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62 Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 3. Operações de transferência de massa 3.1. Introdução – conceito de E.S.A. e M.S.A.6 • Quando se colocam em contato duas fases de composições diferentes, pode ocorrer a transferência de materiais (massa) de uma fase para outra, ou vice-versa. Esta é a base física das operações de transferência de massa. • Por outro lado, caso a mistura a ser separada seja homogênea, ou seja, monofásica (gasosa, líquida ou sólida), uma segunda fase imiscível deve ser criada ou adicionada antes da separação das espécies químicas para que essa separação, ou seja, a transferência de massa aconteça. 63 • Esta nova fase pode ser originada através da adição do calor, por exemplo, na destilação; ou pode ser criada pela adição de um agente de separação (solvente), por exemplo, na extração líquido-líquido 11 . • Então, esta segunda fase criada ou adicionada por meio dos seguintes agentes, possuem as denominações 11 (Figura 27): energy separating agent (E.S.A.) – criação de uma nova fase através da energia térmica; mass separating agent (M.S.A.) – introdução de um novo material em uma fase; Outro agente de separação, tais como a redução de pressão e transferência de trabalho, também podem ser considerados. 11. BRITO, Romildo. Apostila de operações unitárias. II . Departamento de Engenharia Química - Universidade Federal da Paraíba. Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 64 Figura 27: Esquema simplificado com a aplicação de um E.S.A. e um M.S.A. Feed Phase 1 Phase 2 (E.S.A) Phase Creation Feed Phase 1 Phase 2 (M.S.A) M.S.A Phase Addition Alimentação Alimentação Fase 1 Fase 2 Fase 1 Fase 2 Criação de fase Adição na fase (E.S.A.) (M.S.A.) (M.S.A.) Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 65 • A aplicação de um E.S.A. envolve a transferência de calor da mistura ou para a mistura a ser separada. • Um M.S.A. sendo aplicado pode ser imiscível com um ou mais componentes presentes na mistura. • Neste caso, o M.S.A. é normalmente o constituinte de maior concentração na segunda fase. É o caso da absorção e dessorção. • Por outro lado, o M.S.A. pode ser completamente miscível a mistura, porém pode alterar a volatilidade de certas espécies de modo a facilitar a separação através de um E.S.A. É o caso, por exemplo, da destilação extrativa. Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 66 3.2. Vantagens e desvantagens com o emprego do E.S.A. e M.S.A. • A preferência pelas separações que usam um E.S.A. são maiores, porém aplicando uma M.S.A. pode tornar possível uma separação, fato que não seria possível com um E.S.A.. • Desvantagens com o uso do M.S.A.: Necessidade de um separador adicional para recuperar o M.S.A. para reciclo; Possibilidade de contaminação do produto com o M.S.A.; Complexibilidade do projeto com a aplicação do M.S.A.. Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 67 3.3. Exemplos de operações de separação empregando o E.S.A. ou M.S.A. Condensação parcial ou vaporização parcial 12 • Quando a mistura a ser separada inclui espécies que apresentam grande diferença na tendência a se condensar ou a se vaporizar. • Neste tipo de operação, a carga de vapor (alimentação) é parcialmente condensada pela remoção de calor, conforme mostra a Figura 28. • Ou, por outro lado, a carga líquida é parcialmente vaporizada pela adição de calor. 12. AZEVEDO, José Américo de. Introdução ao estudo das operações unitárias que se utilizam da transferência de massa em estágio – caderno V. Aracaju, Departamento de Engenharia Química - Universidade Federal de Sergipe. Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 68 Figura 28: Esquema de uma condensação parcial ou vaporização parcial vapor líquido vapor e/ou líquido mistura de gases Exemplo: Recuperação de H 2 (hidrogênio) e N 2 (nitrogênio) a partir de NH 3 através de condensação parcial e a separação de fases a temperatura de ebulição do NH 3 (amônia). Fase da alimentação VAPOR E/OU LÍQUIDA Fase criada VAPOR OU LÍQUIDA Agente de separação E.S.A. transferência de calor a. O hidrogênio, o nitrogênio e a amônia são gases a pressão e temperatura ambientes. b. O ponto de fusão da amônia, também chamada de amônia líquida é - 77,7 oC. Disponível em: <http://sistemasinter.cetesb.sp.gov.br/produtos/ficha_completa1.asp?consulta=AM%D4NIA%20ANIDRA>. Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2015.2 condensação parcial 69 • Neste tipo de destilação que ocorre em um único estágiob, a carga pré-aquecida é parcialmente vaporizada, pela redução de pressão (pressão menor que sua pressão de vapor) com auxílio de uma válvula de expansão (Figura 29). vapor líquido Fase da alimentação LÍQUIDA Fase criada VAPOR Agente de separação REDUÇÃO DE PRESSÃO T a m b o r fla s h Destilação flash, de equilíbrio, integral ou vaporização flash líquido Figura 29: Esquema de uma vaporização flash Exemplo: Recuperação de água do mar (dessalinização). T 1 ; P 1 T 2 ; P 2 T 2 >T 1 P 2 < P 1 b. Um estágio pode ser definido como uma unidade de equipamento pelo qual entram em contato íntimo duas fases diferentes, que depois são separadas mecanicamente (FOUST et.al., 1982). Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 70 • Neste processo, a água marinha é aquecida em um recipiente denominado aquecedor de água salina e, então, é transferida para outro recipiente denominado o estágio, pelo qual sofre uma brusca redução da sua pressão fazendo com que esta ferva rapidamente. • O vapor gerado é condensado em cada estágio, transformando-se em água doce. (SOUZA, 2006) 13. SOUZA, Luiz Faustino. Dessalinização como fonte alternativa de água potável. Norte Científico, v.1, n.1, 2006. Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 Recuperação de água do mar (dessalinização) 71 Destilação fracionada (multistage distillation) • De um modo geral, o processo de separação mais amplamente usado na indústria química é a destilação (também chamada de fracionamento ou destilação fracionada). • A separação dos constituintes está baseada nas diferenças de volatilidade c , sendo possível atingir a separação desejada sem a adição de um M.S.A. (grande vantagem da destilação), envolvendo múltiplos estágios, conforme mostra a Figura 30. c. A volatilidade expressa a facilidade com que um dos componentes de uma mistura líquida é vaporizada (FOUST et.al., 1982). Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 72 Figura 30: Esquema de uma destilação fracionada Condensdador refervedor Fase da alimentação VAPOR E/OU LÍQUIDA Fase criada VAPOR E LÍQUIDA Agente de separação E.S.A. transferência de calor Vapor e/ou líquido líquido líquido Exemplo: A destilação do monômero de estireno à uma pressão de 10 mmHg e à 31 ° C estireno Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 73 Destilação extrativa e azeotrópica 14 • Muitas misturas são difíceis de separar pela destilação em virtude de terem as volatilidades relativas próximas de 1,0. • A destilação extrativa é muito utilizada para separar componentes com volatilidades muito próximas, através da adição, próximo ao topo da coluna, de um M.S.A. (solvente), cujo ponto de ebulição é maior que as espécies envolvidas (ou seja, ser substancialmente menos volátil), conforme mostra a Figura 31. 14. GOMIDE, Reynaldo. Operações Unitárias - Operações de Transferência de Massa Vol. IV, São Paulo: Edição do Autor, 1988. Operações Unitárias II –prof. João Vicente 2016.1 74 Figura 31: Esquema de uma destilação extrativa Condensdador refervedor Líquido + M.S.A. líquido Exemplo: Mistura etanol/água com a glicerina (M.S.A.) permitindo obter álcool anidro. M.S.A. Fase da alimentação Fase criada VAPOR E LÍQUIDA Agente de separação E.S.A. transferência de calor M.S.A. solvente líquido Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 vapor e/ou líquido VAPOR E/OU LÍQUIDA 75 • A destilação convencional não pode ser empregada para separar azeótropos d , pois seu ponto de ebulição são muito próximos. • Neste caso, a destilação azeotrópica (Figura 32) é empregada, que consiste na adição um agente azeotrópico extrativo - entrainer, M.S.A., com objetivo de alterar as volatilidades relativas dos componentes facilitando suas separações, como na destilação extrativa. d. Azeótropo é uma solução líquida em equilíbrio com o seu vapor cuja composição é idêntica a do líquido, (FOUST et al., 1982). Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 76 • A diferença entre a destilação extrativa e a destilação azeotrópica reside na volatilidade do componente adicionado. • No caso da destilação azeotrópica o composto M.S.A. é relativamente volátil, aparecendo em grande quantidade no destilado. • Nestas condições o componente acrescentado forma um azeótropo com um ou mais componentes do produto de topo, a separar. Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 77 Figura 32: Esquema de uma destilação azeotrópica Condensdador refervedor Agente de separação líquido líquido+M.S.A. Reciclo de M.S.A. Reposição de M.S.A. Exemplo: Mistura etanol/água com o benzeno (M.S.A.) permitindo obter álcool anidro. Fase da alimentação Fase criada VAPOR E LÍQUIDA E.S.A. transferência de calor M.S.A. entrainer Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 vapor e/ou líquido VAPOR E/OU LÍQUIDA 78 Absorção e dessorção • A absorção gasosa (Figura 33) é uma operação unitária, pela qual uma mistura de gases é posta em contato com um líquido (M.S.A.), pelo qual dissolve (absorve) preferencialmente, um ou mais componentes da mistura gasosa, que passa a forma uma nova solução líquida, conforme a solubilidade desses componentes no líquido absorvente. Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 79 • Esta operação é utilizada com duas finalidades: Recuperar de uma mistura de gases, um componente ou mais de um componente comercialmente valioso; Purificar de misturas gasosas, componentes indesejáveis, que tornariam a sua aplicação industrial impossível. • Como exemplo do primeiro caso, cita-se a recuperação da amônia contido nos gases que são desprendidos dos fornos siderúrgicos mediante a absorção da amônia na água; • Como exemplo do segundo caso, cita-se a eliminação do ácido sulfídrico das misturas de hidrocarbonetos gasosos retirados de poços de petróleo antes de serem processados nas refinarias, mediante lavagem com soluções alcalinas de absorvem o ácido sulfídrico. Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 80 Figura 33: Esquema de uma coluna de absorção vapor líquido M.S.A. líquido vapor Exemplo: Aplicação nas Unidades de Processamento de Gás Natural (UPGN) – segundo caso. Fase da alimentação VAPOR Fase criada LÍQUIDA Agente de separação M.S.A. solvente líquido Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 81 • Quando a transferência de massa ocorre na direção oposta, isto é, de uma fase líquida para uma fase gasosa, a operação unitária recebe o nome de dessorção, esgotamento ou stripping. Esta operação também apresenta duas finalidades: Recuperar de uma mistura de líquidos, componentes gasosos comercialmente valiosos, que nela estejam dissolvidos; Purificar um líquido de gases indesejáveis que os acompanhe. • Como exemplo, cita-se misturas de óleos com benzeno e tolueno, que podem ser purificados, recuperando ao mesmo tempo estas substâncias, pois são de grande valor comercial, fazendo-se passar através da mistura, uma corrente de vapor d’água que arrasta o benzeno e o tolueno, deixando o óleo isento destas duas substâncias, (Figura 34). Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 82 Figura 34: Esquema de uma coluna de stripping vapor líquido Exemplo: Purificação de mistura de benzeno e o tolueno por meio de uma corrente de vapor d’água. M.S.A. vapor líquido Fase da alimentação LÍQUIDA Fase criada VAPOR Agente de separação M.S.A. solvente vapor Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 83 Extração líquido-líquido (ou extração com solvente) • A extração líquido-líquido é a operação de transferência de massa, bastante utilizada em processos de refino de petróleo, na qual uma solução (mistura) líquida (a alimentação), entra em contato com um segundo solvente (M.S.A.), os quais possuem afinidade preferencial (ou seletividade) para um ou mais componentes da alimentação, ou seja, tem como fundamento, a diferença de solubilidade. • Uma mistura líquida pode, às vezes ser separada pelo contato com um segundo solvente líquido. • Os componentes da mistura são solúveis, em diferentes graus, no solvente. Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 84 • Então, os processos de extração líquido-líquido envolvem a separação de uma fase líquida em duas outras fases, que são usualmente denominadas: rafinado, fase pobre em solvente; e extrato, que é a fase rica em solvente. • No caso ideal, o componente a ser extraído, denominado soluto é solúvel no solvente, sendo que os outros componentes são insolúveis. • A mistura inicial torna-se a fase refinado ou rafinado à medida que dela se extrai o soluto. • A fase solvente ou extrato surge à medida que acolhe o soluto, conforme mostra a Figura 35. Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 85 Figura 35: Esquema de uma extração líquido-líquido Exemplo: Desasfaltação a propano (M.S.A.). M.S.A. líquido líquido líquido 1 líquido 2 RESÍDUO DE VÁCUO - RV ÓLEO DESASFALTADO (ODES) - extrato RESÍDUO ASFÁLTICO (RASF) - rafinado Fase da alimentação LÍQUIDA Fase criada LÍQUIDA Agente de separação M.S.A. solvente líquido PROPANO Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 86 Adsorção 15 • A adsorção envolve a transferência de um constituinte fluido (mistura de líquidos ou de gases) para a superfície de uma fase sólida (M.S.A.), conforme a Figura 36. • Para completar a separação, o constituinte adsorvido deve então ser removido do sólido. • Nesta operação, a carga a ser tratada escoa através dos espaços vazios entre as partículas do sólido adsorvente, colocado no interior do vaso. 15. BARCZA, Marcos Villela. Processos Unitários Orgânicos; apostila. Escola de Engenharia de Lorena – EEL – USP. Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 87 • Por exemplo, o carvão mineral pode ser usado para adsorver vapores de benzeno e/ou outros gases presentes em misturas com ar. • Parte do benzeno fica “preso” (adsorvido) na superfície do sólido, ou seja, nos seus poros. • O ar, com menor teor de benzeno, eflui pelo topo de vaso. Quando o sólido adsorvente se satura do componente adsorvido, ele é removido e substituído por um sólido reativado. Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1 88 Figura 36: Esquema de uma adsorção vapor ou líquido 1 vapor ou líquido 2 Fase da alimentação VAPOR OU LÍQUIDA Fase criada VAPOR OU LÍQUIDA Agente de separação M.S.A. solvente sólido M.S.A. sólido carvão ativadovapor ou líquido VAPORES DE BENZENO VAPORES COM MENOR TEOR DE BENZENO VAPORES COM MAIOR TEOR DE BENZENO Operações Unitárias II – prof. João Vicente 2016.1
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