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ROUSSEAU CONTRATO

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1. Refutação das Falsas Doutrinas da Autoridade
1.1 Das primeiras Sociedades
	Segundo Rousseau, a primeira e única forma natural de sociedade é a família, onde o pai zela pela por sua manutenção, ou seja, uma sociedade patriarcal. Considerado o primeiro modelo de sociedade política, os filhos mantêm uma relação com seus pais até que não necessite mais dele para sobreviver. A partir de então, cria-se uma relação de convenção.
	"A mais antiga de todas as sociedades, e a única que é natural, é a família". (ROUSSEAU, 2013, pág. 13).
	"A família é, portanto, se quisermos, o primeiro modelo das sociedades políticas". (ROUSSEAU, 2013, pág. 13).
1.2 Do direito do mais forte
	O direito do mais forte não consiste em um direito legítimo, uma vez que sempre que houver uma força que se sobreponha a outra, esta lhe sucederá. Deste modo, basta apenas que um haja de modo a ser o mais forte.
	“O mais forte jamais é bastante forte para ser sempre o senhor se não transformar sua força em direito e a obediência em dever”. (ROUSSEAU, 2013, pág. 15).
	“Convenhamos, então, que a força não produz o direito e que não se está obrigado a obedecer senão aos poderes legítimos”. (ROUSSEAU, 2013, pág. 15).
1.3 Da escravidão
	Para Rousseau, a legitimidade da escravidão não existe, uma vez que nenhum homem trocaria sua liberdade por segurança, por exemplo. Ademais, supor que um povo se submete à escravidão arbitrariamente, ou seja, sem o pretexto da lei do mais forte, que também é ilegítima, é supor que este povo é insano.
	"Afirmar que um ser humano se dá gratuitamente é afirmar algo absurdo e inconcebível. Tal ato é ilegítimo e nulo, pelo simples fato de que aquele que o realiza não está no seu juízo perfeito. Afirmar coisa idêntica de todo um povo é supor um povo de loucos, e a loucura não produz direito". (ROUSSEAU, 2013, pág. 16).
	"Renunciar à sua liberdade é renunciar à sua qualidade de ser humano, aos direitos da humanidade, mesmo aos seus deveres. Não há compensação possível para alguém que renuncie a tudo. Uma tal renúncia é incompatível com a natureza do ser humano e despojar sua vontade de toda liberdade é idêntico a despojar suas ações de toda moralidade. Enfim, trata-se de uma convenção vã e contraditória estipular de um lado uma autoridade absoluta e, de outro, uma obediência ilimitada". (ROUSSEAU, 2013, pág. 17).
	"(...) o direito de escravidão é nulo, não apenas porque é ilegítimo, mas também porque é absurdo e carece de significado. Estas palavras, escravidão e direito são contraditórias, excluem-se mutuamente". (ROUSSEAU, 2013, pág. 19).
2. Do Fundamento da Autoridade
2.1 Do pacto social
	O pacto social foi a solução encontrada pelo homem para solucionar os problemas da transição do estado de natureza para o estado civil, renunciando sua liberdade natural pela liberdade convencional, ditada e limitada pelo Estado, em nome de um bem maior.
	"Bem compreendidas, essas cláusulas se reduzem todas a uma só, a saber: a alienação total de cada associado com todos seus direitos à toda comunidade, pois primeiramente, cada um se dando por inteiro, a condição é igual para todos, e a condição sendo igual para todos, ninguém tem o interesse de torná-la onerosa para os outros". (ROUSSEAU,2013, pág. 22).
3. Dos Efeitos do Pacto
3.1 Do estado civil
	Segundo Rousseau, o homem abriu mão de sua liberdade natural para que pudesse viver em um estado civil, onde seria imposta as regras da nova sociedade e viveria sob uma liberdade civil, limitada pela vontade geral.
	"Essa passagem do estado de natureza ao estado civil produz no homem uma mudança muito acentuada, substituindo na sua conduta o instinto pela justiça e outorgando às suas ações a moralidade que lhe faltava antes". (ROUSSEAU, 2013, pág. 27).
	"O que o homem perde pelo contrato social é sua liberdade natural e um direito ilimitado a tudo que o tenta e que pode atingir; o que ganha é a liberdade civil e a propriedade de tudo o que possui". (ROUSSEAU, 2013, pág. 27).
4. Da Soberania
4.1 Limites do poder soberano
	O soberano age como uma força que controla todos os membros da sociedade civil, mantendo-a em funcionamento. No entanto, é necessário impor limites à razão do soberano para que este não acabe com o objetivo da soberania.
	"Tal como a natureza confere a cada homem um poder absoluto sobre todos os seus membros, oo pacto social confere ao corpo político um poder absoluto sobre todos os seus, e é esse mesmo poder que, dirigido pela vontade geral, ostenta, como afirmei, o nome de soberania". (ROUSSEAU, 2013, pág. 35).
	“Todos os serviços que um cidadão pode prestar ao Estado, ele os deve tão logo o Soberano os solicite; mas o Soberano, por seu lado, não pode sobrecarregar os súditos com um peso inútil à comunidade; não pode sequer desejá-lo pois sob a lei da razão nada se produz sem causa, tampouco sob a lei da natureza”. (ROUSSEAU, 2013, pág. 36).
4.2 Do direito de vida e de morte
	Rousseau defende a pena de morte como uma forma de punir os que quebraram o pacto social e de conter aqueles que considera impossível manter junto à sociedade sem perigo.
	“(...) todo malfeitor que agride o direito social se torna por seus atos rebelde e traidor da pátria; deixa de ser membro dela ao violar suas leis, colocando-se em guerra contra ela. Ora, a conservação do Estado é incompatível com a sua e, então, é preciso que um dos dois pereça e quando se faz morrer o culpado, é menos como cidadão que como inimigo”. (ROUSSEAU, 2013, pág. 39).
	“Não há homem mau que não se possa tornar bom para alguma coisa. Não se tem o direito de tirar a vida, mesmo a título de exemplo, senão daquele que não é possível conservar sem perigo”. (ROUSSEAU, 2013, pág. 40).
5. Da Lei e do Legislador
5.1 Da lei
	Para Rousseau, lei é tudo aquilo referente a um objeto geral, relacionado com o todo o povo. Rousseau acredita que as leis devem ser criadas pelo povo, e que estas devem reger a república. 
	"Numa palavra, toda função que diz respeito a um objeto particular não tange ao poder legislativo". (ROUSSEAU, 2013, pág. 42).
	"Chamo então de República todo Estado regido por leis, sob qualquer forma administrativa que possa existir; pois então somente o interesse público governa e a coisa pública é alguma coisa. Todo governo legítimo é republicano". (ROUSSEAU, 2013, pág. 43).
5.2 Do legislador
	O legislador deve ser um homem extraordinário no Estado. Que, dotado de indiferença, não seja abalado pelos fúteis anseios do homem. Este deve concentrar-se somente nas leis e jamais governar o Estado, assim como aquele que governa o Estado jamais deve legislar. Isto deve ocorrer para que o governante não faça de suas injustiças e vaidades obrigatoriedade para o povo.
	"Para descobrir as melhores regras da sociedade que convêm às nações seria necessária uma inteligência superior, que visse todas as paixões humanas e não experimentasse nenhuma delas, que não tivesse nenhuma relação com nossa natureza e que a conhecesse a fundo, cuja felicidade fosse independente de nós e que, todavia, quisesse se ocupar da nossa; enfim, que no decorrer do tempo, administrando uma glória distante, pudesse trabalhar num século e fluir no outro. Seriam necessários deuses para dar leis aos homens". (ROUSSEAU, 2013, pág. 44). 
6. Da Teoria do Governo
6.1 Do governo em geral
	Segundo a concepção de Rousseau, governo seria um corpo intermediário entre o povo e o soberano e é encarregado da execução e manutenção das leis. Por outro lado, o soberano seria aquele responsável pela administração deste governo. Príncipe e governo não seriam a mesma coisa, mas sim dois corpos distintos que, jutos, conservam o funcionamento da sociedade.
	"(...) a força e a vontade, esta sob o nome de poder legislativo e aquela sob o de poder executivo. Sem o concurso de ambos nele nada se faz ou nada se deve fazer". (ROUSSEAU, 2013, pág. 61).
	"O que é, então, o governo? Um corpo intermediário estabelecido entre os súditos e o Soberano para sua mútua correspondência, encarregado da execução das leis e da manutençãoda liberdade tanto civil quanto política". (ROUSSEAU, 2013, pág. 62).
	"Chamo, portanto, de governo ou administração suprema o exercício legítimo do poder executivo e de Príncipe ou magistrado o homem ou o corpo encarregado dessa administração". (ROUSSEAU, 2013, pág. 62).
7. Das Diferentes Formas de Governo
7.1 Da democracia
	A democracia convém apenas aos Estado pequenos. É necessário que todos da comunidade se conheçam, que seja possível reunir-se sem muitos problemas. O território limitado não permite uma grande gama de costumes distintos, evitando assim discussões que tirariam o foco daquilo que de fato importa para o povo. Ademais, o mais importante é que deve tratar-se de um povo simples, sem luxo, para que a posse e a cobiça não corrompam o verdadeiro propósito de seu governo.
	"Se tomarmos o termo sob o rigor da acepção, jamais existiu democracia verdadeira e não existirá jamais. É contra a ordem natural a maioria governar e a minoria ser governada". (ROUSSEAU, 2013, pág. 71).
	"Não há governo tão sujeito às guerras civis às agitações intestinas quanto o democrático ou popular porque não há outro que tenda tão intensa e continuamente a mudar de feição e que exija mais vigilância e coragem para ser conservado na sua forma original. (ROUSSEUA, 2013, pág. 71).
	"Se houvesse um povo de deuses, estes se governariam democraticamente. Um governo tão perfeito não convém aos homens". (ROUSSEAU, 2013, pág. 72).
7.2 Da aristocracia
	Ideal para os Estados médios, consiste em uma forma de governo onde o povo seria governado por um grupo eleito. Diferente da democracia, este grupo eleito não precisa estar no mesmo patamar que aquele que governa. Basta apenas que não ponha suas vontades acima da vontade geral.
	"Mas se a aristocracia requer algumas virtudes a menos que o governo popular, também requer outras que lhes são próprias, como a moderação entre os ricos e o contentamento entre os pobres, pois parece que uma igualdade rigorosa nela estaria fora de lugar: esta não foi observada nem sequer em Esparta". (ROUSSEAU, 2013, pág. 73-74).
7.3 Da monarquia
	Certo para um Estado grande, esta forma de governo se distingue das outras, pois um único soberano representará todo o coletivo. Apesar de seus defeitos quando comparado a um governo republicano, onde o povo escolhe seu representante e raramente erra em sua escolha, fica-se sempre dependente da qualidade do Príncipe que assumirá em seguida.
	"Pelas relações gerais descobrimos que a monarquia somente convém aos grandes Estados e ao investigá-la em si mesma chegamos à mesma conclusão". (ROUSSEAU, 2013, pág. 75-76).
8. O Funcionamento Normal das Instituições
8.1 Dos sufrágios
	"A vontade constante de todos os membros do Estado é a vontade geral; é em função dela que são cidadãos livres". (ROUSSEAU, 2013, pág. 110).
	"Duas máximas gerais podem servir para regrar essas relações. A primeira é: quanto mais importantes e graves são as deliberações, mais o parecer dominante deve aproximar-se da unanimidade; a segunda é: quanto mais o assunto em pauta exige celeridade, mais de deve abreviar a diferença prescrita na divisão dos pareceres; nas deliberações que necessitam de resolução imediata, a diferença de um só voto deve bastar. A primeira dessas máximas parece mais conveniente às leis e a segunda aos negócios. De um modo ou outro, é com fundamento em sua combinação que se estabelecem as melhores relações que se pode atribuir à pluralidade para pronunciar-se". (ROUSSEAU, 2013, pág. 111-112).
8.2 Das eleições
	"Se levarmos em conta que a eleição dos chefes é uma função do governo e não da soberania, percebemos porque a via do sorteio tem mais a ver com a natureza da democracia, na qual tanto melhor é a administração quanto menos multiplicados nela são os atos". (ROUSSEAU, 2013, pág. 112).
	"As eleições por sorteio apresentariam poucos inconvenientes em uma democracia verdadeira, onde, sendo tudo igual, seja em termos de costumes e talentos quanto em termos de máxima e fortuna, a escolha se tornaria quase indiferente". (ROUSSEAU, 2013, pág. 113).
9. A Religião e o Estado
9.1 Da religião civil
	Inicialmente, toda sociedade mantinha sua própria crença e religião, cada qual vivendo sob as leis que estas os impunham. Ao contrário do que se pensa, no entanto, não havia guerras religiosas, uma vez que o deus de um não tinha jurisdição sobre o território do outro. Até que o sucesso do cristianismo converteu grande parte da população em monoteísta, então todos passaram a viver sob as mesmas leis. Apesar de alguns tentarem manter suas crenças originais e outras religiões terem sido bem recebidas em outras partes, como é o caso de Maomé, o cristianismo liderou a maior parte das decisões referentes ao Estado e ao governo a partir de então.
	"Os homens não tiveram, no princípio, outros reis senão os deuses, nem outro governo senão o teocrático". (ROUSSEAU, 2013, pág. 131).
	"Estando, portanto, cada religião ligada unicamente às leis do Estado que a prescrevia, não havia outra maneira de converter um povo senão o subjugando, nem outros missionários a não ser os conquistadores e a obrigação de culto sendo a lei dos vencidos, era preciso começar por vencer antes de falar nisso". (ROUSSEAU, 2013, pág. 132).
	"Atualmente, quando não há mais e quando não pode mais haver religião nacional exclusiva, deve-se tolerar todas aquelas que toleram as outras, contanto que seus dogmas não contrariem em nada os deveres do cidadão". (ROUSSEAU, 2013, pág. 140).

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