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46 RESPONSABILIDADE CIVIL UNIDADE 10: NOVOS ASPECTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL Na introdução à disciplina foi comentado que os paradigmas da responsabilidade civil estão sendo revistos e o conteúdo da disciplina vem sendo ressignifi cado para melhor atender à função do instituto que é reestabelecer o status quo ante da vítima, garantir que uma determinada pessoa não tenha que suportar o prejuízo ao qual não deu causa. A vítima é o elemento central. Esta proteção à pessoa decorre da previsão do Art.1°, III da Constituição Federal, que coloca a dignidade da pessoa humana como valor maior do ordenamento e vincula este princípio à própria fi nalidade do Direito (MORAES, 2010, p. 323). Signifi ca dizer que, se não for em prol da tutela da pessoa humana, o instituto deixa de atender a sua função. Maria Celina Bodin de Morais, em sua obra Na medida da pessoa humana, assim considera: O princípio da proteção humana, determinando constitucionalmente, gerou no sistema particular da responsabilidade civil a sistemática extensão da tutela da pessoa da vítima, em detrimento do objetivo anterior de punição do responsável. Tal extensão, neste âmbito, desdobrou-se em dois efeitos principais: de um lado, no expressivo aumento das hipóteses de dano ressarcível; de outro lado, na perda da importância da função moralizadora, outrora tida como um dos aspectos nucleares do instituto. (MORAES, 2010, p. 323). A interpretação constitucional do Direito Civil rompe seu caráter histórico individualista e a tutela exclusiva de direitos subjetivos patrimoniais, entrelaçando-o com valores da Constituição Federal, em especial o da dignidade da pessoa humana e o da solidariedade social e ampliando significativamente o escopo da responsabilidade civil. Historicamente o dano, e sua consequente ressarcibilidade, é consequência de um ato ilícito, mas “modernamente, desvincula-se o conceito de dano da noção de antijuridicidade, adotando critérios mais amplos, que englobam não só direitos, mas também interesses que, porque considerados dignos de tutela jurídica, quando lesionados, obrigam a sua reparação” (MORAES, 2010, p. 326). Isto explica porque tantas novas hipóteses de danos passam a ser consideradas. Algumas delas são objeto de estudo desta unidade. A seguir, serão feitas sugestões de livros e artigos, cujo conteúdo está disponível no formato digital e pode ser acessado por você, aluno. É importante frisar que este recurso está disponível para você, não só para esta disciplina, mas contempla o conteúdo de várias disciplinas do seu curso e é um excelente recurso de pesquisa. Aproveite a leitura! TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE A teoria da perda da chance surgiu na França, no fi nal do século XIX, e por ela se considera que privar alguém de obter uma vantagem ou impedir a pessoa de evitar prejuízo caracteriza dano e este deverá ser indenizado por quem o causou. Responsabilidade Civil 47 Importante É importante não confundir a chance real de dano com o dano hipotético ou imaginário, pois estes últimos não serão indenizáveis. A chance deve de fato existir e ser comprovada. A responsabilidade da perda de uma chance já foi reconhecida em casos de profissionais da área de saúde, como a perda da chance de cura, ou em casos de profissionais da área jurídica em que a parte perde a chance de obter do judiciário o reconhecimento do seu direito. Para Gonçalves (2014) a indenização pela perda de uma chance jamais será maior ou igual ao valor do resultado útil esperado, pois o que será indenizado é a chance perdida. Esta avaliação será feita pelo juiz, que quantificará o dano de forma equitativa. Leituras Sugeridas: Responsabilidade civil por perda de uma chance • Autor(es): Sergio Savi • Forma de citação: SAVI, Sérgio. Responsabilidade civil por perda de uma chance. 3ª ed. Atlas, 2012. VitalBook fi le. Minha Biblioteca. • Acesso em: http://online.minhabiblioteca.com.br/books/9788522474516 R esponsabilidade civil pela perda de uma chance: Uma análise do direito comparado e brasileiro • Autor(es): Rafael Silva • Forma de citação: SILVA, Rafael. Responsabilidade civil pela perda de uma chance: Uma análise do direito comparado e brasileiro. 3ª ed. Atlas, 2013. VitalBook fi le. Minha Biblioteca. • Acesso em: http://online.minhabiblioteca.com.br/books/9788522475360 *Acesse as obras utilizando seu Login e Senha do Unifor Online DANO MORAL DECORRENTE DA ALIENAÇÃO PARENTAL E ABANDONO AFETIVO A Lei nº 12.318/2010 dispõe sobre alienação parental e no Art. 2o traz o seu conceito: Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Exemplos de como a alienação parental se confi gura: I – realizar campanha de desqualifi cação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II – difi cultar o exercício da autoridade parental; III – difi cultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV – difi cultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; Responsabilidade Civil 48 V – omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI – apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou difi cultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII – mudar o domicílio para local distante, sem justifi cativa, visando difi cultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. Não resta dúvidas de que atitudes como estas possam gerar danos à criança, trazendo-lhe traumas. Mas é necessário que tais danos sejam verifi cáveis por meio de perícias, o que servirá de comprovação da efetividade do dano e não poderá ser meramente presumido. No caso do abandono afetivo a comprovação se torna ainda mais difícil. Denominado também de abandono moral ou abandono paterno-� lial, o abandono afetivo se baseia na teoria do desamor. Importante A jurisprudência não é uniforme em relação a este tipo de indenização, tendo fi cado marcada a ideia de que não caberia ao judiciário condenar alguém ao pagamento de indenização por desamor. Pela análise dos julgados mais recentes, reforçados por uma doutrina civil cada vez mais impregnada dos valores constitucionais, em especial, o princípio da dignidade da pessoa humana, a tendência é que se reconheça cada vez mais o dano por abandono afetivo, e se considere a possibilidade de indenização. Leituras Sugeridas: Síndrome da alienação parental • Autor(es): Ana Carolina Carpes Madaleno e Rolf Madaleno • Forma de citação: MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome da alienação parental. 2ª ed. Forense, 2014. VitalBook fi le. Minha Biblioteca. • Acesso em: http://online.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-309-5745-2/epubcfi /6/2 Alienação parental • Autor(es): Douglas Phillips Freitas • Forma de citação: FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: Comentários à Lei 12.318/2010. 3ª edição. Forense, 2013. VitalBook fi le. Minha Biblioteca. • Acesso em: http://online.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-309-5177-1/epubcfi /6/2 *Acesse as obras utilizando seu Login e Senha do Unifor Online RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES CONJUGAIS E RESPONSABILIDADE PELO ROMPIMENTO INJUSTIFICADO DO NOIVADO A responsabilização por rompimento de noivado gera certa polêmica pois poderia comprometer o direito à liberdade das partes envolvidas, mas, na verdade, não é qualquer rompimento de noivado que enseja a responsabilização. Emregra, a indenização ocorre em casos de muitas despesas feitas em função da festa de casamento ou devolução de joias de família dadas à noiva, ou seja, indenização por danos materiais. Os casos de danos morais acontecem quando os convites já haviam sido distribuídos, ou seja, Responsabilidade Civil 49 quando esta promessa não estar mais restrita ao âmbito familiar dos noivos. Importante Por esta razão, é importante lembrar que não é qualquer término de namoro que gera a obrigação de indenizar, bem como não cabe falar em responsabilização quando há uma justifi cativa para encerrar a relação. A responsabilidade civil nas relações conjugais também é decorrente de situações excepcionais, como eventos que gerem constrangimentos a uma das partes. A situação mais corriqueira decorre de adultério e suas consequências. Para exemplifi car, pode-se citar o caso de um marido que tendo sido traído pela mulher, registrou o fi lho do amante como seu, provendo-lhe todas as despesas, além da inestimável perda afetiva sofrida ao saber que o fi lho não era seu. Também comum fazer surgir a indenização, os casos que culminam com exposição pública, como os casos em que o adultério é defl agrado e debatido no ambiente de trabalho de uma das partes envolvidas. Assim como no rompimento de noivado, a responsabilização das relações conjugais não ocorre em hipóteses simples e corriqueiras, como desavenças entre os casais. É necessário que de fato exista um dano, patrimonial ou extrapatrimonial, e que este possa efetivamente ser comprovado. Este entendimento se aplica também às uniões estáveis e às relações extraconjugais. Neste sentido, afi rma-se: … a ruptura de longo concubinato, de forma unilateral ou por mútuo consentimento, acabava criando uma situação extremamente injusta para um dos concubinos, porque em alguns casos, por exemplo, os bens amealhados com o esforço comum haviam sido adquiridos somente em nome do cônjuge varão. (GONÇALVES, 2014, p. 90). Para estas situações, deve-se considerar a Súmula 380 do STF: “Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum” e considerar que estão incluídas entre as relações conjugais os relacionamentos homoafetivos. Leituras Sugerida: Dano moral no direito de família • Autor(es): Valéria Cardin • Forma de citação: CARDIN, Valéria. Dano moral no direito de família. Saraiva, 2011. VitalBook fi le. Minha Biblioteca. • Acesso em: http://online.minhabiblioteca.com.br/books/9788502161887 *Acesse as obras utilizando seu Login e Senha do Unifor Online RESPONSABILIDADE POR ASSÉDIO MORAL O assédio moral também é conhecido como mobbing, bullying ou terrorismo psicológico. A responsabilização por Assédio Moral também é bem recente e as ementas transcritas descrevem de Responsabilidade Civil 50 forma clara o conceito e como se configura. ASSÉDIO MORAL – CONFIGURAÇÃO – O que é assédio moral no trabalho? É a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho, e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias, onde predominam condutas negativas, relações desumanas e antiéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigidas a um subordinado, desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização. A organização e condições de trabalho, assim como as relações entre os trabalhadores, condicionam em grande parte a qualidade de vida. O que acontece dentro das empresas é fundamental para a democracia e os direitos humanos. Portanto, lutar contra o assédio moral no trabalho é contribuir com o exercício concreto e pessoal de todas as liberdades fundamentais. Uma forte estratégia do agressor na prática do assédio moral é escolher a vítima e isolá-la do grupo. Neste caso concreto, foi exatamente o que ocorreu com o autor, sendo confinado em uma sala, sem ser-lhe atribuída qualquer tarefa, por longo período, existindo grande repercussão em sua saúde, tendo em vista os danos psíquicos por que passou. Os elementos contidos nos autos conduzem, inexoravelmente, à conclusão de que se encontra caracterizado o fenômeno denominado assédio moral. Apelo desprovido, neste particular. Valor da indenização. Critério para a sua fixação. A fixação analógica, como parâmetro para a quantificação da compensação pelo dano moral, do critério original de indenização pela despedida imotivada, contido no Art. 478 consolidado, é o mais aconselhável e adotado pelos pretórios trabalhistas. Ressalte-se que a analogia está expressamente prevista no texto consolidado como forma de integração do ordenamento jurídico, conforme se infere da redação do seu Art. 8º. Ademais, no silêncio de uma regra específica para a fixação do valor da indenização, nada mais salutar do que utilizar um critério previsto na própria legislação laboral. Assim, tendo em vista gravidade dos fatos relatados nestes autos, mantém-se a respeitável sentença, também neste aspecto, fixando-se que a indenização será de um salário. O maior recebido pelo obreiro –, por ano trabalhado, em dobro. (TRT 17ª R.– RO 1142.2001.006.17.00.9 – Rel. Juiz José Carlos Rizk – DOES 15.09.2002) DANOS MORAIS – ASSÉDIO MORAL CONFIGURADO – DEVIDA INDENIZAÇÃO REPARATÓRIA - Constitui assédio moral a tortura psicológica atual e continuada a que é submetido o empregado, consubstanciada no terror de ordem pessoal, moral e psicológico, praticado no âmbito da empresa, podendo ser exercitado pelo superior hierárquico, por grupo de empregados do mesmo nível e pelos subordinados contra o chefe, isto é, pode ocorrer no sentido vertical, horizontal e ascendente. Tem por objetivo, via de regra, tornar insuportável o ambiente laboral, obrigando o trabalhador a tomar a iniciativa, por qualquer meio, do desfazimento do vínculo empregatício. O mobbing caracteriza-se pela prática atual e frequente de atos de violência contra a pessoa do empregado, dos quais participam, necessariamente, o ofensor, o ofendido e os espectadores (grupo de empregados), uma vez que tem por finalidade promover a humilhação e o constrangimento perante os demais colegas de Responsabilidade Civil 51 trabalho. Marie-France Hirigoyen defi ne o psicoterror como sendo “toda e qualquer conduta abusiva, manifestando-se, sobretudo, por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos, que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho” (in “assédio moral a violência perversa do cotidiano”). in casu, fi caram comprovados, à saciedade, a humilhação e o constrangimento a que era submetido, rotineiramente, o empregado, na presença dos demais colegas de trabalho, por ato do superior hierárquico, por não ter atingido a meta de produção, consubstanciados na atribuição da pecha de “irresponsável”, “incompetente”, “fracassado”, dentre outros. Cabível, destarte, a indenização por danos morais. Recurso ordinário improvido, no particular (TRT 6ª Reg., Proc. Nº 00340-2004-005-06-00-1, 1ª T., Rel. Juiz Valdir José Silva de Carvalho – DOEPE 04.02.2005) Leitura Sugerida: Assédio moral • Autor(es): Sônia Nascimento • Forma de citação: NASCIMENTO, Sônia. Assédio moral. 2ª ed. Saraiva, 2010. VitalBook fi le. Minha Biblioteca. • Acesso em: http://online.minhabiblioteca.com.br/books/9788502139787/page/1 *Acesse as obras utilizando seu Login e Senha do Unifor Online DANO PELA PRÁTICA DE BULLYING Importante A prática do bullying não é recente, mas o conhecimento das consequências destes atos nas vidas das pessoas vitimadas fez perceber os traumas e os danos, muitos deles irreversíveis. “A palavra bullying vem da língua inglesa e signifi ca usaro poder para intimidar e humilhar, de modo repetitivo e intencional, e envolve atos de violência verbal, psicológica e física” (GONÇALVES, 2014, p. 163). Esta prática é muito comum nas escolas, mas tem se expandido para além dela por meio das redes sociais. Trata-se de prática de difícil constatação uma vez que as vítimas temem compartilhar o sofrimento e na maior parte das vezes sequer identifi cam os danos sofridos. A responsabilidade é das escolas e dos pais, podendo ser solidária ou individual dependendo do caso concreto. Leitura Sugerida: A responsabilidade indenizatória da prática do bullying • Autor: José Eduardo Parlato Fonseca Vaz • Forma de citação: VAZ, José Eduardo Parlato Fonseca. A responsabilidade indenizatória da prática do bullying. In: Revista síntese de direito de família. Ano 2013, v.15, n.9, mês AGO/ Responsabilidade Civil 52 SET, páginas 9-24 • Também acessível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_ leitura&artigo_id=8104 Você pode estudar os temas aqui tratados nos livros indicados na Bibliografia Básica e Complementar do seu plano de aula e nas obras disponíveis na Biblioteca da UNIFOR, mas a leitura aqui indicada, sem dúvidas, dará a você maior chance de aprofundar-se no assunto, uma vez que são temas novos e específicos. Lembre-se de tirar suas dúvidas no ambiente virtual e nas aulas presenciais. Aprimore os seus conhecimentos lendo jurisprudências sobre os assuntos aqui tratados, analisando-as criticamente. Finalizamos aqui a nossa última unidade. Até a próxima! Créditos RESPONSABILIDADE CIVIL NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O assunto estudado por você nessa disciplina foi planejado pelo professor conteudista, que é o responsável pela produção de conteúdo didático, e foi desenvolvido e implementado por uma equipe composta por profissionais de diversas áreas, com o objetivo de apoiar e facilitar o processo ensino-aprendizagem. Coordenação do Núcleo de Educação a Distância: Lana Paula Crivelaro Monteiro de Almeida Supervisão Administrativa: Denise de Castro Gomes Produção de Conteúdo Didático: Roberta Teles Bezerra Design Instrucional: Andrea Chagas Alves de Almeida Projeto Instrucional: Bárbara Mota Barros, Jackson de Moura Oliveira Roteiro de Áudio e Vídeo: José Glauber Peixoto Rocha Produção de Áudio e Vídeo: José Moreira de Sousa Identidade Visual/Arte: Francisco Cristiano Lopes de Sousa, Viviane Cláudia Paiva Programação/ Implementação: Jorge Augusto Fortes Moura Editoração: Camila Duarte do Nascimento Moreira, Sávio Félix Mota Revisão Gramatical: Luís Carlos de Oliveira Sousa
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