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III Semana Acadêmica UFS - MECANISMOS HÍBRIDOS DE SEGURANÇA NA AMÉRICA LATINA: BALANÇA DE PODER E COMUNIDADE DE SEGURANÇA"

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
III SEMANA ACADÊMICO-CULTURAL DA UFS - SEMAC.
RELATÓRIO 
 “MECANISMOS HÍBRIDOS DE SEGURANÇA NA AMÉRICA LATINA: BALANÇA DE PODER E COMUNIDADE DE SEGURANÇA" 
RAISSA AMATORI
Palestra: "Mecanismos híbridos de segurança na América Latina: Balança de poder e comunidade de segurança"
Palestrante: Rafael Duarte Villa - Universidade de São Paulo
 
O professor Rafael Duarte Villa, convidado pela professora Érica Cristina Alexandre Winand, explica seu interesse pela segurança internacional na América Latina. Na sua pesquisa sobre esse assunto verifica uma tendência a classificar os estudos de hoje em dia dentro da noção de “balanço de poder” e de “comunidade de segurança”. A balança de poder é um concerto constituído por uma distribuição equilibrada do poder entre os principais estados do sistema internacional. Segundo o professor Villa o mundo católico internacional adquire um diferencial de poder muito grande e é exatamente em função deste poder que são estabelecidas as alianças. Tais alianças garantiriam a paz e evitariam, portanto, a guerra (ou pelo menos proporcionariam longos períodos de estabilidade). 
Alguns autores sustentam que a América Latina pode ser entendida como um mecanismo de balanço de poder. Todavia, outra perspectiva é o estudo moldado na base da segurança internacional, sendo ela o ápice do desenvolvimento de sua comunidade política. O conceito de comunidade de segurança foi elaborado por um cientista norte americano de origem alemã chamado Kardos Klotzel. Até a primeira guerra mundial a guerra era um fenômeno predominante e evidente. Portanto, a pergunta essencial neste contexto era; Porque existiam tantos conflitos internacionais e porque eles eram tão comuns? Todavia, com a formação do atlântico norte e da Otan, Kardos começou a observar uma tendência; a diminuição da guerra entre os estados, com um particular enfoque no fim das rivalidades históricas, como entre a Alemanha e a França por exemplo. Kardos formula uma reversão da pergunta original. Ele não se perguntava porque as guerras fossem tão comuns, mas porque estivessem acontecendo com menos frequência. Onde estaria a causalidade que explicaria tal fenômeno? Segundo Kardos a explicação de tal fenômeno estaria na formação de uma ideia de comunidade, no compartilhamento de certos valores os quais estabeleceriam uma comunidade. Inevitavelmente, esta ideia de comunidade de valores estabelece um limite para a Guerra. Um exemplo interessante feito pelo professor Villa é o representado pela UFS, a qual constituiria uma comunidade universitária cuja centralidade seria exatamente a educação e sua ciência para a formação dos cidadãos.
O Estado é unidade política no sistema internacional, mas também constitui uma comunidade política não necessariamente restrita à ideia de nação dentro das fronteiras estatais. Portando, Kardos afirma que a comunidade de segurança é uma região transacional na qual as sociedades e seus conflitos seriam respeitados e na qual o principio de não intervenção reinaria soberano enquanto se formaria a ideia de existe um limite para a violência. É partir desse conceito de comunidade que pode ser compreendida a questão da segurança na America latina. Nesse sentido o mundo se dividiria entre aqueles que sustem que a segurança na America latina pode ser compreendida como “balanço de poder” ou como “comunidade de segurança”. O Cone Sul, por exemplo, constituiria uma comunidade de segurança como também os países da Nafta; EUA, Canadá e México. O que fica claro, no final da analise feita pelo professor, é que não existe um modelo de segurança excludente ou hegemônico no caso da America Latina. Não é presente um balanço de poder na comunidade de segurança latino americana e é em função desta afirmação que nasce a noção de Overlap (sobreposição de modelos) tendo ela 3 camadas/níveis.
Primeiro nível; o discurso e as praticas da comunidade de segurança. 
O dilema entre guerra e paz sempre esteve presente no convívio entre sociedades e entre indivíduos. Isoladas ou agrupadas, as pessoas têm interesses, e esse fato é tão natural quanto a existência de divergências. Todavia, conflitos de interesse não geram necessariamente violência entre pessoas ou guerras entre Estados. Não é idealista conceber a possibilidade de que um conjunto de Estados renuncie ao uso da violência entre si. Há grupos de Estados que não cogitam usar a violência entre si para resolverem suas controvérsias, fenômeno cujos estudos orientam-se pela teoria de comunidades de segurança.
Por princípio, uma comunidade de segurança não depende de mecanismos fortes – como um exército supranacional – para garantir o cumprimento de normas comunitárias, pois o respeito derivaria da própria identidade de atores. Expectativas confiáveis de mudança pacífica associam-se a uma estrutura de governança. Como resultado, a comunidade vive em uma paz estável proporcionada pelos Building Confidences Measures (mecanismo de confiança múltipla), ajudando na construção de uma imagem favorável geopoliticamente. Um exemplo é o representado pelo Chile e a Argentina ou ainda pela Argentina e o Brasil. Tais fenômenos levam inevitavelmente à criação dos livros brancos que nada mais são do que mecanismos de transparência; instrumentos de aproximação de sociedades. Enfim operações como o Peacekeeping Operations auxiliaram na redução das desconfianças geopolíticas.
Segundo nível; a formação de conflito e a paz militarizada.
A convivência intensa em um mesmo território entre cidadãos que gozam de igualdade jurídica geraria um sentimento comunitário baseado em ligações por identificação e sentimentos comuns. Segundo o professor Villa, canais de comunicação social são capazes de “fabricar” nacionalidades, já que nacionalidades transformam-se em nações quando adquirem poder suficiente para dar suporte às suas aspirações. Nesse processo, a consciência nacional adiciona um nome, uma bandeira, uma história e outros símbolos que distinguem uma nação. Um povo é um grande número de pessoas ligadas por uma cultura comum. A nacionalidade corresponde à pressão do povo para fortalecer-se e, assim, poder controlar seus costumes e impor sua cultura comum. “Nacionalidades tornam-se nações quando adquirem poder para respaldar suas aspirações”. Neste sentindo existe uma socialização de valores, um comportamento de comunidade e de segurança, mesmo sendo um movimento de integração que age como poderoso fator para a America Latina ele não inclui uma paz violenta ou militarizada.
O conceito de segurança tradicional menospreza ameaças não convencionais, enquanto o conceito de segurança humana as considera. As não convencionais e a reação de Estados podem levar à cooperação ou à rivalidade. A cooperação implicaria diálogo institucionalizado, definição comum de ameaças e outros fatores de desenvolvimento de comunidades de segurança. Rivalidades podem surgir entre Estados que discordam sobre a definição de segurança. Por exemplo, a Colômbia, que sofre ameaças não convencionais e adota o conceito de segurança humana, tende a desconfiar da Venezuela, que prioriza ameaças e conflitos tradicionais. 
É algo muito nacionalista pensar as identidades americanas como fenômeno formado nas fronteiras. A fronteira continua um fator importante para a formação da sociedade. É esse o caso dos relacionamentos entre Venezuela e Colômbia apresentam características muito próprias e pouco usuais entre os países da região, devido à grande diversidade de fatores que as mesmas envolvem, e por constituir sua fronteira uma das mais extensas e ativas do hemisfério, caracterizada pelo contrabando ou comércio ilegal e pela presença de doenças de alto risco que costumam se propagar a ambos lados das linhas limítrofes. Nos últimos anos, os relacionamentos entre Venezuela e Colômbia viram-se seriamente perturbadas pela agressão violentade grupos armados que operam impunemente no lado Colombiano da fronteira com Venezuela. Portanto, diante das evidencias, não seria absurdo pensar em uma guerra entre Estados Unidos e Canadá; Estados Unidos e Reino Unido; Suécia e Noruega; ou França e Bélgica. O professor Villa conclui que a integração seria a solução mais efetiva para eliminar possibilidades de guerra em uma região, afirmando que vários autores têm estudado a formação de comunidades de segurança em diversas partes do mundo.
Terceiro nível; Block Spots/broken window ou áreas não governadas.
Nos Estados falidos, há áreas que não são controladas pelo poder formal estatal. Nessas, vigora geralmente a autoridade não democrática de certos grupos, podendo eles ser de natureza criminosa – caso de grupos terroristas. Desse modo, apesar da falta de controle governamental, há de fato uma governança estabelecida nesses territórios. Tal governança é a dos Black Spots (buracos-negros), áreas localizadas dentro de um Estado, sobre as quais o governo formal não exerce governança alguma. O tipo de ordem vigente nesses territórios é, quase sempre, desconhecido tanto por parte das autoridades governamentais como pela comunidade internacional. Desse modo, as agências de segurança nacionais têm pouca supervisão sobre os Black Spots, que se tornam terrenos propícios para que grupos terroristas e criminosos desenvolvam livremente suas atividades ilícitas e proporcionando a criação do Broken Window (janela quebrada), um modelo norte-americano de política de segurança pública no combate ao crime, tendo como visão fundamental a desordem como fator de elevação dos índices da criminalidade.
O México é um exemplo de país que possui Black Spots, já que há regiões em que o poder do Estado não vigora e onde grupos de narcotraficantes impõem suas próprias normas de convivência. Um famoso autor e analista argentino chama estas áreas de “áreas obscuras da sociedade das Américas. O impacto da violência social é evidente se pensarmos que das 50 cidades mais violentas do mundo 43 estão na America Latina, fazendo da nossa região a mais violenta do mundo. O professor realiza uma analise levando em consideração o fato das guerras entre Estados serem mais raras e a violência estar se manifestando com mais força em áreas em que falha a governança estatal; caso dos Black Spots. Nesse sentido é necessário que as teorias de Relações Internacionais enxerguem outros atores, além dos Estados, na questão da segurança coletiva.
Como explicar esta ambivalência?
O que se deseja ressaltar é que, com a diminuição dos conflitos interestatais, alguns grupos não governamentais, localizados em territórios cuja governança estatal falha, passam a ser os novos inimigos principalmente das grandes potências mundiais, que os veem como ameaças à segurança internacional. Hoje um dia há uma tendência de relativa paz entre estados. Essa tendência está presente há muitos séculos, todavia isso não significa necessariamente a inexistência de tensões militarizadas. Calcula-se que entre 2005 e 2011 foram realizadas acerca de 17 tensões militarizadas só na America Latina. Nesse sentido o principio de não intervenção foi extremamente internalizado nas praticas políticas e diplomáticas. Na dimensão referente aos grupos e redes, estudos ressaltam que é no grau de confiança dos cooperados que reside a força matriz das ações coletivas, que dão forma ao capital social. 
Há evidências de que o papel do capital social no processo de crescimento e desenvolvimento humano tem crescido bastante nos últimos anos, por conta disso assume-se que normas cooperativas, confiança interpessoal e conexões sociais melhoram a qualidade das interações sociais na sociedade, contribuindo para a produtividade do trabalhador e ajudando a reduzir os custos de transação. Todavia, a escassa coordenação interestatal de praticas de segurança publica são ações transnacionais pautadas no principio de não intervenção, criando um limite para a política pública, a qual ainda representa uma produção nacional e não algo a ser compartilhado.
Conclusão
Ressalta-se, portanto, que o estudo de comunidades de segurança é uma excelente perspectiva para explicar a existência ou não de paz entre um conjunto de Estados. Essas teorias dialogam e complementam-se. A teoria de comunidades de segurança mostra que não pressupõe uma concepção limitada da segurança internacional, mas ampliada. Nesta palestra o professor Villa, propõe que se use nos estudos de segurança regional, uma concepção articulada dos conceitos de segurança tradicional e humana, bem como de ameaças tradicionais e não tradicionais. O problema fundamental é se essa ambivalência de múltiplos níveis é um período de transição ou se trata de um traço permanente das relações de segurança e defesa dos países da região. O problema fundamental é se essa ambivalência de múltiplos níveis é um período de transição ou se trata de um traço permanente nas relações de segurança e defesa dos países da região. Recentes desenvolvimentos como a criação do CSD podem inclinar a balança para as comunidades de segurança de menos influência na balança de poder, mas a violência social pode permanecer um traço a longo prazo assim como a autonomia (socialização da ideia de interesse nocional) fazendo a ambivalência uma realidade a longo prazo também.
SÃO CRISTÓVÃO
2016

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