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CELERIDADE PROCESSUAL: DIREITO E GARANTIA FUNDAMENTAL. A POSITIVAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS Fernando Galvão Moura Advogado. Mestre em Direito Constitucional. Professor Fundação Educacional de Barretos fernandogalvão@mdbrasil.com.br Raphael de Matos Cardoso Fundação Educacional de Barretos Resumo O direito à razoável duração do processo, elevado à garantia fundamental pela Emenda Constitucional nº 45, de 08 de dezembro de 2004, não representa uma inovação, em razão dos princípios já presentes na ordem constitucional e até mesmo em função dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. A Emenda trouxe apenas a conscientização do caráter instrumental dos feitos ao atacar o formalismo excessivo, e espancou quaisquer dúvidas que ainda poderiam restar da aplicabilidade ou não do princípio da razoável duração do processo e celeridade de sua tramitação. Na realidade, o art. 5°, LXXVIII, introduzido pela Reforma do Poder Judiciário, impõe um combate mais rigoroso às manobras protelatórias, ostensivas ou veladas. Revela a preocupação com a acentuada demora na tramitação processual, para evitar que a justiça tardia se torne injustiça. Palavras-chave: Celeridade; Processo; EC n° 45/2004; Devido Processo Legal Considerações iniciais O problema da morosidade da prestação jurisdicional é o maior fator de descrédito da população no Poder Judiciário. No dizer de Rui Barbosa1, “Justiça que tarda é sempre falha”. O excesso de prazo não pode ser tolerado, impondo-se ao Poder Judiciário, em obséquio aos princípios consagrados na Constituição da República, o respeito ao direito básico que assiste a qualquer pessoa: o direito à resolução do litígio sem dilações indevidas, estampado agora no inciso LXXVIII, do art. 5º, inserido pela Emenda Constitucional nº 45, de 08 de dezembro de 20042. Norma de conteúdo programático, orientando novos programas e legislações a respeitarem a celeridade processual como direito de todo cidadão. Embora tenha eficácia jurídica imediata, não pode se enquadrar nas normas de eficácia plena por não apresentar todas as regras de execução do direito que resguarda. Sua aplicabilidade é imediata, por reproduzir eficácia jurídica, nos termos do § 1º, do art. 5º, da CF. No entanto, sua eficácia social é postergada ao 1 1849-1923. 2 Art. 5º, LXXVIII, CF/88: “A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. reconhecimento de cada lei posterior que deverá atender ao princípio da celeridade na tramitação dos processos, consoante o art. 7º, da EC nº 45/2004. Os princípios informam as normas jurídicas concretas, de tal maneira que a literalidade de uma norma pode ser desatendida pelo juiz quando viola um princípio que no caso específico deve ser considerado importante, até mesmo porque figura entre as fontes do direito, conforme preconiza o art. 4º, da LICC. A identificação de um princípio não deve se basear apenas no exame das regras jurídicas em si mesmas, mas no fenômeno de sua aplicação sobre fatos e respectivas conseqüências jurídicas. Ao contrário das regras, os princípios não são derrogáveis, permanecem no sistema e se atualizam constantemente. A tendência do direito contemporâneo é a de fazer com que os princípios integrem expressamente o texto constitucional. 1. Princípios constitucionais. O princípio da razoável duração do processo já poderia ser extraído de outros princípios constitucionais, e se sopesado com eles, não representaria afronta, vejamos: Devido processo legal3: o princípio fundamental, a base sobre a qual todos os outros se sustentam, oriundo da expressão inglesa due process of law, consubstanciado na Lei Maior no art. 5º, LIV. Este princípio é o gênero do qual todos os demais princípios constitucionais do processo são espécies; dele decorrem todas as conseqüências processuais que garantem aos litigantes o direito a um processo e a uma sentença justa; Inafastabilidade do controle jurisdicional: “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (art. 5º, XXXV, CF)4. O texto constitucional consagrou o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, também conhecido como princípio do direito de ação. Todos têm direito de obter do Poder Judiciário a tutela jurisdicional adequada, direito esse que se insere no campo da dignidade da pessoa humana, fundamento da República Federativa do Brasil, consoante o art. 1º, III, da Carta Maior; Contraditório: o contraditório – garantia constitucional inerente a todo e qualquer processo (art. 5º, LV, CF) – representa, de um lado, a necessidade de dar conhecimento da existência da ação e de todos os atos do processo às partes, e, de outro, a possibilidade de as partes reagirem aos outros que lhe sejam desfavoráveis. O contraditório pode ser mitigado conforme os limites das disposições de cada procedimento, como ocorre na execução, no processo monitório e nos procedimentos especiais. Desta maneira, as limitações impostas em algumas espécies de processo, como a irrecorribilidade das sentenças homologatórias de conciliação (art. 41, da Lei nº 3 A amplitude da cláusula devido processo legal tornaria desnecessária qualquer outra dogmatização principiológica. No entanto, é importante fixarem-se os critérios de incidência do princípio em suas variadas manifestações, notadamente no que diz respeito aos limites dessa incidência, de modo a não tornar os direitos e garantias fundamentais como absolutos. De tal sorte, derivam do due process of law: o princípio da isonomia, o principio do juiz e do promotor natural, o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, o princípio do contraditório, da proibição de prova ilícita, o princípio da publicidade dos atos processuais, do duplo grau de jurisdição e da motivação das decisões judiciais. 4 É curial que o direito do acesso à justiça consagrado no art. 5º, XXXV da CF, não exprime apenas que todos podem ir à juízo, como também de que todos têm direito à adequada tutela jurisdicional. 9.099/95), não ofendem a garantia de ampla defesa, uma vez que está em consonância com os princípios que orientam esses tipos de demanda; Duplo grau de jurisdição: o direito ao duplo grau de jurisdição trata da possibilidade de reexame, de reapreciação da sentença definitiva proferida em determinada causa, por outro órgão de jurisdição que não o prolator da decisão, normalmente de hierarquia superior. A sua função está em submeter a lide a um segundo exame que ofereça maiores garantias que o primeiro. A essência do princípio está na reiteração, na possibilidade de um segundo exame sobre a matéria posta em juízo. Todavia, a mitigação a certas regras e princípios é evidente, considerando que nenhum deles é absoluto. Na aspiração de um sistema processual mais rápido, enxugando-se as formas, em encontro ao formalismo excessivo, haverá a opção pela redução de algumas garantias, sob pena de que os moldes modernos pouco se diferenciem do antigo. Ademais, a própria Constituição Federal se excepciona ao prever limite ao campo de atuação do duplo grau de jurisdição, ao dispor que as decisões do Tribunal Superior Eleitoral são irrecorríveis (art. 121, § 3º, CF). 2. Princípio da celeridade processual: análise contextualizada. O que antes se reconhecia por princípio idealizador, hoje, com o advento do dispositivo constitucional, é ordem normatizada, pelo escopo de conferir maior celeridade aos trâmites processuais, a fim de entregar ao jurisdicionado uma prestação jurisdicional mais rápidae eficaz. Nesse diapasão, o fator tempo no processo deve condicionar não somente a condução do processo, mas também a própria atividade legislativa. Os procedimentos devem tutelar efetiva e adequadamente os direitos, de forma tempestiva, que permita uma racional distribuição do tempo no processo. Garantir a celeridade e a razoável5 duração do processo é assegurar o seu desenvolvimento pelo lapso temporal necessário a atingir seu verdadeiro escopo: a pacificação social por meio de uma tutela jurisdicional efetiva. O Estado, sub-rogado no direito-dever de fazer realizar justiça, não poderia penalizar os jurisdicionados com a absurda duração do processo, mesmo antes do advento da Emenda Constitucional aludida. Quando se trata de celeridade processual devemos fracionar a idéia que se tem. Prima facie nos deparamos com a rapidez do trâmite processual e sua possibilidade se dá no plano procedimental. Assim, significa a inserção de uma estrutura procedimental ágil e capaz de conferir a devida rapidez no curso processual. Um julgamento tardio perde progressivamente seu sentido reparador, na medida em que preteri o momento do reconhecimento judicial do direito. Transcorrido o tempo razoável para resolver a causa, a solução que vier posteriormente será injusta, a saber, a justiça injusta além de ser aquela que atua equivocadamente, também o é quando não julga quando deve. A par da injustiça que a demora da tramitação do processo pode gerar está o benefício alcançado pela parte que não tem razão, o que representa um contra-senso no sistema processual brasileiro. 5 O legislador utilizou a técnica da generalidade dos chamados conceitos indeterminados. Os vocábulos razoável e meios necessitam ser explicitados por meio da doutrina e da práxis jurisprudencial. A indeterminação não é dos conceitos jurídicos, mas de sua expressão. É uma tendência do sistema em ampliar os poderes dos juízes mediante a interpretação dos textos legais. O tempo do processo é fundamento dogmático de vários importantes temas do processo contemporâneo6. O processo é um instituto dinâmico e, pela sua natureza, é destinado a desenvolver-se no tempo, que constitui elemento necessário e imprescindível. A excessiva demora do processo, mesmo que se tenha uma decisão segura, gera nas partes litigantes, principalmente no vencedor da demanda, inconteste dano marginal. Se o tempo é a dimensão fundamental da vida humana e se o bem perseguido no processo interfere na felicidade do litigante que o reivindica, a delonga no processo gera um aspecto emocional negativo, ou seja, a angústia e a infelicidade. O processo deve dar àquele que tem o direito de obter tudo aquilo e precisamente aquilo que tem o direito de obter. Daí a preocupação e a busca da sua efetividade. Efetividade vem do latim efficere, que significa qualidade do que está efetivo, estado ativo de fato. A efetividade do processo é a realização prática dos fins a que se propõe, que se traduz na preocupação com a eficácia da lei processual, com sua aptidão para gerar os efeitos que dela é normal esperar, i.e., chegar o mais próximo da pacificação dos conflitos. Na verdade, é imperioso buscar-se a desburocratização do nosso ordenamento jurídico. É mister encontrar meios de facilitar o acesso do cidadão à justiça, prestigiar a criação de instrumentos processuais que permitam proteger de modo eficaz e efetivo os interesses difusos e coletivos, e incentivar a figura de um juiz comprometido com a prova processual, principalmente ao sentir a inércia da parte, além da simplificação e racionalização de procedimentos, conciliação, equidade social distributiva, justiça mais participativa. Sendo verdade que o processo é a composição de conflitos para a satisfação da paz jurídica, resulta daí que deve encerrar-se o mais brevemente possível, de sorte que a lei regula o tempo destinado à realização dos atos processuais, estabelecendo os prazos – que se vinculam aos princípios da paridade de tratamento e da brevidade. Distingue-se em legais: os prazos fixados em lei (art. 177, CPC); judiciais: os prazos que ficam a critério do juiz fixar (art. 177, segunda parte CPC); convencionais: aqueles prazos estabelecidos por convenção das partes (art. 181, CPC). Dizem-se comuns os prazos estabelecidos a ambas as partes para a prática de determinado ato. E particulares os prazos destinados à prática de ato de uma das partes, assim o prazo para contestação (art. 297, CPC). São próprios os prazos atribuídos às partes, a ambas ou a uma só das partes. Impróprios são os prazos atribuídos aos juízes e auxiliares da justiça para a prática dos respectivos atos (art. 189, CPC). São impróprios, também, os prazos conferidos aos escrivães e serventuários. Há muito se diz que a duração em média de um processo no Brasil extrapola o limite do razoável e gera aos jurisdicionados flagrante sensação de injustiça e descrença. O termo “razoável” pode ser considerado um conceito indeterminado e aberto7. Fernando da Fonseca Gajardoni revela que o tempo ideal do processo é aquele resultante do somatório dos prazos fixados no Código de Processo Civil para cumprimento de todos os atos que compõem o procedimento, mais o tempo de trânsito em julgado dos autos (Técnicas de aceleração do processo, 2003). 6 A demora pode afetar a qualidade do serviço do juiz, já que as possibilidades de erro se multiplicam consideravelmente na medida em que transcorre o tempo entre a ocorrência do fato a ser investigado em juízo e a sua declaração por meio da sentença. 7 O primeiro critério objetivo para aferir o que seja prazo razoável é o estabelecido nas normas processuais. Se há prazo previsto em lei, somente poderá ser afastada sua aplicação se houver motivo para tal, dado seu caráter necessário para toda atividade estatal. Para saber qual o prazo razoável para a duração de um processo que tramitasse pelo rito ordinário, e.g., teríamos que somar os prazos de cada fase do procedimento, desde o seu ajuizamento até a prolação de sentença de primeiro grau jurisdicional. Vejamos o quadro: MOVIMENTAÇÃO PROCESSUAL EM RITO ORDINÁRIO Exordial conclusão (24h – art. 190, CPC) despacho do juiz – citação do réu (2 dias – art. 189, I, CPC) cumprimento do despacho (48h – art. 190, CPC) réu contesta (15 dias – art. 297, CPC) conclusão (24h – art. 190, CPC) despacho do juiz – manifeste o autor sobre a contestação (2dias – art. 189, I, CPC) cumprimento do despacho (48h – art. 190, CPC) autor impugna contestação (10 dias – art. 327, CPC) conclusão (24h – art. 190, CPC) despacho do juiz – designação de audiência preliminar (2 dias – art. 189, I, CPC) audiência preliminar – fixa os pontos controvertidos e designa audiência de instrução (30 dias – art. 331, CPC) cumprimento do despacho – intimação das eventuais testemunhas (48h – art. 190, CPC) audiência de instrução – alegações finais por memoriais, 10 dias sucessivos para cada parte (30 dias – art. 331, CPC – analogia) alegações finais (20 dias – art. 454, §3º c/c art. 177, CPC) conclusão (24h – art. 190, CPC) sentença (10 dias – art. 456, CPC). Fonte: Alessandra Mendes Spalding, 2005. Conforme o demonstrativo, o prazo razoável para o julgamento de um processo que tramite pelo procedimento comum ordinário seria, em princípio, 131 dias. Tendo em vista o caso concreto, algumas variantes podem contribuir para a demora do feito, porém, numa situação normal e ordinária, a duração de um processo não se justiça prolongarpor mais de um semestre, para ser considerado tempestivo e constitucional. Para fixar-se um lapso temporal aceitável é imprescindível que se leve em consideração que cada demanda tem seu tempo. Desta maneira, é mister a análise dos fatores internos e externos a cada processo. Primeiramente, os prazos devem ser adequados para que cada um dos atos que compõem o processo possa se realizar em harmonia com os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, sem ferir a celeridade do procedimento, pois o cumprimento inexorável desses prazos é que garante o tempo razoável do feito, de modo que o tempo processual corresponda ao tempo real. Essencial, também, é que o sistema seja rigoroso tanto em relação aos prazos que se referem às partes como àqueles aplicáveis ao órgão judicial (prazos impróprios), dando ensejo para que o procedimento transite de uma fase para outra, seja por impulso das partes, seja por impulso judicial (e.g. art. 262, CPC). Por fim, a estrutura temporal do processo deve ser determinada em razão da tutela que em cada demanda se pretende. De acordo com a especialidade de litígios ou da prova pré-constituída de uma das partes, a tutela é mais célere ou mais prolongada. A tentativa de facilitar o acesso à justiça e de tornar mais efetiva a prestação jurisdicional deu ensejo às últimas reformas que a legislação processual civil sofreu, que atribuiu maior relevância às tutelas de urgência e maior poder aos magistrados para interpretar normas de conteúdo vago e aplicar sanções para garantir a pronta e rápida efetivação de suas decisões8. Do mesmo modo, a Emenda Constitucional nº 45/2004 trouxe dispositivos importantes para garantir o direito à prestação jurisdicional em um tempo razoável. No entanto, já havia a preocupação em garantir a celeridade processual. A Constituição Federal, ao tratar do Poder Judiciário, disciplinou em seu art. 98 a criação dos juizados especiais, conferindo-lhes competência para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade, assim como as infrações penais de menor potencial ofensivo. Trata-se de tribunais especiais destinados às pessoas comuns para garantir direitos de baixo caráter econômico; uma instituição que se insere na tentativa de superar, ou de apenas atenuar os obstáculos opostos ao pleno e igual acesso de todos à justiça, tais como as custas processuais em causas de pequeno valor monetário, onde as mesmas podem ser mais altas que o valor da causa, bem como a demora de um processo que passa pelo procedimento ordinário. Desta feita, propiciando um acesso mais fácil ao Judiciário, em setembro de 1995 foi sancionada a Lei nº 9.099, instituindo e regulamentando os juizados especiais cíveis e criminais. A intenção do legislador foi simplificar o processo, na tentativa de acelerar ao máximo a prestação jurisdicional, melhorando a imagem do Poder Judiciário de órgão moroso9. Em suma, os juizados especiais visam a equalização das partes, tornando o juiz mais ativo e informal no decorrer do processo, com consciência ética e de justiça, permitindo a simplificação da produção de provas e limitando a possibilidade de recursos. Trazem ainda consigo a idéia de alteração no estilo de tomada de decisão, o que enfatiza a conciliação como sua principal característica. Há a possibilidade de se promover acordo entre partes de uma forma rápida e informal. No mesmo sentido, a Lei nº 10.259/01, que disciplina os juizados especiais na esfera federal, objetivou agilizar o exame dos processos que envolvem questões de pequena repercussão econômica e menor complexidade, ante a redução dos prazos, a eliminação do duplo grau obrigatório, o cumprimento da sentença independentemente do precatório, o tratamento igualitário entre a Fazenda Pública e as demais partes, o 8 Levando-se em conta todo o iter processual, o i. ensaísta Belmiro Jorge Patto, em seu artigo Aspectos da dimensão temporal do processo civil nas alterações advindas da EC nº 45, de 08 de dezembro de 2004, estabelece quatro critérios objetivos para a resolução da problemática da razoável duração do processo, quais sejam: 1. fixação legislativa de prazos finais para cada rito processual, que poderiam ser fixados a partir do somatório dos diversos prazos já previstos para os atos isolados; 2. fixação de prazos que possam ser considerados razoáveis, consoante a complexidade de cada feito; 3. ao somatório de todos os prazos previstos nas leis seja acrescido o percentual equivalente ao dobro, independentemente da complexidade, como prazo razoável para a entrega da prestação jurisdicional final, estabelecendo-se a metade desse prazo final para as instâncias superiores; 4. para as liminares em ações cautelares, mandados de segurança, tutelas antecipatórias ou de urgência etc., há que se estabelecer critérios especiais como prazos razoáveis, levando-se em conta a urgência da medida. 9 Lei nº 9.099/95, art. 2º: “O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação (grifo nosso).” agravo que passa apenas a ser retido, os recursos da sentença com efeito tão-somente devolutivo, a eliminação do processo autônomo de execução, a simplificação das providências para citação e intimação, além da aplicação dos princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, celeridade e da economia processual. Indispensável é a compatibilização do sistema recursal brasileiro com os anseios da sociedade em obter do Poder Judiciário um pronunciamento jurisdicional célere e eficaz, diante da relevância emprestada pela ordem constitucional ao pleno acesso à justiça (art. 5º, XXXV), assegurando o devido processo legal (art. 5º, LIV), o contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV). O relevante é tornar o sistema recursal compatível com a celeridade processual, que a partir de dezembro de 2004 passou, também, a figurar como preceito constitucional fundamental, embora já fosse implícito na Carta Magna, decorrente de outros princípios bases. Em encontro com tal preceito, o art. 496 do Código de Processo Civil admite a interposição de oito espécies de recurso: a apelação, o agravo, os embargos infringentes, os embargos de declaração, o recurso ordinário, o recurso especial, o recurso extraordinário e os embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário. O excessivo número de recursos, por certo, vem, há muito, prejudicando um célere desenlace das ações. Tornar o processo célere e efetivo sem deixá-lo arbitrário ou aleatório e sem perder de vista os princípios e garantias fundamentais é o desafio do processo contemporâneo, especificamente o brasileiro. A celeridade, hodiernamente, é uma condição da efetividade do processo. Tutela intempestiva não pacifica adequadamente, da mesma forma, tutela temporalmente ineficaz não atinge a finalidade do processo. O princípio da economia processual exige que se conciliem os valores tempo e segurança – o tempo ideal do processo é o necessário para que a decisão seja proferida com absoluta segurança. É aceitável, digamos assim, que a justiça perca a qualidade formal, mas alcance a eficácia social, que é a principal razão de ser do Direito – pacificação social! A partir de uma análise sistemática, um dos pontos do gargalo do Poder Judiciário é o fracasso legislativo: leis mal elaboradas, que dão margem à interpretações controvertidas. Essa dispendiosa hermenêutica alimenta incidentes processuais e multiplica recursos. A sobrecarga de trabalho que isso acarreta aos órgãos judiciais sacrificaas esperanças do desenvolvimento jurisprudencial, uma das fontes do direito. Em suma, a falta de aparato material e tecnológico, a existência de uma legislação processual parcialmente ultrapassada (não obstante as recentes reformas) e a formação cultural dos operadores do direito, despreparados para a advocacia preventiva e conciliatória, são entraves para a celeridade processual brasileira, i.e., afrontam o princípio constitucional recentemente consagrado explicitamente. Nesse diapasão, três são os fatores da morosidade do Poder Judiciário: fator material (investimento), fator legal (alteração das leis processuais) e, fator cultural (mudança da mentalidade dos operadores do direito, diga-se que é o fator mais arraigado). A celeridade depende da redução de tempos técnicos (necessários à instrução e decisão da demanda – prazo para alegações, audiências etc) e de espera do processo (necessários para que a causa seja tomada em consideração – juntada de documentos, subida à conclusão etc). Portanto, a aceleração sujeita-se a medidas extraprocessuais (alteração da organização judiciária, tornando o aparato judicial mais eficiente), extrajudiciais (mecanismos de contenção das demandas, desformalizando-se as controvérsias) e judiciais (modificações nos preceitos do processo, tendo em vista a desformalização do mesmo – técnicas em busca de um processo mais simples, rápido, econômico e de acesso fácil e direto). Tais vertentes inserem-se num amplo quadro de política judiciária, reaproximando o jurisdicionado da Justiça. 3. Algumas sugestões viáveis. O ensaísta Jônatas Luiz Moreira de Paula, em “Reforma do Poder Judiciário e celeridade processual sob a perspectiva da tridimensionalidade do processo”, propõe, para melhor desenvolvimento da atividade jurisdicional e celeridade processual, uma série de sugestões, quais sejam: Adoção da teoria da individualização da causa de pedir: estabelece-se na afirmação de um direito ou de uma relação jurídica como fundamento da ação ou da defesa. Já a teoria da substanciação, adotada pelo Código de Processo Civil brasileiro, se apóia na dedução dos fatos constitutivos do direito do autor ou do réu. A sua aprovação atenuaria o rigorismo do princípio da eventualidade e do sistema de preclusão. As demandas seriam mais flexíveis, permitindo uma demonstração mais maleável dos direitos às partes. Rito sumário como procedimento padrão no processo de conhecimento: sugere-se que o Código de Processo Civil adote como procedimento padrão o rito sumário (arts. 275 a 281, CPC), acrescido de algumas adaptações. A reconvenção seria extinta em face da adoção da teoria da individualização da causa de pedir, porque a contestação teria força de ação. O mesmo ocorreria com a ação declaratória incidental, cuja finalidade seria incorporada na própria contestação. A intervenção de terceiros passaria a ser admitida em todas as espécies, ficando a cargo do juiz precaver a sua utilização em abuso. Sendo a causa complexa, poderia o juiz fragmentar a realização dos atos processuais, de modo a não comprometer o contraditório e a ampla defesa. Implantação de um programa de incentivo à qualidade total: propõe-se que, ao lado das penalidades administrativas aplicadas ao juiz pela respectiva Corregedoria, seja realizado um programa de incentivo à atividade judiciária na busca da qualidade total, quer dizer, dos atos processuais praticados pelo juiz. O programa enfocaria a qualidade dos atos praticados pelo magistrado, a rapidez com que seriam realizados e em maior quantidade possível de processos. Criação de novos cargos e reestruturação do Poder Judiciário: faz-se necessária, como aponta o inciso XIII, do art. 93, da Carta Política, a criação de novos cargos de juízes e a reestruturação do Poder Judiciário, estabelecendo-se novos cargos para auxiliares da justiça. Há ainda, mecanismos extraprocessuais10 de aceleração do processo, apontados pelo festejado Fernando da Fonseca Gajardoni11, que são: 10 Cumpre ressaltar que esses mecanismos não atuam na estrutura interna do processo, nem diretamente sobre o litígio, mas têm por fito tornar o aparato judicial mais eficiente e, conseqüentemente, permitir que a tutela jurisdicional seja oportuna. 11 Técnicas de aceleração do processo, 2003. Reorganização judiciária: a arrumação da própria casa (Judiciário) passa por uma análise das circunstâncias geopolíticas das diversas regiões de nosso país, e por uma redistribuição dos servidores, escalando-os para o exercício de funções mais especializadas ou para as quais tenham melhor capacitação técnica, tendo em vista tornar a máquina judicial mais eficiente. Investimentos tecnológicos e materiais no Judiciário: a aplicação na máquina judicial não acompanha a crescente demanda pelos serviços judiciários12. Ademais, a má aplicação dos recursos também revela outra face da problemática administração da Justiça13. Mudança no perfil do operador jurídico: quando se pretende identificar as modificações no perfil do operador jurídico que interessam aos propósitos aceleradores do processo, destacam-se: preparação do profissional jurídico nas faculdades de direito, conscientização do advogado do seu papel na contenda por um processo mais célere e conscientização dos juízes. Ressalta-se que esse é o ponto mais relevante para que a tutela efetiva possa chegar até os jurisdicionados. Alteração no regime das custas processuais: mecanismos que se traduzam em alguma vantagem para o autor ou réu que reconhece unilateralmente não ter razão, antes do esgotamento de todos os atos do procedimento previsto, i.e., que lhes aumente gradativamente as vantagens da derrota. A imposição de pagamento progressivo, pelo vencido, da taxa judiciária, além de reparar o litigante que tem razão, funciona como verdadeiro fator de incentivo às práticas auto-compositivas14. É possível, também, apontar mecanismos extrajudiciais15, tais como: Auto-composição extrajudicial: três são as formas de auto-composição do litígio, ligadas ao direito material, com reflexos diretos sobre a relação jurídica processual: renúncia ao direito, reconhecimento jurídico e transação (art. 267, II, III e IV, CPC). Hétero-composição extrajudicial. Arbitragem: é um mecanismo de solução das controvérsias pela qual um ou vários terceiros recebem poderes para, sem a intervenção do Estado, solucionar definitivamente os litígios relativos a direitos patrimoniais submetidos à apreciação. A Lei nº 9.307/96 reconheceu a eficácia da 12 Outro aspecto é a tardia informatização do Judiciário. Há Tribunais que, com base na informatização de seus serviços, vêm alcançando êxito no quesito tempestividade da tutela. E.g. o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com um tempo médio de julgamento em 2º grau de 6 meses, implantou um sistema de codificação em barras de seus feitos, com o intuito de acelerar a consulta e movimentação dos autos. 13 Toma-se como exemplo o prédio do Superior Tribunal de Justiça inaugurado em 1994, que custou cento e setenta e um milhões de dólares. Possui 77 gabinetes para apenas 33 ministros (art. 104, caput, CF). 14 Alguns dispositivos já encampam a idéia da imposição progressiva, quais sejam: quais sejam: o art. 61, da Lei nº 8.245/91, estipula que nos casos de despejo por denúncia vazia, o locatário que concordar com a desocupação tem o prazo de 06 meses para tanto e, assim procedendo, fica isento do pagamento das custas e honorários advocatícios; os arts. 55 e 56, da Lei nº 9.099/95, disciplina que somente haverá cobrança de custas no segundo grau de jurisdição; o art. 1.102 C, § 1º, do CPC, isenta, nasações monitórias, o demandado das custas pelos serviços judiciais nos casos de cumprimento espontâneo do mandado monitório. 15 Boa parte da doutrina já admite a expressão jurisdição privada para designar a tutela prestada por órgãos estranhos ao Estado, na função de pacificar com justiça, um dos escopos da jurisdição. Fernando da Fonseca Gajardoni, Técnicas de aceleração do processo, 2003. cláusula compromissória e dispensou a homologação estatal dos laudos arbitrais, que têm eficácia de título executivo judicial (art. 584, VI, CPC). Revitalização do processo administrativo: a solução administrativa dos conflitos marca um ponto de encontro entre a auto-composição e a hétero-composição. É auto-composição porque, de certo modo, o Poder Público reconhece sua responsabilidade, arcando com as conseqüências. É hétero-composição porque a decisão não é tomada pelo executor do ato. Desjudicialização de alguns processos de jurisdição voluntária: está em trâmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 4.725/2004, que pretende transferir para os notários algumas das atribuições que, hoje, são de competência do Judiciário. Pela proposta, os tabeliões passarão a executar os processos de inventário, separação e divórcio, desde que consensuais, sendo indispensável a presença de um advogado. Ter- se-á uma tutela mais célere e mais eficaz, com a diminuição do número de feitos consensuais16. O problema da morosidade não é causado apenas pela lei processual. No entanto, isso não quer dizer que não se possa buscar modificar a lei para imprimir maior celeridade aos processados. A reforma esperada é a das leis processuais. Desta forma, outro mecanismo que é indicado para outorgar tutela jurisdicional tempestiva, sem perder de vista certa segurança jurídica, é o judicial, que se enumera: Conciliação judicial: a conciliação judicial é negócio jurídico processual, de natureza jurisdicional contenciosa, cujo pressuposto é a litispendência de uma demanda que verse sobre direitos patrimoniais disponíveis. A atividade conciliatória tem por escopo definir declaradamente a situação jurídica controvertida, promovendo a sua pacífica reverência. Na conciliação judicial, o magistrado deve ser visto como leal colaborador, na busca pela melhor solução do caso concreto. Essa visão corroboraria com os acordos obtidos judicialmente, à medida que os litigantes se mostram mais dispostos à atividade judicial. Simplificação do processo: questões eminentemente formais devem ser reduzidas ao máximo. A sua proliferação torna o processo sem conteúdo, afastando-o de seu principal fim, bem como retarda a prestação da tutela jurisdicional, quando não gera uma multiplicação de demandas em torno de um mesmo objeto. Essa tendência é seguida, v. g., no procedimento sumaríssimo dos juizados especiais que, entre outras inovações, dispensou o relatório nas sentenças e acórdãos, permitiu o registro de atos não essenciais em fitas magnéticas, admitiu reclamação oral e considerou eficazes as intimações enviadas ao endereço primitivo da parte, na ausência de comunicação de mudança; o desenvolvimento da prática de atos processuais por meio eletrônico (Lei nº 9.800/99); a Lei nº 10.259/2001, que possibilita a intimação das partes ou a recepção de petições por meio eletrônico, sem necessidade de ratificação etc. Tutelas jurisdicionais diferenciadas: a tutela jurisdicional diferenciada é precedida de cognição não exauriente, visando evitar que o tempo possa comprometer o resultado do processo. Quer significar tutela adequada à realidade do direito material. O art. 273 do Código de Processo Civil passou a admitir, com base na verossimilhança da 16 Se o legislador infraconstitucional transferir a homologação de uma separação consensual para qualquer ente público, v.g., tal regra não violaria o princípio da inafastabilidade da jurisdição, pois não se trata de atividade tipicamente jurisdicional. alegação e na prova inequívoca do alegado, a emissão de verdadeiro julgamento liminar para todo e qualquer tipo de procedimento comum. O art. 461 tutela de forma específica a obrigação de fazer e não fazer, admitindo, em caso de impossibilidade da tutela específica, a obtenção do resultado prático equivalente, possibilitando a concessão, no próprio processo de conhecimento, de tutelas de execução direta (busca e apreensão, remoção de pessoas ou coisas, desfazimento de obras), mandamentais (proibição de certas atividades) e de execução indireta (multas)17. A Lei nº 9.079/95 inseriu o procedimento monitório18 em nosso sistema. E em 2002 foi introduzido no Código de Processo Civil o art. 461-A, que disciplina a tutela específica da obrigação para entrega de coisa. Sumarização procedimental: ao ser idealizado pelo legislador, o procedimento sumaríssimo, agora sumário, tinha previsão de ser concluído em 90 dias em primeiro grau e 40 dias perante o Tribunal (art. 550, CPC). No entanto, esses prazos não foram cumpridos. A inadequação das leis de organização judiciária dos estados e a carência estrutural do Poder Judiciário podem explicar a “dessumarização” desse rito. A tentativa de se instituir um procedimento absolutamente oral para o mundo latino, inclusive para o Brasil, não foi coroada de êxito. Não há estrutura judicial adequada, nem tampouco compreensão dos operadores do direito para o que se propõe. Juizados Especiais de Família: é de autoria da Ministra do Superior Tribunal de Justiça, Fátima Nancy Andrighy, o anteprojeto que prevê o Juizado Especial de Família. Pelo projeto, adotar-se-á o rito sumaríssimo da Lei nº 9.099/95 para todos os tipos de conflitos da seara familiar. Permitir-se-á, também nos moldes do que prevê o art. 461 do Código de Processo Civil, a concessão de medidas de urgência no curso do processo principal, sem necessidade de processos incidentais. A execução do julgado não se daria como um processo autônomo, mas como uma simples fase do procedimento já instaurado. Tutela jurisdicional coletiva: dentro do amplo contexto da segunda onda de acesso à Justiça percebeu-se a necessidade de tutela coletiva dos direitos, o que deu ensejo à construção de modelos de ações para a tutela de interesses ou direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, com reestruturação dos esquemas processuais clássicos, adaptados à solução dos conflitos de massas19. Apesar da vultosidade da ação coletiva e sua maior duração, diante de uma análise mais avisada percebemos os benefícios, que são bem maiores: melhor defesa, divisão das custas, uniformidade de decisões, um único processo. Embora tragam vantagens, as ações coletivas ainda são subaproveitadas. O art. 5º da Lei nº 7.347/85, prevê um rol de legitimados concorrentes para a propositura da ação civil pública, p. ex. Contudo, dados revelam que a esmagadora maioria de ações civis é ajuizada pelo Ministério Público. 17 Seria um equívoco prescrever antecipações de tutela, por si só, como remédio para curar os diversos males que provocam a morosidade do processo. 18 Trata-se de processo de conhecimento de rito especial, colocado à disposição de quem pretender, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento em dinheiro ou entrega de coisa. A cognição e o procedimento são sumários, dirigidos a produzir um título executivo judicial. O contraditório é eventual e diferido, apenas nas hipóteses em que o devedor interpuser embargos (art. 1.102-C, CPC). 19 A proteção coletiva aos direitos tem proporcionado aos cidadãos, cultural, técnica e economicamente mais fracos, um verdadeiro acesso à Justiça, uma vez que, dada a condição de muitos dos lesados, dificilmente se disporiam a demandar individualmente.Abreviação do procedimento recursal: o excessivo número de recursos sempre é apontado como um dos maiores inimigos da tempestividade da tutela jurisdicional. Mesmo com os recentes esforços legislativos no sentido de melhorar a qualidade temporal do processo, principalmente em segundo grau, poucos resultados práticos são obtidos. Limitação do acesso aos tribunais: mecanismo que também pode ser empregado como instrumento de obtenção da tutela jurisdicional mais célere consiste na limitação do acesso à Justiça de segundo grau, seja por meio do condicionamento do recurso a pressupostos prévios e externos à relação jurídica processual, da instituição regional de órgãos com função recursal, ou da previsão de hipóteses de não cabimento da impugnação20, nas palavras de Fernando da Fonseca Gajardoni21. Possível também a delegação legislativa de segundo grau para colégios recursais regionais, nos moldes do que acontece com a Lei dos Juizados Especiais Cíveis Federais. Cabe ressaltar a importância da instituição do mais novo óbice legal de cabimento de recursos: a súmula vinculante22. Da mesma forma, encontra-se em tramitação a PEC nº 358, que institui a súmula impeditiva de recursos. Defende-se, também, o fim dos recursos em causas cuja apuração dependa apenas de questões de fato. Execução provisória de sentença e o efeito suspensivo da apelação: alguns autores defendem que a sentença deveria ter, em regra, executividade imediata, e não subordinada ao trânsito em julgado e à coisa julgada material, mesmo que em caráter provisório (art. 587, CPC). Para ilustrar o impacto que a modificação ensejaria, cita-se a promulgação da Lei nº 8.245/91 que, ao prever que os recursos interpostos contra as sentenças terão efeito somente devolutivo, liquidou o excessivo número de apelações nessa matéria (locações). A retirada da regra da suspensividade dos efeitos da sentença, quando do recebimento do recurso de apelação, permite ao titular do direito antecipar medidas executivas, bem como serve como natural inibidor da prática recursal fundada na protelação do cumprimento das decisões judiciais. Despesas processuais e honorários advocatícios progressivos: Augusto Tavares Marcacini em “Estudo sobre a efetividade do processo civil, 1999”, um dos pioneiros na análise do tema, defende que, ao despachar a petição inicial, fixe o juiz eqüitativamente o valor das custas e honorários para o caso de solução espontânea. Sem auto-composição, os honorários seriam fixados na sentença, entre 5% a 15%. Havendo recurso e sendo ele improvido, a verba honorária seria elevada por ato ex officio do órgão julgador e assim sucessivamente. Diante do não cumprimento espontâneo da decisão final, mais acréscimos seriam impostos23. É certo que o nosso sistema, de 20 Há Projeto de Lei que, ao pretender alterar a redação da CLT, prevê limitação do acesso aos Tribunais. 21 Técnicas de aceleração do processo, 2003. 22 A doutrina simpatizante da súmula vinculante defende que a sua inserção no ordenamento nacional já se mostrava inevitável, em face de alguns dispositivos já elencados no nosso sistema jurídico. Citam o efeito vinculante das decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal em sede de ação declaratória de constitucionalidade (art. 102, § 2º, CF); a admissão que o relator negue seguimento a recurso inadmissível, improcedente ou prejudicado, em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante no respectivo Tribunal ou de um dos Tribunais Superiores (art. 38, da Lei nº 8.038/90, e art. 557, do CPC); a permissão de que o relator, monocraticamente, dê provimento a recurso em confronto com súmula de Tribunal Superior (art. 557, § 1º, CPC); a dispensa de reexame necessário as sentenças fundadas em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula de um dos Tribunais Superiores (art. 475, § 3º, da Lei nº 10.352/01). 23 É evidente que o custo dos serviços judiciais não pode ser tão elevado que implique na negativa de acesso à jurisdição (art. 5º, XXXV, CF). alguma forma, já contempla a idéia da imposição progressiva, v.g. o art. 61, da Lei nº 8.245/91, a Lei nº 9.099/95 nos seus arts. 55 e 56 e o art. 1.102-C, § 1º do CPC. Sanções processuais: é mister que haja instrumentos mais eficazes que inibam e sancionem adequadamente o litigante que descumprir com os seus deveres. Aquele que se sinta tentado a abusar dos meios processuais, tem na incidência de sanções processuais um verdadeiro freio. A tradição jurídica é da utilização indiscriminada dos excessivos meios de defesa, o que poucas vezes é reprimida exemplarmente, sob a justificativa de que a aplicação das sanções previstas macularia o livre e pleno exercício do direito de ação24. Considerações finais. O art. 8º da PEC nº 96/1992, aprovada na Câmara dos Deputados, e que veio a dar origem à EC nº 45, previa a inserção no art. 95, da Carta Magna, de parágrafo dispondo que “a União e os Estados respondem pelos danos que os respectivos juízes causarem no exercício de suas funções jurisdicionais, assegurado o direito de regresso em caso de dolo”. No entanto, a previsão a respeito da responsabilidade estatal pelos atos dos juízes foi suprimida no Senado Federal. Não obstante o veto do Senado, a interpretação sistemática da Constituição Federal e a positivação do direito à duração razoável do processo impõem a responsabilização do Estado pelos danos decorrentes da atuação dos juízes. Com base no art. 37, § 6º, da Lei Maior, o Estado pode também ser responsabilizado pelos danos causados por juízes, peritos, oficiais de justiça, cartorários e de todos aqueles que atuam como auxiliares no exercício da função jurisdicional, sendo mais abrangente do que a previsão abolida. O desrespeito à razoável duração do processo decorrerá, em regra, de condutas omissivas dos juízes e auxiliares da justiça. A demora no trâmite processual será ocasionada pelo desrespeito aos prazos assinalados ou pela omissão na prática de ato necessário ao andamento do feito. Todavia, não se excluem as hipóteses comissivas, e.g., o deferimento de diligências por parte do magistrado que poderão, igualmente, causar danos às partes, ensejando a responsabilização civil25. O nosso sistema, enfatizando mais uma vez, carece de nova mentalidade dos operadores de direito, acima, talvez, de qualquer outra medida aceleratória. Ainda somos servos de muitos mitos, de exageros preconceituosos que não contribuem para a perfeição da justiça, afastando-a da tempestividade. Por fim, o direito à razoável duração do processo, elevado à garantia fundamental pela Emenda Constitucional nº 45, de 08 de dezembro de 2004, não representa uma inovação, em razão dos princípios já presentes na ordem constitucional e até mesmo em função dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. A Emenda trouxe apenas a conscientização do caráter instrumental dos feitos ao atacar o 24 Além das sanções de natureza processuais-administrativas (arts. 14, 16, 17, 18, 161, 196, 233, 538, parágrafo único, 557, § 2º, 600, 601 e 881, todos do CPC), o sistema também sanciona o litigante ou terceiros ímprobos penalmente (art. 244, 329, 342, 344, 346, 347, 358 e 359, todos do Código Penal) e civilmente (responsabilidade civil). 25 O Estado tem o dever de manter uma Justiça que funciona tão bem quanto o serviço de luz, de polícia, de limpeza, de saúde, de transporte etc. Se não o fizer dentro de um prazo razoável, respeitadas as particularidades do caso concreto, deve ser responsabilizado pela deficiência. A efetividade desse serviço público deve configurar a contrapartida do pagamento de tributos, inclusive das taxasjudiciárias cobradas para o acesso a tal serviço. formalismo excessivo, e espancou quaisquer dúvidas que ainda poderiam restar da aplicabilidade ou não do princípio da razoável duração do processo e celeridade de sua tramitação. A norma constitucional exige um combate mais rigoroso às manobras protelatórias, ostensivas ou veladas. O dispositivo revela a preocupação do legislador com a acentuada demora na tramitação processual, para evitar que a justiça tardia se torne injustiça. A tendência atual é enxugar as formas do processo, criando-se mecanismos que garantam sua efetividade e tempestividade, em face dos anseios da população. Doravante, é conveniente salientar que, como direito positivado no Texto Maior, passa a influir na interpretação e criação das normas infraconstitucionais e, ainda mais, determina que se assegurem meios para a maior celeridade da solução dos conflitos. Bibliografia ALVIM, J. E. C. Juizados Especiais Federais. Rio de Janeiro: Forense, 2002. BEZERRA, M. F. O direito à razoável duração do processo e a responsabilidade do Estado pela demora na outorga da prestação jurisdicional. In: WAMBIER, T. A. A. et al (Coord.). Reforma do Judiciário: Primeiras reflexões sobre a Emenda Constitucional nº 45/2004. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 467-80. BRASÍLIA. Câmara dos Deputados. Legislação. Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/261223.htm. Acesso em 03 maio 2006, 16:03. BRASÍLIA. Ministério da Justiça. Reforma do Judiciário, Pacto de Estado por um Judiciário mais rápido e republicano. Disponível em: http://www.mj.gov.br/reforma/pacto.htm. Acesso em 04 maio 2006, 14:51. 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