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PSICOLOGIA JUDICIÁRIA Davi Goldman 1. Psicologia: conceitos e definições: - Psicologia do senso comum ≠ psicologia científica: - De médico, louco e psicólogo todo mundo tem um pouco. Trata-se de psicologia do senso comum, um exemplo pode ser quando procuramos um amigo para conversar sobre determinado problema – gosto dele como amigo porque ele tem boa psicologia. A proposta de usar a psicologia no cotidiano não pode se confundir com uma abordagem da psicologia científica. A psicologia do senso comum nos auxilia no nosso dia-a-dia. - A psicologia cientifica se compromete com o controle rigoroso. A psicologia está apoiada no método (caminho – fazer ciência é encontrar o correto caminho dos controles)/epistomologia. - Dominar, estabelecer domínio nas relações de causa e efeito, ser capaz de controlar os efeitos manipulando as causas – o ideal do método, quando a conexão funciona, esse circuito se fecha. - Epistemologia é a verificação da correção desse domínio causal. A proposta da psicologia científica é desenvolver um estudo sistemático, é compreender, elucidar, alterar, de forma especializada e apurada todos os desafios que se apresentam neste campo do conhecimento. A psicologia do senso comum não tem um comprometido com esta força da assertividade. A psicologia do senso comum é intuitiva, espontânea, está apoiada no simples, no banal e no imperativo. - A psicologia se relaciona muito de perto com questões do dia-a-dia, porque em última análise, a psicologia é a ciência que está interessada em entender melhor como o homem funciona, uma verdade apoiada em certeza. - Para ser científica a psicologia precisa ter credibilidade, em estudos efeitos com amostragem significativa, ela utiliza de método cientifico. - É preciso ter uma disciplina de não generalização, uma análise minuciosa, que apontem para as conclusões. É preciso encontrar explicações sustentáveis, respeito aos princípios científicos. Se tudo isso for contemplado, estaremos diante de uma psicologia com base científica. - A psicologia está interessada em uma amplitude do ser humano e por isso muitos subconjuntos da questão humana estão sob a sombra de interesse da psicologia. Com método, com rigor científico a psicologia se aproxima e quer aprender melhor tópicos como: questões ligadas à violência, agressividade, depressão, papeis sexuais, aprendizagem, memória, linguagem, raciocínio, pensamento, emoções, motivações, tipos de personalidade, etc. - O que chamamos de psicologia configurou uma cartografia bastante ampla das questões humanas, racionais, motivação, emocionais. A psicologia se transformou nos últimos 300 anos como uma referência importantíssima para uma melhor compreensão do individuo. - O individuo é aquilo que a psicologia tenta focar o tempo todo. - No tronco das humanidades, sobre a batuta régia da filosofia, que é pura abstração, saem três ramos importantes: antropologia (ciência que estuda manifestações culturais), sociologia (construções sociais), psicologia (ligada ao indivíduo). – todos esses ramos acabam se relacionamento com conjuntos maiores da produção humana. Mas a que tem maior afinidade com o direito é a psicologia. Psicologia e direito andam de mãos dadas. O processo do direito tem enormes instâncias que vão se servir de psicologia. Exemplo: quando o réu é julgado no tribunal, ele já passou por uma série de trocas de realidades psicológicas, porque o delegado, juiz, advogado, testemunhas, júri utilizam da psicologia. - Nada pode ser mais complexo do que o ser humano. O ser humano não é linear, não é previsível. Exemplo: estamos no trânsito de SP, que é um problema. Outro motorista fecha um terceiro sujeito. O sujeito que foi fechado tem uma explosão de raiva. Essa explosão de raiva é um interesse da psicologia. - A psicologia é uma pedra da fundação da ciência do direito. O direito não trabalha com seres humanos apenas, mas com a complexidade inerente aos seres humanos. 2. Definição de psicologia: - Definição da psicologia que se entrelace com os ideais de método e de abordagem controlada do desafio que é entender a ação humana. - Psicologia é a ciência do comportamento e do funcionamento mental de todas as criaturas (Professora Davidoff). – Trata-se de uma definição bem abrangente. - Essa definição da Davidoff carece de aprofundamento que enfoque as questões sociais. Para a psicologia judiciária interessa as perspectivas sociais. - Definição específica que se relaciona com a psicologia jurídica: a psicologia está interessada em desenvolver, utilizar, verificar e transmitir conhecimento sobre um objeto singular e diverso: a subjetividade – conjunto de aspectos do comportamento, da consciência, dos sentimentos, do pensamento, das emoções ou da personalidade que se apresenta sempre dinâmico, móvel, em processo. - Subjetividade é o jeito de cada um de nós, uma espécie de depósito interior que carregamos e que reflete nossa maneira de compreender e enxergar o mundo. Ela se relaciona com outra questão importante que é a questão do espírito de época. - A subjetividade está em transformação. A formação jamais se completa. A aventura humana é uma travessia inacabável, estamos caminhando numa corda bamba. A subjetividade sempre é ligada à uma questão de grande desafio. Não há uma pré- determinação - Nascer é muito comprido – Clarice Lispector. A aventura do viver não tem porto de chegada, não tem porto de conclusão. Até o último momento da nossa vida a nossa subjetividade está sendo esculpida por nós mesmos. Subjetividade: a subjetividade é o nosso modo de ser, síntese individual que cada um de nós vai construindo conforme vamos desenvolvendo e vivenciando as experiências. (PENSAMENTO - EMOÇÃO - COMPORTAMENTO) A subjetividade é o objeto da psicologia. O comportamento também interessa, mas de forma mediata, secundária - comportamento também são expressões da subjetividade. - Qual conselho você daria aos jovens? Para os jovens o conselho é muito simples, envelhecem. – Nelson Rodrigues - José Saramago. A ideia de envelhecer traz a ideia de aprimorar-se, de se tornar mais competente para as ideias que a aventura de viver vai nos passando. - O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão mudando. Afinam e desafinam”. – Guimarães Rosa – o verbo “ser” não traz ideia dinâmica de subjetividade, a subjetividade não é uma fotografia, é algo dinâmico, está passando o tempo todo. ATENÇÂO - A vida é um caminhar sobre uma corda estendida no abismo, não se deve ir nem tão rápido nem tão devagar - Zaratrusta DEVIR - a marca humana que interesse principalmente à psicologia - estamos em formação - alteração de compreensão. A SUBJETIVIDADE NÃO É - ELA ESTÁ. 3. Dialética no caminho da psicologia: - Dois caminhos foram trilhados na tentativa de se compreender melhor essa riqueza desafiadora da subjetividade humana. 1 - Caminho da tradição científica: século XIX – esse caminho é responsável por magnetizar 100 anos de trabalho dos psicólogos. Trata-se de uma valorização enorme da tradição experimental. A psicologia experimental é uma proposta afinada com toda uma conjuntura importante naquele momento histórico. O século XIX é um momento de grande otimismo na história do ocidente. O século XIX colhe progressos científicos e tecnológicos, estava-se no apogeu na revolução industrial. Essa expressão foi valorizada porque contém em si a realidade onomatopaica da alegria e celebração. A aventura ocidental estava envolvidade euforia. As ciências sociais se organizam no cenário do pensamento humano ocidental, aqui nasce uma perspectiva de se fazer uma psicologia científica, que estava apoiada no otimismo, nas forças da psicologia e também no cientificismo. - nesse clima de utopia os psicólogos se organizam de forma positivista, traçam um número grande propostas, escolas, métodos e caminhos a serem trilhados. Buscam determinar os modos de funcionamento da personalidade, dos tipos, do ser humano. estava em jogo a possibilidade de se criar ferramentas poderosas que poderiam até assustar, porque poderiam operar um enorme poder social, regulado por ações e mentes humanas. Obs. VER DOCUMENTÁRIO - HIST´ÓRIA DA CIENCIA - BBC 2 - Tradição humanista – psicologia filosófica: marcou o século XX e está em sintonia com a crise do positivismo. A vida do século XX pode ser apresentada como um momento de se fazer uma balancete sobre os momentos vivenciados. No início do século XX coloca-se a seguinte problematização: o século que se encerra foi um século de grandes expectativas, de depósitos de grandes sonhos e aspirações. Algumas conquistas foram conseguidas, mas a maior medida está ainda para ser cumprida para atingir toda a utopia almejada no início do século. O positivismo é arraigado nas possibilidades da ciência, é ter a visão de que a ciência é o caminho aberto para resolver todos os conflitos e todas as questões humanas. As utopias vão se arrebentar em distopia. No início do século XX a proposta era libertar a humanidade. Houve um momento em que se acreditou que a psicologia avançaria tanto pela medicina que acreditou-se que teria um remédio para todos os males. Mas acreditava-se que isso seria perigoso, porque quem tivesse esse medicamento seria uma espécie de Big Brothter, sendo capaz de manipular as consciências humanas de forma muito poderosa e perigosa. - Aquele sonho, aquela utopia do século XIX era exagerado. - Hoje o melhor da psicologia internacional bebe da dupla fonte, não despreza as conquistas e avanços conquistados pela linha 1 e nem pela linha 2. - No final do século XX retorna o otimismo do século XIX atrelado à uma série de conquistas vindas do espantoso conjunto de possibilidades que se antevê a uma das áreas mais férteis da ciência hoje. - Crise do positivismo: nenhum cientista, consequentemente, nenhum psicólogo, pode considerar-se um cientista “puro”. Todos estão comprometidos com uma posição filosófica ou ideológica. Esta não é a mesma em todos os países, depende dos meios culturais e cria variações e diversidade de escolas. Séc. XIX - Cientificismo Naturalista Positivismo Séc. XXI - Humanismo Crise do Positivismo Psicologia filosófica Obs. O símbolo do positivismo era: AMOR, ORDEM E PROGRESSO Obs. Há uma imprevisivilidade irracional característica na subjetividade - CAIXA DE SURPRESAS - da subjetividade não se sabe como controlar - temos estatísticas e probabilidades - mas nada é exato. 4. Escolas de psicologia: - Três grandes momentos precisam ser apresentados: diferentes escolas de compreensão da psicologia: 1) momento pré-científico: deve ser dividido em: 1.1) o interesse dos filósofos transbordam para assuntos ligados à filosofia. Eles são amigos dos conhecimentos. O interesse dos filósofos derivava para todo e qualquer assunto. Sócrates foi um dos principais filósofos gregos que deixou importantes escritos sobre essa questão. Sócrates tem uma curiosidade para tentar determinar e entender como esta força invisível pode levarmos por este ou por aquele caminho, pode fazer com que a gente percorra essa ou aquela trilha. No conhecimento socrático muito se fala sobre a psique (Texto O banquete – o texto gira em torno de uma questão psicológica, que é o amor). - Platão também esteve interessado nas especulações da psicologia, tentando entender como era a questão da psicologia dentro da filosofia. Platão trata do conceito de metempsicose. Há uma energia na natureza que está voando e trocando de corpo. Quando alguém morre, o corpo vai aprodecer, mas esse sopro, esse espírito, alma, sai voando e se fragmenta e embarga em outros seres viventes. Na verdade, nós somos um amontoado de gente que já morreu e vai nos deixando herança. A cada dia recebemos mais informações de pessoas que passaram por aqui. Trata-se de uma visão que não valoriza o corpo, mas sim a alma. - Aristóteles: propõe no seu livro “De ânimo” o primeiro tratado sistematizado sobre psicologia. Aristoteles faz a seguinte pergunta: Porque o homem é diferente de todas as coisas que existem por ai? Aristoteles diz que existem 04 forças na natureza, 04 almas ou 04 piseques. A primeira delas é que existe em maior quantidade e é a força mineral, faz com que as coisas que são dotadas delas, sejam o atributo da força alimentar. Existe uma outra força que é encontrada em menor quantidade, que é a alma vegetal, que permite que seres dotados deste atributo também consigam se alimentar, nascer, crescer, se reproduzirem e morrerem. A terceira força é a alma animal, que traz outras possibilidades, os animais fazem tudo que os vegetais fazem e vão além. Há uma força da natureza muito exclusiva, que é encontrada em pequeníssima porção. Essa alma só os seres humanos apresentam, e é a logos, a razão, o conhecimento, a racionalidade. 1.2. Idade média: duas figuras se destacam: a) São Tomaz de Aquino: b) Santo Agostinho: - Constroem uma psicologia ligada à questão da religião, retomam ao dualismo, corpo, alma e mente. Para o pensamento medieval, não é importante a aparência, ou seja, o corpo, o importante é a essência. Se ao longo da vida as experiências vão tornando a essência melhor, a psique aspira e poderá entrar no paraíso. A essência que habita o corpo é que importa e ela precisa traçar caminhos bons para poder entrar no paraíso. - Pico della Mirandola – Oração pela dignidade do homem – é um texto interessante em que fala que o homem está destinado a viver em liberdade. Pico é um antecipador do renascimento. Não é preciso valorizar apenas a essência, é preciso também ter uma atenção para as coisas do corpo e do cotidiano. - René Descartes afinado com o pensamento do renascimento propõe uma psicologia que entenda tanto a riqueza da mente, como a riqueza do corpo. No século XVII o Desacartes deixa uma marca para a psicologia que segue até a chegada do século XIX. 2) Momento da psicologia científica: 2.1) Escola Estruturalista: Wundt – (pessoa olha a subjetividade mas precisa atuar na estrutura - no cérebro que está atrás da consciência - PIONEIRO DOS NEUROCIENTISTAS) - funda o primeiro laboratório de psicologia científica. A ideia é estudar as grandes estruturas do comportamento. Num laboratório apresenta certos estímulos e vê que tipo de resposta ele obtém no laboratório. A ideia é compreender grandes estruturas da personalidade. Ele foi fundador da psicologia científica e estava interessado no domínio da vida mental, propósito, valores, intenções, objetivos, motivações. Há uma resposta americana à essa proposta da escola estruturalista. O caminho americano fica conhecido como funcionalismo. 2.2) Escola do Funcionalismo: o grande nome do funcionalismo é o psicólogo norte americano Willian James, ele avalia no seu livro princípios de psicologia, como o homem funciona, porque as pessoas fazem aquilo que elas fazem. Como funciona a subjetividade. 2.3) Escola do Comportamentalismo: Behaviorismo/ Comportamentalismo: Watsmon e Skinner chegaram a perfeição do cientificismo do funcionalismo. Se domino um estímulo, eu estouno domínio da resposta. SINTESE DAS ESCOLAS ESTRUTURALISTAS E FUNCIONALISTAS. Ciência do comportamento pretende criar condições para dominar o esquema elementar de comportamentos. UM ESTÍMULO DESENCADEIA UMA RESPOSTA - para controlar uma resposta basta ter em mãos o estímulo correto - “DÊ-ME UMA DÚZIA DE BEBÊS E UM MUNDO ESPECIFICADO POR MIM PARA CRIA-LOS E FAREI DELES O QUE ESCOLHER - MÉDICOS, ARTISTAS, COMERCIANTES, CRIMINOSOS - INDEPENDENTES DE SEUS TALENTOS, INCLINAÇÕES, HABILIDADES E RAÇA DE SEUS ANCESTRAIS”. Obs. Essa ideia de comportamentalista, de controle científico das pessoas, choca com as ideias filosóficas de incerteza de formação. Estende os estudos de PAVLOV - com os animais. Reforço positivo - estimular como acréscimo positivo, bonificação pelo comportamento correto. Reforço negativo - retira algo pelo comportamento negativo - punição. Estimulo é o caminho para a educação. 3) Psicologia Humanista ou Filosófica: - As escolas científicas crescem, se desenvolvem e vicejam no bojo do pensamento positivista. Trata-se de um olhar utópico, uma forma otimista de se almejar fazer ciência do objeto da psicologia que como sabemos, é a subjetividade. - A tendência das escolas humanistas é adotar uma postura crítica, elas procuram interpretar. Elas compreendem o individuo como verdadeiras caixas pretas criptografadas que precisa ser interpretada. O individuo é visto como alguém marcado por incongruências. Trata-se de uma relação cheia de problemas. - Na nossa época a marca da psicologia é uma postura eclética, um conjunto de ideias variadas. Dizemos que a psicologia da nossa época carrega a marca de um composto heterogêneo, ela vai beber nessa dupla fonte: se alimenta dos conhecimentos desenvolvidos pelas escolas científicas sem conflitar com conhecimentos que se organizaram ao longo do século XX e que estão ligados a uma visão filosófica ou humanista. Nos nossos dias a psicologia se apresenta como uma disciplina muito rica, não descarta a complexidade do humano e nem a visão positivista ou pragmática. 3.1) Gestalt: é o momento em que a história da psicologia de forma muito firme se desassombra do positivismo. É uma escola que apoiada no trabalho muito importante de três pesquisadores alemães, que avançam nas possibilidades da psicologia. Esse trio inicia as suas atividades de reflexão acadêmica em uma proposta que parecia não conduzir longe demais. A proposta inicial era entender como psicologicamente funciona o cinema. A subjetividade é algo profundamente enigmático, uma caixa preta. - Interesses da Gestalt: a) Compreensão do real b) Papel da percepção - A Gestalt coloca em questão uma novidade que atravessa a história moderna da psicologia. Essa novidade atende por: fenomenologia. A Gestalt entende que nós não somos capazes de entender com absoluta integridade a realidade. Nós podemos apenas entender um fenômeno de realidade e não a apreensão do real. Há a apreensão de determinados fenômenos do real. Nas palavras do pai fundador dessa proposta a explicação para esse enfoque da psicologia: “há uma grande diferente ente o que está no mundo (as coisas tal como são em si mesmas, o Real) e aquilo que experimentamos (e podemos conhecer) como estando no mundo (a forma distinta que o mundo assume para cada um de nós, como ele se individualiza através de nossa experiência). Não apreendemos a “coisa em si”, mas somente o seu fenômeno, uma apropriação que depende do sujeito – da estrutura humana de experimentação, da maneira singular como a percepção funciona, de características particulares de cada um de nós.” - O Real nos oferece uma série de condições estimulantes que são trazidas à nossa mente pela percepção e após são integradas no cérebro. As condições revelam para o nosso cérebro um determinado fenômeno. A Gestalt está colocando em xeque nossa noção de verdade e realidade. - A Gestalt questiona a realidade. Questionar a realidade: o que chamamos de real (e acreditamos que seja o real), não passa de uma experiência do Real, vinda de alguns estímulos periféricos, uma massa de sensação que, mesmo grande, não abarca a totalidade do Real. - Fenômeno é o nome que damos para toda a percepção que o nosso sistema sensorial capta. - Experiências de figura e fundo: uma imagem é vista de diferentes formas. A apreensão fenomênica da imagem é ambígua. - Fechamento: duas das atividades nascentes da psicologia da Gestalt: as atividades com figura e fundo e as descobertas com o fechamento. - Nada do que parece ser real é efetivamente real, são experiências sensoriais. - Um único lapso já problematiza até onde podemos confiar na correção da maneira como nosso cérebro (poderoso, sem dúvida, mas não infalível) navega pela realidade. - Noções importantes de Gestalt: a) Confiabilidade: podemos confiar nos nossos olhos? b) Drible da realidade: c) Problematizar: questionar o autocentramento, o autoreferente - Mais recentemente a Gestalt trabalha com estados psicológicos que são o conjunto de motivações, de objetivos, de interesses e expectativas que interferem no nosso campo de experiência. - Estados emocionais e complexos psicológicos atuam na organização dos fenômenos. Essas experiências foram feitas por Hastorf e Cantril – experimentos de tendencialismo. - Psicanálise: - Freud – era um hábil hipnotizador. Freud trabalha com hipnose e histeria. - Ao longo de 27 anos Freud montou o seu método psicanalítico. A psicanálise é uma das mais importantes aventuras do espírito contemporâneo. Freud não explica nada, acredita na subjeitividade como individual, os cientificistas pretendem criar modelos padrões de subjetividade. - 1° Momento: Talking = fala ou conversa. Freud percebe uma vocação para tratar do sofrimento alheio. Ele está contagiado em tratar a alma que sofre. Após ele percebe que tudo aquilo que ele obtém com hipnose ele pode obter sem hipnose. Mas ele precisa da fala, da conversação. Ele percebe alguma coisa que nós intuitivamente sabemos. Mágoas, dores e angústias costumam encontrar escape quando nós falamos. O paciente para curar a alma precisa colocar para fora, precisa falar. Durante a fala o psicanalista precisa procurar a associação livre: incentivar para que conteúdos complicados possam ser verbalizados. A ideia de trazer conteúdos rejeitados à compreensão é uma forma de curar a personalidade que está doente. Podemos associar a prática da associação livre com a existência de um problema. A psicanálise é um processo longo, é preciso recomeçar outra vez a partir da fala do paciente a descobrir problemas e desarranjos e investir em outras possibilidades. Quando localiza aquela dissonância, é possível fazer com que a vida das pessoas ganhe um sentido mais pleno. Trata-se de uma tarefa longa. A associação livre tem um objetivo: ela quer lidar com a questão da resistência. Seria outro conceito importante da psicanálise. - A resistência é aceitar, olhar de frente, passagens da vida da gente que tenham marcas dolorosas ou repugnantes. São espécies de pesos mortos, que permitem que os voos sejam mais efetivos e soberbos. A ideia de resistência precisa purgar a ideia de espremer. A psicanálise é um processo que envolve muita dor. Não estamos aqui para tornar a vida de ninguém num paraíso, a psicanálise faz com que as pessoas cresçam. O crescimento é crise e crise é separação, é dor. Esses passos foram aprendidos na clínica. - Recalque ou repressão: é um mecanismo de defesa que todos nós temos, de tentar esconder, tentar tapar as informações e passagens dolorosas e infelizes da nossa vida. O recalqueé o movimento de encobrimento. Até agora o movimento é de internalização. Ganha todo aquele que conseguir colocar para fora, que tiver coragem e maturidade para sair vencedor do embate. - Catarse: aparece pela primeira vez nos escritos de Aristóteles. Ele escreve um livro falando sobre o teatro e explicando porque gostamos da comédia e tragédia. Aristóteles fala que gostamos de acompanhar tragédias porque elas são fortemente catarse. Em grego a palavra quer dizer descarga. A tragédia nos alivia porque podemos acompanhar outros destinos que não o nosso passando por situações terríveis, que movem a nossa piedade. E nós descarregamos conteúdos emocionais, acompanhando as tribulações desses personagens. - Catarse é liberação emocional. - A catarse vem na tragédia quando no teatro é cantado a última estrofe. Esse último momento da tragédia se chama cataestrofe (a estrofe que fala como as coisas saíram depois daquilo tudo). - Freud percebe que não há sonho que não tenha dois níveis: um nível visível e um nível invisível. Ele chama conteúdos manifestos e conteúdos latentes. Ele percebe que quanto mais a história do sonho é um conto de fadas, mais brutal é o conteúdo latente que subjaz. - O trabalho com os sonhos foi entendido por Freud como um caminho aberto para chegar à reconstrução da vida. Ataca-se para depois construir a vida. - Sexualidade infantil: centenas de pacientes entendidos por ele relatavam que haviam sido molestadas na infância e por pessoas do círculo familiar. A tara não pode estar solta no mundo, segundo Freud. Freud faz a teoria do abandono da sedução. Ele percebe que não é possível que todos tenham sido estuprados. Ele chega à conclusão de que isso pouco importa, porque as pessoas que não foram efetivamente molestadas vivia a fantasia desse molestamento. Freud monta a teoria da sexualidade infantil destacando a importância das fantasias sexuais na personalidade humana. As pessoas montam-se enquanto pessoas e organizam as suas personalidades de uma maneira tal, a partir de um conjunto grande de fantasias sexuais. De um conjunto de sexualidade pautado muito mais pela fantasia do que pela efetivação real, concreta. - Freud fala de sublimação apoiado em Nieztche. Nós temos uma grande energia sexual e não sabemos e a sociedade, não sabe como organizar isso. A civilização lida com uma maneira equivocada com esse combustível sexual. A energia sexual mal canalizada vai para o recalque. E com a catarse é preciso expeli-la. Enquanto essa energia sexual não sai, ela fica nos atrapalhando. Freud dizia que o Homem só quer uma coisa: obter prazer sexual interminável. O Homem quer ter acesso à todas as fêmeas e eliminar os seus potenciais concorrentes. Diante da sublimação, não precisamos nos tornar escravos do sexo, podemos elaborar grandes obras utilizando esse grande combustível que cada um tem dentro de si. - Como se organiza a vida psíquica? Freud entendeu que a vida psíquica está dividida em dois polos concorrentes: consciente e o inconsciente. Não somos donos da compreensão de nós mesmos. Só dominamos uma parcela pequena de nós mesmos. Não sabemos o que acontece na nossa própria casa. - O pensamento e a razão podem ser tudo, menos forças dominantes na natureza humana, comumente estão servindo grandes impulsos e desejos, que são os verdadeiros donos da conduta humana. O intelecto é um servo, torce, esconde e manipula a verdade no interesse de seus poderosos donos. A razão é sempre motivada por necessidades afetivas. - No consciente está uma pequena parcela de informações das quais nos temos clareza. O inconsciente é um depósito enorme, um depósito desarrumado. É uma confusão de desejos e recalques. O consciente está dialogando com o ego (em latim = eu). O ego recebe influência de dois outros atores da nossa vida psíquica (id e superego). O id é aquela força que nos infantiliza, os desejos que superam a nossa compreensão racional das coisas. O id é o depósito da libido, do infantil, do desejo, pulsão (aquilo que nos leva à uma ação por impulso). Em oposição, o superego é a autoridade, é a nossa lei, a nossa moral. O superego é a civilização, os valores da civilização, as regras civilizadas, aquilo que permite a vida institucionalizada. Id tem uma relação etimológica com a palavra idiota = quem não sabe compartilhar. O id é a porção de nós mesmos muito egoísta. Precisamos ter algum egoísmo para sobreviver. Se fossemos pura tolerância seriamos arrebentados pelo mundo. Pessoas com fragilidade de id estão á mercê de forças externas que podem conduzi-las à situações desagradáveis. A civilização é conviver com os outros, é vida em coletividade, é entender que não estou sozinho no mundo. É preciso entender o limite dos direitos alheios. - Id e superego se relacionam com o inconsciente. Vivemos uma experiência filtrada pela nossa dinâmica de id e superego. Neurose (obsessiva, fóbica, histérica) Psicoses (paranoico, esquizofrênico, maníaco-depressiva) - interferências psíquicas mais graves. PSICOLOGIA JURÍDICA: CIÊNCIA EM EXPANSÃO: - Estamos diante de uma proposta complexa e multidisciplinar. A psicologia jurídica se instala numa interface de contato entre a psicologia e a ciência do direito. É aqui nessa interface, nessa possibilidade de contato que se instala a psicologia jurídica. A psicologia se refere ao mundo do ser. A psicologia jurídica lida com o mundo do dever ser. A filosofia do conhecimento olha para essa nova ciência (psicologia jurídica) como um encontro de dois campos bastante distintos. - De um lado temos a necessidade de compreender as tarefas da psicologia (psicologia), de outro lado (direito) temos a necessidade de ordenar e controlar. Psicologia jurídica: importante e inovador campo de conhecimentos interdisciplinares, posicionando exatamente na interface entre as Ciências Jurídica e a Psicologia, entendida como referência auxiliar dotada de um pertinente conjunto de informações relevantes. Há uma base psicológica em todas ações do direito. - A psicologia é o auxílio último às ciências jurídicas, às ciências do direito. Qualquer acontecimento humano vai apoiado na base das realidades concretas. Sobre essa base de realidade concreta, instituímos uma organização sócio cultural. Podemos ainda dar um terceiro passo, sobre a organização sócio cultural encontra-se a expressão do individual, toda a ação humana parte de um individuo que está ligado a uma realidade sócio cultural que está apoiada no concreto. É importante notar que há um elemento da subjetividade, da marca humana, que é o ponto de contato entre individual e o sócio cultural. Obs. O direito, definido de forma simplificada como “o conjunto das normas que regulam a vivência em sociedade”, no limite pode ser entendido como um dos fatores que habilitam a dinâmica relacional entre psiques. Psiques - interioridade subjetiva Direito - ordenação de psiques - O direito busca na psicologia a possibilidade de ultrapassar a literalidade da lei, encontra subsídios para decisões que melhor atendam as demandas sociais, compreendendo os modelos psicológicos que, direta ou indiretamente, inspiram o ordenamento jurídico. - A psicologia vem servindo como um questionamento da visão predominantemente positivista. A psicologia apresenta um viés questionador. O direito não pode e não deve ser absoluto. O direito para operar de maneira mais efetiva precisa estar aberto à aceitação e compreensão da realidade. - A psicologia (como outros campos de saber acessório) permite ao Direito ir além da mera acumulação de fatos. Possibilita uma análise aprofundadado contexto, valorizando aspectos conscientes e inconsciente que mobilizam os indivíduos às condutas humanas – permeadas de fatos, desejos, sentimentos, interesses, vontades e motivações. - Em última análise, o motor dos problemas impostos pelo Direito são as questões humanas estudadas pela psicologia. Portanto, a psicologia funciona como um campo de conhecimento acessório a serviço dos profissionais das ciências jurídicas. - “O crime não é apenas uma abstrata noção jurídica, mas um fato do mundo sensível, e o criminoso não é impessoal, mas um exemplar flagrante da humanidade.” – Evandro Lins e Silva, Arca de guardados. - O bom operador do direito precisa, deve, ter algum conhecimento a respeito da natureza humana. O bom operador do direito precisa montar um campo de experiência e sensibilidade em relação à psicologia para crescer a sua sabedoria nas ciências jurídicas. - A psiquiatria forense é um ramo da medicina legal que estuda casos em que alguma pessoa, pelo estado especial de sua saúde mental, necessita consideração particular perante a lei. Eficácia e os desafios da psicologia jurídica: - A psicologia jurídica auxilia no campo do direito, mas é preciso verificar se ela auxilia de forma eficaz. A psicologia precisa nos tribunais, valorizar tudo que seja humano. O seu compromisso é com o humano. Os psicólogos jurídicos trabalham com dois grandes desafios, trabalham com a questão da desalienação e com a questão da emancipação. Trata-se de uma procura sobre a verdade. Procura-se a verdade em relação ao ser humano. - Roudinesco: o papel da psicologia é interrogar a condição humana, compreender e formular verdade sobre os sujeitos. Negar a desumanização daquilo que precisa se manter humanizado. - A psicologia é eficaz quando gera autonomia. Permite que o humano se expresse. A autonomia é conquistada nos relacionamentos interpessoais. - Homem não deve temer a morte. - Nada a temer em relação aos deuses – os deuses são todos poderosos, que não estão interessados nos nossos minúsculos destinos humanos. - O homem deve conquistar a sua autonomia. - O homem conquista sua autonomia quando ele não se deixa ser levado. - O homem pode e deve ser feliz. Comunicação e relacionamento interpessoal: O homem é um animal social e de comunicação. O homem tem o logus que o diferencia das outras espécies. Logos é pensar e comunicar. Obs. os ocidentais nunca estão satisfeitos com a doxa - opinião. - A profissão do direito é uma profissão marcada por relações interpessoais, que se realizam na práxis comunicacional. - A psicologia fala que a comunicação se aprimora quando desenvolvemos o auto conhecimento e a alteridade (compreensão do outro) – conhece-se a ti mesmo. - O conhecimento é o primeiro passo para compreender os outros. Compreender os outros é desenvolver uma série de habilidades e competências. - 04 capacidades ligadas à sapiência: a) Capacidade de observar: observar ≠ ver. Base do sucesso no relacionamento interpessoal. Compreender as mensagens verbais e não verbais, os esquemas de pensamento, os detalhes do comportamento (postura física, inflexão de voz, etc.). O objetivo é criar uma síntese apoiada na neutralidade, livre de preconceitos, mecanismos de defesa e interferência emocionais. Observar é um filtro, é entender a realidade. O ver é puramente mecânico. O observar transcende o verbal e valoriza também o não verbal. É preciso cuidado e discernimento para evitar equivoco. b) Escutar ≠ ouvir: ouvir é puramente mecânico, não cristaliza o conhecimento. Disposição e maturidade para aceitar e compreender o outro. Escutar de maneira significativa permite ao interlocutor, ao se expressar, raciocinar e concluir, ordenar as ideias, aprimorar a argumentação, ajustar os esquemas de pensamento. c) Habilidade para dialogar (≠ falar): sinaliza o grau em que ocorreu a compreensão. Expõe crenças, princípios e valores. Conduz a troca de conteúdos e o ajuste racional das situações. d) Empatia (≠ acolher em profundidade): acolher em profundidade, incorporar o esquema do outro – para compreender sob a ótica dele. Reconhecer as forças afetivas e racionais que movem a pessoa e a situação, perceber fraquezas e pontos fortes, discriminar o essencial do acessório. Empatia está relacionada com a lógica do vendedor – é a capacidade de entrar na coerência interna do comunicador. Pathos - paixão ou doenças Empatia - sentir as paixões de uma pessoa Essas competências somadas, criam duas situações: 1) Situação positiva: comunicação gerando uma relação interpessoal – sujeito perfeito 2) Situação negativa: sujeito imperfeito – não avança, não progride, o sujeito que tenta comunicar é incerto. Arquitetura do pensamento: Cognitivo Afetivo Comportamento - conhecimento reduzido (polo negativo) - contra - agressivo - conhecimento vasto (polo positivo) - a favor - apologia - trata-se de um gabarito para entender a conduta humana. Forças defensoras da personalidade: - No quadro anterior, qualquer pensamento humano pode ser integralizado. - Valor: não é universal, estrutura a vida social, gera atitude e recebe influência das crenças e normas. Gera atitude e recebe influência das crenças e normas; - Crença: confiança em uma verdade ou na existência de algo que não é imediatamente suscetível à prova rigorosa. Evidente para aqueles que partilham, absurda para os outros. - Norma: critério (mais ou menos) solidificado para solucionar e justificar ações e para avaliar os conceitos ou indivíduos, inclusive a si mesmo. Indica a maneira mais esperada de se comportar e escolher objetivos. - Em algumas situações vai houver uma cooperação maior ou menor ou então, um conflito maior e menor. Perfis de personalidade – tipos ideais (arquétipos - função pedagógica): a) Idealista: é alguém que tem uma grande crença. Mas a norma projetada não é tão grande como a crença. O que resta é a sua individualidade. b) Conservador: tem crença pequena, é o rei da norma e sobra-lhe uma grande individualidade. c) Liberal: tem uma crença pequena, norma pequena e vasto terreno de individualidade. - A individualidade é entendida como o terreno vazio, ainda não cultivado. É um espaço que pode ser usado depois para crenças e normas crescerem. - Quando a comunicação funciona com perfeição, avançamos. Quando há uma incerteza de comunicação, muito frequentemente caímos num conflito. A comunicação pode e deve ser entendida como geradora de compreensão, quando há um ajustamento de interesses (polo positivo). A psicologia jurídica entende as pessoas como seres do conflito. CONFLITO - A única coisa com que todos concordamos? É que não concordamos. (Marco Aurélio, Meditações). - A aventura humana não é ferroviária, é uma navegação de caravelas. Nossa aventura de viver não é como as rodas nos trilhos, o trem só passa onde a trilha está. As caravelas não navegam por percursos definidos por natureza tácita. Sartre: - O inferno são os outros. Aristóteles - O homem é um animal político. Sartre - O homem é um animal político que detesta seu semelhante. Ideia de solução: - A solução pode ser encaminhada de duas maneiras. E essa distinção é importante e fundamental: a) Métodos tradicionais (psicologia destrutiva): o método tradicional é aquele ligado ao julgamento, também chamado de método adversarial, método heterocompositivo. Aqui os conflitos são resolvidos de maneira hetero compositiva. Alguém fora do conflito, é que apresenta a solução. É a soluçãoadjudicada, passa por um juízo, por um julgamento, é o caminho do contencioso. Alguém ganha, alguém perde. Estamos no domínio do que a psicologia jurídica chama de cultura da sentença. - Do ponto de vista psicológico, o método tradicional comporta, carrega, uma grande carga de psicologia destrutiva. b) Métodos alternativos de solução de conflitos - psicologia construtiva (MASC): a solução é autocompositiva, consensual, colaborativo, cooperativo. Todos ganham. Não há cultura da sentença. O que temo é a cultura da pacificação. A psicologia aqui é construtiva. É uma tendência que gera crescimento e autonomia. Obs. certas formas de conflito são necessárias para evolução e transformação do homem. - Kant – Livro: Crítica do Juízo: “Estivesse o homem sozinho no mundo, como seu primeiro habitante ou seu último sobrevivente, e não haveria necessidade de Direito, por ausência de possibilidade de interpretação e conflito de interesses, cuja repercussão na ordem social impõe a regulação jurídica, tendente à pacificação.” - Kant apresenta que o homem é um ser de conflito que precisa ser pacificado para que ocorra a aventura social. - Rubin Kriesber: Espirais de conflito: “segundo o modelo de espirais de conflito, há uma progressiva escalada, em relações conflituosas, resultante de um círculo vicioso de ação e reação. Cada reação torna-se mais severa do que a ação que a precedeu e cria uma nova questão ou ponto de disputa.” – o conflito costuma gerar ainda mais conflito. Exemplo: uma simples briga porque alguém esbarrou no retrovisor de outro alguém no trânsito pode terminar numa espiral de conflito que pode ter o pior dos desfechos possíveis e imagináveis. - É um pouco causa perdida tentar manter-se afastado dos conflitos. Não há vida humana que prescinda integralmente no conflito. Apenas um monge budista seria uma hipótese de alguém que vive fora dos conflitos. Todos estão mergulhados e submersos na piscina do conflito. - É preciso solucionar o conflito. E essa é a justificativa que Kant chama de: “Função Social do Direito.” O direito é respeitado como uma das proposituras mais nobres do pensamento civilizado porque ele faz um movimento de meta civilização. Ele responde a serviço das manutenções das bases de civilização. - Definição de julgamento: é o método tradicional. Heterocompositivo. O poder judiciário decide. Tipicamente adversarial, uma parte perde e a outra ganha. – estamos diante daquilo que se estabeleceu como paradigma para a questão. Há uma tradição, uma longa utilização e emprego deste caminho. Este caminho é responsivo, chega a resultados interessantes e questionáveis. Mas recentemente outras propostas tem sido feitas. É importante destacar o método tradicional como um paradigma. Modernamente, as pessoas que tem pensando a partir do método da psicologia jurídica tendem a querer superar esse paradigma jurídico. - No Brasil os indicadores apontam para as seguintes estatísticas: costumeiramente encaminhamos a solução dos conflitos na margem de 70 a 75% das vezes optando pelo caminho tradicional. Em 25% o método escolhido é o alternativo. Curiosamente esse não é o panorama internacional. Em outros países, os números são bastante diferentes. Nos países que abraçaram a cultura da pacificação antes do Brasil solucionam os conflitos de maneira autocompositiva. Fases do Conflito Latente - partes não assumem a existência do conflito ou muitas vezes não tinham consciência de que existiam Percebido - partes percebem o conflito embora nenhuma delas se manifeste acerca do mesmo. Conflito sentido - os indivíduos estão envolvidos emocionalmente sofrendo sentimentos negativos. Conflito manifesto - declarado pelas partes para terceiros - tornado público, interferindo no ambiente que cerca os contendores. Obs. Definições formais dos MASC: a) Conciliação: tem espaço judicial, é aplicada em varas especiais. Apoiada na figura do conciliador (imparcial), que induz as partes a comporem a solução propondo sugestões para o acordo, indicando mútuas concessões. A sua natureza é contratual, convencional ou regulamentada. - O objetivo é colocar fim ao conflito. Na busca de soluções o conciliador mantém a restabelece (se necessário e possível) a negociação. Interfere e questiona, opina e sugere alternativas, auxilia na elaboração do acordo. - Não tem, entretanto, poder de decisão – a homologação será feita pelo juiz. - Na conciliação não há interesse em buscar ou identificar razões ocultas ou questões pessoais. O conciliador procura mostrar as vantagens de um acordo, que, muitas vezes com concessões mútuas, evita maiores prejuízos (demora, custo, incerteza, desgaste emocional, etc.) - O fato do conciliador ser imparcial não quer dizer que ele seja neutro. A conciliação não está sob clima de neutralidade. O conciliador tem como objetivo concluir assertivamente a atividade de conciliação. Ele trabalha opinando, sugerindo alternativas que podem culminar na elaboração do acordo. b) Mediação: tem caráter extrajudicial, podendo ocorrer antes ou depois de instalada a controvérsia, acordo deve ser homologado em cartório: - As partes devem ser autores das decisões. A figura do mediador, que é escolhido de comum acordo pelas partes, serve de canal de comunicação entre os litigantes visando uma decisão em que prevaleça a vontade das partes (e nunca a sua). Explora o conflito para identificar os interesses – que se encontram além ou ocultos pelas posições (queixas manifesta). Não decide, não sugere devolução, mas trabalha para que os envolvidos a encontre, atua ajudando, criando condições para que se firme um acordo.- Reconhecer o ponto de vista do outro é fundamental e o mediador, mantendo o cano de comunicação aberto, impedindo a ruptura do relacionamento e construindo um ambiente colaborativo, empenha-se para que isso aconteça reciprocamente entre os mediandos. O marco distintivo da mediação é a valorização dos conteúdos emocionais. - na conciliação o conciliador tem um bom cabedal de conhecimento jurídico, porque ela é contratual, está prevista estatutariamente. Geralmente conflito trabalhista pede a conciliação. A Mediação não, ela tem uma afinidade com o conflito da área do direito de família. O mediador não precisa ter nenhum conhecimento jurídico, o trabalho que ele desenvolve é diferente daquele feito intramuros do fórum, é um trabalho de tentativa e de acerto, de posições que tenha uma base afetiva. Se ele chega numa base a contento, esse acordo será homologado no cartório e terá validade jurídica caso seja questionado em algum momento posterior. Mas espera-se que a mediação bem sucedida finalize um contencioso que não precisará ser retomado no paradigma tradicional. Característica da mediação: Voluntária Confidencial - exceções: risco de morte, maus tratos, delitos graves Econômica Profissional - A mediação promove: deslocamento de emoções negativas para positivas; concentração nas responsabilidades pessoais; desenho pró-ativo do futuro (focalizando o bom); valorização dos relacionamentos interpessoais; independência e autocontrole; melhor equilíbrio de poder; amadurecimento; aprendizagem, novos comportamentos, crenças e visões-de-mundo - Certos conflitos pedem a solução contenciosa. Mas outras questões dada a sua natureza, parece se afinar com a possibilidade de mediação ou conciliação. A mediação mais nova é a grande aventura que agora ocupa as cabeças que entendem a sua flexibilidade. A mediação serve para determinados conflitos, não para todos. Quando empregada, traz vantagens muito significativas.Uma contribuição importante que a psicologia vem oferecendo com o mundo do direito. - Os métodos alternativos estão apoiados em pontos comuns. Conciliação e mediação estão apoiadas no mecanismo de negociação. - Negociação ganhou destaque por dois motivos. Ela entrou na agenda no mundo corporativo. As empresas e corporações apresentam na sua agenda um interesse destacado pela negociação. Há uma força motriz do pensamento empresarial, ela ganha um destaque mais animado e dinâmico porque as estratégias de negociação se revelaram para finalidades bélicas muito apropriadas. Foram os israelenses que perceberam vantagens na aplicação e no uso prático da negociação. Durante muito tempo, o exercito, as forças armadas de Israel optaram por tentar solucionar os problemas que surgiam, através do emprego da força. Exemplo: um ônibus sequestrado – as forças marciais eram mobilizadas para um tentativa de mobilização de força. Às vezes dava certo e outras vezes o panorama não era atingido. O preço humano pago era bastante grande e incalculável. Pela altura dos anos 70, uma proposta interna começou a ganhar espaço e se ternou hegemônica. Essa proposta pedia uma tentativa de solução sempre negociada antes do emprego da força. Daí, para as empresas foi um pulo. As empresas inspiraram-se nas técnicas negociais. - É bom destacarmos os passos que devem ser dados nessa negociação. É bom estarmos com os olhos presos na cartilha que é a cartilha da negociação. Passo 1 da atividade de negociação: é a conscientização: deixar clara as vantagens da negociação. Explicar resultados possíveis. Indicar os riscos e ônus do litígio. Mostrar que a via negociada não representa de modo algum qualquer indício de fraqueza ou subordinação. - Willian Ury propõe através da troca de papeis um exercício interessante. Entende que o pensamento alheio é o problema. Então precisamos embarcar naquela visão, entrar numa situação reversa. Algumas propostas são fulminadas pelo destinatário exatamente por carecerem de qualquer percepção sobre o que seria aceitável do ponto de vista de quem as recebe. A troca de pápeis seria uma solução para os conflitos. - Passo 2: ação: concentrar no objetivo, criar uma atmosfera favorável para o diálogo. Fugir do erro fatal, o mau-hábito de brigar. - Se algo compromete a ação de negociação, a ação de negociação é um desentendimento. - Partes dinâmicas: 2.1) Preparar: organizar as medidas antes do primeiro contato. Buscar maior quantidade possível de informação. 2.2) Negociar: estimulando o bom relacionamento, ultrapassar ressentimentos, explorar os interesses em jogo, discutir opções que agreguem valor. Trocar propostas no sentido de avançar e obter resultados e soluções. 2.3) Fechar: esgotadas as possibilidades (e em função do tempo disponível), decidir ou não por fechar um acordo. Avaliar a qualidade do compromisso e os seus benefícios mútuos. 2.4) Conclusão: após o acordo, celebrar o fechamento elogiando a conduta e os aspectos positivos, a boa-vontade e maturidade dos participantes. Superar o desgaste emocional com serenidade e a certeza da boa opção. - Quando o fechamento é válido? Deve ser explorada a alternativa. Quem trabalha com negociação é muito comum estar lidando com MASA: • Melhor • Alternativa • Sem • Acordo - É sempre vantajoso que uma parte da negociação tenha clareza em relação a sua MASA. É vantajoso ainda ter clareza com relação à MASA da outra parte. Deve fechar o acordo numa base que deve ser melhor do que fechar o acordo sem alternativa. Qualquer questão negociada leva em conta a MASA. Exemplo: tenho direito de receber uma quantia X. Questões mostram que posso receber essa quantia em 07, 07 ou 10 anos. Esse valor deve ser colocado em função do tempo para pensar a MASA. - Relação entre interesses e posições: 1/8 Posições 7/8 Interesses - Balizas de interesse: 1) Recursos: capital, habilidades, competências são fatores que devem ser levados em conta. 2) Orientações: valores e ligações emocionais costumam ser diferentes de pessoa para pessoa. 3) Prognósticos: as pessoas enxergam o futuro de maneira diferente. 4) Visão de risco: enfrentar ou fugir dos riscos é marca individualizada das personalidades. 5) Tempo: necessidades mais ou menos prementes, maior ou menor prazo pode significar muito. - Competição: é avidez, determinação e impaciência. Quer garantir a forma como as coisas vão ser estruturadas. Propostas ambiciosas, fortes e se preocupa em demonstrar que está certo e não há nada a defender na posição contrária. - Acordo: valoriza o relacionamento e o entendimento. Empatia e pouca firmeza. Atuação suave, procurando resolver diferenças da forma menos traumática possível. - Evasão: desconfortável naquela situação conflituosa. Não quer competir, desliga-se nos momentos mais tensos. Não acredita que as discussões possam levar a algum lugar. Não quer lidar com o problema de frente. VERDADE: - Deve ser falado sobre a natureza da verdade que pode ser: a) Epistemológica b) Ontológica - Também deve ser falado sobre a dialética da verdade: a) Posição idealista (é a verdade judicial – verdade do direito) b) Posição materialista - Os gregos estavam muito interessados na natureza da verdade. Existem duas verdades muito diferentes. A verdade da geometria e da matemática é inquestionável. Mas a verdade das pessoas não pode ser quantificada, não pode ser mensurada. - Verdade epistemológica é a verdade absoluta da ciência. A verdade imperfeita, mas útil para os seres humanos é a verdade ontológica. - A verdade total da ciência (verdade verdadeira), inquestionável, opõe-se um conceito existencial e mais imperfeito: que entende como autêntica a verdade que se torna efetiva no livre impulso da experiência individual, a verdade que é abraçada com fervor na intimidade. Essa verdade é apropriada para dar validade real aos desafios que os seres humanos enfrentam no seu contexto de vida. A verdade ontológica não é a verdade epistemológica. - Aristóteles dizia que um homem sábio e bom estava sentado admirando uma paisagem. De repente um segundo homem passa por este homem bom e diz: Puxa vida, estou numa fria. Estão me perseguindo. Querem me matar. O homem sábio e bom fala pra ele pegar uma direção e seguir. O homem bom e justo fala que desde que ele estava sentado lá, não viu ninguém passar. Por de trás dessa história há a verdade. O homem bom não está mentindo. - No mundo epistemológico a verdade é sempre assertiva. No mundo ontológico é filosófico pensar em verdade, deve pensar em verdades, cada uma delas envolvendo uma pessoa humana numa determinada pessoa. - O idealismo platônico é negar as coisas que estão no nosso mundo real. Ele habita no mundo das ideias perfeitas ou puras. As coisas das verdades estão além das aparências concretas. Em oposição à essa tendência, temos Aristóteles (figura Escola de Atenas) que contemporiza e mostra o chão, porque as coisas que estão na realidade do mundo é as que lhe interessam. Ele usa sandálias porque algo que pode lhe ferir pode também materialistamente ser evitado. Platão e Aristóteles apresentam duas ideias divergentes sobre a verdade. Temos uma posição de busca de verdade, em tudo que está além das aparências e a verdade que é revelada pela aparência do mundo. Essas posturas distinguem pessoas, escolhas e escolas de pensamento ligadas ao seu desejo de encontrar a verdade. A verdade não está além de nada, a verdade é o que temos a nossa disposição. - A verdade epistemológica materialista é a verdade damatemática. VERDADE JUDICIAL: - Como posso trabalhar para obter verdade judicial? A verdade judicial nasce do encontro de uma série de subjetividades dos julgadores, das testemunhas e das partes. - O julgamento é uma relação que se comunica com coisas que já ocorreram numa realidade anterior. O julgamento não é o acontecimento. O acontecimento é o real. - Juiz, jurados, acusadores e defensores trabalham com relatos e não com a realidade dos fatos. Trabalham com palavras e, como bem observou Tayllerand: “a palavra foi dada ao homem para disfarçar seu pensamento.” - Seria bom se tivéssemos um termômetro que pudesse medir a verdade. É muito difícil encontrar as balizas com segurança para a construção de uma verdade judicial. - Os pesquisadores na Áustria chamavam jurados e faziam composto de casos verdadeiros no tribunal, com casos inventados. Percebeu-se que não era muito difícil chegar a erro, manipulando a subjetividade. Algumas vezes acabavam por condenar inocentes. - A verdade judicial aflora através da perspectiva sociocultural e dos filtros cognitivos e emocionais. Valores, conceitos, experiências, expectativas, crenças e estrutura mental funcionam como referências moduladoras. - Apelar para a emoção é uma ferramenta que está sempre a disposição do defensor ou de quem lida com a verdade judicial. - Diante de tantos desafios e de tantos subterfúgios, como fazer? A psicologia busca numa sabedoria anterior, da filosofia, o caminho que vai nos tirar deste labirinto. Muitas vezes, a psicologia nos tira deste labirinto. Busca na visão de mundo de Sócrates o caminho que devemos traçar para conseguir a verdade judicial. Sócrates foi o mestre da conversa, do diálogo, da entrevista. Se o interrogatório fosse bem conduzido a maiêutica afloraria no final e seria a expressão da verdade. Trata-se de um processo que está apoiado no domínio técnico da entrevista e também na feeling (sensação, impressão, espécie de repertório humano amadurecido a serviço da construção da verdade). Para construir boa verdade judicial precisamos ter domínio técnico da entrevista e feeling. - O entrevistador sabe que existe a chance de simulação, de má intenção, de distorção do fato. A diversidade de maneiras de perguntar constitui um artifício para levar a pessoa a se expressar com sinceridade (ou a se contradizer). Daí usar perguntas fortemente explorativas, ardilosas, ambíguas, indutivas, hipotéticas, enfim, investigadoras. Entrevistar corretamente coleta grande quantidade de informação, compõe rico conhecimento a respeito do entrevistado e da situação que se analisa. - A entrevista segue sendo o melhor caminho para o estabelecimento da verdade judicial. Tipos de pergunta: - Como devem ser as perguntas numa entrevista? - Temos a entrevista com perguntas abertas (entrevista aberta) e a entrevista com perguntas fechadas (entrevista fechada). Tipos de condução da entrevista: - Temos 03 possibilidades: a) Entrevista estruturada: obedece um roteiro, normalmente usam perguntas fechadas. b) Entrevista não estruturada: não tem ponto de partida, não tem ponto de chegada, não tem estrutura pré-determinada. c) Entrevista semi-estruturada: alterna um roteiro que o entrevistador leva com ele a uma disponibilidade de informações que podem ser utilizadas no calor da hora por parte do entrevistador. Ordem da entrevista: a) Centrífuga: parte de um questionamento que apresenta o centro do problema, o fato principal. b) Centrípeta: é mais eficaz, mas também demanda mais capacidade para lidar com as questões do humano. Parte dos elementos acessórios para chegar ao central. Registro: - São 04 possibilidades: a) Por escrito: b) Oral com anotação manuscrita: c) Oral com gravação: d) Combinação de registros: - E entrevista por si só não funciona como gostaríamos que ela funcionasse. É preciso também uma capacidade de sintonia emocional. A sintonia emocional está ligada à um conhecimento da natureza humana. - O bom entrevistador tem que aceitar as diferenças individuais, entender como lidar com silêncios e emoções intensas do entrevistado. Não só é importante ter este domínio técnico, mas também saber como perguntar. É fundamental nesse processo de obtenção de verdade judicial, ter um jogo de cintura humano. A MELHOR ENTREVISTA É ABERTA, CENTRÍPETA, SEMI-ESTRUTURADA. Postura despida de preconceitos. Adequar-se ao nível cognitivo Lidar com a ansiedade Histriônico - positivo - extrovertido, sedutor negativo - volúvel e inseguro Narcísico - positivo - busca a melhoria negativo - arrogante Esquizoide - positivo - autonomia, eficiência negativo - distante, alheio Evitativo - positivo - detalhista, produtivo negativo - solidão, pouca participação Paranóico - positivo - abservador, controlador negativo - persecutório Independente - positivo - segurança negativo - inflexível Ousado - positivo - inovação negativo - imprudência Conservador - cauteloso, realista Negativo - fechado Expansivo - positivo - facilidade de relacionamento negativo - perda do auto controle, agressivo Criativo - visão ampla negativo - reduzida atenção ao cotidiano, pouco prático Comportamento de partes e testemunhas: - Até onde os seres humanos estão no domínio da teatralização. - O polígrafo pode condenar um inocente que tenha uma personalidade um pouco mais frágil e absolver um culpado que tenha uma capacidade de dissimulação e de autocontrole maior do que a média. - A teatralização é fato comum. a antropologia nos mostra que inexiste pessoa que não teatralize ao saber-se observada. Por isso, é preciso, sempre, cuidado ao interpretar. Hábitos, cultura local, bagagem emocional, condicionante, realidade sociocultural interferem. Evitar conclusões precipitadas, mecanismos automáticos de defesa. DANO PATRIMONIAL: aquele que afeta os bens economicamente apreciáveis; por exclusão, define-se dano moral aquele a que não correspondam as características de dano patrimonial. - O dano moral envolve uma questão de ideal, uma lesão da nossa imagem, daquilo que somos. É uma dolorosa sensação de ataque à alma. Não comporta uma fácil estimação pecuniária, o dinheiro não é o parâmetro adequado. Tem uma aferição muito complicada. Como avaliar, como quantificar, qual parâmetro usar, qual o preço da dor? Como indenizar com relação à dano moral? - A situação se restaura perfeitamente com a sanção pecuniária, sobretudo quando se trata da pessoa e suas características profundas: estima, otimismo, confiança, serenidade, ânimo, sensibilidade, integridade, sentimentos, angustias, afeições, crenças, imagem, liberdade, contentamento, honra, dignidade, nome, etc. Exemplo: o valor da indenização por paraplegia deve ser maior do que o da indenização por morte, porque não há como negar o impacto psicológico e a dor íntima que pode causar para um pai de família, saudável e ativo, a constatação de ver-se preso a uma cadeira de rodas pelo resto de sua vida. Nas ações de indenização, tendo em vista a ausência de um critério legal, objetivo e tarifado para a fixação do valor do dano moral, não são raros os casos de divergência na sua quantificação. Paraplegia é mais grave do que a morte, pois implica no prolongamento do sofrimento. - Lesão ao self: é a lesão à imagem. É o direito de ser como se é. A questão é presencial. - Imagem é a expressão externa da pessoa, a qual pode ser tomada em conjunto ou separadamente – a boca, os olhos, o cabelo, etc.- individualizando a pessoa. - Lesão aos sócios: é a lesão à honra. Está ligada ao pertencimento ao grupo. É uma questão de conotação pública. - Lesão à honra: honra possui uma conotação pública e social. O bem é a consideração social legada à paz na comunidade e a preservação dos laços sociais. - Ampliação das salvaguardas fundamentais da pessoa humana ao abranger não apenas a vida, a saúde e integridade física, mas também a dignidade como valor maior. Como indica Karl Lorenz: dignidade é prerrogativa de todo ser humano em ser respeitado, de não ser prejudicado em sua existência e de fruir de um âmbito existencial próprio. Assédio moral: assim que nasce o trabalho nasce a questão do assédio moral na forma de escravidão. No ocidente o preço dessa questão é exorbitante. É a exposição dos trabalhadores a clima de terror psicológico, situação humilhante, repetitiva e prolongada durante a jornada de trabalho, sendo mais comum em relações hierárquicas autoritárias. O efeito psicológico é a desestabilização subjetiva da vítima. - A conduta abusiva manifesta-se através de comportamentos, palavras, atos que possam trazer danos à integridade física ou psíquica (mais comumente), gerando sofrimento e degradando o ambiente de trabalho. - Nos EUA a questão do assédio no trabalho tem comprometido anualmente a soma de 45 milhões de dólares. A União Europeia orça em 3 ou 4 milhões do seu PIB em despesas relacionadas ao assédio moral no trabalho. - A OMS alerta para o perigo do assédio moral. Assédio sexual: - É uma conduta antiga, contudo hoje olha-se para essa temática com olhos mais liberais. O grande alvo na história do assédio sexual é a mulher. - Caracteriza-se por incitações sexuais inoportunas e não desejadas, propostas, solicitações ou outras manifestações da mesma índole, verbais ou físicas, com maior ou menor emprego de violência, criando situação ofensiva, hostil, de abuso ou de intimidação. - O assédio sexual é uma expressão de controle e de superioridade dos homens sobre as mulheres. Essa noção fica completamente clara após a década de 60, com a Revolução de Costumes e a possibilidade de se discutir mais abertamente a questão sexual. - Fere dois princípios básicos: a) Boa-fé: o relacionamento humano deve ser regido por ele. Caso contrário não há condições de se manter. b) Razoabilidade: conduta humana deve ser guiada pela razão. Na dinâmica de interação entre as pessoas, a razoabilidade deve se mostrar presente o tempo todo. - De acordo com a lei 10.224/01, a conduta inadequada que parte do superior hierárquico para o subordinado e se repete mesmo quando a vítima repele. - No Brasil a questão do assédio sexual é cultural, a Lei 10.224/01 não pegou muito, porque ela foi importada dos EUA e a cultura americana é muito mais fechada do que a nossa. O beijinho social é mais do que tranquilo e aceitável no Brasil, o mesmo não ocorre nos EUA. - A importância do controle do assédio sexual é reconhecida em todo mundo civilizado. Trata-se de atitude profilática, medida que pode evitar um problema maior. Muitos crimes de caráter sexual começam com o assédio. Relação do magistrado com a sociedade: - É o direito que garante uma sociedade apaziguada e organizada. O magistrado é uma figura do universo do direito. - Hobbes insiste que ou temos o contratualismo, ou descambamos para a luta de todos contra todos que nos levaria para a deslanche da barbárie do barbarismo. O juiz é visto como depositário de grandes esperanças da sociedade. O juiz possui os meios pacíficos para solucionar os dissídios. - Hoje e sempre no mundo civilizado – civilizado, em grande medida, exatamente por isso – a sociedade guarda grandes e esperançosas expectativas, acreditando que a atuação do juiz equaciona e resolve problemas graves e antigos. - Expectativa em relação ao juiz: a) Celeridade: o juiz está sob a pressão da sociedade. O juiz precisa agir sem demora, com celeridade. Ele precisa solucionar as pendências num horizonte aceitável. b) Autonomia: os juízes precisam apreender as aspirações sociais e interpretá-las corretamente. O juiz precisa estar em sintonia com o momento que vivemos que é de urgência e transparência. - A sociedade espera que seu juiz compreenda o quadro das aspirações sociais, realizando trabalho de notável competência técnica, mas não apenas. Que se imprima nas decisões convicção, valores, lucidez capaz de ultrapassar os postulados positivistas. - O juiz deve ter na sua relação com a sociedade, ter respeito a três fatores: participação (sempre que possível o juiz precisa interagir com o meio social), neutralidade (valorizar com extrema atenção a imparcialidade e a objetividade), respeito (lidar com o entorno social de forma respeitosa, valorizando a cidadania e a dignidade humana em todas as circunstâncias. Agir com ética, consistência e acuidade). - Estamos diante de um exagero abusivo de poder que tem maculado um número expressivo de magistrados. Relação do juiz com a mídia: - A mídia se tornou o 4° poder, nos últimos 30 anos e o judiciário tem uma relação de namoro melindroso com a mídia. É preciso preservar a relação que o juiz tem com a mídia, porque estamos falando das duas colunas que sustentam um monumental edifício que atende pelo nome de democracia. - Judiciário e imprensa consolidam-se mutuamente. A imprensa pode ser esteio para assegurar a independência do judiciário, e este pode ser o ponto de sustentação para o exercício de liberdade de imprensa. - Entre justiça e imprensa é comum, infelizmente, a existência de uma espécie de desconfiança mútua – mesmo de conotação preconceituosa -, mostrando a existência de um desconhecimento recíproco.
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