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ADOLESCÊNCIA - WINNICOTT
O Winnicott vai trabalhar um elemento crucial em relação a adolescência, que tem a ver com essa função do ambiente facilitador que é a dinâmica da polaridade: maturidade/imaturidade.
Se a gente pega um conceito geral de adolescência, vamos dizer que é o tempo de transição entre a infância e a adultez. Se a gente transpõe esse conceito básico pra pensar psicanaliticamente, podemos pensar a partir da polaridade que o Winnicott oferece. De um estado de imaturidade absoluta, do início da vida psíquica pra um estado de maturidade psíquica que não é imutabilidade, mas que é uma condição mais estável de condições genitais.
Então também podemos pensar a adolescência como essa passagem, essa ponte como um tempo marcado por um constante dilema entre maturidade e imaturidade. Por exemplo: O desejo do adolescente de ser visto e de ver-se em uma condição mais madura. O adolescente que quer fazer as coisas e reger-se sozinho, ocupar-se sozinho de si mesmo. 
Então, se por um lado existe uma demanda social de busca de maturidade, (a gente não tolera que um adolescente faça as coisas que uma criança faz). Do ponto de vista social e cultural a gente passa a exigir desse sujeito uma outra posição, uma outra forma de funcionar. Da mesma forma o próprio adolescente que ocupar esse lugar de ser visto como maduro e capaz e autosuficiente. O Winnicott vai marcar que esse desejo e essa dita autosuficienência não é maturidade. Então não confundir um desejo com uma condição efetiva. E é por isso que o ambiente para ser facilitador precisa reconhecer o quanto a maturidade é almejada e precisa ser estimulada, mas que ao mesmo tempo, ainda a adolescência é marcada por uma condição de imaturidade. Logo, o adolescente precisa ser cuidado.
Se por um lado a cultura começa a exigir que o adolescente faça coisas, se o próprio adolescente pensa de uma forma onipotente que ele pode se reger sozinho, qual o lugar do ambiente que vai realmente dizer que é pra La que tu tem que ir e é na maturidade que tu tem que chegar? O ambiente só vai poder estimular a maturidade e esse trânsito se ele puder reconhecer a imaturidade presente e o quanto ainda psiquicamente o adolescente ainda é imaturo e precisa ser cuidado. A gente não pode confundir corpo adulto, autonomia com maturidade psíquica. 
O cuidado que o adolescente demanda não é o mesmo que uma criança demandava, mas isso não significa que não precise de cuidado. Tem um elemento do texto da Roberta, do Tomás e da Mônica que conversa com essa proposição do Winnicott que diz assim “Um dos grandes dilemas das funções parentais na adolescência é a gente confundir liberdade, achar que estamos fazendo algo de liberdade, de autonomia, quando na verdade isso é falta de cuidado, falta de olhar”. Porque se o adolescente precisa ser estimulado a olhar sozinho, também precisa existir um ambiente de pais/cuidadores que possam olhar com ele e por ele, em coisas bobas e em coisas importantes. 
A adolescência dos filhos é uma crise dos pais. Para os pais como função parental e dos pais dentro do seu próprio ciclo vital. Quanto mais o adolescente cresce e se torna autônomo, mais isso demanda uma reorganização da família e das ligações. Se antes eu era completamente demandada por uma criança, agora cada vez mais eu fico sobrando porque esse sujeito vai fazer por si próprio, até que lá no fim ele vai fazer totalmente por si próprio. Ele pode me pedir ajuda o resto da vida, maturidade não é isolamento, maturidade é reconhecer que a gente precisa das pessoas, mas é uma condição de poder lidar sozinho.
Quando estamos falando dessa crise dos pais, a gente precisa por um lado reconhecer que isso coloca os pais em uma condição de envelhecimento (no sentido da mudança geracional). Isso muitas vezes provoca uma dificuldade de cada um ocupar o seu lugar, o fato de que simultaneamente se enfrentam crises muito importantes que muitas vezes atrapalham essa comunicação que é tão necessária para uma comunicação se dar. Como esses pais toleram e trabalham com o fato de que eles não são mais o centro do mundo dos filhos. Isso envolve pais que precisam se ver consigo mesmos, com seus companheiros e de uma forma geral, pais que precisam se ver com seus investimentos. “O que eu to fazendo da minha vida? Onde eu to pondo minha energia? Onde eu tenho prazer?”. É muito convidativo na infância dos filhos que os pais coloquem todos os seus investimentos neles, isso é culturalmente muito estimulado, ninguém questiona. Mas se a gente pega e transpõe essa mesma situação em um filho adolescente, aí não dá. Não dá porque o filho não quer, porque a cultura não tolera. Então esse processo de crise, envolve de todos os lados a indicação de que eu preciso rever os meus investimentos, e isso envolve rever a mim mesmo e o que eu to fazendo da vida.
Isso interfere fundamentalmente nessa dinâmica de relação e de desempenho das funções. Como se desempenha uma função materna, como se desempenha a função paterna, nesse momento que ainda é marcado pela imaturidade. Porque essas funções não deixam de ser cruciais. 
O Winnicott vai marcar que a fase se chama rumo a independência, porque nunca chegamos em uma adolescência absoluta e em outros momentos ele vai usar uma outra palavra que é interdependência. Esse estado de dependência é a gente reconhecer que nós precisamos do outro e que somos interdependentes do outro. A diferença é que nesse estado de interdependência em que um precisa do outro há consolidada a capacidade de estar só. O adolescente se coloca só, muitas vezes, isso não significa que ele tolere estar só, principalmente nesse momento da adolescência que ele precisa revisitar toda sua história.
Porque falamos que a adolescência é uma revivência de sua história? Porque o adolescente vai de novo se enfrentar com o Édipo, com o narcisismo, com a economia de prazer e de novo vai demandar da função materna e paterna a atuação. Eles de novo precisam estar presentes. Não vão ser só eles, mas eles não somem. Por mais que na rede de investimentos do adolescente outros objetos novos e inaugurais passem a ocupar esses lugares, porque já teve uma primeira vivência e uma primeira denúncia, esses objetos primários ainda não esgotaram a sua função. Aí voltamos para o raciocínio dos excessos. 
Quando é que isso se desequilibra? Quando falamos de uma intensidade superior a necessária e a suportável, é de um excesso de presença e de um excesso de ausência. Se estamos falando o tempo inteiro de ida e vinda se sua própria sexualidade também é ida e vinda dos lugares que esses pais precisam ocupar. Então precisamos pensar como é que podemos trabalhar para constituir cada uma dessas funções nesse novo exercício da adolescência.
O adolescente vai questionar a regra e a lei, mas para ele poder fazer isso precisa existir a lei, autoridade. Ela precisa ser mantida, se ela não pode ser mantida desde cedo (dentro), ela precisa ser mantida de fora. Isso não significa invadir. A gente está em uma linha muito tênue e por isso a polaridade. O quanto a gente pode estimular a maturidade quando a gente não invade e reconhece que não é mais uma criança, mas como que a gente precisa também reconhecer a imaturidade e manter-se como agente da lei quando isso ainda não ta consolidado dentro.
Hoje em dia esse tema ta ainda mais incrementado pelas demandas culturais e pela sociedade na qual a gente ta inserido. Pelas características culturais que interferem na nossa constituição subjetiva. Se isso já é um tema sempre, hoje em dia esse tema ta ainda mais intensificado porque a gente tem muitas vezes um déficit nesse exercício parental desde o início da vida. A gente tem um paradigma daquilo que eu preciso dar ao meu filho pelo consumo, do que dar no sentido da relação e as vezes quando isso se repete, a gente já ta diante de um sujeito com uma precariedade de recursos importantes para enfrentar o dilema básico da adolescência. Então, se eu já chego frágil na adolescência: vai estourar. E é por isso que a adolescência é um tempo tão frágilde eclosão do adoecimento. 
Joel Birman vai falar uma outra questão contemporânea crucial que é o quanto a gente vive hoje uma cultura em que o nosso ideal cultural é a adolescência, porque somos jovens, cheios de possibilidades e cheio de futuros. Então como eu lido com a adolescência do meu filho se aquele tempo é o meu ideal. Como é que a gente cresce? A gente só cresce se alguém lá na frente disser “vem pra cá, aqui é melhor do que aí”. A gente só cresce se tiver valor o que vem pela frente, senão a gente não abre mão do que tem. A gente só vai renunciar se aquilo que tiver na frente parecer mais vantajoso. 
Como que fica para uma adolescente saber que a distância geracional se perdeu? Ela precisa dessa distância para se movimentar. Precisa não ser igual. Não pode estar colado, senão não anda. Eu preciso querer ir até lá (adultez). Isso nos ajuda a pensar uma outra questão fundamental que o Winnicott apresenta. 
“Toda a adolescência é a passagem de uma fantasia de assassinato”. Para crescer a gente precisa matar esse legislador que é o pai e a mãe. Eu só vou poder ser mãe um dia se eu tiver aberto mão de ter a minha mãe como esse lugar. Eu só vou poder ser adulta se eu tirar aquele adulto como quem Ô adulto. Eu preciso poder superá-lo. O Winnicott vai dizer que isso acontece por uma fantasia de assassinato. Assassinato não tem a ver com prevalência de hostilidade. A hostilidade ta junto, mas isso tem a ver com uma transição de geração. A relação que tenho com os meus pais não vai mais ser a filial/ infantil, mas da ordem da igualdade. Eu tenho um reconhecimento da importância do lugar do pai, mas tenho que ter o conhecimento que hoje aquele espaço é ocupado por mim. 
Crescer sempre significa destronar. Destronar aquele que estava no lugar que a gente quer. Pra gente querer fazer isso, aquele lugar precisa ser apresentado como um lugar de valor.

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