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1 CONTABILIDADE GERENCIAL 1. Sistema de gestão de custos e custos baseados em atividades 1.1 Conceitos básicos Segundo Antony e Govindarajan (2000), um sistema é um procedimento preestabelecido para executar uma atividade ou um conjunto de atividades, geralmente preestabelecidos. O sistema de gestão apresenta alguns componentes básicos, que estaremos descrevendo para ampliar nossa compreensão sobre o assunto abordado. 1.1.1 Controle Pise no pedal do freio e o automóvel reduz a velocidade ou para. Pise no acelerador e o automóvel roda mais rapidamente. Gire o volante e o automóvel mudará de direção. Usando esses movimentos, o motorista controla a velocidade e a direção do veículo. Devemos, no entanto, esclarecer que qualquer sistema de controle tem, pelo menos, quatro componentes. Utilizaremos o modelo usado por Anthony e Govindarajan (2002): Um componente detector ou sensor, dispositivo de mediação que reage ao aparecimento de uma situação, no processo que está sendo controlado; Um componente avaliador, dispositivo que determina a importância da situação que está ocorrendo. Geralmente, essa importância é avaliada por comparação com um padrão ou com uma expectativa de o que deveria estar correndo; Um componente executante, dispositivo que altera o comportamento do sistema quando o componente avaliador indica a necessidade de alteração. Esse dispositivo é chamado, geralmente, retroalimentador (feedback); Uma rede de comunicação, que transmite a informação entre o detector e o avaliador, e entre o avaliador e executante. O que é sistema? Outro conceito fundamental, que devemos compreender, é o entendimento do que é sistema: um sistema é um conjunto de elementos ou componentes que interagem para atingir os objetivos. Um sistema tem entradas, processos, saídas e retroalimentação. 2 Considerando a ilustração acima, podemos considerar que um sistema tem um número de partes inter-relacionadas como, por exemplo: o ventilador, compressor, o termostato e a tubulação. Se analisarmos, o principal objetivo seria o resfriamento do ar. Os sistemas de gestão apresenta a mesma sistemática. 1.1.2 O sistema de informações de gestão de custos Segundo Hansen e Mowen (2003), o sistema de gestão de custos é um subsistema de informações contábeis, que está preocupado, primeiramente, com produção de saídas para usuários internos, usando entradas e processos necessários para satisfazer os objetivos gerenciais. O sistema de informações de gestão de custos não está limitado por qualquer critério formal, que define entradas e processamentos. Em vez disso, os critérios que governam as entradas e os processos são estabelecidos internamente. O sistema de gestão de custos também é conhecido pelo nome CMS (Cost Management system). Segundo Hongren, Sundem e Stratton (2003), o CMS “é um conjunto de ferramentas e técnicas que identificam como as decisões da gestão afetam os custos”. Quais os propósitos básicos de CMS? Medidas agregadas do valor do estoque e custos dos produtos manufaturados, para relatórios externos aos investidores, credores e outros interessados externos. Informações de custo para decisões gerenciais estratégicas. Informação de custo para controle operacional. Entrada Processo Saída 3 Os propósitos de um CMS são fornecer mensuração de custos para relatórios contábeis externos, decisões estratégicas e controle de custos operacionais internos. O gestor de produção avalia o custo operacional do processo de preparação para avaliar um programa de processo de melhoria. Isso é parte do objetivo de controle operacional do CMS. Identificar a rentabilidade de uma empresa, nos vários produtos manufaturados, e determinar quanto esses custos são relatados como estoque no balanço patrimonial, é o propósito do relatório contábil externo de um CMS. (HONGREN, SUNDEM, STRATTON, 2003). O sistema de contabilidade de custos Acumulação de custos: coletar custos por alguma classificação “natural”, como materiais ou mão de obra, ou por atividades desempenhadas, como processamento de pedidos ou processamento de máquinas. Alocação de custos: rastrear e reatribuir custos para um ou mais objetos de custo, tais como atividades, processos, departamentos, clientes ou produtos. 1.1.3 Classificação os diferentes tipos de custeio Para correta mensuração e alocação dos custos, devemos antes entender a classificação dos custos que fazem parte do processo produtivo. Classificação: Diretos: são aqueles que podem ser apropriados diretamente aos produtos fabricados, porque há uma medida objetiva do seu consumo nesta fabricação (NEVES, VICECONTI, 2003). Exemplos: matéria-prima, mão de obra; Indiretos: são custos que dependem de cálculos, rateios ou estimativas para serem apropriados aos diferentes produtos, portanto, são custos apropriados indiretamente aos produtos. O parâmetro utilizado para as estimativas é chamado de base ou critério de rateio (NEVES, VICECONTI, 2003). Exemplos: depreciação de equipamentos que são utilizados na fabricação de mais de um produto, salários dos chefes de supervisão de equipes de produção. 4 Atenção! 1) Se a empresa produz apenas um produto, todos os seus custos são indiretos. 2) Às vezes, o custo é direto por natureza, mas é de tão pequeno valor que não compensa o trabalho de associá-lo a cada produto, sendo tratado como indireto. Exemplo: gastos com verniz e cola na fabricação de móveis. Não alocados. Categoria de custo de manufatura 1. Custos de material direto: matéria-prima, materiais secundários (cujo valor compense apropriá-los diretamente ao produto) e material de embalagem. 2. Custo de mão de obra: gastos com mão de obra que são diretamente apropriáveis ao produto. 3. Custos indiretos de manufatura: demais gastos de fabricação. Segundo Neves e Viceconti, os custos indiretos de fabricação também recebem outros nomes, tais como gastos gerais de fabricação, gastos gerais de produção e despesas indiretas de fabricação. Custos de produtos e custo de período O que são custos de produtos? São custos identificados com produtos produzidos ou comprados para revenda. Custos de produtos e custo de período O que são custos de período? São alguns recursos consumidos durante o período de produção e normalmente apresentam em sua composição os seguintes elementos: material direto, mão de obra direta e CIF. Custo primário O que são custos primários? Custo primário ou direto é composto por: material direito + mão de obra direta (MD+ MOD). 5 Custo de conversão ou transformação O que é custo de transformação? São custos compostos dos seguintes elementos: mão de obra direta + custos indiretos de fabricação (MOD + CIF). 1.1.4 Custeio baseado em atividades Conforme Horgren, Sundem e Stratton (2003), na década de 90, muitas empresas dos Estados Unidos, para enfrentar os concorrentes do Japão, Alemanha e outros países, adotaram novas filosofias de gestão e desenvolveram novas tecnologias de produção. Desta busca por novas tecnologias, para melhoria dos controles de custos, surge o ABC (Activity Based Costing). Neves e Viceconti (2003) afirmam que, o chamado ABC é um método de custeio que, como o próprio nome indica, está baseado nas atividades que a empresa efetua no processo de fabricação ou prestação de serviços. A origem do método de custeio ABC proveio do significativo aumento dos chamados custos indiretos (overhead costs) na produção industrial, nas últimas décadas. Segundo os referidos autores citados anteriormente, à medida que a atividadefoi ficando mais complexa, principalmente, com o maior grau de mecanização e automação dos processos produtivos, houve um aumento considerável dos custos indiretos. Por este motivo, eles passaram a representar, em muitos casos, a maior parcela dos custos de produção. Neste cenário, surgiu o custeio ABC como uma forma de tentar alocar os recursos produtivos da empresa de forma mais eficiente. Para Eldenbug e Wolcott (2007), o custeio baseado em atividade (ABC) é um sistema utilizado para atribuir custos às atividades específicas e realizadas num processo de fabricação de produtos ou prestação de serviços. Por meio do ABC, tentam-se identificar os custos aos produtos ou a outros objetos de custos, de forma mais acurada do que segundo os métodos tradicionais de custeio. Conforme Eldenburg e Wolcott (2007), os custos de diversas atividades são os blocos de construção, usados na compilação dos custos referentes aos produtos ou a outros objetos de custo. Para cada bloco, coletam-se os custos relacionados às atividades e escolhe-se um direcionador de custos. Os referidos autores atribuem, então, os custos diretos e indiretos aos produtos ou serviços, usando-se essas contas de custos e seus respectivos direcionadores. As informações fornecidas pelo ABC podem ser utilizadas pela gestão, baseadas em atividades (ABM), com propósito de aperfeiçoar as operações e minimizar as atividades que não agregam valo à organização. 6 Neves e Viceconti (2003) apontam que, o pressuposto do ABC é que os recursos (fatores produtivos) da empresa são consumidos pelas suas atividades e não pelos produtos que ela fabrica. Os produtos são consequências das atividades, efetuadas pela empresa, para fabricá-los e comercializá-los. No custeio ABC, o objetivo é rastrear quais as atividades da empresa que estão consumindo, de forma mais significativa, seus recursos. Os custos são direcionados para essas atividades e destas para os bens fabricados. O rastreamento de custos, que está implícito no método de custeio ABC, é um processo mais complexo e sofisticado do que o simples rateio dos CIF’s aos produtos. Terminologia básica A seguir, é apresentado um sinótico dos termos básicos utilizados no ABC: Recursos; Direcionares de recursos; Tarefa; Atividade; Processo; Direcionadores de atividades; Objetos de custos. Descrição e hierarquia das atividades e recursos Analisando todos os recursos necessários para produzir o produto e serviço, fica mais fácil reconhecer os efeitos nos resultados das diferentes decisões. 7 No ABC, o custo varia de acordo com as mudanças na carga de trabalho de cada recurso, atividade ou direcionar de custo. Essa variação pode ocorrer em nível de unidade, produto e serviço, lote e organizacional. Recursos em nível de unidade materiais e componentes Materiais e componentes. Mão de obra direta. Depreciação de máquinas. Energia elétrica das máquinas da fábrica. Recursos em nível de produto Salário do pessoal da área de pesquisa e desenvolvimento. Depreciação dos equipamentos da área de pesquisa e desenvolvimento. Custos de desenvolvimento. Custos do controle de qualidade. Recursos em nível de lotes Salários relacionados à comprar e receber. Salários relacionados à movimentação de materiais. Custos de controle de qualidade. Recurso em nível organizacional Salários do pessoal do administrativo. Depreciação dos equipamentos das áreas administrativas. Seguro, tributos etc. Treinamento. 8 1.1.4.1 Desenvolvimento do ABC O desenvolvimento do ABC envolve, basicamente, quatro etapas: Desenvolver o dicionário de atividades; Alocação dos custos às atividades; Determinar o valor de cada direcionador de custo; Alocar os custos das atividades ao(s) objeto(s) de custos. Benefícios e limitações à implementação do custeio, baseado em atividades, apresenta inúmeros benefícios e limitações, dependendo da forma de desenvolvimento do sistema. Benefícios do ABC: Melhora a alocação dos custos; Melhora o controle dos custos indiretos; Melhoria na tomada de decisões. Limitações do ABC Pode ser dispendioso. Não soluciona por completo a problemática da alocação dos custos indiretos. Exemplo simplificado, modelo utilizado de Neves e Viceconti (2003, p.133-135). Como visto anteriormente, o custeamento por atividade (ABC) é um processo bastante complexo, pois envolve os seguintes procedimentos: A empresa INDUSTRIAL Ltda apresentou os seguintes dados: 1) Produção da companhia. Produtos da Industrial Ltda Preço de venda Produção mensal Custos diretos unitários X 8,00 10.000 2,00 Y 14,00 5.000 3,00 Z 24,00 4.000 5,00 9 2) Custos indiretos de fabricação. Aluguel:..........................................R$ 40.000,00 Mão de obra indireta:.................R$ 90.000,00 Material de consumo:.............. ...R$ 20.000,00 Total...............................................R$ 150.000,00 3) Atividades desenvolvidas pela empresa. Departamento Atividades Compras Compras Produção Atividade Industrial 1 Atividade Industrial 2 Acabamento Acabar Despachar Atribuição de custos às atividades Critérios: Aluguel e seguro - o direcionador do recurso é a área utilizada pela atividade, uma vez que o valor do aluguel e o do seguro da fábrica dependem da área; Mão de obra indireta - atribuição direta às atividades, uma vez que cada uma delas tem funcionários indiretos próprios. Os valores atribuídos pelo departamento pessoal da empresa foram os seguintes: Compras..................................R$ 10.000,00 Atividades Industrial 1.............R$ 30.000,00 Atividade Industrial 2...............R$ 40.000,00 Acabamento............................R$ 8.000,00 Despacho................................R$ 2.000,00 10 Material de Consumo - atribuição direta às atividades por meio das requisições de material de cada departamento. Os valores atribuídos pelo almoxarifado foram: Compras......................................R$ 2.000,00 Atividade Industrial 1...................R$ 5.000,00 Atividade Industrial 2...................R$ 8.000,00 Acabamento................................R$ 3.000,00 Despacho....................................R$ 2.000,00 As áreas ocupadas por cada atividade, em percentual, são dadas pela tabela a seguir: Atividades Porcentual da área Compras 20% Atividade Industrial 1 25% Atividade Industrial 2 30% Acabar 15% Despachar 10% Total 100% O quadro abaixo resume a atribuição dos custos indiretos às atividades: Atividades Aluguel + seguros (% da área x R$ 40.000,00) Mão de obra indireta (atribuição direta) Material de consumo (atribuição direta) Total Compras 8.000,00 10.000,00 2.000,00 20.000,00 Atividade Industrial 1 10.000,00 30.000,00 5.000,00 45.000,00 Atividade Industrial 2 12.000,00 40.000,00 8.000,00 60.000,00 Acabamento 6.000,00 8.000,00 3.000,00 17.000,00 Despacho 4.000,00 2.000,00 2.000,00 8.000,00 Total 40.000,00 90.000,00 20.000,00 150.000,00 11 Atribuições dos custos das atividades aos produtos Atribuição dos custos das atividades aos produtos é feita por meio da utilização de um direcionador de atividades, que é um indicador de quanto os produtos consomem de cada atividade. Suponhamos a seguinte composição dos direcionadores de atividade em nosso exemplo: AtividadesDirecionadores de atividades X Y Z Total Compras Nos pedidos 30% 20% 50% 100% Atividade Industrial 1 Tempo de produção 5% 50% 45% 100% Atividade Industrial 2 Tempo de produção 25% 35% 40% 100% Acabamento Tempo de operação 35% 30% 35% 100% Despacho Tempo de operação 40% 30% 30% 100% Quadro Resumo Atividades/Produtos X Y Z Total Compras 6.000,00 4.000,00 10.000,00 20.000,00 Atividade Industrial 1 2.250,00 22.500,00 20.250,00 45.000,00 Atividade Industrial 2 15.000,00 21.000,00 24.000,00 60.000,00 Acabamento 5.950,00 5.100,00 5.950,00 17.000,00 Despacho 3.200,00 2.400,00 2.400,00 8.000,00 Total 32.400,00 55.000,00 62.600,00 150.000,00 Quantidades Produzidas 10.000 5.000 4.000 - CIF unitários 3,24 11,00 15,65 - Custos diretos Unitários 2,00 3,00 5,00 - Custo Unitário Total 5,24 14,00 20,65 12 Referências ANTHONY, Robert N.; GOVINDARAJAN, Vijay. Sistemas de Controle Gerencial. São Paulo: Atlas, 2002. NEVES, Silveira das; VICECONTI, Paulo E. V. Contabilidade de Custos. 1. ed. São Paulo: Frase, 2003. HORNGREN, Charles T.; SUNDEM, Gary L.; STRATTON, William O. Contabilidade Gerencial. 12. ed. São Paulo: Pearson, ELDENBURG, Lesle G.; WOLCOTT, Susan K. Gestão de Custos: Como medir, monitorar e motivar o desempenho. Rio de Janeiro: LTC, 2007.
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