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Faculdade FORTIUM Departamento de Administração - Disciplina: Economia Brasileira Contemporânea Prof.: Ailton Guimarães 1 NOTA DE AULA 9 Planos heterodoxos (parte III): Plano Real. 1. Introdução Entre 1979 e 1992 foram feitas 11 tentativas de estabilização no Brasil. Desde o conjunto de medidas proposto por Delfin Neto no final de 1979 até as implementadas por Marcílio Marques Moreira em 1992, o país viveu a expectativa do fim da inflação. Estes programas de estabilização podem ser classificados em dois grupos: Os ortodoxos e os heterodoxos. Os ortodoxos colocavam como causa principal da inflação o desequilibro fiscal e sendo assim, o uso de políticas monetária e fiscal restritivas seria o “remédio” necessário para combater aquele mal. Já os formuladores dos planos heterodoxos lançaram a tese de que a memória inflacionária ou inflação inercial constituía a causa principal da persistência do processo de perda do poder aquisitivo. Para erradicar a inflação o congelamento de preços seria então, o principal instrumento. Apesar do insucesso, no que se refere ao combate a inflação, os planos econômicos deixaram o ensinamento de que no curto prazo a inflação deriva, principalmente de cinco fatores, a saber: a) Expectativas de inflação; b) Inércia inflacionária; c) Depreciação cambial; d) Diferença entre o produto potencial e o efetivo; e e) Choques de oferta. Expectativas em baixa reduzem pressões por aumentos de preços e salários e contribuem para a queda da inflação. Neste sentido, o papel do Banco Central na condução da politica monetária é muito importante. Estas expectativas também podem ser afetadas por incertezas em relação a medidas econômicas futuras. A inércia, inserida nos contratos entre os agentes econômicos, leva a inflação de um período para o período seguinte, sustentando o processo de perda do poder aquisitivo. A desvalorização do câmbio, ao aumentar o custo de produtos e da dívida, contribui para a aceleração da inflação. A diferença entre o PIB efetivo e o potencial, que depende das variações da demanda, tem forte correlação com o processo inflacionário. O desequilíbrio entre oferta e demanda provocado por choques de oferta (por exemplo, quebra da safra agrícola) eleva os preços e a inflação. 1 Mestre em Economia de Empresas, pela UCB - Universidade Católica de Brasília; Especialista em Finanças, pela UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina; Especialista em Controladoria, pela Faculdade Tibiriçá/SP. Servidor do Banco Central do Brasil. 2 Já no longo prazo, a teoria econômica propõe que a queda da inflação está associada a redução da produção de bens e serviços por um certo período, até que os agentes econômicos adaptem-se à nova realidade de formação de preços e reestruturem suas expectativas quanto à Economia. Esta redução temporária da produção é denominada Taxa de Sacrifício, noção proposta inicialmente pelo economista Robert Lucas. O custo social dessa política é a elevação da taxa de desemprego. Estes ensinamentos foram muito importantes para o sucesso do Plano Real, sem dúvidas o mais bem elaborado plano de estabilização econômica implementado no país. O plano, organizado em etapas, tinha como objetivo primário controlar a inflação, um problema crônico no Brasil. Combinaram-se condições políticas, históricas e econômicas que permitiram ao governo, ainda no final de 1993, lançar as bases deste programa de estabilização. A elaboração do plano começa com considerações sobre a natureza dos efeitos da inflação sobre a moeda e sobre as normas que governam a disciplina monetária do país. Neste sentido, o Real foi um empreendimento que uniu o conhecimento econômico sobre programas de estabilização, do Brasil e do exterior, e o cuidado jurídico na elaboração das normas essenciais para execução do plano. 2. Transformações econômicas recentes Antes de analisarmos o Plano Real e seus resultados é importante fazermos algumas considerações sobre as mudanças ocorridas no mundo, em especial aquelas de caráter econômico. Estas transformações econômicas foram provocadas, em grande parte, pela evolução do processo de globalização (integração mundial dos processos de produção, do comercio e das finanças). A medida que este processo se consolida, o “mercado” passa a ser o elemento principal das relações econômicas e o clamor pela diminuição da participação do Estado na economia cresce na mesma proporção. Some-se a isto, a crescente preocupação com a competitividade das empresas. Este cenário contrasta significativamente com o período que se seguiu após a depressão de 1929, quando o Estado foi chamado a participar da recuperação economica dos países, segui² € os fundamentos da teoria Keynesiana. Os fundamentos desta nova ordem mundial foram criados pelo chamado “consenso de Washington” - conjunto de regras formulado em novembro de 1989 por economistas de instituições financeiras sediadas em Washington (FMI, Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos EUA) com base em um texto do economista John Williamson, do International Institute for Economy. Em 1990, o Fundo Monetário Internacional (FMI) passou a "receitar" aquelas medidas para promover o ajustamento macroeconômico de países em dificuldades. As regras básicas do consenso são: 1) Disciplina fiscal; 2) Redução dos gastos públicos; 3) Reforma tributária; 4) Juros de mercado; 5) Câmbio de mercado; 6) Abertura comercial; 7) Investimento estrangeiro direto com eliminação de restrições; 3 8) Privatização das estatais; 9) Desregulamentação (afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas); 10) Direito à propriedade intelectual. Além de promover o ajustamento econômico de países em dificuldade, este conjunto de regras visava também a diminuição da participação do Estado na economia e o aumento da competitividade das empresas. No Brasil, a economia começou a se recuperar no final de 1992, depois de um grande processo de reestruturação interna das indústrias. A abertura do mercado para produtos importados, promovida por Collor de Mello, fez com que as empresas brasileiras investissem na melhoria da qualidade de seus produtos e na modernização dos processos de produção. Os métodos administrativos e de organização foram revistos, resultando em redução dos custos de gerenciamento; concentração de atividades e terceirizações. Como conseqüência, aumentou o grau de automação industrial, a hierarquia interna das empresas ficou reduzida, provocando aumento de produtividade pretendido. Em contrapartida, aumentou o desemprego. Na Grande São Paulo, por exemplo, a região mais industrializada do país, o número de desempregados em 1993 chegou a 1,2 milhão de pessoas, apesar de a produção das empresas ter aumentado. 3. O Plano Real Em maio de 1993, no governo do Presidente Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso assume o Ministério da Fazenda, tendo como missão a elaboração de um novo plano de estabilização econômica, o Plano Real. Deve-se destacar dois pontos estratégicos da criação do Real. Primeiro, o plano foi idealizado para ser implementado em etapas (ajuste fiscal, indexação completa da economia e reforma monetária) e não mais de surpresa como os anteriores. Segundo que, apesar do diagnóstico de que a inflação tinha um forte componente inercial, o governo não recorreu ao congelamento de preços como solução. Essa forma de condução permitiu aos agentes econômicos ajustarem seus preços sem criar expectativas negativas futuras sobre a inflação. O plano foi composto principalmente pelas seguintes ações: 1. Aumento de impostos e cortes nos gastos públicos para equilibrar a arrecadação e os gastos públicos.2. Adoção da URV (Unidade Real de Valor), como forma de eliminar a memória inflacionária. Ela era definida diariamente com base na média diária da inflação calculada por uma cesta de índices inflacionários. 3. Aumento da taxa básica de juros e aumento dos depósitos compulsórios para restringir a atividade econômica interna. 4. Redução das Tarifas de Importação, para evitar pressões inflacionárias relacionadas ao excesso de demanda, as tarifas de importação de alguns produtos foram baixadas. 4 5. Valorização cambial que reduziu as exportações e aumentou as importações, contribuindo para a queda dos preços e da inflação. 4. A 1a. fase do plano A primeira etapa do plano foi o ajuste fiscal baseado em cortes de despesas, aumento de impostos e diminuição das transferências do governo central. O corte de despesas foi executado com a edição do Plano de Ação Imediata (PAI), lançado em meados de 1993 com os seguintes objetivos: ·Reduzir os gastos da União no ano de 1993, principalmente as despesas com pessoal e investimentos; ·Recuperar a receita tributária; ·Equacionar as dívidas de estados e municípios com a União; ·Controlar rigidamente os bancos estaduais; ·Aperfeiçoar e acelerar o programa de privatizações. O aumento da arrecadação foi efetuado com o lançamento do Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF) com alíquota de 0,25% incidente sobre toda movimentação financeira. A última parte do ajuste fiscal foi a criação do Fundo Social de Emergência (FSE). Os recursos deste fundo, constituído com o percentual de 15% de toda arrecadação de impostos, poderia ser utilizado pela união sem o cumprimento das vinculações determinadas pela constituição. 5. A 2a. fase do plano A segunda fase do Plano Real, a indexação da economia, teve início com a entrada em vigor da medida provisória (MP) nº 434 de 27/02/1994, posteriormente convertida na lei 8.880, determinando que os novos contratos fossem feitos em URV – Unidade Real de Valor - e lembrando que no momento da emissão do real todas as obrigações pecuniárias seriam convertidas em real, criando assim incentivos para a conversão dos contratos já existentes. O período de transição entre março e julho de 1994 permitiu a solução de dois problemas que tinham contribuído para o fracasso de planos anteriores: a política salarial e a indexação de contratos. Outra vantagem da URV foi tornar desnecessária, na introdução do real, o congelamento de preços, o uso de tablitas de deflação, componente de programas heterodoxos anteriores, destinadas a manter o equilíbrio de obrigações prefixadas. 6. A 3a. fase do plano A última fase deu-se em 1o. de julho de 1994 quando passou a valer a nova Moeda, o Real, com valor igual a CR$ 2.750,00 ou 1 Dólar. 7. Medidas iniciais – âncora monetária Para evitar problemas ocorridos nos planos anteriores, onde a demanda teve forte incremento no momento seguinte ao anúncio das medidas estabilizadoras, o 5 governo sinalizou aos agentes econômicos que a política economica seria bastante restritiva. Para tanto, tomou as seguintes providências: Estabeleceu metas de expansão monetária bastante restritivas; Diminuiu os prazos dos empréstimos bancários e consórcios e proibiu o financiamento de empresas de factoring e cartões; Instituiu um depósito compulsório de 100% sobre as captações feitas após a edição do plano; Aumentou as taxas de juros. Este conjunto de medidas ficou conhecido como a “âncora monetária” do plano. 8. Medidas iniciais – âncora cambial A política cambial foi também um fator importante para o sucesso inicial do plano. No inicio do plano o governo utilizou o sistema de câmbio fixo, onde 1R$ seria igual a 1U$. A valorização cambial incentivou as importações e aumentou a concorrência com os empresários locais, reduzindo as possibilidades de repasse de custos para os preços. Esta foi a chamada “âncora cambial”. A continuidade desta politica cambial levou ao desequilíbrio, primeiramente da balança comercial e em seguida nas Transações Correntes. Em 1995, o governo muda o regime cambial para o de bandas cambiais. Neste regime o governo, através do banco Central determinava os limites mínimo e o máximo para negociações com a moeda nacional. Apesar da mudança, o saldo das transações correntes continuou deficitário, sendo coberto com recursos estrangeiros que entravam no país atraídos pelas altas taxas de juros aqui praticadas. 9. As crises externas O primeiro grande teste do Plano Real ocorreu em 1995 logo após as dificuldades enfrentadas pelo México. O país começou a perder reservas com a retirada dos recursos de investidores estrangeiros temerosos de que se repetisse aqui a situação do México (efeito tequila). Para evitar a depreciação da moeda nacional e recompor o nível de reservas, o governo aumentou a taxa de juros e as restrições ao crédito. As conseqüências destas medidas foram o aumento da dívida pública, uma forte diminuição da atividade economica, aumento da inadimplência dos consumidores e das empresas, e o inicio de uma crise financeira. Esta crise foi contida pelo Banco Central com o fornecimento de empréstimos para o sistema e o estabelecimento de um processo de reestruturação financeira por meio de dois programas: I) O PROER – Programa de Estimulo a Reestruturação e Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional, destinado aos bancos privados em dificuldades; e 6 II) O PROES – Programa de Incentivo a Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária, destinado a recuperar os bancos públicos. O teste seguinte ocorreu com a crise asiática no final de 1997. Novamente o governo utilizou com sucesso as taxas de juros para conter a fuga de capitais estrangeiros. A crise seguinte, a da Rússia em 1998, foi mais forte e o Brasil perdeu em dois meses, agosto e setembro, U$$ 30 bilhões de suas reservas. Desta vez, a elevação das taxas de juros não surtiu o efeito esperado e o país negociou com o FMI um pacote de ajuda de U$$ 42 bilhões. A partir desta crise o regime cambial foi alterado, passando para o de livre flutuação em lugar do regime de bandas cambiais instituído no inicio do plano Real. O resultado foi uma significativa desvalorização do Real no primeiro trimestre de 1999 e a melhora das contas externas. Além da politica cambial também sofreram mudanças: a) A política fiscal com a substituição do IPMF pela CPMF – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, agora com alíquota de 0,38%, e a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (PRF) que também contribuiu para a melhora das contas públicas; b) A política monetária com a introdução do sistema de metas para a inflação em 21 de junho de 1999. Desde então, as decisões do Conselho de Política Monetaria (Copom) passaram a ter como objetivo cumprir as metas para a inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional. Se as metas não forem atingidas, cabe ao presidente do Banco Central divulgar, em Carta Aberta ao Ministro da Fazenda, os motivos do descumprimento, bem como as providências e prazo para o retorno da taxa de inflação aos limites estabelecidos. O gráfico a seguir mostra a evolução da inflação após a implantação do regime de metas. Em 2002, a percepção dos riscos de uma dívida grande combinou-se à incerteza do ano eleitoral e ao aperto da liquidez internacional para gerar mais uma crise e novamente o país fechou um acordo com o FMI que previa a liberação de U$ 40 bilhões de ajuda. Em 2003, com o aumento do risco Brasil, a taxa de câmbio real depreciou-se e a parcela da dívida indexada ao dólar na dívida total aumentou. A relação dívida líquida / 10,0 8,0 6,0 5,5 6,57,0 7,1 6,5 6,5 6,5 6,5 6,58,9 6,0 7,7 12,5 9,3 7,6 5,7 3,1 4,5 5,2 4,3 5,9 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Gráfico 1. Meta x Inflação observada, META IPCA 7 PIB atingiu um pico de 63% em meados do ano, mas o declínio da taxa Selic real reduziu essa relação para 56% do PIB no final de 2002. 10. Resultados do Plano – Evolução do PIB Segundo o IPEA, (2007) relativamente ao comportamento do PIB doméstico, podemos observar que o mesmo é dependente do fator câmbio, dos humores do mercado financeiro externo e da demanda internacional. O comportamento recente do produto interno parece reforçar este pensamento. A partir de 1994, inicio do Plano Real, com a sobrevalorização do câmbio, ocorre a redução contínua no crescimento do PIB (a exceção foi 1997). E, no ano 2000, com a desvalorização cambial e aumento do consumo interno o PIB retorna sua trajetória de crescimento. 10.1. Resultados do Plano – Distribuição de Renda Quanto a distribuição de renda no Brasil após a implementação do plano de estabilização de julho de 1994, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA (2007), revela que houve mudanças positivas. Essas mudanças foram bem vindas, pois durante um período de dez anos (1983/93) a renda per capita declinou, frustrando as expectativas criadas durante a década do milagre econômico brasileiro (1970/80). O gráfico a seguir mostra o resultado do coeficiente de Gini que mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula). 5,3 4,4 2,2 3,4 0,0 0,3 4,3 1,3 2,7 1,1 5,7 3,2 4,0 6,1 5,1 (0,2) 7,5 -0,2 1,4 3,0 4,6 6,2 7,8 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 Fonte: IPEADATAPIB - Variação % anual 1993 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Brasil 0,60 0,59 0,58 0,57 0,57 0,56 0,56 0,55 0,54 Região Centro-oeste 0,61 0,59 0,58 0,57 0,58 0,56 0,57 0,57 0,56 Região Norte 0,58 0,56 0,54 0,54 0,53 0,52 0,53 0,51 0,52 Região Nordeste 0,63 0,59 0,59 0,58 0,57 0,57 0,57 0,56 0,56 Região Sul 0,56 0,53 0,53 0,52 0,52 0,51 0,51 0,50 0,49 Região Sudeste 0,57 0,56 0,56 0,54 0,54 0,54 0,52 0,52 0,51 Fonte: Ipeadata Nome Renda - desigualdade - índice de Gini 8 10.2. Resultados do Plano – Problemas Macroeconomicos Apesar do significativo avanço no controle da inflação, o Plano Real potenciallizou alguns problemas macroeconomicos. A divida pública cresceu fortemente com a politica de juros altos e esta mesma politica proporcionou baixo crescimento economico. Acrescente-se que o saldo em transações correntes mantem-se negativo como resultado da politica cambial. No que se refere a manutenção de altas taxas de desemprego, estas não devem ser creditadas somente a politica economica, principal causadora do baixo crescimento do PIB e a apreciação do câmbio. Neste último caso, temos um dos motivos para o processo de desindustrialização com a consequente perda de emprego no setor industrial. Os outros motivos seriam o fenomeno denominado doença holandesa e as mudanças estruturais das empresas devido ao aumento da competitividade no comércio mundial. 11. O programa de aceleração do crescimento (PAC) O Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), lançado em janeiro de 2007, é composto de um conjunto de políticas econômicas, planejadas para os quatro anos seguintes. Tem como objetivo principal acelerar o crescimento econômico do Brasil com investimentos totais de R$ 503 bilhões até 2010, sendo uma de suas prioridades a infra- estrutura, como portos e rodovias. A meta é obter um crescimento do PIB em torno de 5% ao ano. Isso deverá ser alcançado, principalmente pela exploração do papel "indutor" do setor público, já que estudos mostram que cada R$1,00 investido pelo setor público gera R$1,50 em investimentos privados. O PAC é composto por cinco blocos: Medidas de infra-estrutura, incluindo a infra-estrutura social, como habitação, saneamento e transporte em massa; Medidas para estimular crédito e financiamento; Melhoria do marco regulatório na área ambiental; Desoneração tributária e Medidas fiscais de longo prazo. Os recursos terão como origem: R$ 219,20 bilhões deverão ser investimentos feitos por empresas estatais, sendo que, destes, R$ 148,7 bilhões serão investidos pela Petrobrás, uma empresa de economia mista; R$ 67,80 bilhões deverão ser investidos com recursos do orçamento fiscal da União e da seguridade; R$ 216,9 bilhões deverão ser investidos pela iniciativa privada, induzidos pelos investimentos públicos já anunciados. 12. Balanço do PAC Em 02/06/2010 o governo federal divulgou o 10º. balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O relatório mostra que apenas 46% das obras foram concluídas e mais de R$ 302 bilhões foram gastos no período de 2007 a 2010. "46% é apenas a parte que já foi concluída. A diferença são obras em andamento, muitas que serão concluídas durante o ano. Entre 1º de janeiro e 27 de maio de 2010, os valores pagos para as obras do PAC foram 79% acima dos valores pagos no mesmo período no ano passado, o equivalente a R$ 6,8 bilhões e R$ 3,8 bilhões respectivamente. 9 Por quantidade de ações, 62% das que integram o programa estão concluídas e 27%, em obras. Outros 4% das ações estão em licitação e 7%, na etapa de licenciamento ou projeto. Ao todo, 2.483 empreendimentos estão sendo monitorados. Dentro da execução orçamentária do PAC, a previsão de uso de recursos era de R$ 21,4 bilhões em 2010. Apenas no período de janeiro a maio deste ano, o valor previsto para ser utilizado (de dotação) era de R$ 8,9 bilhões; em contratos, já foram empenhados R$ 9,1 bilhões, dos quais já foram pagos R$ 6,8 bilhões. 12.1 Infraestrutura logística Um terço das ações de infraestrutura logística previstas para o período 2007- 2010 não foram finalizadas. Essa parte do programa inclui intervenções em portos, aeroportos, ferrovias, hidrovias e estradas. Em relação ao valor dessas ações, nem metade prevista foi empregada. Os dados do balanço para esta área identificam que 48% das ações estão concluídas e 40% apresentam andamento adequado. Porém, 12% delas estão "em atenção". Na definição do governo, obras em atenção são aquelas em que o atraso no cronograma não significa risco para a realização do empreendimento. Já as obras em situação preocupante correm o risco de não serem concluídas. 12.2 Infraestrutura social e urbana Pelo critério de valor gasto, 21% das ações que estão concluídas e 58% apresentam andamento adequado. As ações em atenção somam 16% e aquelas em situação preocupante equivalem a 5%. Já de acordo com o critério de quantidade, as ações concluídas equivalem a 27% do total; em execução adequada estão 52% das obras; em atenção, 17%; e as em situação preocupante representam 4%. Integra o eixo de infraestrutura social e urbana as obras do programa Luz Para Todos. A meta original do programa no período de 2004 a 2008 foi atingida em maio de 2009, permitindo o atendimento de ligações elétricas para dois milhões de pessoas em 18 Estados. A nova meta de 2010, prevê mais 578.429 ligações. Até o momento foram realizados 18% do previsto para este ano, o que equivalente a 105.907 ligações elétricas nos Estados de Pernambuco,Rio Grande do Norte e Santa Catarina. 12.3 Infraestrutura energética Pelo critério de valor, 30% das ações estão prontas e 69% em andamento adequado. Apenas 1% está em situação de atenção. Já considerando o critério de quantidade, as ações encerradas totalizam 42% e em execução adequada 54%; 3% dos empreendimentos estão em atenção e 1% em situação preocupante. Bibliografia: Vasconcellos, Marcos Antonio Sandoval; Gremaud, Amaury Patrick; Toneto, Rudnei Junior. Economia Brasileira Contemporânea. São Paulo: Editora Atlas, 7ª ed. 2007. Capítulos. 18. Moura, Alkimar R. : Paeg e Real: Dois planos Que Mudaram a Economia Brasileira. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. 10 A morte do consenso Sergio Leo - 06/04/2009 – Valor Econômico Foram discretas, até agora, as comemorações, no governo, pela declaração do chanceler britânico, Gordon Brown, sobre a morte do chamado Consenso de Washington, regras aceitas como indispensáveis ao bom funcionamento do sistema capitalista, compiladas em 1989 pelo economista John Williamson. Reservadamente, não foram poucos os que comemoraram, entre os conselheiros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas Brown, que expediu o atestado de óbito durante a reunião do G-20, na semana passada, pode ter se precipitado. A crise não matou, por exemplo, a crença da abertura de mercados como instrumento de desenvolvimento. Mantém-se, nesse campo, a atitude cínica ou esquizofrênica anterior ao colapso das finanças mundiais: os governos anunciam comprometimento com o fim das barreiras comerciais, avançam gradualmente na queda de tarifas de importação, mas asseguram os interesses de setores "sensíveis" com os instrumentos que têm à mão, sejam eles mecanismos de controle não-tarifário de importações, subsídios aos produtores, ou incentivos perversos a exportadores ineficientes. Antes de o mundo descobrir que era ameaçado por "ativos tóxicos" criados pela mente fértil de operadores do mercado financeiro, já fracassava a rodada de liberalização da Organização Mundial de Comércio (OMC), a chamada Rodada Doha. Um dos resultados da cúpula do G-20, na semana passada foi um apelo por mais, e não menos, abertura de mercados, com a retomada da rodada na OMC. Os líderes podiam marcar uma data para isso, mas não o fizeram. Sabem que o apelo, por enquanto, é mera declaração de intenções. Isso não impede que a abertura de mercados seja eleita como prioridade defendida enfaticamente pelo próprio presidente Lula - líder classificado como "o cara" pelo presidente Barack Obama. Um dos principais motivos para o atolamento da rodada da OMC é o fato de que o consenso pela abertura de mercados não era tão consensual assim nos próprios centros do capitalismo mundial. O Congresso americano resistia, como ainda resiste, a eliminar as altíssimas tarifas remanescentes sobre produtos industriais em que não é competitivo, como o etanol. Os EUA e outros países de gente loura de olhos azuis também relutam, sempre, em reduzir significativamente subsídios agrícolas que dão competitividade desleal aos produtores locais e distorcem o comércio mundial. Ambiguidades na lista de John Williamson já levaram analistas como Moisés Naim, editor da especializada "Foreign Policy", a falar em "Confusão de Washington", ao mostrar que a quantidade de exceções, adaptações e contradições nas políticas baseadas no Consenso de Washington tornavam esse receituário bastante flexível. E que, como notou o economista Joseph Stiglitz quando ocupava o posto de economista-chefe do Banco Mundial, "instituições são importantes": nenhum modelo de política econômica pode ter êxito sem o controle de instituições fortes e bem equipadas para atender ao interesse público. A morte decretada por Gordon Brown não foi a do Consenso de Washington, mas a da crença fundamentalista em apenas um de seus dez itens, a desregulamentação como ferramenta para promover a melhor alocação dos recursos e o desenvolvimento. O novo consenso global estabelece que o mundo pós-crise terá instituições mais fortes e ativas no controle dos agentes de mercado. Como todo consenso econômico internacional, o novo consenso não é levado integralmente em conta pelos países mais poderosos, no momento de formulação de suas políticas. Entre as medidas recém-editadas por Obama, está a permissão aos bancos para fixar, sem fidelidade às regras rígidas de contabilidade, o valor dos "ativos tóxicos", os papéis que serão vendidos com generosa ajuda do governo americano para 11 socorrer as instituições financeiras. Analistas como o próprio Stiglitz já alertam para o "capitalismo artificial" de Obama, que mantém o jogo de ficção do mercado, em transações pouco transparentes. Há quem fale na derrubada de outro princípio do Consenso de Washington, o que entroniza a disciplina fiscal como regra de ouro nas economias sérias. Os EUA nunca respeitaram essa regra, nem pretendem fazê-lo agora. Os europeus, apesar das manifestações em favor de estímulo fiscal, continuam firmes na crença de que muita generosidade agora pode acabar em descontrole inflacionário mais à frente. Os programas de socorro do FMI, agora turbinado com mais US$ 750 bilhões, não eliminaram a exigência de sustentabilidade fiscal. Heresias ao Consenso de Washington defendidas agora nos países ricos, como a possível estatização de bancos americanos, ou generosidades fiscais, são apontadas como soluções de emergência, a serem descartadas assim que passar o pior da crise. Nem Gordon Brown defende o contrário, o que leva a crer que, se crê na morte do Consenso de Washington, ele não descarta a ideia de reencarnação. Autoridades brasileiras lembram, como signo da mudança, a criação do novo mecanismo financeiro no FMI para empréstimos, sem condicionalidades ou monitoramento, para países com políticas sólidas. Não lembram que os países considerados aptos a lançar mão desse socorro são só aqueles que mostram um histórico de respeito ao... Consenso de Washington. Boa parte do êxito de Lula no G-20 é exatamente o respeito devotado pelo governo brasileiro a boa parte dos princípios sacramentados pelo Consenso. Ao lado do respeito às políticas ortodoxas, herdado do governo anterior, a contribuição nada desprezível de Lula foi a obstinação em realizar uma política ativa de transferência e distribuição de renda, com programas sociais e o forte aumento do salário mínimo. Conseguiu fazer isso sem romper o consenso washingtoniano de fazer as despesas caberem nas despesas. Intuitivo, ele deve saber que será sua credibilidade quem estará morta, se acreditar, mesmo, que se encerrou a era da disciplina fiscal para os países de gente morena. Sergio Leo é repórter especial em Brasília e escreve às segundas-feiras E-mail: sergio.leo@valor.com.br
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