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O CONTO FELIZ ANO NOVO, DE RUBEM FONSECA A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA

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O CONTO FELIZ ANO NOVO, DE RUBEM FONSECA A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA
Acadêmico: Cristiano Pereira de FRANÇA (CESBA/UEMA)
RESUMO
Este artigo visa contribuir para a discussão da obra “Feliz Ano Novo” do contista Rubem Fonseca, partindo da explicação sobre a visão sociológica, descrevendo o seu surgimento deste termos e os autores que tiveram sua parcela de contribuição, fazendo com que o resumo da obra nos traga a refletir sobre a realidade em que vivemos e a realidade dos acontecimentos, transferidos para o mundo ficcional através da narrativas.
Palavras-chave: Sociologica.Conto.Rubem Fonseca.
ABSTRACT
This article aims to contribute to the discussion of Ruben Fonseca 's "Happy New Year", starting from the explanation of the sociological vision, describing its emergence of these terms and the authors who had their share of contribution, making the abstract of the work Brings us to reflect on the reality in which we live and the reality of events, transferred to the fictional world through narratives. 
Keywords: Sociologica.Conto.Rubem Fonseca.
INTRODUÇÃO
A crítica usada para analisar o conto “Feliz Ano Novo” de Rubem Fonseca, foi a crítica sociológica partindo do ponto que mesma foi criada dentro de um contexto; numa determinada língua; dentro de um determinado país e numa determinada época, onde se pensa de uma certa maneira; portanto, ela carrega em si as marcas desse contexto.
José Rubem Fonseca é mineiro da cidade de Juiz de Fora, nascido em 11 de maio de 1925. O escritor graduou-se em Direito e Administração de Empresas. Durante o período em que esteve na Escola de Polícia, dedicou-se especialmente aos estudos de Psicologia. Tornou-se policial no ano de 1952 e já em 1958 acabou por ser exonerado do cargo. A partir dessa época, o autor passou a se dedicar à literatura. Muitos dos seus textos foram escritos no período da Ditadura Militar – como é o caso dos contos que aqui analisamos – e devido ao seu teor altamente crítico e transgressor, no que tange à estrutura social da época, seus livros foram proibidos pela censura do regime.
O conto Feliz Ano Novo não são criações e invenções do escritor, mas fatos sociais vivenciado em nossa realidade, com um tema real e concreto que transpassa os limites da realidade e que migram para o interior do universo ficcional, transfigurando-se pela linguagem artística. Foi proibido pela censura do regime militar, acusado de fazer apologia a violência.
RESUMO DO CONTO
O conto Feliz Ano Novo apresenta uma divergência entre a classe baixa e a classe burguesa. A narrativa dá-se na véspera da virada de ano em que um grupo de amigos, Zequinha, Pereba e o narrador-personagem, não identificado por nenhum nome, decidem assaltar uma casa onde estava sendo celebrado o réveillon. No conto a adoção do adjetivo “fodido” pelos narradores para caracterizar a classe média baixa, uma vez que as pessoas pertencentes a essa classe têm problemas em suprir até mesmo necessidades básicas, como alimentação, demostrado através de alguns aspetos culturais, voltados para a religiosidade com por exemplo os cultos a Iemanjá conhecida como rainha das aguas, representados pelas seguintes palavras: “vou ter que esperar o dia raiar e apanhar cachaça, galinha morta e farofa dos macumbeiros” (FONSECA, 2001, p. 334), “ de manha agente enche a barriga com os despachos dos Babalaôs” (FONSECA, 2001, p. 334).
 Este “eu” narrador menciona aos seus colegas que há algumas armas deixadas por uma personagem, Lambreta e de sua cumplice que não levantava a menor suspeita a Sr. Dona Candinha. Nesse momento, os quatro amigos pegam as armas e decidem ir em busca da casa de algum rico. Eles comportavam com um arsenal de grande de armas: Uma Thompson lata de goiabada, uma c arabina doze de cano serrado, e duas Magnum (FONSECA, 2001, p.336).
Há cenas de violência sexual explica através do estupro: 
Não vais comer uma bacana destas?, perguntou Pereba. Não estou a fim. Tenho nojo dessas mulheres. Tô cagando pra elas. Só como mulher que eu gosto. E você... Inocêncio? Acho que vou papar aquela moreninha. A garota tentou atrapalhar, mas Zequinha deu uns murros nos cornos dela, ela sossegou e ficou quieta, de olhos abertos, olhando para o teto, enquanto era executada no sofá (FONSECA, 2001, p, 340) 
O narrador-personagem, por exemplo, com uma dentada, arranca o dedo de uma velha com o intuito de roubar-lhe o anel. Ele também vai ao banheiro, olha tudo em volta, retorna ao quarto da velha e defeca sobre a cama dela. Zequinha, por sua vez, como última ação violenta na casa dos ricos, estupra uma garota. E, após encher toalhas e fronhas com comidas e objetos, vão embora. Chegam em casa primeiro Zequinha e o “eu” narrador, e esperam Pereba chegar para brindarem a virada do ano com a frase “que o próximo ano seja melhor. Feliz ano novo”.
REFERENCIAL TEORICO
Como vemos a questão das relações socioeconomicas é bem trabalhada pelo fato de momento da publicação dos registro de Rubem Fonseca, a sociedade brasileira estava passando por momentos conturbados em relação a politica. Neste conto ele traz personagem que vivem em meio sociais mais complexos, que usa uma linguagem bastente rustica para expressar suas frustações, suas desilusões. Por esse lado algumas pessoas acham extranhamento na forma de linguagem e as atitudes de alguns dos seus personagens. Em 1964, na análise do crítico Wilson Martins, aparecem já pela primeira vez, em noções gerais, os conceitos que normalmente transitarão nas análises sobre Fonseca:
A realidade do Sr. Rubem Fonseca é inquietante, ou, pelo menos, ele sabe mostrar o que existe de inquietador sob as aparências exteriores da realidade; mesmo certas cruezas de linguagem revelam, mais do que uma espécie de adolescência sobrevivente no autor, a psicologia particular de tal ou tal personagem, de tal ou tal meio social. [...]
Há no Sr. Rubem Fonseca, ainda incerta e obscura, mas perfeitamente sensível, uma nova filosofia de vida, talvez inexprimível e contraditória, mas, de qualquer forma, uma filosofia que o afastará para sempre, forçosamente, do conto “realista” em sua concepção tradicional. 
O facto de marginais assumirem o estatuto de personagens principais, revela o seu interesse, pelas camadas sociais mais desprestigiadas e demonstra uma determinada solidariedade humana para com os problemas dos mais desfavorecidos.[...] Aos olhos do leitor, a gente fina e nobre surge conotada, tal como os marginais, com valores morais e éticos negativos.
A violência, o sexo e a linguagem de baixo calão são o grande espetáculo da obra de Rubem Fonseca, chegando a causar constrangimento nas pessoas de espírito mais delicado. A violência e a morte são vistas, não como destruição, mas como consequências desta sociedade complexa e repressora a qual vivemos. Também o pesquisador português Petar Petrov verá importância da relação entre a estética de Fonseca e o entorno social da mesma, e as implicações no campo ideológico da obra:
As isotopias escolhidas, a técnica narrativa adoptada e a linguagem utilizada contribuem para traduzir, de forma normalmente velada, as diretrizes de uma determinada cosmovisão existencial. No plano denotativo, no que diz respeito aos temas, podemos afirmar que seu tratamento contribui, de modo claro, para se atingirem alguns significados ideológicos.Os três assuntos principais, em que se assentam as intrigas, mostram o interesse de R. Fonseca por problemas pouco abordados pela ficção brasileira contemporânea. A marginalidade, a violência e a sexualidade, servem de motivos para demonstrar a posição ideológica central: a da denúncia de um mundo particular, invulgar quanto à sua existência e funcionamento, a assumir proporções alarmantes nos grandes centros urbanos, com especial incidência na cidade do Rio de Janeiro. (Petrov, p.51).
Os contos de Rubem Fonseca narram sequências e personagens marginalizados, inseridos numa estrutura de narrativa policial, com elementos de oralidade em que os personagenstambém assumem o papel de narradores da história. Essa perspectiva sobre a forma característica da literatura de Fonseca é em parte compartilhada por Cerqueira:
A violência não é mera resposta a uma ameaça (como o caso de “O outro”), tentativa de se galgar degraus sócio-econômicos (“Feliz ano novo”) ou divertimento após o trabalho (“Passeio noturno”). Na narrativa fonsequiana a violência é o lugar de enunciação, não agindo em prol do discurso, mas sendo-o de forma que o descrédito em relação às instituições, bem como a inutilidade das grandes esperanças, seja lugar de posição crítica da ficção, e que estes passos da descrença sejam evidenciados nas várias manifestações da violência inseridas nas sociedades.
ANÁLISE DO CONTO
Um trecho do conto nos faz observação a um frase ou gíria bastante usada nas comunidades e favelas de algumas cidades “Os Homens” fazendo menção exclusivamente a policiais, e nos mostra com detalhes algumas barbáries que muitos jovens, negros e podres sofrem dentro das favelas.
Pra falar a verdade a maré também não tá boa pro meu lado, disse Zequinha. A barra tá pesada. Os homens não tão brincando, viu o que fizeram com o Bom Crioulo? Dezesseis tiros no quengo. Pegaram o Vevé e estrangularam. O Minhoca, porra! O Minhoca! Crescemos juntos em Caxias, o cara era tão míope que não enxergava daqui até ali, e também era meio gago — pegaram ele e jogaram dentro do Guandu, todo arrebentado. Pior foi com o Tripé. Tacaram fogo nele. Virou torresmo. Os homens não tão dando sopa, disse Pereba. (FONSECA, 2001, p. 335)
O conto aqui analisado é marcado por uma legitimação de práticas violentas, que nos assustam pelo fato de não ser apenas ficcional, mas que nos rodeiam ate hoje na sociedade.
Seu Maurício, quer fazer o favor de chegar perto da parede? Ele se encostou na parede. Encostado não, não, uns dois metros de distância. Mais um pouquinho para cá. Aí. Muito obrigado. Atirei bem no meio do peito dele, esvaziando os dois canos, aquele tremendo trovão. O impacto jogou o cara com força contra a parede. Ele foi escorregando lentamente e ficou sentado no chão. No peito dele tinha um buraco que dava para colocar um panetone. (FONSECA, 2001, p. 339 )
[...] eu e Zequinha tínhamos assaltado um supermercado no Leblon, não tinha dado muita grana, mas passamos um tempão em São Paulo na boca do lixo, bebendo e comendo as mulheres. A gente se respeitava. (FONSECA, 2001, p.335)
Analisando superficialmente a temática de Feliz Ano Novo, percebemos que há dois tipos de status sociais nitidamente marcados: o dos “fodidos” (pobres) e o dos “granfas” (ricos). Tais são construídos sempre com os “granfas” sendo os parasitas da sociedade e os “fodidos” como as vítimas desses parasitas, como podemos ver nos trechos:
 Tanta gente rica e eu fudido. (FONSECA, 2001, p.335).
 Filha da puta. As bebidas, as comidas, as jóias, o dinheiro, tudo aquilo para eles era migalha. Tinham muito mais no banco. Para eles, nós não passávamos de três moscas no açucareiro. (FONSECA, 2001, p.339.
Analisando as características dos personagens Zequinha, Pereba e o eu narrador poderíamos ter uma visão bastante desagradável e negativa dos mesmos, pelo fato de não terem apenas roubado, mas também ter matado friamente com uma única finalidade, ver os corpos pregados nas paredes para seus deleites. Mas o que realmente no chama a atenção nestes personagens é a forma como é transformada as suas ações, de algo não também bem visto pela sociedade, mas em algo prazeroso, bonito, dignos e de pessoas imponentes, como é mostrado em um dos trechos: 
Você aí, levante-se, disse Zequinha. O sacana tinha escolhido um cara magrinho, de cabelos compridos. Por favor, o sujeito disse, bem baixinho. Fica de costas para a parede, disse Zequinha. Carreguei os dois canos da doze. Atira você, o coice dela machucou o meu ombro. Apoia bem a culatra senão ela te quebra a clavícula.
Vê como esse vai grudar. Zequinha atirou. O cara voou, os pés saíram do chão, foi bonito, como se ele tivesse dado um salto para trás. Bateu com estrondo na porta e ficou ali grudado. Foi pouco tempo, mas o corpo do cara ficou preso pelo chumbo grosso na madeira.(FONSECA,2001, p.340)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A princípio, podemos perceber que a obra fonsequiana possui grande fortuna crítica e, portanto, é alvo do interesse de muitos pesquisadores. Por meio da breve pesquisa aqui feita pode se perceber que o autor mostrar as realidades sociais de cada individuo, suas particularidades e ate mesmo do sistemas sócio-políticos de repressão e censura. O conto em si nos traz a refletir sobre a realidade do nosso país em uma visão abrangente em relação a segurança pública. Nesse sentido, tais textos, ficcionais ou factuais, se tornam um incômodo para governantes e instituições.
 Valendo-se então dessas considerações, a autora afirma que a ficcionalidade, da qual muitos livros se valem para se constituírem como tais, pode ser usada “para denunciar situações que não poderiam ser ditas de forma literal ou para criar, em seus leitores, ideias ‘prejudiciais à manutenção da ordem do sistema’” (MENDES, 2007, p. 208).
Percebe-se tambem através da analise do mesmo, que existiu e sempre vai existir as divisões de classes, isto é, individuo e grupos diferentes entre si que ocupam lugares diferentes na sociedade. Logo, não se pode falar, por exemplo, em “classe dominante” sem a existência de uma “classe dominada”, uma classe social depende da outra. Essa divisão é feita através do poder politico, educacional, poder economico, bens sociais, tudo isso influência e marca as diferenças entre as classes sociais.
REFERÊNCIAS 
CERQUEIRA, Rodrigo da Silva. A violência como discurso em Feliz Ano Novo de Rubem Fonseca, In: Terra Roxa e outras terras – Revista de Estudos Literários, volume 15. Londrina: Pós-Graduação em Literatura da Universidade Estadual de Londrina, jun.2009. p.26.
CORTEZ, Clarice Zamonaro; RODRIGUES, Milton Hermes. Operadores de poesia. In: BONICI, Thomas; ZOLIN, Lucia Osana (Org).Teoria Literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. 2ed.rev. e ampl. maringa: Edulm, 2005, p.57-89
FONSECA, Rubem. Feliz Ano Novo. In: MARCONI, Ítalo (Org). os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro:Objetivos,2001. p. 334-340.
MENDES, Emília. Considerações sobre a ficcionalidade: entre mal-entendidos históricos, censura e preceitos “científicos”. In: Vertentes, São João Del Rei, n. 30, p. 202-213, jul./dez. 2007.
PETROV, Petar Dimitrov. A denúncia social em Feliz Ano Novo de Rubem Fonseca. In: Letras de Hoje, v.25, n1, Porto Alegre: março de 1990. p.51

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