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Apostila Direito Civil V 2016 2

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DIREITO CIVIL – DIREITO DAS COISAS
POSSE E DIREITOS REAIS
Prof. Me. Antônio José Resende[1: Mestre em Filosofia pela UFMG (1999), Advogado e Professor na PUC-GOIAS, FANAP e Instituto Santa Cruz. Advoga na Área Civil. Especialista em Direito Civil e Processo Civil – PROORDEM/ESD, Goiânia – GO (2016). Cursou Atualização em Direito Processual Civil (Centro Educacional de Extensão, Goiânia – GO). Especialista em “O Pensamento Dialético” pela UCG. Especialista em Filosofia Contemporânea pela UFG. Bacharel em Direito pela PUCGOIAS. Licenciado e Bacharel em Filosofia pela UFG. Lecionou Filosofia por mais de 25 anos, especialmente Filosofia moderna e ética. Lecionou na Universidade Federal de Goiás – UFG, como professor substituto (1990) e na Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO (2002 - 2006). Atualmente leciona as Disciplinas: Direito Civil e Direito Constitucional. Áreas de interesse: Direito Constitucional e Direito Civil, com ênfase em obrigações, direitos reais e sucessão. Contatos: Cel. (62) 81510162 E-Mail: ajresende@yahoo.com.br]
UNIDADE I – INTRODUÇÃO
– Conceito e Considerações Gerais sobre o Direito das Coisas
	A matéria sobre o direito das coisas, ou direitos reais, está disposta na Parte Especial, Livro III, e abrange do art. 1.196 ao art. 1.510 do Código Civil (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002). 
Para o estudo deste conteúdo, serão consultados também os artigos 920 a 981 do CPC, (NCPC, art. 554 – 568) para análise da proteção e tutela dos direitos possessórios e dos reais.
Há, ainda hoje, ampla discussão na doutrina pátria sobre a nomenclatura mais adequada para nomear o objeto do direito positivado nesta parte do Código Civil, se a denominação mais pertinente seria “direito das coisas” ou “direitos reais”.
Os civilistas nacionais empregam ambas as expressões, “Direitos das Coisas” e “Direitos Reais”. Lafayette Rodrigues PEREIRA denominou sua obra Direito das Coisas, embora não ressalte a distinção entre as expressões, enquanto autores mais recentes como Caio Mário da Silva PEREIRA, em Instituições de Direito Civil, volume IV – Direitos Reais, e Orlando GOMES, preferem “Direitos Reais”.
O legislador ao elaborar o Código Civil de 2002 optou por utilizar a denominação “Direito das Coisas” para o Título do Livro III, que abrange o Título I, “Da Posse” e os Títulos II ao X, que tratam do direito de propriedade e dos direitos reais limitados, relativos à propriedade. Ressalte-se que o Título II denomina-se “Direitos Reais”, que apresenta o rol dos direitos reais, excetuando-se o da posse.
Portanto, a denominação “Direito das Coisas” abrange tanto a normatização dos direitos reais listados no art. 1.225 do Código, quanto à disciplina sobre a posse, arts. 1.196 a 1.224, CC de 2002.
Segundo a clássica definição de Clóvis Bevilácqua, apud Carlos Roberto Gonçalves (2010: 19), direito das coisas “é o complexo de normas reguladoras das relações jurídicas referentes às coisas susceptíveis de apropriação pelo homem. Tais coisas são, ordinariamente, do mundo físico, porque sobre elas é que é possível exercer o poder de domínio”.
Trata-se do direito real pleno, isto é, da propriedade, tendo por objeto coisa móvel ou imóvel corpórea, do próprio titular; e dos direitos reais limitados, incidentes sobre coisa alheia (Código Civil, Livro III).
A doutrina civilista, regra geral, considera que coisa é gênero do qual bem é espécie. Coisa é tudo aquilo que existe objetivamente, com exclusão do ser humano. O CC português, art. 202, explicita: “Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas”. O CC alemão, art. § 90, e o grego, art. 999, afirmam que, coisas são bens corpóreos que existem no mundo físico e hão de ser tangíveis pelo homem.
Os bens podem ser corpóreos ou materiais e incorpóreos, tais como, a propriedade científica, a literária e a artística.
– Evolução histórica
Origem do direito civil romano: jus civile, jus gentium e jus naturale.
Direito comparado do mundo ocidental.
Surgimento do Estado moderno: racionalização dos direitos fundamentais, incluindo o de propriedade, como matriz dos direitos reais.
Nas Revoluções liberais, século XVIII, o direito de propriedade é defendido como direito de todos. 
Desenvolve-se, inicialmente, o aspecto individualista da propriedade (Direito a propriedade: CF, art. 5º, caput e XXII e art. 170, II; CC, art. 1.228, caput). 
Com a preponderância, posteriormente, do direito coletivo sobre o individual, surge uma concepção de função social da propriedade (CF/1988, art. 5º, XXIII e art. 170, III; CC, art. 1.228, §1º).
– Conteúdo e classificação
O Código Civil divide a matéria em duas partes: posse e direitos reais.
Os direitos reais, por sua vez, se dividem em: 
a) direito de propriedade, enquanto direito real pleno;
b) direito real de aquisição: o direito do promitente comprador do imóvel; 
c) e direitos reais sobre coisas alheias. 
O objeto do Livro III consiste nos poderes que se exercem diretamente sobre a coisa: a) a posse, disciplinada nos arts. 1.196 a 1.224; b) e os direitos reais (numerus clausus), encontram-se nos arts. 1.225 a 1.510.
O rol dos direitos reais encontra-se no art. 1.225 do CC/2002.
Os direitos reais sobre coisas alheias são: 
i) direitos reais de gozo ou fruição sobre coisa alheia, quais sejam: superfície, servidões, usufruto, uso, habitação; 
ii) direitos reais de garantia: penhor, hipoteca e anticrese.
– Distinção entre direito real e direito pessoal
Direito real (jus in re): poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos (erga omnes). 
Elementos essenciais: suj. ativo, coisa, relação de poder do suj. ativo sobre a coisa, chamado domínio, e o suj. passivo que é, em tese, toda a coletividade (universal), sendo determinado quando denominado ou especificado. 
Direito pessoal (jus ad rem): relação jurídica pela qual o suj. ativo pode exigir do suj. passivo determinada prestação (obrigação). 
Elementos essenciais: suj. ativo (credor), suj. passivo (devedor) e a prestação.
Teorias:
A teoria unitária realista procura unificar os direitos reais e obrigacionais a partir do critério do patrimônio, ao considerar que o direito das coisas e o direito das obrigações fazem parte de uma realidade mais ampla, que é o direito patrimonial;
Conforme a teoria dualista ou clássica, o direito real apresenta características próprias, que o distinguem dos direitos pessoais. Considera-se mais adequada à nossa realidade esta teoria.
	
	DIREITOS REAIS
	DIREITOS OBRIGACIONAIS
	Quanto ao sujeito
	Há somente sujeito ativo (proprietário). Sujeito passivo é toda a comunidade. Oponibilidade erga omnes.
	Sujeito determinado ou determinável.
Sujeito ativo = credor.
Sujeito passivo = devedor (solvens).
	Quanto ao objeto
	Incidem sobre uma coisa (res). Objeto de propriedade. Objeto: material e intelectual, por ex., autoria, marca etc. 
Há direito de sequela, ex. art. 1.228, CC.
	Exigem o cumprimento de determinada prestação.
Uma obrigação de dar, fazer ou não fazer.
	Quanto à duração
	São perpétuos, não se extinguem pelo não uso, exceto os casos previstos em lei. Ex.: desapropriação, usucapião etc.
Propriedade: plena e exclusiva (art. 1.231, CC/2002).
	São transitórios e se extinguem pelo cumprimento ou por outros meios, ex. morte.
	Quanto à formação
	Só podem ser criados pela lei, sendo seu número limitado e regulado por esta (numerus clausus), vide art. 1. 225, CC/2002.
	Resultam da vontade das partes, sendo ilimitado o número de contratos inonimados (numerus apertus). Pode resultar também da lei.
	Quanto ao exercício
	São exercidos diretamente sobre a coisa, sem necessidade de existência de um sujeito passivo.
	Exige uma figura intermediária, que é o devedor.
	Quanto à ação
	Pode ser exercida contra quem quer que detenha a coisa.
	A ação pessoal é dirigida somente contra quem figura na relação jurídica como sujeito passivo.
Oponibilidade intra partes.
1.5 – Obrigação propterrem: é a que recai sobre uma pessoa, por força de determinado direito real. Só existe em razão da situação jurídica do obrigado, de titular do domínio ou de detentor de determinada coisa (Vide art. 1.277, CC/2002). 
Exemplos: 
1) obrigação imposta aos proprietários e inquilinos de um prédio de não prejudicarem a segurança, o sossego e a saúde dos vizinhos (CC, art. 1.277); 
2) pagamento de despesas de condomínio; 
3) a obrigação de o proprietário de um imóvel de indenizar o terceiro que, de boa-fé, realizou benfeitorias sobre o mesmo etc.
Outras formas de obrigações relativas aos direitos reais:
a) Obrigações de ônus real: penhor, hipoteca e anticrese.
b) Obrigações com eficácia real. Por exemplo: Contrato de locação firmado entre as partes gera obrigação. Terá eficácia real quando for feita a averbação do contrato no Cartório de Registro de Imóveis. Ver art. 8º, da Lei nº 8.245/1991; Ver também art. 33, da mesma Lei, sobre direito de preferência do locatário, no caso da venda do imóvel.
 
UNIDADE II – POSSE
2.1 – Origem histórica
A noção de posse tem origem no direito romano.
Tutela da situação de fato originada pela posse, como reflexo da necessidade de evitar a violência e promover a defesa da paz social.
Teoria de Niebuhr, adotada por Savigny: fruição das possessiones (pequenas propriedades), para a defesa das quais aplicava o interdito possessório. A rei vindicatio era restrita ao titular da propriedade.
Teoria de Ihering: a posse surgiu do processo reivindicatório, segundo o qual os interditos possessórios constituíam incidentes preliminares do processo reivindicatório.
2.2 – Conceito de posse
	O conceito de posse, no direito positivo brasileiro, deve ser compreendido a partir do art. 1.196 do Código Civil, que considera possuidor “todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”.
	Note-se que a noção de posse é dada a partir da definição de propriedade apresentada no art. 1.228 do Código.
	O conceito de posse torna-se inteligível a partir da noção de possuidor apresentada no art. 1.196. Portanto, pode-se dizer que posse é o exercício de fato, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
	Neste sentido, o exercício da posse não implica que o possuidor seja detentor do domínio ou da titularidade da coisa. É possível que outras pessoas exerçam sobre a coisa, um ou alguns dos poderes típicos do proprietário, conforme a previsão do art. 1.228 do Código, sem, no entanto, ser titular desse direito.
	Por exemplo, o locatário e o comodatário exercem de fato alguns poderes inerentes ao proprietário, sem, no entanto, estabelecer com a coisa o vínculo de propriedade.
Para Ihering, cuja teoria o nosso direito positivo acolheu, posse é conduta de dono. Sempre que haja o exercício dos poderes de fato inerentes à propriedadeexiste a posse, a não ser que alguma norma diga que esse exercício configura a detenção e não posse (Vide arts. 1.198 e 1.208, CC/2002).
Posse = assegurar o exercício de fato sobre a coisa;
Evitar a violência e assegurar a paz social;
Situação de fato que aparenta ser de direito; situação de fato protegida pelo legislador; direito fundado no fato da posse (possideo quod possideo);
Proteção contra terceiros (que não possua título ou a melhor posse) e até mesmo contra o proprietário. 
O nosso ordenamento adota a seguinte distinção com relação à noção de posse:
Jus possessionis ou posse autônoma: Se alguém se mantem, pacificamente, em um imóvel, por mais de um ano e dia, cria uma situação possessória, que lhe proporciona direito à proteção.
Jus possidendi ou posse causal: que é a posse titulada. Em ambos os casos, é assegurado o direito à proteção dessa situação contra atos de violência, para garantir a paz social.
2.3 – Teorias sobre a posse
	Há duas teorias principais sobre a natureza da caracterização da posse, cujas denominações comumente atribuídas são: teoria subjetiva e a teoria objetiva.
TEORIA DE SAVIGNY, denominada pela doutrina “TEORIA SUBJETIVA”, em Tratado da Posse (Das Rechtdes Besitzes, 1893), afirma o autor que a posse se constitui de dois elementos:
Corpus – elemento objetivo que consiste na detenção física da coisa; “Faculdade real e imediata de dispor fisicamente da coisa, e de defendê-la das agressões de quem quer que seja” (Savigny apud Caio Mário da Silva Pereira, 2007: 18). 
Animus – elemento subjetivo, que significa a intenção de ser dono da coisa e de defendê-la contra a intervenção de outrem (animus domini ou animus REM sibi habendi). Se não ocorrerem os dois elementos, há, neste caso, mera detenção.
TEORIA DE RUDOLF von IHERING, também denominada “TEORIA OBJETIVA”, em Teoria Simplificada da Posse, preleciona que o animus já está contido no corpus, que significa conduta de dono. Esta pode ser analisada objetivamente, sem a necessidade de verificar a intenção do agente. A posse consiste na exteriorização da propriedade, na visibilidade do domínio e no uso econômico da coisa. O CC brasileiro adotou essa teoria (art. 1.196). 
Para Savigny, o locatário, o usufrutuário, o arrendatário e o comodatário são detentores e não possuidores, por isso não têm direito às ações possessórias. Para Ihering, ao contrário, os mesmos são possuidores (posse direta) e podem utilizar as ações possessórias.
	Desdobramento da posse
	Propriedade (Posse plena ou alodial)
Posse indireta
	Posse
Posse direta
	Usar, gozar, dispor e reaver
	Usar e gozar
2.4 – Natureza jurídica da posse
	Para Savigny, posse é fato e direito. “Os direitos são os interesses juridicamente protegidos”. Conforme Ihering, a posse corresponde a um direito. Clóvis Bevilacqua assinala que a posse é um fato protegido pelo direito, nesse sentido, a posse é um direito especial (sui generis).
	Caráter duplo da posse: considerada em si é um fato; pelos direitos que gera, entra na esfera do direito.
Efeito jurídico: as ações reais, por ex., exigem presença do cônjuge na relação processual concernente ao bem imóvel, outorga uxória ou marital (CPC, art. 10; NCPC, art. 73).
A posse não entra no rol taxativo do art. 1.225 do CC/2002.
Direitos pessoais incorpóreos – utilizam-se as cautelares inominadas. Poder cautelar geral do juiz (CPC, art. 798; NCPC, art. 297).
Distinção entre Posse e detenção
	O ordenamento jurídico pátrio prevê situações em que uma pessoa não é considerada possuidora, mesmo exercendo poderes de fato sobre uma coisa. Isto ocorre quando a lei desqualifica a relação para mera detenção, como previsto nos artigos 1.198, 1.208 e 1.224, CC/2002.
	Portanto, o detentor é distinto do possuidor. 
Somente a posse gera efeitos jurídicos.
O possuidor exerce o poder de fato em razão de um interesse próprio; o detentor, no interesse de outrem.
O detentor, como consequência do dever de vigilância, embora não possa invocar, em seu nome, a proteção possessória, cabe-lhes, contudo, exercer a autoproteção do possuidor, quanto às coisas confiadas ao seu cuidado.
Quase posse
	Os romanos só consideravam posse a emanada do direito de propriedade. A exercida nos termos de qualquer direito real menor (iura in re aliena), ou direitos reais sobre coisas alheias, servidão e usufruto, por ex., eram denominados quase posse, por ser aplicada aos direitos ou coisas incorpóreas. No direito atual tais situações são consideradas posse propriamente dita.
Composse
	É a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre a mesma coisa (CC, art. 1.199). A composse pode ser:
Pro diviso – quando exercida simultaneamente e se estabelece uma divisão de fato entre os compossuidores, quanto a sua utilização;
Pro indiviso– é aquela em que se exercem, ao mesmo tempo e sobre a totalidade da coisa, os poderes de utilização ou exploração comum do bem.
2.5 – Classificação da posse
a) Posse direta e posse indireta (CC, art. 1.197)
Posse direta ou imediata: é a daquele que tem a coisa em seu poder, temporariamente,em virtude de contrato. Por ex., a posse direta do comodatário, que a exerce por concessão do proprietário do imóvel. O mesmo ocorre com o usufrutuário, o arrendatário etc.;
Posse indireta ou mediata: é a posse do proprietário que que cede o uso e gozo do bem para um terceiro. Por ex. a do proprietário que cede a terra a outro para usufruto; a do proprietário que empresta o imóvel para terceiro etc.
O comodatário/proprietário exerce a posse indireta, como consequência de seu domínio (dono).
O comodatário exerce a posse direta por concessão do proprietário.
Dá-se o desdobramento da posse. Uma posse não anula a outra, isto é, ambas coexistem no tempo e no espaço e são posses jurídicas (jus possidendi) e têm o mesmo valor, não autônomas, pois implicam o exercício de efetivo direito sobre a coisa. 
Ambos podem invocar a proteção possessória contra terceiros. 
Não há usucapião para o possuidor direto.
b) Posse justa e posse injusta
Posse justa: Conforme estabelece o art. 1.200 do Código Civil, posse justa é a não violenta, clandestina ou precária. É a posse adquirida legitimamente ou sem vício jurídico externo. Ou ainda, aquela que não repugna ao direito, porque adquirida conforme os modos previstos na lei.
Posse injusta (ou posse viciada): é a que foi adquirida viciosamente, por violência (violenta) ou clandestinidade (clandestina) ou por abuso do precário (precária), ou seja, por abuso de confiança.
Ainda que viciada, a posse injusta não deixa de ser posse, visto que a sua qualificação é feita em face de determinada pessoa. Será injusta em face do legitimo possuidor; será, porém, justa e suscetível de proteção em relação às demais pessoas estranhas ao fato. 
Nesse sentido, poderá o possuidor de posse injusta em relação ao legítimo possuidor, propor ação possessória contra um terceiro que tente adquirir injustamente a sua posse. Neste caso, o possuidor, mesmo que de posse injusta, tem melhor posse, em relação ao terceiro.
Desse modo, cessada a violência (art. 1.208, CC), que caracteriza esbulho, o esbulhador será tornado possuidor. Terá posse injusta (viciada), mas será possuidor, para efeito da proteção possessória.
Violência – vis absoluta = violência física. Ex. Tomar à força o objeto; expulsar alguém do imóvel.
Violência – vis compulsiva = violência moral. 
Clandestina – furta o objeto, ocupa o imóvel às escondidas, sorrateiramente.
Precária – do locatário, por ex., que tinha a posse justa e passa a ser injusta se no vencimento do contrato se recusa a devolver o imóvel ao proprietário.
c) Posse de Boa fé e Posse de Má fé (CC, art. 1.201)
Posse de boa-fé: caracteriza-se a posse de boa-fé quando o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.
	O parág. único do art. 1.201, CC/2002, estabelece presunção de boa-fé em favor de quem tem justo título. Justo título é o que seria hábil para transmitir o domínio e a posse se não contivesse nenhum vício impeditivo dessa transmissão.
	Caio Mário da Silva Pereira, em Instituições de Direito Civil (2007: 31), classifica como um tipo de posse a posse com justo título.
	Justo título configura-se estado de aparência que permite concluir estar o sujeito gozando de boa posse. Não significa somente o documento, observa-se, portanto, o fato gerador do qual a posse deriva. O possuidor tem consciência de que está amparado numa boa causa que determina a legitimidade da posse.
	Há aqui presunção juris tantum, isto é, o ato é passível de desfazer-se com prova contrária.
Exemplos quanto à presunção do justo título:
1) A companheira tem justo título na posse de bens comuns do casal, quando do falecimento do companheiro;
2) O herdeiro aparente cujo título e ignorância de outros herdeiros faz presumir ser ele justo possuidor;
3) Uma escritura de compra e venda, devidamente registrada, é um título hábil para a transmissão do imóvel. No entanto, se o vendedor não era o verdadeiro dono (aquisição a non domino) ou se era um menor não assistido por seu representante legal, a aquisição não se aperfeiçoa e pode ser anulada.
Posse de má-fé: a posse constitui-se de má-fé quando o possuidor tem conhecimento do vício na aquisição da posse e, portanto, da ilegitimidade de seu direito.
O art. 1.202, CC/2002, prescreve que a posse de boa-fé se transforma em posse de má-fé desde o momento em que as circunstancias demonstrem que o possuidor não mais ignora que possui indevidamente.
d) Posse nova e posse velha (Vide art. 1.211, CC)
Posse nova: é a de menos de ano e dia (Vide art. 924, CPC; NCPC, art. 558). 
Não se confunde com a ação de força nova, que leva em conta não a duração temporal da posse, mas o tempo decorrido desde a ocorrência da turbação ou do esbulho.
Posse velha: é a de ano e dia ou mais. 
Neste caso, também se diferencia da ação de força velha, intentada depois de ano e dia da turbação ou esbulho.
Ação tempestiva, no âmbito possessório: menos de “ano e dia” – pleitear concessão de liminar (NCPC, art. 562).
Ação de força nova – possessória.
Ação de força velha – procedimento ordinário/juízo petitório – somente cabe ao proprietário.
e) Posse natural e posse civil ou jurídica
Posse natural: é a que se constitui pelo exercício de poderes de fatos sobre a coisa.
Posse civil ou jurídica: é considerada aquela que se realiza por força da lei, sem necessidade de atos físicos ou materiais. È a que se adquire, ou se transmite pelo título.
f) Posse ad interdicta e posse ad usucapionem
Posse ad interdicta: consiste na posse que pode ser defendida pelos interditos possessórios ou ações possessórias, quando molestada, mas não conduz à usucapião.
Posse ad usucapionem: é a posse que se prolonga por determinado lapso de tempo estabelecido na lei, tendo como consequência a aquisição do domínio pelo seu titular. 
2.6 – Aquisição e Perda da Posse
2.6.1 – Aquisição da Posse
	
O art. 1.204, do Código Civil, preconiza que “adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade”.
A posse pode ser adquirida: 
por quem pretenda adquiri-la ou por seu representante; 
por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação (art. 1.205, CC/2002). 
A aquisição da posse, quanto à sua origem, pode se dar por modo originário ou derivado. Veja-se breve explanação sobre a aquisição originária e derivada da posse.
Aquisição originária – ocorre nos casos em que não há relação de causalidade entre a posse atual e a anterior (não há nexo causal entre a posse atual e a anterior). O que pode ocorrer em duas hipóteses: 1) ou a coisa não tinha dono (porque nunca o teve – res nullius, ou porque foi abandonada – res derelicta; 2) ou porque foi esbulhada (violenta ou clandestina), e o vício, posteriormente, cessa (posse mansa e pacífica).
No caso da coisa sem dono, a aquisição originária da posse é elemento do domínio, que é adquirido por ocupação. O sujeito se apodera da coisa, adquire, por conseguinte, a posse, e ainda se torna proprietário.
Aquisição derivada – caracteriza-se quando há anuência do antigo possuidor, como na tradição. A transferência pode ser real (quando o possuidor atual a entrega ao novo possuidor), simbólica (quando o que se entrega é algo que simboliza a coisa, como as chaves de uma casa) ou por cláusula contratual (a cláusula constituti, por meio da qual opera o constituto possessório). 
Vide art. 1.203, CC, determina que a posse conserva o mesmo caráter com que foi adquirida.
a) Modos de aquisição da posse. A posse pode ser adquirida por:
1) Apreensão da coisa. Pode ocorrer em duas hipóteses:
Ato unilateral – realiza-se pelo exercício de um poder de fato sobre a coisa, no interesse daquele que o exerce. Coisa sem dono ou abandonada (res derelicta= derrelicção, que consiste no abandono voluntário da coisa) e quando a coisa não for de ninguém (res nullius). Quanto ao ato da apreensão, para bens imóveis, diz-se ocupação; para bens móveis, denomina-se órbita de influência.
Quando a coisa é retiradade outrem sem a sua permissão. Aquisição da posse por ato violento ou clandestino. Primitivo possuidor omitir-se, não reagindo incontinenti em defesa de sua posse ou não a defendendo por meio dos interditos possessórios.
2) Exercício de direito. Ocorre no caso da servidão, se o dono do prédio serviente permanecer inerte. Ex.: passagem de um aqueduto por terreno alheio (art. 1.379, CC/2002).
3) Ato bilateral. A posse é transmitida de um possuidor a outro. É o caso da tradição, que é modo derivado de apossamento da coisa. Pressupõe o acordo de vontades. Ocorre mediante o negócio jurídico (vide art. 104, CC/2002). Título: gratuito = doação; oneroso = compra e venda. Pode ser: real, simbólica ou ficta, como acima descrito.
4) Sucessão na posse (arts. 1.206 e 1.207, CC), ou seja, aquisição a título universal e a título singular. Nestes casos, a acessão da posse pode ser:
Por sucessão universal: o herdeiro agrega a sua posse à do falecido.
Por sucessão singular: o possuidor pode agregar a sua posse à de seu antecessor.
2.6.2 – Perda da Posse
	
	A perda da posse, conforme a teoria objetiva de Jhering, adotada pelo ordenamento jurídico pátrio, ocorre quando o possuidor deixa de agir como age o proprietário, isto é, perde-se a posse quando não é mais possível o exercício, sobre a coisa, de poderes inerentes ao domínio.
	FÓRMULAS DA PERDA DA POSSE
	FÓRMULA GERAL: posse - exercício de poder de domínio = perda da posse 
	FÓRMULA 1: posse - corpus (ato de proprietário) = perda da posse
	FÓRMULA 2: posse - animus (vontade de agir como dono) = perda da posse
	Fonte: DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso didático de direito civil. São Paulo: Atlas, 2012, p. 700.
	
São hipóteses de perda da posse:
1) pelo abandono, ou também denominado derrelicção, que significa o abandono voluntário da coisa.
2) pela tradição (traditio): quando o possuidor transfere voluntariamente a coisa. Pode ocorrer de três formas:
real: quando envolve a entrega efetiva e material da coisa;
simbólica: quando representada por ato que traduz a alienação. Por ex.: a entrega das chaves de acesso ao imóvel.
ficta, que pode ser de dois modos: 
traditio brevi manu = a pessoa que tem posse direta do bem em razão de contrato celebrado com o possuidor indireto (arrendador, locador etc.) adquire o seu domínio, não precisa devolver ao dono, para que este novamente lhe faça a entrega real da coisa. Basta a demissão voluntária da posse indireta pelo transmitente, para que se repute efetuada a tradição.
constituto possessório = o proprietário que aliena o imóvel, mas permanece nele residindo por força de um contrato de locação celebrado com o adquirente, perde a posse de dono (indireta), mas adquire, pela mencionada cláusula constituti, a de locatário.
3) pela perda propriamente dita da coisa. Exemplos: objeto perdido dentro de casa, não há perda propriamente da coisa; objeto perdido na rua.
4) pela destruição da coisa ou seu desaparecimento. Pode acontecer em diversas situações, tais como:
Acontecimento: fato natural. Por ex.: morte de um animal por idade avançada; caso fortuito. Ex.: animal morto atingido por um raio etc.
Fato do próprio possuidor: por exemplo, ao provocar a perda total do veículo por direção perigosa ou imprudente.
Fato de terceiro: por exemplo, em ato atentatório à propriedade.
Quando deixa a coisa de ter as qualidades essenciais à sua utilização ou a perda do valor econômico. Exemplos: terreno invadido pelo mar; nos casos de confusão, comistão, adjunção e avulsão.
5) pela colocação da coisa fora do comércio, porque se tornou inaproveitável ou inalienável (extra commercium). Pode ocorrer por razões de: ordem pública, moralidade, higiene e segurança pública. Por ex.: desapropriação de terras, confisco de produtos alimentícios por fiscalização sanitária etc.
6) pelo esbulho, isto é, pela posse de outrem. 
UNIDADE III – EFEITOS DA POSSE
3.1 – Introdução
	A matéria é disciplinada do art. 1.210 ao art. 1.222 do Código Civil de 2002. A proteção conferida ao possuidor é o principal efeito da posse.
	Conforme Carlos Roberto Gonçalves (2010: 129), são precisamente os efeitos da posse que lhe imprimem cunho jurídico e a distinguem da mera detenção. São os principais efeitos da posse:
a) a proteção possessória, abrangendo a autodefesa e a invocação dos interditos (arts. 1.210 a 1.213, CC). 
b) a percepção dos frutos (arts. 1.214 a 1.216, CC).
c) a responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa (arts. 1.217 e 1.218, CC).
d) a indenização pelas benfeitorias e o direito de retenção (arts. 1.219 a 1.222, CC).
e) a usucapião.
3.2 – Proteção possessória (Tutela da posse)
A proteção da posse, conforme previsão legal a seguir exposta, poderá ser realizada pelos seguintes meios:
com o uso da “legítima defesa” (autotutela) (para a manutenção da posse)
por meio do “desforço imediato” (autotutela) (para retomar imediatamente a posse perdida)
Ação de Interdito Proibitório 
Ação de manutenção de posse
Ação de reintegração de posse.
	Explica Gonçalves, que “há uma gradação nos atos perturbadores da posse, dando origem a três procedimentos possessórios distintos, embora com idêntica tramitação: ameaça, turbação e esbulho” (2010: 171).	
Desta forma, a proteção possessória ocorre através de Interdito Proibitório, Ação de manutenção de posse, Ação de reintegração de posse, Legítima defesa e Desforço imediato.
	Os interditos possessórios são os meios jurídicos que tem o possuidor à sua disposição, para a defesa de sua posse contra turbação, esbulho ou ameaça.
	Desta forma, o possuidor ameaçado, turbado ou esbulhado tem a faculdade de utilizar os interditos possessórios, ações com caráter próprio e rito especial. Tais ações estão disciplinadas nos arts. 920 e seguintes do CPC; NCPC, art. 554 e segs.
	Eis a seguir uma breve análise do art. 1.210 do Código Civil brasileiro. Objetiva–se apresentar a forma dos interditos possessórios e seus efeitos jurídicos no âmbito da proteção ao direito da posse.
3.2.1 – Análise do artigo 1.210 do Código Civil de 2002
PROTEÇÃO DA POSSE
A) Legítima defesa e desforço imediato (autotutela, autodefesa ou defesa direta) (art. 1.210, CC/2002).
	Há, no art. 1.210, descritos três procedimentos distintos:
1) “ser mantido na posse em caso de turbação”. Nessa circunstância o possuidor pode usar a legítima defesa (§ 1º, art. 1.210, CC-02), semelhante ao previsto no art. 25 do CP/1940, ou, não o fazendo, deverá o possuidor, conforme a previsão processual, propor Ação de manutenção de posse, art. 926 segs., CPC; NCPC, art. 560.
	Vale ressaltar, que a previsão legal (Lei material) dá ao possuidor o direito de se valer da autodefesa para se manter ou para reintegrar-se na posse, desde que o faça logo e que os atos de defesa não ultrapassem o “indispensável à manutenção, ou restituição da posse” (art. 1.210, §1º, CC/2002).
OBSERVAÇÕES:
Turbação é todo ato que causa dano ou embaraça o livre exercício da posse alheia. Por ex., cortar o arame da cerca que protege a posse alheia; roubar ou furtar coisas da posse alheia; impedir o acesso do verdadeiro possuidor à sua posse; jogar lixo no terreno alheio etc.
Possuidor poderá manter ou restabelecer a situação de fato “por sua própria força” (§ 1º), isto é, pelos seus próprios recursos, sem apelar para autoridade, polícia ou justiça; 
Os atos de defesa não podem ir além do indispensável à manutenção da posse (§ 1º);
Para que a defesa direta seja legítima, é necessário que: a reação se faça logo, imediatamente após a agressão; a reação deve-se limitar ao indispensável à retomada da posse. O excesso configura crime de “exercício arbitrário das próprias razões”, art. 345, CP.
Preleciona Carlos R. Gonçalves (2010: 131): “Pode o guardião da coisa exercer a autodefesa, em benefício do possuidor ou representado. Embora não tenha o direito de invocar, em seu nome, a proteção possessória, não se lhe recusa, contudo, o direito de exercer a auto proteção do possuidor, conseqüência naturalde seu dever de vigilância”.
2) “restituído no de esbulho”. Para esse caso o possuidor pode empreender o desforço imediato, ou seja, “restituir-se por sua própria força” (§ 1º, art. 1.210, CC-02). Não o fazendo, neste caso, caberá Ação de reintegração de posse, art. 926 segs., conforme previsão do CPC. NCPC, art. 554 e segs. Ver art. 560, NCPC.
Esbulho “consiste no ato pelo qual o possuidor se vê privado da posse mediante violência, clandestinidade ou abuso de confiança. Acarreta, pois, a perda da posse contra a vontade do possuidor” (Gonçalves, 2010: 153).
Desforço imediato consiste na faculdade que a lei dá ao possuidor retomar a posse com o esforço próprio.
Assim como na turbação, no esbulho o possuidor poderá retomar a sua posse “por sua própria força”, contando que façalogo, e que os atos de defesa “não podem ir além do indispensável” à restituição da posse (§ 1º, art. 1.210, CC-02).
3) “segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado”. Esse é o caso da ameaça. Contra a ameaça não poderá o possuidor empregar a legítima defesa. Deve-se impetrar Interdito Proibitório (mandado proibitório), com cominatória de multa (pena pecuniária), caso o réu transgrida o preceito, conforme prevê o art. 932, CPC; NCPC, arts. 567-568.
A multa deve ser pedida pelo autor e fixada pelo juiz. O autor indica o valor da multa pretendida, “em montante razoável, que sirva para desestimular o réu de transgredir o veto, mas não ultrapasse, excessivamente, o valor do dano que a transgressão acarretaria ao autor” (Gonçalves, 2010: 173). O juiz pode reduzi-la, mas não aumentá-la.
Depreende-se do art. 933, CPC (NCPC, art. 568), que é concedida liminar em interdito proibitório.
Diz a Súmula 228 do STJ: “É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral”.
 
B) Ações Possessórias (Heterotutela)
	
Para o possuidor recorrer à via judicial, os meios próprios de defesa da posse estão previstos nos artigos 920 a 933 do CPC (NCPC, arts. 554 a 568).
As ações possessórias em sentido estrito ou também denominadas interditos possessórios, são as seguintes:
a) Interdito proibitório, art. 932, CPC (NCPC, art. 567) (acima explicitado);
b) Ação de Manutenção de posse, art. 926/927, CPC (NCPC, art. 560/566);
c) Ação de Reintegração de posse, art. 926/927, CPC (NCPC, art. 560/566).
	O procedimento nas Ações Possessórias de Imóveis de Pequeno Valor, de Coisas Móveis e Semoventes, é de competência do Juizado Especial. Vide art. 3º, IV, da Lei nº 9.099/1995.
Legitimação ativa e passiva para as Ações possessórias
Legitimidade ativa: 
1) Exige-se a condição de possuidor para a propositura dos interditos – art. 926, CPC (NCPC, art. 560), mesmo que não tenha título (possideo quod possideo).
2) Art. 927, CPC (NCPC, art. 561): “Incumbe ao autor provar: I- a sua posse; II- a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III- a data da turbação ou do esbulho; IV- a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda da posse, na ação de reintegração”.
3) O detentor, por não ser possuidor, não tem essa faculdade.
4) Não basta ser proprietário ou titular de outro direito real. Se somente tem o direito, mas não a posse correspondente, o agente terá de valer-se da via petitória, não da possessória, a não ser que se trate de sucessor de quem detinha a posse e foi molestado. Vide art. 1.207, CC/2002.
5) “Ao sucessor a título singular é facultado unir a sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. Desse modo, se este tinha posse e foi esbulhado, àquele será facultado assumir sua posição, para o fim de ajuizar a competente ação possessória contra o terceiro.” (Gonçalves, 2010: 133).
6) O nascituro não é possuidor. Não é titular de direitos subjetivos.
7) Possuidores diretos e indiretos têm ação possessória contra terceiros, e também um contra o outro. Vide parte final do art. 1.197, CC-02 e Art. 932, CPC (NCPC, art. 567).
Legitimidade passiva:
1) O autor da ameaça, turbação ou esbulho (CPC, art. 927, II e 932; NCPC, art. 561, II e art. 567), assim como do “terceiro que recebeu a coisa esbulhada, sabendo que o era”, isto é, de má-fé, como expressamente dispõe o art. 1.212, CC-02.
2) Contra o terceiro que recebeu a coisa de boa-fé não cabe ação de reintegração de posse, pela interpretação a contrario sensu do citado dispositivo legal.
3) Curador, pai ou tutor, responde por autoria moral, se, tendo conhecimento do ato, não tiver recolocado as coisas no status quo ante, voluntariamente, ou por culpa in vigilando – em caso de turbação ou esbulho praticados por pessoa privada de discernimento ou menor incapaz de entender o valor ético da sua ação.
4) A ação pode ser proposta tanto contra o autor do ato molestador como contra quem ordenou a sua prática. Também contra o representante legal. A este cabe se defender com o recurso de nomeação à autoria (art. 62, CPC; NCPC, art. 339/338).
5) O herdeiro a título universal ou mortis causa (CC, art. 1.207). Para Sucessor a título singular – vide art. 1.212, CC-02 (má-fé).
6) Pessoa jurídica de direito privado autora do ato molestador, não o seu gerente, administrador ou diretor, se estes não agiram em nome próprio.
7) Pessoas jurídicas de direito público, contra as quais pode até ser deferida medida liminar, desde que sejam previamente ouvidos os seus representantes legais (CPC, art. 928, parágrafo único; NCPC, art. 562, parág. único).
8) No caso de preposto – cabe nomeação à autoria. Se o demandado é simples detentor (CC, art. 1.198), nomeia à autoria (CPC, art. 62; NCPC, art. 339); se é possuidor direto apenas (CC, art. 1.197), denuncia da lide ao possuidor indireto (CPC, art. 70, III; NCPC, art. 125).
Procedimento
Ação de força nova (menos de ano e dia). Admite-se o deferimento da tutela antecipatória (liminar), com base no art. 927, do CPC; NCPC, art. 562. O procedimento é especial. A cognição é sumária (inaudita altera pars).
Ação de força velha (mais de ano e dia do início da turbação ou do esbulho). O procedimento é ordinário. Admite-se antecipação de tutela se preenchidos os requisitos do art. 273, CPC; NCPC, art. 298.
Conversão de ação possessória em ação de indenização
Art. 921, I (NCPC, art. 555) – ação possessória e cumulação de pedido de indenização.
Perecimento ou deterioração considerável da coisa – pedido de indenização.
Art. 462, CPC; NCPC, art. 493 – juiz deve considerar fato novo.
Danos emergentes e lucros cessantes (CC, arts. 402/403).
Se a perda tiver lugar depois da sentença, mas antes de sua execução, deve aplicar-se, por analogia, o disposto no art. 627 do CPC; NCPC, art. 809.
3.3 – Considerações procedimentais acerca das ações possessórias
a) Possibilidade de concessão de liminar
	A previsão processual determina que quando o procedimento de manutenção e de reintegração de posse for ajuizado dentro de ano e dia da manutenção ou do esbulho, é possível a concessão de liminar (CPC, art. 928; NCPC, art. 562). 
	Caso a ação seja ajuizada em prazo superior a esse, segue-se o rito ordinário, não perdendo a ação, contudo, o caráter possessório.
b) Fungibilidade das ações possessórias
	
O princípio da fungibilidade ou da conversibilidade significa que a propositura de uma ação possessória em vez de outra não obsta ao conhecimento, conforme determina o art. 920, do CPC; NCPC, art. 554.
	A propositura de uma ação possessória em vez de outra não impedirá que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela, cujos requisitos estejam provados.
	Assim, se cabível for ação de manutenção de posse e o autor ingressar com ação de reintegração, ou vice-versa, o juiz determinará a expedição do mandado aos requisitos provados.
Expedição de mandado adequado.
Parte expõe o fato e as provas cabíveis e necessárias e o juiz aplica o direito.
Binômio: “ofensa à posse – proteção possessória”.
Princípio dispositivo: art. 2º, CPC; NCPC, art. 2º.
Não fere previsão do art. 460, CPC; NCPC, art. 492.
Art. 300, CPC; NCPC, art. 336 – da contestação.
b) Natureza dúplicedas ações possessórias (actio duplex) 
	
É possível que o réu alegue, em contestação, ter sofrido ofensa em sua posse, pleiteando a tutela possessória em face do autor.
Fundamento legal: arts. 922, 278, § 1º e 273, todos do CPC; NCPC, art. 556 e arts. 298 e segs.
Não se faz necessário pedido reconvencional (Ação de Reconvenção), art. 315, CPC; NCPC, art. 343.
É licito ao réu, com efeito, na contestação, alegando que foi ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização devida pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.
Juiz decide qual deles tem melhor posse.
c) Exceção de domínio
	
Não é possível a discussão acerca do domínio em ação possessória (art. 1.210, §2º, do CC), a menos que ambas as partes disputem a posse com base no domínio (Súmula 487, STF). Ver NCPC, art. 557.
	Faz-se aqui a distinção entre juízo possessório e juízo petitório:
ius possessionis = posse autônoma ou formal; e
ius possidendi = posse causal.
d) Cumulação de pedidos
	
Prevê o art. 921, do CPC (NCPC, art. 555), que além da proteção possessória, pode o autor pleitear a condenação do réu em perdas e danos, cominação de pena pecuniária ou desfazimento da construção ou plantação realizada, quando da ocupação possessória.
e) Manutenção provisória na posse daquele que tiver a coisa, se não estiver manifesto que o obteve de alguma das outras pessoas por meio vicioso (art. 1.211, CC/2002).
f) Admite-se o ajuizamento da ação possessória em face do terceiro que obteve a coisa do esbulhador, ciente do esbulho (art. 1.212, CC/2002).
g) Nomeação à autoria, no caso de a ação possessória ter sido ajuizada em face do detentor.
3.4 – Outras ações relacionadas com as ações possessórias
	Tais ações são consideradas afins aos interditos possessórios ou ações possessórias atípicas.
a) Ação de nunciação de obra nova (arts. 934 a 940, CPC)
OBSERVAÇÃO: Artigos sem correspondência no CPC/2015.
Ver também: art. 1.299, CC (direitos dos vizinhos); arts. 1.300 a 1.302, CC. 
Autor (Sujeito ativo): Proprietário ou possuidor (arrendatário, locatário etc.).
Objeto: impedir a continuação da obra que prejudique prédio vizinho ou esteja em desacordo com os regulamentos administrativos.
Pressupostos: 
1) Obra nova;
2) Prédios vizinhos.
Petição Inicial: Embargos de obra (suspensão); pena de multa e perdas e danos (arts. 282 e 936, do CPC).
Art. 940, CPC, o nunciado pode requerer prosseguimento:
1) Alegando prejuízo;
2) Prestar caução;
3) Salvo, se infringir regulamento administrativo. Neste caso, não há prosseguimento da obra, até a sua devida regularização.
b) Ação de dano infecto
	Esta ação é manejada em caso de prédio velho que ameaça cair, bem como para andaimes de construção que ameaçam desabar. Pode ser utilizada também para proteção dos vizinhos quando há excesso em caso de ruídos.
Tem caráter preventivo e cominatório (c/ multa). Pode ser oposta quando haja fundado receio de perigo iminente, em razão de ruína do prédio vizinho ou vício na sua construção (art. 1.280, CC/02). Cabe também nos casos de mau uso da propriedade vizinha. Ex. Fundação de prédio, tapume ou andaime que ameaça cair, poluição sonora etc.
c) Ação de imissão de posse
	Não há previsão legal para esta ação no atual Código Civil, nem mesmo no CPC. Estava prevista no art. 381, CC de 1939 e foi repetida no CC de 1973.
	Dec.-Lei nº 1.075, de 22-1-1970 (Imissão de Posse).
	Ação cabível para o caso do proprietário de coisa não possuidor, ou seja, recebeu do alienante só o domínio, pela escritura, mas nunca teve a posse. Haver coisa pela primeira vez em face de quem a transmitiu.
	Não é o caso da reinvindicação (reaver a propriedade, ou “reaver a posse perdida”, art. 1.228, CC), mas imissão na posse (consolidar a propriedade). Jus possidendi (juízo petitório).
Cabimento:
1) Promessa de compra e venda com cláusula de prazo para a imissão na posse;
2) Promessa de compra e venda, locação e comodato (direitos obrigacionais; cláusula contratual que traduza uma imediata transmissão de posse).
Não cabimento:
1) Constituto possessório;
2) Sucessão causa mortis.
d) Ação Negatória
	É cabível quando o domínio do autor, por um ato injusto, esteja sofrendo alguma restrição por alguém que se julgue com direito de servidão sobre o imóvel. Ou seja, quando atos praticados por terceiro restringem ou limitam o exercício do domínio.
e) Embargos de terceiro (arts. 1.046 seg., CPC; art. 1.048, CPC – Prazo; NCPC, arts. 674 e segs.)
3.5 – Percepção dos frutos (arts. 1.214 a 1.216, CC)
	O possuidor de boa fé tem direito aos frutos percebidos e às despesas de produção e custeio dos pendentes e dos colhidos com antecipação.
	O possuidor de má fé não tem direito aos frutos, mas tem direito às despesas de produção e custeio.
3.6 – Responsabilidade por perda ou deterioração da coisa (arts. 1.217 e 1.218, CC)
	
O possuidor de boa fé não é responsável pela perda ou deterioração que não deu causa.
	O possuidor de má fé responde pela perda ou deterioração, ainda que acidental, salvo se provar que o dano ocorreria ainda que a coisa estivesse com o dono.
3.7 – Benfeitorias e direito de retenção (arts. 1.219 a 1.222, CC)
	O possuidor de boa fé tem direito de ser indenizado pelo que gastou com as benfeitorias necessárias e úteis. Com relação a elas tem direito de retenção. Tem direito de retirar as voluptuárias.
	O possuidor de má fé tem direito de ser indenizado pelo que gastou com as benfeitorias necessárias. Não tem direito às úteis. Não pode levantar as voluptuárias. Não tem direito de retenção.
UNIDADE IV – DIREITOS REAIS
Direito de Propriedade, Direito de Vizinhança, Direito de Condomínio, Direitos Reais de gozo e fruição sobre coisas alheias, Direito do Promitente Comprador e Direitos Reais de Garantia.
4.1 – CONCEITO
O direito real consiste no poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos (erga omnes). Direito este tutelado pelo ordenamento jurídico pátrio.
Segundo a doutrina, o direito das coisas é o conjunto de regras que regulam as situações jurídicas havidas entre os sujeitos de direito e os bens suscetíveis de apropriação, bem como os modos de utilização econômica de tais bens. 
Em suma, o direito das coisas regula o poder do homem sobre a natureza física nas suas diversas manifestações. A aquisição, o exercício, a conservação, a reivindicação e a perda de tais bens são exemplos.
A palavra “real” – “reais” deriva de res, que significa coisa na origem latina da palavra. Os direitos reais são, pois, direitos que incidem sobre coisas móveis ou imóveis dotadas de valor econômico, comercializáveis e susceptíveis de apropriação física pelo homem.
	Elementos essenciais dos direitos reais: 
o sujeito ativo, 
a coisa e 
a relação ou poder do sujeito ativo sobre a coisa, chamado domínio.
Distinção entre Propriedade plena e Propriedade limitada
Propriedade plena	
Propriedade plena significa: Título + posse (Título = Registro no Cartório de Registro de Imóveis). Para efetuar o Registro em nome do adquirente é necessária a Escritura, que é o meio formal exigido por lei para a transmissão da titularidade de bens imóveis com valor acima de 30 salários mínimos, conforme previsão do art. 108 e art. 1.227, ambos do Código Civil de 2002. 
O art. 1.231, CC-2002, considera plena (ou ilimitada) e exclusiva a propriedade, até prova em contrário. É plena quando o proprietário concentra em suas mãos todos os direitos elementares do proprietário mencionados no art. 1.228, CC-2002.
Propriedade limitada	
A propriedade torna-se limitada quando recai sobre ela um ônus real. Ex. No USUFRUTO, no USO etc. Usufrutuário tem o direito de usar e gozar da coisa. 
O nu-proprietário (dono) tem o direito de dispor e reivindicar a coisa. 
O usufrutuário, em razão desse desmembramento da posse (o usufrutuário passa a ter posse direta, que é aquela sobre coisa alheia, CC, art. 1.197), passa a ter um direito real sobrea coisa alheia (direito de usufruto, CC, art. 1.390 a 1.411), sendo oponível erga omnes. 
Para isto, é necessário o Registro do contrato no Cartório do Registro de Imóveis, conforme art. 167, I, 7, da Lei nº 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos).
	Para bens móveis exige-se a tradição (art. 1.226, CC/2002), ou seja, a entrega da coisa, para que o negócio jurídico referente à coisa se materialize, isto é, aperfeiçoe.
	Para os bens imóveis, a realização do negócio jurídico só se completa com a transferência do registro do imóvel no Cartório de Registro de Imóveis (CRI) (art. 1.227, CC).
4.2 – CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS REAIS
OPONIBILIDADE ERGA OMNES: o titular do direito real poderá insurgir-se contra qualquer pessoa que pretenda molestar o exercício de tal direito.
O DIREITO DE SEQUELA OU JUS PERSEQUENDI: significa que o direito real aderirá (impregnará) ao bem móvel ou imóvel e o “acompanhará” independentemente de para quem ou para onde vá, permitindo ao seu titular que o exerça irrestritamente (CC/2002, art. 1.228, caput, in fine).
4.3 – ESPÉCIES DE DIREITOS REAIS
	O rol dos direitos reais é apresentado no art. 1.225, CC/2002. Considera-se esta lista dos direitos reais numerus clausus, ou seja, o rol dos direitos reais é taxativo. Somente são direitos reais os previstos em lei. 
Conforme a previsão legal do Código Civil de 2002 são os seguintes os direitos reais:
A propriedade é o direito real por excelência (art. 1.225, I, CC/02). O direito de propriedade é o único sobre coisa própria.
Os direitos reais de gozo e fruição sobre coisa alheia: superfície, servidões, usufruto, uso e habitação (art. 1.225, II-VI, CC-02); a concessão de uso especial para fins de moradia e a concessão de direito real de uso (art. 1.225, XI-XII, CC/02). 
	Saliente-se que os dois últimos incisos acima mencionados (XI e XII) foram inseridos no Código Civil pela Lei nº 11.481/2007, em função da política urbana prevista na CF (art. 183) e da organização fundiária de interesse social em imóveis da União. Aplicam, neste caso, as Regras de uso e do usufruto dos arts. 1.412 e 1.423, CC/02, naquilo que for compatível.
direito real de aquisição: direito de promitente comprador do imóvel (art. 1.225, VII, CC/02).
direitos reais de garantia: o penhor, a hipoteca e a anticrese (art. 1.225, VIII-X, CC/02).
Também são considerados direitos reais de garantia: Propriedade fiduciária (arts. 1.361 – 1.364, CC/2002), Alienação fiduciária sobre bens imóveis (Lei nº 9.514/1997) e Compromisso de compra e venda de imóveis loteados (Lei nº 6.766/1979).
4.4 – AQUISIÇÃO DOS DIREITOS REAIS
	
Os direitos reais, regra geral, podem ser adquiridos pelas seguintes formas:
por CONTRATO. Geram direitos e obrigações – art. 481, CC/02;
pelo DOMÍNIO. Pela tradição, para coisa móvel (art. 1.226) e pelo registro, para imóvel (art. 1.227). Ex. Contrato que institui uma hipoteca ou uma servidão se não for registrado no Cartório de Registro de Imóveis, gerará entre as partes somente um vínculo obrigacional. O direito real, com todas as suas características, somente surgirá após o devido Registro. Para isto, ver os artigos 167 a 171, da Lei nº 6.015/1973.
UNIDADE V – PROPRIEDADE EM GERAL
5.1 – CONCEITO E ELEMENTOS CONSTITUTIVOS
	
O legislador, no art. 1.228 do CC/2002, não apresenta uma definição de propriedade, somente enuncia os poderes ou direitos do proprietário. 
Tais poderes ou elementos constitutivos do direito de propriedade são:
ius utendi – direito de usar o bem extraindo apenas os frutos indispensáveis à sobrevivência;
ius fruendi – direito de gozar, que consiste em extrair frutos;
ius abutendi – direito de dispor da coisa: alienar, gravar de ônus real, consumir;
rei vindicatio – direito de reaver a coisa, de quem quer que a detenha ou possua injustamente, isto é, direito de reivindicar a coisa. Diz-se também, “direito de sequela”, ou “jus persequendi”. 
Define-se pela aderência ou inerência (CC português), que decorre da oponibilidade erga omnes, em que o direito real, na sua essência, adere à coisa, resultando a inseparabilidade entre o direito e a coisa. 
Uma consequência externa da aderência é o poder de sequela, que existe no direito de propriedade e nos direitos reais menores, já que o titular pode perseguir a coisa onde quer que ela se encontre nas mãos de quem quer que injustamente as detenha o possua, reivindicando-a (art. 1228, caput, in fine, CC/2002). 
A sequela não é um direito, mas um poder. Reivindicar vem da expressão “res” (coisa) + vindicare (pedir em juízo). Assim a ação reivindicatória é a ação do proprietário não possuidor para obter a restituição da coisa que está nas mãos de um possuidor injusto não proprietário. 
Os direitos obrigacionais não são aparelhados de inerência nem do poder de sequela e por esse motivo, em regra, quando houver inadimplemento ou violação de um direito real, o seu titular realiza a execução compulsória perseguindo e obtendo a própria coisa. No direito obrigacional, o inadimplemento da prestação, na maioria dos casos, se resolve em perdas e danos.
Portanto, o direito real constitui o mais completo dos direitos subjetivos. Desta forma, a propriedade é a matriz dos direitos reais e o núcleo do direito das coisas.
	Arnaldo Rizzardo, em Direito das Coisas, diz que, acerca da propriedade, “considera-se o mais amplo dos direitos reais, o chamado direito real por excelência, ou o direito real fundamental. Em todos os campos da atividade humana e no curso da vida da pessoa, sempre acompanha a ideia do “meu” e do “teu”, desde os primórdios das manifestações da inteligência, o que leva a afirmar ser inerente à natureza do homem a tendência de ter, de adonar-se, de conquistar e de adquirir” (2006: 169).
Conceito:
O direito de propriedade constitui um dos direitos fundamentais previstos no caput e inciso XXII do art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. A proteção desse direito visa, sobretudo, a superação dos conflitos e a manutenção da paz social, bem como o direito de moradia e a utilização racional e produtiva da propriedade, com vistas à realização da dignidade humana. 
Com efeito, restrições e condições de uso da propriedade são impostas pelo ordenamento jurídico visando proteção individual e utilização racional conforme a finalidade social ou coletiva que o instituto da propriedade exerce na atualidade.
Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, em Direitos Reais, prelecionam, no tocante ao direito de propriedade em nossa atualidade, que “a propriedade é um direito complexo, que se instrumentaliza pelo domínio, possibilitando ao seu titular o exercício de um feixe de atributos consubstanciados nas faculdades de usar, gozar, dispor e reivindicar a coisa que lhe serve de objeto (art. 1.228 do CC). A referida norma conserva os poderes do proprietário nos moldes tradicionais" (2011: 199).
Os referidos juristas propõem uma superação desta noção tradicional da propriedade pela distinção entre os termos propriedade e domínio. Tais termos são autônomos e complementares. Neste sentido,
O direito subjetivo de propriedade concerne à relação jurídica complexa que se forma entre aquele que detém a titularidade formal do bem (proprietário) e a coletividade de pessoas. Nos bens imóveis, nasce a propriedade através do ato do registro, que a tornará pública e exigível perante a sociedade. O objeto da relação jurídica ora decantada é o dever de abstenção, que consiste na necessidade de os não proprietários respeitarem o exercício da situação de ingerência do titular sobre a coisa (Farias & Rosenvald, 2011: 199).
	Desta forma, não é o retrato material do imóvel com as características físicas que define a propriedade, “mas a feição econômica e jurídica que a representa formalmente, dotando o proprietário de uma situação ativa que lhe permita o trânsito jurídico de titularidade e a proteção plena do aparto jurisdicional” (Farias & Rosenvald, 2011: 199).
	Conceitua-se, portanto, a propriedade como “uma relação jurídica complexa formadaentre o titular do bem e a coletividade de pessoas” (Farias & Rosenvald, 2011: 200. Grifos do autor). 
A normatização e a proteção jurídica implicam nessa complexidade de relações vários fatores essenciais, tais como, proteção ao direito individual em consonância com o interesse coletivo, ou seja, com suas finalidades econômicas e sociais, utilização racional, proteção e preservação do meio ambiente, evolvendo “a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitar a poluição do ar e das águas” (art. 1.228, § 1º, CC/2002).
	
5.2 – FUNDAMENTO JURÍDICO DA PROPRIEDADE	
FUNDAMENTO JURÍDICO-POSITIVO DO DIREITO DE PROPRIEDADE: 
O direito pátrio contém a seguinte previsão constitucional e legal do direito de propriedade: art. 5º, caput, XXII – XXIII e art. 170, II – III, CF/1988; art. 1.228 a 1.232, CC/2002.
TEORIAS SOBRE A PROPRIEDADE:
Teoria da ocupação. Fundamento do direito de propriedade na ocupação das coisas, quando ainda não pertenciam a ninguém (res nullius). A ocupação é o principal título de propriedade.
Teoria da especificação. Funda-se na acepção da aquisição da propriedade pelo trabalho.
Teoria da lei. MONTESQUIEU, em De L’Esprit dês lois e J. BENTHAM, no Traité de législation, afirmam que a propriedade é instituição do direito positivo e existe porque a lei a criou e a garante. Admitida por determinados filósofos contratualistas dos sécs. XVII-XIX.
Teoria da natureza humana. A propriedade é inerente à natureza humana. Deriva do direito natural (Filósofos medievais e os contratualistas, sécs. XVII-XIX). É, para alguns, uma dádiva de Deus aos homens, para que possam prover às suas necessidades e às de sua família. A propriedade individual, dizem, é condição da existência e da liberdade de todo o homem. Acata essa teoria no Direito pátrio, por ex. Sílvio de Salvo Venosa, em Direito Civil, vol. V, ed. Atlas, bem como, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, em Direitos Reais, Editora Lumen Juris.
CARACTERES DO DIREITO DE PROPRIEDADE:
É exclusivo (no condomínio recai sobre a parte ideal) (art. 1.231, CC/02);
Ilimitado (pleno) ou absoluto (art. 1.231, CC/02);
irrevogável ou perpétuo: não se extingue pelo não uso (acrescentado pela doutrina).
5.3 – EVOLUÇÃO DO DIREITO DE PROPRIEDADE E FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
EVOLUÇÃO HISTÓRICA:
a) Sociedades primitivas: coletivismo. Ausência da propriedade privada.
b) No Direito Romano: caráter individualista da propriedade.
c) Idade Média: passou por uma fase peculiar, com dualidade de sujeitos, isto é, havia o dono e aquele que explorava economicamente o imóvel, pagando ao primeiro pelo seu uso. Relação entre senhor (proprietário) e o servo (que cultivava a terra).
d) Na Modernidade, após a Revolução Francesa: com a ascensão da burguesia o direito de propriedade assumiu feição marcadamente individualista. O direito de propriedade foi alçado entre os direitos fundamentais da pessoa. 
e) Na atualidade, além de caracterizar um direito individual, a propriedade desempenha uma função social: que deve ser exercida em consonância com suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas (§ 1º, do art. 1.228 do CC/2002).
5.4 – DIREITO DE PROPRIEDADE, FUNÇÃO SOCIAL E RESTRIÇÕES LEGAIS DE DOMÍNIO E USO DA PROPRIEDADE
	
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE na Constituição Federal de 1988: 
art. 5º, XXIII, CF/1988; art. 1228, § 1º, CC/2002 – Função social da propriedade; 
art. 170, III, CF/1988 – Ordem econômica e função social da propriedade;
art. 186, CF/1988 – Conceito de Função social da propriedade rural (Propriedade produtiva e improdutiva);
art. 182, § 2º, CF/1988; art. 39 da Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) – Conceito de Função social da propriedade urbana/Política urbana.
RESTRIÇÕES AO DIREITO DE PROPRIEDADE ou princípios limitadores da atuação do proprietário:
a) Função social/Desapropriação – Previsão legal:
Art. 5º, XXIV, CF/88 – “desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou interesse social”, “mediante justa e prévia indenização em dinheiro”; art. 1.228, § 3º, CC/2002 - “desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou interesse social”. 
Dec.-Lei nº 3.365/1941. Art. 2º e 6º - competência/desapropriação; art. 5º - Consideram-se casos de utilidade pública.
Lei nº 8.078/90 – CDC.
Desapropriação sancionatória:
Desapropriação da propriedade urbana: prevista no art. 182, § 4º, III, CF/88 e disciplinada pela Lei nº 10.257 de 10.07.2001 (Vide art. 8º) (Estatuto da Cidade), que regulamenta os artigos 182 e 183 da CF/1988 e estabelece diretrizes gerais da política urbana.
Desapropriação por descumprimento de função social da propriedade rural: prevista no art. 184, caput, CF/88 e tratada na Lei Complementar nº 76/1993, alterada pela Lei Complementar nº 88/1996. 
Expropriação art. 243, CF/88 e normatizada pela Lei nº 8.257/1991. 
b) Restrições de ordem administrativa.
Proteção ao patrimônio histórico, a fauna, a flora, o equilíbrio ecológico etc. (§ 1º, art. 1.228, CC/02).
Requisição pela administração pública (ocupação/uso): art. 5º, XXV; art. 22, III, CF/88. Cabe indenização por dano.
Limitações administrativas: i) Direito Privado: direito de vizinhança – art. 1.277 segs. CC/2002; ii) Direito Público: urbanísticas e administrativas. Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade)/Plano Diretor do Município – art. 182, §1º, CF/88.
Servidões (ex. estrada, rede de energia elétrica). Com indenização ao proprietário do imóvel.
c) Usucapião 
A usucapião é modo de aquisição da propriedade e de outros direitos reais pela posse prolongada da coisa com a observância dos requisitos legais. Denominada também de prescrição aquisitiva. Espécies: 1) Extraordinária: art. 1.238, CC/02. Prazo: 15 ou 10 anos; 2) Ordinária: art. 1.242, CC/02. Prazo: posse de 10 ou 5 anos; 3) Especial: Rural, denominada também pro labore: art. 191, CF/88 e art. 1.239, CC/02. Urbana: art. 183, CF/88 e art. 1.240, CC/02. Prazo: 5 anos; 4) Coletiva: art. 10, Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade); § 4º, do art. 1.228, CC/02. Não há usucapião de bens públicos (art. 183, §3º e art. 191, parág. único, CF/88; art. 102, CC/2002).
d) Restrição por ato voluntário: imposição de cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade. Ex. Art. 1.659; art. 1.668, CC/02.
e) Propriedade/Recursos minerais – art. 176, CF/88. 
f) Espaço aéreo e subsolo: Vide artigos 1.229 e 1.230, CC/2002.
g) Empresas jornalísticas e de radiodifusão – art. 222, CF/88. 
h) Propriedade Intelectual/Direito autoral – art. 5º, XXVII e XXVIII, CF/88; Lei nº 9.610/99.
i) Inventos, marcas de indústria e de nomes – art. 5º, XXIX, CF/88; Lei nº 9.279/96.
5.5 – PROTEÇÃO ESPECÍFICA DA PROPRIEDADE
5.5.1 – AÇÃO REIVINDICATÓRIA
	Fundamento legal: 2ª parte do caput do art. 1.228, CC/02, que prevê o direito do proprietário reaver a coisa (rei vindicatio), de quem quer que injustamente a possua ou detenha. Portanto, o art. 1.228, caput, in fine, do CC/2002, é o fundamento jurídico básico para a reinvindicação da propriedade.
Fundado no direito de seqüela, isto é, poder de perseguir a coisa onde quer que ela se encontre.
Ação do proprietário não possuidor contra o possuidor não proprietário.
Pode utilizá-la quem está privado da coisa que lhe pertence e quer retomá-la de quem a possui ou detém injustamente.
PRESSUPOSTOS E NATUREZA JURÍDICA:
Ação Reivindicatória tem caráter dominial – por isso só pode ser utilizada pelo proprietário, por quem tenha jus in re. Não pode ser apenas possuidor para propor ação reivindicatória.
Autor deve provar o domínio, com o respectivo registro, e a descrição do imóvel com suas confrontações, bem como demonstrar que a coisa reivindicada se encontra na posse do réu.
Efeito jurídico da Vindicatio: obrigar o possuidor a restituir ao proprietário a coisa vindicada,com todos os seus acessórios, tais como frutos e rendimentos. Quando a restituição é impossível por ter perecido a coisa, o proprietário tem direito a receber o seu valor se o possuidor estava de má-fé (art. 1.217, CC/2002).
A pretensão reivindicatória é imprescritível, salvo as previsões legais, tais como: usucapião, desapropriação, expropriação.
PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DA AÇÃO:
A titularidade do domínio, pelo autor, da área reivindicada;
A individuação da coisa;
A posse injusta do réu (que não tem causa jurídico ou a possui injustamente).
DIVERGÊNCIAS DA DOUTRINA
Há duas correntes doutrinárias:
a) Tal ação visa o reconhecimento do direito de propriedade, sendo a restituição da coisa mera conseqüência desse fato.
b) O domínio já pertence ao proprietário. O objetivo da Ação reivindicatória é o restabelecimento do reivindicante no exercício do seu direito.
LAGITIMIDADE ATIVA:
Proprietário (com propriedade plena ou limitada);
Citação de ambos os cônjuges, se o réu for casado, conforme art. 10, CPC (Direito imobiliário).
Direito hereditário: transmite domínio e posse.
Titular de compromisso de compra e venda (Contrato) – art. 1.417, CC/02. Exige-se Registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Cada condômino pode, individualmente, reivindicar de terceiro a totalidade do imóvel (art. 1.314, CC/02).
SUJEITO PASSIVO: 
A ação deve ser endereçada contra quem está na posse ou detém a coisa, sem título ou suporte jurídico.
	A boa-fé não impede a caracterização da injustiça da posse, para fins de reivindicatória.
	A pretensão pode ser oposta a quem possui a coisa em nome de terceiro.
	Ao possuidor direto, citado para a ação, incumbe a denunciação da lide ao possuidor indireto – art. 70, II, CPC; art. 62, CPC (nomeação à autoria).
5.6 – ESPAÇO AÉREO E SUBSOLO
	
Vide os artigos 1.229 e 1.230, CC/02.
5.7 – FRUTOS E PRODUTOS
	Vide art. 1.232, CC/02. Vide também art. 1.255, CC/02. 
5.8 – DA DESCOBERTA
Artigos 1.233 - 1.237, CC/02; Art. 169, II, CPC; NCPC, art. 746 (Das Coisas Vagas).
	Descoberta é o achado de coisa perdida ou esquecida, por seu dono. Descobridor é a pessoa que a encontra.
	A coisa achada deve ser restituída ao dono ou legítimo possuidor – art. 1.233, CC/02. Se o dono não for encontrado, deve a coisa achada ser entregue à autoridade competente – Parágrafo único, art. 1.233, CC/02.
	Aquele que achou a coisa “tem direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la” – art. 1.234, CC/02.
UNIDADE VI – AQUISIÇÃO E PERDA DA PROPRIEDADE 
– AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL
– MODOS DE AQUISIÇÃO:
Os modos de aquisição da propriedade, conforme previstos no ordenamento civil e constitucional são os seguintes: usucapião, registro de título de transferência no Registro de Imóvel, acessão e direito hereditário.
– Quanto à procedência, a propriedade pode ser adquirida de forma:
Originária: ocorre quando não há transmissão de um sujeito para o outro. Por exemplo, na acessão natural e na usucapião. Nesse caso, não há manifestação da vontade do proprietário ou possuidor anterior.
Derivada: quando a transmissão da propriedade acontece mediante uma relação negocial entre o anterior proprietário e o adquirente. Desse modo, ocorre transmissão do domínio em razão da manifestação de vontade. 
– Hipóteses legais de aquisição da propriedade de bem imóvel:
Aquisição da propriedade imóvel pela Usucapião
Base legal para a Ação da Usucapião: arts. 1.238 a 1.244, CC; art. 1.379, CC/2002 – servidão; arts.183 e 191, CF/1988; arts.941 a 945, CPC – Da ação de usucapião de terras particulares. 
Observação: Os arts. 941 a 945, do CPC (Lei nº 5.869, de 11-01-1973), que tratam da Ação de Usucapião não têm correspondência no Novo CPC (Lei nº 13.105, de 16-03-2015).
Desta forma, entende-se que a Ação da Usucapião, no novo CPC, está prevista como procedimento comum, e não mais procedimento especial como estava previsto no CPC revogado.
Ver o art. 246, § 3º e art. 259, I, do CPC (Lei nº 13.105, de 16-3-2015).
	Conceito: Usucapião é modo de aquisição originária da propriedade e de outros direitos reais pela posse prolongada da coisa com a observância dos requisitos legais. Essa ação é também denominada prescrição aquisitiva, e, desse modo, se contrapõe à prescrição extintiva, prevista nos arts. 205 e 206 do Código Civil de 2002. 
	
	Sobre a prescrição aquisitiva verifica-se como já se posicionou o STJ:
USUCAPIÃO. PRESCRIÇÃO AQUISITIVA.
A questão posta no REsp. consiste em definir se a prescrição aquisitiva (usucapião) está sujeita a eventuais limitações relacionadas com a anterior constituição de ônus real sobre o bem usucapido. A Turma entendeu que, consumada a prescrição aquisitiva, a titularidade do imóvel é concedida ao possuidor desde o inicio de sua posse, presentes os efeitos ex tunc da sentença declaratória, não havendo de prevalecer contra ele eventuais ônus constituídos, a partir de então, pelo anterior proprietário. REsp. 716.753-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 15/12/2009.
A usucapião, tecnicamente, consiste em um modo originário de aquisição da propriedade, ou seja, não necessita de manifestação de vontade do proprietário ou possuidor anterior.
Na ação da usucapião, o proprietário anterior e proprietário registral serão citados para resposta do réu, mas se o possuidor já tiver preenchido todos os requisitos para a usucapião, quais sejam o lapso temporal e demais requisitos previstos na norma constitucional e na legislação infraconstitucional, conforme cada tipo da usucapião, a sentença que concede a aquisição da propriedade pelo possuidor, tem caráter meramente declaratório.
Importante salientar que a usucapião pode ser arguida em defesa, conforme trata a Súmula 237, STF.
Espécies de Usucapião:
Usucapião Extraordinária: art. 1.238, CC/02. 
Requisitos: posse de 15 anos, exercida com ânimo de dono (animus domini) e de forma contínua, mansa e pacificamente. Não são exigidos os requisitos do justo título e o da boa-fé. O parág. único, do art. 1.238, CC, prevê que o prazo pode reduzir-se a 10 anos “se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo”.
Usucapião Ordinária, denominada também Usucapião Regular ou Comum: art. 1.242, CC/02. 
Requisitos: posse de 10 anos, exercida com ânimo de dono, de forma contínua, mansa e pacificamente, além do justo título e boa-fé. 
O prazo pode ser reduzido para 5 anos, conforme estabelece o parág. único do referido artigo. Trata-se da posse-trabalho, decorrente da função social, como fator redutor do prazo (Ver TARTUCE, Flávio. Direito das Coisas. São Paulo: Método, 2013, p. 165).
O justo título significa, conforme texto do Enunciado 86, CJF: “A expressão justo título contida nos arts. 1.242 e 1.260 do CC abrange todo e qualquer ato jurídico hábil, em tese, a transferir a propriedade, independentemente de registro”. 
Observação: A Lei nº 6.015/1973, em seu art. 214, § 5º, trata da denominada Usucapião Tabular, instituto nem sempre comentado pela doutrina civilista. 
Usucapião Constitucional ou Especial: 
1) Usucapião Especial Rural, denominada também usucapião pro labore ou rústico: art. 1.239, CC/02; art. 191, CF/1988 e Lei nº 6.969/1981.
Requisitos: a) não ser o usucapiente proprietário rural nem urbano; b) posse de 5 anos, contínua, mansa e pacífica, isto é, sem oposição; c) área rural contínua, “não superior a 50 hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia”. Não são exigíveis justo título e boa-fé. Não pode recair sobre bens públicos.
Trata-se da finalidade de assegurar o direito constitucional à moradia (CF/1988, art. 6º).
Enunciados do Conselho de Justiça Federal correspondentes:
En. 313, CJF/STJ – “Quando a posse ocorre sobre área superior aos limites legais, não é possívela aquisição pela via da usucapião especial, ainda que o pedido restrinja a dimensão do que se quer usucapir”.
En. 312, CJF/STJ – “Observando o teto constitucional, a fixação da área máxima para fins de usucapião especial rural levará em consideração o módulo rural e a atividade agrária regionalizada”. 
Súmula 11, STJ: “A presença da União ou de qualquer se seus entes, na ação de usucapião especial, não afasta a competência do foro da situação do imóvel”.
Ver art. 47, CPC (Lei nº 13.105, de 16-3-2015) – foro da situação da coisa (foro rei sitae).
2) Usucapião Urbano ou Pro-Misero: art. 183, CF/88 e art. 1.240, CC/02. Requisitos: a) posse de área urbana de até 250 metros quadrados; b) prazo de 5 anos; c) posse contínua, mansa e pacífica, isto é, sem oposição; d) utilização do imóvel para moradia do possuidor ou de sua família; e) não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Não se aplica sobre bens públicos. 
Obs.: Vide § 1º e § 2º, do art. 1.240, CC/02.
Usucapião Coletiva: O art. 10 do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001) estabelece a denominada usucapião coletiva, de inegável alcance social, de áreas urbanas com mais de 250 m², ocupadas por população de baixa renda para sua moradia por 5 anos, onde não for possível identificar os terrenos ocupados individualmente.
Usucapião no Direito de Família, denominada Usucapião de meação ou por abandono do lar: CC, art. 1.240-A. 
A Lei nº 12.424/2011 incluiu no Código Civil de 2002 o art. 1240-A, com a seguinte redação:
Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250 m2 (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 
Pressupostos da usucapião, ou elementos para a aquisição por usucapião:
Coisa hábil ou suscetível de usucapião;
Posse mansa, pacífica e contínua, com animus domini, sendo esta posse ad usucapionem;
Decurso do tempo (lapso temporal);
Justo título (para a usucapião ordinária);
Boa-fé, dependendo da modalidade da usucapião.
Ação de usucapião:
O fundamento da usucapião é a consolidação da propriedade. Tal ação tem natureza declaratória (art. 1.241, CC/02). Prelecionam Farias & Rosenvald:
O fundamento deste modelo jurídico é dúplice: representa um prêmio àquele que por um período significativo imprimiu ao bem uma aparente destinação de proprietário; mas também importa em sanção ao proprietário desidioso e inerte que não tutelou o seu direito em face da posse exercida por outrem. Por isto a sentença de procedência da ação de usucapião apenas reconhece o domínio adquirido com a satisfação dos requisitos legais, sendo a sentença atributiva somente no tocante à constituição da propriedade em nome do usucapiente, no registro imobiliário (2010: 274).
	A usucapião era regulada pelos arts. 941 a 945, Lei nº 5.869/1973, já revogada. 
Deve ser ajuizada no foro onde é localizado o imóvel (foro rei sitae), conforme art. 47, CPC.
Este dever ser individuado na inicial de forma clara e precisa. Deve o autor juntar planta da área usucapienda. A sentença será registrada, mediante mandado, no Registro de imóveis.
	Vejam as alterações no âmbito processual acima já mencionadas.
Observação: Os arts. 941 a 945, do CPC (Lei nº 5.869, de 11-01-1973), que tratam da Ação de Usucapião não têm correspondência no Novo CPC (Lei nº 13.105, de 16-03-2015).
Desta forma, entende-se que a Ação da Usucapião, no novo CPC, está prevista como procedimento comum, e não mais procedimento especial como estava previsto no CPC revogado.
Ver o art. 246, § 3º e art. 259, I, do CPC (Lei nº 13.105, de 16-3-2015).
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES!
Não há usucapião de bens públicos, conforme art. 183, § 3º e art. 191, parág. único, ambos da CF/88; art. 102 do Código Civil de 2002.
Prevê o art. 1.244, CC/02, que não se verifica usucapião entre os cônjuges, na constância do casamento; entre ascendentes e descendentes; durante o poder familiar.
Não corre a prescrição (art. 198, CC/02) contra os absolutamente incapazes de que tratam o art. 3º, do CC/02.
Aquisição da propriedade imóvel pelo Registro do Título de transferência no Registro de Imóvel (arts. 1.245 a 1.247, CC). Para o ato de transmissão dos bens imóveis são necessários: a Escritura e o Registro no Cartório de Registro de Imóveis – art. 1.227, CC/02); Recolhimento do Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) (inter vivos, competência do Município), art. 166, II, CF/88 e arts. 35 a 42 do CTN (Lei nº 5.172/1966). O contrato de compra e venda é opcional e gera direitos reais de gozo ou fruição, isto é, o direito do promitente comprador do imóvel (art. 1.225, VII, CC/02). Vide art. 481 segs., do CC/02.
Vide art. 167 da Lei nº 6.015/1973 (LRP). São atos do Registro: a matrícula, o registro e a averbação.
Não basta o contrato para a transferência ou aquisição do domínio (art. 481, CC/02).
Tradição (forma prescrita em lei para coisas móveis – art. 1.267, CC);
Registro translativo (forma prescrita em lei para imóveis – art. 1.245).
Vide art. 104, CC/02 – Negócio Jurídico válido/Requisitos.
Art. 108, CC/02 (Imóvel no valor de até 30 salários mínimos dispensa de escritura pública, portanto, a escritura poderá ser particular).
Vide art. 447, art. 456, ambos do CC/02 (por saltos/sucessiva); arts. 70 (denunciação da lide), 76 e 109 do CPC.
Retificação do Registro: É admissível a retificação do Registro quando há inexatidão nos lançamentos, isto é, “se o teor do registro de imóveis não exprimir a verdade” (CC, art. 1.247; art. 212 da Lei nº 6.015/1973). A retificação pode ser feita extrajudicialmente quando não afeta direito de terceiro.
Aquisição da propriedade imóvel pela Acessão: é modo originário de aquisição da propriedade, criado por lei, em virtude do qual tudo o que se incorpora a um bem fica pertencendo ao seu proprietário. Segue o princípio segundo o qual a coisa acessória segue o principal. 
TIPOS DE ACESSÕES – previstas no art. 1.248 segs., do Código Civil de 2002:
I – por formação de ilhas;
II – por aluvião;
III – por avulsão;
IV – por abandono de álveo;
V – por plantações ou construções.
Aquisição da propriedade imóvel pelo Direito hereditário
Ocorre na Sucessão/inventário (art. 1.784, CC/02). Aplicação do princípio da SAISINE: abertura da sucessão e transmissão dos bens do falecido aos seus herdeiros. Partilha e entrega dos bens através do Formal de partilha. Inventário e Partilha, CPC, arts. 610 – 673 (Lei nº 13.105, de 16-03-2015).
– AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL
– MODOS DE AQUISIÇÃO:
Usucapião:
Ordinária (art. 1.260, CC/02);
Extraordinária (art. 1.243, 1.244 e 1. 262, CC/02).
Ocupação: é modo originário de aquisição da propriedade (art. 1.263, CC/02).
Achado do tesouro (art. 1.264, CC/02).
Tradição. Conceito: art. 1.267, CC/02. Espécies: a) real; b) simbólica e c) ficta.
Especificação (art. 1.269, CC/02).
Confusão, comistão (ou comissão) e adjunção (arts. 1.272 a 1.274, CC/02).
6.3 – PERDA DA PROPRIEDADE
6.3.1 – Modos de perda da propriedade
	A perda da propriedade pode ocorrer pelos seguintes modos:
VOLUNTÁRIOS: a) Alienação; b) Renúncia; c) Abandono.
INVOLUNTÁRIOS: a) Perecimento; b) Desapropriação.
6.3.2 – Enumeração meramente exemplificativa do art. 1.275, CC/02:
Dá-se a alienação por meio de contrato (negócio jurídico bilateral);
A renúncia é ato unilateral, pelo qual o titular transfere a propriedade a outra pessoa;
O abandono também é ato unilateral, pelo qual o titular abre mão de seus direitos sobre a coisa;
A perda pelo perecimento da coisa decorre da perda do objeto;
Perde-se a propriedade imóvel pela desapropriação nos casos expressos na CF/1988.
OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES:
Hipóteses de Desapropriação de bens imóveis:
Intervenção do Poder Público (estatal) sobre a propriedade privada

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