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O que é ética aulão 2016.02

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Fundamentos da Ética Clássica
Distorções nos sentidos sobre o que seja ética:
Organização administrativa;
Código de condutas que define hierarquias;
Forma de alienação. Ética ideológica;
Defesa humanitária dos direitos humanos contra a violência.
Café filosófico - ética no cotidiano com Mario Sérgio Cortella e Clóvis de barros filho (fonte: https://www.youtube.com/watch?v=eE9J4oHop0E)
Ética não é uma saber acabado;
Não é uma tabela pronta;
Ética é a possibilidade de escolher como queremos viver;
Inteligência compartilhada à serviço do aperfeiçoamento da convivência;
Nossa vivência humana muda, e a ética é a reflexão sobre estas mudanças buscando melhor aperfeiçoamento.
Ética é liberdade;
Liberdade é antropológica: o homem decide sobre sua conduta. ( Não escolher é, ainda, uma forma de escolha!);
O homem é um ser do “vir-a-ser”; 
A liberdade é um privilégio que causa angústia;
Escolher é atribuir valores, mas grupos diferentes exigem valores diferentes
Relatividade: minhas escolhas dependem das circunstancias;
Relativismo: achar que vale qualquer coisa;
Ética é de cada tempo, é de cada cultura, não é universal, não é indivudual.
A moral não depende de vigias, é o que você faz por princípios e sente vergonha quando não o faz;
Capacidade de deliberar, decidir e escolher a cada momento;
Caráter: aquilo que te marca, característiva
A ocasião faz o ladrão ou o ladrão faz a ocasião?
I - Ethos, Ética e Moral: definição e conceitos.
Ética é a Ciência da Moral
Para responder sobre, “o que é ética?”, primeiramente devemos nos ater ao significado de Ethos, costume, morada enquanto indicar nosso modo de ser no mundo, ou caráter. Esse modo de ser se constrói na medida em que a vida é organizada nas quatro relações fundamentais de todo ser humano, ou seja, si mesmo, o mundo, o outro e a transcendência. Desta forma de organizar a vida de si e com a alteridade é que vão surgindo os valores, as normas, os costumes de um povo, de uma sociedade, até mesmo de um indivíduo. O ethos é a base da moral e do próprio direito. 
Valores, normas e costumes são tão internalizados que muitos deles não precisamos fazer um esforço teórico para usar, parecem fazer parte de uma matriz de percepção humana adquirida ao longo da história do homem na terra. Ao mesmo tempo surgem novos costumes, normas e novos valores na medida em que sofre transformações o modo de ser do homem. Essas mudanças devem tender sempre para melhorar a vida do homem, caso contrário ocorre uma desarmonia nas relações. 
O segundo passo é entender o que é moral. Palavra que designa costumes ou regras que regem a nossa vida. Sua função é orientar o agir humano. Trata-se do que “é preciso fazer”. E como o ethos deve ser flexível e válida para o tempo e espaço. Deste modo entendemos porque a sociedade medieval tinha uma moral que a representava, e que não se aplica mais aos dias atuais e vice-versa. 
Moral do latim mores significa costumes, sistema de normas, princípios e valões segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos e entre as comunidades. Tais normas são dotadas de caráter histórico, social e cultural, buscam ser estabelecida entre pares de modo que, sejam acatadas livremente , por uma convicção íntima e não de maneira mecânica, externa e impessoal.
É primário confundir moral com legalismo, como também simplório dar-lhe apenas um sentido personalista, “a minha moral”, já que se trata de costumes de da convivência entre alteres. Toda sociedade e mesmo indivíduo tem uma moral, mesmo que diga que “não tem moral”, isto já se constitui em uma. A moral deve ser construída a partir do ethos. Isso é extremamente necessário para que a moral não seja baseada em contra valores, como por exemplo o fato de se aceitar como “normal” condutas baseadas na “esperteza”, no “jeitinho”, na “troca de favores”. Para que a moral não caia nesta armadilha ela deve ser ética.
As normas morais são as dotadas de caráter histórico e social sejam adotadas livremente por convicção íntima (de uma maneira mecânica ou por coerção, de que natureza seja não é norma moral) de fonte externa e impessoal. 
Uma lei injusta fere a moral. Mas devemos salvaguardar as diferenças étnicas e sociais. “Não matar”, “direito à vida”, etc, são temas sempre aquecem as discursões éticas, pois, apesar da relatividade de culturas e costumes há máximas morais universais como.
	Agir moral
	De acordo às regras da sociedade.
	Agir imoral
	Transgressão das regras com conhecimento de causa.
	Agir amoral
	Transgressão às regras sem conhecimento de causa.
Exemplo para análise: 
Reportagem foi ao ar em 07/12/2014.
Um assunto da maior importância: o direito à vida. Você acha certo matar crianças recém-nascidas por causa de alguma deficiência física?
Pois saiba que isso acontece no Brasil e não é crime. A Constituição, nossa lei maior, assegura a grupos indígenas o direito à prática do infanticídio, o assassinato de bebês que nascem com algum problema grave de saúde.
Para os índios, isso é um gesto de amor, uma forma de proteger o recém-nascido, mas tem gente que discorda.
Um projeto de lei que pretende erradicar o infanticídio já foi aprovado em duas comissões na Câmara Federal e agora vai para votação no plenário.
Do outro lado, os antropólogos defendem a não interferência na cultura dos índios. Os repórteres do Fantástico foram investigar essa questão sobre a qual pouco se fala. E descobriram que a morte desses recém-nascidos mudou para pior o mapa da violência no Brasil.
A cidade mais violenta do Brasil fica no interior do estado de Roraima. Chama-se Caracaraí e tem só 19 mil habitantes.
De acordo com o último Mapa da Violência, do Ministério da Justiça, em um ano, 42 pessoas foram assassinadas por lá. Entre elas, 37 índios, todos recém-nascidos, mortos pelas próprias mães, pouco depois do primeiro choro.
(...) Os agentes de saúde que trabalham lá disseram, sem gravar, que naquela noite aconteceu mais um homicídio infantil, o infanticídio.
O infanticídio indígena é um ato sem testemunha. As mulheres vão sozinhas para a floresta. Lá, depois do parto, examinam a criança. Se ela tiver alguma deficiência, a mãe volta sozinha para a aldeia.
A prática acontece em pelos menos 13 etnias indígenas do Brasil, principalmente nas tribos isoladas, como os suruwahas, ianomâmis e kamaiurás. Cada etnia tem uma crença que leva a mãe a matar o bebê recém-nascido.
Criança com deficiência física, gêmeos, filho de mãe solteira ou fruto de adultério podem ser vistos como amaldiçoados dependendo da tribo e acabam sendo envenenados, enterrados ou abandonados na selva. Uma tradição comum antes mesmo de o homem branco chegar por lá, mas que fica geralmente escondida no meio da floresta.
O tema infanticídio ressurge agora por ter se destacado no Mapa da Violência 2014, elaborado com os dados de dois anos atrás.
O autor do levantamento feito para o Ministério da Justiça, o pesquisador Júlio Jacobo, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, não tinha ideia da prática.
“E aí, então, comecei a pesquisar efetivamente com as certidões de óbito. Registravam que crianças de cor ou raça indígena, de 0 a 6 dias de idade. E começamos a ver que realmente era uma cultura indígena meio não falada, meio oculta”, diz o pesquisador.
(...) “E aí um dia minha mãe cansou de me carregar e deu para o meu pai. Quando foi na hora de atravessar o rio, meu pai começou a ameaçar que eu não servia para nada, que eu merecia ser morto. A minha mãe escutou isso e gritou que não era para ele fazer isso comigo”. (...)
 “A minha mãe sentou do meu lado e disse: ‘Meu filho, tu lembra daquele tempo que aconteceu?’. Eu falei: ‘Lembro’. Aí ela perguntou: ‘Você tem raiva dele?’. ‘Eu, não. Eu gosto do meu pai’. Isso é cultura de vocês. Quem sabe vocês estavam fazendo o certo e eu não estava sofrendo mais”, (...)
“Como é que é carregar um deficiente físico nas costas sem cadeiras de rodas? No meio do mato?”, comenta a irmã de Pituko.
A irmã de Pituko explica:para o seu povo, o infanticídio não é um ato cruel.
“Era um ato de amor. Amor e desespero. Porque você não quer que um filho seu continue sofrendo. Você quer que ele sobreviva, mas não se não há como?”, diz ela.
“Não se pode atribuir a isso qualquer elemento de crueldade. Se uma pessoa começa já no nascimento conter deformações físicas ou incapacidades muito grandes, você vai ter sempre em si um marginal”, avalia o antropólogo João Pacheco.
Na visão do antropólogo, este garoto é um exemplo do que seria um marginal na comunidade indígena. Ele sofre de um problema neurológico.
“Essa criança nasceu, segundo informações, sem nenhum sinal de qualquer tipo de deficiência. Eles não rejeitaram ela, mas ao mesmo tempo ela não fica como as outras crianças. Fica mais escondidinha”, explica Tiago Pereira, enfermeiro da Secretaria de Saúde Indígena.
Por não ter, se torna um ser vivo e, graças a essa primeira mamada, Kanhu Rakai, filha de Tawarit, está viva hoje.
“Se tivesse anotado de pequeno, poderia estar enterrado”, afirma Tawarit Makaulaka Kamaiurá, pai de Kanhu Rakai.
(...)
(Reportagem completa e vídeo em: http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/12/tradicao-indigena-faz-pais-tirarem-vida-de-crianca-com-deficiencia-fisica.html . Acesso em 18/02/15)
Enfim, ética tem em sua raiz também ethos, também designa comportamento, regras, o que a faz muitas vezes ter o significado confundido com moral. A ética é um ramo da filosofia que se ocupa dos fundamentos da moral. Sua função é investigar os valores as normas e, sempre que necessário depurá-los para que não fiquem obsoletos, mas sempre atualizados com sua época sem perder o enraizamento no ethos, a fim de garantir que eles sempre morais. A ética estuda e teoriza sobre a moral.
	Ethos
	Moral
	Ética
	Fornece a matéria-prima necessária, ou seja, esse substrato que é a identidade primeira de um grupo ou povo, seu alicerce arqueológico enquanto modo próprio de ser e habitar o espaço no tempo. 
	Sua função é criar normas e códigos. È a consolidação em ordem prática do Ethos de um determinado grupo ou sociedade, e a ele deve representar e zelar sobre as relações.
	è a teoria ou ciência do comportamento moral. È a instância ou capacidade reflexiva e crítica de investigação e depuração da moral. Também de interpretar e quando necessário discernir se nela existir contra valores.
Níveis de Desenvolvimento Moral: 
Nível Pré-convencional (pré-moral): As normas sobre o que é bom ou mau são respeitadas atendendo às suas consequências(prémio ou castigo) e ao poder físico dos que as estabelecem.
Nível Convencional: Vive-se identificado com um grupo e procura-se cumprir bem o próprio papel, respondendo às expectativas dos outros, mantendo a ordem estabelecida (a ordem convencional).
Nível Pós-convencional (autónomo ou de princípios): Há um esforço para definir valores e princípios de validade universal, isto é, acima das convenções sociais e das pessoas que são autoridade nos grupos. O valor moral reside na conformidade com esses princípios, direitos e deveres que podem ser universais.
Valor Moral:
Valorar é uma experiência fundamentalmente humana e o homem valora tudo a com que se relaciona. O objetivo de qualquer valoração é orientar a ação prática de relacionamento, como mais ou menos importante. Os valores são dados de diferentes formas e categorias dentre elas:
	Valor ético
	Juízo sobre o bem e o mal das relações.
	Valor moral
	Juízo sobre os costumes e hábitos.
	Valor material
	Juízo quanto a necessidade, utilidade e poder.
	Valor religioso
	Juízo sobre o bem e o mal para o espírito.
	Valor Estético
	Juízo segundo parâmetros de belo e feio.
Uma lei injusta sempre fere a moral, mas há de se ter cuidado com as diferenças de cultura que norteiam os costumes morais. E ainda perceber que, apesar da relatividade dos valores, por cauda dos costumes e cultura, há máximas e princípios éticos universais como “não matar” e o próprio direito à vida.
Princípio, ou valor absoluto é o que não se relaciona com nenhuma condição específica ou particular.
Texto: 
Qual a diferença entre Ética e Moral?
Podemos responder a esta pergunta com uma história árabe.
Um homem fugia de uma quadrilha de bandidos violentos quando encontrou, sentado na beira do caminho, o profeta Maomé. Ajoelhando-se à frente do profeta, o homem pediu ajuda: essa quadrilha quer o meu sangue, por favor, proteja-me!
O profeta manteve a calma e respondeu: continue a fugir bem à minha frente, eu me encarrego dos que o estão perseguindo.
Assim que o homem se afastou correndo, o profeta levantou-se e mudou de lugar, sentando-se na direção de outro ponto cardeal. Os sujeitos violentos chegaram e, sabendo que o profeta só podia dizer a verdade, descreveram o homem que perseguiam, perguntando-lhe se o tinha visto passar.
O profeta pensou por um momento e respondeu: falo em nome daquele que detém em sua mão a minha alma de carne: desde que estou sentado aqui, não vi passar ninguém.
Os perseguidores se conformaram e se lançaram por um outro caminho. O fugitivo teve a sua vida salva.
O leitor entendeu, não?
Não?
Explico.
A moral incorpora as regras que temos de seguir para vivermos em sociedade, regras estas determinadas pela própria sociedade. Quem segue as regras é uma pessoa moral; quem as desobedece, uma pessoa imoral.
A ética, por sua vez, é a parte da filosofia que estuda a moral, isto é, que reflete sobre as regras morais. A reflexão ética pode inclusive contestar as regras morais vigentes, entendendo-as, por exemplo, ultrapassadas.
Se o profeta fosse apenas um moralista, seguindo as regras sem pensar sobre elas, sem avaliar as consequências da sua aplicação irrefletida, ele não poderia ajudar o homem que fugia dos bandidos, a menos que arriscasse a própria vida. Ele teria de dizer a verdade, mesmo que a verdade tivesse como consequência a morte de uma pessoa inocente.
Se avaliarmos a ação e as palavras do profeta com absoluto rigor moral, temos de condená-lo como imoral, porque em termos absolutos ele mentiu. Os bandidos não podiam saber que ele havia mudado de lugar e, na verdade, só queriam saber se ele tinha visto alguém, e não se ele tinha visto alguém “desde que estava sentado ali”.
Se avaliarmos a ação e as palavras do profeta, no entanto, nos termos da ética filosófica, precisamos reconhecer que ele teve um comportamento ético, encontrando uma alternativa esperta para cumprir a regra moral de dizer sempre a verdade e, ao mesmo tempo, ajudar o fugitivo. Ele não respondeu exatamente ao que os bandidos perguntavam, mas ainda assim disse rigorosamente a verdade. Os bandidos é que não foram inteligentes o suficiente, como de resto homens violentos normalmente não o são, para atinarem com a malandragem da frase do profeta e então elaborarem uma pergunta mais específica, do tipo: na última meia hora, sua santidade viu este homem passar, e para onde ele foi?
Logo, embora seja possível ser ético e moral ao mesmo tempo, como de certo modo o profeta o foi, ética e moral não são sinônimas. Também é perfeitamente possível ser ético e imoral ao mesmo tempo, quando desobedeço uma determinada regra moral porque, refletindo eticamente sobre ela, considero-a equivocada, ultrapassada ou simplesmente errada.
Um exemplo famoso é o de Rosa Parks, a costureira negra que, em 1955, na cidade de Montgomery, no Alabama, nos Estados Unidos, desobedeceu à regra existente de que a maioria dos lugares dos ônibus era reservada para pessoas brancas. Já com certa idade, farta daquela humilhação moralmente oficial, Rosa se recusou a levantar para um branco sentar. O motorista chamou a polícia, que prendeu a mulher e a multou em dez dólares. O acontecimento provocou um movimento nacional de boicote aos ônibus e foi a gota d’água de que precisava o jovem pastor Martin Luther King para liderar a luta pela igualdade dos direitos civis.
No ponto de vista dos brancos racistas, Rosa foi imoral, e eles estavam certos quanto a isso. Na verdade, a regra moralvigente é que estava errada, a moral é que era estúpida. A partir da sua reflexão ética a respeito, Rosa pôde deliberada e publicamente desobedecer àquela regra moral.
Entretanto, é comum confundir os termos: ética e moral, como se fossem a mesma coisa. Muitas vezes se confunde ética com espírito de corpo, que tem tudo a ver com moral, mas nada com ética. Um médico seguiria a “ética” da sua profissão se, por exemplo, não “dedurasse” um colega que cometesse um erro grave e assim matasse um paciente. Um soldado seguiria a “ética” da sua profissão se, por exemplo, não “dedurasse” um colega que torturasse o inimigo. Nesses casos, o tal do espírito de corpo tem nada a ver com ética e tudo a ver com cumplicidade no erro ou no crime.
Há que proceder eticamente, como o fez o profeta Maomé: não seguir as regras morais sem pensar, só porque são regras, e sim pensar sobre elas para encontrar a atitude e a palavra mais decente, segundo o seu próprio julgamento. (Referência: http://www.revista.vestibular.uerj.brseq_coluna=68 Coluna de Gustavo Bernardo Ano 4, n. 12, 2011. Acesso 01 de agosto 2014.)
II – Construção do Sujeito Moral
 Liberdade X Obrigação 
Na Tradição filosófica que assentia a referencia de um Absoluto metafísico a liberdade absoluta é um absurdo, pois gera uma massificação, mesmo que se pense tê-la, em última a instancia se relaciona com as condições para que tal estado venha a acontecer, por exemplo: “quero viajar”, dependerá não apenas do querer mas dos “meios” de transporte. O que existe é uma liberdade relativa (não relativista), pois mede as consequências que sua ação em si mesmo, mas principalmente para os demais. 
Leia a seguinte reportagem do dia 26 de março de 2015:
Piloto de avião gritou ao copiloto para que abrisse 'maldita porta', diz jornal
O piloto do avião que caiu nos Alpes franceses pediu aos gritos para que o copiloto, que teria derrubado intencionalmente a aeronave, que abrisse "a maldita porta" enquanto tentava derrubá-la, mostraram as gravações da primeira-caixa preta encontrada.
Quando o copiloto, Andreas Lubitz, já teria acionado o sistema de descida, e os controladores aéreos franceses tinham tentado às 10h32 contatar sem sucesso o avião, a gravação registra o sinal de alarme automática de perda de altura, revelou neste domingo (29) o jornal "Bild".
Imediatamente depois se ouve um forte golpe, como se alguém tentasse abrir com um chute a porta da cabine, e a voz do capitão, Patrick Sondenheimer, gritando: "Pelo amor de deus, abre a porta!".
Ao fundo é possível ouvir os gritos dos passageiros.
Às 10h35, quando o avião ainda estava a sete mil metros de altura, a gravação registrou "ruídos metálicos fortes contra a porta da cabina" como se ela estivesse sendo golpeada.
90 segundos depois, a cinco mil metros de altura, um novo alarme é ativado, e é possível ouvir o piloto gritar: "Abra essa maldita porta!".
Às 10h38, ainda a cerca de quatro mil metros de altura, é possível ouvir a respiração do copiloto, que não diz nada.
Às 10h40, o aparelho toca a montanha com a asa direita e de novo são ouvidos gritos dos passageiros, os últimos sons registrados pela caixa-preta.
A hora e meia de gravação resgatada revelou também como o capitão, às 10h27 e a 11.600 metros de altura pede ao copiloto que comece a preparar a aterrissagem em Düsseldorf e ele responde, entre outras palavras, com um "tomara" e um "vamos a ver".
Em entrevista coletiva na quinta-feira, quando foi comunicado que as gravações permitem concluir que o copiloto derrubou intencionalmente a aeronave, que levava 150 pessoas a bordo, o promotor de Marselha qualificou as respostas do copiloto a seu comandante de "lacônicas".
Após decolar com atraso de Barcelona, o comandante tinha explicado ao copiloto, entre outras coisas, que não tinha tido tempo de ir ao banheiro, e Lubitz ofereceu assumir o comando da aeronave em qualquer momento.
Depois do controle para preparar a aterrissagem o copiloto volta a oferecer ao comandante assumir o comando para que ele possa ir ao banheiro.
Dois minutos mais tarde, Sondenheimer diz: "Pode assumir o comando".
Então é ouvido o barulho de uma cadeira e da porta se fechando.
Exatamente às 10h29 o radar registrou a primeira diminuição de altitude do avião.
Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/03/piloto-de-aviao-gritou-ao-copiloto-para-que-abrisse-maldita-porta-diz-jornal.html
É possível comparar com a metáfora platônica do Anel de Giges:
Giges era um pastor que morava na região da Lídia. Após uma tempestade, seguida de um tremor de terra, o chão se abriu e formou uma larga cratera onde ele apascentava seu rebanho.
 Surpreso e curioso, o pastor desceu até a cratera e descobriu, entre outras coisas, um cavalo de bronze, cheio de buracos através dos quais enfiou a cabeça e viu um grande homem nu que parecia estar morto.
 Ao avistar um belo anel de ouro na mão do morto, Giges o tirou e tratou de fugir logo dali. Mais tarde, reunindo-se com os outros pastores para fazer o relatório mensal dos rebanhos ao rei, Giges usou o anel.
 Após tomar seu lugar entre os pastores na Assembleia, ele girou por acaso o engaste do anel para o interior da mão e imediatamente tornou-se invisível para os demais presentes.
 E foi assim, totalmente invisível, que Giges ouviu os colegas o mencionarem como se ele não estivesse ali. Mexeu novamente o engaste do anel para fora da mão e tornou a ficar visível. Admirado com a descoberta desse poder, Giges repetiu a experiência para confirmar a magia. Seguro de si, sem titubear, ele dirigiu-se ao palácio, seduziu a rainha, matou o rei a apoderou-se do trono.
(Adaptado de: Platão - A República: 359b - 360ª)
A obrigação, ou poderíamos dizer a responsabilidade moral, parece estar em desacordo com o nosso agir livre, pois se não houvesse nenhum tipo de punição poderíamos agir livremente. Neste ponto precisamos aprofundar o que entendemos sobre nossas obrigações, e, principalmente sobre liberdade. O senso comum diz agir contra a obrigação para defender seu direito de agir com total liberdade individual. 
Do Dicionário de Filosofia - Nicola Abbagnano o verbete:
LIBERDADE (gr. èteu6epía; lat. Libertas; in. Freedom, Liberty; fr. Liberte; ai. Freiheit; it. Liberta). Esse termo tem três significados fundamentais, correspondentes a três concepções que se sobrepuseram ao longo de sua história e que podem ser caracterizadas da seguinte maneira: l1 L. como autodeterminação ou autocausalidade, segundo a qual a L. é ausência de condições e de limites; 2a L. como necessidade, que se baseia no mesmo conceito da precedente, a autodeterminação, mas atribuindo-a à totalidade a que o homem pertence (Mundo, Substância, Estado); 3a L. como possibilidade ou escolha, segundo a qual a L. é limitada e condicionada, isto é, fínita. Não constituem conceitos diferentes as formas que a L. assume nos vários campos, como p. ex. L. metafísica, L. moral, L. política, L. econômica, etc. As disputas metafísicas, morais, políticas, econômicas, etc, em torno da L. são dominadas pelos três conceitos em questão, aos quais, portanto, podem ser remetidas as formas específicas de L. sobre as quais essas disputas versam.
 Para a primeira concepção, de L. absoluta, incondicional e, portanto, sem limitações nem graus, é livre aquilo que é causa de si mesmo. Sua primeira expressão encontra-se em Aristóteles. Embora a análise aristotélica do voluntarismo das ações pareça recorrer ao conceito da L. fínita, a definição de voluntário é a mesma de L. infinita: voluntário é aquilo que é "princípio de si mesmo". Aristóteles começa afirmando que a virtude e o vício dependem de nós; e prossegue: "Nas coisas em que a ação depende de nós a não-ação também depende; e nas coisas em que podemos dizer não também podemos dizer sim. De tal forma que, se realizar uma boa ação depende de nós, também dependerá de nós não realizar má ação" (Et. nic, III, 5, 1113 b 10). Isso já fora dito por Platão . Mas para Aristóteles significa que "o homem é o princípioe o pai de seus atos, assim como de seus filhos" (Ibid). De fato, ''só para quem tem em si mesmo seu próprio princípio, o agir ou o não agir depende de si mesmo" (Ibid., III, 1, 1110 a 17); assim o homem "é o princípio de seus atos" (Ibid., III, 3, 1112 b 15-16). 
Kant quis conciliar a L. humana, como poder de autodeterminação, com o determinismo natural que, para ele, constitui a racionalidade da natureza; por isso considerou a L. como númeno, pois aquilo que, de um ponto de vista (dos fenômenos), pode ser considerado necessidade, de outro ponto de vista (do númeno), pode ser considerado L. Mas o conceito de L. não sofreu inovação alguma com esse artifício kantiano. Esse mesmo conceito é expresso por Fichte: "A absoluta atividade também é denominada L. A L. é a representação sensível da auto-atividade"
Podemos resumir a relação entre liberdade e obrigação como construtoras do agir moral, pois ele deve ser livre, mas ao mesmo tempo comprometido com princípios e valores:
Liberdade vinculada ao livre-arbítrio é escolha. (visão da filosofia da Tradição)
Liberdade desvinculada do livre-arbítrio é criação pessoal. (visão da filosofia Moderma)
Fatores básicos do comportamento moral:
responsabilidade: sobre o agir consciente;
livre-arbítrio: agir segundo regras;
necessidade: de pautar o comportamento com normas;
vontade: querer agir seguindo as normas assentidas, portanto sem violar a liberdade ou o livre-arbítrio.
Em resumo, o comportamento moral é livre, pois é uma escolha, mas também é uma obrigação uma vez que é a necessidade de um cumprimento. Todos temos consciência psicológica, mas a consciência moral é formada ao longo da vida, segundo a reavaliação dos atos. Moral não é inata!
A questão do Alheamento
Alheamento é a capacidade que temos de tornar o outro um estranho por meio do distanciamento, onde a hostilidade (que é ainda uma demonstração de sentimento, mesmo que negativo) é substituída pela desqualificação do sujeito como ser moral.
Em estado de alheamento não assentimos o semelhante como:
Um criador potencial de normas;
Um parceiro na obediência às leis partilhadas e consentidas livremente;
Alguém que deva ser respeitado em sua integridade física e moral.
Em suma, é como se o “outro” não existisse. Há diversas formas de se desqualificar o outro, neste nível de interação as mais diversas formas de agressão e violência ( física, psicológica, moral, afetiva etc.) não são mais percebidas como tal, uma vez que o que se julga o outro como uma ausência de ser, ou “ um nada”.
O alheamento fere diretamente um princípio básico da moral que é a da dignidade da Pessoa ética.
Pessoa x Indivíduo:
Pessoa é a expressão adequada com o qual o sujeito, ou o “eu” se exprime, ou se diz a “si mesmo”. É a expressão acabada do “eu sou”, ou identidade. Só a pessoa pode fazer escolhas livres, conscientes, e, portanto morais. Este conceito difere do conceito de indivíduo, membro de uma espécio e sujeito à classificações. 
O conceito, pessoa, tem-se uma compreensão filosófica, irredutível a um denominador comum e classificatório do simples indivíduo de uma espécie. O alheamento esvazia a noção de pessoa. Pessoa é interioridade espiritual e intelectiva, enquanto que indivíduo é exterioridade corporal.
Pessoa é sinônimo de Sujeito Moral.
Autonomia X Heteronomia
Podemos aceitar uma regra com que não concordamos, obedecer passivamente por conformismo ou medo das consequências, ou seja, por repressão de uma outra pessoa. Chamamos essa situação de Heteronomia.
À heteronomia opõe-se a Autonomia, que é autodeterminação.
O conceito de autonomia integra a construção de Kant do imperativo categórico, designando a independência da vontade em relação a todo desejo ou objeto de desejo e a sua capacidade de determinar-se em conformidade com uma lei própria, que é a da razão.
Para Kant, portanto, a autonomia da vontade é a propriedade mediante a qual a vontade constitui uma lei por si mesma. Se uma pessoa ou instituição é determinada por algo alheio à sua vontade, devido a uma coação externa, passa para o campo da dependência, da heteronomia.
Na verdade há um conflito entre a autonomia de vontade e a heteronomia dos valores. A autonomia são as leis autodeterminadas do agente moral e a heteronomia são as leis externas impostas pelos pares. O conflito se resolve quando o agente moral reconhece estes valores como sendo sua própria escolha. Este confronto é necessário pois a moral “do indivíduo”, se assim poderíamos dizer, deve levar em conta a moral social, pois em última análise as regras só fazem sentido para a vida social, vivem e subsistem por cauda da visa em sociedade, portanto a moral, a ação ética, é sempre social.
Mas a moral pode se transformar em violência quando ela é politizada e ganha formas de ideologia. O agente moral assume tal moral não como autonomia, sem poder exercer sua condição de sujeito moral, mas como imposição de uma ação por meio de um outro par, um grupo e mesmo pelo estado e sociedade.
A moral sempre deve ser reavaliada e nunca considerada como absoluta. Este é o papel norteador da Ética sobre a moral, criticá-la, por à prova da razão e reflexão, discuti-la, fazê-la avançar e se transformar ao longo dos tempos, fazendo permanecer e fazendo perecer. Isto não diminuiu a moral ou a torna relativa, pelo contrário é papel da ética torna-la palatável e de acordo com o tempo presente. Mas aqui também mora um perigo!
 Leitura crítica - O problema da ética como ideologia
Uma ideologia perversa
MARILENA CHAUI
Embora "ta ethé" e "mores" signifiquem o mesmo, ou seja, costumes e modos de agir de uma sociedade, entretanto, no singular "ethos" é o caráter ou temperamento individual que deve ser educado para os valores da sociedade, e "ética" é aquela parte da filosofia que se dedica à análise dos próprios valores e das condutas humanas, indagando sobre seu sentido, sua origem, seus fundamentos e finalidades. Sob essa perspectiva geral, a ética procura definir, antes de mais nada, a figura do agente ético e de suas ações e o conjunto de noções (ou valores) que balizam o campo de uma ação que se considere ética. 
O agente ético é pensado como sujeito ético, isto é, como um ser racional e consciente que sabe o que faz, como um ser livre que decide e escolhe o que faz e como um ser responsável que responde pelo que faz. A ação ética é balizada pelas ideias de bem e mal, justo e injusto, virtude e vício. 
Assim, uma ação só será ética se consciente, livre e responsável e será virtuosa se realizada em conformidade com o bom e o justo. A ação ética só é virtuosa se for livre e só o será se for autônoma, isto é, se resultar de uma decisão interior do próprio agente e não de uma pressão externa. Evidentemente, isso leva a perceber que há um conflito entre a autonomia da vontade do agente ético (a decisão emana apenas do interior do sujeito) e a heteronomia dos valores morais de sua sociedade (os valores são dados externos ao sujeito). 
Esse conflito só pode ser resolvido se o agente reconhecer os valores de sua sociedade como se tivessem sido instituídos por ele, como se ele pudesse ser o autor desses valores ou das normas morais, pois, nesse caso, ele será autônomo, agindo como se tivesse dado a si mesmo sua própria lei de ação.
Enfim, a ação só é ética se realizar a natureza racional, livre e responsável do sujeito e se este respeitar a racionalidade, liberdade e responsabilidade dos outros agentes, de sorte que a subjetividade ética é uma intersubjetividade socialmente determinada.
Sob essa perspectiva, ética e violência são opostas, uma vez que violência significa: 
1) tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser (é desnaturar); 
2) todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém (é coagir, constranger, torturar, brutalizar); 
3) todo ato de violação da natureza de alguém ou de alguma coisa valorizada positivamente por uma sociedade (é violar); 
4) todo ato de transgressão contrao que alguém ou uma sociedade define como justo e como um direito. 
Consequentemente, violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror. A violência se opõe à ética porque trata seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e de liberdade, como se fossem coisas, isto é, irracionais, insensíveis, mudos e inertes ou passivos.
Ora, vivemos, no Brasil, uma situação paradoxal: de um lado, grita-se contra a violência e pede-se um "retorno à ética" e, de outro, são produzidas imagens e explicações para a violência tais que a violência real jamais possa se tornar visível e compreensível. 
De fato, a violência real é ocultada por vários dispositivos: 
1) Um dispositivo jurídico, que localiza a violência apenas no crime contra a propriedade e contra a vida; 
2) um dispositivo sociológico, que considera a violência um momento de anomia social, isto é, como um momento no qual grupos sociais "atrasados" ou "arcaicos" entram em contato com grupos sociais "modernos", e, "desadaptados", tornam-se violentos; 3) um dispositivo de exclusão, isto é, a distinção entre um "nós brasileiros não-violentos" e um "eles violentos", "eles" sendo todos aqueles que, "atrasados" e deserdados, empregam a força contra a propriedade e a vida de "nós brasileiros não-violentos"; e 
4) um dispositivo de distinção entre o essencial e o acidental: por essência, a sociedade brasileira não seria violenta e, portanto, a violência é apenas um acidente na superfície social sem tocar em seu fundo essencialmente não-violento -eis por que os meios de comunicação se referem à violência com as palavras "surto", "onda", "epidemia", "crise", isto é, termos que indicam algo passageiro e acidental.
Dessa maneira, as desigualdades econômicas, sociais e culturais, as exclusões econômicas, políticas e sociais, o autoritarismo que regula todas as relações sociais, a corrupção como forma de funcionamento das instituições, o racismo, o sexismo, as intolerâncias religiosa, sexual e política não são considerados formas de violência, isto é, a sociedade brasileira não é percebida como estruturalmente violenta e por isso a violência aparece como um fato esporádico superável.
Construída essa imagem da violência, espera-se vencê-la com o "retorno à ética", como se a ética não fosse uma maneira de agir e sim uma coisa que estivesse sempre pronta e disponível em algum lugar e que perdemos ou achamos periodicamente. 
Que se entende por essa ética à qual se pretenderia "retornar"? Três são seus sentidos principais: aparece, primeiro, como reforma dos costumes e restauração de valores passados e não como análise das condições presentes de uma ação ética. A ética é, aqui, tomada sob uma perspectiva conservadora (e mesmo reacionária) e incumbida de promover o retorno a um bom passado imaginário. 
A seguir, surge como multiplicidade de "éticas" (ética política, ética familiar, ética escolar, ética de cada categoria profissional, ética do futebol, ética da empresa), portanto desprovida de qualquer universalidade e entendida como competência específica de especialistas (as comissões de ética).
Aqui, confunde-se ética e organização administrativas, isto é, a ética é tomada como um código de condutas que define hierarquias, cargos e funções das quais dependem responsabilidades funcionais para o bom andamento de uma organização. Além de confundir-se com a funcionalidade administrativa, a pluralidade de éticas também exprime a forma contemporânea da alienação, isto é, de uma sociedade totalmente fragmentada e dispersa que não consegue estabelecer para si mesma nem sequer a imagem da unidade que daria sentido à sua própria dispersão.
A esses dois sentidos, acrescenta-se um terceiro no qual a ética é entendida como defesa humanitária dos direitos humanos contra a violência, isto é, tanto como comentário indignado contra a política, a ciência, a técnica, a mídia, a polícia e o Exército quanto como atendimento médico-alimentar e militar dos deserdados da terra. 
A ética, aqui, não só se confunde com a compaixão como ainda permanece cega às condições materiais da sociedade contemporânea, na qual há uma contradição surda entre o desenvolvimento tecnológico ou o trabalho morto cristalizado no capital e o trabalho vivo, de tal maneira que o desenvolvimento tecnológico torna inútil e desnecessário o trabalho vivo. Em outras palavras, pela primeira vez na história universal a economia declara que a maioria dos seres humanos é desnecessária e descartável, pois, na economia contemporânea, o trabalho não cria riqueza, os empregos não dão lucro, os desempregados são dejetos inúteis e inaproveitáveis. 
Ora, o "retorno à ética" pretende manter a ideia de que o trabalho é a condição da moralidade e da virtude, o Bem, um dever moral e sacrossanto e por isso mesmo culpabiliza os desempregados e subempregados por sua situação, não cessa de humilhá-los e ofendê-los e de considerá-los portadores da violência.
Nem por isso, entretanto, a ética tomada como compaixão pelos deserdados supera a alienação social e a violência. Em primeiro lugar, porque o sujeito ético ou o sujeito de direitos está cindido em dois: de um lado, o sujeito ético como vítima, como sofredor passivo, e, de outro lado, o sujeito ético piedoso e compassivo que identifica o sofrimento e age para afastá-lo. 
Isso significa que, na verdade, a vitimização faz com que o agir ou a ação fique concentrada nas mãos dos não-sofredores, das não-vítimas que devem trazer, de fora, a justiça para os injustiçados. 
Estes, portanto, perderam a condição de sujeitos éticos para se tornar objetos de nossa compaixão e, consequentemente, para que os não-sofredores possam ser éticos é preciso duas violências: a primeira, factual, é a existência de vítimas; a segunda, o tratamento do outro como vítima sofredora passiva e inerte. Além disso, a imagem do Mal e a da vítima são dotadas de poder midiático: são poderosas imagens de espetáculo para nossa indignação e compaixão, acalmando nossa consciência. Precisamos das imagens da violência e do Mal para nos considerarmos sujeitos éticos.
Em segundo lugar, porque, enquanto na ética é a ideia do bem, do justo e do feliz que determina a autoconstrução do sujeito ético, na ideologia ética é a imagem do mal que determina a imagem do bem, isto é, o bem torna-se simplesmente o não-mal (não ser ofendido no corpo e na alma, não ser maltratado no corpo e na alma é o bem).
O bem se reduz à mera ausência de mal ou à privação de mal, deixando de ser algo afirmativo e positivo para tornar-se puramente reativo. Eis por que o "retorno à ética" é inseparável da ideologia do consenso, uma vez que enfatiza o sofrimento individual e coletivo, as corrupções política e policial por que tais imagens conseguem obter o consenso da opinião: somos "éticos" porque todos contra o Mal. 
A contrapartida dessa ideologia é clara: não nos perguntem sobre o Bem, pois este divide as opiniões, e a "modernidade", como se sabe, é o consenso.
A ética como ideologia significa que em vez de a ação reunir os seres humanos em torno de ideias e práticas positivas de liberdade e felicidade, ela os reúne pelo consenso sobre o Mal, e essa ideologia é duplamente perversa: por um lado, procura fixar-se numa imagem do presente como se este não só fosse eterno, mas sobretudo como se fosse destino, como se existisse por si mesmo e não fosse efeito das ações humanas; em suma, reduz o presente ao instante imediato, sem memória e sem porvir. 
Por outro lado, procura mostrar que qualquer ideia positiva do bem, da felicidade e da liberdade, da justiça e da emancipação humana é o Mal. 
Em outras palavras, considera que as ideias modernas de racionalidade, sentido da história, abertura temporal do possível pela ação humana, objetividade, subjetividade teriam sido responsáveis pela infelicidade do nosso presente, cabendo tratá-las como mistificações totalitárias.A ética como ideologia é perversa porque toma o presente como fatalidade e anula a marca essencial do sujeito ético e da ação ética, isto é, a liberdade como atividade que transcende o presente pela possibilidade do futuro como abertura do tempo humano.

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