e das populações indígenas, nem tão pouco pelo fato de caber à FUNAI a tutela sobre os índios. Caso houver algum delito cometido por ou contra índio cabe à Justiça Federal cuidar destes casos. 
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Em relação aos crimes cometidos em detrimento de terra indígenas, não há como se afastar a competência da Justiça Federal. Uma porque são bens da União as terras tradicionalmente pelos índios. Segundo porque tão delito envolve direitos indígenas, haja vista os direitos originários dos índios sobre as terras e tradicionalmente ocupam.
Deixe-se claro, mais uma vez, que não é a pessoa do índio que atrai essa competência, mas a existência de lide em razão dos direitos indígenas que são aqueles constantes do art. 231 da Constituição e os que lhes são reconhecidos por força de normas internacionais. Dessa forma, o norte exegético para a fixação da competência criminal é o motivo que ensejou a prática delituosa, de modo que merece crítica à redação da Súmula nº 140 do Superior Tribunal de Justiça, a qual, a despeito de ter sido editada na vigência da Constituição de 1988, olvidou-se da necessidade de registrar a disputa sobre direitos indígenas como exceção a sua aplicação, merecendo cancelamento ou nova redação, a fim de contemplar a previsão constitucional.  
Compete a União, através da FUNAI, dentre outras, prestar assistência às índios ainda não integrados à comunhão nacional (art. 2 Lei 6001/73, garantindo a ele a igualdade de armas na disputa travada no processo penal. A sua intervenção, portanto, só se justifica quando o índio necessitar da tutela, e isso se dá apenas quando não totalmente integrado. 
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4.11.1. Genocídio contra índios 
Este crime está previsto na Lei 2.889/56. 
Nota-se que o bem jurídico tutelado pelo genocídio é a existência de grupo nacional étnico, racional ou religioso. Não se trata, pois de crime doloso contra a vida. Conclui-se que referido delito pode ser praticado por meio de homicídios, lesões corporais, maus tratos, esterilização forçada, aborto e sequestro ou cárcere privado. 
Este delito está previsto em tratado ou conversão internacional, o decreto n 30.822, de 06 de Maio de 1952, promulgou essa convenção para prevenção e a repressão do crime de genocídio, concluída em Paris, em 11 de Dezembro de 1948, por ocasião da lll Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.  No art. 109, inciso V, da CF fala que independe deste delito estar previsto em tratado ou convenção internacional assinada pelo Brasil não enseja, por si só, a competência da Justiça Federal. O delito de genocídio pelo menos em regra não preenche esse segundo pressuposto, portanto ele é de competência da Justiça Estadual. 
Esse delito de genocídio contra índios pode ser praticado mediante morte de membros do grupo. Se o agente resolver matar vários índios, em circunstância semelhantes de tempo e de lugar, e com o membro modus operandi, deverá responder pelos diversos homicídios e pelo crime de genocídio, em concurso formal impróprio, não sendo possível a aplicação do princípio da consunção. 
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4.12. Conexão entre crimes de competência da Justiça Federal e da Justiça Estadual. 
Entre essas duas conexões, prevalece a competência da Justiça Federal, porque a competência da Justiça Federal vem prevista na própria CF, impedindo que seja afastada em prol da Justiça Estadual por força de uma regra prevista na lei processual penal (Sumula 122 do STJ). 
Em outro caso concreto referente à acusado de crimes de pedofilia e pornografia infantil de caráter transnacional (competência da Justiça Federal nos termos no art. 109, V da CF) praticados em conexão com estupro e atentado violento ao pudor cometidos contra menores no Brasil, conclui a turma do STJ que todas as infrações penais deveriam ser julgadas pela Justiça Federal, haja vista a conexão probatória entre elas. 
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5. Competência Criminal da Justiça Estadual
 A competência da Justiça Estadual é qualificada de forma subsidiária, ou seja, as infrações penais que não pertençam à esfera da Justiça Militar, Justiça Eleitoral ou da Justiça Federal, será de competência da Justiça Estadual. 
Exemplificando, um crime de roubo cometido no centro da cidade de São Paulo, será julgado em uma das Varas Criminais da Comarca de São Paulo, tendo em vista que o delito não é da competência das demais Justiças, tampouco do Tribunal do Júri e considerando que o autor do fato não seja titular de foro por uma prerrogativa de função.
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6. Justiça Política ou Extraordinária
 
Corresponde à atividade jurisdicional exercida por órgãos políticos, alheios ao Poder Judiciário, apresentando como objetivo precípuo o afastamento do agente público que comete crimes de responsabilidade de suas funções.
Conquanto a Constituição Federal e a legislação ordinária (Lei n° 1.079/50 e Decreto-lei n° 201/67) se refiram à prática de crimes de responsabilidade, atribuindo ao Senado Federal, ao Tribunal Especial e à Câmara Municipal o exercício dessa atividade jurisdicional atípica, tecnicamente não há falar em crime, mas sim no julgamento de uma infração político-administrativa. 
Vale diferenciar que os crimes de responsabilidade em sentido amplo são aqueles cuja qualidade de funcionário público do agente funciona como elementar do delito, e estão inseridos na parte denominada de crimes comuns ou infrações penais comuns. Já os crimes de responsabilidade em sentido estrito são aqueles que somente determinados agentes políticos podem praticar e, não tem natureza jurídica de infração penal, mas de político-administrativa, elencados pela Lei n° 1.070/50.

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