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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

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ÉTICA E EDUCAÇÃO EM MAX WEBER
PEDAGOGIA – PROF FRANCISCO GILSON 
Rio de Janeiro, 18 de agosto de 2011
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OBJETIVOS
Apresentar, sumariamente,a vida e a obra de Weber.
Refletir sobre as origens do capitalismo, segundo a visão weberiana.
Descrever os três tipos de pedagogia enfatizados por Weber.
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WEBER: VIDA E OBRA
* 1864 - Max Weber nasce em Ertur (Alemanha), a 21 de abril, em uma família de burgueses liberais e protestantes, cujo pai era deputado. Ano em que é fundada em Londres a I Internacional (Associação Internacional dos Trabalhadores). Em 1867, Marx publica o Livro I de O Capital. Em 1869, a família Weber muda-se para Berlim.
 
*1882 - Matricula-se na Universidade de Heidelberg: estuda Direito, História, Economia, Filosofia e Teologia. Presta serviço militar em 1883, ano da morte de Karl Marx. Reinicia os estudos universitários em 1884, ano da Conferência colonial de Berlim. Em 1889, doutora-se em direito com a tese sobre a história das empresas comerciais medievais. Um ano depois é fundada a II Internacional Operária. 
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* 1891 – Começa em Berlim sua vida como professor universitário; defende a tese A História agrária romana e sua significação para o direito público e privado. A Igreja Católica se posiciona oficialmente sobre a sociedade industrial com a Encíclica Rerum Novarum.
* 1893 - Casa-se com Marianne Schnitger. Durkheim publica A divisão do trabalho social. 
* 1894 – Professor de economia política em Freiburg. Obra: As tendências na evolução da situação dos trabalhadores rurais na Alemanha Oriental. Em 1896, torna-se catedrático em Heidelberg. Obra: As causas sociais da decadência da civilização antiga. 
* Em 1899, é internado, por algumas semanas, numa casa de saúde para doentes mentais.
* 1903 – Funda com Werber Sombart Arquivo para a Ciência Social e a Política Social.
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* 1904 - Publica a primeira parte de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Inglaterra e França formam o bloco geopolítico conhecido por Entente Cordiale, estratégica na guerra imperialista. 
* 1905 - Parte para os Estados Unidos, onde pronuncia conferências e recolhe material para a continuação de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, cuja segunda parte é publicada neste mesmo ano. Freud publica Teoria da Sexualidade. Em 1906, redige A Situação da Democracia Burguesa na Rússia, A Transição da Rússia para o Constitucionalismo de Fachada, Estudos críticos para servir à lógica das ciências da cultura e As seitas protestantes e o espírito do capitalismo. 
* 1908 – Funda a Associação Alemã de Sociologia e em 1909 começa a escrever a sua obra máxima Economia e Sociedade. 
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* 1913 – Publica Ensaio sobre algumas categorias da sociologia compreensiva. Freud publica Totem e tabu. Um ano antes, Durkheim publicou As formas elementares da vida religiosa. 
* 1914 – Início da Primeira Guerra Mundial. O capitão Weber é encarregado de administrar nove hospitais em Heidelberg. Em 1915 publica A ética econômica das religiões universais.
* 1917 – Vitória da Revolução Socialista na Rússia. 
* 1918 – Derrota da Alemanha e estabelecimento da república. 
* 1919 – Fracasso da Revolução Operária na Alemanha e Guerra Civil na Rússia. Pronuncia as famosas conferências: O ofício e a vocação do cientista e O ofício e a vocação do político, e Ensaio sobre o sentido da neutralidade axiológica nas ciências sociológicas e econômicas. 
* 1920 – Falece de pneumonia aguda em Munique.
* 1922 – Publica, postumamente, Economia e Sociedade.
* 1923 – História Econômica Geral.
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ÉTICA PROTESTANTE 
 E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO
Uma das principais preocupações de Weber era compreender as especificidades que levaram ao desenvolvimento de um determinado tipo de capitalismo nas sociedades ocidentais. Ele dá fundamental importância a racionalização. Em suas palavras: “Decididamente, o capitalismo surgiu através da empresa racional, da contabilidade racional, da técnica racional e do Direito racional. A tudo deve ainda adicionar a ideologia racional, a racionalização da vida, a ética racional da economia.” (citada em Um Toque de Clássicos, p. 129). 
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PROTESTANTISMO X CAPITALISMO
“Qualquer observação da estatística ocupacional de um país de composição religiosa mista traz à luz, com notável freqüência [...]: o fato de os líderes do mundo dos negócios e proprietários do capital, assim como dos níveis mais altos da mão-de-obra qualificada, principalmente o pessoal técnico e comercialmente especializado das modernas empresas, serem preponderantemente protestantes” (Ética protestante, p. 19). 
“Isto sugere a Weber a possibilidade da existência de algum tipo de afinidade particular entre certos valores presentes na época do surgimento do capitalismo moderno e a ética calvinista” (Um Toque de Clássicos, p. 130).
Qual “o papel do protestantismo na formação do comportamento típico do capitalismo ocidental moderno”? (Sociologia – introdução a ciência da sociedade, p. 101). 
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“Os valores do protestantismo [...] atuavam de maneira decisiva sobre os indivíduos [formando] uma nova mentalidade, um ethos – conjunto de costumes e hábitos fundamentais – propício ao capitalismo [...]” (Sociologia – introdução a ciência da sociedade, p. 101). 
Nas palavras de Weber: “A perda de tempo [...] é o primeiro e o principal de todos os pecados. A perda de tempo através da vida social, conversas ociosas, de luxo, e mesmo de sono além do necessário para a saúde – seis, no máximo oito, horas por dia – é absolutamente dispensável do ponto de vista moral. Não se trata assim do ‘Times of Money’ de Franklin, mas a proposição lhe é equivalente no sentido espiritual: ela é infinitamente valiosa, pois, de toda hora perdida no trabalho redunda uma perda de trabalho para a glorificação de Deus” (Ética protestante, p. 19). 
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Para os calvinistas, “até mesmo o esporte deveria ‘servir a uma finalidade racional: a do restabelecimento necessário à eficiência do corpo’ e nunca como diversão, como meio ‘de despertar o orgulho, os instintos, ou o prazer irracional do jogo’.” Por razões semelhantes desprezava, também, as atividades estéticas.
Qual a motivação que leva os calvinistas a agirem assim? 
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“Na lógica da Reforma [...] o indivíduo não se acha mais obrigado a responder por seus atos diante de uma autoridade terrestre (a Igreja). Está sozinho diante de Deus. [...] a Reforma proclama, ainda por cima, que os ser humano tem um devir que lhe é preexistente e cuja a trajetória não pode modificar [predestinação]. [...] somente [Deus] conhece os eleitos [...]. Nasce assim no crente uma interrogação permanente e angustiante: qual será o seu devir post mortem? Que fazer em tais condições? Calvino pensava [...] que a vida do cristão deve tender a um forte investimento intramundano (engajamento no mundo). Em virtude dessa doutrina, o sucesso terreno em uma atividade profissional é, antes de mais nada, um meio de dar glória a Deus. Mas sobretudo, visto que Deus age somente através dos seus eleitos, esse sucesso tem o valor de um sinal de eleição. Por isso, [...], o trabalho, a virtude da poupança... são supervalorizados pelos protestantes, não por si mesmos, mas como um meio de confirmar, graças à prosperidade na terra, a existência de uma salvação tão almejada” (História das ideias sociológicas, vol. 1, p. 303) 
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“Para estarem seguros quanto à sua salvação, ricos e pobres deveriam trabalhar sem descanso, ‘trabalhar o dia todo em favor do que lhes foi destinado’ pela vontade de Deus e glorificá-lo por meio de suas atividades produtivas. Assim, os puritanos prescreviam: ‘Contra as dúvidas religiosas e a inescrupulosa tortura moral, e contra todas as tentações da carne, ao lado de uma dieta vegetariana e banhos frios, trabalha energicamente a tua Vocação’. Um dos resultados dessa ética eram operários disciplinados ‘que se aferravam ao trabalho como a uma finalidade
de vida desejada por Deus. Dava-lhe, além disso, a tranqüilizadora garantia de que a desigual distribuição da riqueza deste mundo era obra especial da Divina Providência que, com essas diferenças e com a graça particular, perseguia sues fins secretos, desconhecidos do homem. Por outro lado, gerava empresários que se sentiam abençoados ao estarem inteiramente dedicados à produção de riqueza. [...] esse conjunto de valores favorecera ‘uma vida econômica racional e burguesa.” (citada em Um Toque de Clássicos, p. 131/32). 
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“À medida que se foi estendendo a influência da concepção de vida puritana – e isto, naturalmente, é muito mais importante do que o simples fomento da acumulação de capital – ela favoreceu o desenvolvimento de uma vida econômica racional e burguesa. Era a sua mais importante, e, antes de mais nada, a sua única orientação consistente, nisto tendo sido o berço do moderno ‘homem econômico’.” (Ética protestante, p. 19).
 
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EDUCAÇÃO EM WEBER
“A racionalização e a burocratização alteraram radicalmente o modo de educar. E alteraram também o status, o reconhecimento e o acesso a bens materiais por parte dos indivíduos que se submetem a educação sistemática. Educar no sentido da racionalização passou a ser fundamental para o Estado, porque ele precisa de um direito racional e de uma burocracia montada em moldes racionais. Educar no sentido da racionalização também passou a ser fundamental para a empresa capitalista, pois ela se pauta pela lógica do lucro, do cálculo de custos e benefícios, e precisa de profissionais treinados para isso. Mais que profissionais da empresa ou da administração pública, o capitalismo e o Estado capitalista forjaram um novo homem: um homem racional, tendencialmente livre de concepções mágicas, para o qual não existe mais lugar reservado à obediência que não seja a obediência ao direito racional. [...] Educar num mundo assim, certamente não é o mesmo que educar antes dessa grande transformação, provocada pelo advento do capitalismo moderno” (Sociologia da Educação, p. 65/66) . 
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Educação para Weber: “passa a ser, na medida em que a sociedade se racionaliza, historicamente, um fator de estratificação social, um meio de distinção, de obtenção de honras, de prebendas, de poder e de dinheiro” (Sociologia da Educação, p.66) 
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AS PEDAGOGIA DE WEBER
Pedagogia do Carisma: “Não constitui propriamente uma pedagogia, uma vez que não se aplica a pessoas normais, comuns, mas apenas àquelas capazes de revelar qualidades mágicas ou dons heróicos. Weber refere-se aqui ao ascetismo mágico antigo e aos heróis guerreiros da Antiguidade e do mundo medieval, que eram educados para adquirir uma ‘nova alma’, no sentido animista, e portanto ‘renascer’. [...] o mago ou o herói visavam despertar no noviço sua capacidade considerada inata, ‘um dom da graça exclusivamente pessoal, pois não se pode ensinar nem preparar para o carisma. Ou ele existe in nuce ou é infiltrado através de um milagre de renascimento mágico – de outra forma é impossível alcançá-lo’.” (Sociologia da Educação, p. 66) 
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Pedagogia do Cultivo: “procura formar um tipo de homem que seja culto, onde o ideal de cultura depende da camada social para a qual o indivíduo está sendo preparado, e que implica em prepará-lo para certos tipos de comportamento interior (ou seja, reflexividade) e exterior (ou seja, um determinado tipo de comportamento social). Tal processo educacional assumia o aspecto de uma ‘qualificação cultural’, no sentido de uma educação geral, e destinava-se, ao mesmo tempo, à composição de determinado grupo de status (sacerdotes, cavaleiros, letrados, intelectuais humanistas etc.) e à composição do aparato administrativo típico das formas tradicionais de dominação política. É o caso da China Antiga, onde os candidatos a ocupar postos administrativos eram recrutados [...] por suas habilidades humanísticas, através de exames às vezes ministrado pelo próprio Imperador em pessoa” (Sociologia da Educação, p. 66/67) 
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Pedagogia do Treinamento: “Com a racionalização da vida social e a crescente burocratização do aparato público de dominação política e dos aparatos próprios às grandes corporações capitalistas privadas, a educação deixa paulatinamente de ter como meta a ‘qualidade da posição do homem na vida’ – e note-se que, para Weber, este é o sentido próprio do termo ‘educação’, enquanto base dos sistemas de status – e torna-se cada vez mais um preparo especializado com o objetivo de tornar o indivíduo um perito”. Transparece no texto de Weber sobre os rumos da educação uma certa melancolia, o mesmo tipo de depressão intelectual que ele exprime com relação aos descaminhos da liberdade humana sob os desígnios da especialização, da burocratização e da racionalização. Ainda mais que, além de minimizar uma formação humanística de caráter integral, a educação por assim dizer ‘racionalizada’, que é a pedagogia do treinamento, continua a ser usada como mecanismo de ascensão social e de obtenção de status privado” (Sociologia da Educação, p. 67/68). 
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Referências bibliográficas
CASTRO, A. M. & DIAS E. F. Introdução ao pensamento sociológico (4ª edição). Rio de Janeiro: Eldorado, 1976 
COSTA, Cristina. Sociologia – introdução à ciência da sociedade (3ª edição). São Paulo: Moderna, 2005.
LALLEMENT, Michel. História das idéias sociológicas – das origens a Max Weber (2ª edição). Petrópolis: Vozes, 2003.
QUINTANEIRO, T.; BARBOSA, M. L. & OLIVEIRA, M. Um toque de clássicos – Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: UFMG, 1999.
RODRIGUES, Alberto T. Sociologia da Educação (6ª edição). Rio de Janeiro: Lamparina, 2011.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Brasília: Editora UnB; São Paulo: Pioneira, 1981. 
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