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Fundamento Central da Economia Ecológica e Por uma Economia dos Ecossistemas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ENGENHARIA FLORESTAL
ECONOMIA DOS RECURSOS NATURAIS E DO MEIO AMBIENTE
Resumo: O Fundamento Central da Economia Ecológica e Por uma Economia dos Ecossistemas.
Raquel Macedo Marquete
GOIÂNIA- GO
OUTUBRO, 2016
O Fundamento Central da Economia Ecológica
1. Introdução 
Os capítulos desse livro trás inúmeras questões teóricas que separam a economia ecológica da convencional. O capitulo pode ser entendido como uma clarificação do caráter realmente paradigmático da ruptura com a economia convencional, cujo desdobramento prático é essencialmente a contestação do lugar nela ocupado pelo crescimento econômico. 
2. Pontos de partida 
A economia convencional a economia enxerga como um todo,e se chega a considerar a natureza, o meio ambiente, ou a biosfera, eles são entendidos como partes ou setores da macroeconomia: florestal, pesqueiro, mineral, agropecuário, áreas protegidas, pontos ecoturísticos, etc. Enquanto que a economia ecológica a macroeconomia é parte de um todo bem mais amplo, que a envolve e a sustenta, a economia é vista como um subsistema aberto de um sistema bem maior, que é finito e não aumenta. É materialmente fechado, mesmo que aberto para a energia solar.
 Daí a necessidade de se ter desde logo bem presente as distinções conceituais que separam os sistemas ditos abertos, fechados e isolados: Sistemas isolados são os que não envolvem trocas de energia nem matéria com seu exterior. O único exemplo razoável é o do próprio universo; Sistemas abertos regularmente trocam matéria e energia com seu meio ambiente, como é o caso da economia; Sistemas fechados só importam e exportam energia, mas não matéria. A matéria circula no sistema, mas não há entrada nem saída de matéria do mesmo. Na prática é o caso do planeta Terra, pois são irrisórios os casos de meteoros que entram ou de foguetes que não voltam. 
A Terra é atravessada por um fluxo de energia extremamente significativo, que é finito e não crescente, que entra na forma de luz solar e sai como calor dissipado. Não haveria limite à expansão da economia se ela não fosse um subsistema aberto desse imenso sistema fechado, como não procede, qualquer expansão da macroeconomia terá um custo. Ou seja, o crescimento econômico não ocorre no vazio, não é gratuito. O custo que pode se tornar mais alto que o benefício, gerando um “crescimento antieconômico”, contraponto o principio da economista convencional.
3. Metabolismo 
O chamado “diagrama do fluxo circular”, que tenta ilustrar a relação entre produção e consumo, o mais óbvio exemplo do reducionismo assumido pela economia convencional. Esse diagrama pretende mostrar como circulam produtos, insumos e dinheiro entre empresas e famílias em mercados de fatores de produção e de bens e serviços. 
O que apresenta uma visão falsa de qualquer economia, pois considera um sistema isolado no qual nada entra e do qual nada sai, e fora do qual não há nada. Não considera a absorção de materiais e a liberação de resíduos. Se a economia não gerasse resíduo e não exigisse novas entradas de matéria e energia, então seria capaz de produzir trabalho ininterruptamente consumindo a mesma energia e valendo-se dos mesmos materiais, sendo um reciclador perfeito.
É uma visão que física, particularmente a lei da termodinâmica. A segunda lei diz que a dissipação de energia tende a um máximo em sistema isolado. E energia dissipada não pode mais ser utilizada, é a lei da entropia: a degradação energética tende a atingir um máximo em sistema isolado, como o universo. E não é possível reverter esse processo. Isso quer dizer que o calor tende a se distribuir de maneira uniforme por todo o sistema, e calor uniformemente distribuído não pode ser aproveitado para gerar trabalho. Há entrada de energia e materiais, mas nem toda energia pode ser utilizada. A energia e matéria aproveitáveis são de baixa entropia e que, quando utilizadas na manutenção da organização do próprio sistema, são dissipadas, se tornando de alta entropia. Os organismos vivos existem, crescem e se organizam importando energia e matéria de qualidade de fora de seus corpos, e exportando a entropia. 
O sistema econômico não pode ser entendido como um moto-perpétuo, pois econômica se alimenta de energia e matéria de baixas entropias, e gera como subprodutos resíduos de alta entropia, mantém sua organização material e cresce em escala: é aberto para a entrada de energia e materiais de qualidade, mas também para a saída de resíduos.
É inaceitável que ainda o ensino de economia insiste na dissociação entre o processo econômico e a ecossistêmica, ignorando esse fundamento metabólico da relação que existe entre eles. O elemento essencial da noção de metabolismo sempre foi à idéia de que ele constitui a base que sustenta a complexa teia de interações necessária à vida. 
O metabolismo socioambiental capta os fundamentos da existência dos seres humanos como seres naturais e físicos, com destaque para as trocas energéticas e materiais que ocorrem entre os seres humanos e seu meio ambiente natural. De um lado, o metabolismo é regulado por leis naturais que governam os vários processos físicos envolvidos. De outro, por normas institucionalizadas que governam a divisão do trabalho, a distribuição da riqueza, etc.
4. Mecânica versus termodinâmica 
A economia convencional baseia se também na mecânica clássica. Parte do princípio de que é possível entender os fenômenos, independente de onde, quando e por que ocorrem. 
Um pêndulo simples é um bom exemplo. Será igual aqui ou no Japão, hoje ou daqui a mil anos. Não importa quem deu início ao movimento. É possível prever a posição exata do pêndulo com base em poucas informações. É necessário um princípio de conservação que permita manter certa identidade ao longo do tempo. A energia do pêndulo em seu ponto mais alto é chamada de potencial. À medida que cai, tal energia vai se transformando em energia cinética. No ponto mais baixo a energia cinética é máxima. A energia mecânica total é igual à energia cinética mais a energia potencial. Um tipo de energia se transforma totalmente em outro, mas considera-se que o total da energia do pêndulo não se altera. Assim, é possível prever sua posição exata. Deve, portanto, permanecer constante para que se saiba onde estará o pêndulo. 
Entusiasmados pela elegância e com a previsão da mecânica, os pioneiros da economia moderna consideraram que no sistema econômico que se mantém constante, o valor seria como a energia. Sobraria, assim, o problema da alocação desse valor por meio das trocas. A lei da conservação da energia sustenta que em um sistema isolado a quantidade de energia permanece constante. 
A segunda lei da termodinâmica é que a entropia do universo aumenta. A forma embrionária da entropia esta na idéia de que as mudanças no caráter da energia tendem a torná-la inutilizável. A relação entre a energia desperdiçada ou “perdida” e a energia total do sistema é considerada a entropia produzida. Apenas a segunda lei da termodinâmica define a flecha do tempo, explicando a direção de todos os processos, física ou quimicamente espontâneos. Sob esta ótica, como a dissipação de calor é inerente a toda transformação energética, qualquer que seja o sistema só pode ter uma direção no tempo. 
A mecânica, ao contrário, parte do princípio de que todos os movimentos são reversíveis, e por isso não consegue lidar com o movimento unidirecional do calor. Não há passado nem futuro. A mecânica abstrai o tempo histórico, a dissipação irreversível, para poder se preocupar apenas com os aspectos reversíveis da locomoção. 
A economia convencional continua presa à física do século XIX. Assim, a proximidade com a mecânica impediu que o estudo do processo econômico fosse permeado pela atenção às relações biofísicas com seu entorno. Se a economia capta recursos de qualidade de uma fonte natural, e depois devolve resíduos sem qualidade à natureza, então não é possível tratá-la como um ciclo isolado. 
5. O processo produtivoA economia convencional ignora as diferenças qualitativas entre fatores de produção. É necessário diferenciar o que entra e sai relativamente inalterado do processo produtivo daquilo que se transforma dentro dele. Em intervalo de tempo curto não se alteram os chamados “fundos”: patrimônio natural (terra), recursos humanos (trabalho) e meios de produção (capital). Os três fatores que passaram a ser chamados de “capital natural/ecológico”, “capital humano/social” e “capital físico/construído”. Enquanto que os denominados fluxos (a energia e os materiais advindos diretamente da natureza ou de outro processo produtivo) se transformam em produtos finais, em resíduos e em poluição. 
Há, pois, fluxos de entrada (materiais e energia) e de saída (produtos e resíduos) no processo produtivo. 
Um dos problemas da abordagem convencional de produção está em reduzir o processo a uma questão de alocação, tratando todos os fatores como se fossem de natureza semelhante, supondo que a substituição entre eles não tem limites, e que o fluxo de recursos naturais pode ser facilmente e indefinidamente substituído por capital. Há substituição quando um fator de produção se torna relativamente mais escasso do que os outros e, portanto, mais caro. Se o preço de um recurso natural aumenta, sua participação relativa no processo produtivo diminui. 
O papel desempenhado pelas duas categorias de fatores é radicalmente diferente em qualquer processo de transformação. Pode ser que um aumento na quantidade disponível de determinado fator, como o capital, na ausência de outros, como a energia, não represente um acréscimo da atividade considerada. 
O conhecimento tecnológico é incorporado às máquinas e equipamentos, geralmente considerando que o capital “substitui” os outros fatores, o que possibilita a possível existência de melhorias no desempenho do fator capital e conseqüentemente uma menor utilização de fatores, como trabalho e recursos naturais, por unidade de serviço prestado. No entanto, é problemático, pois uma máquina mais eficiente em termos de transformação de recursos naturais em bens e serviços diminui o desperdício, mas redução na geração de resíduos não é o mesmo que substituição. A própria máquina mais eficiente, sendo adicional, exigiu a utilização de recursos materiais e energéticos em sua produção. São, portanto, as duas maiores distorções da abordagem convencional ignorar o fluxo inevitável de resíduos e apostar na substituição sem limites dos fatores. 
6. Otimismo
Os recursos naturais transformados pelo processo econômico são caracterizados pela sua baixa entropia. Pode–se dizer que a baixa entropia é uma condição necessária, ainda que não suficiente, para que algo seja útil para a humanidade. No entanto, a econômica convencional insiste que o processo pode continuar e até crescer sem a necessidade de recursos de baixa entropia. Isso está relacionado à fé incondicional no poder redentor da tecnologia. Porém a tecnologia não depende só da engenhosidade humana e preços relativos, e ainda que possa promover qualquer substituição que se mostre necessária, o que não corresponde a realidade. A visão da economia convencional sobre a sustentabilidade ambiental trata os fatores de produção sem qualquer distinção qualitativa, e por isso considerando-os substitutos. Seu critério é que o consumo per capita possa ser sustentado indefinidamente e no nível mais elevado possível. Na melhor das hipóteses, alguns economistas convencionais que se dedicaram à questão ambiental chegaram a admitir a necessidade de conservação, em vez de substituição, de todo o capital natural, são exceções. 
Para a maioria dos economistas convencionais a soma dos chamados “três fatores” deve ser mantido constante. Dada a disponibilidade finita de alguns cursos naturais, é preciso satisfazer duas condições: possibilidade de haver progresso técnico que poupe recursos, e a viabilidade de trabalho e capital substituírem tais recursos na produção. 
A abordagem convencional vê o capital natural e o capital manufaturado como substitutos. Não há fator limitante. A economia ecológica, ao contrário, vê complementaridade entre patrimônio natural e meios de produção (capital). O que for mais escasso será o limitante do aumento da produção. Fatores limitantes podem ser principalmente as fontes de energia utilizável e a capacidade de o ambiente absorver resíduos.
 	Referente às questões de sobrevivência e qualidade de vida da humanidade no longo prazo, o otimismo dos economistas advém da preocupação exclusiva com os efeitos de determinados impactos no crescimento econômico, a questão da sustentabilidade, portanto, significa saber apenas se o crescimento na produção de bens e serviços com valores monetários pode se sustentar no curto prazo mesmo que alguns insumos sejam finitos. 
A defesa do crescimento econômico chega ao ponto de menosprezar a importância e singularidade da agricultura. Economistas consagrados chagaram a afirmar que um colapso da agricultura poderia não ser problema enquanto houvesse crescimento na produção de outros bens e serviços de valor monetário equivalente ou superior, pois tal setor contribui com ínfima parcela do PIB. É o mesmo que dizer que, como o coração humano representa apenas 5% do peso do corpo, seria possível viver sem ele. A abordagem, na análise da questão das mudanças climáticas considera que os serviços prestados pela natureza à agricultura, como o clima equilibrado, poderiam ser “substituídos” sem prejuízo ao processo econômico. Apesar de fundamentais, são serviços gratuitos, muito dificilmente passíveis de precificação ou titularidade e, principalmente, insubstituíveis. 
Não se sabe qual o ponto de impacto a partir do qual os danos ao ambiente serão irreversíveis, pode ser desastrosa. A análise apenas monetária de questões referentes à sustentabilidade ambiental do processo de desenvolvimento da a impressão que o dano pode ser revertido se houver dinheiro o suficiente. É fundamental que se avalie os custos ecológicos do crescimento com base em indicadores biofísicos. 
7. Ceticismo 
São duas as fontes mais básicas para a reprodução material da humanidade: os estoques terrestres de minerais e energia, mais o fluxo solar. Os estoques terrestres são limitados e abastecem a base material para as manufaturas, enquanto que a fonte solar é praticamente ilimitada em quantidade total, mas altamente limitada em termos da taxa que chega à Terra, está responsável pela manutenção da vida. Pode-se ter total controle sobre a utilização dos estoques terrestres, mas não sobre o fluxo solar. É possível determinar o ritmo de consumo de minérios e combustíveis fósseis, mas sempre tendo em vista que são recursos finitos. Portanto, taxa de utilização determinará em quanto tempo esses insumos estarão inacessíveis.
O segundo aspecto da reprodução material é a produção de resíduo que gera um impacto físico geralmente prejudicial direta ou indiretamente à vida humana. Deteriora o ambiente de várias maneiras. Exemplos: poluição por mercúrio e a chuva ácida, o lixo radioativo, e a acumulação de CO2 na atmosfera. Os resíduos vêm se revelando um problema anterior à escassez de recursos devido a seu acúmulo e visibilidade na superfície. Nesse contexto, o aquecimento causado por atividades humanas tem provado ser um obstáculo maior ao crescimento econômico sem limites do que a finitude dos recursos acessíveis.
O fato é que o crescimento da produção exige mais energia e materiais do ambiente, e libera mais resíduos na outra ponta. Partindo dessa constatação, surgiram três visões básicas sobre o futuro do processo econômico: a “economia do astronauta”, o “decrescimento” e a “condição estacionária”, ligadas respectivamente aos três mais importantes “genitores” da economia ecológica: Kenneth Boulding (1910-1993), Nicholas Georgescu- Roegen (1906-1994) e Herman Daly (1938-).
	Kenneth Boulding teve grande importância na constituição de uma teoria geral dos sistemas junto com outros cientistas. Sua contribuição foi a de re-conectar a economiacom a ética e com a base material que sustenta o processo, a natureza. Publicou um artigo que se tornou clássico, na linha de pesquisa interdisciplinar que envolvia economia e ecologia. 
	Para Boulding, o sucesso da economia não está relacionado ao aumento da produção e do consumo, mas sim às mudanças tecnológicas que resultem na manutenção do estoque de capital com a menor utilização possível de recursos naturais. O fluxo metabólico da humanidade é algo que deve ser minimizado e não maximizado. No futuro não haverá escolha: o modus operandi do processo econômico será um sistema circular auto-renovável em termos materiais, sendo necessário apenas o aproveitamento econômico da entrada de energia solar. Se o mundo é um sistema fechado para materiais, mas aberto para entradas e saídas de energia, então seria, segundo Boulding, como uma nave espacial. Daí a expressão “economia do astronauta”. Em contraste com o que prevaleceu ao longo da história: a “economia do cowboy”, que está relacionada à exploração de novos recursos e à expectativa de expansão das fronteiras que delimitam os domínios do homem.
No mesmo ano desse influente artigo de Boulding, o romeno Nicholas Georgescu-Roegen, foi quem mostrou que a abordagem convencional da produção, base das teorias de crescimento econômico, viola as leis da termodinâmica. Publicou uma coletânea de artigos sobre a teoria do consumidor, que haviam sido publicados em revistas científicas. Depois desenvolvido com muito mais rigor no livro The entropy law and the economiprocess, de 1971, a principal referência bibliográfica sobre o que está sendo chamado aqui de fundamento central da economia ecológica.
Segundo a termodinâmica, uma parte da energia e do material de baixa entropia transformados se torna imediatamente resíduo, isso significa que não se pode alcançar uma eficiência produtiva total. O desperdício vai depender da tecnologia. Avanços na tecnologia de produção significam menos desperdício, com maior proporção de material e energia de baixa entropia incorporada aos bens finais. Mas, uma vez alcançado o limite termodinâmico da eficiência, a produção fica totalmente dependente da existência do provedor de recursos adicionais, que é o capital natural. À medida que se chega mais perto desse limite a dificuldade e o custo de cada avanço tecnológico aumentam.
	No limite, energia e matéria de baixa entropia são os únicos insumos do processo econômico. O capital e trabalho na produção, também dependem de recursos de baixa entropia para serem produzidos e mantidos. Já os resíduos de alta entropia representam o produto final do processo econômico, uma vez que o único produto material da fase de consumo é o resíduo entrópico que retorna ao ambiente.
Para Georgescu-Roegen, o único fator limitante do processo econômico é a natureza. Além do mais, energia não é o único fator necessário à produção, materiais como os minérios são utilizados em larga escala no processo industrial, e não é realista imaginar a reciclagem total daquilo que foi dissipado.
Se a economia dependesse inteiramente da utilização direta da radiação solar e reciclasse os materiais dissipados pelo processo industrial (economia do astronauta de Boulding) poderia, em tese, operar como um ciclo fechado. Porém, para Georgescu-Roegen, a economia do astronauta está fundada no mito de que todos os minérios passarão à categoria de recursos renováveis, mas a reciclagem total dos materiais não seria possível na prática. Logo, o processo econômico necessariamente será declinante a partir de determinado momento.
Para Herman E. Daly, os argumentos de Kenneth Boulding e Georgescu-Roegen uma vez levados a sério, é impossível ignorar os custos e benefícios finais do processo econômico, teria como conseqüência principal a rejeição ao dogma do crescimento. Contudo, Daly resgata da condição estacionária (CE), entendida como aquele estado em que a quantidade de recursos da natureza utilizada seria suficiente apenas para manter constantes o capital e a população. Os recursos primários só seriam usados para melhorar qualitativamente os bens de capital. Essa lógica significa obter desenvolvimento sem crescimento material: a escala da economia é mantida constante enquanto ocorrem melhorias qualitativas.
Essas mudanças qualitativas estão relacionadas com a eficiência com que o capital gera serviços que está relacionada ao fluxo de serviços de ima dada quantidade de capital construído; e da eficiência no uso de recursos naturais para manutenção do capital, relacionada ao fluxo biofísico do meio ambiente necessário para manter esse capital. Mas o aumento dessas duas eficiências tem um limite, o que faz com que o desenvolvimento no estado estacionário só possa ser definido pelo aumento da capacidade de conhecimento dos seres humanos.
A proposta recebeu severas críticas de Georgescu-Roegen, que a considerou um “mito de salvação ecológica”. Ela transmite a idéia de que seria possível manter indefinidamente os padrões de vida e de conforto já alcançados nos países abastados, e de que o fim do crescimento significaria uma vitória sobre a entropia. Dado o caráter inevitável do decrescimento, conseqüência da limitação material da Terra, propõe que esse processo seja voluntariamente iniciado, em vez de vir a ser uma decorrência da escassez de recursos. Quanto mais cedo começar tal encolhimento da economia, maior será a sobrevida da atividade econômica da espécie humana.
Todavia, a condição estacionária de Daly está fortemente ancorada na noção que a partir de certo ponto o crescimento deixa de ser benéfico e passa a comprometer seriamente a possibilidade de que as gerações futuras usufruam qualidade de vida semelhante. Dependendo do nível em que forem mantidos constantes estoques de capital manufaturado, a capacidade do capital natural prover recursos e serviços além de absorver resíduos não é comprometida.
É justamente essa ênfase na questão da escala, do tamanho físico da economia frente à ecossistêmica, que diferencia a economia ecológica. Como a economia não cresce no vácuo e sim em um sistema finito e não-crescente, há um custo para tal crescimento. O custo advém do fato de a economia ser um sistema dissipativo sustentado por um fluxo metabólico. 
Tal fluxo tem início com a utilização e conseqüente escasseamento dos recursos naturais, e termina com o retorno da poluição ao ambiente, o que não são bens econômicos. A economia em crescimento degrada as fontes de recursos e os sorvedouros de resíduos, que são a base material que sustenta a atividade humana. 
Tais custos ecológicos associados ao aumento da escala do sistema econômico não são computados pelas contabilidades nacionais e nem são passíveis de valoração monetária. Se forem maiores que os benefícios gerados pelo crescimento, este estará sendo antieconômico. A economia ecológica leva em conta todos os custos (não apenas os monetários) do crescimento da produção material. É inteiramente cética sobre a possibilidade de crescimento por tempo indeterminado, e mais ainda quanto à ilusão de que o crescimento possa ser a solução para os problemas ecológicos.
8. Conclusão
É necessário o otimismo da vontade contido no ideal de desenvolvimento sustentável seja atrelado ao ceticismo da razão, para usar a expressão de Romain Rolland (1866-1944) muitas vezes atribuída a Antonio Gramsci (1891-1937). E esse ceticismo da razão só está presente na economia ecológica, não na convencional.
A qualidade de vida de futuras gerações da espécie humana depende de sua pegada ecológica. Dos modos de utilização de recursos naturais finitos e da acumulação dos efeitos prejudiciais das decorrentes diversas formas de poluição ambiental. É por isso que algum dia a continuidade do desenvolvimento humano exigirá que a produção material se estabilize e depois decresça. Ou pelo menos, daquilo que economistas clássicos chamaram de “condição estacionária”: situação na qual a melhoria da qualidade de vida não mais depende do aumento de tamanho do sistema econômico. 
As atividades econômicassempre foram indissociáveis dos ecossistemas. É devido a capacidade dos ecossistemas de prover recursos e serviços e ainda absorver os resíduos que o desenvolvimento humano é possível. 
Por isso, discutir o prazo de validade da espécie humana na Terra requer atenção ao caráter metabólico de seu processo de desenvolvimento. Ao considerar que a lei da entropia é algo muito específico e pouco significativo, a economia convencional ignora que o problema ecológico surge como uma falha no metabolismo socioambiental. A economia ecológica não se ilude quanto à possibilidade do sistema econômico aumentar em tamanho indefinidamente.
Um dos maiores sucessos adaptativos do homem, desde a Revolução Industrial, foi a habilidade de extrair a baixíssima entropia contida nos combustíveis fósseis. Porém foi a principal causa do aquecimento global, fenômeno que, paradoxalmente, dificultará a adaptação da espécie. Muito antes de representarem um problema, os impactos ambientais exigirão restrições ao crescimento da atividade econômica.
O crescimento econômico medido pelo PIB o que é radicalmente questionado pela economia ecológica. Nem sempre o crescimento é mais benéfico que custoso para a sociedade, a partir de certo ponto, o aumento da produção e do consumo pode ser antieconômico. O fundamento central da economia ecológica não se refere, portanto, à “alocação de recursos”, ou à “repartição da renda”, mas, a questão da escala. Isto é, do tamanho físico da economia em relação ao ecossistema em que está inserida. Para a economia ecológica existe uma escala ótima além da qual o aumento físico do subsistema econômico passa a custar mais do que o benefício que pode trazer ao bem estar da humanidade.
Por uma Economia dos Ecossistemas
Tem-se intensificado o debate sobre as conseqüências nefastas do aumento sem precedentes da escala do sistema econômico sobre o capital natural da Terra. Análises globais têm apontado uma trajetória de degradação dos ecossistemas terrestres, reduzindo os benefícios derivados para o bem-estar humano e colocando em risco a própria sustentabilidade do sistema econômico e o bem-estar das gerações futuras. 
Pesquisadores de várias áreas demonstram suas preocupações com a manutenção das condições de vida no planeta vis-à-vis a contínua destruição do meio natural. Artigos afirmam que pode estar sob grave ameaça a longa era de estabilidade – conhecida como Holoceno – em que a Terra foi capaz de absorver de maneira mais ou menos suave perturbações internas e externas. Um novo período, o Antropoceno, vem emergindo desde a Revolução Industrial, e seu traço característico é a centralidade das ações humanas sobre as mudanças ambientais globais.
A era atual enfrenta o que se pode chamar de crise do regime socioeconômico-ecológico, considerado como o conjunto das regras econômicas e sociais dentro de seu contexto ecológico mais amplo. Seu enfrentamento requer a reconsideração do modo como a humanidade vem interagindo com o meio ambiente, e a Economia tem especial relevância para a busca de soluções razoáveis. 
Apesar de sua proeminência, a teoria econômica convencional de cunho neoclássico não oferece um aparato teórico e metodológico adequado para tratar os desafios colocados, não reconhece a problemática do capital natural enquanto obstáculo para o aumento do sistema econômico, uma vez que o progresso tecnológico e a possibilidade de substituição entre os diversos tipos de capital assegurarão que sua perda não danifique a atual engrenagem econômica. E ainda, sua base de inspiração mecanicista sugere que todos os fenômenos são reversíveis e que não há possibilidade de perdas irreparáveis, não vê o sistema econômico como inserido em um sistema maior que o sustenta, o que ratifica a falácia do argumento de expansão econômica contínua.
Por último, o mainstream neoclássico é profundamente falho em reconhecer a complexidade dos nexos entre o sistema econômico e sua base ecológica. É como se o esquema analítico convencional fosse atormentado por um avassalador fundamentalismo reducionista que o impede de lidar com a natureza complexa e adaptativa dos sistemas econômico e ecológico. Apenas por meio da operacionalização do conceito de transdisciplinariedade é que poderá haver esquemas analíticos mais apropriados para tratar de uma temática que é inerentemente complexa e transversal. Para tal é necessário que a questão seja tratada por abordagens que reconheçam, primeiramente, sua essencialidade para a vida humana e suas especificidades enquanto entidades majoritariamente insubstituíveis.
Capital natural, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano
No fim do século 20 é que o termo começou a chamar atenção ao problema da depleção dos recursos naturais e passou a ser um conceito formal e técnico, utilizado juntamente com definições de outros tipos de capital.
O capital natural pode ser considerado como o estoque de recursos naturais existentes que gera um fluxo de serviços tangíveis e intangíveis direta e indiretamente úteis aos seres humanos, conhecido como renda natural. Em outras palavras, o capital natural é a totalidade dos recursos oferecidos pelo ecossistema terrestre que suportam o sistema econômico e que contribuem direta e indiretamente para o bem-estar humano. Essa definição explicitamente considera a ideia de que o sistema econômico é um subsistema de um sistema maior que o sustenta e que lhe fornece os meios necessários para expansão. Vários autores criticam a noção de natureza como um tipo de capital. 
O conceito de capital natural utilizado considera todos os fluxos de benefícios tangíveis e intangíveis provenientes de todos os recursos naturais e que são direta e indiretamente apropriáveis pelo homem. Esta definição confere ao capital natural um caráter multidimensional, no qual dimensões ecológica, econômica e sociocultural estão relacionadas e interagem entre si para a promoção do bem-estar.
Os fluxos de benefícios gerados pelo estoque de capital natural têm sido referidos como serviços de ecossistemas, cuja importância para o sistema econômico e o bem-estar humano vem sendo reconhecida. O conceito de serviços ecossistêmicos refere-se aos benefícios tangíveis (alimentos e madeira, por exemplo) e intangíveis (beleza cênica e regulação do clima, por exemplo) obtidos pelo homem por meio das dinâmicas e complexas interações entre os diversos componentes do capital natural. Pelos benefícios tangíveis e intangíveis (fluxo de materiais e serviços, respectivamente), é necessário que se entenda a natureza dos recursos que compõem o capital natural (componentes do capital natural). 
A distinção entre a natureza dos componentes do capital natural é importante no sentido de que apenas a partir de um correto entendimento da dinâmica de cada tipo de recurso é que há condições de se tomar ações para proteção do capital natural. 
Recursos estoque-fluxo são aqueles recursos do capital natural que são incorporados ao produto final. Produzem um fluxo material que pode ser de qualquer magnitude, e o estoque que gerou esse fluxo pode ser usado a qualquer taxa. Os recursos fundo-serviço, por sua vez, são aqueles que não são incorporados ao produto final. Eles produzem serviços a taxas fixas e estoque-fluxo, os quais são completamente “gastos” no processo de produção, os recursos fundo-serviço são apenas depreciados e podem ser reutilizados em um novo ciclo de produção. 
As complexas e dinâmicas interações entre os recursos estoque-fluxo e fundo-serviços componentes do capital natural, cuja totalidade pode ser chamada de “elementos estruturais” do capital natural, produzem o que é conhecido como “funções ecológicas” ou “funções ecossistêmicas”. Estas incluem transferência de energia, ciclagem de nutrientes e da água, regulação de gases, regulação climática, etc. 
O conhecimento humano sobre como as funções ecossistêmicas emergem do funcionamento e da interação dos elementos estruturais do capital natural é muito limitado, o que dificulta a antecipação dos impactos das atividades humanas sobre taisfunções. 
O raciocínio presente é que “não se pode criar alguma coisa do nada”. Esse fato, por mais evidente que possa parecer, é enunciado pela Primeira Lei da Termodinâmica e muitas vezes não é corretamente incluído em esquemas analíticos mais tradicionais. Toda produção econômica requer um fluxo físico de recursos naturais gerados pelo capital natural, proveniente dos seus componentes estruturais, os quais também podem ser fundos para a produção de outros benefícios (intangíveis) úteis para o ser humano. Assim, a depleção dos componentes estruturais do capital natural reduz os benefícios tangíveis (fluxo de recursos naturais) e compromete as funções ecossistêmicas e a capacidade de geração dos benefícios intangíveis.
Há um caráter interdependente entre estrutura e funções ecológicas, o que pressupõe a análise conjunta dessas duas categorias. O problema com análises convencionais é que elas enfocam apenas uma dimensão dos componentes do capital natural, mas não levam em conta as interconexões existentes entre estrutura e funções do capital natural. 
Outra classificação dos componentes do capital natural diz respeito à renovabilidade dos recursos. Recursos abióticos, como combustíveis fósseis e minerais, são virtualmente considerados como não renováveis, embora alguns minerais sejam recicláveis. Tais recursos são considerados como inventários e sua liquidação é função da demanda e das decisões da geração atual. Quanto aos recursos renováveis, estes são a parte do capital natural que tem capacidade própria de renovação a partir do consumo direto ou indireto de energia solar. Todavia, sua renovabilidade é comprometida quando a taxa de extração supera a reprodução natural do elemento do capital natural.
Uma preocupação central é em relação aos benefícios intangíveis gerados pelo capital natural, uma vez que tais benefícios são insubstituíveis na prática. A crescente escassez relativa do capital natural alude à necessidade de adoção de políticas que criem incentivos para sua preservação. Muito embora haja um amplo consenso político sobre a necessidade de um “desenvolvimento sustentável”, ainda existem controvérsias sobre o tipo de capital que se deve sustentar que pressupõe a igualdade de oportunidades socioeconômicas e ecológicas entre a geração corrente e as gerações futuras. Há aqueles que advogam ser possível substituir capital natural por capital construído pelo homem, originando o conceito de “sustentabilidade fraca”, o progresso tecnológico seria capaz de relativizar os eventuais obstáculos colocados pela escassez do capital natural ao crescimento econômico. Mas aos que discordam alguns elementos do capital natural não são substituíveis por outras formas de capital, o que exige uma postura de manutenção do estoque do capital natural. Essa postura é conhecida como “sustentabilidade forte” e parece a mais pertinente conduta para tratar de recursos que envolvem alto grau de incerteza ou mesmo ignorância. 
A hipótese de quase perfeita substituição entre o capital natural e o capital construído pelo homem, adotada pelos otimistas tecnológicos, tem pouco suporte lógico e prático. Se esse fosse o caso, não haveria necessidade de produção de capital construído pelo homem, uma vez que o capital natural já está disponível. São, portanto, complementares e não substituíveis entre si. Os adeptos da “sustentabilidade forte” consideram que as possibilidades de substituição são bastante limitadas, principalmente quando são levados em conta componentes do capital natural que geram serviços de suporte à vida que são impossíveis de serem substituídos, “capital natural crítico”, para o qual não existe substituto, e a condição necessária para a sustentabilidade é a manutenção desse estoque ao longo do tempo.
Referente ao debate sobre a “substituibilidade” ou complementaridade entre os diversos tipos de capital, propõem uma estratégia de precaução cética, que assume a possibilidade de ocorrência de problemas futuros relacionados à falta de capital natural, mas que deixa abertas as possibilidades de que esses problemas sejam solucionados e de que não sejam tão graves como é inicialmente previsto. Essa posição advoga o gerenciamento apropriado dos riscos, em linha com seus potenciais benefícios, custos e incertezas, não comprometendo a saúde das populações humanas e dos ecossistemas. 
A natureza interdependente das funções ecossistêmicas faz com que a análise de seus serviços requeira a compreensão das interconexões existentes entre os seus componentes, resguardando a capacidade dinâmica de os ecossistemas gerarem seus serviços. A vida no planeta Terra está intimamente ligada à contínua capacidade de provisão de serviços ecossistêmicos. A demanda humana por serviços vem crescendo rapidamente, ultrapassando, em muitos casos, a capacidade dos ecossistemas de fornecê-los. 
Seguindo a taxonomia da Avaliação do Milênio, os serviços ecossistêmicos podem ser classificados em quatro categorias, a saber: i. serviços de provisão (ou serviços de abastecimento); ii. serviços de regulação; iii. serviços culturais; e iv. serviços de suporte. Os serviços de provisão incluem os produtos obtidos dos ecossistemas, tais como alimentos e fibras, madeira para combustível e outros materiais. 
Sua sustentabilidade não deve ser medida apenas em termos de fluxos, isto é, quantidade de produtos obtidos em determinado período. Deve-se proceder a uma análise que considere a qualidade e o estado do estoque do capital natural que serve como base para sua geração, atentando para restrições quanto à sustentabilidade ecológica. 
Os esforços no sentido de aumentar a produção de alimentos estão sendo feitos, as quais geralmente envolvem o incremento no uso de água e fertilizantes, além de frequentemente envolver expansão de área cultivada, impactam ou degradam outros serviços, incluindo a redução da quantidade e qualidade de água para outros usos, assim como o decréscimo da cobertura florestal e ameaças à biodiversidade.
Quanto aos serviços de regulação, estes se relacionam às características regulatórias dos processos ecossistêmicos, como manutenção da qualidade do ar, regulação climática, tratamento de resíduos, regulação de doenças humanas, regulação biológica, polinização e proteção de desastres (mitigação de danos naturais). Diferentemente dos serviços de provisão, sua avaliação é feita pela análise da capacidade de os ecossistemas regularem determinados serviços.
Espera-se que o futuro de alguns serviços, como a capacidade de absorção de carbono (associado com a regulação climática), seja grandemente comprometido por mudanças esperadas nos usos do solo. Espera-se também uma queda na capacidade de mitigação de danos naturais, outro importante serviço de regulação, em decorrência das mudanças nos ecossistemas, o que pode ser evidenciado pelo aumento da frequência de desastres naturais.
Os serviços culturais incluem a diversidade cultural na medida em que a própria diversidade dos ecossistemas influencia a multiplicidade das culturas, os valores religiosos e espirituais, a geração de conhecimento (formal e tradicional), os valores educacionais e estéticos, etc. As sociedades têm desenvolvido uma interação íntima com o seu meio natural, o que tem moldado a diversidade cultural e os sistemas de valores humanos. Entretanto, a transformação de ecossistemas biodiversos em paisagens cultivadas, com características mais homogêneas, associada às mudanças econômicas e sociais, como rápida urbanização, melhoramento e barateamento nas condições de transporte e aprofundamento da globalização econômica, têm enfraquecido substancialmente as ligações entre ecossistemas e diversidade/identidade cultural.
Por outro lado, o uso dos elementos do capital natural para objetivos de recreação e turismo tem aumentado principalmente em decorrência do aumento da população, da maior disponibilidade de tempo para o lazer entre as populações mais ricas. O turismo ecológico chega a corresponder a uma das principais fontes de renda para alguns países que contamcom grande parte dos seus ecossistemas ainda conservada.
Os serviços de suporte são aqueles necessários para a produção dos outros serviços ecossistêmicos. Como exemplos, pode-se citar a produção primária, produção de oxigênio atmosférico, formação e retenção de solo, ciclagem de nutrientes, ciclagem da água e provisão de habitat.
Os ciclos de vários nutrientes-chave para o suporte à vida têm sido significativamente alterados pelas atividades humanas ao longo dos últimos séculos. A capacidade de os ecossistemas terrestres absorverem e reterem nutrientes suspensos na atmosfera ou fornecidos por meio da aplicação de fertilizantes tem sido comprometida pela transformação e simplificação dos ecossistemas em paisagens agrícolas de baixa diversidade. Em conseqüência, há incremento no vazamento desses nutrientes para rios e lagos, com seu transporte para ecossistemas costeiros e causando impactos adversos, como a eutrofização e a conseqüente perda de biodiversidade em ecossistemas aquáticos.
Como resultado da degradação do capital natural, a ameaça de alterações drásticas nos fluxos de serviços ecossistêmicos. É utilizada a expressão “tragédia dos serviços ecossistêmicos” para se referir ao declínio da sua provisão, principalmente considerando os serviços de regulação, de suporte e culturais. 
Em um cenário de contínua degradação dos ecossistemas, o alcance do desenvolvimento sustentável requer melhor entendimento da medida da dependência humana em relação a serviços ecossistêmicos. Quando um serviço ecossistêmico é abundante em relação à sua demanda, um incremento marginal em seu fluxo representa apenas uma pequena contribuição ao bem-estar humano. Entretanto, quando o serviço ecossistêmico é relativamente escasso, um decréscimo em seu fluxo pode reduzir substancialmente o bem-estar. 
Os impactos de mudanças nos fluxos de serviços ecossistêmicos sobre os constituintes do bem-estar são complexos e envolvem relações de causação que se reforçam mutuamente, principalmente em decorrência da interdependência entre os processos de geração dos serviços ecossistêmicos e entre as próprias dimensões do bem-estar. As mudanças nos serviços ecossistêmicos de provisão afetam todos os constituintes do bem-estar material dos indivíduos. Entretanto, os efeitos adversos de mudanças nos fluxos dos serviços de provisão podem ser minorados por circunstâncias socioeconômicas. O papel dos serviços ecossistêmicos é crucial no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. 
A economia dos ecossistemas 
Os problemas de degradação do capital natural e da perda de sua capacidade de suporte às atividades humanas impõem novos desafios teóricos e metodológicos. Uma abordagem alternativa deve perseguir o objetivo precípuo de “sustentabilidade econômica, social e ecológica” por meio da preservação e alocação eficiente do capital natural, do aumento sustentável do bem-estar humano e da manutenção das condições de funcionamento adequado do ecossistema terrestre. Em outras palavras, essa nova abordagem deve reconhecer a importância da sustentabilidade ecológica e da eficiência econômica para o bem-estar humano sustentável. 
Dentro do mainstream econômico existe um ramo especialmente dedicado aos problemas ambientais. Conhecido como Environmental Economics ou Economia Ambiental Neoclássica, a teoria econômica convencional analisa os problemas ambientais a partir do conceito de externalidades. Tem um enfoque majoritariamente reducionista e desconsidera o caráter dinâmico das interações ecossistêmicas e suas interfaces com o sistema econômico. 
Como contraponto à abordagem neoclássica do meio ambiente, há a chamada Economia Ecológica. Os elementos fundamentais que a distinguem da Economia Ambiental Neoclássica são: i. Comunhão com outras correntes críticas ao pensamento econômico convencional no que diz respeito às hipóteses sobre o comportamento dos agentes econômicos; ii. Incorporação da idéia de limites termodinâmicos à expansão material/energética do sistema econômico; e iii. 
Considerando as premissas fundamentais da visão econômico-ecológica e a importância do capital natural para o sistema econômico e o bem-estar humano é pertinente pensar em uma estrutura de análise que seja especificamente dedicada à problemática de degradação do capital natural e dos seus serviços. Essa nova estrutura analítica, que poderia ser vista como uma disciplina dentro da Economia Ecológica e cuja referência seria “Economia dos Ecossistemas”, deve partir da pré-visão analítica de que o sistema econômico está contido num sistema maior, que o sustenta (capital natural global) e que tem capacidade limite para suportar o sistema econômico.
Admite a existência de limites biofísicos e ecológicos à expansão física do sistema econômico. Dado o ritmo crescente de acumulação de capital produzido pelo homem e a crescente escassez relativa de capital natural, uma questão premente seria aumentar a produtividade dos elementos do capital natural e maximizar a provisão dos seus serviços. Seu principal objetivo é a gestão sustentável do capital natural de maneira a preservar sua capacidade de gerar serviços essenciais de suporte à vida. 
Essa estrutura analítica deve ser informada pelos seguintes princípios básicos: (1) o capital natural impõe limites biofísicos à expansão (escala) da economia; (2) esses limites não são e não podem ser totalmente conhecidos, e sua ultrapassagem pode levar a perdas irreversíveis, potencialmente catastróficas; (3) a degradação do capital natural é um processo duplamente perverso, pois diminui o estoque de ativos naturais e compromete sua capacidade de geração de serviços; (4) dadas as incertezas envolvidas e a ignorância sobre os processos que geram os serviços do capital natural, é recomendável uma postura de precaução cética; (5) o direito de existência das espécies não humanas.
Um elemento da estrutura analítica refere-se à mudança de ordem metodológica na consideração das duas dimensões do capital natural, como provedor de matérias primas (estoque-fluxo) e de serviços ecossistêmicos (fundo-serviço). Enquanto as análises convencionais focam separadamente a natureza estoque-fluxo e fundo-serviço dos elementos do capital natural, a “Economia dos Ecossistemas” integraria ambas as análises, enfatizando a interdependência entre estrutura e funções ecossistêmicas. De modo específico, enfocaria a depleção do capital natural como um processo duplamente maléfico para a sociedade humana: a perda de fluxos materiais tangíveis (recursos naturais) e a perda de elementos que geram fluxos de benefícios intangíveis (serviços ecossistêmicos). 
Este reconhecimento amplifica a contabilidade dos custos das análises tradicionais, o que favorece a decisão pela conservação e preservação do capital natural. Depois é necessário superar os limites impostos pela dicotomia encerrada no debate entre visão otimista e visão pessimista sobre as possibilidades de o progresso técnico ser capaz de superar os obstáculos impostos pela contínua degradação do capital natural, adotando a estratégia de precaução cética, a qual admite que o capital natural é um portfólio de ativos (ambientais) que precisa ser administrado de maneira eficiente e prudente. Por ser um conjunto de ativos que gera um fluxo de benefícios essenciais, o capital natural deveria também, de modo análogo, ser alvo de estratégias de gestão aplicadas a portfólios de outra natureza. 
Os proprietários destes últimos não se baseiam nas vantagens do livre mercado para maximizar os valores de seus rendimentos, mas nesses portfólios são geridos de maneira proativa e preventiva, de modo que a mesma lógica deveria ser aplicada ao portfólio ambiental (capital natural). 
A estratégia a ser adotada para a preservação do capital natural deveria ser pautada pelos seguintes critérios: i. Proteção o capital, o que significa que a sociedade deve manter o estoque de capital natural intacto a fim de tornar possível a contínua provisão de serviços ecossistêmicos. Ações que degradam o capital natural devemser tomadas em última instância, quando não existirem alternativas. A estratégia de proteção deve ser perseguida até o momento em que seja possível demonstrar que existem substitutos viáveis aos serviços fornecidos pelo capital natural. ii. Diversificação de investimentos, o que demonstra a necessidade de quea preservação do capital natural seja vista como um hedge contra outrostipos de investimento (mudança tecnológica, por exemplo). Este tipo de estratégia reconhece a dependência de outros tipos de investimento sobre a infraestrutura fornecida pelo capital natural. iii. Parcimônia nos riscos tomados, o que indica que, uma vez que a maioria dos benefícios providos pelo capital natural é insubstituível, deve-se adotar uma postura de aversão ao risco. iv. Necessidade de seguro, o que, no caso do capital natural, significa a criação de reservas de preservação estratégica de parte do capital natural. 
Um terceiro elemento dessa estrutura analítica refere-se à necessidade de um melhor desenho institucional para suportar um gerenciamento eficiente e sustentável do capital natural. Trata-se, na verdade, da superação do que pode ser considerado como uma “falha institucional”, por meio de um novo desenho que lide com os problemas de gerenciamento do capital natural e com a definição dos beneficiários e provedores dos serviços por ele providos. Além de favorecer a propriedade comum em detrimento da propriedade privada e estatal, esse desenho basear-se-ia nos princípios de governança sustentável: i. responsabilidade; ii. definição apropriada da escala; iii. precaução; iv. gestão adaptativa; v. alocação plena dos custos; e vi. participação. Tais princípios formam um conjunto indivisível de orientações básicas para a gestão institucional do capital natural.
Um quarto elemento dessa estrutura analítica refere-se aos problemas complexos que envolvem a geração de benefícios pelo capital natural. Tais problemas relacionam se com o caráter de bem público assumido pela maioria dos serviços ecossistêmicos e pela variedade de escalas temporais e espaciais em que eles ocorrem. Os perdedores e ganhadores de qualquer situação de mudança ambiental (variação na quantidade e qualidade de capital natural) dependerão do tipo e da escala dos serviços ecossistêmicos providos, do mix de stakeholders envolvidos e do contexto sociocultural e socioeconômico prevalecente.Em decorrência disso, políticas econômicas visando à proteção do capital natural devem levar em conta não apenas princípios de eficácia e eficiência, mas critérios éticos de equidade, justiça e legitimidade. 
O quinto elemento é de ordem informacional. Embora haja um crescente reconhecimento da essencialidade dos serviços ecossistêmicos e da dependência do bem-estar humano com relação ao capital natural, informações detalhadas sobre como seus diferentes elementos estruturais interagem entre si e geram serviços úteis ao homem ainda são deficientes. Essa “falha de informação” é uma das razões pelas quais o financiamento para a conservação do capital natural ainda é insuficiente.
As informações de diversas disciplinas devem ser agregadas para a construção de um banco de dados que subsidie análises cujo objetivo é elucidar o grau de dependência das atividades econômicas e do bem-estar em relação ao capital natural e a seus serviços. Finalmente, o sexto elemento, de importância crucial, diz respeito ao tema da valoração do capital natural e dos seus serviços. Enquanto provedor de serviços essenciais, o capital natural é reconhecidamente dotado de valor econômico. No entanto, a característica de bens públicos assumida pela maior parte de seus elementos estruturais faz com que os seus valores econômicos não sejam adequadamente capturados pelo mercado. Criar mecanismos para que os valores dos serviços prestados pelo capital natural sejam internalizados de maneira apropriada pelo sistema econômico representa um desafio na medida em que as abordagens convencionais até então utilizadas para a valoração dos serviços ecossistêmicos enfatizam ou o sistema econômico ou os ecossistemas, mas não se preocupam com as interrelações entre os dois sistemas e com os aspectos éticos e normativos dos valores dos serviços ecossistêmicos. 
Quanto a este último ponto, faz-se necessária uma valoração dinâmica e ao mesmo tempo integrada dos serviços ecossistêmicos, que amplie o escopo dos exercícios valorativos até então realizados. Além de considerar a dinâmica ecológica, uma valoração dentro dos princípios da “Economia dos Ecossistemas” deveria incluir também as visões que diferentes grupos de indivíduos têm sobre as diversas categorias de serviços ecossistêmicos e suas dimensões culturais e éticas. Não basta ampliar o cenário de valoração e incorporar aspectos de dimensões ecológicas e biofísicas. É preciso reconhecer que os seres humanos têm uma racionalidade limitada e que é necessário ponderar quesitos de ordem social.
Considerações finais
Como fator escasso, o capital natural encerra algumas especificidades que justificam um tratamento especial da teoria econômica a necessidade de preservação. Primeiro, os componentes do capital natural são, em sua maioria, não rivais e não excludentes, o que os coloca dentro da categoria de bens públicos. Segundo, as complexas e dinâmicas relações entre seus componentes geram um fluxo de serviços de suporte às atividades humanas que, na prática, são de difícil ou impossível substituição.
Como são a base física para geração dos serviços ecossistêmicos, os ecossistemas/capital natural devem ser tratados como ativos que rendem fluxos de serviços (renda natural) vitais para o bem-estar humano. Para a sua gestão sustentável, prudente e eficiente que sejam tratadas à luz de uma estrutura analítica chamada de “Economia dos Ecossistemas”, cujo fulcro seria a consideração da estrita dependência humana sobre os seus benefícios. Tal estrutura analítica segue os princípios básicos da chamada Economia Ecológica e já vem sendo esboçada por seus autores, os quais reconhecem as limitações da teoria econômica convencional. 
O fato de não ser precificado como outro bem ou serviço faz com que não haja incentivos para sua preservação, levando à superexploração e, muitas vezes, à sua perda total. Essencial que se encontre meios eficazes para incluir adequadamente o capital natural nas transações de mercado de maneira a obter uma verdadeira eficiência alocativa, não perdendo de vista a necessidade de sua preservação como meio de garantir condições mínimas de vida para as gerações futuras. 
A proposta da “Economia dos Ecossistemas” parte da premissa geral de que o tratamento até então dado às questões ambientais no âmbito do esquema analítico convencional é reducionista e visado. Assim, não se pode pensar em soluções para os desafios colocados pela problemática do capital natural sem a convicção mínima de que são necessárias novas ferramentas teórico-metodológicas que permitam análises transversais e a incorporação de conhecimento transdisciplinar.
Dentro do corpo mais amplo da teoria econômica, esta estrutura estaria mais próxima das premissas básicas da Economia Ecológica, dentro da qual se admite a existência de limites biofísicos e ecológicos à contínua expansão do sistema econômico, bem como a existência de limiares ecológicos que, uma vez ultrapassados, podem levar a perdas irreversíveis potencialmente catastróficas.
A “Economia dos Ecossistemas”, portanto, tem como desafio analisar as interações entre sistema econômico e capital natural e como ocorrem os processos ecológicos que geram serviços essenciais de suporte à vida. Tem o desafio de fundir os dois tipos de análises (estoque-fluxo e fundo-serviço) numa tentativa de entender os mecanismos pelos quais são geradas as funções ecossistêmicas. 
A relevância de uma estrutura analítica voltada especificamente para a gestão do capital natural está no fato de que ela agrega e torna operacionalizáveis as contribuições de várias disciplinas que lidam com a temática ambiental. Ela enfrenta a questão da complexidadeinerente aos processos ecológicos e reconhece a necessidade do conhecimento transdisciplinar para lidar com os fenômenos relacionados ao capital natural. 
O capital natural é insubstituível e vulnerável, e suas relações com os sistemas humanos são complexas e não lineares o que confere urgência à adoção de ações para a preservação do sistema natural que suporta as atividades humanas.

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