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A RELAÇÃO DA DIVERSIDADE LINGUÍSTICA DO PORTUGUÊS E A CONCEPÇÃO DA GRAMÁTICA TRADICIONAL A comunicação sempre esteve presente na nossa história, ela é muito mais do que uma evolução dos nossos antepassados, é uma necessidade do ser humano. Desde o nosso nascimento, nós, seres humanos, estamos propícios a se comunicar um com o outro, a comunicação é uma habilidade natural nossa; dentre as diversas formas de comunicação, a mais utilizada é a linguagem verbal, que com o passar dos anos foi aprimorada; a mesma sociedade que utiliza a língua a modifica. A língua, em suas diversas nacionalidades é plana, de modo que ela é contemporânea no amanhã; ela se comporta em ações paradigmáticas e sintagmáticas, ou seja, na qual se definem, respectivamente, as relações de seleção e as relações de combinações entre os elementos linguístico; a língua é por si social, ou seja, falamos de acordo com o ambiente que vivemos. “Assim como o sistema linguístico, a norma culta não é homogênea, mas também está sujeita a variações e mudanças” (BAGNO, 2002). Com o passar dos anos, a gramática tradicional sofreu mudanças desde 1536, data em que foi criada a 1º gramática do português. Tais mudanças ocorreram para simplificar ou se adequar aos falares que de tanto persistir no vocabulário principalmente de nós brasileiros, acabou se tornando parte da gramática. Conforme se lê na citação de Mia Couto, entende-se que a língua portuguesa é rica e de certa forma ‘aceita’ constantes mudanças nas regras da gramática tradicional, influenciando e sendo influenciada por questões culturais, históricas e sociais: A língua portuguesa é uma das línguas europeias com maior vivacidade, com maior dinamismo, não por causa de uma essência especial do português, mas por causa de uma razão histórica que aconteceu no Brasil, em que Portugal deu origem muito maior do que o próprio pai. A língua passou a ser digerida por outros mecanismos de cultura. Depois aconteceram os países africanos que introduziram na língua portuguesa alguns fatores de mudanças, coloração, que tornam o português uma língua que aceita muito, que é capaz de introduzir tonalidades e variações que enriquecem muito a língua portuguesa, não só do ponto de vista linguístico, mas o quanto ela pode traduzir culturas. Foi notável num processo histórico que está para além da língua, como é que estas culturas se mestiçaram, e a certa altura, o português perdeu o dono, ficou sem dono, felizmente, e namorou, e namorou no chão, e namorou na poeira do Brasil, namorou aqui também na poeira de Moçambique. [...] A linguagem passou com certeza, de um estado rudimentar e pouco a pouco foi se tornando mais complexa. (Língua – vidas em português, 2002) Sabe-se que a gramática tradicional com todas as suas normas e desinências busca, unificar os falares e a escrita com o intuito de padronizar uma língua, seja nos falares ou escrita. Denominam-se esses meios de norma culta. Os estudos linguísticos mostraram que uma língua histórica como o português é um somatório de variedades temporais, a língua de Cabral não é a língua de Machado de Assis, a língua de Assis não é a nossa língua; há então uma variedade no espaço, a língua de Portugal não é a língua do Brasil, como a do Brasil não é a mesma de Moçambique; essa variação é uma consequência da globalização. A língua é rica em variantes, é rica em padrões especiais que são regionais. O que nos dá grandeza como falantes do português é exatamente essa multiplicidade de vozes que cada um de nós tem dentro si, e que todos nós temos o direito de si, e o conjunto de todos nós, constrói uma linguagem única e plural, porém diversificada A língua portuguesa está longe de ser uma monolíngue1, pois é rica em diversos falares, um exemplo seria a nossa Língua Portuguesa, que é falada não só no Brasil, mas em outras partes do mundo, como Moçambique, Portugal, Índia, Japão; e dentre esses diferentes países, há diversas formas, por exemplo, de se pronunciar uma mesma palavra, com diferentes sons. Com o surgimento da internet, a língua passou por uma grande transformação, uma onda de novas palavras que designa palavras já existentes, como por exemplo: deletar > excluir > apagar. Há também uma variedades de estado para estado, de cidade para cidade, onde os fatores que impulsionaram o surgimento da variação podem estar relacionados à classe social, sexo, idade, grau de escolaridade, e profissão do indivíduo; são exemplos típicos de variação social: a vocalização2 do -lh- > -i- como em mulher/muié; a rotacização3 do -l- > -r- em encontros consonantais como em blusa/brusa, Flávio/Frávio; a assimilação4 do –nd- > -n> como em cantando/cantano; a concordância nominal e verbal como em: os meninos saíram cedo/os menino saiu cedo; a junção de artigos no plural com as palavras que antecedem, a queda do /r/ pós- vocálico: as meninas/arminina, observa-se também que em palavras terminadas em |r|, em algumas partes do Brasil e em outros países onde há a utilização do português, o r tem o som mais evidente e rústico, arrastando-o quase que sempre no final das palavras. A gramática é tida como um repositório de regras de escrever bem e falar, organizadas de forma compartimentada em níveis estanques: fonológico, morfológico, sintático e semântico (UFSC, 2009). Quais quer atividades em um ambiente formal, costumam ser basicamente classificatórias, desvinculadas do uso real da língua, regidas pelas noções do que a gramática diz ser “certo” e “errado”, em que certo é o que está de acordo com as regras de tais gramáticas, e tudo que está fora dessas regras é rotulada como erro. Nesses casos há um grande preconceito linguístico por parte da sociedade, ou melhor, de nós, quando ouvimos alguém falar gramaticalmente errado, nossa primeira reação é corrigir tal “erro”. Cabe acentuar, que variações e mudanças na fala prenunciam variações e mudanças que podem vir a se fixar também na escrita, como ocorre nos chamados vícios da escrita 5, que é observado constantemente na internet. Observando pelo lado gramatical, tais vícios, vão de encontro ao que é tido como regra; como sabemos - a língua portuguesa é rica em diversos falares -, entretanto, falar gramaticalmente errado não é um erro de português e sim uma diversidade da língua “quando se fala em Língua Portuguesa está se falando de uma unidade que se constitui de muitas variedades” (BRASIL, 1998a, p. 29). É importante lembrar que a escola tem o dever de lecionar a norma culta padrão ao aluno, porque é nessa variedade que foi escrita a maior parte dos textos que circulam na sociedade e é essa variedade que o aluno precisa dominar para ser reconhecido socialmente como um bom falante da língua. Nesse caso, é indiscutível ir de encontro com a ideia de que a escola deve ensinar a gramática tradicional; mas se deve ensinar posteriormente que apesar de haver regras gramaticais há uma vasta diversidade nos falares, e que essa diversidade não é um erro. A língua é um fator social, e por isso nela ocorre constantes mudanças, a variação de uma mesma língua como o por exemplo o português, é consequência da globalização. A gramática tem como função ditar regras para o escrever e o falar, cabe do falante utiliza-la. Muitas vezes o que é 1 Monolíngue (adj.): Relativo ao indivíduo ou comunidade que utiliza apenas uma língua 2 Vocalização (s.f) ato ou efeito de vocalizar (conj.); falar sem articular palavras, modulando a voz sobre uma vogal. 3 Rotacização (s.f) 4 Assimilação (s.f) ação de assimilar (conj.); transmissão de um ou vários movimentos articulatórios de um fonema vizinho, ou próximo. 5 Vícios da escrita ou vícios de linguagemsão palavras ou construções que vão de encontro às normas gramaticais; costumam ocorrer por descuido, ou ainda por desconhecimento das regras por parte do emissor. tachado de “erro” nem sempre de fato está errado, pois há indícios de que se um determinado falante fala “errado”, ele não necessariamente escreve errado, ou não tenha conhecimento da gramática, apenas usa uma diversidade da língua que não é a norma culta. E essa norma culta que é a gramática serve de base para qualquer falante se comunicar na sua língua de origem. REFERÊNCIAS BAGNO, M. (org.). Linguística da norma. São Paulo: Loyola, 2002. ______. Preconceito linguístico. 49° edição. São Paulo: Loyola, 2007, p.13-72 BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Língua Portuguesa. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998a. ______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais ensino médio: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998b. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio século XXI escolar: o minidicionário da língua portuguesa. 4 º edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. GORSKIL, E; LEHMKUHL, I. Variação linguística e ensino da gramática. Florianópolis, jan. jun., 2009 Língua – vidas em português. Costa do castelo filmes. Co produção Brasil e Portugal. Ministério da cultura do Brasil, 2002. Documentário (05:08 min.), sonoro, colorido, legendado em português. MONTEIRO, J. Erro gramatical ou preconceito linguístico? Revista do GELNE, vol. 1, nº 2, p. 32- 33, Universidade federal do Ceará, 1999. Português – A língua do Brasil. Movi&Art. Nelson Pereira dos Santos. Produção Paulo Dantas. Ministério da cultura do Brasil, 2007. Documentário (135 min), sonoro, colorido, dublado em português. PROCÓPIO, E. Diversidade linguística. Leitura produção de textos 05-04 de maio de 2016, notas de aula
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