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Resenha do livro “O estado empreendedor: desmascarando o mito do setor público x setor privado

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Resenha do livro “O estado empreendedor: desmascarando o mito do setor público x setor privado” ”, de Mariana Mazzucato. 
Aluna: Kethellyn Soares
Professora de economia da inovação no departamento de ciência política da universidade de Sussex (Reino Unido) Mariana Mazzucato vem em sua obra desmistificar diversas “verdades absolutas” que são difundidas sobre a morosidade e ineficiência estatal, que já entraram para o senso comum. O livro “O estado empreendedor” é lançado como uma versão revisada e ampliada de um relatório feito sob uma espécie de apelo para que o governo britânico não programas estatais em nome de uma maior competitividade econômica.
A intenção da autora é demonstrar como os argumentos sobre esse suposto estado arcaico e disfuncional tem caráter um fundamentalmente ideológico e pouco baseado em fatos. O livro se utiliza de algo que vai alem de bons argumentos para demonstrar que o Estado está profundamente ligado à inovação e atua na vanguarda de setores tecnológicos de ponta assumindo riscos onde o mercado sequer cogita. Para tanto a autora se utiliza extensivamente de exemplos para demonstrar seu ponto de vista, não deixando margem para descrença.
Fica claro que a abordagem a visão tradicional de um Estado corretor de falhas de mercado não corresponde à realidade, e que sim o Estado assume com maestria a liderança projetos inovadores e de sucesso. A ideia convencional de que setor privado é o responsável pelo dinamismo restando ao Estado o papel passivo de desenvolver pesquisa básica fornecendo apenas aquilo com caráter de bem publico é desfeita pela autora mostrando a falácia desses argumentos. Contudo ela aponta que tratar o Estado como estorvo pode ser uma profecia autorrealizável já que uma vez tratado como tal dificilmente atrairá capital humano qualificado para ser eficaz e promotor de desenvolvimento.
A necessidade de se demonstrar como o Estado atua na formação e criação de mercados é levantada e como os setores de tecnologia da informação, comunicação, farmacologia, biotecnologia, nanotecnologia e tecnologias verdes, tiveram o Estado na sua liderança. A maior parte dos exemplos do texto se refere aos EUA, justamente por ser utilizado como ícone da não intervenção cuja posição muita a frente nas tecnologias se devem justamente a esse fato. Contudo o que é mostrado é exatamente o oposto, os EUA são altamente intervencionistas no que diz respeito à sua atuação nos tais setores. Ainda temos cases de sucesso no mundo inteiro justificando o papel ativo e empreendedor que o Estado assume, inclusive no Brasil.
Um ponto chave levantado é sem duvida a autora chamar atenção para o fato que as inovações mais radicais e revolucionárias dependem da disposição dos agentes econômicos de assumir o risco e a verdadeira “incerteza knightiana” (diferenciada do risco que pode ser calculado com alguma distribuição de probabilidade). Segundo ela isso exige um investimento continuo e obstinado de longo prazo onde muitos acreditam advir do capital de risco, mas que de fato só vem através do investimento estatal já que o setor privado visa principalmente ganhos em curto prazo.
Além da introdução e conclusão o livro conta com mais nove capítulos que expõem desde aspectos sobre o papel do Estado nos sistemas de inovação bem como sua relação com o setor privado. 
No primeiro capítulo é posto em cheque o caráter ideológico dos ataques à atuação estatal, sobretudo nos conselhos de como se deve impor limites para sua atuação na recuperação pós-crise. A mídia, empresários e políticos libertários alimentam a dicotomia do setor privado dinâmico e um setor público preguiçoso bombardeando e culpando este por todos os problemas nos países periféricos da União Europeia ( como Portugal e Grécia) . 
A discussão sobre como o Estado é incapaz de “escolher vencedores” enquanto os perdedores escolhem o Estado se deve a ignorância de que as chamadas “falhas” ocorreram foi em um território altamente complexo onde a maioria das empresas não se atreve a tentar. Porém quando tais iniciativas dão certo (ex. internet, revolução TI) o setor privado surfa na onda criada pelo Estado, por ele tão criticado, usurpando-o muitas vezes numa “relação parasitaria”. Segundo a autora a incapacidade do Estado para defender seu papel em relação aos vencedores (exemplo da Aplle) o coloca em posição vulnerável e mais sujeitos a criticas pelas falhas ocasionais, inevitáveis quando se opera com a verdadeira incerteza.
Os sistemas de inovação contam com diversos agentes que interagem para formar e difundir novas tecnologias formando duas possíveis configurações: simbiótico ou parasitário. Podemos fazer a distinção entre “sistema de inovação simbiótico”( onde o Estado bem como o setor privado se beneficiam mutuamente) e o “sistema de inovação parasitário”( onde o setor privado drena os benefícios dados pelo Estado ao mesmo tempo em que não retorna sua parcela de contribuição). 
Contudo a falta de entendimento do papel desses diversos atores nesse processo podem gerar esta ultima configuração citando como exemplo a recente tendência de aumento nos dos investimentos públicos em P&D em oposição à diminuição dos gastos privados com a mesma.Ainda podemos apontar a falha no modelo de inovação aberta,onde as grandes empresas se apropriam das tecnologias criadas pelas menores ou no ambiente acadêmico estatal ao invés de criarem as suas.
O segundo capítulo trata como se relacionam tecnologia,inovação e crescimento. Polanyi demonstra o mito da oposição entre o Estado e mercado uma vez que este foi fundamentalmente moldado por àquele. Para Mazzucato devemos combinar das lições de Keynes e Schumpeter para compatibilizar crescimento simultaneamente com redistribuição. 
Um maior reconhecimento sobre a importância da tecnologia para o crescimento econômico foi dado a partir do modelo de crescimento exógeno de Solow , onde 90% da variação da produção não são explicados por capital e trabalho. Desde então investimentos em P&D e capital humano são as responsáveis pelo surgimento de novas tecnologias tornando endógeno a variável do crescimento a partir desses 2 parâmetros .
Essa mudança de ênfase levou a indicadores quantitativos como gastos em P&D e em patentes servirem como termômetro de crescimento sendo esse processo resultante da atuação da empresa e não fruto da organização social. No entanto o que importa não é necessariamente a quantidade de gastos nessas áreas, mas sim como é feita a difusão do conhecimento. O exemplo dado para ilustrar é o caso do Japão que investia proporcionalmente menos em P&D do que na URSS porém tinha mecanismos de difusão melhores , portanto cresceu mais .
Esse capítulo busca alertar para os diversos mitos que supostamente conduzem à inovação que com frequência conduzem a políticas ineficientes. Podemos alguns pressupostos errôneos como: Quantidade de gasto em P&D dita a quantidade de inovação; número de patentes como sinônimo de inovação ;As pequenas empresas são importantes pois é nelas que há o dinamismo necessário para inovação ;É necessário menos impostos às empresas privadas ou que o capital de risco realmente adora o risco.
No terceiro capítulo vem mostrar que o Estado não apenas elimina os riscos mas lidera o processo de crescimento, ou melhor ele atua até a incerteza se transforme em risco passível de ser calculado que é quando o mercado começa a atuar . Duas características endossam a questão sobre o tipo de pesquisa que o setor público e o setor privado devem produzir: O tempo necessário e sua contribuição para o bem publico, a tendência é que quanto maiores tais variáveis mais sejam deixadas a cargo do Estado.
No entanto essa analise simplista concentrada na correção das falhas de mercado deixa de fora um aspecto importante, que o governo não apenas financiou pesquisa básica e arriscada mas foi fonte primordial de pioneirismo e na criação de tecnologias de propósito geral GPTS em inglês .Tais tecnologias tem por traz o investimento do Estado e são responsáveis,entre outras coisas , por facilitara difusão o processo de inovação com tendências a baixa de custos para usuários e se espalhares para diversos setores da economia. 
Um ponto interessante é que os fármacos mais inovadores e radicais vêm dos laboratórios ou das universidades apoiados pelo governo enquanto que a grandes empresas farmacêuticas se concentram na produção de medicamentos similares(são produzidos com pequenas mudanças nas formulas ) e no marketing de negócios.O setor da biotecnologia é usado como exemplo de desenvolvimento que se deu através do investimento estatal e não do capital empresarial como se alega . O paradoxo fica claro quando o empresariado pressiona por custos de impostos e de burocracia ao mesmo tempo em que se mostra altamente dependente de investimento para a criação de conhecimento e financiamento na área médica. 
O quarto capítulo traz a tona que apesar da percepção dos EUA como o centro da criação de riqueza liderada pelo setor privado, na verdade, foi o Estado que se envolveu com os riscos do empreendedorismo inovador. Para tal ela utiliza 4 exemplos emblemáticos dessa atuação:
DARPA (Agencia de Projetos de Pesquisas Avançadas) - criada para promover a superioridade tecnológica em diferentes setores financiou mais do que pesquisa básica. Atuou na formação de departamentos de ciência da computação, apoiou start-ups com pesquisas iniciais e pesquisa de interface homem computador, contribuiu para a pesquisa de semicondutores, supervisionou os estágios iniciais da internet .
SBIR (Programa de Pesquisa para Inovação em Pequenas Empresas)- agências governamentais com grandes recursos para pesquisa tinha de destinar uma fração dos seus orçamentos para apoiar pequenas empresas.
Orphan Drug Act (decreto dos medicamentos órfãos ) - subsídios clínicos e em P&D e direitos de comercialização para produtos desenvolvidos para o tratamento de doenças raras, permitindo que pequenas empresas comprometidas tivessem uma fatia de mercado que não seriam exploradas sem o incentivo.
Iniciativa Nacional de Nanotecnologia – intenção de dinamizar o que se espera ser próximo grande setor de revolução tecnológica após a internet. Ainda não causou um grande impacto econômico devido à falta de comercialização de novas tecnologias.
O quinto capitulo traz o exemplo da Apple ,empresa tida como sinônimo da inovação e tecnologia supostamente proporcionadas pelo não intervencionismo. Apesar de reconhecer o sucesso organizacional da empresa o mérito de Steve Jobs reside em como ele integrou tecnologias desenvolvidas pelos Estado na criação de um produto com design e proposta inovadores. O caso da empresa se torna emblemático uma vez que mostra como a empresa surfou na onda desses investimentos e que sem tais requisitos seus produtos não passariam de brinquedos não muito diferentes dos demais no mercado.
São narrados como cada tecnologias revolucionárias presente nos aparelhos (internet, o GPS, telas sensíveis ao toque, disco rígido, microprocessadores, semicondutores, bateria de lítio, telas LCD e outras tecnologias de comunicação) foram desenvolvidas graças a investimentos feitos pelo Estado para algum objetivo especifico. É importante ainda ressaltar que não se tratou da “escolha de vencedores” que se costuma criticar na atuação estatal mas observar que esta ação propiciou que vencedores pudessem surgir . A autora demonstra espanto com o fato de uma empresa de tamanha fama mundial ter a historia por trás de si tão desconhecida. Ela ainda chama atenção para o fato que mesmo tendo se beneficiado direta e indiretamente da ação governamental em todos seus estágios com frequência a empresa critica a “ação predatória” estatal na cobrança excessiva de tributos migrando sua produção para outros países menos burocráticos.
O sexto capitulo traz a questão da revolução verde e como o Estado atua desde o estágio de pesquisa básica para sua criação até a criação e uso da mesma. A energia tem papel fundamental na promoção do crescimento e seu uso e distribuição tem caráter fundamental para trilhar o desenvolvimento. Porém o processo de migração de uma tecnologia para outra envolve custos demasiadamente altos para ser arcados pelo mercado que em geral não está disposto a arcar. 
Como ocorreu nos campos da nanotecnologia, biotecnologia e tecnologia da informação, o setor privado só se envolverá após os níveis de risco e incerteza serem significativamente minimizados. Dessa forma o Estado atua tanto na criação de oferta, com políticas de investimentos públicos direcionados a formar conhecimento, quanto da demanda com a criação de padrões de sustentabilidade e licenças ambientais a serem obtidas pelas empresas. Dessa forma o Estado atua diretamente na criação de um mercado de tecnologias verdes liderando as ações necessárias para sua ampliação.
O sétimo capítulo mostra que também no caso da energia eólica e solar não houve nenhum acidente de “gênios empreendedores” se aventurando num mar de risco. Do contrario, o desenvolvimento de tecnologias limpas contou massivamente com investimentos estatais ,bem como seu apoio em diversos aspectos, sem os quais não teria sido possível ao setor estar no ponto que se encontra atualmente.
O oitavo trata de como os massivos investimentos do governo americano tem propiciado a evolução de ecossistema de inovação culminando em diversos negócios extremamente rentáveis sem, no entanto esses esforços retornarem o equivalente à sociedade. Há a necessidade constante de se assegurar que o Estado empreendedor não transfira recursos públicos à iniciativa privada sem as devidas contrapartidas como exemplo a geração de empregos. Mais uma vez e trago a tona a questão de privatizar os lucros e socializar os gastos , os esforços coletivos para criar novas tecnologias revolucionárias não tem rendido o retorno fiscal para justificar os investimentos realizados pelo governo.
Essa dinâmica é possível graças à facilidade das empresas em se apropriar do conhecimento gerado por esse sistema de inovação aberto e fortemente financiado pelo Estado e ainda permitir a diminuição da sua própria verba para P&D. Ao mesmo tempo há uma facilidade de terceirizar sua mão de obra sem garantias de maiores direitos bem como a não necessidade de se estabelecer em um território (no caso onde obteve as vantagens para sua criação). As mesmas empresas que se beneficiam das vantagens do investimento estatal pressionam cada vez mais pela diminuição dos impostos e maior flexibilidade para seus negócios. É extremamente importante repensar essa dinâmica insustentável e parasitária, pois o Estado não pode estar a serviço das empresas sem que a relação entre público e privado seja de benefícios recíprocos.
O nono capítulo trata de como os riscos são socializados enquanto as recompensas são privatizadas. O que se observa é que o Estado desempenhando um papel de liderança no sistema de inovação aberta sem uma devida contrapartida em termos de retornos financeiros. Mazucatto refurta a ideia que o sistema tributário é capaz de retornar indiretamente os esforços do Estado e defende o estabelecimento de mecanismos que garantam o retorno direto dos investimentos – tais como empréstimos reembolsáveis, retenção de ganhos, royaties e a atuação dos bancos de desenvolvimento.
Para concluir devemos entender como o Estado tem assumido grande parte do risco do sistema sem, no entanto que os empréstimos e garantias oferecidos sejam feitos com algum tipo de compromisso de retorno do setor privado. É necessário enxergar a legitimidade que o Estado tem de criar e investir em coisas que de outra maneira não se tornariam realidade. É preciso garantir que o Estado faça investimentos que possam criar benefícios para o bem público operando na incerteza com a certeza que diante de uma vitória também haja um retorno para cobrir as derrotas. É essencial, sobretudo que o desenvolvimento que se alimenta da inovação seja fonte de inclusão e de forma sustentável o Estado empreendedor possa exercer seu papel por muitos negado.

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