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Representações da Guerrilha urbana no eixo Brasília Goiânia

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Área do conhecimento: Ciências Humanas 
Título do Projeto: Representações da Guerrilha urbana no eixo Brasília Goiânia 
Nome do Orientador: Eloísa Pereira Barroso Matrícula: 1053639 
Unidade Acadêmica/Departamento do orientador: Departamento de História 
Título do Plano de Trabalho: Biografia e memória: representações da guerrilha urbana no 
eixo Goiânia/Brasília 
Aluno Geovanne Soares da Silva 
Matrícula: 140141421 
O discurso produzido em um determinado tempo ou espaço tenta demonstrar as 
possíveis regimes de verdades e/ou construções que o processo histórico é capaz de 
produzir em uma determinada sociedade. No caso específico, dessa pesquisa 
procuramos demonstrar as análises das memórias, via discurso de três guerrilheiros que 
buscaram, a luta pela igualdade social e, principalmente, pela democracia. O processo 
descrito tem como intento mostrar a luta de alguns guerrilheiros nas cidades de Goiânia 
e Brasília nos tempos da Ditadura Civil-Militar no país. Esse processo é evidenciado 
com as interpretações únicas de cada um dos entrevistados, que carregam consigo 
dimensões do individual e do coletivo no processo de desvelamento de suas memórias. 
Dessa maneira a proposta desse trabalho é explorar a biografia dos Guerrilheiros 
Joana, Marina e Pedro
1
, com o intuito de se verificar como as narrativas de cada um 
deles nos permitem processos de interpretação do período em análise. Isso porque a 
biografia como fonte liga-se à configuração de uma “carga de significados” sobre a 
experiência narrada, vivida, sentida e sonhada, pelo sujeito que, embora situada em 
outro tempo, pelo viés da memória repercute nos dias de hoje na produção de 
conhecimentos. Por meio da história oral, através do depoimento de sujeitos que 
participaram dos movimentos de resistência contra a ditadura acredita-se aqui ser 
possível reunir as representações outras para a compreensão da Ditadura Militar a partir 
da experiência vivida pelos guerrilheiros. 
As técnicas de coleta utilizadas foram, além da entrevista gravada em áudio, a 
pesquisa documental. O fato de as entrevistas realizadas na perspectiva da história oral 
serem gravadas auxilia na proximidade de exatidão na descrição dos relatos. Assim os 
relatos orais de memórias biográficas, poderão construir significados sobre si e sobre o 
outro em um cotidiano político, social e cultural no qual os indivíduos têm de lidar com 
 
1
 Os nomes dos Guerrilheiro foram substituídos por nomes fictícios com o intuito de preservar suas 
identidades. 
as curiosidades despertadas pelas notícias de um mundo novo e exigências sociais da 
realidade a que estão submetidos. 
O trabalho do historiador remete a diversas versões de um mesmo pressuposto 
histórico. O historiador, segundo Pesavento, precisa saber que a sua narrativa pode 
relatar o que ocorreu um dia, mas esse mesmo fato pode ser objeto de múltiplas versões. 
A rigor, ele deve ter em mente que a verdade deve comparecer no seu trabalho de 
escrita da História como um horizonte a alcançar, mesmo sabendo que ele não será 
jamais constituído por uma verdade única ou absoluta. O mais certo seria afirmar que a 
história estabelece regimes de verdade, e não certezas absolutas. 
A expectativa do historiador – e por certo do leitor de um texto de história – é de 
encontrar nele algo de verdade sobre o passado. O discurso histórico, portanto, mesmo 
operando pela verossimilhança e não pela veracidade, produz um efeito de verdade: é 
uma narrativa que se propõe como verídica e mesmo se substitui ao passado, tomando o 
seu lugar. Nesse aspecto, o discurso histórico chega a atingir um efeito real. 
Ainda nesse enfoque, percebe-se que, as diferentes formas pelas quais os 
indivíduos e os grupos se dão a perceber, “comparecendo como um reduto de tradução 
da realidade por meio das emoções e dos sentidos”. (PESAVENTO, 2005, p.57). Por 
isso, para os historiadores o objeto de captura do passado à própria energia da vida é 
trazido visto que diferentes formas e sensibilidades não comparecem somente no cerne 
de um processo de representação do mundo e a como correspondem essas mesmas 
representações. 
O tempo e a memória, segundo Lucília Delgado, se constituem em vários 
elementos de um mesmo processo. Tornando-se pontes de ligação, elos de corrente, que 
se interagem às múltiplas extensões da própria temporalidade em movimento. A 
memória em si – como forma empírica da experiência e conhecimento – é um caminho 
viável para que indivíduos percorram a temporalidade de suas vidas. 
A memória carrega consigo um valor simbólico e individual. No caso presente, a 
ditadura é o período em que essas memórias – dos guerrilheiros – foram construídas. A 
memória é construída através de imagens, assimilações de um passado, fazendo 
correlações com o presente. As memórias construídas através dos guerrilheiros nos 
ajudam a formular uma base de estudos de um determinado período da história 
brasileira e, com isso, analisar – mesmo que em visões individuais – uma história 
presente e coletiva. Essa história é dada graças à memória e as representações que cada 
indivíduo traz consigo, fazendo assim, uma relação entre as vivências dos mesmos e 
relatos analisados com a história do período em questão. Essas representatividades 
únicas e individuais podem ser capazes de criar uma memória que possa ser aplicada 
para um estudo em que essas mesmas representações são o objeto principal da pesquisa. 
De acordo com Baczko, o conflito no âmbito pessoal seria capaz de levar os 
indivíduos a produzirem novas formas, novos mecanismos de combate no próprio plano 
imaginário para atingir um objetivo. O imaginário, então, pode ser entendido como uma 
construção pessoal da memória e das representatividades de si mesmo com o mundo. 
Essa representatividade é fulcral para o entendimento do conceito de imaginário social 
em que os concorrentes se valeriam do processo de disforização da imagem do seu 
adversário (concorrentes no tempo histórico), assim tornando este ser um ilegítimo 
perante o meio social. Ao mesmo tempo em que procurariam uma forma de 
reconhecerem a si mesmos a sua figura perante o grupo, visando, assim, legitimar a sua 
superioridade e autoridade. (BACZKO, 1985). Backzo ainda diz que o imaginário 
produz um importante peso sobre as esferas política e social. 
Joana, nascida no ano de 1950 em Itaberaí filha de Dona Sebastiana e de Seu 
Raimundo, vivenciou um Brasil que no ano de 1964 passou por uma transformação política 
radical com o Golpe Civil Militar. Foi o ano do cerceamento dos direitos políticos e sociais. 
Mas para Joana foi também o ano em que ela se envolveu na sua primeira atividade política de 
contestação ao regime instaurado. Em seu relato, onde mistura memória individual e 
memória coletiva, fala acerca da dureza que era de viver em um período ditatorial e que, 
com toda certeza não era fácil. 
[...]eu participei da VAR-PALMARES que é o que é da.. que a Dilma 
participou também. Mas isso, é o seguinte, era um ideal nosso, a juventude 
querendo mudar o mundo, e até hoje eu tenho vontade de mudar o mundo 
(risos) mudar tudo, mas e naquela época, nós fazíamos com idealismo assim 
bem...[...] O principal era a ditadura né? Que nós vivíamos num regime bem.. 
era ditadura mesmo, nós não podíamos nos reunir, 10 pessoas aqui, se tivesse 
ali numa esquina você era preso, chegava a polícia falando: uai o que vocês 
tão fazendo? Então era muito duro, a gente não podia conversar nada, não 
podia conversar, não podia passear, não podia nada, não podia ir ao cinema, 
tudo... tudo era controlado, era censurado, censura mesmo. Essa liberdade 
que vocês tem hoje... Nossa! Gente, issoaí a gente não podia fazer nada 
mesmo, nada, então a ditadura era dura. Você realmente, da vontade, se 
voltar um dia, vocês viverem um regime desse, vocês ficam com vontade de 
sair daquilo, não tem lógica a pessoa te prender, te censurar sem poder falar 
né?![...] (Informação verbal, entrevista concedida no dia 04/02/2016 na 
residência de Joana com duração de duas horas) 
Os indivíduos e os grupos dão sentido ao mundo por meio das representações 
que constroem sobre a realidade, fazendo com que os homens (seres humanos) desse 
tempo percebam a realidade em que se inserem e pautem a sua existência. São matrizes 
geradoras de condutas e práticas sociais, dotadas de força integradora e coerciva, bem 
como explicativa do real. Ou seja, o propósito dessas mesmas análises tem o papel de 
“decifrar a realidade por meio das suas representações, tentando chegar àquelas formas, 
discursivas e imagéticas, pelas quais os homens expressam a si próprios e o mundo.” 
(PESAVENTO, 2005). Isso fica latente nas palavras de Joana 
[...]a guerrilha acho que fez isso.. e hoje.. hoje vendo os filme né, que já tem 
sobre isso, sobre a guerrilha, acho que é isso mesmo, naquela época foi um 
amor assim que nasceu na juventude né.. sabe? Pelo ideal de sair daquela 
ditadura.. porque é difícil.. a ditadura é uma coisa assim que... olha o que eles 
faziam... e ainda existe essa ditadura ein, vocês podem saber que Lula pode 
ser preso por causa da ditadura.. então, a coisa não pode.. é uma coisa.. não 
quer liberdade, é incrível como a pessoa... liberdade é uma coisa muito 
difícil.. tem gente que não aceita mesmo, sabe?! Tem gente que quer isso e 
tem outros que não querem mesmo, aceita. E essa corrente existe mesmo.. ta 
aí.[...] (Informação verbal, entrevista concedida no dia 04/02/2016 na 
residência de Joana com duração de duas horas) 
Seria através das imagens criadas de si, em uma determinada época, que uma 
sociedade manifestaria e esconderia as suas intenções, bem como o lugar que lhe 
caberia naquele contexto histórico (BACZKO,1985, p. 303). Marina, através dos 
fragmentos de memória nos relata o processo de esquecimento e rememoração. 
[...]Como eu disse.. é.. eu apaguei isso por mais de vinte anos, eu não falava 
nisso, entendeu? Falei uma única vez com um professor da unesp que era 
companheiro do paulinho, né? [...] e o que que eu posso falar?.. a gente tinha 
a união das mulheres e eu tava lembrando dos termos, era tudo assim .. pela, 
sei la não sei se um linguista for estudar, mas era assim: colaboração, união, a 
terminologia era sempre assim de compartilhar tudo, quando a gente fala 
assim de compartilhar, mas é no sentido meio... não é no sentido, como que 
posso falar... é.. de compartilhar vivencia e ficar junto e tal, você compartilha 
pensamentos, compartilha também.. não sei tem uma diferença entre essa 
coisa da tecnologia hoje né e.. o que era pra gente.. acho que essa palavra não 
existia, compartilhar na verdade né?... era união, era colaboração, era todo 
mundo junto, unidos né? E... e isso machucou as mães, machucou a gente, 
mas a gente tinha é.. certeza que ia conseguir ajudar os mais desfavorecidos 
né?![...] (Informação verbal, entrevista concedida no dia 09/04/2016 na 
residência de Marina com duração de duas horas) 
As imagens construídas pelos guerrilheiros são parte fundamental para se 
entender a vida de cada um, a luta de cada indivíduo, e as conquistas causadas por essa 
mesma luta, que na perspectiva do discurso produzido nos rastros da memória se 
diferenciam. Além disso, essas imagens – que partem do imaginário – são essenciais 
para o entendimento do coletivo que os homens, em todas as épocas, construíram para si 
mesmos, dando um sentido ao mundo. 
Essas mesmas imagens – representadas, aqui, pelos guerrilheiros – são frutos do 
imaginário. Esse imaginário é a nossa capacidade de entender a qual contexto vivemos, 
quem somos, e que atos deveríamos deixar ou não de fazer. Segundo essa imaginação, 
Baczko1985), afirma que a imaginação é a faculdade específica em cujo lume as 
paixões ascendem, sendo a ela, precisamente, que se dirige à linguagem “enérgica” dos 
símbolos e dos emblemas. Emblemas que podem ser coletivos e também individuais, 
novamente. 
As imagens criadas e suas respectivas memórias serão distintas e fundamentais 
para a construção do ser em si perante um determinado período da história. Essas 
representações serão fulcrais para o entendimento de toda uma sociedade. As memórias 
prevalecerão numa perspectiva individual para cada narrador, mas estarão vinculadas ao 
coletivo. Por isso temos várias “imagens” criadas do período ditatorial do país. Essas 
mesmas imagens podem ser criadas pelos guerrilheiros – que no caso são os 
entrevistados – por militares e militantes, ou seja, diferentes agentes históricos 
produzindo diferentes imagens e memórias históricas. A história é feita por diversos 
olhares e por diversas interpretações. Cada período histórico possui as suas formas 
singulares de “imaginar, reproduzir e renovar o imaginário, assim como possuem 
modalidades específicas de acreditar, sentir e pensar” (BACZKO, 1985, P.309) 
Pedro, guerrilheiro, têm 66 anos. Nasceu em uma cidade chamada Firminópolis 
no Goiás. Criou-se em Goiânia e em Brasília. Viu Juscelino inaugurar a cidade de 
Brasília e morou na mesma dos anos de 1960 a 1964. Em 1967, Pedro, viu o primeiro 
movimento político de sua vida em uma passeata pedindo a saída da ditadura civil-
militar. Em 68 se torna presidente do grêmio estudantil e começa aí a sua experiência 
em luta contra a ditadura. 
Para explicitar melhor essas representações dos guerrilheiros em sua vida 
cotidiana na época da resistência da ditadura, Pedro, que claramente se via 
“arrependido” de ter participado de uma guerrilha urbana que pra ele, agora, era 
desorganizada e despreparada para a luta da guerrilha de fato, concorda que, no fim das 
contas obteve derrota e não atingiu os seus reais objetivos: 
[...]Então é assim, tentou se organizar mas eu acho que não deu tempo, sabe, 
quando ia começar um ia preso, outro morria, aí cansava, então, não...não 
chegou a ter uma organização. Isso fez estudo, fez reunião, tentou encontrar 
caminhos e tal, mas eu tenho impressão que a estrutura do movimento era 
precária, né, assim, jovens, despreparados, contra um inimigo muito forte, né, 
e preparado, né, com apoio dos EUA e tal, então é, não tinha como vencer 
aquele aparato, não tinha como. Quem teve essa ideia, não foi boa, entendeu, 
de começar o movimento guerrilheiro com aquelas condições, né, uma das 
vezes acho que foi Carlos Marighella né, então é, po, comparar vocês dois 
aqui vai lá e assalta não sei o que, sabe, não tem condições, não tem preparo, 
né, não tem jeito. [...] mas foi uma coisa relâmpago, guerrilha urbana no 
Brasil é um movimento relâmpago, inclusive. Começo de 69 até 71, ou 72, se 
você for ver, pesquisar, tem uma ou outra açãozinha, né, mas em 69 que teve 
mais força, foi mais ou menos de 1 ano de duração, então isso é pouco pra 
um movimento, né, quer dizer, a guerrilha na Colômbia tá completando agora 
50 anos, né, então vai ser essas coisas né, tudo desorganizado, estrutura pra 
isso e praquilo, né, tem 50 anos de vida. Mas a nossa aqui, durou muito 
pouco. [...](Informação verbal, entrevista concedida no dia 22/02/2016 na 
residência de Pedro com duração de duas horas) 
Para Pedro o movimento não alcançou os objetivos necessários para uma real 
mudança no país e, além disso, acha, agora, que perdeu tempo, afinal, além de não 
conseguirem o que queria, tinha sofrido bastante ao se juntar a causa e culpa a sua 
juventude por não ter sabido fazer a escolha “certa” e preferiu se juntar a uma causaque 
desde o seu início já era uma causa “perdida”. 
Marina foi para a guerrilha muito jovem. Saiu de casa antes mesmo dos 18 anos. 
Nascida em Goiânia, não voltou mais desde aquela época. Emancipada aos 16 anos para 
poder casar-se, Marina teve uma vida agitada devido à luta contra a ditadura no Brasil. 
Se viu clandestina por algum tempo e participou de algumas importantes ações dos que 
participavam da resistência, das quais podemos citar a ação no citybank com uma 
explosão caseira na frente do banco americano em Brasília. Marina escondeu sua 
história e trajetória por mais de 20 anos. 
Marina, que com toda a sua empolgação, reconhece em seu íntimo individual a 
vitória da democracia, contrapondo-se a essa visão que Pedro obteve em sua vida como 
guerrilheiro. Para ela os homens sofreram mais e têm mais receio em falar abertamente 
sobre o que passaram e o que fizeram, já as mulheres conseguem se expor de maneira 
mais livre. Por isso tenderiam a falar mais abertamente sobre a sua vida e seu cotidiano 
na guerrilha que aconteceu em Goiânia e Brasília. 
[...] não sei.. o Pedro, talvez essas coisas que ele faça, faz hoje em dia talvez 
seja uma forma de renegar, então eles acham que foi tempo perdido? Aah... 
Será que é da mulher pro homem ou o jeito de viver a vida, de achar que é de 
uma forma pessimista. Mas, vai ver que fazendo uma terapia e pensando.. 
porque assim, cada coisa que você vai vendo, o filme do Chico Buarque essa 
coisa da democracia chama muito atenção... gente mas é isso! Valeu a pena!.. 
mas o Chico me ajudou muito, sinto falta de ir ao cinema [...] sinto que morar 
nessa roça me afasta um pouco do conhecimento né? (risos) mas é... foi 
muito bonito ver o chico falar isso, a democracia venceu! Então agora nós 
estamos aqui no Brasil vivendo a democracia, sabe? E eu acho que nunca 
tinha.. acho que falando com vocês aqui que eu fui reelaborando assim essa... 
não sei se ajudei. [...](Informação verbal, entrevista concedida no dia 
09/04/2016 na residência de Marina com duração de duas horas) 
 “A complexidade integrante à noção de tempo refere-se às temporalidades 
múltiplas que se enlaçam, uma vez que as experiências vividas e a História em 
transformação são conformadas por processos e acontecimentos” (Neves, 2010). A 
história abarca vivências individuais ao mesmo tempo que incorpora manifestações do 
coletivo. Essas duas dimensões, quando acopladas, unem-se em únicas experiências e 
dinâmicas que se reconstroem com o passado em detrimento de representações do 
presente. Nas falas dos guerrilheiros é possível reconhecermos os “substratos” de um 
tempo histórico em que se é possível encontrar culturas diferentes, representações 
individuais, modos de vida e valores como fica explícito nos fragmentos de memórias 
dos depoentes quando eles rememoram o cotidiano da guerrilha. 
Michael Pollak, em sua obra intitulada, Memória, esquecimento, Silêncio, 
evidencia e analisa indicadores de memória coletiva e suas abordagens acerca de 
formação de uma identidade histórica. Ele analisa, em primeira instância, para o que é 
palpável, que é material; e a segunda refere-se à cultura imaterial, não palpável. Logo, a 
história oral, utilizada neste artigo, é útil e uma ferramenta para esse processo de 
construção de uma identidade local, além disso, legitima e constrói uma identidade de 
memória em detrimento da interligação dessas ferramentas. 
Por meio da história oral, através do depoimento de sujeitos que participaram 
dos movimentos de resistência contra a ditadura é possível reunir as representações 
sobre sua trajetória no período até o processo de redemocratização brasileira. A 
memória é um fundamental para o autoconhecimento do homem como sujeito da sua 
própria história. Referente a isso, Marina fala de sua experiência do pós-guerrilha: 
Eu acho que foi tanta.. muitas formas né?! Assim, eu, por exemplo, todo 
mundo atrasou os estudos ,sabe? Perdeu emprego, é foi um prejuízo assim 
grande, tanto no lado profissional, quanto no lado do dia a dia e eu acho que 
foi até pra voltar a trabalhar e pra voltar a acreditar, ter energia pra fazer as 
coisas né? Acho que foi difícil, depois as pessoas foram se.. cortando 
caminhos né, eu acho que todo mundo ficou muito marcado, você falou que o 
alan foi difícil fazer entrevista né, e eu também tava assim... é, porque é duro, 
sabe? Eu acho que alguém deveria fazer um estudo sobre quem foi pra 
televisão e falou coisas que na verdade não acreditava né, só por conta de 
porrada... né. Não é que acreditava, não tava abrindo mão, sabe?! [...]Quando 
eu falei que dois lados a gente começou a se sentir perseguidos, de repente 
você não tinha espaço no mundo..[saindo da guerrilha] é, por exemplo, você 
encontrar o cara que quer dar porrada porque você foi pra televisão, sabe?! 
Não! E ficou marcado, porque, por exemplo, quando eu casei com o 
Paulinho, ele tem um irmão que contou pra família, porque você imagina, se 
eu já me escondia aí fiquei mais preocupada ainda. Contou pra família que eu 
tinha sido casada com um cara que tinha ido pra televisão e negado tudo que 
tinha sido feito. Quando o Paulinho me contou isso fiquei tão puta sabe?! As 
pessoas só pegam isso, não vê o contexto que fez, o que conseguiu, aquela 
coisa que dá pra.. o próprio guerrilheiro, o rafta era um. [] Você fica 
criminoso pros dois lados, você é um perigo pra todos os lados né? Então.. eu 
como saí de Goiânia, saí de tudo, fui pra outra mundo né? Não tinha porque 
ficar falando disso né? Sabe? Talvez porque.. até hoje em dia eu tenho 
contato com a Joana e foi importante ficar lembrando coisas e talvez seja 
importante ficar falando disso, mas até então ninguém... importante até pra 
você refazer toda a análise né? Fazer e se sentir melhor com relação a 
isso.(Informação Verbal) (Informação verbal, entrevista concedida no dia 
009/04/2016 na residência de Marina com duração de duas horas) 
Thompson (1981,p. 15) analisa em sua obra a noção de experiência, que segundo 
ele, é fundamental para o historiador. A experiência, compreende a resposta mental e 
emocional, seja de um indivíduo ou até mesmo de um grupo social. Isto é, está 
relacionado a muitos acontecimentos que se interligam ou a várias repetições desse 
mesmo tipo de acontecimento. Além disso, para o autor, a experiência é um termo de 
correspondência, ou seja, se interligam em seu caráter teórico e o material empírico, 
portanto, o objetivo é fazer com que o relevo sobre essa mesma noção de experiência é 
com que homens e mulheres atuem como sujeito em determinadas situações. 
De acordo com Benjamin, a importância da informação estaria na valorização da 
experiência, do saber que estaria próximo não só local, mas temporalmente, do que um 
saber que tivesse sido originado longe, pois “[...] o saber que vinha de longe – do longe 
espacial das terras estranhas, ou do longe temporal contido na tradição –, dispunha de 
uma autoridade que era válida mesmo que não fosse controlável pela experiência [...].” 
(BENJAMIN, 1994a, p. 202-203) Assim, é possível afirmar, a partir de Benjamin, que a 
valorização da narrativa memorialística é o que permite ao sujeito comunicar a 
experiência. 
Os seres humanos, como sujeitos de suas histórias, são responsáveis por produzir 
e reproduzir acontecimentos e mudanças. Podem, também, construir referências e até 
mesmo destruí-las. Podem reafirmar destruir ou contestar o poder e podem, ainda, se 
auto afirmar perante o coletivo em que estão inseridos e reafirmar ou não a sua 
liberdade. 
Joana nasceu em 1950. Viveu em poço de Goiás. Quando foi para Goiânia 
conheceu o movimento de estudantes da qual participaria mais tarde. Começou no 
movimento estudantil,o DCE, e quando menos esperava já estava participando do 
movimento de guerrilha. Esse movimento tinha nomes conhecidos hoje em dia como o 
de José Dirceu, Genoíno e Dilma Rouseeff, era o movimento VAR-PALMARES. 
Quanto à sua representatividade, é possível verificar nos fragmentos de memória 
de Joana algumas consequências de ter participado de um movimento que, pra ela, a fez 
acreditar no mundo e a crescer como um ser pensante e agente de seu próprio tempo. 
Ela não se arrepende e suas construções de memórias imiscuídas de história a fez ser 
uma pessoa mais feliz e compromissada, em sua vida pessoal, bem como na sua atuação 
enquanto sujeito político. 
[...]Aaah.. eu acho que o que influenciou muito foi o jeito de viver.. a partir 
daí. Sempre quis ta no movimento, comecei a participar do movimento 
rippie, comecei a fazer outras coisas diferentes.. e acho que foi só por isso 
que eu já tinha conseguido participar dali, e eu não vou voltar nessa história 
de ficar de lero lero e vou fazer outra coisa então... e aí, nós participamos.. 
fomos pra... agora fomos resolver, vamos ser naturalista. Aí fomos pra uma 
ecologia.. pra uma outra coisa... mas sempre participar de alguma coisa. E 
isso foi o que a guerrilha deixou, porque esse movimento ele deixou em todo 
mundo que participou, você pode ver, ou ele foi ser escritor, ou ele foi ser 
não sei o que.. mas foi ser.. foi participar de outro movimento viu?! Sempre 
foi participar de alguma outra coisa.. é que é um movimento assim... depois 
meus filhos de eles também.. aah algumas coisas malucas tipo, não vai pra 
escola não, só te ensinar coisa picareta.. aí a menina aah mas eu quero estudar 
e aí a gente põe na escola, mesmo depois de velho né?! Quer dizer... tem 
umas coisas assim que eu falo que não arrependo por isso, porque acho que 
foi bom porque abre a cabeça da gente sabe?... e sempre... sempre sabendo 
que política é a base, você tem que né... a pessoa.. eu acho assim, pode ter 
religião.. não tem problema.. porque aí no seguinte, naquela época era o 
comunismo.. o comunismo mata criancinha, come criancinha, aquela coisa de 
comunismo e que nada né? A gente vai estudar o comunismo e aí você vai 
ver o que é socialismo e o que é comunismo né e fica aquela coisa né... eu 
acho que foi o que me deu isso.. na minha família eu vejo assim... assim.. 
participo mais das coisas por isso, porque participei do movimento.. porque 
acho que todo mundo tem que participar de alguma coisa, de alguma forma.. 
estudar, fazer qualquer coisa. Mesmo estudando você tem condições de fazer 
alguma coisa.. e claro, não é?![...] (Informação verbal, entrevista concedida 
no dia 04/02/2016 na residência de Joana com duração de duas horas) 
Nos rastros das narrativas aqui colocadas é possível perceber que a evocação de 
memórias individuais e coletivas desperta vestígios de vivências e sensibilidades, o que 
permite a constituição de um sentimento de pertença nos que vivenciaram a ditadura 
civil militar. As representações assentes no fio da história tecida nas palavras 
manifestam/representam zonas de conflitos, geralmente por poder ou pelas 
representações desse poder, o que acaba por selecionar memórias e criar identidades. 
 Assim os indivíduos por meio da experiências vividas no processo de luta, via 
Guerrilha no eixo Brasília Goiânia extrapolaram os destinos marcados e foram capazes 
de produzir identidades diversas com subjetividades que escapam ao enquadramento em 
sistemas sociais homogeneizante e pré-definidos a priori pelo pesquisador. Enfim, 
reviver memórias é uma possibilidade de se ler o passado como lugar de experiências de 
outros sujeitos que nos antecederam é com eles estabelecer um diálogo para a 
compreensão do presente. 
 
 
Referências Bibliográfica 
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Rio de Janeiro. FGV, 2002. LEVI, Giovanni. Usos da Biografia. 
ARENDT, Hanna. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. 
AVELAR, Alexandre. A Biografia Como Escrita da História: Possibilidades, limites e tensões. 
Disponível em: http://www.ufes.br/ppghis/dimensoes/data/uploads/Dimensoes-
AlexandreAvelar.pdf BACZKO, Bronislaw. A imaginação social In: Leach, Edmund et Alii. 
Anthropos-Homem. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985 
BENJAMIN, W. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: ______. 
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