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DESIGNERS_ENTRE_CETICOS_E_DOGMATICOS

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DESIGNERS: ENTRE CÉTICOS E DOGMÁTICOS 
 
DESIGNERS: BETWEEN SKEPTICS AND DOGMATICS 
 
Diego Daniel Casas1 
Ricardo Goulart Tredezini Straioto2 
 
RESUMO: Ao longo dos anos, o design passou por transformações que alteraram seu discurso e 
objetivo inicial, o que, em certa medida, reflete seu amadurecimento e seu reconhecimento social, 
principalmente ao deixar de ser uma vanguarda, ou um projeto alternativo, e passar a ser absorvido 
pela empresas e pela sociedade, através da consolidação de um mercado de design. E apesar de 
aparentarem certo distanciamento, o pensamento cético e o design possuem relação estreita. Este 
artigo objetiva confrontar o design e algumas de suas perspectivas com o pensamento cético, no 
intuito de constituir uma relação entre as abordagens de design e suas possíveis bases 
epistemológicas. Como metodologia para alcançar o objetivo foi utilizada uma pesquisa exploratória 
e bibliográfica. Os resultados alcançados ressaltam que a divisão entre as abordagens de design é, 
em certa medida, artificial, como se elas pudessem representar categorias distintas e grupos 
exclusivos de indivíduos. É possível também notar que o pensamento cético e o design possuem íntima 
relação e tanto a abordagem de design, como a postura cética ou dogmática em relação a tal 
abordagem, devem, ambas, ser fruto reflexão dos designers. 
PALAVRAS-CHAVE: Design. Ceticismo. Epistemologia. 
 
ABSTRACT: Over the years, design has undergone transformations that have altered their speech 
and initial goal, which to some extent, reflects its ripening and its social recognition, especially when 
no longer a vanguard, or an alternative project, and become absorbed by enterprises and society, 
through the consolidation of a market design. And despite appearing to a certain distance, skeptical 
thinking and design have close relationship. This article aims to confront the design and some their 
perspectives with the skeptical thought, in order to constitute a relationship between the design 
approaches and their possible epistemological bases. As a methodology to achieve the objective a 
research exploratory and literature. The results emphasize that the division between the design 
approaches is to some extent artificial, as they could represent distinct categories and exclusive 
groups of individuals. It can also be noted that skeptical thinking and design are closely related and 
both the design approach, such as dogmatic or skeptical attitude towards such an approach, should 
both be the result of reflection designers. 
KEY WORDS: Design. Skepticism. Epistemology. 
 
INTRODUÇÃO 
 
Mesmo aparentemente distantes, o pensamento cético e o design possuem uma relação 
estreita. De modo que o ceticismo e seu oposto, o dogmatismo, estão presentes 
cotidianamente no modo de agir e pensar dos profissionais ligados a atividade de design. 
A proposta do artigo é confrontar o design, em suas principais perspectivas, com as 
bases do pensamento cético, a fim de estabelecer uma relação entre as abordagens de design e 
suas possíveis bases epistemológicas. 
 
1
 Mestrando em Design Gráfico pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. 
2
 Mestrando em Design Gráfico pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. 
Com o passar dos anos, desde sua fundação, o design passou por transformações que 
alteraram seu discurso e objetivo inicial, que, em certa medida, reflete seu amadurecimento e 
seu reconhecimento social, principalmente ao deixar de ser uma vanguarda, ou um projeto 
alternativo, e passar a ser absorvido pela empresas e pela sociedade, através da consolidação 
de um mercado de design. 
Essa discussão tem como embasamento a análise de Nuno Portas (1993), sobre as três 
principais correntes ou tendências em Design, que, segundo ele, norteiam a formação e a 
visão da maioria dos profissionais da área sobre a atividade e, conseqüentemente, as ações 
projetuais e as políticas desenvolvidas pelos mesmos. 
Como suporte e complementação a abordagem de Portas, utilizaremos a reflexão 
crítica de Norberto Chaves (2001) sobre os discursos assumidos pelo design no decorrer de 
sua trajetória, polarizados e contrastados como discurso dos fundadores e discurso do 
mercado, mas também se referindo a uma terceira corrente pós-moderna, que nesse ponto se 
diferencia de Portas, e assim expandi as perspectivas sobre os rumos da atividade de design. 
O pensamento cético, em síntese, pode ser encarado como a suspensão do juízo, sem 
aceitar ou negar uma teoria, o que demonstra seu caráter de investigação permanente. O cético 
pirrônico, conforme Sexto Empírico, também pode propor teorias, mas, no entanto, a 
diferença entre ele e o dogmático, é que o cético suspende o juízo e continua investigando. 
Conforme o Dicionário Básico de Filosofia (JAPIASSÚ, 1990), por oposição ao ceticismo, o 
dogmatismo é a atitude que consiste em admitir a possibilidade, para a razão humana, de 
chegar a verdades absolutamente certas e seguras. Na concepção cética geral, portanto, a 
especulação filosófica daria lugar ao senso comum e à vida prática. 
Considerando apenas o que é aceito no senso comum entre os autores de design 
utilizados, que como vimos, é uma das essências do pensamento cético, a ênfase se dará, 
então, na abordagem funcionalista relacionada com o discurso dos fundadores da teoria do 
design, e a abordagem do Styling adotada pelos agentes do mercado. Essa duas abordagens 
são aproximadas do pensamento cético, através de seus principais expoentes - como Sexto 
Empírico, Descartes, Hume, Kant entre outros-, e assim, buscar estabelecer relações 
epistemológicas das duas principais correntes de design. As outras perspectivas também são 
indicadas no texto, como concepção sistêmica ou ecológica (Portas) e a pós-moderna 
(Chaves), porém sem o mesmo destaque das duas anteriores por não ser um consenso entre os 
autores. 
Em suma, o presente estudo aborda também a transformação do design no decorrer 
dos tempos, de sua origem até a atualidade, traçando um paralelo com o pensamento cético. 
Busca contrastar os principais correntes de design, desde a origem funcionalista e mais 
dogmática, passando pelo Styling e o pragmatismo em relação ao êxito de mercado. Encerra-
se com as correntes mais recentes, como a pós-moderna e o design sistêmico, que de certa 
forma se caracterizam, respectivamente, como uma postura mais cética e mais dogmática em 
relação ao design. 
 
OS PENSAMENTOS CÉTICO E DOGMÁTICO NO DESIGN 
 
Para Lobach (2001) o design pode ser compreendido, no sentido amplo, como a 
concretização de uma ideia em forma de projetos. Para o cético, o conhecimento do real é 
impossível à razão humana, portanto o homem deve renunciar à certeza, suspender seu juízo 
sobre as coisas e submeter toda afirmação a uma dúvida constante. E ser dogmático, consiste 
em admitir a possibilidade, para a razão humana, de chegar a verdades absolutamentes certas 
e seguras. 
Uma aplicação rápida dos pensamentos acima, em relação aos projetos do design, é o 
exemplo do walkman, representado pela Figura 01. Ele demonstra o potencial do design no 
surgimento de novos produtos, utilizando do ceticismo metodológico para refutar propostas 
de produtos que não “resolvem o problema”. Como resultado desse processo tem-se um 
produto que resistiu a todas as dúvidas impostas sobre suas qualidades, o atendimento das 
necessidades do usuário e aos aspectos técnicos de sua produção e comercialização, e mais 
recentemente até o seu descarte. 
 
 
Figura 01 - Evolução players 
Fonte: Arquivo dos Autores 
 
Então, de certa forma, o designer é cético em relação a ter chego a melhor forma para 
devida função (pois, como no exemplo, o produto sempre se transforma, se não a própria 
função), mas também precisa ser dogmático, pois cadaproduto é uma espécie de teoria, ou 
enunciado que corresponde a necessidades “verdadeiras” seja da industria, do mercado ou do 
usuário e consumidor, ou mesmo do próprio designer em ter de alcançar uma remuneração 
para sua própria sobrevivência. 
Assim, conforme Burdek (1999) todo objeto de design há de ser entendido como 
resultado de um processo de desenvolvimento que implica sempre em refletir nas condições 
sob as quais surgiu: o contexto histórico, social e cultural, as limitações da técnica e da 
produção, os requisitos ergonômicos, ecológicos, os interesses econômicos, políticos e até as 
aspirações artísticas. 
A partir disso, podemos perceber então que com o passar dos anos, com as mudanças 
técnicas e culturais constantes, o produtos e as funções e necessidades também devem mudar. 
Logo, o designer, ator social fundamental no sistema de produção e consumo, deve estar 
atento a estas mudanças, sempre se perguntando o que pode ser melhorado e como isto pode 
ser feito. 
 
ABORDAGENS DO DESIGN E O CETICISMO 
 
O ceticismo inspira a atitude crítica e questionadora da filosofia contemporânea, como 
a relatividade do conhecimento e dos limites da razão e da ciência, que a epistemologia atual 
trata. Desde a antiguidade, existem os filósofos céticos e os filósofos dogmáticos. Os 
primeiros se recusam a crer nas verdades estabelecidas, enquanto os segundos defendem as 
verdades de sua “escola”. No Design, dentro das suas diversas abordagens e “escolas”, a 
atitude cética e a dogmática pode ser utilizada como extremos de uma escala para posicionar o 
comportamento, ou mesmo o discurso dos profissionais da área. Como vimos, a relação entre 
design e ceticismo é clara ao observarmos o desenvolvimento dos produtos, mas, a partir de 
agora, passaremos a confrontar as diversas “escolas de pensamento” ou “discursos” de design 
com o pensamento cético e a epistemologia. 
 
O DESIGNER FUNCIONALISTA E O DISCURSO DOS FUNDADORES 
 
Azevedo (1998) afirma que, para compreender melhor a atividade do design é preciso 
observar os movimentos que, ao passar do tempo, incentivaram o homem na busca por novas 
formas, materiais e métodos. Mas, em essência, a idéia de design surge no mundo quando o 
homem começa fazer suas ferramentas e objetos. Principalmente antes do século XX, a 
confecção de um objeto era função do artesão. Mas com o surgimento da indústria, tornou-se 
necessário aproximar a atividade do artesão e da máquina, pois era preciso adaptar o processo 
de construção do objeto de modo a facilitar sua produção pela máquina. Assim, a partir do 
modelo industrial de produção, o processo de concepção do objeto passou a ser entendido 
como design, ou mesmo, como desenho industrial. 
Com origens histórica na Europa Central do primeiro pós-guerra, lançado sobretudo 
pela escola alemã Bauhaus, o design assumia um discurso essencialmente funcionalista, na 
medida em que a criação da forma dos produtos deveria traduzir a constituição lógica da 
produção do objeto e, sobretudo, a lógica da sua função – da utilidade, do uso – a que se 
destinava. O que levou ao desenvolvimento de múltiplos estudos – como a ergonomia - da 
adaptação dos utensílios e espaços ao homem (PORTAS, 1993). 
Isso porque, segundo Portas (1993), o designer honestamente funcionalista deve 
racionalizar a concepção do produto para, sobretudo, torná-lo mais útil e adaptado, melhor 
manipulável pelo usuário, cujas atividades ou necessidades se vão conhecendo pela via 
científica e não por questões de marketing. Preocupando-se principalmente com o uso 
imediato do objeto e em melhorar sua utilidade dentro das condições econômicas e técnicas 
aceitáveis pela indústria. (grifo nosso) 
Conforme Chaves (2001), este é o estágio inicial da emergência do design, aparecendo 
como uma alternativa a todas as formas prévias de definição da forma dos produtos de uso e 
do habitat. Em seguida o design foi englobando praticamente a totalidade da produção 
material. Dessa forma, o design veio ser a linguagem e a expressão da própria revolução 
industrial. 
Ainda segundo Chaves (2001) o discurso funcionalista, não somente segue vivo, como 
em alguns casos é o único possível, pois para certos problemas possui uma eficácia 
incontestável. Porém, a relação imaginaria que os designers estabeleciam com o usuário, 
como este sendo uma espécie de ser supremo dotado de necessidades objetivas, imaginado a 
partir de um modelo de “usuário” concebido como imagem e semelhança da utopia intelectual 
do setor. Este usuário era um ente anatômico e fisiológico carregado de necessidades práticas, 
privado de história e pré-disposições culturais socialmente adquiridas, que não coincidia com 
nenhum setor concreto da população. 
De certo modo, este corrente ou escola de design, é que mais se aproxima da postura 
puramente dogmática, com fortes influências epistemológicas do Racionalismo e do 
Positivismo. Isso porque a ênfase na racionalização do produto e até mesmo do próprio 
usuário aproxima-se do Racionalismo, que tem na razão o fundamento de todo o 
conhecimento possível, e, portanto somente ela é capaz de conhecer o real. Nesse ponto, em 
relação ao pensamento cético, a perspectiva funcionalista do design aproxima-se do ceticismo 
metodológico de Descartes, que, segundo Dutra (2005) é voltado para a compreensão do 
ceticismo como atitude de duvidar de nossas opiniões - Cogito, ergo sum-, confiando que 
aquelas que realmente forem expressão da “verdade” irá resistir a qualquer dúvida, e assim, 
defender opiniões, teorias e teses ou, conforme os céticos, estabelecer dogmas. 
Assim como a preferência pela via científica de aquisição de informações corresponde 
à abordagem Positivista, que pregava a cientifização do pensamento e do estudo humanos, 
visando a obtenção de resultados claros, objetivos e completamente corretos. Os seguidores 
desse movimento, como Auguste Comte (1798-1857) acreditavam num ideal de neutralidade, 
isto é, na separação entre o pesquisador/autor e sua obra: esta, em vez de mostrar as opiniões e 
julgamentos de seu criador, retrataria de forma neutra e clara uma dada realidade a partir de 
seus fatos. 
 
 STYLING E O DISCURSO DO MERCADO 
 
Conforme a análise de Chaves (2001), com o tempo o design torna-se um instrumento 
indispensável da sociedade contemporânea, deixa de ser uma proposta e torna-se uma cultura 
efetiva, com um mercado concreto de design, onde existem produtores, distribuidores e 
consumidores de design. Este metabolismo social da disciplina definiu uma estrutura e 
conteúdos bastante distintos dos iniciais. Enquanto no inicio os agentes era própria vanguarda 
arquitetônica e do design, nestes são os agentes econômicos diretos, ou seja, as empresas, 
corporações e organismos vinculados com o desenvolvimento dos mercados. Então, o 
discurso do design passa das mãos das vanguardas às mãos das empresas, logo surgem novas 
razões, novos princípios e novos sentidos para a disciplina. 
Este novo discurso de design, segundo Portas (1993) ficou na história com o nome de 
Styling, com origem na América do Norte no período entre guerras e, no pós-guerra na Europa 
e no Japão, e corresponde à imagem mais comum que se tem de design na atualidade, que é “a 
do embelezamento de um dado produto para o tonar mais atrativo em termos de venda, ou 
seja, como fator adicional de competitividade comercial.” (PORTAS, 1993, p.233) 
O discurso do Styling quase não tem nenhuma palavra em comum com o discurso 
inicial. Segundo Chaves (2001), neste contexto a sociedade virou “mercado”, o usuário 
tornou-se “consumidor”, a qualidade de design tornou-se “valor agregado”, produto é 
“mercadoria”, satisfação de necessidades de uso é “motivação de compra”, racionalidade é 
“competitividade”. O racional é aquilo que consegue resolver o problema de ingressar no 
mercado,está é a racionalidade da sociedade atual. 
O racional não é produzir algo intrinsecamente bom, mas produzir algo que funcione 
na lógica do mercado. É o discurso da gestão empresarial do design, o discurso do marketing, 
o discurso promocional das instituições de apoio e desenvolvimento da competitividade das 
empresas. É o que Chaves (2001) chamou de “razão pragmática”, em contraste com os 
fundadores, cuja razão foi rotulada por ele como “razão ingênua”, em virtude de excesso de 
crença na razão e na neutralidade da ciência. 
Sendo que o Pragmatismo considera o conhecimento humano com um caráter 
utilitário e operacional, o que conduz ao tema da ação, de nossa atuação no mundo, das 
consequências que ela produz e sua relação com o próprio conhecimento. De forma geral, o 
Pragmatismo americano, principalmente de Dewey, se concentra na tese de que o significado 
de um conceito reside em sua consequências, e não na forma como o idealizamos. (DUTRA, 
2005) 
Esse pragmatismo, de certo modo, se aproxima do ceticismo pirrônico, que consiste 
em seguir as manifestações da natureza, os costumes da sociedade em que se vive, isso 
conduz também a adotar o significado comum dos temos, sem inquirir a todo o momento 
sobre o significado real dos termos. O significado que interessa é aquele que é eficiente na 
comunicação e entendimento dos falantes. (DUTRA, 2005, p.36-37) 
Sob o ponto de vista do Styling, o design “é o instrumento não da substituição de um 
produto por outro substancialmente melhor, mas sim da persuasão do consumidor para 
substituir os produtos que usa por outros, apenas porque o aspecto é diferente” (PORTAS, 
1993, p.234). 
Assim, volta-se a atenção para parâmetros psicológicos principalmente através de 
estudos sobre o comportamento do consumidor. Pois, para David Hume (1711-1776), nossas 
crenças ou opiniões sobre relações de causa e efeito não são legítimas no sentido de 
possuírem força de argumento, mas são inevitáveis em virtude de nossa constituição 
psicológica (DUTRA, 2005, p.34). 
Neste campo vale destacar as correntes antagonicas do behavorismo e do mentalismo . 
Enquanto para o Behavorismo o comportamento do humano é regido pelo ambiente (natural e 
social) no qual os indivíduos (humanos e animais) estão. Para o Mentalismo, em oposição, o 
comportamento do homem é produto dos processos mentais prévios à ação e internos ao 
indivíduo, como defende a psicologia cognitiva contemporânea (DUTRA, 2005). 
 Apoiando-se em pontos do ceticismo filosófico, ou melhor, na corrente intelectualista, 
como na filosofia de Kant que reconhecia a existência dos objetos, ou da coisa-em-si, mas 
considerava que nós apenas alcançamos o “fenômeno”, ou seja, o objeto da nossa 
experiência, da relação da coisa-em-si com a nossa estrutura de sensibilidade. O que reforça o 
ceticismo grego, com Agripa e, principalmente, com Enesidemo, que “esforçaram-se para 
mostrar que os sentidos somente nos revelam a aparência e não a essência dos objetos, em 
outros termos, que as qualidade sensíveis não pertencem propriamente ao objeto, mas apenas 
impressões sentidas pelo sujeito” (VERDAN, 1998, p.97). 
Esta corrente de design possui em suas bases pontos de convergência com o 
pensamento cético e o pragmatismo, a partir do momento que desloca a atenção do objeto em 
si, para o fenômeno do consumo, ou seja, seu interesse principal não é configurar o melhor 
produto, mais sim, aquele que apresente os melhores resultados, principalmente em termos de 
venda. 
Conforme Chaves (2001, p.27), compreende-se que o empresário deve ser mais que 
um mero “fabricante”, deve ser um excelente comunicador. Deve vender, independente do 
que e onde, pois o produto enquanto objeto concreto tende a ter sua importância econômica 
diminuída em relação ao universo imaginário que rodeia esse produto. Nessas condições os 
designers tornam-se as “estrelas”, definindo-se pela sua capacidade de inovação, o que vale na 
sua gestão não é a solução de problemas como a necessidade do usuário, mais sim, a 
incorporação de um elemento de inovação, isto é, criar um acontecimento atraente para o 
mercado. 
 
 TERCEIRAS VIAS: O DESIGNER SISTÊMICO E O PÓS-MODERNO 
 
Nuno Portas (1993) ao estabelecer a corrente do design sistêmico - ou ecológico - 
como terceira principal corrente de pensamento em design, diverge da análise crítica feita por 
Noberto Chaves (2001) que coloca como alternativa a corrente pós-moderna, que, mais do 
que uma corrente de design, é, segundo ele, o próprio estágio do desenvolvimento cultural do 
sociedade ocidental. 
Para Chaves (2001), o design pós-moderno combina valores das elites culturais com 
demandas irrenunciáveis do mercado, reteve os valores “universais” da disciplina articulando-
os com a cultura do consumo. Ele a batizou de “razão cínica”, com atributos como 
irracionalismo, formalismo, amoralismo, apoliticismo, individualismo, narcismo, 
oportunismo, etc. O que, segundo ele, levou a hipertrofia da inovação formal e é observada, 
geralmente, nas áreas lentas ou paralisadas do mercado, onde não é possível introduzir 
inovações radicais. 
De certa forma, o design pós-moderno tem grande proximidade com a corrente do 
Styling e, consequentemente, tendendo a estar mais próximo do atitude cética, do que a 
corrente do design sistêmico, que segundo Portas (1993) resulta do alargamento da visão do 
designer funcionalista. E desse modo, reconecta o design a uma perspectiva que transcende a 
lógica do produtor e consumidor (ou usuário), pois não se limita ao objeto em si, mas o 
repensa como componente de sistemas mais vastos. 
Nessa linha, Manzini (2005) argumenta que o design assume uma abordagem 
sistêmica quando a tarefa de desenvolvimento de um novo produto torna-se o ato de projetar o 
ciclo de vida inteiro do sistema-produto, o que inclui a pré-produção, produção, distribuição, 
uso e descarte. 
Mas, em última análise, o corrente do design sistêmico tem uma proximidade maior a 
atitude dogmática, pois assim, como o funcionalista possui uma argumentaçao baseada na 
racionalizaçao do objeto, mesmo reconhecendo que “a simples racionalização tecnológica e 
formal pode ter na base uma irracionalidade de necessidades do ponto de vista da economia 
do país, dos interesses reais (não fictícios) dos consumidores ou do equilíbrio ecológico ou 
ambiental” (PORTAS, 1993, p.238). 
A Teoria Geral de Sistemas, uma das principais bases científicas dessa corrente, trata-
se de um programa ao mesmo tempo científico e filosófico que sem abandonar o rigor das 
ciências clássicas, exige a criação ou o aperfeiçoamento de uma nova linguagem, de novos 
esquemas teóricos e, até mesmo, de uma nova “visão do mundo”. 
Neste ponto, cabe destacar uma outra das principais contribuições do ceticismo para 
filosofia, para a ciência e também para o design, sendo encontrada no ceticismo de David 
Hume, que tinha como objetivo determinar os limites da razão e definir o domínio que lhe é 
próprio a fim de evitar que ela se perca em problemas insolúveis (VERDAN, 2005). Essa é 
uma contribuição fundamental, principalmente para a abordagem sistêmica, no que consiste 
em definir os limites do sistema-produto, pois, em última instância um produto se relaciona 
com praticamente todos os outros sistemas existentes. 
 
 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Por fim, cabe ressaltar que a divisão entre as abordagens de design é, em certa medida, 
artificial, como se elas pudessem representar categorias distintas e grupos exclusivos de 
indivíduos, mas, no entanto, geralmente, os designers costumam associar características de 
mais de uma abordagem. Assim como o ceticismo e dogmatismo entre os profissionais da 
área pode ser entendido segundo a perspectiva neopirrônica do pensamento cético que, 
conforme Dutra (2005) considera ambas as atitudes como comportamento de investigação 
possíveis, corroborandoo ponto de vista mais pragmático, ou seja, adotando a atitude que 
alcance melhores resultados conforme o contexto. 
Finalmente, é possível perceber que tanto a abordagem de design, como a postura 
cética ou dogmática em relação a tal abordagem, devem, ambas, ser fruto reflexão dos 
designers, pois a escolha de qualquer uma das escolas como dogma para a profissão pode 
tornar-se prejudicial na medida em que passe a interferir no avanço e no desenvolvimento da 
própria atividade, evitando estabelecer grandes pressupostos de “verdade”, que interrompam o 
anseio de busca e ampliação do conhecimento sob determinado objeto ou problema, 
principalmente ao refutar qualquer indício que coloque em risco a “verdade” defendida pela 
sua “escola” de preferência. 
 
REFERÊNCIAS 
AZEVEDO, Wilton; O que é Design - São Paulo: Brasiliense, 1998. 
BURDEK, Bernhard; Diseño. História, teoría y práctica del diseño industrial - Barcelona: 
Editorial Gustavo Gili, SA - 2ª edição 1999 
CHAVES, Norberto; Diseño, mercado e utopia - De instrumento de transformación social a 
medio de dinamización económica in El oficio de disenãr: propuestas a la conciencia crítica de los 
que comienzan, Editorial GustavoGili, SA, Barcelona, 2001. 
DUTRA, Luiz Henrique de Araújo. Oposições Filosóficas - A epistemologia e suas polêmicas. 
Florianópolis; Editora da UFSC, 2005 
JAPIASSÚ, Hilton. Dicionário Básico de Filosofia / Hilton Japiassú e Danilo Marcondes - Rio de 
Janeiro; Ed. Jorge Zahar Editor, 1990. 
LÖBACH, Bernd. Design Industrial: Bases para a configuração dos produtos industriais. Tradução 
Freddy Van Camp. São Paulo: Editora Blucher, 2001. 
MANZINI, Ezio; Vezzoli, Carlo; O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis. tradução 
de Astrid de Carvalho. 1ed. 1reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 
2005. 
PORTAS, Nuno; Design: política e formação in Design em aberto: uma antologia. Centro 
Português de Design, 1993. 
VERDAN, André. O ceticismo filosófico; tradução Jaimir Conte,- Florianópolis: Ed. da UFSC, 1998.

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