Buscar

MichelFoucault_PsiSocial.pdf

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
Disciplina: PSICOLOGIA SOCIAL- Prof. Eliana Maués Santos. Faculdade Mauricio de Nassau-Belém 
 
Para compreender Michel Foucault 
Há trinta anos, morria o filósofo-ativista que recusou o papel de líder, mas estimulou a 
transgredir “verdades” fabricadas e eternizadas pelo poder. 
 
“Mostrar às pessoas que elas são muito mais livres do que pensam, que elas tomam por 
verdadeiro, por evidentes, certos temas fabricados em um momento particular da história, e que 
essa pretensa evidência pode ser criticada e destruída.” 
(Michel Foucault) 
Há trinta anos, em junho de 1984, morria em Paris, Michel Foucault. Um pensador do 
século XX que inventou certo modo radical de pensar, que atravessa este início de século: 
suas reflexões permanecem fundamentais para os movimentos de contestação política e 
social; para todos aqueles que desejam “saber como e até onde seria possível pensar de 
modo diferente”. 
Foucault participou teórica e praticamente dos movimentos sociais que poderíamos 
chamar de vanguarda de seu tempo, sobretudo durante as décadas de sessenta e setenta: 
a luta antimanicomial (sua experiência num hospital psiquiátrico foi uma das motivações 
que o levou a escrever História da Loucura); as revoltas nos presídios franceses (junto com 
Gilles Deleuze criou o GIP – Grupo de Informação sobre as Prisões, que buscava dar voz 
aos presos e às outras pessoas diretamente envolvidas no sistema prisional; com base 
nessa experiência escreveu Vigiar e Punir); o movimento gay (uma das motivações para 
sua História da Sexualidade). 
O pensador francês também escreveu artigos para jornais e revistas no calor da hora 
sobre acontecimentos importantes, deu conferências e entrevistas em diversos países, 
inclusive no Brasil. Contrapunha seu papel de intelectual ao “intelectual universal”, isto é, 
uma espécie de líder que pensa pelas massas e as dirige para a “verdadeira” luta. O 
filósofo via a si mesmo como um “intelectual específico”, aquele que em domínios precisos 
2 
 
 
 
Disciplina: PSICOLOGIA SOCIAL- Prof. Eliana Maués Santos. Faculdade Mauricio de Nassau-Belém 
 
contribui para determinadas lutas em curso no presente. Parafraseando Deleuze, Foucault 
foi o primeiro a ensinar a indignidade de falar pelos outros. 
Ele dizia que suas pesquisas nasciam de problemas que o inquietavam na atualidade: 
evidências que poderiam ser destruídas se soubéssemos como foram produzidas 
historicamente; por isso fez da ontologia (o estudo do ser, um modo de reflexão 
geralmente desligado da realidade histórica, uma vez que busca princípios – as ideias, 
para Platão; o cogito, para Descartes; o sujeito transcendental, para Kant – que antecedem 
e, por assim dizer, fundam a história) uma reflexão em cujo cerne está o presente e, 
portanto, a investigação histórica. 
Através de estudos transdisciplinares (e não entre disciplinas, pois trata-se de colocar em 
questão os limites entre elas), Foucault deu forma a uma crítica filosófica que recorre 
sobretudo à pesquisa histórica, para questionar as maneiras pelas quais certas verdades e 
seus efeitos práticos vieram a se formar e se estabelecer no presente. 
Questionava assim os sistemas de exclusão criados pelo Ocidente quando do início da 
época moderna (na cronologia de Foucault, desde fins do século XVIII): 
- o saber médico e psiquiátrico – a patologização e a medicalização como formas 
modernas de dominação sobre seres econômica e socialmente inconvenientes, os loucos; 
- o nascimento das ciências humanas e da filosofia moderna como saberes que atestam a 
invenção do conceito de homem, transformando o ser humano, ao mesmo tempo, em 
sujeito do conhecimento e objeto de saber: o grande dogma da modernidade filosófica; 
- a prisão e outras instituições de confinamento (tais como a escola, a fábrica, o quartel) 
não como um avanço nos sentimentos morais e humanitários, mas como mudança de 
estratégia do poder, que visa o disciplinamento e a docilização dos corpos; 
- a sexualidade como dispositivo histórico de objetivação (o indivíduo como objeto de saber 
e ponto de aplicação de disciplinas) e subjetivação (o modo segundo o qual o sujeito se 
reconhece enquanto tal) do corpo, através dos quais se implica uma verdade essencial do 
homem. Não deixa de ser notável o fato de o Ocidente ter inventado um ritual singular 
segundo o qual algumas pessoas alugam os ouvidos de outras (os psicanalistas) para 
falarem de seu sexo. 
3 
 
 
 
Disciplina: PSICOLOGIA SOCIAL- Prof. Eliana Maués Santos. Faculdade Mauricio de Nassau-Belém 
 
Às suas pesquisas, ele chamou ontologias do presente: um modo de reflexão, segundo 
Foucault iniciado por Kant, em que está em jogo o vínculo entre filosofia, história e 
atualidade. A tarefa de pensar o hoje como diferença na história. Mas se a questão para 
Kant era a de saber quais limites o conhecimento deve respeitar (os limites da razão), em 
Foucault a questão se converte no problema de saber quais limites podemos questionar e 
transgredir na atualidade, isto é, “dizer o que existe, fazendo-o aparecer como podendo 
não ser como ele é” (2008, p. 325). 
Nesse sentido, o filósofo procurava dar visibilidade às partes ocultas que formam o 
presente e os fragmentos de narrativas que nos constituem lá mesmo onde não há mais 
identidade, onde o “eu” se encontra fracionado pela história plural que o engendrou. De 
modo que esse questionamento histórico-filosófico não nos conduz à reafirmação de 
nossas certezas, de nossas instituições e sistemas, mas ao afastamento crítico dessas 
instâncias e de si próprio como exercício ético e político. 
Como indica Deleuze (1992, p. 119): “a história, segundo Foucault, nos cerca e nos 
delimita; não diz o que somos, mas aquilo de que estamos em vias de diferir; não 
estabelece nossa identidade, mas a dissipa em proveito do outro que somos”. 
A história (não a narrativa histórica ou a escrita da história, mas as condições de existência 
dos homens no decorrer do tempo, que lhes escapa à consciência), não é da ordem da 
necessidade; ela diz respeito à liberdade, à invenção; pertence à ordem mais da 
casualidade do que da causalidade; é feita mais de rupturas e violência do que de 
continuidades conciliadoras. Esse modo de conceber a história se opõe à imagem tranquila 
que a narrativa histórica tradicional criou: a história do homem como a manifestação de um 
progresso inevitável – o lento processo de realização de uma utopia –, que seria alcançado 
após o iluminismo pela aplicação dos métodos racionais. Como se a ciência, o 
pensamento e a vida estivessem continuamente mais próximos de verdades que aos 
poucos são reveladas como o destino final do homem. 
Se os estudos de Foucault mostram que os seres humanos não dominam os 
acontecimentos que constituem o solo de suas experiências, eles atestam ao mesmo 
tempo que, no espaço limitado do presente, as pessoas dispõem da possibilidade de 
4 
 
 
 
Disciplina: PSICOLOGIA SOCIAL- Prof. Eliana Maués Santos. Faculdade Mauricio de Nassau-Belém 
 
questionar o que muitas narrativas apresentam como necessário, assim como as formas 
de poder e dominação que se pretendem absolutas. 
Os procedimentos de Foucault postulam, tal como Nietzsche descobrira no final do século 
XIX, que é possível fazer uma história de tudo aquilo que nos cerca e nos parece essencial 
e sem história – os sentimentos, a moral, a verdade etc. Essa descoberta indica que, 
mesmo esses elementos aparentemente universais ou imunes à passagem do tempo, se 
dão como contingênciashistóricas, como coisas que foram criadas em um dado momento, 
em circunstâncias precisas. 
Trata-se, assim, para Foucault, de pensar a história de determinadas problematizações: a 
história de como certas coisas se tornam problemas para o pensamento, dignas de serem 
pensadas por um ou outro domínio do saber e, através de formas de racionalização 
específicas, verdades são fabricadas. De maneira que suas pesquisas mostram que 
nossas evidências são frágeis e nossas verdades, recentes e provisórias. 
 
 
 
 
 
Textos citados: 
 
 
 
FOUCAULT, Michel. Estruturalismo e Pós-estruturalismo 1983. Ditos e Escritos II, Arqueologia das 
Ciências e História dos Sistemas de Pensamento, Trad. Elisa Monteiro, Rio de Janeiro: Forense, 
2008. 
DELEUZE Gilles. A vida como obra de arte, Conversações. Ed. 34, Rio de Janeiro, 1992. 
 
Link para o filme “Foucault por ele mesmo”:https://www.youtube.com/watch?v=Xkn31sjh4To 
(Por Bruno Lorenzatto. http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/para-compreender-
michael-foucault-9711.html

Outros materiais