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Metodologia para formacao de Jovens Pesquisadores

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Iniciativa
ICE
Instituto de 
Cidadania Empresarial
Rua Eng. Antônio Jovino, nº 220 cj. 11
05727-220 São Paulo SP
Telefax: (11) 3749-9603
http://www.ice.org.br 
ice@ice.org.br
Presidência Executiva
Renata de Camargo Nascimento
Gerente de Projetos
Maria Célia Tanus Barletta
Realização
Projeto Casulo
Rua Paulo Bourrol, 100
05686-050 São Paulo SP
Telefax (11) 3578-0506 / 3758-0536
http://www.projetocasulo.org.br
projetocasulo@projetocasulo.org.br
Assessoria
Trattos Consultoria S/C Ltda
Rua Padre Guilherme Pompeu, 01 Centro
06500-000 Santana do Parnaíba - SP
Coordenação Geral
Projeto Casulo
Wagner Luciano da Silva
Coordenação de 
Desenvolvimento Comunitário
Guilherme do Amaral Carneiro
Coordenação Artístico Cultural
Marta Priolli
Coordenação de 
Desenvolvimento Institucional
Luis Fernando Guggenberger
Equipe
Autoria e Edição de texto
Alexandre Isaac
Colaboração em Textos
Guilherme do Amaral Carneiro
Vanessa Egle
Leitura Crítica e Revisão 
Eder dos Santos Camargo
Edição de Arte e Diagramação
Mariano Maudet Bergel
Ilustrações
Paulo Brito Silva (Paulo Urso)
Logo Observatório, pgs: 27,35, 40, 44, 49, 63,
79, 85, 95, 99, 104, 111, 125.
Alex Rodrigues Diniz (La Bamba)
Pgs: 22, 31, 58, 67, 114, 120, 129, 133, 136.
Tiago de Oliveira (Careta)
Pgs: 19, 74, 79, 90, 141
Fotos
Projeto Casulo
Meta Ambiental - Pg 80
Jovens Pesquisadores
Diana de Souza
Edson Salvino da Costa
Francemildo Pessoa da Silva
Genival dos Santos Piauí
Juliana dos Santos Piauí
Marciana Balduíno de Souza
Renato dos Reis Nascimento
Sidney Cosme C. Faria
Verônica Santos Gomes
Viviane de Paula Gonzaga
QQuuee ppooddee aa nnoossssaa ppeessqquuiissaa??
NNããoo ppooddee nnaaddaa..
CCoonnttaa ssóó oo qquuee vviiuu..
NNããoo ppooddee mmuuddaarr oo qquuee vviiuu..
AA ppeessqquuiissaa,, eennttrreettaannttoo,, aajjuuddaa aa vveerr,, aa rreevveerr,, 
aa mmuullttiivveerr oo RReeaall nnuu,, ccrruu,, bbeelloo,, ttrriissttee..
DDeessvveennddaa oo PPaannoorraammaa,, eessppaallhhaa,, 
uunniivveerrssaalliizzaa aass iimmaaggeennss ee iinnffoorrmmaaççõõeess qquuee ccaappttoouu..
NNooss oobbrriiggaa aa sseennttiirr,, ddiivvuullggaarr,, aa ccrriittiiccaammeennttee jjuullggaarr..
AA qquueerreerr bbeemm,, oouu pprrootteessttaarr..
AA ddeesseejjaarr mmuuddaannççaass..
AA ssee mmoobbiilliizzaarr..
Adaptado do poema de Carlos Drummond de Andrade
QQuuee ppooddee aa nnoossssaa ppeessqquuiissaa??
NNããoo ppooddee nnaaddaa..
CCoonnttaa ssóó oo qquuee vviiuu..
NNããoo ppooddee mmuuddaarr oo qquuee vviiuu..
AA ppeessqquuiissaa,, eennttrreettaannttoo,, aajjuuddaa aa vveerr,, aa rreevveerr,, 
aa mmuullttiivveerr oo RReeaall nnuu,, ccrruu,, bbeelloo,, ttrriissttee..
DDeessvveennddaa oo PPaannoorraammaa,, eessppaallhhaa,, 
uunniivveerrssaalliizzaa aass iimmaaggeennss ee iinnffoorrmmaaççõõeess qquuee ccaappttoouu..
NNooss oobbrriiggaa aa sseennttiirr,, ddiivvuullggaarr,, aa ccrriittiiccaammeennttee jjuullggaarr..
AA qquueerreerr bbeemm,, oouu pprrootteessttaarr..
AA ddeesseejjaarr mmuuddaannççaass..
AA ssee mmoobbiilliizzaarr..
2
SUMÁRIO
� PREFÁCIO - Maria do Carmo Brant Carvalho .................................................................................... 3
� ICE – INSTITUTO DE CIDADANIA EMPRESARIAL .................................................................................. 5
� PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO DO REAL PARQUE 
E JARDIM PANORAMA - PROJETO CASULO ........................................................................................ 6
� OBSERVATÓRIO DE JOVENS – REAL PANORAMA DA COMUNIDADE ................................................ 8
� POR QUE UM OBSERVATÓRIO DE PESQUISAS? .................................................................................. 9
� NOSSO “OBSERVATÓRIO DE JOVENS” .............................................................................................. 10
� APRENDENDO E ENSINANDO.............................................................................................................. 11
� PENSANDO AS JUVENTUDES ..............................................................................................................15
� UMA EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO ..................................................................................................18
� A VOZ DOS OBSERVADORES ..............................................................................................................19
ENCONTROS COM JOVENS
1º VIVENDO E APRENDENDO A CONVIVER ...................................................................................... 22
2º VIVER UNS COM OS OUTROS, EM VEZ DE UNS CONTRA OS OUTROS ...................................... 27
3º DIVERSIDADE, IGUALDADES E DIFERENÇAS .................................................................................. 31
4º NOSSO PONTO DE ENCONTRO .................................................................................................... 35
5º VIVER EM SOCIEDADE, MOVIMENTO CIDADANIA ........................................................................ 40
6º VIVER EM SOCIEDADE, MOVIMENTO CIDADANIA II .................................................................... 44
7º PANORAMA, DIREITOS E RESPONSABILIDADES ............................................................................ 49
8º ÉTICA, A MORADA HUMANA ........................................................................................................ 58
9º QUANDO AS ANDORINHAS FAZEM O VERÃO ............................................................................ 63
10º HOMEM, ANIMAL POLÍTICO .......................................................................................................... 67
11º TRABALHO: PRAZER OU TORTURA? .............................................................................................. 74
12º O AMBIENTE INTEIRO .................................................................................................................... 79
13º SOCIEDADE DO CONSUMO, CAPITAL TOTAL ................................................................................ 85
14º O PAPEL DA MÍDIA .......................................................................................................................... 90
15º CONHECIMENTO CIENTÍFICO E SENSO COMUM ............................................................................ 95
16º COMEÇANDO A PESQUISAÇÃO .................................................................................................... 99
17º PESQUISAÇÃO II ............................................................................................................................ 104
18º PESQUISAÇÃO III – Entrevistando chefes de domicílios ...................................................................... 111
19º PESQUISAÇÃO IV – Entrevistando jovens, adultos e idosos ................................................................ 114
20º PESQUISAÇÃO V – A opinião dos jovens ........................................................................................ 120
21º PESQUISAÇÃO VI – Uma pesquisa qualitativa sobre a história do lugar .............................................. 125
22º PESQUISAÇÃO VII – Conhecendo as instituições locais ...................................................................... 129
23º PROJETOS E INTERVENÇÕES NO TERRITÓRIO ............................................................................ 133
24º PROJETOS E INTERVENÇÕES NO TERRITÓRIO II .......................................................................... 136
25º O FUTURO POR FAZER .................................................................................................................. 141 
IDÉIAS DE INTERVENÇÃO ..........................................................................................................................144
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................ 149
3
PREFÁCIO
O texto que o leitor aqui recebe possui várias preciosidades.
Uma primeira diz respeito à sistematização de metodologia voltada à formação de jovens.
Temos muito poucos estudos publicados que sistematizem conteúdos e metodologias de formação
para este segmento contendo intencionalidades, valores, densidade e cuidado formativo.
Falamos muito na atualidade sobre os jovens, sobretudo daqueles marcados pelas
vulnerabilidades da vida nas periferias das grandes cidades com pouquíssimas oportunidades de
ampliação de seu universo cultural e convivência com a cidade. Falamos em priorizar os jovens, mas
não sabemos no mais das vezes como dialogar e oportunizar a eles projetos de sentido.
Os jovens carecem de um processo formativo cujo alvo central é a leitura do mundo. Esta é outra
preciosidade da opção formativa aqui apresentada.
O conjunto de oficinas ofertadas aos jovens constituem-se em chaves para leitura e ampliação
da compreensão de mundo, em um processo onde valores éticos, estéticos e o conhecimento são um
meio para compreender o mundo e agir; produz novas textualidades em busca de diferentes
referências para dialogar e viver no e com o mundo e a humanidade.
Leitura do mundo começa no próprio mundo - lugar de pertença para experienciar e percorrer o
mundo cidade, o mundo humanidade.
Esta é outra preciosidade. Os jovens pesquisam seu bairro, conhecem seus moradores,
identificam problemas, mas também fortalezas e potenciais descobertos na tenacidade do olhar
investigativo.
Leitura do mundo não é só contemplação, interage pela ação no mundo lugar - cidade - humanidade.
O jovem, e todos nós, ganhamos neste processo de leiturAção cumulativa, a apreensão de nossa
própria humanidade.
Este ganho de humanidade se revela em exercícios de cidadania ativa e, o que é fundamental,
ganhos de irmandade/solidariedade para viver no mundo e com o mundo.
É este o caminho metodológico formativo que os jovens, centro desta ação comunicam.
Ler o mundo convoca em nós um conjunto de competências e habilidades: atribuir sentido, buscar
e analisar informações, levantar hipótese, desenhar estratégias, estabelecer relações...
Promove o desejo de mudança e surgimento de idéias de soluções para problemas concretos. 
Há uma outra preciosidade também da maior importância: a qualificação dos jovens para a vida
pública e para a vida profissional.
Se falamos em desenvolvimento da empregabilidade dos jovens, este é sem dúvida um plus que
os jovens ganharam. Também se qualificaram como pesquisadores sociais.
É assim que a metodologia aqui apresentada é uma preciosidade.
Maria do Carmo Brant Carvalho
Doutora em Serviço Social pela PUC-SP. Pós-doutora em Serviço Social Aplicado 
pela École des Hautes Etudes en Sciences Sociales de Paris. 
Professora titular no programa de pós-graduação em Serviço Social – PUC-SP. 
Coordenadora Geral do CENPEC – Centro de Estudos e 
Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária.
ICE - INSTITUTO DE CIDADANIA EMPRESARIAL
O ICE - Instituto de Cidadania Empresarial é uma associação civil sem fins econômicos,
sediada em São Paulo, criada em 1999 por um grupo de empresários paulistas a partir da
constatação de que deveriam participar mais ativamente na busca de soluções para o agravamento
das desigualdades sociais no Brasil. A experiência exitosa do ICE de São Paulo leva a criação, em
2001, do ICE Maranhão. 
O ICE utiliza-se do potencial de articulação inter-setorial de seus associados para, em parceria
com o Poder Público e com a sociedade civil, desenvolver programas de desenvolvimento
comunitário inovadores e emancipatórios, por meio de metodologias de ação multiplicáveis,
otimizando recursos e possibilitando impacto social positivo. 
Missão 
Conscientizar a classe empresarial e provocar seu envolvimento em projetos e iniciativas do
Terceiro Setor.
Visão
Ser referência em práticas sociais e influenciar, por meio de projetos e programas bem
sucedidos, a formulação, execução e monitoramento de políticas públicas. 
Diretrizes de Atuação
Mobilização Empresarial 
Sensibilização e envolvimento de empresários e empresas, por meio de
formação conceitual e mobilização de recursos e competências. 
Articulação Intersetorial
Fortalecimento de estratégias de promoção do desenvolvimento
comunitário por meio de articulação política, parcerias e relações
institucionais. Com este objetivo, o ICE integra importantes redes nacionais
e internacionais, como a Rede América e a Rede Social SP.
Programas 
Apoio e operação direta de projetos e programas de desenvolvimento
comunitário, com foco no empreendedorismo jovem, sendo a
principal iniciativa o Programa de Desenvolvimento Comunitário do Real
Parque e Jardim Panorama - Projeto Casulo.
5
DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO
FOCO:
EMPREENDEDORISMO JOVEM
PROGRAMAS
ARTICULAÇÃO
INTERSETORIAL
MOBILIZAÇÃO
EMPRESARIAL
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO DO 
REAL PARQUE E JARDIM PANORAMA - PROJETO CASULO
Em 15 de abril de 2003, o Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), em parceria com a
Prefeitura de São Paulo e com vinte empresas, fundações e institutos, inaugurou o Programa de
Desenvolvimento Comunitário do Real Parque e Jardim Panorama - Projeto Casulo, no bairro do
Real Parque, zona sudoeste da cidade de São Paulo. A atuação do Projeto Casulo está focada na
educação e na cultura, entendidas em seu sentido ampliado, e nos jovens, em virtude da escassez
de políticas públicas que os contemplem e da falta de perspectivas que a sociedade atualmente lhes
oferece, e por entender que seus anseios, propostas e protagonismo podem contribuir para
transformação da sociedade. 
Missão 
Contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população do Real Parque e Jardim
Panorama, por meio de um processo de desenvolvimento comunitário que prioriza o jovem como
agente estratégico de transformação social.
Público Atendido
São atendidos 540 jovens, com idade entre 12 e 24 anos, em situação de vulnerabilidade
social. O Projeto Casulo prioriza os jovens como agentes de transformação social e apóia projetos
por eles propostos, incentivando sua mobilização, autonomia e ação comunitária.
Programas e atividades culturais
O Projeto Casulo aposta no jovem como indutor de mobilização e transformação social. Para
isso, é fundamental que ele domine os códigos da modernidade e adquira, além de maior
escolaridade, outras habilidades no plano da sociabilidade, da ampliação de seu repertório cultural,
da participação na vida pública e da fluência comunicativa. 
Oficinas Culturais
O Projeto Casulo oferece Oficinas Culturais de Música, Teatro, Danças
Brasileiras, Artes Plásticas e Hip-Hop, com o objetivo ampliar o universo cultural e
informacional dos adolescentes e jovens, estimulando a criatividade e aprofundando as
competências estéticas e artísticas. 
Também são realizadas visitas a espaços culturais, como museus, teatros e cinemas. 
6
Espaço Multimídia
O Espaço Multimídia do Projeto Casulo oferece oficinas de som, imagem, informática
e edição de textos, possibilitando aos jovens participantes a construção de uma visão
crítica sobre os meios de comunicação e fortalecendo-os para sua integração no mundo
do trabalho. 
Programa de Formação de Jovens Professores
O Programa de Formação de Jovens Professores visa garantir a formação
universitária de jovens em situação de vulnerabilidade social, no curso normal
superior de Educação. 
O Programa garante 50% de bolsa de estudos para os 20 jovens
participantes e é realizado pelo Instituto Superior de Educação de São Paulo -
Singularidades. Os jovens participantes são oriundos dos outros Programas e
atividades desenvolvidos pelo Projeto Casulo e, em contrapartida,atuam em
algumas áreas do Projeto Casulo, como a Biblioteca Comunitária, que possui um
acervo de cerca de 2.000 livros e que atende toda a comunidade.
Programa Jovens Urbanos
O Programa “Jovens Urbanos” tem como objetivo a formação de jovens
para a implantação de empreendimentos sociais e de geração de renda,
partindo da crença de que a população juvenil é capaz de contribuir para
o desenvolvimento comunitário. São realizadas oficinas educativas,
culturais e tecnológicas, orientando-os na elaboração de projetos de
intervenção social que possam ser implementados na comunidade. 
O programa garante aos jovens a ampliação de sua escolaridade, o
desenvolvimento de competências e habilidades para a vida pública e
pessoal, a ampliação do repertório cultural e social e o acesso qualificado
ao novo mundo do trabalho, promovendo ainda a realização de projetos
de melhoria de qualidade de vida nas comunidades atendidas.
7
8
OBSERVATÓRIO DE JOVENS
REAL PANORAMA DA COMUNIDADE
A proposta do Projeto Casulo coloca os jovens no centro da ação e lhes atribui um papel
estratégico no processo de desenvolvimento comunitário pretendido. A mobilização e o
empoderamento destes jovens requerem, entre muitas outras coisas, o aprofundamento de sua
compreensão da realidade em que vivem, em seus múltiplos e interdependentes aspectos. 
Nasce assim o Observatório de Jovens, cujo foco central é a capacitação de um grupo de jovens
com o objetivo de conhecer e compreender melhor o mundo. O Observatório de Jovens pretende
formar jovens pesquisadores que possam olhar para suas comunidades, “fazer perguntas”, analisar
informações e propor ações de intervenção, visando à transformação e à melhoria da qualidade de
vida dos moradores do Jardim Panorama e Real Parque, zona sudoeste da cidade de São Paulo.
O Observatório de Jovens se propõe a produzir conhecimento sobre uma determinada realidade
a partir de um grupo de jovens que vivem cotidianamente essa mesma realidade, se beneficiando
diretamente das informações produzidas, revelando os problemas e as riquezas da comunidade,
intensificando o potencial criativo de intervenção sobre o vivido e investindo na participação juvenil. 
É importante fazer um agradecimento especial ao CEASM - Centro de Estudos e Ações Solidárias
da Maré, no Rio de Janeiro, cuja experiência de Observatório Social inspirou a criação do
Observatório de Jovens no Projeto Casulo. Visitamos o CEASM em meados de 2003 e ficamos
impressionados e encantados com as falas de alguns dos jovens que atuavam na produção de
conhecimento sobre o Complexo da Maré. Suas falas tinham consistência e demonstravam uma
enorme apropriação e compreensão da realidade em que estavam inseridos e sobre a qual
desejavam intervir. 
Naquela ocasião, estava começando um processo de capacitação de jovens no Real Parque
para a realização de uma Pesquisa Social Participante que iria conhecer melhor a comunidade para
subsidiar futuras ações, e que se desdobrou no Observatório de Jovens. A experiência do CEASM
reforçou nossa crença na necessidade de investir na formação de grupos de jovens que tivessem um
novo olhar sobre a realidade, um olhar crítico-investigativo capaz de provocar sua inquietação em
relação aos problemas, riquezas e demandas de suas comunidades. 
Nosso desejo é, acima de tudo, fazer com que os jovens comecem a olhar para o que é
aparentemente natural e corriqueiro e enxerguem o que lá se esconde. Desejamos despertar sua
inquietação e a vontade de transformar o que deve ser transformado. Esperamos poder apoiá-los e
acompanhá-los nesse caminho.
Maria Célia Tanus Barletta
Fazer pesquisa é como se 
cada dia fosse único e especial. 
Novas vidas e novos rostos, 
novas histórias e 
novos conhecimentos.
Viviane de Paula, 22
Nada é impossível de Mudar 
Desconfiai do mais trivial, 
na aparência singelo. 
E examinai, sobretudo, 
o que parece habitual. 
Suplicamos expressamente: 
não aceiteis o que é de 
hábito como coisa natural, 
pois em tempo de 
desordem sangrenta, 
de confusão organizada, 
de arbitrariedade consciente, 
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural 
nada deve parecer 
impossível de mudar.
Bertold Brecht
POR QUE UM OBSERVATÓRIO DE PESQUISAS?
O Observatório de Jovens é uma iniciativa do Projeto Casulo e pretende desmistificar a idéia
de que “pesquisa” é algo burocrático, puramente escolar e que, portanto, não constitui matéria de
interesse dos jovens. Ao contrário, por entender a fase da infância e juventude como um momento
marcante de exploração e experimentação, a proposta do Observatório é transformar dúvidas e
indagações cotidianas em algo que ajude a produzir e compreender os sentidos e significados do
mundo físico e social. 
O homem vive alienado, passa pela vida e não consegue explicar ou ver sentido para a maioria
das coisas. Acende a luz e não sabe explicar como funciona; manda um e-mail e não sabe como isso
acontece. Vê uma criança em situação de rua e um idoso catando papelão, mas não sabe explicar
tais fenômenos sociais. O objetivo do Observatório é desenvolver um olhar crítico e investigativo nos
jovens, fazer com que eles se perguntem porque, e como determinadas coisas acontecem.
Trata-se de inquietar-se constantemente “fazendo perguntas pro mundo”,
buscando conhecer melhor o funcionamento das coisas, promovendo aprendizagens,
possibilitando o prazer de descobrir e compreender, e ampliando nossas
possibilidades de intervenções.
Além do mais, a vida cotidiana faz de nós, quer queiramos, quer não, grandes consumidores de
pesquisas. Com efeito, é provável que não se passe um dia sem que nos sejam apresentados os
resultados de uma pesquisa: nos jornais, na TV, na propaganda, nos discursos dos políticos, etc.
Nossa sociedade se tornou uma sociedade da informação. Uma boa quantidade dessas
informações provém dos resultados de pesquisas. Quantas vezes na vida escutamos: “a pesquisa
demonstrou que...” Enfim, aprender sobre pesquisa nos ajuda a ser consumidores conscientes, bem
como eventuais produtores de pesquisa.
Nem todo mundo se torna um pesquisador profissional, mas qualquer
que seja nosso campo de atividade, um dia ou outro, vamos ter que
preparar um questionário, um formulário ou uma pesquisa de opinião,
conduzir uma entrevista, observar comportamentos, tirar conclusões, medir
os efeitos de uma intervenção, interpretar dados e tabelas, fazer uma
análise de uma informação, texto ou notícia.
Em nosso dia-a-dia, existem ocasiões em que podemos utilizar, com
vantagem, nossa competência em pesquisa. De fato, cada vez que um
problema se apresenta e que desejamos resolvê-lo de modo eficaz,
devemos avaliar sua importância, recolher as informações necessárias e
considerar as diversas soluções possíveis para, finalmente, tomar a
decisão mais apropriada.
9
É preciso despertar o sentimento 
de “luta” por uma vida melhor 
e tentar aos poucos ir mudando o
quadro de nossa comunidade, 
por meio do conhecimento 
e da informação.
Diana de Souza, 19
10
NOSSO “OBSERVATÓRIO DE JOVENS”
O procedimento de formação dos jovens tem o formato de Oficinas pedagógicas que
pressupõem uma aprendizagem mais efetiva; proximidade entre educadores e jovens; trabalho em
grupo; experimentação e exploração; produto final a cada encontro. São vinte e cinco Oficinas
pedagógicas divididas em três grandes processos: 
1 Integração, sensibilização e formação de grupo, com 4 oficinas
2 Leitura de mundo, com 18 oficinas
3 Intervenções no território, com 3 oficinas
O conjunto de oficinas que compõem o processo “Integração, sensibilização e formação
de grupo”, visa inserir os jovens num conjunto de experiências grupais que proporcionem
oportunidades de convivência com as diferenças e desenvolva competências e habilidades para agir
em sintonia com o outro, aprendendo a concordar e discordar, a decidir em grupo, a valorizar o
sabersocial e a cuidar do lugar em que vivemos. 
O conjunto de oficinas de “Leitura de mundo” pretende oferecer um currículo que
proporcione aos educadores e jovens “chaves” para leitura e ampliação da compreensão de
mundo, em um processo educativo onde o conhecimento é o meio para compreender o
mundo e agir. Entendendo que ler o mundo encontra-se relacionado não só a aprender a ler
e escrever, mas a posicionar-se criticamente com relação a conceitos, valores e normas
socioculturais estabelecidos e vivenciados na sociedade. Essas oficinas pretendem
proporcionar aos jovens e educadores novas formas de ler e escrever a realidade,
produzindo novas textualidades em busca de diferentes referências para enfrentar e viver
nesse mundo. As oficinas são desenvolvidas a partir das convicções de que é preciso
aprender a ler o mundo, a ler nas entrelinhas, a receber criticamente as mensagens
veiculadas, analisando-as, comparando-as, percebendo os diferentes recursos de linguagem,
as estruturas dos textos ou mensagens e suas diversas intenções e formas. Nesse processo os jovens irão
refletir, juntamente com você, sobre alguns conceitos, normas e valores expressos na sociedade
(cidadania, trabalho, consumo, meio ambiente, mídia, política, etc.), e realizarão algumas pesquisas
com diferentes públicos em suas comunidades. 
O conjunto de oficinas “Intervenções no território” expressa a idéia de que é preciso ler e
interpretar o mundo para propor e implementar projetos e idéias que transformem a nossa realidade
desigual e injusta. 
Os projetos e idéias elaborados pelos jovens, a partir das certezas e dúvidas provenientes das
oficinas de “Integração, sensibilização e formação de grupo” e de “Leitura de mundo”,
“são o futuro a fazer, um amanhã a concretizar, um possível a transformar em real, uma idéia a
transformar em ato”. 
�
�
�
É como olhar de dentro pra dentro...
conhecer a comunidade, 
sentir que aqui há pessoas que têm
rosto, idéias e ideais, sabedoria 
e traços que denunciam um 
pouco de suas histórias.
Juliana Piauí, 19
APRENDENDO E ENSINANDO....novas lições, nas comunidades, nas escolas, nas Ong’s
A aprendizagem é um processo ininterrupto que se inicia com o nascimento e que se estende
por toda a vida. Sempre existe a possibilidade de aprender coisas novas, desde que tenhamos
vontade e motivação para aprender e que, principalmente, existam condições facilitadoras para o
processo de aprendizagem. Cotidianamente estamos aprendendo ao ouvir as outras pessoas,
dialogando ou discutindo, entrando em contato com o conhecimento construído pela humanidade e
com práticas culturais e valores expressos na sociedade. 
As novas aprendizagens ocorrem na combinação entre aquilo que se apresenta como um novo
saber, e os conceitos, idéias e conhecimentos já introjetados ao longo de nossa história individual e
coletiva. Antes de incorporar ou rejeitar novas idéias, a pessoa faz um confronto entre suas
concepções e aquelas apresentadas pelo mundo. Nesse sentido, ao compartilhar uma nova idéia ou
conceito com os jovens, o educador deve considerar as opiniões e hipóteses já expressas nas falas
e nas ações dos educandos. 
“Aprender, sob qualquer forma que seja, é sempre aprender em um momento de minha história
- mas também em um momento de outras histórias, as da humanidade, da sociedade dentro da qual
vivo, do espaço no qual aprendo, das pessoas que são encarregadas de me ensinar. (...)
Aprendemos porque existem ocasiões de aprender, em um momento onde se é mais ou menos
disponível para aproveitar essas ocasiões; mas, às vezes, a ocasião não se reapresentará: aprender
é então uma obrigação ou uma oportunidade que se deixou passar”. Charlot (1998)
Com base nessas concepções e princípios você pode organizar os encontros e as oficinas
pedagógicas, de maneira a proporcionar que todos aprendam e, acima de tudo, aprendam a
aprender, adquirindo confiança e autonomia progressiva ao entrar em contato com novos
conhecimentos, e com as diversas oportunidades de aprendizagem colocadas a disposição do grupo.
Na condição de educador e facilitador para o desenvolvimento das oficinas pedagógicas deve-
se considerar ainda que:
Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos, criticidade, postura ética, humildade e tolerância.
Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação.
É preciso procurar descobrir o que o jovem é, o que sabe, o que traz consigo, o que ele se mostra
capaz de fazer.
Como educador que se propõe a formar jovens na perspectiva de que eles
formem um grupo, se apropriem de fatos sociais locais e globais, sejam críticos com
relação a conceitos, valores e normais sociais, além de propor intervenções locais
com vistas à melhoria da qualidade de vida da coletividade, é preciso ainda:
11
Para perguntar, pesquisar, 
conhecer, é necessário aprender 
a conviver com a curiosidade,
o deparar-se com o inusitado,
a capacidade de assombrar-se.
Madalena Freire
�
�
�
• Desenvolver a convicção de que a mudança é possível, de que por mais difícil que pareça é pela
ação individual e coletiva que a realidade se transforma.
• Iniciar um processo de reflexão voltado para a identificação não só de dificuldades, mas também
de riquezas e potencialidades de mudança presentes na realidade social.
• Perceber que a maior riqueza de um lugar é o seu povo e o ambiente, por isso é importante
conhecê-los melhor, saber o que pensam as pessoas, descobrir sua força, seus talentos, seus sonhos,
reconhecer os espaços e suas potencialidades. São as pessoas que lá vivem e trabalham que podem
informar com precisão o que falta e o que precisa ser mudado. É conversando com elas,
conhecendo suas idéias sobre a realidade local que podemos reavivar a participação comunitária.
• Promover a mobilização e o engajamento dos jovens em um processo permanente de
informação-reflexão-ação. 
Essencialmente, todas as oficinas dos três processos, devem ser desenvolvidas
no sentido de garantir que os conhecimentos e habilidades adquiridos convirjam
para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social, dos jovens pesquisadores.
Nas oficinas de “Integração, sensibilização e formação de grupo” preocupe-se em
manter um ambiente emocional propício à sociabilidade e aprendizagem, permeado pelo respeito
à individualidade, ao diálogo aberto, incentivando os jovens a falarem de suas emoções, de seus
medos, de seus sonhos, de seus projetos, criando assim vínculos de afeto e confiança entre todos.
Considere-os na sua completude, ou seja, em suas peculiaridades pessoais, cognitivas e afetivas,
além do ambiente em que vivem: a família, a escola que freqüentam e a comunidade dentro da qual
estão inseridos.
Nas oficinas de “Leitura de Mundo” e de “Intervenções no território” é fundamental que
os jovens se apropriem da cultura local e global reconhecendo a diversidade com que os espaços
são ocupados e geridos, possibilitando aos jovens pesquisadores refletir sobre suas práticas
alterando suas próprias maneiras de ver, sentir, pensar e perceber seu entorno e o mundo. Ao longo
do desenvolvimento dessas oficinas é preciso promover oportunidades para que os jovens possam
expor as suas idéias de forma clara, compreensível, argumentando e defendendo-as, utilizando
diferentes formas de linguagem (oral, escrita) para criar, comunicar, expressar idéias, imagens e
sentimentos. O conteúdo compartilhado nessas oficinas deve propiciar que os jovens leiam o mundo
atribuindo sentido, buscando e analisando informações, levantando hipóteses, elaborando
estratégias, estabelecendo relações entre os acontecimentos e pesquisando suas causas. Além disso
pretende promover o desejo de mudança e o surgimento de idéias de soluções para a resolução
dos problemas concretos identificados pelos jovens e pela própria comunidade.
12
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender.
Beto Guedes e 
Ronaldo Bastos
13O Cotidiano das Oficinas Pedagógicas
O processo de formação dos jovens está organizado em 25 encontros com temas específicos.
Até o 17º encontro o educador terá acesso a um texto base para compartilhar com os jovens e a um
conjunto de orientações e propostas de atividades que subsidiam o desenvolvimento do tema
em questão. Nos encontros que vão do 18º até 22º você e os jovens estudarão as “propostas de
instrumentais de pesquisa” para serem aplicados em diferentes segmentos populacionais na
comunidade. É hora do trabalho de campo onde os jovens praticam por meio de diversos ensaios
(entre eles mesmos e com familiares e amigos) para depois realizarem as pesquisas com o público
definido. Nos três últimos encontros será necessário que você elabore um plano de aula mais
detalhado. Você terá que ler os três textos anteriormente para definir as estratégias de formação.
São textos que subsidiam os jovens a elaborarem projetos de intervenção comunitária. 
Não existe um roteiro pré-determinado para ser seguido nas discussões e no desenvolvimento das
atividades, é o educador que com sua sensibilidade e leitura de grupo, planeja, executa e avalia os
encontros. No entanto, propomos uma metodologia que considera que cada encontro deve
contemplar um primeiro momento de aquecimento intencional, onde a partir da definição
do tema a ser trabalhado, o educador propõe atividades que mobilizem as vontades e capacidades
dos jovens e facilitem o processo de discussão que se seguirá. É uma espécie de acolhimento do
grupo que visa sensibilizar os jovens para as discussões e trabalhos do encontro. O tipo de
aquecimento escolhido deve estabelecer uma correlação direta com o tema que será abordado no
encontro. Você pode se utilizar de músicas, poesias, e dinâmicas relacionadas ao tema do encontro. 
Um segundo momento de Apresentação e Aproximação com relação ao tema a ser
compartilhado, onde o educador desafia os jovens a discutir um determinado assunto, considerando
seus saberes, idéias e hipóteses, propondo atividades que promovam a ampliação do repertório
cultural dos jovens com relação a esse assunto. 
Um terceiro momento de Leitura do texto e atividades individuais e coletivas que
pretende disponibilizar aos jovens informações mais sistematizadas sobre o tema em questão. Esses
textos expressam de alguma maneira o conhecimento acumulado historicamente sobre determinado
tema, e revelam um pouco da visão de mundo e das convicções e dúvidas que o projeto Casulo e
nosso Observatório de Jovens têm a propósito dessas questões. Não se esqueça de promover e
valorizar as produções dos jovens provenientes das atividades individuais e coletivas que 
foram propostas.
E finalmente um momento de impressões e avaliações sobre o tema e o encontro
para que você possa identificar e acompanhar de que maneira as diferentes aprendizagens estão
circulando no grupo, além de fornecer subsídios para o desenvolvimento dos próximos encontros. É
a partir da avaliação dos jovens que você pode rever suas práticas e metodologias, colocando a
disposição do grupo, seus saberes e convicções de forma não impositiva, contribuindo dessa
maneira, para que os jovens sejam críticos e reflexivos com relação aos conceitos, valores, certezas
e dúvidas expressos nesses textos. 
A aprendizagem não acontece 
num passe de mágica, 
ela se dá por meio de 
um processo pedagógico, 
onde mágico e platéia 
são responsáveis 
pela magia da 
transformação de ambos. 
A. Isaac
Ainda como indicação, propomos que você disponibilize aos jovens um “diário de bordo”
onde a cada encontro um jovem possa registrar de forma criativa, bem humorada e não burocrática,
os acontecimentos do dia. Trata-se de um caderno de memórias do grupo. Um encontro pode ser
lembrado apenas por uma poesia ou uma música sobre o tema que vocês trabalharam. Providencie
também, caso você tenha condições, um “baú de saberes” - uma caixa com livros, revistas, Cds
e textos informativos relacionados a diferentes áreas de conhecimento, como Ciências Naturais,
Sociais e Arte, para que os jovens os acessem em diferentes momentos dos encontros.
Como já fora dito anteriormente, todos nós estamos, desde o dia que nascemos, em um processo
de aprendizagem contínuo. Nesse sentido, para uma otimização dos encontros e oficinas, 
é preciso que você educador estude antecipadamente todos os temas dos 25
encontros propostos, para que você se sinta seguro ao desenvolver as atividades e
possa colocar a disposição do grupo seus conhecimentos e saberes.
Na medida do possível estaremos indicando, a cada encontro, um vídeo, um outro texto e um
endereço na internet para ampliação do repertório a propósito dos temas a serem trabalhados. Caso
você utilize outras estratégias para o processo de formação dos jovens, não se esqueça de trabalhar
com objetos culturais reais, como TV, rádio, revistas, jornais, internet, promovendo e ampliando o
acesso a esses veículos de informação. 
Importante: Dada a complexidade de muitos dos temas desenvolvidos a cada encontro, você
sentirá a necessidade de estender a quantidade de horas trabalhadas dependendo da amplitude
do tema. Talvez seja necessário três ou quatro dias para “encerrar” as discussões sobre um
determinado assunto. As pesquisas que realizarão e as três oficinas de intervenção no território
com certeza necessitarão mais horas de discussão.
14
PENSANDO AS JUVENTUDES
Apesar de, nos grandes centros urbanos, podermos identificar algumas características
marcantes da fase da juventude, é preciso promover contextualizações considerando essencialmente
questões como, gênero, etnia, condição social e econômica, cultura local, momento histórico,
particularidades e referências de cada sujeito. Ou seja, não é possível promover generalizações do
tipo “os jovens são inconseqüentes e individualistas”, “os jovens são onipotentes”, “isso é da idade”,
ou ainda relacionar a fase da juventude exclusivamente a questões problemáticas como, violência,
drogas, gravidez indesejada, etc. É um cuidado a ser tomado para não incorrermos no equívoco de
categorizar a idéia de juventude em um modelo hermético e consequentemente estereotipado dessa
fase da vida.
Estamos falando que é preciso considerar as diversas juventudes e diferentes leituras a propósito
dessas juventudes, “os jovens negros da periferia dos grandes centros”, “os jovens das áreas rurais”,
“os jovens da classe média”, “os jovens filhos de intelectuais e militantes políticos”, “os jovens filhos
de religiosos”, “os jovens em situação de rua”, “os jovens indígenas”, “os jovens do Maranhão e os
jovens do Rio Grande do Sul”, e tantas outras variáveis e condições. Dessa maneira, a concepção
de juventude é uma construção cultural e histórica, cada sociedade, ou ainda, cada grupo social,
define e organiza a maneira pela qual se dá a passagem da infância para juventude, e desta para
a fase adulta. Portanto, a adolescência e juventude, da forma como a enxergamos atualmente, não
se constitui como um período natural do desenvolvimento, mesmo as transformações físicas do corpo
são sentidas e vivenciadas por meio da intermediação da cultura, marcadas hegemonicamente pelo
lugar social e pela situação econômica dos sujeitos.
Do ponto de vista da condição biológica podemos compreender a fase da juventude nos
segmentos etários dos 15 aos 24 anos, e a adolescência dos 15 aos 19 anos, e é justamente nesse
período marcado por transformações biológicas, psicológicas e sociais que o jovem tenta construir,
na relação com outros jovens e adultos, sua nova forma de ser e de se perceber no mundo. Ao longo
da construção dessa nova identidade, por mais que não pareça, os jovens estão muito atentos aos
adultos que o cercam, selecionando aspectos de que não gostam e outros que lhe agradam, fazendo
oposições, rejeitando ou ainda concordando. Ainda no processo de constituição e significação da
identidade os adolescentes e jovens lançam mão de diversase intensas experiências - experiências
de pensamentos, palavras e ações.
A juventude, marcadamente nas sociedades modernas, caracteriza-se por um momento de busca
de possibilidades e de maior inserção social, é também nessa fase que se apresentam fortemente as
questões referentes ao pertencimento a grupos, às escolhas amorosas, profissionais, culturais etc.
15
Meu pai não aprova o que eu faço,
tão pouco eu aprovo 
o filho que ele fez.
Belchior
A juventude não é progressista
nem conservadora por índole,
porém é uma potencialidade
pronta para qualquer nova
oportunidade.
Mannheim
Trabalhando com jovens
No atual cenário da realidade brasileira e das políticas públicas nas áreas da infância,
adolescência e juventude, torna-se absolutamente fundamental a criação de espaços e projetos que
acolham os jovens para dialogar, refletir e discutir questões que os afetam, proporcionando-lhes
experiências diversificadas que contribuam para ampliação da sua visão de mundo e
consequentemente de suas possibilidades de escolhas.
Aos educadores, professores, Ong’s e escolas que pretendem desenvolver trabalhos e projetos
com foco no público juvenil, destacamos alguns temas e questões, que do nosso ponto de vista, não
podem deixar de serem considerados: 
• A formulação e o desenvolvimento de projetos com foco no público jovem não deve objetivar
exclusivamente a realização de atividades ocupacionais para juventude, de modo a prevenir o
ócio e as condutas anti-sociais. É preciso entender esses projetos como uma resposta da
sociedade e do poder público, na perspectiva da garantia dos direitos constitucionais dos
adolescentes e jovens.
• Nas sociedades contemporâneas desenvolveu-se a idéia de que o importante é o que os jovens
vão se tornar quando forem adultos, afinal eles não são nem crianças nem adultos. Essa idéia
marca a juventude por aquilo que ela não é, desconsiderando as potencialidades dessa fase da
vida. Nessa perspectiva a juventude seria um período de preparação e de espera, onde os
principais marcos do final dessa fase seriam a inserção no mundo do trabalho, a constituição
de um novo núcleo familiar e a procriação.
• Os jovens, especialmente os provenientes das classes populares, são
afetados desde cedo por desvantagens sociais, cognitivas e afetivas, além de
sofrerem pela desatenção pública à educação, saúde, assistência e demais
direitos fundamentais para sua formação. No entanto, a sociedade espera
deles comportamentos ideais - “docilidade”, “ponderação”, “humildade”,
“capacidade de tolerar frustrações e adiar gratificações”. Comportamentos
hegemonicamente juvenis como imediatismo, agressividade, alternância de
sentimentos e desejos, contestação da autoridade, devem ser percebidos como
características próprias do desenvolvimento biológico, psicológico e social
dessa fase da vida.
• Em uma sociedade profundamente assentada e marcada pela distribuição
desigual da renda e onde o ideal de consumo proposto pelo mercado é
conflitante com a realidade da maioria de nossos jovens, é preciso perceber
criticamente os sentimentos de revolta, o não reconhecimento do outro como
semelhante e os comportamentos desviantes (drogadição e delinqüência).
• É preciso investigar a relação que os diferentes grupos juvenis guardam com à escola, com o mundo
do trabalho, com a família, com suas comunidades, com a mídia e a cultura de massa, com a
16
É jovem quando descortina 
a clara possibilidade de 
mudar de opinião, 
É jovem quando salta 
o precipício da razão e tem 
uma queda pra ilusão, 
É jovem quando entra no oceano
de quarenta correntezas 
sem nenhuma embarcação, 
Signo da sinceridade, da impulsão, 
do sonho, da realização, 
É jovem quando carrega 
o mundo com as mãos
Adaptado de musica de 
Oswaldo Montenegro
violência, com o tempo livre, com seus sonhos, angustias e frustrações. Só assim poderemos contribuir
para que os jovens ajam e pautem suas escolhas por critérios de justiça, ética e cidadania.
• Considerar o ponto de vista dos jovens, portanto, implica um esforço interno e uma reeducação
do olhar sobre eles, evitando olhá-los a partir do que lhes falta. Para permitir que o jovem
experimente outros modos de ser, é preciso, antes de qualquer coisa, experimentar diferentes
modos de vê-lo, evitando que o estigma o enclausure em papéis predeterminados — na maioria
das vezes, oscilando entre os papéis de vilão e de vítima. O olhar que prioriza o que falta aos
jovens aparece em falas como “eles não têm limites, não têm valores, não têm perspectivas, não
têm sonhos, não têm boa auto-estima”. Esse modo de ver os jovens pressupõe um modelo ideal do
que eles deveriam ser, raramente coincidindo com os jovens reais, com os quais o educador
trabalha. Se o olhar fica preso ao ângulo do que falta ao jovem, a escuta não se realiza e o
educador, em vez de ajudá-lo a pensar sobre si, acaba ocupando o lugar de quem faz julgamentos
morais.
• É preciso que o educador e a Ong tenham consciência da responsabilidade do papel que
representam frente aos adolescentes e jovens com os quais trabalham, pois além dos jovens que
conseguem sonhar, estabelecer objetivos e vislumbrar um futuro melhor para si e para coletividade,
encontrarão aqueles que não acreditam que podem aprender, que não podem transformar o
mundo coletivamente e que não acreditam em si mesmos. É essencialmente para esse público que
os educadores e Ong’s devem investir e canalizar suas ações, de maneira que esses jovens possam
olhar para si mesmos e perceber suas potencialidades, descobrindo que são capazes, como
qualquer outro, de produzir, criar e intervir.
• As novas exigências do “mundo do trabalho” como disponibilidade para aprender sempre,
maior preparo tecnológico, flexibilidade e polivalência, apontam para a necessidade da
ampliação do tempo de escolarização dos jovens e maior contato com outras atividades
educativas e culturais, que ampliem seu universo informacional e respondam às suas
necessidades sócio-emocionais.
• “O desemprego, o subemprego e as dificuldades de inserção profissional desprezam o
talento de milhões de jovens brasileiros.” (Relatório OIT — Organização Internacional do Trabalho, 2004)
17
18
UMA EXPERIÊNCIA DO OBSERVATÓRIO
Em 2004, um grupo de 10 jovens formados pelo Projeto Casulo produziu uma pesquisa na
comunidade do Real Parque. 
A pesquisa identificou 821 unidades domiciliares no espaço que denominamos “favela”, 63
moradias no “alojamento” e 489 apartamentos nos condomínios do Cingapura, totalizando 1.373
residências na comunidade do Real Parque. Desse total, foram entrevistados 1.116 responsáveis
pelo domicílio; houve ainda 257 unidades onde os moradores não foram encontrados, não havia
moradores ou os moradores se recusaram a receber os jovens pesquisadores. A pesquisa apontou
que o Real Parque possui 4.314 moradores, sendo 1.230 jovens de 14 a 24 anos.
A pesquisa foi feita com dois tipos de questionários, um que denominamos
“populacional”, para ser aplicado em todas as unidades domiciliares, outro que
denominamos “amostral”, para ser aplicado em segmentos populacionais definidos:
jovens de 15 a 24 anos, adultos de 25 a 60 anos e idosos acima de 60 anos.
Os jovens entrevistaram os responsáveis pelo domicílio que responderam a diferentes
perguntas sobre família, vida social, trabalho, saúde, educação, lazer, religião,
participação comunitária e desejo de futuro para o bairro. O questionário populacional
contemplou as questões do perfil socioeconômico da comunidade do Real Parque,
procurando definir quem são, em dados gerais, os moradores locais; como vivem; qual
sua procedência; sexo; idade; escolaridade; ocupação; renda. Já o questionário amostral
buscou identificar os costumes, saberes, habilidades, sonhos, desejos e percepções de
210 moradores da comunidade, sendo 70 jovens, 70 adultos e 70 idosos. 
A grande diferença dessa pesquisa está no fato deser participante, ou seja, realizada pelos
próprios jovens da comunidade — que cartografaram a comunidade, identificaram as residências,
ajudaram a definir questões relevantes para os dois questionários, “bateram de porta em porta”,
ajudaram a tabular os resultados e a elaborar a uma publicação com os resultados.
Uma segunda pesquisa será realizada, exclusivamente com o público jovem das comunidades do
Jardim Panorama e Real Parque. Serão entrevistados 500 jovens de 14 a 24 anos, sendo 300 do Real
Parque e 200 do Panorama. Essa amostra se constitui em mais de 40% da população jovem desses
bairros, segundo a primeira pesquisa realizada pelo Observatório em 2004. Serão aplicados 50
questionários por idade considerando a proporção de 25 para o gênero masculino e 25 para o
gênero feminino. As questões relativas ao instrumental de pesquisa serão definidas com o grupo de
jovens, ao mesmo tempo em que realizaremos um estudo comparativo com os resultados da pesquisa
A voz dos Adolescentes, realizada pelo Unicef a propósito da situação da adolescência no Brasil.
Queremos comparar a opinião dos adolescentes do Brasil com as impressões dos jovens de 14 a 24
anos das comunidades do Real Parque e Jardim Panorama a propósito dos temas: escola, trabalho,
família, sonhos expectativas e desejos de futuro, pobreza e violência, política, esporte, lazer e cultura.
Após a realização da etapa de campo e tabulação da pesquisa participante, os jovens do Obser-
vatório Social compartilharão os dados, por meio de palestras, com os demais jovens participantes dos
programas do Casulo, com a rede de organizações locais, faculdades e órgãos públicos, entre outros.
A VOZ DOS OBSERVADORES
A nossa História começa assim...
Outubro de 2003
Cartazes nas paredes e postes da comunidade, “Pesquisa Social Participante, precisamos de
dez jovens”. 
A idéia era fazer uma pesquisa para conhecer melhor a comunidade e para isso, precisavam de
pessoas que morassem na “favela”. 
A curiosidade nos levou a participar da primeira reunião e saber do que se tratava aquele
anúncio.
Nesta reunião estiveram presentes jovens e outros moradores, mas os que ficaram foram apenas
10 jovens, que permaneceram durante toda a pesquisa. Alguns já se conheciam da escola e da rua
e outros, apesar de morarem na comunidade nem se olhavam ao passar na rua.
A maior parte de nós participava das oficinas culturais no Projeto Casulo, apenas o Sidney não
fazia oficina e ficou sabendo da pesquisa através de uma tia que participava da Associação
Esportiva e Cultural SOS Juventude, organização parceira do Projeto Casulo.
Os motivos que nos mantiveram unidos foram: encontro de amigos, ampliação do currículo
profissional, curiosidade e melhor ocupação do tempo.
Após todo esse processo de formação de grupo e adaptação, iniciou-se uma capacitação, que
se deu por meio de debates e oficinas sobre alguns temas como, por exemplo, Cidadania, Ética,
Moral, Meio ambiente, Pesquisa e outros temas ligados com a comunidade.
Durante esse processo tivemos acesso aos dados do IBGE, e do programa de distribuição de
renda ”Renda Mínima” que mostrava uma pesquisa feita no distrito do Morumbi, onde os dados
pareciam não coincidir com a nossa realidade.
Através dos nossos olhares, constatamos que os dados não estavam de acordo com a nossa
comunidade, pois estes dados associavam a favela do Real Parque com a elite, igualando as condições
sociais, não havendo na favela falta de saneamento básico, mas sim, grandes casas de alvenaria com
muitos banheiros, onde viviam pessoas bem remuneradas, com ótimas condições de vida.
Assim enxergamos, o porquê de tanta falta de atenção do poder público nessa comunidade, pois
segundo estes dados o Real Parque não precisaria de um olhar mais especial, pois só haveria a elite
morando nessa região.
Como cita um dos observadores: ”Não sei, como conseguem deixar de ver este contraste social,
pois estamos inseridos no meio de uma das maiores vias de acesso à cidade de São Paulo, que é a
Marginal Pinheiros, só não enxerga a Favela quem não quer, o governo faz de conta que não
estamos aqui. Parece que somos inexistentes! Além disso, parte da elite quer nos excluir daqui.
19
Ao longo da capacitação foi brotando em nós a curiosidade de saber, quais eram os verdadeiros
dados da comunidade? Como estas pessoas que moravam aqui sobrevivem? Quais eram suas
necessidades? O que elas planejam para o futuro próximo, quais são suas expectativas? 
Levantamos hipóteses sobre problemas identificados pelo grupo e por lideranças da
comunidade, e a partir disso elaboramos o questionário populacional (questionário aplicado com
todos os responsáveis pelas residências, que pretendia conhecer os aspectos socioeconômicos das
famílias) e o amostral (tinha a pretensão de conhecer o aspecto cultural e as perspectiva de vida
dos moradores).
Começamos o nosso trabalho fazendo o mapeamento dos becos e vielas da favela, para facilitar
as nossas visitas e nos organizarmos melhor. Com a ajuda de alguns voluntários conseguimos
numerar todos os barracos para que depois pudéssemos construir um mapa da comunidade
contendo todas as ruas, vielas, casas e apartamentos do conjunto habitacional.
O mapeamento nos marcou bastante, porque os moradores achavam que éramos da prefeitura
e que estávamos fazendo este trabalho para retirar os barracos. Foi marcante para nós o contato
com realidade da comunidade, pois ao contrario dos dados que foram nos apresentados, podemos
constatar que aquelas informações estavam muito distantes da vida daquelas pessoas, e serviu para
que déssemos mais valor para nossa própria vida, nos fortalecendo para não deixar a nossa
pesquisa só no papel, mas para servir de instrumento para modificar a realidade.
O trabalho de campo começou com uma grande expectativa, todos nós estávamos envolvidos
numa grande mistura de sentimentos. A princípio ficamos um pouco envergonhados. Como bater na
porta de alguém que não tínhamos intimidade? O que falar e como falar?
Com o tempo, e depois de muito estudo e ensaio, ficamos mais a vontade, e percebemos o
quanto às pessoas são receptivas, o quanto à comunidade tem necessidade de conversar, falar sobre
seus sonhos e expectativas de vida. No entanto, havia moradores que não demonstravam interesse
ao serem entrevistados, de saber o porquê estávamos ali com pranchetas nas mãos, coletando seus
dados. Talvez porque é muito comum pesquisadores baterem a porta das casas buscando
informações pessoais e familiares, e isso não se reverter em uma intervenção que melhore a vida dos
moradores da comunidade.
Para nós o que ficou de experiência foi conhecer um pouco mais da cultura da nossa
comunidade, que às vezes de tão imersos que estamos nela, não conseguimos enxergar os traços
desta cultura. Também foram importantes as oficinas e atividades que realizamos ao longo de nossa
formação como pesquisadores sociais. Algo que também se evidenciou foi o total descaso de
políticas públicas que atendessem estes moradores, ações na área da educação, saúde, saneamento
básico, transporte e moradia.
Sem contar os momentos inesquecíveis que pudemos vivenciar a cada entrevista realizada,
situações que nos deixavam emocionados, indignados, mas com muita esperança. Foi muito
importante olhar de perto e ouvir atentamente os moradores do Real Parque e Jardim Panorama.
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21
Em decorrência da pesquisa realizada deu-se continuidade ao Observatório de Jovens, espaço
de estudo, reflexão e de propostas de intervenções e projetos comunitários. Por meio de uma
parceria com a Prefeitura de São Paulo (Programa Bolsa Trabalho), aumentamos nosso grupo e
passamos por uma nova formação que teve duração de cinco meses onde discutimos sobre
cidadania, políticas públicas, mídia, consumo, valores, e diferentes temas que antes eram distantes
da nossa realidade, e que depois de discutidos permitiram que ampliássemos nosso repertório
cultural,nossas visões e questionamentos.
Por fim, o término da formação elaboramos projetos de intervenção na comunidade relacionados
à educação, meio-ambiente, esporte, sexualidade, cultura hip-hop e outros.
Edson Salvino da Costa - 19 anos 
Renato dos Reis Nascimento - 17 anos
Diana de Sousa Sales - 19 anos
Verônica Santos Gomes - 19 anos
Marciana Balduino Souza - 20 anos
Viviane de Paula Gonzaga - 22 anos 
Juliana dos Santos Piauí - 19 anos 
Genivaldo dos Santos Piauí - 18 anos
Sidnei Cosme Candido Faria - 18 anos 
Francemildo P. da Silva - 17 anos
Karina Santos da Silva - 18 anos
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VIVENDO E APRENDENDO A CONVIVER
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É na família, na escola, na comunidade e no trabalho, que ao longo da nossa vida vamos
constituindo a nossa identidade em um processo de aprendizagem contínuo. Todas as coisas que
aprendemos e compartilhamos fazem parte daquilo que somos, pensamos e fazemos. 
As pessoas não nascem sabendo conviver umas com as outras, ao contrário, a convivência
social, por não ser natural, requer aprendizagens básicas que devem ser ensinadas,
aprendidas e desenvolvidas todos os dias. José Bernardo Toro (1995)
“APRENDER A NÃO AGREDIR O OUTRO”. 
Os homens precisam ser ensinados a não agredir, nem física nem psicologicamente, os outros
seres humanos. Não devemos aceitar com normalidade xingamentos, espancamentos, homem que
bate em mulher, irmão que desconhece irmão, polícia que agride cidadão, briga de gangues,
torcidas uniformizadas que se agridem mutuamente, violência no trânsito, discriminações, fome,
guerras ou injustiças. O que está por trás da valorização da não-agressão é o princípio da vida. Ao
valorizar a minha vida e a do outro, estou valorizando a humanidade.
“APRENDER A COMUNICAR-SE”. 
As pessoas devem exercitar a comunicação: é o pressuposto para o entendimento, para o
acordo, para a resolução de conflitos e para a convivência. Por meio da comunicação constrói-se
uma nova visão de mundo e uma nova “forma de olhar”. As linguagens oral, escrita e artística
devem ser entendidas como instrumentos para se viver melhor.
“APRENDER A INTERAGIR”. 
Interagir é agir em sintonia com o outro, aprendendo a concordar e discordar sem romper a
convivência. Respeitar as convicções políticas, religiosas, a condição social, a situação econômica,
o time de futebol, o jeito de vestir, de pensar e de agir do outro.
“APRENDER A DECIDIR EM GRUPO”. 
Decidir as coisas em grupo é mais difícil do que decidir sozinho. O exercício da democracia não
é fácil e exige muita disciplina; no entanto, são inúmeras as vantagens de se decidirem as coisas em
grupo. O comprometimento coletivo, a certeza de que todos puderam ser considerados, a rapidez
e eficiência nos resultados são exemplos dessas vantagens.
“APRENDER A SE CUIDAR”.
“Respirar bem fundo e devagar, que a energia tá no ar. Bom é não fumar, beber só pelo
paladar, comer de tudo que for bem natural, e só fazer muito amor, que amor não faz mal” (Joyce,
cantora e compositora da música popular brasileira). Novamente, estamos falando da valorização
da vida. Cuidar do corpo, da mente e do espírito é sinal de respeito consigo mesmo. É preciso
valorizar os hábitos de higiene, a prevenção contra doenças, valorizar o hábito de não fumar e a
prática de esportes e lazer.
Aprendendo e ensinando 
uma nova lição...
vem vamos embora 
que esperar não é saber, 
quem sabe faz a hora 
não espera acontecer. 
Geraldo Vandré
1
24
“APRENDER A CUIDAR DO LUGAR EM QUE VIVEMOS”. 
Os seres humanos vêm historicamente destruindo todos os recursos da Terra. A contaminação dos
rios e dos mares, a poluição do ar que respiramos, a extração descontrolada dos recursos minerais, a
devastação das matas e a extinção de algumas espécies de animais são exemplos da destruição dos
recursos naturais da Terra. Ao mesmo tempo que devemos compreender por que e para que alguns
homens estão destruindo esses recursos, devemos lutar pela preservação deles. O que está por trás
dessa luta é o compromisso com nossa vida e com a das futuras gerações. Cuidar do lugar onde
vivemos não se restringe a preservar os recursos da Terra: é no cotidiano que cuidamos da nossa casa,
da nossa rua, dos equipamentos públicos como escolas, hospitais, praças, parques, dentre outros.
“APRENDER A VALORIZAR O SABER SOCIAL”. 
Quando nascemos, muitas coisas já estão dadas, ou seja, já existe um conjunto de regras,
valores, práticas culturais e tradições que formam a história do grupo social. É assim que o
conhecimento produzido por uma geração de homens e mulheres é “transmitido” para as gerações
futuras e partilhado com elas. Por meio da família, da escola, da comunidade, da igreja, dos meios
de comunicação é que acessamos e compartilhamos esse conhecimento acumulado. Temos de
aprender a valorizar o saber social, mas devemos utilizar a reflexão e a crítica para questionar as
regras, valores e práticas culturais que nos foram passadas de uma geração a outra.
Orientações e Propostas para o Encontro
Objetivo:
O objetivo do encontro é possibilitar que os jovens comecem a tomar consciência de que fazem
parte de diferentes grupos no seu cotidiano (família, escola, amigos) e que existem algumas
aprendizagens que são básicas para a convivência social. A idéia central é incentivar a formação
de um grupo coeso, que vise um trabalho cooperativo, ao longo de todo o projeto.
Material Necessário: 
Papel sulfite, canetas, flip-chart ou lousa, pincel atômico ou giz.
Aquecimento intencional “Guardando nomes”
O educador pede para que os jovens sentem em roda. O educador pode começar o aquecimento
- fala seu nome e pede para o jovem sentado ao seu lado falar o nome do educador e depois seu
próprio nome, o terceiro jovem fala seu nome, o nome do segundo jovem e o nome do educador.
Isso se repete até que todos tenham falado seus nomes. Em grupos grandes os nomes são
repetidos inúmeras vezes. 
1
25
Comentários
Pergunte como foi fazer esta atividade e como ela contribuiu para a integração do grupo. Peça
comentários e declarações.
Comente as palavras mais utilizadas pelo grupo. 
Relacione as expectativas à proposta de trabalho do dia, que será a de trabalhar a convivência
em grupo.
Apresentação e Aproximação “Troca de Saberes”
O educador divide os jovens em duplas segundo alguns critérios (mesmo signo, mesma letra
inicial do nome, cor da roupa etc.). Após a formação das duplas pede-se para que cada um ensine
ao outro algo que saiba fazer e que possa ensinar ao outro. Dar aproximadamente 15 minutos para
a realização da atividade.
Depois que todos realizaram em suas duplas a “troca de saberes”, o educador pede para que
as duplas apresentem para o resto do grupo o que aprenderam com o colega. Surgem coisas
bastante inusitadas.
Depois de todos apresentarem, o educador poderá perguntar aos jovens o que acharam mais
interessante, como foi aprender e ensinar coisas novas, como se sentiram apresentando suas
aprendizagens para o coletivo, e caso não tenham conseguido fazer, pedir declarações do que
acharam mais difícil. O educador poderá anotar no flip-chart ou na lousa para tornar a visualização
mais fácil.
Leitura do texto “Vivendo e aprendendo a conviver”
Constitua pequenos grupos e peça que leiam o texto “APRENDENDO A CONVIVER” em seguida
os grupos apresentam para os demais suas discussões sobre o texto trazendo para o coletivo uma
música ou poesia que lembraram após a discussão do texto.
A leitura desse texto dá gancho para uma série de questões que podem ser trabalhadas ao longo
dos próximos encontros com os jovens. É Importante dar aos jovens a oportunidade para discutirem
entre si, tirarem suas dúvidas e curiosidades, de modo a tornar o encontro mais descontraído possível.
Este é um momento de interação inicial do grupo, deve ser bastante valorizado pelo educador.
Ainda nesse encontro você pode sugerir que produzam uma “Auto Carta”. Traga opoema da
Clarice Lispector, denominado “Eu sei, mas não devia” que faz uma reflexão sobre os problemas
individuais e resgata diversos temas sociais, e ambientais, tais como: poluição do ar, da água,
sonora, destruição ambiental, etc. 
1
Pequeno trecho do poema: 
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia...
A tomar o café correndo porque está atrasado...
A comer sanduíche porque não dá para almoçar...
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta...
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto...
A gente se acostuma à poluição...
A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma...
Após a leitura do poema propõe-se a Auto-Carta, ou seja, uma carta para si próprio. A idéia é
estimular uma reflexão interna sobre tudo que eles acham que se acostumam e não deviam, conforme
proposto pelo poema. A auto-carta deve ser entregue no último encontro dos participantes para que
eles reflitam novamente, lembrem do que escreveram, de como iniciaram e essencialmente de como
mudaram no percurso da proposta.
Impressões e Avaliações
A partir das atividades “guardando nomes”, “troca de saberes”, da leitura do
texto “Vivendo e Aprendendo a Conviver”, pergunte aos jovens “das aprendizagens
do dia qual foi mais significativa” “qual trecho da poesia foi mais marcante”. Peça
também para que um jovem registre, da maneira que achar mais interessante, as
coisas que aconteceram no encontro de hoje. No encontro seguinte um jovem lê as
anotações do diário de bordo, e o grupo define outra pessoa para registrar as
aprendizagens, brincadeiras, acontecimentos e “poesias” do dia.
1
Textos
A Escola e o Mundo Juvenil: Experiências e Reflexões. Ação Educativa. São Paulo: Ação Educativa, 2003.
Série em questão, no 1.
Culturas da Rebeldia: a Juventude em Questão. Carmo, Paulo Sérgio do, São Paulo:Senac, 2001. 
Vídeos
Juventude Transviada (1955, Dir. Nicholas Ray, dur. 111') - Clássico estrelado por James Dean. Trata-se de
um adolescente recém chegado a uma escola e seu esforço em se enturmar.
Sites
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). www.inep.gov.br
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede 
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VIVER UNS COM OS OUTROS, 
EM VEZ DE UNS CONTRA OS OUTROS
2
27
Todas as coisas que você conhece hoje, mesmo as mais simples, como a água da torneira, a
luz que você acende, a roupa que você veste, a televisão que você assiste, o jornal que você lê e
tantas outras são resultado da cooperação humana.
Ao longo da história da humanidade, o ser humano percebeu as vantagens de viver em
sociedade, ou seja, em troca da possível liberdade de fazer tudo o que se quer, passaram a
colaborar uns com os outros, cada um desenvolvendo uma habilidade específica e compartilhando
com os outros. 
Uns colhem o algodão, outros o transformam em fios, depois vem a tecelagem, a confecção e o
comércio, até que a roupa fique pronta para você usar. No entanto, as coisas não são tão simples
assim. Você sabe que tanto na vida cotidiana como na vida em sociedade existem brigas e conflitos?
Você já deve ter ouvido falar em patrões que exploram empregados ou em fazendeiros que exploram
trabalhadores rurais. E, até na sua vida cotidiana, há pessoas que batem em suas companheiras ou
companheiros e filhos, há brigas de gangues e de torcidas, entre outras. Isso porque as pessoas têm
interesses e opiniões diferentes que, às vezes, não são bem resolvidos. Esses interesses particulares
e coletivos estão presentes o tempo todo em nossa vida. No entanto, são inúmeras as vantagens de
se viver em sociedade, principalmente se cooperarmos uns com os outros. 
A convivência é uma condição absolutamente fundamental, tanto nas relações pessoais
cotidianas como nas relações entre grupos, classes e partidos políticos. A consideração do interesse
do outro - grupo ou indivíduo - tem um contraponto na garantia de que as minhas idéias,
pensamentos e reivindicações também devem ser levadas em conta. Valorizar a convivência não
significa mascarar as contradições de uma sociedade cada vez mais competitiva e excludente, nem
se anular. Tanto no plano social como no individual existem conflitos, contradições e lutas. Não se
trata de abafar o conflito. Muito pelo contrário, as transformações pessoais, sociais, políticas e
econômicas são resultado de muitas lutas em que entram em jogo interesses individuais e de diversos
setores da sociedade. No entanto, na maioria das vezes, só a partir das negociações e acordos é
que se tornam possíveis algumas mudanças.
Orientações e Propostas para o Encontro
Objetivo
O objetivo do encontro é possibilitar que os jovens comecem a se conhecer melhor, interagir,
pesquisar, promover a cooperação e o trabalho em equipe, respeitando as escolhas e as
diferenças individuais.
Material Necessário: 
Flip-chart, folhas de papel craft, cola, fita crepe, pincel atômico, canetinhas.
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2
Aquecimento intencional “Nós desfazendo nó”
A atividade proposta é denominada “dinâmica do nó”. Ela procura estimular temas geradores,
tais como: cooperação, competição, liderança, persistência nos objetivos, amizade, dentre outros. É
uma dinâmica de sensibilização muito importante para evidenciar a necessidade de se estimular
atividades coletivas e cooperativas.
Inicia-se a atividade formando uma roda, com os todos os participantes de mãos dadas. Orientam-
se os jovens a esticarem o máximo os braços de modo a formar uma grande roda, e encolherem o
máximo que puderem formando uma pequena roda. Neste segundo momento, desfazem-se as mãos
dadas e pede-se para guardarem na memória as pessoas que estavam ao seu lado direito e esquerdo.
Em seguida, pede-se que caminhem livremente, olhando para as pessoas e cumprimentando-as de
diferentes maneiras. Em momento propício, após 30 segundos aproximadamente, pede-se que fiquem
mais ou menos próximos uns dos outros. Depois disso instrua-os a restabeler as mãos, ou seja, dêem
as mãos para as pessoas que estavam ao seu lado esquerdo e direito na roda inicial (sem se
movimentar). Isso causará um verdadeiro Nó Humano. O objetivo é desfazer o nó formado sem
desatar as mãos, restabelecendo a roda inicial. Dê um tempo de 20 minutos. Ao final,
independentemente de terem conseguido desfazer o nó, discuta coletivamente o que sentiram ao
enfrentarem uma situação de dificuldade e que outras questões surgiram. Pergunte sobre as
dificuldades encontradas e deixe-os falarem livremente. A partir da fala dos jovens retome os temas
geradores e outras questões suscitadas.
Apresentação e Aproximação “Pra que servem as invenções humanas”
O educador deve escolher 6 aparatos científicos, por exemplo, televisão, telefone, lâmpada,
chuveiro elétrico, computador, avião, ou qualquer outro. Em seguida deve pesquisar quando foi
inventado o objeto: sua fabricação, seu funcionamento e o que faz o objeto escolhido funcionar,
além uma breve pesquisa sobre a história de cada uma dessas invenções. Coloque cada uma dessas
descrições em uma folha separada. É importante fazer esta pesquisa previamente para
se preparar para a atividade.
Divida os jovens em 5 subgrupos e peça para cada um escolher 1 dos aparatos científicos.
Distribua uma folha grande de papel craft e canetinhas para cada subgrupo e peça para
representarem graficamente esse objeto, descrevendo detalhadamente o que faz o objeto escolhido
funcionar, e para que e para quem serve esse objeto. Pergunte também quantas pessoas eles
estimam estarem envolvidas no processo de produção desse objeto, e quando e onde eles acham
que esse objeto foi inventado.
Depois que todos produziram seus cartazes, os subgrupos apresentam para o resto do grupo. O
educador entrega para cada subgrupo a folha de sua pesquisa, uma que não corresponda ao
objeto de estudo do grupo. O grupo com a folha compara e conversa com o grupo que produziu o29
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2
cartaz o que há de diferente entre o processo imaginado pelos jovens e o processo apresentado pelo
educador. Repete-se isso até que todos os subgrupos tenham falado sobre o seu cartaz e sobre o
cartaz de outro subgrupo.
O educador encerra esse momento perguntando aos jovens se, quando viam esses objetos,
imaginavam todas as coisas que foram discutidas na atividade.
Leitura do texto “Viver uns com os outros, em vez de uns contra os outros”
Promova uma leitura coletiva do texto “Viver uns com os outros, em vez de uns contra os outros”
deixando que os jovens falem livremente sobre suas impressões, e questões expressas no texto. A
leitura desse texto possibilita que você retome as questões suscitadas nas atividades “Nós
desfazendo nó” e “Pra que serve as invenções humanas”, promovendo um fechamento e
destacando, a importância dos processos cooperativos; as brigas, conflitos e interesses presentes o
tempo todo em nossa vida; a importância da reflexão sobre para que e para quem servem as coisas
que inventamos.
Impressões e Avaliações
Pergunte aos jovens se gostaram do encontro, destacando uma coisa nova que aprenderam
nesse dia. Pergunte também se caso eles fossem o educador, que coisas mudariam ou acrescentariam
no encontro de hoje.
Textos
Participação e Organizações Juvenis. Abramo, Helena. Recife: Fundação Kellog, 2004.
Vídeos
O Ódio (1995, Mathieu Kassovitz, dur. 96') - No dia seguinte a um incidente envolvendo policiais e
migrantes de um bairro de subúrbio de Paris, três jovens envolvidos no conflito refletem sobre suas
vidas, o contexto em que vivem, a dificuldade de construir estratégias de sobrevivência e os preconceitos
existentes no país. 
Sites
Cidade Escola Aprendiz - www.aprendiz.org.br
Um Vídeo, Outro Texto e um Lugar na Rede 
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3
DIVERSIDADE,
IGUALDADES 
E DIFERENÇAS
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Aquilo que chamamos de diversidade pode ser compreendido como "qualquer combinação de
indivíduos que são semelhantes em algumas formas e diferentes em outras”, é uma mistura coletiva
e positiva de todas as pessoas. Do nosso ponto de vista deve ser compreendida na perspectiva de
que as semelhanças nos unem e as diferenças nos enriquecem.
Falar de diversidade, igualdades e diferenças nas escolas, nas ong’s e em projetos sociais como
esse do Observatório que você está participando, implica aproveitar da melhor forma
possível as diferentes qualidades e os diferentes conhecimentos que as pessoas têm
em favor do grupo.
Imagine seu grupo como uma orquestra de música onde os instrumentos de corda (violino,
violoncelo), de sopro (oboé, flauta), e os de percussão (pratos, tambores), se complementam e
produzem uma harmonia dos sons. Da mesma maneira, entre os jovens do grupo, alguns são mais
organizados, outros têm mais facilidade para falar ou escrever, alguns são criativos e inventivos,
outros são obstinados e empreendedores. Sozinhos esses instrumentos podem produzir belos sons,
mas “coletivamente” podem produzir uma sinfonia. Assim também acontece com a gente.
Ser individualmente diferente significa ter características próprias, um jeito particular de ser,
viver, pensar e fazer. Entretanto essas diferenças não se expressam exclusivamente nos
comportamentos e habilidades de cada um, ela fica mais evidenciada quando falamos de diferenças
culturais, sociais, étnicas, religiosas e de gênero. É principalmente nesses casos que as diferenças
são entendidas como desigualdades, quando ser negro, mulher, homossexual, nordestino,
pobre, muçulmano é ser desqualificado e inferior aos outros. É quando esses traços, que nos tornam
diferentes passam a ser vividos de maneira valorativa, isto é, como se as pessoas valessem menos
em função dessas características, criando uma relação de submissão que os impede de ter as
mesmas oportunidades e os mesmos direitos. Outro exemplo diz respeito aos portadores de
necessidades especiais, que devido a ocorrência de sua deficiência (visual, auditiva, mental, de
locomoção etc.), são vistos como incapazes de enfrentar os desafios da vida como sonhar, amar,
estudar e trabalhar.
As lutas pelos direitos civis, políticos e sociais são efetivamente a melhor
maneira de mudar essas relações de submissão, em nome de algo que deve ser
igual para todos, para além de qualquer diferença. As diferentes classes e setores da
sociedade que sofrem com a questão das desigualdades devem conduzir suas reivindicações para
o espaço público (manifestações e passeatas, matérias para imprensa falada, escrita e televisiva). A
luta para diminuir as desigualdades deve ser vista como um compromisso de todos, é tão valiosa
quanto a busca do reconhecimento das diferenças e do aprendizado que elas nos proporcionam.
Muitas conquistas podem ser alcançadas com a valorização das diferenças. São elas que permitem
ver o mundo e nós mesmos de forma mais rica e diferente daquela que estamos acostumados. 
Somos todos iguais nesta noite
Pelo ensaio diário de um drama
Pelo medo da chuva e da lama
Pede a banda pra tocar 
um dobrado...1
um rock, um hip hop, 
um samba, um jazz, um frevo, 
um fado, um maracatu, um baião...
1 trecho música de Ivan Lins
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Orientações e Propostas para o Encontro
Objetivo:
O objetivo do encontro é compartilhar com os jovens que as diferenças e características
individuais devem ser valorizadas e desenvolvidas ressaltando que todos nós somos capazes de
aprender sempre. Essas diferenças e características não devem ser vistas como desigualdades que
desqualifiquem e inferiorizem os outros. As diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de
gênero, as características de cada um e de cada povo, são a maior riqueza da humanidade.
Material Necessário:
Flip-chart, pincel atômico, jornais e revistas
Aquecimento Intencional “Sem palavras”
Peça para que os jovens se dividam em trios.
O educador explica aos jovens que uma pessoa do trio deverá “convencer as outras duas a
carregá-la no colo”, “convencer as outras duas a trocarem seus sapatos”, “convencer as outras a
comprar sua caneta”, “convencer as outras duas a se abraçarem e dançarem”. Invente outras
situações de acordo com o número de trios de jovens que tiver. O jovem deverá convencer os outros
dois usando exclusivamente a mímica. O aquecimento deve durar até dez minutos.
Pergunte como foi fazer esta atividade, como foi ter que se comunicar sem usar palavras.
Comente com os jovens sobre pessoas que possuem diferentes limitações (visual, auditiva, mental,
de locomoção) e que apesar disso se comunicam, trabalham, estudam, sonham e amam. 
3
O que significa dizer que “somos todos iguais”?
Sermos iguais não significa que sejamos idênticos ou que estejamos sempre nas mesmas condições. Contudo,
além de qualquer diferença, todos temos uma mesma origem e uma mesma natureza; compartilhamos a mesma
condição de humanidade, a mesma aspiração de sermos livres, de satisfazer nossas necessidades básicas, de
amar e sermos amados, de buscar a felicidade. Ninguém é mais ou menos humano que o outro, ninguém tem mais
ou menos direito de viver humanamente que o outro.
Este é o significado profundo do princípio de igualdade entre os seres humanos. É um significado que não
ignora as diferenças individuais, culturais e de opção. Ao contrário, as considera e as transcende para chegar
ao que nos é comum: a dignidade e os direitos da pessoa.
Educação para a cidadania. Centro de Recursos Educativos
Instituto Interamericano de Direitos Humanos
O que significa dizer que “somos todos iguais”?
A cidade é tanto do mendigo
Quanto do policial
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Travesti, trabalhador, turista
Solitário, família, casal,
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Sem ter medo de andar na rua,
Porque a rua é seu quintal
Lenine e Arnaldo Antunes
Apresentação e Aproximação “Desigualdades e injustiças”
Constitua

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