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UNIDADE XIV – DA DAÇÃO EM PAGAMENTO

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UNIDADE XIV – DA DAÇÃO EM PAGAMENTO 
1. CONCEITO 
 Conforme determina o art.313 do CC o credor não é obrigado a receber coisa diversa da que foi 
acordada, ainda que mais valiosa. No entanto, pelo princípio da autonomia da vontade das partes, o credor 
poderá consentir em receber prestação diversa da que foi convencionada e considerar extinta a obrigação, 
exonerando assim o devedor. Tal acordo de vontades é denominado de dação em cumprimento (datio in 
solutum), vulgarmente denominada de dação em pagamento. 
 Logo, a dação em pagamento, é um acordo de vontades entre credor e devedor, por meio do qual o 
primeiro concorda em receber do segundo, para cumprir a obrigação, prestação diversa da que lhe é devida, 
art.356 do CC. Ex: substituição de dinheiro por móvel ou imóvel, de coisa por outra, de dinheiro por título 
de crédito, de coisa por obrigação de fazer, etc (Gonçalves, 2016, p.329-330). 
 Dessa forma, para haver dação em pagamento é necessário os seguintes requisitos (Tartuce, 2014, 
p.132): 
 a) A existência de uma dívida vencida e exigível; 
 b) Consentimento do credor; 
 c) A entrega de prestação diversa da devida; 
 d) Animus solvendi: a entrega de coisa diversa tem que está revestida do animus do devedor em solver 
a dívida e do credor em dar a quitação. A entrega de coisa pelo devedor sem esse animus, configurará uma 
doação e não uma dação em pagamento. Vide julgado: 
 Dação em pagamento. Débito alimentar. Trata-se na origem de ação anulatória de 
ato jurídico intentada por menor representada por sua genitora, visando anular 
alegada doação de seu pai a seus irmãos havidos de pretérito casamento com outra 
pessoa. Tal ação foi julgada improcedente em primeiro grau, reformada, contudo, 
em grau de apelação, sob o argumento de que se tratou, em verdade, de doação, 
preterindo-se o direito da filha havida da segunda relação conjugal, que, à época do 
referido acordo, já era nascida. Para o Min. Relator, a despeito da aparente 
complexidade do caso, em verdade, ocorreu tão somente confusão terminológica 
quando se adotou o vocabulário ‘doação’ quando haveria de ter-se pronunciado 
como ‘dação em pagamento’, como adimplemento da obrigação de alimentos. Com 
efeito, a transferência pelo genitor do seu percentual do bem imóvel partilhado a 
seus filhos da primeira relação conjugal teve como objetivo e essência quitar o 
débito alimentar e eximi-lo da prisão civil decorrente de sua não prestação, 
afastando-se, assim, de qualquer intenção de preterir a filha do segundo 
relacionamento em virtude de suposto adiantamento da legítima. Ressaltou que, no 
momento da transferência, também foi dada plena quitação pelos credores dos 
alimentos, caracterizando, sobremaneira, o instituto da dação em pagamento. 
Assim, na hipótese, não se configurou uma liberalidade do genitor, o que 
evidentemente caracterizaria uma doação. Ao contrário, o negócio jurídico 
realizou-se para o adimplemento, o pagamento de uma dívida, tal qual se daria caso 
o devedor dos alimentos vendesse sua parte do imóvel e, com o dinheiro em mãos, 
efetuasse o pagamento de seu débito. Com esse entendimento, a Turma deu 
provimento ao recurso para restabelecer a decisão de primeiro grau, adequando-a à 
terminologia jurídica, ressalvada a má fé em relação ao valor do imóvel em face da 
dívida, não suscitada nos autos” (STJ, REsp 629.117/DF, Rel. Min. Honildo 
Amaral de Melo Castro – Desembargador convocado do TJ-AP, j. 10.11.2009). 
 Percebe-se, portanto, que a dação em pagamento é uma forma de pagamento indireto, uma vez que o 
pagamento da obrigação é realizado de forma diversa da originalmente pactuada. 
 
2. DISPOSIÇÕES LEGAIS. 
 Conforme explicado anteriormente, a dação em pagamento, o credor aceita receber do devedor 
prestação diversa da acordada, como forma de pagamento da obrigação. No entanto, se a prestação consiste 
na entrega de dinheiro e é substituída pela entrega de um objeto com o seu preço devidamente determinado, 
aplicar-se-ão as regras referentes à compra e venda, art.357 do. Desse modo, se se prefixa o preço da coisa, 
cuja propriedade e posse se transmitem ao credor, a dação em pagamento será regida pelas normas da 
compra e venda. 
 Adverte o art.358 do CC, que se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência 
importará em cessão. Dessa forma se o credor aceita a entrega do título de crédito com o fim de extinguir a 
obrigação do devedor, estar-se-á diante de uma cessão de crédito. Porém, se a entrega do título de crédito 
for aceita pelo credor não para a extinção imediata da dívida, mas para facilitar a cobrança do seu crédito, 
estar-se-á configurado a dação pro solvendo (Gonçalves, 2016, p.334). Nesta, o devedor,-cedente só será 
liberado da obrigação, quando o credor-cessionário receber o crédito do cedido. Ex: o devedor X deve 
pagar a Y uma quantia de R$300.000,00. X propõe a Y que aceite o crédito que ele tem a receber de Z no 
valor de R$400.000,00 como forma de pagamento da sua obrigação. Dessa forma o devedor X– cedente, só 
estará liberado da sua obrigação para com o credor Y-cessionário, quando este receber de Z - cedido a 
quantia de R$400.000,00. 
 Vale ressaltar que para os doutrinadores Gagliano e Pamplona Filho (2014, p.249), Figueiredo e 
Figueiredo (2014, p.163) e Tartuce (2014, p.132) o art.358 não constitui uma dação em pagamento, mas 
sim uma dação pro solvendo, uma vez que esta visa facilitar o cumprimento da obrigação, sem, contudo, 
liberar de imediato o devedor, haja vista que só estará extinta a obrigação quando o credor (cessionário) 
tiver sido plenamente satisfeito. 
 O art.359 do CC expressa que se o credor for evicto da coisa dada em pagamento, restabelecer-se-á a 
obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros. 
 A evicção consiste na perda total ou parcial da coisa adquirida, em virtude de sentença judicial que 
confere a titularidade do bem adquirido a outra pessoa que não a vendedora e por motivo jurídico anterior a 
aquisição, art.447 do CC. Fazem parte da evicção três personagens: o alienante, que responde pelos riscos 
da evicção; o evicto, que é o adquirente vencido na demanda movida por terceiro e o evictor, que é o 
terceiro reivindicante e vencedor da ação. Ex: João deve R$70.000,00 a Maria e lhe propõe receber o seu 
carro semi-novo que acabou de comprar, como forma de pagar a sua obrigação. Maria aceita. Ocorre que 
após três meses da “dação em pagamento”, Maria recebe uma citação e imediatamente procura o seu 
advogado. Este lhe informa que foi proposta uma ação de evicção pelo Sr. Paulo (evictor), que alega ser o 
verdadeiro proprietário do carro que Maria recebeu em pagamento. Nesta ação o Sr. Paulo é o evictor, 
Maria o evicto e João o alienante. Sendo a ação julgada procedente, Maria devolve o carro a Paulo e a 
obrigação que João tinha para com Maria é restabelecida, uma vez ficar sem efeito a quitação dada a João. 
 O art.359 do CC ainda adverte que devem ser ressalvados os direitos de terceiros. Ex: João deve 
entregar um carro para Maria, no entanto lhe propõe entregar uma moto como forma de pagamento da sua 
obrigação e Maria aceita. João então vende o carro para Francisco. Após três meses da entrega da moto a 
Maria, esta recebe uma citação de uma ação de evicção, onde o Sr. Marcos se diz o verdadeiro proprietário 
da moto. A ação é procedente. Neste caso, como Francisco adquiriu de boa-fé o automóvel de João, deve 
ter o seu direito resguardado; porém, a obrigação que João tinha com Maria, que se restabelece, deve ser 
resolvida em termos pecuniários (Gagliano e Pamplona Filho, 2014, p.250).

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