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RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL Relações Hídricas na Planta O processo dominante em relações de água da planta é a absorção de grande quantidade de água do solo, sua translocação pela planta e a perda para a atmosfera na forma vapor de água. De toda a água absorvida pelas plantas, menos que 5 por cento é retido de fato para o crescimento e muito menos é usado nos processos bioquímicos. A água passa pela planta e é perdida na forma de vapor de água. Este fenômeno é conhecido como TRANSPIRAÇÃO. A transpiração é mais evidente em plantas cultivadas onde são exigidas centenas de quilogramas de água para produzir um quilograma de matéria seca e a transpiração quando excessiva pode reduzir significativamente a produtividade. Uma importância quantitativa da transpiração foi indicada por uma variedade de estudos durante vários anos. No seu clássico livro de fisiologia de 1938, E. C. Miller descreve que uma única planta de milho pode transpirar mais de 200 litros de água durante seu ciclo. Isto equivale aproximadamente a 100 vezes o seu próprio peso. Extrapolando a um campo de plantas de milho, este volume de água é suficiente para cobrir um acre de 38 cm de profundidade. Uma única, árvore de 14,5 m pode perder mais do que 225 litros de água por hora. Se há qualquer vantagem na transpiração é oriunda um ponto passível de discussão, mas o potencial para tais quantias volumosas de perda de água tem implicações profundas no crescimento, produtividade e sobrevivência das plantas. A redução no crescimento devido ao estresse hídrico é a principal causa de perdas econômicas e o fracasso de colheita em todo o mundo. Assim tanto na aspecto teórico quanto no prático, a transpiração é sem dúvida um processo de grande importância. Este capítulo examinará o fenômeno de transpiração e o movimento de água pelas plantas. Os tópicos principais a serem ressaltados incluem: • O processo da transpiração e a importância da diferença de pressão de vapor em dirigir a troca de água entre as folhas e a atmosfera; • A importância dos fatores ambientais, em particular a temperatura e a umidade em regular a taxa de perda de água na transpiração; a anatomia do sistema condutor de água; • Como as plantas conseguem manter a coluna de água em plantas altas e no solo e • Como a água é absorvido pelas raízes para manter a demanda transpiracional. TRANSPIRAÇÃO A principal perda de vapor de água das plantas ocorrem através dos estômatos localizados na folha e é dirigido pela diferença na pressão de vapor entre o espaço interno da folha e a atmosfera. O PROCESSO A transpiração é definida como a perda de água da planta na forma de vapor. Embora uma pequena quantidade de água pode ser perdida por aberturas pequenas chamadas lenticelas, localizadas na casca ou ramos de algumas plantas , a maior proporção (mais de 90%) é perdida nas folhas. Todavia, o processo da transpiração é estritamente dependente da anatomia foliar (Fig. 3.1). A superfície externa de uma folha típica é coberta por camadas de cera chamada cutícula. O principal componente da cutícula é a cutina, um polímero RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL heterogêneo de ácidos graxos hidroxilados (16 a 18 carbonos). A formação de ligações éster entre ao grupos carboxil e hidroxil de ácidos graxos próximos formam ligações cruzadas, estabelecendo uma rede polimérica. A rede de cutina é embebida na matriz da cera cuticular a qual forma uma mistura complexa de hidrocarbonos saturados, álcoois, aldeídos e cetonas de cadeia longa (acima de 37 carbonos). Uma vez que as ceras são hidrofóbicas, elas oferecem resistências extremas a difusão tanto da água na forma líquida como na forma de vapor. Assim, a cutícula serve para restringir a evaporação da água da superfície externa das células epidérmicas da folha e protegem tanto a epiderme como as células do mesofilo da dissecação letal. A integridade da epiderme e da cutícula é ocasionalmente interrompida por pequenos poros chamado de estômatos. Cada poro é cercado por um par de células especializadas, chamadas células guardas. Estas células guardas funcionam como válvulas operadas hidraulicamente que controlam o tamanho do poro. O interior da folha é composto de células do mesofilo fotossintético. Algumas células do mesofilo perdem o arranjo característico e criam um sistema interconectado de espaços de ar intercelular. Este espaço pode perfazer até 70 % do volume total da folha em alguns casos. Os estômatos são localizados de tal modo que, quando abertos, permitem a troca de gases (principalmente dióxido de carbono, oxigênio e vapor de água) entre o espaço de ar interno e a atmosfera vizinha da folha. Devido a esta relação, este espaço é referido como câmara subestomâtica. A transpiração é considerada um processo de dois estádios: • A evaporação de água da parede celular úmida dentro da câmara subestomâtica e A difusão de vapor de água da câmara subestomâtica para a atmosfera. Assume-se que a evaporação ocorre primeiramente na superfície das células do mesofilo que margeiam a câmara subestomâtica. Todavia, muitas investigações têm proposto uma visão Figura 3.1 – Representação diagramática de uma folha mesomórfica típica (Acer sp) ostrada em corte transversal. mais restrita, sugerindo que a maioria da água que evapora da superfície interna das células epidérmicas é proveniente da região periestomatal (Kramer, 1983). Conhecido como evaporação periestomâtica, esta visão é baseada em numerosos trabalhos indicando a presença de camadas de cutícula na parede celular do mesofilo. A difusão do vapor de água da câmara subestomâtica para a atmosfera é bastante direta. O vapor de água quando deixa a superfície das células difunde-se através câmara subestomâtica e sai da folha através do poro estomático. A difusão do vapor de água através do poro subestomâtico é conhecido como transpiração RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL estomática, e é responsável por 90 a 95 % da água perdida nas folhas. O restante, 5 a 10 %, é perdida pela transpiração cuticular. Embora a cutícula seja composta por ceras e outras substâncias que a tornam quase que impermeáveis a água, pequena quantidade de vapor de água passa pela mesma. A contribuição da transpiração cuticular na perda de água pela folha varia consideravelmente entre espécies. Varia algumas vezes em função da espessura da cutícula. Cutícula mais espessa é característica de plantas de sol ou de clima desértico, enquanto que plantas com cutícula mais fina são característica de plantas que crescem em ambiente de sombra ou clima mais úmido. A transpiração cuticular pode tornar-se mais significativa, principalmente para folhas com cutícula mais fina, sob condições de seca quando a transpiração estomática é reduzida pelo fechamento dos estômatos. MEDIÇÃO DA TRANSPIRAÇÃO No começo desta descrição a magnitude da transpiração foi indicada com alguns valores representativos. Mas como a transpiração é medida? Dois métodos são normalmente utilizados: perda de peso e a troca de gás. O método de perda de peso pode ser demonstrado vedando-se completamente um vaso cujo solo esteja com alto potencial hídrico. Evita-se assim a evaporação da superfície do solo dentro do vaso. O vaso pode ser então pesado em intervalos de tempo e a perda de peso será atribuída a perda de água via transpiração através da parte aérea. Este método por perda de peso, também conhecido como método do lisímetro é preferido para estudos de produções agrícolas pela construção de enormes recipientes colocados no solo. O método do lisímetro, embora tendo grande aceitação com resultados bastante confiáveis em nível de campo, são difíceis de serem construídose geralmente não são portáteis. O método da troca de gás, freqüentemente usado em conjunto com experimentos medindo-se a fotossíntese, envolve a cobertura da folha ou ramo com uma câmara transparente contendo um fluxo contínuo de ar. A transpiração pode então ser estimada pela diferença no conteúdo de água do ar entrando e saindo da câmara. A temperatura, o conteúdo de C02 e outros parâmetros podem também ser medidos, relacionando-se as medições da transpiração com a abertura estomática e a taxa fotossintética. Atualmente se utiliza aparelhos sofisticados como por exemplo o IRGA (infra red gas analyzer – analisador de gás infra vermelho) que fornece todos os parâmetros que se que estudar, como por exemplo, transpiração, fotossíntese, respiração, temperatura e resistência estomática. A FORÇA MOTORA DA TRANSPIRAÇÃO Como mostrado anteriormente o movimento de água é determinado pela diferença de potencial hídrico. Pode-se então assumir que a força diretora para a transpiração é a diferença de potencial hídrico entre a câmara subestomâtica e a atmosfera. Entretanto, neste caso, é mais coerente se falar em vapor de água e não água na forma líquida. Assim é preferível descrever os processos em termos de sistema de vapor. Considera-se o que acontece, por exemplo, quando um determinado volume de água pura é colocado em uma câmara fechada (Figura 3.2). Inicialmente as moléculas mais energizadas saem da água líquida e se direcionam para as proximidades do ar, preenchendo o espaço com vapor de água. Algumas daquelas moléculas começam a se condensar tornando-se líquidas. Com o passar do tempo a água na câmara alcança um equilíbrio dinâmico. Neste caso a taxa de evaporação será balanceada pela taxa de condensação. O espaço de ar contém a máxima quantidade de vapor de água que o ar RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL pode reter naquela temperatura. Em outras palavras, no equilíbrio a fase de gás estará saturada com vapor de água. A concentração de moléculas de água na fase de vapor pode ser expressa como massa de vapor por unidade de volume (g m-3), chamada de densidade de vapor. Alternativamente, a concentração pode ser expressa em termos de pressão exercida pelas moléculas de vapor de água contra a superfície fluida e a parede da câmara. Isto é chamado de pressão de vapor (símbolo = e). Com uma equação apropriada, a densidade de vapor e a pressão de vapor podem ser interconversíveis. Como se está mais acostumado a descrever os Figura 3.2 – Pressão de vapor em um recipiente fechado. Inicialmente (A), mais moléculas escapam da superfície da água do que se condensa, preenchendo o espaço de ar com moléculas de vapor de água. As moléculas do vapor de água exercem uma pressão (pressão de vapor) contra as paredes da câmara e na superfície da água. No equilíbrio (B) a taxa de condensação é igual a evaporação e o ar está saturado com vapor de água. A pressão de vapor quando o ar está saturado é conhecido como pressão de vapor de saturação. A alta temperatura (C), uma maior proporção de moléculas de água tem suficiente energia para escapar; tanto a concentração de moléculas de água na fase de vapor quanto a pressão de vapor de saturação são correspondentemente mais altos. componentes de potencial hídrico na forma de unidade de pressão (expressa como kilopascal, kPa), utilizar-se-á o termo pressão de vapor nesta discussão. Pode-se dizer então que quando uma fase de gás alcança equilíbrio e está saturada com vapor de água, o sistema alcançou sua pressão de vapor de saturação. A pressão de vapor em uma solução a pressão atmosférica é influenciada tanto pela concentração do soluto como pela temperatura. Como demonstrado anteriormente o efeito da concentração do soluto na pressão de vapor pode ser expressa em termos de fração molal das moléculas de água. Esta relação é dada pela Lei de Raoult, que estabelece: oieXe = (3.1) Figura 3.3 – Uma representação esquemática das principais resistências encontradas pelo vapor de água para difundir-se para fora da folha. RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL onde: e é a pressão de vapor da solução, Xi é a fração molar da água (número de moléculas de água/número de moléculas de água + o número de moléculas do soluto, e oe é a pressão de vapor de saturação da água pura. A redução real na pressão de vapor devido ao soluto é pequena. Isto acontece porque mesmo em soluções relativamente concentradas a fração molar do solvente permanece alta. Como exemplo, considera- se, uma solução de 0,5 molal, a qual se assemelha com a concentração do suco vacuolar em uma célula de planta típica. Uma solução de 0,5 molal contém ½ mole de solvente dissolvido em 1.000 g (55,5 mol ) de água. A fração molar da água em uma solução de 0,5 molal é desta forma 55,5/(55,5 + 0,5) = 0,991. De acordo com a equação 3.1, a pressão de vapor de saturação de uma solução de 0,5 molal seria reduzido em menos de 1 % quando comparado a água pura. A temperatura, por outro lado, tem um significante efeito na pressão de vapor. Isto acontece devido ao efeito da temperatura na energia cinética média das moléculas de água. Quando a temperatura de um volume de água ou de uma solução aquosa aumenta, a proporção de moléculas com energia suficiente para escapar da superfície do fluido também aumenta. Isto obviamente aumenta a concentração de moléculas de água na fase de vapor e, conseqüentemente, no equilíbrio da pressão de vapor. Um incremento na temperatura em torno de 12 0C aproximadamente dobra a pressão de vapor de saturação. De acordo com a lei de difusão de Fick, as moléculas difundem- se de uma região de alta concentração para uma região de baixa concentração, ou, a favor de um gradiente de concentração. Uma vez que a pressão de vapor é proporcional a concentração de vapor, o vapor de água também difunde-se a favor do gradiente de vapor, isto é, de uma região de alta pressão de vapor para uma região de baixa pressão de vapor. Em princípio pode-se assumir que o espaço de ar subestomâtico da folha é normalmente saturada ou próximo da saturação com vapor de água. Isto acontece porque as células do mesofilo que margeiam o espaço de ar da câmara subestomâtica apresentam uma grande área superficial para a evaporação de água.. Por outro lado, a atmosfera que divisa as folhas esta normalmente não saturada e tem na maioria das vezes baixo conteúdo de água (baixo potencial hídrico). Estas circunstâncias criam um gradiente entre o alta pressão de vapor de água no interior das folhas e uma baixa pressão de vapor de água na atmosfera externa. Esta diferença na pressão de vapor entre o espaço de ar interno da folha e o ar atmosférico é a força motora para a transpiração. .. A INFLUÊNCIA DA UMIDADE, DA TEMPERATURA E DA VELOCIDADE DO VENTO NA TRANSPIRAÇÃO. A taxa de transpiração é influenciada por fatores tais como umidade, temperatura e velocidade do vento, que influenciam a taxa de difusão do vapor de água entre a câmara subestomâtica e a atmosfera (camada de ar ambiente). A lei de Fick deixa claro que a taxa de difusão é proporcional a diferença na concentração da substância difundindo. Assim, observa-se que a taxa de transpiração é governada em grande proporção pela magnitude do gradiente de pressão de vapor entre a folha e o ar (atmosfera). Em outras palavras, T α efolha - ear (3.2) Ao mesmo tempo, a saída do vapor de água das folhas é controlada em grande parte por resistências tanto no interior da folha como na atmosfera mais próximo da folha (Fig. 3.3). As moléculas de vapor de água enfrentam resistência quando passam através do espaço intercelular, e também quando passam peloporo estomâtico. Observa- se que o símbolo para a resistência estomâtica indica que é variável, RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL levando em consideração que o estômato pode estar em algumas circunstâncias completamente aberto, parcialmente aberto ou fechado. Resistência adicional é encontrada devido a presença da camada limítrofe. Esta camada se encontra imediatamente próxima da superfície da folha. O efeito da camada limítrofe na taxa de transpiração é comentada mais adiante. A equação da transpiração (Equação 3.2) agora requer termos adicionais de resistência a serem considerados. folhaar arfolha rr ee T − − = (3.3) A equação 3.3 mostra que a taxa da transpiração é proporcional a diferença na pressão de vapor entre a folha e a atmosfera dividida pela soma das resistências encontradas no ar e na folha. Efeito da Umidade – A umidade é o conteúdo de água do ar, a qual, como descrito anteriormente, pode ser expresso como densidade de vapor (g m-3) ou como pressão de vapor (kPa). É freqüentemente mais útil, entretanto, expressar o conteúdo de água como umidade relativa (UR). A umidade relativa é a razão da quantidade de água real do ar pela máxima quantidade de água que pode ser retida pelo ar a uma determinada temperatura. Expressa de um outro modo, a umidade relativa é a razão do conteúdo real de pressão de vapor pela pressão de vapor em condições saturadas. A umidade relativa é expressa normalmente como UR x 100, ou umidade relativa percentual. Os efeitos da umidade e da temperatura na pressão de vapor do ar é ilustrado na Tabela 3.1. O ar com 50 % de UR, por definição, contém ½ da pressão de vapor de saturação. Verifica-se também que um aumento em 10 0C na temperatura quase dobra a pressão de vapor de saturação. A umidade relativa e a temperatura também tem um efeito significante no potencial hídrico do ar (Tabela 3.2). A pressão de vapor na câmara subestomâtica da folha está quase sempre próximo da saturação. Mesmo em uma folha transpirando rapidamente a UR poderá exceder a 95 % e o potencial hídrico resultante estar próximo de zero (Tabela 3.2). Sob estas condições, a pressão de vapor na câmara subestomâtica seria a pressão de vapor de saturação na temperatura da folha. A pressão de vapor na atmosfera, por outro lado, depende tanto da umidade relativa do ar como de sua temperatura. A umidade e a temperatura tem o potencial de modificar a magnitude do gradiente de pressão de vapor ( efolha – ear) , a qual influencia na taxa de transpiração. Tabela 3.1 – Pressão de vapor da água (kPa) no ar como uma função da temperatura variando o grau de saturação Umidade Relativa (%) Temperatura 100 80 50 20 10 30 4,24 3,40 2,12 0,85 0,42 20 2,34 1,87 1,17 0,47 0,23 10 1,23 0,98 0,61 0,24 0,12 Efeito da Temperatura – A temperatura afeta a taxa de transpiração devido ao seu efeito na pressão de vapor. O efeito da temperatura na pressão de vapor é ilustrado pelos três exemplos na Tabela 3.3. No primeiro exemplo (A), assumindo-se uma temperatura ambiente de 10 0C e a UR de 50 %, o gradiente de pressão de vapor da folha para o ar é de 0,61 kPa. Isto pode ser uma situação típica nas primeiras horas da manhã. Quando o sol aparece, a temperatura do ar aumenta. Um aumento na temperatura de 10 0C (Tabela 3.3B), RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL assumindo-se que o conteúdo de água permaneça constante, aumentaria o gradiente de pressão de vapor da folha para o ar, conseqüentemente, o potencial de transpiração, por um fator de aproximadamente 3. Deve-se ressaltar que neste exemplo assume-se que a temperatura da folha está em equilíbrio com a atmosfera. Mas isto não é o que acontece sempre. A folha exposta a luz do sol alcança temperaturas de 5 a 10 0C acima da temperatura ambiente. Sob estas circunstâncias, o gradiente de pressão de vapor pode aumentar mais do que 6 vezes (Tabela 3.3C). Tabela 3.2 – Alguns valores para o potencial hídrico (ψ) como uma função da umidade relativa Umidade Relativa (%) ψψψψ (MPa)* 100 0 95 -6,9 90 -14,2 50 -93,5 20 -217,1 Obs.: O potencial hídrico é calculado da seguinte relação que é derivado da lei de Raoult’s: e e V RT w 0 log3,2−=Ψ Tabela 3.3 – O efeito da temperatura e da umidade relativa do ar no gradiente de pressão de vapor da folha para o ar. Neste exemplo assume-se que o conteúdo de água da atmosfera permanece constante. Folha Atmosfera efolha - ear (A) T = 10°C T = 10°C e = 1,23 kPa e = 0,61 kPa 0,61 kPa UR = 100 % UR = 50 % (B) T = 20°C T = 20°C e = 2,34 kPa e = 0,61 kPa 1,73 kPa UR = 100 % UR = 26 % (C) T = 30°C T = 20°C e = 4,24 kPa e = 0,61 kPa 3,63 kPa UR = 100 % UR = 26 % Enquanto o estômato permanece aberto e o gradiente de pressão de vapor existe entre a folha e a atmosfera, o vapor de água difunde-se para fora da folha. Isto significa que a transpiração pode ocorrer mesmo quando a UR do ar está em 100 %. Efeito do vento – A velocidade do vento tem um efeito marcante na transpiração, por modificar a velocidade da difusão das moléculas de água que deixam a folha. Isto se deve pela existência da camada de ar limítrofe na superfície da folha, já comentado anteriormente (Fig. 3.3). Antes de alcançar o ar, as moléculas de vapor de água que saem da folha, precisam difundir-se não só através da espessa camada epidérmica, mas também através da camada limítrofe. RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL O espessamento da camada de ar limítrofe traz maior dificuldade para a difusão do vapor de água e conseqüentemente na taxa de transpiração. O espessamento da camada de ar limítrofe é em primeiro instância uma função do tamanho e da forma da folha, da presença de tricomas, e da velocidade do vento (Nobel, 1991). O cálculo da espessura da camada de ar limítrofe como uma função da velocidade do vento em uma folha típica é ilustrado na Figura 3.4. Com aumento na velocidade do vento, a espessura da camada de ar limítrofe, e conseqüentemente a extensão da rota de difusão decresce. De acordo com a lei de Fick enquanto a pressão de vapor existe, mantendo os outros fatores, a taxa de precipitação aumenta. Esta relação, no entanto é verdadeira quando a velocidade do vento é baixa. Quando a velocidade do vento aumenta há tendência de resfriar a folha podendo causar suficiente dessecação para fechar o estômato. Alta velocidade do vento tem mais efeito na camada de ar limítrofe do que na transpiração propriamente dita. Figura 3.4 – O impacto da velocidade do vento na espessura da camada de ar limítrofe calculada para folhas de 1,0 cm (triângulos) e 5,0 cm (círculos) de largura. A velocidade do vento de 0,28 m-1 = 1 km h-1. A espessura da camada de ar limítrofe pode ser influenciado por uma variedade de fatores. A camada de ar limítrofe é mais espessa na superfície de folhas mais largas. Além disso a forma da folha pode influenciar na atuação do vento. Folhas com pubescência ou tricomas ajudam a manter a camada de ar limítrofe, e conseqüentemente tendem a reduzir a transpiração, pela quebra do movimento de ar sobre a folha. EFICIÊNCIA DA TRANSPIRAÇÃO Antes de deixar a discussão sobre transpiração, é importante discutir algumas questões importantes. Por exemplo, como as plantas conseguem perder quantidades enormes de vapor de água através de poros de estômatos tão pequenos? Estima-se, que a difusão através dos estômatos é 50 a 70 vezes mais eficiente do que uma superfície única com a mesma área total dos estômatos em considerados. Observa-se que, embora os estômatos sejam diminutos são muito eficientes para a difusão de gases.Uma discussão mais completa será feita quando estudar-se-á fotossíntese. . ANATOMIA DA CONDUÇÃO DE ÁGUA A principal rota para a condução de água através das plantas é uma série de elementos traqueais que formam um sistema interconectado de condutos abertos Uma característica que distingue as plantas vasculares é a presença de tecido vascular, o xilema e floema, que conduzem água e nutrientes entre os vários órgãos. Os tecidos vasculares começam a se RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL Figura 3.5 – Tecido vascular de uma raiz jovem de Ranunculus sp, mostrando o vaso do xilema em corte transversal. diferenciar a poucos mm do meristema da raiz e da parte aérea e estende-se como um sistema contínuo dentro dos órgãos tais como ramos, folhas flores e frutos. Em órgãos como as folhas, as nervuras maiores subdividem-se em pequenas e muito pequenas nervuras. O xilema é responsável pelo transporte de água , minerais dissolvidos e moléculas pequenas absorvidas ao longo da planta e pelas raízes. O floema por outro lado é responsável principalmente pelo transporte de substâncias orgânicas dos sítios de síntese (fonte) para os locais de armazenamento ou de consumo (dreno). Figura 3.6 – Traqueídeos de (A) Pinus e (B) Quercus. Elemento de vaso de Magnólia e (C) e (D) Tilla.. O xilema consiste de fibras, células parenquimáticas e elementos traqueais (Fig 3.5). As fibras são células muito alongadas com espessamento na parece secundária. Sua principal função é fornecer suporte estrutural a planta. As células do parênquima são responsáveis pelo armazenamento e transferência lateral de solutos. Os elementos traqueais incluem os traqueídeos e os elementos de vaso (Fig 3.6). Os elementos traqueais são as células do xilema mais especializadas e são as células que conduzem a água propriamente dita. Os traqueídeos e os elementos de vaso são células alongadas com parede celular secundária, formando muitas vezes verdadeiras esculturas. Sua principal característica, é que quando madura e RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL funcionais, tanto os traqueídeos como os vasos formam um sistema interconectado de células mortas (sem protoplasma). Esta fileira de células , de natureza tubular formam um sistema interconectado que facilita o transporte rápido e eficiente de grande volume de água através da planta. Os traqueídeos são células simples com diâmetros na faixa de 10 a 50 µm. Eles possuem comprimentos menores do que 1 cm, mas em algumas espécies podem chegar a 3 cm. Os traqueídeos também contêm espessamento da parede secundária. Este espessamento é constituído principalmente de celulose, hemicelulose e lignina. Devido ao alto conteúdo de lignina, as paredes secundárias são menos permeáveis a água do que as paredes primárias de células ainda crescendo. Por outro lado, a força adicional da parede secundária ajuda a evitar o colapso das células sob pressões negativas extremas que podem se desenvolver em plantas transpirando ativamente. Embora sua principal função seja a condução de água. O espessamento da parece secundária dos traqueídeos também contribuem para o suporte estrutural da planta. O movimento da água entre os traqueídeos é facilitado por interrupções conhecidas como pontuações areoladas, na parede secundária (Fig. 3.7). Durante o desenvolvimento dos traqueídeos, as regiões que se tornarão pontuações areoladas evitando a deposição de material secundário. Nas pontuações somente existe a lamela média e a parede primária que separam o lúmen de uma célula que se liga a outra. Estas pontuações formadas permitem a passagem livre de água e solutos. A origem destas aberturas ainda não são claras, mas pensa- se que são regiões onde filamentos citoplasmáticos (plasmodesmos), penetram na célula quando as células estão ainda vivas. Figura 3.7 – Diagramas de pontuações areoladas. (A) Dois pares de pontuações areoladas na parede entre dois vasos do xilema. (B) Visão de superfície. (C) Uma pressão diferencial, empurrando o torus para a borda, selando a pontuação e evitando o movimento de água . Nas imediações das pontuações areoladas há uma projeção de parede secundária, e a região central é chamada de torus. A pressão do torus contra as bordas fecham as pontuações como mostrado na Figura 3.7. Os traqueídeos ficam orientados um no lado do outro e a água e tudo que está nela dissolvido, move-se entre as células adjacentes através das pontuações areoladas ao longo da planta. RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL Os vasos são elementos traqueais muito longos oriundos de unidades individuais, conhecidas como elementos de vaso, os quais estão arranjados em uma série longitudinal. Na maturidade, as paredes das unidades de vaso são dissolvidos, deixando aberturas chamadas placas de perfuração. Figura 3.8 – O desenvolvimento de um elemento de vaso. (A) célula meristemática. (B) Inchamento da lamela média na região da futura placa de perfuração. (C) Deposição de parede secundária exceto sobre a área da futura perfuração. (D) Elemento de vaso maduro. A parede primária e a lamela média são dissolvidos e o protoplasto desaparece. Quando a célula virá a ser um membro de vaso se desenvolve, a futura área de perfuração torna-se espessa devido a expansão da lamela média (Fig. 3.8). A área de espessamento contém pouca celulose, consistindo quase que exclusivamente de polissacarídeos não celulósicos. Quando as células maduras e o citoplasma começam a serem degradados, o sítio não protegido da perfuração é atacado por enzimas hidrolíticas as quais dissolvem-nos. O resto da área da parede é coberta com materiais lignificados formando a parede secundária que é protegida da degradação. Em alguns casos, há a lise de toda extremidade do elemento de vaso deixando apenas um anel de parede secundária que marca a junção entre dois elementos de vaso sucessivos (Fig. 3.8). Em outros casos, o a placa pode ser multiperfurada. Se as perfurações são alongadas e paralelas, é chamada de escaliforme. Se for irregular é dita reticulada. A perfuração geralmente permite movimento relativamente livre de água entre os elementos de vasos sucessivos. Não há nenhuma placa de perfuração no final dos vasos, isto é, no final da seqüência dos elementos de vaso, mas a água é capaz de mover-se lateralmente de um vaso para outro devido a presença de traqueídeos. O tamanho dos vasos é muito variável, embora eles sejam muito maiores do que os traqueídeos. Em Acer sps., por exemplo, os vasos variam de 40 a 60 µm em diâmetro, enquanto em outras espécies de Quercus sps o diâmetro pode chegar de 300 a 500 µm. O comprimento do vaso em Acer sps é geralmente de 4 cm ou menos, mas em alguns casos pode chegar a 30 cm. Em Quercus sps, por outro lado vasos de até 10 m de comprimento tem sido encontrados (Zimmermann, 1983). Assim, o sistema vascular está presente deste a ponta das raízes até margem das folhas. Os vasos são considerados mais evoluídos do que os traqueídeos. Por exemplo, o tecido do xilema nas gimnospermas, considerado evolucionarmente mais primitivo do que as angiospermas, consistem totalmente de traqueídeos. Embora os traqueídeos ocorrem nas angiospermas, a água é conduzida por vasos. Também em função do seu maior tamanho, os vasos são consideravelmente mais eficientes do que os traqueídeos na condução de água. Uma equação empírica relacionando a taxa de fluxo ao tamanho RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL dos condutores foi desenvolvida no século dezenove pelo cientista Jean L. M. Poiseuille. Ele mostrou que quando um fluido é dirigido por pressão a taxa do fluxo (Jv) é uma função da viscosidade do líquido (η), da diferença na pressão ou queda dapressão (∆P), e do raio do conduto: JvrP =∆ η π 8 4 (3.4) A equação aplica-se ao movimento de água nos elementos traqueais do xilema, porque, como mostrado acima, é dirigido pela diferença na pressão entre o solo e as folhas. Um importante ponto a ser ressaltado, é que a taxa de fluxo é diretamente proporcional a quarta força do raio. O impacto desta relação pode ser observado comparando-se a taxa de fluxo em um traqueídeo de 40µm de diâmetro (r = 20 µm) e um vaso com 200 µm de diâmetro (r = 100 µm). Embora o diâmetro relativo do vaso seja 5 vezes maior do que do traqueídeo, sua taxa de fluxo é 625 vezes maior do que a do traqueídeo. A alta taxa de fluxo nos vasos maiores ocorrem porque a taxa de fluxo de água não é uniforme através do conduto. A taxa de fluxo das moléculas perto da parede do conduto é reduzida por fricção, devido as forças de adesão entre a água e a parede do conduto. Quando o diâmetro do conduto aumenta, a proporção de moléculas próximas da parede diminui, conseqüentemente as forças de fricção também diminuem. Expondo de outro modo, as moléculas movendo-se no centro do conduto constitui uma proporção muito maior da população total, assim, a taxa de fluxo aumenta. ASCENSÃO DA ÁGUA NO XILEMA Um grande interesse dos fisiologistas de plantas sempre foi de se conhecer como a integridade da coluna de água no xilema é mantida e como ela alcança a ponta de árvores enormes. Muitos mecanismos tem sido propostos, mas somente um combina o processo de transpiração com as fortes forças coesivas da água. Árvores de grande porte são geralmente encontradas ao longo da costa do pacífico no noroeste dos Estados Unidos e sudoeste Colúmbia Britânica. As mais conhecidas são as sequóias (Sequoia Figura 3.9 – A pressão atmosférica pode suportar uma coluna de água e de altura de no máximo 10,3 m. sempervirens) localizadas na Carolina do Norte, alguns das quais ultrapassam 110 m de altura. Na Austrália tem-se relatos de plantas de eucalipto atingem mais de 130 m de altura. As forças requeridas para mover a água a tais alturas são substanciais. Se fosse construído um tubo contendo água, suficientemente longo, fechado em sua extremidade superior e RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL invertido dentro de um recipiente com água, como mostrado na Fig 3.9, a pressão atmosférica (101 kPa ao nível do mar) elevaria a coluna de água no tubo a aproximadamente 10,3 m. Para empurrar a coluna de água a uma maior altura requer um correspondente aumento na pressão atuando na superfície aberta. Assim para levar a água altura correspondente a ponta das árvores mais altas requereria um força 10 a 15 vezes maior do que a pressão atmosférica, ou 1,0 a 1,5 MPa. Esta força seria equivalente a pressão na base de uma coluna de água de 100 a 150 m de altura. Mas, mesmo assim, esta força não seria suficiente. Além da força da gravidade, a água move-se através da planta encontra resistência devido a estrutura dos tecidos condutores, como por exemplo a superfície irregular da parede, resistência a passagem pela placa de perfuração e outros. Assume-se que a força no mínimo igual a aquela requerida para suportar a coluna seria necessária para sobrepor estas resistências. Neste caso, uma força na ordem de 2,0 a 3,0 MPa seria requerida para mover a água da base até altura das maiores árvores conhecidas. Como estas forças são geradas? Esta é uma questão que ao longo do tempo os fisiologistas de plantas tem procurado entender formulando várias hipóteses. As três mais importantes são; a pressão radicular, a capilaridade e a teoria de coesão. PRESSÃO RADICULAR Se uma planta herbácea bem hidratada é cortada acima da linha do solo, a seiva xilemática exsuda da superfície cortada (Fig. 3.10). A exsudação da seiva que pode persistir por várias horas, indica a presença de uma pressão positiva no xilema. A magnitude desta pressão pode ser medida ligando-se um manômetro a superfície cortada (Fig 3.11). Este fenômeno é conhecido como pressão radicular. É assim denominado porque as forças que dão origem a exsudação são originárias da raiz. A pressão radicular tem a sua base na estrutura da raiz e na absorção ativa dos íons do solo. Os vasos do xilema estão localizados, na região central da raiz conhecida como estelo. Envolvendo o estelo há uma camada de células conhecida como endoderme. Na maioria das Figura 3.10 – Uma demonstração de exsudação da seiva do xilema devido a pressão radicular em feijão (esquerda) e de tomate (direita). A foto foi tirada 5 a 10 minutos após ter sido cortado o caule de plantas bem hidratadas. raízes, a parede tanto a parede radial como a transversal das células da endoderme desenvolve um espessamento chamado estria de caspari (Fig 3.12). Ela é composta principalmente de suberina, uma mistura complexa de álcoois e ácidos graxos de cadeia longa. Estas moléculas hidrofóbicas impregnam a parede celular, preenchendo os espaços entre as microfibrilas de celulose bem como os espaços entre as células. Verifica-se desta forma, que a estria de caspari torna-se RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL uma eficiente barreira para mover a água. Pode entrar ou sair do estelo somente passando através das membranas das células endodérmicas. Quando as raízes absorvem os íons minerais do solo, são transportados para dentro do estelo aonde são ativamente Figura 3.11 – Um manômetro simples para medir a pressão radicular. A pressão radicular pode ser calculada pela altura do mercúrio no tubo de vidro. depositados nos vasos do xilema. A acumulação dos íons no xilema diminui o potencial osmótico (S), e conseqüentemente do potencial hídrico (ψ) da seiva xilemática. Em resposta a redução do potencial hídrico, a água direciona-se das células corticais para dentro do estelo através das membranas das células da endoderme. Uma vez que a estria de caspari evita o retorno livre da água para o córtex, uma pressão hidrostática positiva é estabelecida no xilema. Assim, as raízes formam um verdadeiro osmômetro, na qual a endoderme constitui a membrana semipermeável, os íons acumulados no xilema representariam os solutos dissolvidos, e os vasos do xilema como o tubo vertical. Tão logo as raízes continuam a acumular os íons no xilema, a água continua a ascender nos vasos ou exsudar da superfície quando os vasos do xilema são danificados. Entretanto deve-se ressaltar que esta pressão radicular não é Figura 3.12 – Depósito de suberina (estria de caspari) nas paredes das células da endoderme da raiz. A suberina deposita-se na parede radial estabelecendo uma barreira ao movimento de água e sais no apoplasto da endoderme. forte o suficiente para dirigir a ascensão da água a grandes alturas, como no caso de árvores. Muitas razões concorrem para isso: Primeiro, a concentração de íons no xilema não é suficiente para elevar a coluna de água a grandes alturas. Valores de 0,1 a 0,5 MPa são comuns, o que representa aproximadamente 16 % da pressão requerida para mover a água até o topo das árvores mais altas. Além disso, a pressão radicular não tem sido detectado em todas as espécies, e mesmo dentro da mesma espécie não é constante. Durante o período de ativa transpiração, quando o movimento de água através do xilema é muito rápido, o xilema está sob tensão (pressão negativa). A pressão RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL radicular como descrito, não serve como um mecanismo para ascensão da seiva xilemática em todos os casos. A pressão radicular é importante em plantas herbáceas e mesmo em plantas que precisam retornar o crescimento como o caso de frutíferas e dirigir a nova brotação (desenvolvimentodas gemas). Uma importância grande da pressão radicular ocorre em plântulas que possuem baixa área transpiratória. Neste caso a transpiração não é suficiente para a demanda de água e sais minerais que as plantas necessitam. Assim, a pressão radicular pode compensar a falta de transpiração. A ÁGUA ASCENDE POR CAPILARIDADE Se um tubo de vidro capilar (pequeno diâmetro) for inserido dentro de um recipiente contendo água, a mesma sobe no tubo a uma determinada altura acima da superfície da água contida no recipiente. Este fenômeno é chamado de capilaridade. Ela se deve a interação de muitas forças. Isto inclui a adesão entre a água e o grupo polar ao longo da parede capilar, tensão superficial (devido a forças coesivas entre as moléculas de água), e a força gravitacional atuando na coluna de água. O aumento na altura calculado no tubo capilar é inversamente proporcional ao raio do tubo. Em um grande traqueídeo ou em um vaso pequeno, com um diâmetro de 50 µm (r = 25 µm), a água atingirá a altura de aproximadamente 0,6 m. Para um vaso grande ( r = 200 µm), a capilaridade seria responsável pela altura de apenas 0,08 m. Com base nestes números a capilaridade poderia contribuir para ascensão de água em traqueídeos e pequenos vasos em plantas de pequeno porte, ou seja, menos do que 0,75 m de altura. Entretanto, para alcançar a altura de uma árvore de 100 m por capilaridade, o diâmetro do capilar deveria ser em torno de 0,15 µm, muito menor do que o menor dos traqueídeos. Claramente, a capilaridade é inadequada como um mecanismo geral para explicar a ascensão da seiva xilemática. A TEORIA DE TENSO-COESO-TRANSPIRATÓRIA A mais ampla e aceita teoria para o movimento de água através das plantas é conhecida como teoria tenso-coeso-transpiratória. Esta teoria considera que há a formação de uma coluna desde as pontas das raízes, seguindo pelo caule (xilema), chegando até as células do mesofilo das folhas. Esta teoria tem sido creditado ao H. H. Dixon (1914), que primeiro teceu detalhes da mesma. A força diretora – de acordo com a teoria tenso-coeso- transpiratória, a força diretora para o movimento de água no xilema é RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL Figura 3.14 – Tensão (pressão negativa) na coluna de água. Evaporação dentro dos espaços das folhas causa retração da água para dentro dos espaços que unem as células do mesofilo. Como a água retrai, a tensão superficial resultante puxa a água das células adjacentes. Uma vez que a coluna de água é contínua, esta tensão é transmitida através da coluna, e por conseqüência na água da raiz e do solo. determinado pela evaporação de água da folha que gera uma tensão ou pressão negativa no xilema. A água cobre a superfície das células do mesofilo com um fino filme, aderido a celulose e outras superfícies hidrofílicas. Como a água deste filme evapora, a interface ar-líquido retrai em pequenos espaços entre as microfibrilas de celulose e a junção angular entre as células adjacentes. Isto cria superfícies curvas muito pequenas ou meniscos microscópicos (Fig. 3.14). Como o raio deste menisco decresce progressivamente, a tensão superficial na interface ar-água gera uma grande pressão negativa, o que por sua vez tende a tirar mais água da superfície. Uma vez que a coluna de água é contínua, esta pressão negativa, ou tensão, é transmitida através da coluna toda para o solo. Como resultado, a água é literalmente puxada através da planta das raízes para a superfície das células do mesofilo da folha. Da teoria da coesão vem duas importantes questões: (1) a seiva xilemática de uma planta com alta taxa transpiratória está sob tensão (2) como é mantida a integridade de uma coluna de água a grandes alturas? Na ausência de evidências diretas, a resposta para esta questão provê suporte para esta teoria. Com algumas exceções, tal como quando a pressão radicular está ativa, a pressão do xilema é raramente positiva. Por outro lado, muitas evidências suportam a conclusão que a água do xilema está sempre sob tensão. Primeiro, pode se escutar quando o xilema de uma planta transpirando rapidamente é cortada e em algumas vezes é possível se ouvir o som do ar que penetra no locar danificado ou ferido. Se o caule é cortado dentro de uma solução de tintura, a tintura será rapidamente absorvida pelos elementos traqueais próximo do corte. Uma segunda linha de evidência envolve medições comando com dispositivos sensíveis, chamado de dendrográficos que pode ser usado para medir pequenas mudanças no diâmetro de caules lenhosos. O diâmetro diminuem significativamente durante períodos de transpiração ativa (Dobbs e Scott, 1971). Isto acontece porque o caule é ligeiramente elástico e a tensão na coluna de água puxa as paredes dos elementos traqueais para dentro. À noite, quando a transpiração declina, a tensão é liberada e o diâmetro do caule volta ao normal. Uma variedade de experiências demonstrou que a parte aérea transpirando rapidamente pode puxar uma coluna de mercúrio para alturas maiores do que a pressão atmosférica poderia fazer. Medição direta da tensão dos vasos do xilema é possível pela RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL introdução da técnica da “Bomba de Pressão” inventada por P. F. Scholander (Scholander et al., 1965) (Fig. 2.6 D). Se a solução do xilema está sob tensão, o líquido no locar do corte desaparecerá. Todavia a solução será forçada a reaparecer através de pressões aplicadas na câmara. Com tal dispositivo, Scholander e outros tem medido tensões na ordem de –0,5 a –2,5 MPa em árvores rapidamente transpirando de zonas temperadas. Observa-se que o potencial de água próximo a base da árvore é menos negativo do que o potencial hídrico na ponta da árvore. O peso da evidência claramente suporta a hipótese que a coluna de água do xilema é literalmente puxada para cima nas árvores em resposta a transpiração. MANUTENÇÃO DA COLUNA DE ÁGUA Volta-se agora a segunda questão. Como a integridade da coluna de água é mantida? A habilidade para resistir a quebra é uma função da força tênsil da coluna de água. A força tênsil é uma medida da tensão máxima que um material pode suportar sem quebrar. A força tênsil é também outra propriedade da água atribuída as fortes forças coesivas intermoleculares, ou pontes de hidrogênio entre as moléculas de água. A força tênsil depende também do diâmetro do conduto, das propriedades da parede do conduto e da presença dos gases ou solutos dissolvidos. É aceito que para a água pura, livre de gás dissolvido, é capaz de resistir tensões menores do que -25 a – 30 MPa a 20 °C. Isto é aproximadamente 10 % da força tênsil do cobre, e 10 vezes maior do que a força requerida (-2,5 a –3,0 MPa) para puxar uma coluna de água para o topo das árvores mais altas. Uma vez que a água no xilema está sob tensão, ela precisa permanecer no estado líquido bem abaixo de sua pressão de vapor. Uma coluna de água sob tensão, é desta forma instável fisicamente. Os físicos denominam esta condição de “estado metaestável”. Quando a água se encontra neste estado pode ocorrer alterações repentinas, mas somente com estímulo externo. A estabilidade pode ser encontrada em uma coluna de água sob tensão pela introdução de uma fase de vapor. As moléculas de água na fase de vapor tem coesão muito menor, o que permite o vapor expandir-se rapidamente, isto é causando uma ruptura na coluna e liberando a tensão. Como pode uma fase de vapor ser introduzida na coluna de água do xilema? A água do xilema contém muitos gases dissolvido, incluindo o C02, o 02 e o N2. Quando a coluna de água está sob tensão, há tendência destes gases penetrarem na solução. Bolhas microscópicas primeiro formam-se na interface entre a água e a parededo traqueídeo ou vaso, provavelmente nos pequenos poros da parede. Estas pequenas bolhas podem redissolver-se ou podem coalecerem-se e se expandirem-se rapidamente e preencher o conduto. Este processo de formação rápida de bolhas no xilema é denominado de cavitação. Como resultado estas bolhas de gás formam uma obstrução no conduto chamada de embolismo. O embolismo trás sérias conseqüências a coesão da água e portanto na coluna de água, porque um conduto contendo embolismo, não pode mais conduzir água. Claramente o efeito da cavitação e do embolismo na sobrevivência das plantas seria desastroso se a planta não tivesse mecanismos para minimizar os seus efeitos. O principal mecanismo para minimizar o RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL Figura 3.15 – Contendo o embolismo. As bolhas de ar chegam ou se formam no xilema são contidos no elemento de vaso ou traqueídeo. (A) A pressão diferencial resultado de um embolismo causa o fechamento da pontuação pelo torus evitando danos maiores. (B) A tensão superficial evita que as bolhas passem através da perfuração ou pela lateral do elemento traqueal. efeito do embolismo é estrutural. O embolismo é localizado dentro de um traqueídeo ou elemento de vaso. Nos elementos traqueais com pontuações areoladas, o embolismo é barrado devida a estrutura da pontuação (Fig. 3.14 A). Uma diferença na parede entre o elemento de vaso contendo o embolismo e o elemento de vaso preenchido com água faz com que as bolhas passem através dos traqueídeos. Ao mesmo tempo a tensão superficial evita que as bolhas passem através dos traqueídeos. Ao mesmo tempo a tensão superficial evita que as bolhas passem através das pequenas aberturas da placa de perfuração entre elementos de vasos sucessivos (Fig. 3.15 B). Assim a água continua a percorrer lateralmente através das pontuações disponíveis que não estão com embolismo. As plantas podem evitar danos a mais longo prazo, reparando o embolismo. Isto pode acontecer a noite por exemplo, quando a transpiração é baixa ou ausente. A baixa tensão do xilema permite que os gases se dissolvem novamente na seiva xilemática. Uma explicação alternativa, principalmente em espécies herbáceas, é que o ar pode ser forçado para dentro da solução a noite pela pressão radicular positiva. SOLO – UM MEIO COMPLEXO RAÍZES, SOLO E A ABSORÇÃO DE ÁGUA Para manter a turgescência das folhas e das raízes bem como o suporte para a atividade bioquímica a um nível que assegura a subrevivência, a água perdida pela planta pela transpiração precisa ser continuamente renovada. Muitas plantas podem absorver a umidade atmosférica na forma de névoa ou orvalho, mas insignificante quando comparado com a absorção radicular A perda de água pela transpiração deve ser restabelecida pela absorção de um quantidade equivalente de água do solo através do RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL sistema radicular. Isto estabelece um integrado fluxo de água do solo passando através da planta e atingindo a atmosfera, comumentemente referido como “continuum solo-planta-atmosfera”. Este conceito reforça a observação que as plantas não existem isoladamente, pelo contrário são dependentes do seu meio. SOLO – UM MEIO COMPLEXO Para entender a interação entre a raiz e a água do solo é necessário uma revisão da natureza do solo, mesmo que superficial. O solo é um meio muito complexo, consistindo de uma fase sólida composta de partículas de rochas inorgânicas e de material orgânico, uma solução contendo solutos dissolvidos e uma fase de gás em equilíbrio com a atmosfera. A fase sólida inorgânica do solo é derivado da rocha mãe que é degradada por processos físicos, químicos e biológicos para produzir partículas de tamanhos variados (Tabela 3.4). Além das fases sólida, líquida e de gás, o solo ainda contém matéria orgânica em vários estádios de decomposição, bem como bactérias, fungos e musgos e vários outros organismos. Tabela 3.4 – Classificação das partículas do solo e algumas de suas propriedades. Uma mistura de 40 % de areia, 40 % de silte e 20 % de argila é conhecido como solo limoso. Um solo arenoso possui menos do que 15% de silte e areia, enquanto que um solo argiloso possui mais de 40% de argila. Classe das Partículas Tamanho das Partículas Retenção de Água Aeração Areia Grossa 2.00 – 0.2 Pobre Excelente Areia 0.20 – 0.02 Silte 0.02 –0.002 Boa Boa Argila < 0.002 Excelente Pobre As partículas do solo combinam-se para formar agregados complexos que em conjunção com areia e o silte determinam a estrutura do solo. A estrutura do solo tem grande influência na porosidade, na aeração e no poder de retenção de água do solo. A porosidade ou poro, refere-se aos canais interconectados entre as partículas do solo de forma irregular. Os poros ocupam em torno de 40 a 60 % do volume do solo. Os poros são enquadrados em duas categorias; macroporos e microporos. Entretanto, não existe demarcação nítida entre os dois tipos de poro. A forma do poro é também um fator determinante. A água não fica retida de maneira rígida em poros maiores do que 10 a 60 µm de diâmetro. Quando o solo é umedecido, pela chuva ou irrigação, a água percola através dos espaços dos poros até deslocar quase todo o ar. O solo está então saturado com água. A água presente nos macroporos é drenada devido a força gravitacional. A água que permanece após a drenagem livre é presa nos poros RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL capilares. Neste ponto, a água no solo é dita estar na Capacidade de Campo. Sob condições naturais, necessita-se de muita água para alcançar a capacidade de campo. A proporção relativa de macro e microporos no solo pode ser estimado pela determinação do conteúdo de água do solo quando recém umedecido e atingido a capacidade de campo. A quantidade de água expressa pelo peso de água por unidade de peso do solo seco pode ser determinado secando-se o solo a 105°C. O solo com grande predomínio de areia, tem alta proporção de macroporos. Este solo, logicamente drena a água mais rapidamente e conseqüentemente possui capacidade de campo mais baixa e boa aeração (Tabela 3.4). Os espaços dos poros do solo argiloso, por outro lado, consiste de grande quantidade de microporos. Assim, este solo retém maior quantidade de água, mas é pobremente aerado. A água retida no solo na ou abaixo da capacidade de campo é encontrada em canais capilares e no espaço intersticial entre as partículas do solo em contato, muito mais do que acontece na parede celular e nos espaços intercelulares das células do mesofilo na folha. A água do solo é desta forma sujeita as mesmas forças de tensão superficial encontradas nos espaços capilares de tecido do mesofilo, como discutido anteriormente. Conseqüentemente, a água do solo quando esta na capacidade de campo ou abaixo dela está sob tensão e o potencial hídrico é negativo. Quando o conteúdo de água do solo decresce, tanto pela evaporação da superfície do solo ou pela absorção radicular, a interface ar-água se contrai para dentro dos espaços capilares entre as partículas do solo. Uma vez que a água adere-se fortemente as partículas do solo, o raio do menisco decresce e a pressão torna-se muito negativa. Em princípio, o movimento de água no solo é primariamente dirigida por pressão da mesma maneira que a tensão capilar nas células do mesofilo da folha retira água da coluna do xilema. Quando a água é removida do solo pelas raízes, a tensão da água do solo puxa mais água. Se há abund6ancia de água no solo, esta diferença de pressão pode puxar água de uma dist6ancia considerável. Exceto em solos salinos, a concentração da superfície da água do solo érelativamente baixa, na ordem de 10-3 M e o potencial hídrico do solo é determinado principalmente pelo potencial de pressão negativo. Como é esperado, a absorção de água pelas raízes ocorre devido a um gradiente de potencial hídrico entre o solo e a raiz. Isto é, quando o solo seca e o seu potencial declina, as plantas possuem dificuldade em extrair água do solo rápido o suficiente para balançar as perdas pela transpiração. Sob estas condições, as plantas perdem o turgor e murcham. Se a transpiração é reduzida ou evitada por um período de tempo (tal como a noite, ou cobrindo-a com um saco plástico) a absorção de água pode normalizar-se, o turgor é restaurado, e as plantas voltam ao normal. Eventualmente, um ponto pode ser alcançado aonde o conteúdo de água do solo é tão baixo que toda a água perdida pela transpiração é evitada, a planta é incapaz de extrair água suficiente do solo e a perda de turgor é permanente. O conteúdo de água neste ponto, medido como uma percentagem do peso seco do solo, é conhecido como percentagem de murcha permanente. O valor real da percentagem de murcha permanente varia entre os tipos de solo; ele é relativamente baixo (na faixa de 1 a 2%) para solo arenoso e alto (20 a 30%) para solo argiloso. Os solos que possuem mistura de areia e argila caem em uma faixa intermediária. Independentemente do tipo de solo, o potencial de água do solo na percentagem de murcha permanente é relativamente uniforme, em torno de –1,5 MPa. Embora haja algumas exceções a maioria das plantas são capazes de extrai quantidades significantes de água do solo quando o potencial hídrico do solo reduz abaixo de 1,5 MPa. RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL Assim, a capacidade de campo pode ser considerada uma propriedade do solo, enquanto a percentagem de murcha permanente é uma propriedade da planta. O conteúdo de água do solo entre a capacidade de campo e a percentagem de murcha permanente é considerado água disponível, ou a água que esta disponível para ser absorvida. A faixa de disponibilidade de água é relativamente alta em solos limosos, menor em solos argilosos e relativamente baixa na areia. Nem toda a água nesta faixa é uniformemente disponível, logicamente. Em solos secando, as plantas começam a mostrar sinais de estresse hídrico e reduzir o seu crescimento antes do potencial hídrico do solo alcançar a percentagem de murcha permanente. ABSORÇÃO DE ÁGUA PELAS RAÍZES As raízes tem quatro funções principais: 1. ancorar a planta no solo; 2. armazenar carboidratos e outras moléculas orgânicas; 3. sítio de síntese para importantes moléculas tais como alcalóides e alguns hormônios e; 4. absorver e transportar para a parte aérea água e os sais minerais absorvidos pela planta. A efetividade das raízes como órgãos de absorção está relacionada com a extensão de seu sistema radicular. Muitas espécies investem mais de 50% de seu peso total em raízes. A REGIÃO DE ABSORÇÃO DA RAIZ Figura 3.16 – Ilustração diagramática do relacionamento entre a diferenciação dos tecidos radiculares e a absorção de água. A efetividade das raízes como órgãos de absorção está relacionada com a extensão de seu sistema radicular. Muitas espécies investem mais de 50% de seu peso total em raízes. Um grande número de estudos anatômicos e fisiológicos têm estabelecido que a região de maior absorção de água esta localizada RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL próxima a ponta da raiz. Além desta generalização, a permeabilidade das raízes a água varia amplamente com a idade, condições fisiológicas e do “status” de água da planta. Estudos com raízes jovens tem mostrado que a região mais ativa com respeito a absorção de água começa em torno de 0,5 cm da Figura 3.17 – Pêlo radicular e a absorção de água. (A) Pêlo radicular de Raphanus sativus. (B) Os pêlos radiculares aumentam a absorção de água pela sua habilidade de penetrar em capilares contendo água entre os espaços das partículas do solo.. (C) O pêlo radicular aumenta muitas vezes o volume de solo que pode ser extraído água. ponta e pode estender-se por mais de 10 cm em direção a base da planta (Fig. 3.16). POuca água é absorvida na zona meristemática propriamente dita, provavelmente devido ao protoplasma nesta zona ser muito denso e não haver elementos vasculares diferenciados para conduzir a água. Acima da região de maior absorção de água corresponde geralmente com a zona de maturação celular. Esta é a região onde os tecidos vasculares, em particular o xilema, começa a se diferenciar. Também nesta região a deposição de suberina e lignina nas paredes das células da endoderme estão somente começando e ainda não tem alcançado o ponto que oferece resistência significativa ao movimento de água. A região de mais rápida absorção de água também coincide com a região de mais ativo desenvolvimento de pêlos radiculares. Os pêlos radiculares são prolongamentos das células da epiderme o que aumenta a área superficial e a extensão da capacidade de absorver em um maior volume do solo (Fig. 3.17). Dependendo da espécie e das condições ambientais, os pêlos radiculares podem alcançar comprimentos de 0,1 a 10 mm e um diâmetro médio de 10µm. Em algumas espécies tais como nozes e certas coníferas, os pêlos radiculares são ausentes. Uma simples ponta de raiz pode conter muito mais do que 2500 pêlos/m2 e muito aumentam a superfície de absorção das raízes de 1,5 a 20 vezes. MOVIMENTO RADIAL DA ÁGUA ATRAVÉS DA RAIZ Uma vez que a água ter sido absorvida pelos pêlos ou células epidérmicas, ela precisa atravessar o córtex para alcançar os elementos do xilema no estelo central. Em princípio, a rota da água através do córtex é relativamente direta. Há duas opções. A água pode passar pelas células através do apoplasto do córtex ou de célula a célula através dos plasmodesmos do simplasto. Na prática, estas duas rotas não são separadas. A água apoplástica está em constante equilíbrio com a água do simplasto e com os vacúolos das células. Isto significa que a água está constantemente sendo trocada através da RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL célula e da membrana vacuolar. Assim, a água flui através do córtex envolvendo duas rotas.O córtex consiste de células com numerosos espaços intercelulares. O apoplasto desta forma oferece a mínima resistência e provavelmente é responsável por uma grande proporção do fluxo de água. Tabela 3.5 – Absorção relativa de água por diferentes zonas ao longo da raiz de Vicia faba como uma função da taxa de transpiração. Zona de Absorção de água (cm da ápice) Taxa de Transpiração Baixa Alta 0 - 2.5 100 132 2.5 – 5.0 103 213 5.0 – 7.5 54 216 7.5 – 10.0 27 270 10.5 – 12.5 19 285 Dados de Brouwer, 1965. Na região menos madura próximo do ápice radicular, a água flui diretamente do córtex para os elementos de vasos se desenvolvendo, encontrando pouca resistência. Movendo-se da ponta para regiões mais maduras, a água encontra a endoderme. A suberização das células endodérmicas impõem uma barreira a entrada de água, forçando a água absorvida nesta região passar através da membrana celular. Enquanto a endoderme aumenta a resistência ao fluxo de água, esta alonge de ser uma barreira absoluta. Sob condições de rápida transpiração a região de maior absorção de água altera em direção a parte basal da raiz (Tabela 3.5). A resistência oferecida pela raiz a absorção de água é refletida no retardamento da absorção comumentemente observada quando a perda de água da transpiração é comparada com a absorção pelas raízes (Fig. 3.18). O retardamento é devido a resistência na raiz e pose ser demonstrado experimentalmente. Se uma raiz de uma Figura 3.18 – O atraso ou retardamento na absorção de águaem uma árvore (Larix). Acima: Absorção de água, medido pelo fluxo de água através do colmo. Observa-se o atraso na absorção. O declínio na taxa de transpiração próximo ao meio dia pode ocorrer se o atraso é suficiente para criar um “deficit” e estimula temporariamente o fechamento estomâtico. Abaixo: A rápida transpiração causa um decréscimo no potencial hídrico da folha , e vai se recuperando lentamente quando a água move-se no sentido de minimizar o “deficit” planta transpirando ativamente é cortada (sob água) há um imediato aumento na taxa de absorção para dentro do xilema. Em algumas plantas, o retardamento na absorção pode causar um “déficit” suficiente para estimular um fechamento temporário dos estômatos RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL (Fig. 3.18). Este fenômeno é conhecido como fechamento ao meio dia. O fechamento do estômato reduz a transpiração, permite a absorção de água pela planta e o estômato então reabre. Embora acredita-se que a absorção de água pelas raízes seja um processo passivo (processo dirigido por pressão), é dependente da respiração nas células da raiz. Inibidores da respiração (cianeto, dinitrofenol), alta concentração de CO2 e baixa concentração de O2 (anaerobiose) decrescem a condutividade hidráulica das raízes. Anaerobiose é comum em plantas sob condições de alagamento e pode conduzir extremo murchamento em espécies não adaptadas a tais situações. A exata função da respiração não é clara. O requerimento é provavelmente indireto, como para manter a integridade celular e o alongamento radicular continuado. Absorção ativa de nutrientes (apostila de nutrição mineral – Bonato) pode também ser um fator. RELAÇÕES HÍDRICAS – FISIOLOGIA VEGETAL
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