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ESPAC¸OS ME´TRICOS (COMENTADO) 20 08 G entil Curva de Peano (S) tχ(1) tχ(0) χ 10 t Cubo Hiper-Ma´gico t t tt t t tt 1 2 34 5 6 78 ϕt 1 t 2 t 3 t 4 t 5 t 6 t 7 t 8 t9 C B P F -N F -0 0 2 / 0 6 t9 − Topologia Qua^ntica 0 1 2 1 1 ¬ ¬12 1 4 1 4 3 4 3 4 s 0, 999 . . . = 9 10 + 9 100 + 9 1000 + · · · = 0 1 2 10 1 2 1 ¬ s x → sf(x) ↑ lim x→0 x = 1 0, 3333 . . . = 0 0, 4999 . . . = 0 − O Milagre!: conexo por caminhos 1 1 .0 9 .2 0 0 8 Teorema (Gentil/15.08.2008). Se 0, 999 . . . e´ um nu´mero enta˜o 1 = 0. Gentil Lopes da Silva ESPAC¸OS ME´TRICOS (COMENTADO) Gentil Lopes da Silva 28 de agosto de 2009 Aos servos cabe mentir; aos livres, dizer a verdade. Apoloˆnio. - Vejam que eu na˜o me afadiguei so´ para mim; mas para todos aqueles que procuram a instruc¸a˜o. Eclesiastico 33 : 18 As mais belas orac¸o˜es e os mais belos sacrif´ıcios agradam menos a Divindade que uma alma virtuosa que se esforc¸a por assemelhar-se a Ela. So´crates. A demonstrac¸a˜o e´ um ı´dolo aos pe´s do qual os matema´ticos se torturam a eles pro´prios. Sir Arthur Eddington Prefa´cio Este livro pretende estabelecer uma ponte entre o aluno e textos outros, de leitura mais a´rida, por assim dizer. Acreditamos - por va´rias razo˜es - que o aluno de matema´tica deva ter a` sua disposic¸a˜o mais que um livro da disciplina que esteja aprendendo. E´ dentro deste contexto que situa-se esta obra, ou seja: nela o aluno tera´ mais uma opc¸a˜o para auxilia´-lo no seu aprendizado. Embora seja lugar-comum que figuras na˜o devam interferir na maior parte das demonstrac¸o˜es da Ana´lise − no que estamos de acordo − na˜o hesitamos em usa´-las onde achamos que o entendimento do aluno poderia ser facilitado. O´bviamente que o peso maior e´ dado a` lo´gica que e´ quem valida uma demons- trac¸a˜o. Por oportuno, se em Ana´lise uma imagem na˜o vale mais que 1000 palavras; vale, pelo ao menos, umas 200. Via de regra o que se faz em um prefa´cio e´ discorrer sobre o conteu´do da obra. Nos dispensamos deste of´ıcio em raza˜o de que o leitor, se assim o de- sejar, pode apreciar o conteu´do deste livro a partir do suma´rio, dado logo a seguir. Aproveito este prefa´cio para fazer algumas elucubrac¸o˜es a respeito da Matema´tica em si, as quais julgo de alguma importaˆncia. Pensamos que uma raza˜o apenas e´ suficiente para justificar o aprendizado da matema´tica, em um n´ıvel mais avanc¸ado: sua beleza intr´ınseca. Um belo teorema matema´tico situa-se no mesmo n´ıvel de uma bela obra de arte. A uma certa altura a Matema´tica confunde-se com a Arte Assim como na˜o tem sentido chegar-se em frente a uma obra de arte e per- guntar para o que ela serve, ta˜o pouco faz sentido priorizar a aplicac¸a˜o de um belo teorema. Um outro s´ımile: na˜o se pergunta a um compositor para o que serve a sua mu´sica. Aos utilitaristas, diremos que a matema´tica serve para o deleite espiritual de quantos a cultivam seriamente. Frente a esta aplicac¸a˜o as demais empalidecem. Embora, devo confessar, mesmo sem colocar poss´ıveis aplicac¸o˜es num primeiro plano, na˜o raro tenho tropec¸ado nas mesmas. Acreditamos que neste esta´gio de aprendizado o aluno deva desenvolver a percepc¸a˜o (sensibilidade) para contemplar a beleza-arte da matema´tica. Nestas alturas, a meu ver, aplicac¸o˜es caem para um segundo ou terceiro plano − na˜o e´ o que deve interessar a um matema´tico puro, embora o seja a um “impuro”. Este livro na˜o conte´m lista de exerc´ıcios, por duas razo˜es. Primeira: no livro existem bastante exerc´ıcios resolvidos (exemplos). Segunda: Por experieˆncia sabemos que o aluno que estuda, pela primeira vez, disciplinas como Ana´lise e Topologia ainda na˜o tem maturidade suficiente para resolver exerc´ıcios destas disciplinas. Por outro lado acreditamos que o aprendizado do aluno se processa como o aprendizado das crianc¸as: por imitac¸a˜o (observac¸a˜o) dos “adultos”. Sendo assim o que temos feito, quando ministramos espac¸os me´tricos adotando este livro − e aqui vai uma sugesta˜o aos professores que, por ventura, o adotarem − e´ sugerir aos alunos que estudem atentamente os exerc´ıcios resolvidos (exem- plos). Na avaliac¸a˜o constam estes exerc´ıcios ou ligeira variac¸a˜o dos mesmos. Percebi uma interessante analogia entre o Universo da mu´sica e o Univeros da cieˆncia, a qual gostaria de compartilhar com o leitor: Sabe-se que na mu´sica alguns nascem, ou melhor, teˆm o dom de inte´rpretes (sa˜o excelentes inte´rpretes) mas na˜o sa˜o compositores. E rec´ıprocamente, outros ha´ que teˆm o dom da com- posic¸a˜o mas na˜o o de inte´rprete; ambos sa˜o importantes para o universo musical. Na Cieˆncia, em particular na Matema´tica, acontece algo semelhante: ha´ uma espe´cie de geˆnios que sa˜o os inte´rpretes, mas que na˜o compo˜em, isto e´, na˜o pro- duzem nada de significativo (estes sa˜o a maioria) e ha´ “geˆnios”, embora na˜o geˆnios, os quais sa˜o “compositores” na Cieˆncia. Estes “geˆnios” embora, algumas vezes, na˜o sejam geˆnios (na acepc¸a˜o que se atribui a esta palavra) e´ desnecessa´rio enfatizar que sa˜o ta˜o (ou mais) importantes que os geˆnios. Tenho por certo que Einstein, por exemplo, foi um “geˆnio” embora na˜o tenha sido um geˆnio∗. Evidentemente que na Cieˆncia, como na mu´sica, ha´ os que sa˜o geˆnios e ao mesmo tempo “geˆnios”, como por exemplo: Newton, Poincare´, Gauss, Euler, Gallois, etc. Quanto a este ponto de vista, descobrir que na˜o estou so´, vejam: “. . . A seu modo, Glasshow pode ser um extravagante ‘revoluciona´rio anar- quista’, mas a forma pela qual chega a`s suas ide´ias fa´-lo avanc¸ar constantemente com novos conceitos, muitos deles loucos e imposs´ıveis, mas outros sa˜o avanc¸os genu´ınos em f´ısica. Certamente que conta com a ajuda de outros para separar as ide´ias ma´s, na˜o obstante possui um instinto criativo que muitos na˜o possuem. Em f´ısica teo´rica ser simplesmente brilhante na˜o e´ suficiente. Deve-se ser capaz de gerar novas ide´ias, algumas bizarras, que sa˜o essenciais para o processo de descoberta cient´ıfica.” Do livro “Para Ale´m de Eintein” de Michio Kaku/Jennifer Trainer. Da mesma forma digo que na matema´tica na˜o e´ suficiente ser brilhante: na˜o se deve olvidar o instinto criativo. Em resumo estou reinvidicando maior atenc¸a˜o aos “compositores” a exemplo do que tem ocorrido aos inte´rpretes. Este livro foi escrito usando o processador de texto LATEX2ε. Seremos gratos por cr´ıticas e/ou sugesto˜es: www.dmat.ufrr.br/∼gentil ∨ gentil.silva@gmail.com Minha gratida˜o maior ao bom Deus, por ter me concedido gestar e dar a` luz este trabalho. Isto e´, assentar este tijolinho em sua magnaˆnima obra. Gentil Lopes da Silva. Boa Vista − RR, setembro de 2008. ∗Basta lembrar que Einstein foi reprovado nos exames de admissa˜o a` Escola Polite´cnica de Zurich. Ou enta˜o, para se certificar de nossa afirmativa, leia o dia´logo “sobre a natureza da ver- dade”, ocorrido em 1930 entre Einstein e o poeta indu Rabindranath Tagore. No nosso entendimento as concepc¸o˜es do poeta, no referido dia´logo, foram geniais - ao contra´rio das de Einstein, algumas das quais ate´ pueris. ADENDO Boa Vista-RR/30.05.2010 Foram feitas duas tentativas de publicac¸a˜o do presente livro. Na primeira o submetir a` editora aqui mesmo da universidade (ufrr), apo´s alguns meses conversei com o diretor da editora e numa conversa informal ele me disse que o livro havia sido submetido a dois especialistas da a`rea (referees) e que ate´ aquele momento apenas um havia emitido seu parecer, por sinal favora´vel, e que, ademais, a editora estava correndo atra´s de recursos. Algum tempo depois a editora trocou de diretore o novo me informou que a editora na˜o tinha recursos pro´prios e que dependia de captac¸a˜o de recursos externos. Desisti da empreitada e decidi enviar o livro a uma outra editora. Escolhi a editora da UNB (universidade de Bras´ılia). Aproximadamente um ano depois recebi uma carta com o parecer de um referee (a´rbitro). O livro na˜o foi aceito para publicac¸a˜o. Vou citar os to´picos mais relevantes do parecer, tidos como prejudiciais a` obra como um todo, e vou me permiti o direito de comenta´-los (uma espe´cie de re´plica): Abrangeˆncia: O material abrange os to´picos fundamentais que geralmente sa˜o abordados num curso de um semestre dessa disciplina e inclui um (longo) cap´ıtulo de “Pre´- Requisitos”, este com cerca de 70 pa´ginas; o autor explora com certo exagero, um grande nu´mero de exemplos a cada conceito introduzido. - Comenta´rio: De fato, o longo cap´ıtulo de pre´-requisitos foi uma tentativa minha de tornar a obra auto-suficiente. Numerei-o como cap´ıtulo 0 e o tenho como um cap´ıtulo apenas de consulta (e refereˆncias) tanto e´ que quando ministro essa disciplina inicio pelo cap´ıtulo 1, de espac¸os me´tricos. No meu entendimento um grande nu´mero de exemplos so´ na˜o e´ bom para a editora∗ mas certamente e´ bom para os alunos. Qualidade do Conteu´do e Organizac¸a˜o Lo´gica: Em diversos pontos do texto o autor mistura aspectos de seu pro´prio entendi- mento filoso´fico e religioso com a mate´ria espec´ıfica deste to´pico da matema´tica. Em outros, insere textos de palestras elementares, proferidas pelo mesmo em sua instituic¸a˜o de origem, ale´m de tecer inu´meros comenta´rios pouco apropriados e ate´ mesmo controversos; - Comenta´rio: A raza˜o pela qual a maioria das obras dida´ticas de matema´tica sa˜o re´plicas quase perfeitas umas das outras e´ que grande parte dos autores sa˜o apenas inte´rpretes na matema´tica, poucos sa˜o os compositores. Na matema´tica me considero, ale´m de inte´rprete, compositor; com efeito, o meu livro encontra- se eivado de novidades, composic¸o˜es minhas. O fato de algue´m conseguir unir matema´tica com filosofia e espiritualidade eu, sinceramente, na˜o vejo como um defeito, mas como uma excepcional qualidade. Digo espiritualidade e na˜o re- ligia˜o, como o meu a´rbitro se refere acima, fac¸o uma distinc¸a˜o entre ambas. No que diz respeito a mim, creio em Deus e em que a esseˆncia do homem (como de resto de todos os seres vivos) e´ espiritual e na˜o material, na˜o obstante, na˜o possuo nenhuma religia˜o, muito pelo contra´rio, de uma dada perspectiva, sou contra as religio˜es institu´ıdas; portanto, reitero, aqui misturo topologia com filosofia, f´ısica quaˆntica e espiritualidade (na˜o religia˜o). Ademais, e´ verdade que utilizo a matema´tica para perscrustar o universo da espiritualidade. ∗Pois o livro torna-se volumoso e, consequentemente, encarece os custos de produc¸a˜o. Quanto a inserir textos de palestras “elementares”, de fato fiz uso da topolo- gia dos espac¸os me´tricos para contribuir com uma questa˜o bastante (ha´ se´culos) controversa na matema´tica, qual seja: como se deve interpretar a igualdade: 0, 999 . . . = 1 Leio no livro de um renomado matema´tico o seguinte: “E, conquanto as ideias e o pensamento matema´ticos estejam em constante evoluc¸a˜o [. . .] a maioria dos problemas ba´sicos fundamentais nunca desaparece.” (Gregory Chaitin/METAMAT!) O meu a´rbitro na˜o atinou com este pequeno detalhe na matema´tica. Com efeito, o problema das representac¸o˜es decimais, como na igualdade acima, e´ um de tais problemas ba´sicos fundamentais que tem dado dor de cabec¸a a muitos matema´ticos, inclusive no que diz respeito a interpretac¸o˜es equivocadas sobre as mesmas, como logramos demonstrar aqui. Por outro lado, e talvez mais importante ainda, muitas construc¸o˜es sofisticadas na matema´tica, a exemplo da curva de Peano, dependem de tais representac¸o˜es dos nu´meros reais. Por exemplo aqui - pelo fato de havermos desvendado esta “questa˜o ba´sica” - cons- truimos uma versa˜o mais simples da curva de Peano bem como obtivemos uma outra transformac¸a˜o, ine´dita e ta˜o esdru´xula quanto a de Peano: construimos a “volta” da curva de Peano. Quanto a “comenta´rios pouco apropriados” talvez o a´rbitro esteja se referindo ao fato de eu ter afirmado que ate´ hoje os matema´ticos claudicam (tropec¸am) no conceito de nu´mero, em poucas palavras: muitos na˜o teˆm nitidez do que de fato seja um nu´mero (tanto e´ que alguns o tomam como um “conceito primitivo”, o que na˜o acho necessa´rio). Com efeito, fac¸o esta afirmativa em um Resumo que encontra-se a partir da pa´gina 227, o leitor leia e julgue por si mesmo se tenho ou na˜o raza˜o. Por sinal publiquei este artigo (“Palestra”) ha´ mais de ano em minha home-page e ha´ va´rios meses no site Somatema´tica e, ate´ hoje, na˜o recebi nenhuma contestac¸a˜o; pelo contra´rio, recebi um email entusiasmado de um leitor me dando conta de que leu, entendeu e concorda com tudo o que escrevi sobre o tema. Ademais, vejo uma incoereˆncia na afirmativa do referee: se discorro sobre um tema elementar (conteu´do de minha Palestra - pg. 227) como posso fazer afirmativas controversas? Digo, ele, como a´rbitro, na˜o teria capacidade de de- cidir se o que falo tem ou na˜o fundamento? Em matema´tica, no que de fato e´ elementar, na˜o cabe controve´rsias, do contra´rio na˜o seria elementar. Continuando: Quanto a` abordagem dos conteu´dos de Espac¸os Me´tricos em s´ı, ha´ um exagero de exemplos seguindo cada conceito apresentado, em detrimento de um tratamento mais conciso dos pontos centrais do tema. - Comenta´rio: De fato, ele tem raza˜o, exagerei no nu´mero de exemplos. Quando decidi escrever este livro um dos objetivos que mentalizei e´ que o mesmo servisse tambe´m ao estudante auto-didata; digo, a`quele que, por ventura, de- cidisse estudar (so´zinho) o assunto com antecedeˆncia - para suavizar seu apren- dizado a posteriori (digo, com o professor), da´ı eu ter exagerado no nu´mero de exemplos. Outros Aspectos Negativos: 1. O autor apresenta todo um cap´ıtulo, com cerca de 70 pa´ginas, a t´ıtulo de “Pre´-Requisitos”, em que sa˜o inclu´ıdos to´picos de Lo´gica, Teoria dos Conjuntos, Ca´lculo, Ana´lise e A´lgebra Linear. Com todos esses pre´-requisitos, causa estran- heza a afirmac¸a˜o do autor: “. . . Por experieˆncia sabemos que o aluno que estuda, pela primeira vez, disciplinas como Ana´lise e Topologia ainda na˜o tem maturi- dade suficiente para resolver exerc´ıcios destas disciplinas. . . ”(cf. Prefa´cio). - Comenta´rio: Esqueci de dizer que escrevi este Cap´ıtulo 0 apenas para even- tuais consultas e refereˆncias, tanto e´ que ja´ inicio a mate´ria pelo Cap´ıtulo 1; com isso creio que continua sendo verdadeiro o que afirmo a respeito da imaturidade dos alunos em resolver questo˜es de demonstrac¸o˜es (prove que, mostre que, etc.); tambe´m por isso exagero no nu´mero de exerc´ıcios resolvidos (exemplos) e pec¸o apenas que os alunos os estudem atentamente procurando entendeˆ-los 100%, creio que por essa via o aprendizado possa ocorrer sem grandes traumas - como ocorre amiu´de. 2. No contexto do tema, o autor explora conceitos tais como “Topologia Quaˆntica” e “Propriedades Topolo´gicas” sem sequer introduzir o conceito geral de “Espac¸o Topolo´gico”. - Comenta´rio: Este “aspecto negativo” assinalado pelo referee na˜o pro- cede. De fato, podemos falar de “Propriedades Topolo´gicas” apenas dentro do contexto dos espac¸os me´tricos, sem necessidade de adentrarmos no conceito geral de “Espac¸o Topolo´gico”, tanto isso e´ verdade que e´ assim mesmo que procede o Prof. Elon Lages em seu livro [5] (pg. 38); o mesmo se da´ no que diz respeito a` “Topologia Quaˆntica”, por sinal esse conceito foi criado por mim mesmo - me sinto muito a` vontade para falar sobre o mesmo. Senhor referee, desta forma o senhor perde credibilidade! 3. Por fim, cabe observar queo autor utiliza cerca de 600 pa´ginas, usando fonte pequena e um nu´mero excessivo de figuras, para explorar assuntos que usual- mente podem ser adequadamente abordados num texto de 250 a 300 pa´ginas. Bras´ılia, 05 de maio de 2009. - Comenta´rio: Quando escrevo um livro confesso que a minha maior preo- cupac¸a˜o na˜o e´ com o nu´mero de pa´ginas, mas sim em torna´-lo dida´tico, pensando em um aluno auto-didata ate´. Por exemplo, quanto a`s demonstrac¸o˜es matema´ticas, existem autores que preferem as mais curtas e elegantes, esquecendo que a demonstrac¸a˜o mais curta nem sempre e´ a mais dida´tica e compreens´ıvel ao aluno. Ademais, uma demons- trac¸a˜o compacta na˜o raro esconde (camufla) a interrelac¸a˜o dos conceitos en- volvidos, muitas vezes na˜o mostra como as ide´ias esta˜o interconectadas (im- brincadas); assim e´ que, por exemplo, uma demonstrac¸a˜o de apenas treˆs linhas em livros congeˆneres, aqui deliberadamente a fazemos ate´ em uma pa´gina inteira - dando eˆnfase a` articulac¸a˜o dos conceitos envolvidos; Quando o a´rbitro coloca “um nu´mero excessivo de figuras ” como um aspecto negativo em uma obra, com toda certeza ele desconhece o n´ıvel com que a maioria dos alunos chega na maioria de nossas universidades. Se ele e´ professor e´ poss´ıvel que o seja apenas da po´s-graduac¸a˜o. Disciplinas tais como A´lgebra Linear, Estruturas Alge´bricas, Ana´lise e Topolo- gia sa˜o abstratas - os alunos, oriundos dos falidos (capengas) ensinos fundamen- tal e me´dio, na˜o raro adentram a`s universidades sem ao menos saberem fazer contas quanto mais terem condic¸o˜es de pensar abstratamente, da´ı que em min- has aulas, a toda exposic¸a˜o de um tema abstrato∗ procuro fazer corresponder ∗Em matema´tica o que e´ “abstrato” ou na˜o e´ discut´ıvel, acontece que para a maioria dos alunos quase tudo em matema´tica e´ abstrato, quem e´ professor destas disciplinas sabe disso. uma figura, digo-lhes: “Observem . . . quem na˜o conseguir alcanc¸ar com a mente (racioc´ınio) procure ao menos enxergar com os olhos f´ısicos, ja´ e´ alguma coisa”. Existe um ditado que diz que uma imagem vale mais que mil palavras, isto e´ ainda mais verdadeiro quando se trata de ensinar matema´tica abstrata a nossos alunos. Por oportuno, tenho em ma˜os um livro de matema´tica de um professor da UNB (publicado pela Editora da UNB), por t´ıtulo “Introduc¸a˜o a` a´lgebra linear”, esse livro tem 156 pa´ginas, a primeira figura aparece na pg. de nu´mero 98 (isto e´, bem depois da metade do livro), no livro todo constam apenas 5 figuras. Na minha opinia˜o escrever um livro fino e com poucas figuras e´ muito fa´cil (e ate´ mais coˆmodo) agora se vai resultar em um livro dida´tico a´ı e´ outra histo´ria. Por exemplo, analisei detidamente o livro citado acima e, sinceramente, na˜o achei que tenha ficado nenhum um pouco dida´tico. Poucos exemplos, chega-se ao absurdo de se definir espac¸os vetoriais e na˜o se mostra um u´nico exemplo de espac¸o vetorial! Nota: E´ bem verdade que o autor, apo´s a definic¸a˜o desses entes, exibe apenas dois exemplos, entretanto na˜o prova, segundo a definic¸a˜o dada, que realmente trata-se de tais objetos; ou pelo ao menos menciona ao aluno a neces- sidade de tal prova (da´ı na˜o considero como exemplos). Ademais, a qualidade da editorac¸a˜o eletroˆnica dessa obra deixa muito a desejar. O que muitos autores de livros dida´ticos de matema´tica para graduac¸a˜o ainda na˜o se deram conta (e, por conseguinte as editoras) e´ que o pu´blico que eles tem emmente quando escrevem seus livros deixou de existir ha´ muito tempo! Estou falando da vergonhosa situac¸a˜o na qual se encontram os ensinos fun- damental e me´dio em nosso Pa´ıs, o que se reflete de imediato no preparo da clientela das universidades brasileiras. Para citar apenas um exemplo, an pas- sant, quando ingressei na universidade em 1981 ja´ sabia derivar e integrar - ja´ resolvia problemas de ma´ximos e mı´nimos, bem como calculava volumes de so´lidos de revoluc¸a˜o∗, hoje os alunos adentram a` universidade com dificuldades (tropec¸ando) na matema´tica do ensino fundamental . . . pasme´m! Conclusa˜o: O referee em questa˜o so´ viu defeitos em minha obra, na sua carta ele na˜o cita um u´nico eventual ponto positivo. Creio que, com um pouco de boa vontade, podemos encontrar alguns. Por exemplo: exploro aqui uma me´trica (“me´trica divina”), a qual na˜o se encontra em nenhum outro livro sobre espac¸os me´tricos (dos que eu conhec¸o, claro), a qual me permitiu descobrir toda uma se´rie de exemplos interessantes (“patolo´gicos”)† e ine´ditos, me dando en- sejo inclusive de relacionar Topologia com F´ısica quaˆntica. Ademais, essa mesma me´trica me permitiu colocar um ponto final em um assunto bastante controverso (pouco compreendido) na matema´tica, qual seja, se 0, 999 . . . e´ ou na˜o igual a 1. Aqui mostramos, ate´ prova em contra´rio, que ate´ mesmo matema´ticos profis- sionais estiveram equivocados quanto ao significado (interpretac¸a˜o) da igualdade 0, 999 . . . = 1. Esse, certamente, foi um dos “comenta´rios pouco apropriados” que contribuiu negativamente para uma apreciac¸a˜o sobre meu livro. Em 1890 o matema´tico italiano Giuseppe Peano (1858−1932) causou grande estupefac¸a˜o na comunidade matema´tica ao construir sua famosa Curva (que ∗Estudei Ca´lculo - para prestar o vestibular - pelo vol. 8 de os “Fundamentos de Matema´tica Elementar”, colec¸a˜o muito conhecida para o ensino me´dio (de antigamente). †Por exemplo, com um de tais exemplos mostramos que o Prof. Elon equivocou-se ao afirmar em seu livro, [5], que “espac¸o conexo por caminhos, e´ um conceito provido de mais significado intuitivo do que o conceito geral de espac¸o conexo”. cobre toda a superf´ıcie de um quadrado); no presente trabalho, simplificamos a construc¸a˜o dessa curva (tal como consta em [5]) e, o que e´ melhor, construi- mos tambe´m um outro objeto (“monstro”) matema´tico que pode ser visto como “complementar” a` curva de Peano. Se, com tudo isso (e mais ainda), o referee so´ viu defeitos em minha obra gostaria de lembra´-lo que e´ muito raro um livro de matema´tica que traga alguma contribuic¸a˜o (relevante). Por oportuno, neste preciso momento lembrei de que o meu primeiro livro publicado (no ano de 2000, ver [6]) ja´ vem com algumas contribuic¸o˜es a` matema´- tica (Por exemplo, destaco uma fo´rmula fechada para a soma de poteˆncias dos primeiros naturais, que nenhum matema´tico - deste e de se´culos anteri- ores - havia conseguido), por sinal esse livro mereceu elogios de um renomado matema´tico brasileiro (por coincideˆncia um topo´logo); na˜o obstante ele tenha emitido seu parecer (observo que de livre e expontaˆnea vontade, digo, sem eu ter solicitado) sobre esse meu primeiro livro, vou me permitir transcrever seu parecer (ja´ que o autor de ambos os livros e´ o mesmo), ei-lo: O enderec¸o gentil@dmat.ufrr.br foi recusado. Gostaria que ele recebesse esse e-mail. De fato, gostei muito do livro. Um Abrac¸o, Ubiratan Original Message From: Ubiratan D,Ambro´sio <ubi@usp.br> To: Gentil Lopes da Silva Sent: Saturday, November 06, 2004 10:46 AM Subject: Obrigado pelo livro Caro Gentil Muito obrigado pelo livro que voceˆ mandou pelo Chateau. Esta´ muito bom, interessante e cheio de provocac¸o˜es. Da´ oportunidade para os estudantes se iniciarem em pesquisas. Voceˆ fala que o livro destina-se a alunos de 2o e 3o graus. Eu diria que e´ tambe´m para a po´s. Aritme´tica continua sendo grande fonte de problemas de pesquisa que podem ser trabalhados com relativamente pouco da complicada linguagem, notac¸o˜es e resultados que caracterizam muitas a´reas da matema´tica. Sa˜o formulac¸o˜es simples que podem ser trabalhados com pouca te´cnica, exigindo imaginac¸a˜o e criatividade. Vou recomendar aos meus alunos. Mas tive um problema. Nos sites das livrarias, o livro na˜o existe. E nem esta´ no site da Thesaurus.Recomendar um livro implica dizer como adquirir. O que voceˆ diz? Siga em frente com suas ide´ias. As suas reflexo˜es iniciais, a sua escolha de ep´ıgrafes, e a pro´pria capa, sa˜o uma grande contribuic¸a˜o para um novo pensar na urgente renovac¸a˜o da educac¸a˜o em todos os n´ıveis. A sua trajeto´ria desde seus estudos, lecionando em condic¸o˜es preca´rias, e com as difi- culdades para publicar o livro e´ um exemplo, muit´ıssimo frequente, do processo (certamente intencional) de desencorajar o florescimento dos criativos, e abrir o espac¸o para os executores de ide´ias de outros. Uma curiosidade: voceˆ sabia que o E´douard Lucas, que voceˆ cita na pa´gina 393, e´ quem fez a revisa˜o te´cnica para a publicac¸a˜o po´stuma do livro “Me´langes de Calcul Inte´gral”, de Joaquim Gomes de Souza, o Souzinha, em 1882? O livro havia sido recusado por inu´meras editoras enquanto ele estava vivo. Muito obrigado. Um abrac¸o, Ubiratan Nota: Como o Prof. Ubiratan na˜o estava conseguindo acessar o meu antigo enderec¸o eletroˆnico (gentil@dmat.ufrr.br) ele enviou o email a um seu ex-aluno (saudoso Chateaubriand), colega meu, que me repassou. Leio em uma obra de um eminente matema´tico: Finalmente, permita-me tambe´m dizer que a histo´ria das ide´ias e´, penso eu, o melhor meio de aprender matema´tica. Sempre detestei os compeˆndios. Sempre detestei livros cheios de fo´rmulas, livros secos, opinio˜es descoradas, sem personalidade! Os livros que eu amava eram livros em que transparece a personalidade do autor, livros com montes de palavras, explicac¸o˜es e ide´ias, na˜o so´ de fo´rmulas e equac¸o˜es!(Gregory Chaitin/METAMAT!)(Grifo nosso) Penso que o presente livro cumpre os requisitos em destaque. Com efeito, na˜o apenas em meus livros como tambe´m em meus artigos deixo transparecer algo de minha personalidade e, nesta, deliberei cultivar uma pequena nesga de iconoclastia - tanto na plataforma intelectual quanto na espiritual. Nota: O´bviamente que seria um direito meu revisar o livro seguindo todas as orientac¸o˜es (cr´ıticas) do referee e submeteˆ-lo novamente a` Editora da UNB (ou a uma outra qualquer), decidi na˜o fazeˆ-lo pois teria que mudar toda a filosofia do trabalho - ja´ me dou por satisfeito apenas por disponibiliza´-lo em minha home-page. Ja´ disse alhures que vejo e trabalho a matema´tica como uma obra de arte, isto e´, considero meu livro uma obra de arte. Assim como na˜o teria o menor sentido algue´m chegar em frente a um compositor de determinada mu´sica e da´ palpites para que ele a alterasse (em pontos essenciais); ou, digamos, a um artista pla´stico para que ele alterasse (em pontos essenciais) uma obra sua, ta˜o pouco vejo sentido algue´m, por exemplo, me sugerir que eu na˜o misture matema´tica com filosofia ou espiritualidade, na˜o tem cabimento! Garimpando Pe´rolas “Um exame superficial da matema´tica pode dar uma impressa˜o de que ela e´ o resul- tado de esforc¸os individuais separados de muitos cientistas espalhados por continentes e e´pocas diversas. No entanto, a lo´gica interna de seu desenvolvimento nos lembra muito mais o trabalho de um u´nico intelecto, desenvolvendo o seu pensamento sistema´tico e consistentemente, usando a variedade das individualidades humanas somente como um meio. Assemelha-se a uma orquestra executando uma sinfonia composta por algue´m. Um tema passa de um instrumento a outro, e quando chegou a hora de um dos par- ticipantes abandonar o tema, ele e´ substitu´ıdo por outro, que o executa com precisa˜o irrepreens´ıvel...” I.R. Shafarevich “Nenhuma produc¸a˜o de ordem superior, nenhuma invenc¸a˜o jamais procedeu do homem, mas emanou de uma fonte ultraterrena. Portanto, o homem deveria considera´-la um dom inspirado do Alto e aceita´-la com gratida˜o e venerac¸a˜o. Nestas circunstaˆncias, o homem e´ somente o instrumento de uma Poteˆncia Superior, semelhante a um vaso julgado digno de receber um conteu´do divino”. Goethe “A obtenc¸a˜o de um resultado novo em pesquisa e´, para o cientista, uma fonte de in- tenso prazer, ligado intimamente ao instinto de criac¸a˜o e eternidade, pois, independen- temente da importaˆncia da contribuic¸a˜o no contexto da cieˆncia, ou de sua utilizac¸a˜o, representa algo acrescentado ao conhecimento humano que marca sua existeˆncia na terra”. Pierre Curie (F´ısico) “O que me solicita profundamente na vida e´ poder colaborar numa obra, numa Re- alidade, mais dura´vel do que eu: e´ nesse esp´ırito e nessa perspectiva que procuro aperfeic¸oar-me e dominar um pouco mais as coisas”. Teilhard de Chardin “Sois de tal modo levados a vos tomar por tipos do Universo, que credes sempre que fora do vosso mundo na˜o ha´ mais nada. Pareceis verdadeiramente com esses selvagens que nunca sa´ıram de sua ilha e creˆem que o mundo na˜o vai mais longe”. O Livro dos Me´diuns “Eu penso que seria uma aproximac¸a˜o relativamente boa da verdade (que e´ de- masiadamente complexa para permitir qualquer coisa melhor que uma aproximac¸a˜o) dizer que as ide´ias matema´ticas teˆm a sua origem em situac¸o˜es emp´ıricas. . .Mas, uma vez concebidas, elas adquirem uma identidade e crescimento pro´prios governados quase que inteiramente por motivac¸o˜es este´ticas. . . ”. J. Von Newmann (1903− 1957) “A matema´tica e´ um campo demasiadamente a´rduo e ino´spito para agradar a`queles a quem na˜o oferece grandes recompensas. Recompensas que sa˜o da mesma ı´ndole que as do artista. . . . Acrescenta ainda que e´ no ato de criar que o matema´tico encontra sua culminaˆncia e que ‘nenhuma quantidade de trabalho ou correc¸a˜o te´cnica pode substituir este mo- mento de criac¸a˜o na vida de um matema´tico, poeta ou mu´sico’ ”. Norbert Wiener “. . . que o meu pensamento quis aproximar-se dos problemas do esp´ırito pela via de uma diversa experimentac¸a˜o de cara´ter abstrato, especulativo, resultante das con- cluso˜es de processos lo´gicos da mais moderna f´ısico-matema´tica”. Pietro Ubaldi/Ascenso˜es Humanas “E´ uma experieˆncia como nenhuma outra que eu possa descrever, a melhor coisa que pode acontecer a um cientista, compreender que alguma coisa que ocorreu em sua mente corresponde exatamente a alguma coisa que aconteceu na natureza. E´ surpreendente, todas as vezes que ocorre. Ficamos espantados com o fato de que um construto de nossa pro´pria mente possa realmente materializar-se no mundo real que existe la´ fora. Um grande choque, e uma alegria muito grande”. Leo Kadanoff “Apenas aqueles que pensam por metades se tornam ateus, aqueles que se apro- fundam em seus pensamentos e veˆem as maravilhosas relac¸o˜es entre as leis universais reconhecem um poder criador”. Max Planck “Um conceito e´ um estado vibrato´rio individualizado e delicad´ıssimo que, uma vez perdido, na˜o mais se acha nem com a lo´gica e muito menos com a vontade, na˜o retornando sena˜o quando excitado por uma conexa˜o de ide´ias, isto e´, por uma nova passagem pro´xima num estado vibrato´rio afim”. Pietro Ubaldi/As Nou´res “Na˜o sabemos sena˜o em raza˜o da nossa faculdade de recepc¸a˜o”. Pita´goras “Tenho agarrado pela garganta as inferiores leis biolo´gicas da animalidade, para estrangula´-las e supera´-las. Tenho vivido minhas afirmac¸o˜es como realizac¸a˜o biolo´gica antes de formula´-las em palavras”. Pietro Ubaldi/As Nou´res “A fusa˜o entre fe´ e cieˆncia, ta˜o auspiciada, ja´ se completou em meu esp´ırito: visa˜o u´nica na substaˆncia e de uma a outra eu passo unicamente por uma mudanc¸a de perspectiva visual ou de focalizac¸a˜o de meus centros ps´ıquicos ”. Pietro Ubaldi/As Nou´res “Na˜o se pode imaginar que tenacidade de resisteˆncia, que massa de ine´rcia representa o homem me´dio, justamente o que impo˜e as normas da vida social”. Pietro Ubaldi/As Nou´res “Um teorema possui vida em abundaˆncia: nasce, cresce, reproduz-se e . . . na˜o morre”. Gentil “O fenoˆmeno baseia-se na sintonizac¸a˜o ps´ıquicae a mente do observador, se na˜o afasta com suas emanac¸o˜es um objeto do microsco´pio, nem influencia um fenoˆmeno f´ısico ou qu´ımico, pode paralisar, todavia, o funcionamento de um fenoˆmeno psiqu´ıco. O fenoˆmeno tem suas defesas e se retira em face da ameac¸a a` sua vitalidade e, enta˜o, a cieˆncia na˜o consegue a observac¸a˜o, e sim, a destruic¸a˜o”. Pietro Ubaldi/As Nou´res “Para poder avanc¸ar na investigac¸a˜o cient´ıfica e ver no ı´ntimo das coisas, e´ indis- pensa´vel a sutilizac¸a˜o do instrumento de pesquisa - a conscieˆncia”. Pietro Ubaldi/As Nou´res “Como na cieˆncia, tambe´m nas religio˜es, a investigac¸a˜o deveria ser livre, na˜o fechada e condenada”. Pietro Ubaldi/A Descida dos Ideais “O homem e´ o art´ıfice de seu destino: tem que arrostar o esforc¸o de criar a si mesmo”. Pietro Ubaldi/A Grande S´ıntese Suma´rio 1 PRE´-REQUISITOS 17 1.1 Elementos de Lo´gica & Demonstrac¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . 17 1.1.1 Operac¸o˜es Lo´gicas sobre Proposic¸o˜es . . . . . . . . . . . . 18 1.1.2 Te´cnicas (Engenharia) de Demonstrac¸a˜o . . . . . . . . . . 22 1.1.3 Func¸o˜es Proposicionais/Quantificadores . . . . . . . . . . 29 1.2 Conjuntos, Func¸o˜es e Famı´lia de conjuntos . . . . . . . . . . . . . 35 1.3 To´picos em Ana´lise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 1.3.1 Teoremas e Definic¸o˜es da Ana´lise Real . . . . . . . . . . . 56 1.3.2 Supremo e I´nfimo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 1.3.3 A Propriedade de Completeza . . . . . . . . . . . . . . . . 64 1.4 Espac¸os vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 1.4.1 Norma/Espac¸os Vetoriais Normados . . . . . . . . . . . . 72 1.4.2 Espac¸os Vetoriais com Produto Interno . . . . . . . . . . 75 ⊲ Apeˆndice: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 2 ESPAC¸OS ME´TRICOS 83 2.1 Introduc¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 2.2 Medindo distaˆncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 2.3 Definic¸a˜o de espac¸os me´tricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 2.3.1 Exemplos de espac¸os me´tricos . . . . . . . . . . . . . . . . 87 2.3.2 Me´tricas sobre o R2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 2.3.3 Distaˆncia entre func¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 2.3.4 Espac¸os de Co´digos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 2.4 Distaˆncia entre Ponto e Conjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 2.5 Distaˆncia entre conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122 2.6 Conjuntos limitados − Diaˆmetro . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 ⊲ Apeˆndice: Demonstrac¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 3 CONSTRUC¸A˜O DE ESPAC¸OS ME´TRICOS 143 3.1 Me´tricas a Partir de Me´tricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 3.2 Subespac¸os . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 3.3 Me´tricas Induzidas por Normas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146 3.4 Me´tricas Induzidas por Produto Interno . . . . . . . . . . . . . . 147 3.5 Me´tricas Induzidas Por Func¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148 3.6 Produto de espac¸os me´tricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151 13 4 BOLAS ABERTAS 159 4.1 Definic¸a˜o e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 4.2 Bolas em subespac¸os . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172 4.3 Bolas no espac¸o produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176 4.4 Proposic¸o˜es sobre bolas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178 4.5 Ponto isolado − Espac¸os discretos . . . . . . . . . . . . . . . . . 186 5 SEQU¨EˆNCIAS EM ESPAC¸OS ME´TRICOS 195 5.1 Sequ¨eˆncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195 5.1.1 Subsequ¨eˆncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198 5.2 Convergeˆncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199 5.3 Sequ¨eˆncias num Espac¸o Produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . 214 5.4 A Me´trica Divina e o Paradoxo de Zena˜o . . . . . . . . . . . . . 216 5.5 Sequ¨eˆncias em Espac¸os Vetoriais Normados . . . . . . . . . . . . 243 5.5.1 Sequ¨eˆncias em ( R, µ ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243 5.5.2 Sequ¨eˆncias em Espac¸os Normados Quaisquer . . . . . . . 244 6 A TOPOLOGIA DOS ESPAC¸OS ME´TRICOS 251 6.1 Ponto interior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251 6.2 Conjuntos abertos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 254 6.3 Ponto fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261 6.4 Conjuntos fechados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 268 6.5 Ponto aderente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 270 6.6 Densidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 282 6.7 Ponto de acumulac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285 ⊲ Apeˆndice: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 289 � Representac¸o˜s bina´rias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 293 � Topologia quaˆntica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 298 7 FUNC¸O˜ES CONT´ıNUAS 303 7.1 Isometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 319 7.2 Propriedades das aplicac¸o˜es cont´ınuas . . . . . . . . . . . . . . . 337 7.3 Continuidade Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353 7.4 Homeomorfismos − Espac¸os Homeomorfos . . . . . . . . . . . . . 360 7.5 Me´tricas Equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 372 7.5.1 Normas Equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 384 ⊲ Apeˆndice: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 386 � Limites em espac¸os me´tricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 386 8 ESPAC¸OS ME´TRICOS CONEXOS 395 8.1 Definic¸a˜o e Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 395 8.2 Conexos em ( R, µ ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 400 8.3 Conexidade por caminhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 407 8.4 Sec¸a˜o de Milagres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 418 8.5 Componentes Conexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 434 ⊲ Apeˆndice: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 438 � Topologia quaˆntica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 438 � Supercordas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 438 � Nosso universo e fenoˆmenos na˜o-locais . . . . . . . . . . . . . . . . . 439 9 ESPAC¸OS ME´TRICOS COMPLETOS 447 9.1 Sequ¨eˆncias de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 447 9.2 Espac¸os me´tricos completos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 454 9.3 Espac¸os de Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 464 9.4 Espac¸os de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 466 9.5 Completamento de Espac¸os Me´tricos . . . . . . . . . . . . . . . . 477 9.6 Espac¸os topologicamente completos . . . . . . . . . . . . . . . . . 487 9.7 Teorema do Ponto Fixo de Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . 496 ⊲ Apeˆndice: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 499 10 ESPAC¸OS ME´TRICOS COMPACTOS 501 10.1 Cobertura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 501 10.2 Compacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 504 10.2.1 Caracterizac¸a˜o de Compacidade . . . . . . . . . . . . . . 516 10.3 Produto Cartesiano de Conjuntos Compactos . . . . . . . 519 10.3.1 Compactos no Rn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 520 10.4 Distaˆncia Entre Conjuntos Compactos . . . . . . . . . . . . . . . 521 10.5 Nu´mero de Lebesgue Para Coberturas . . . . . . . . . . . . . . . 524 10.6 Espac¸os Localmente Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 527 10.7 Representac¸o˜esDecimais e Curva de Peano (O Mito das Ambigu¨idades nas Representac¸o˜es Decimais) . . . . . . . 529 10.7.1 A curva de Peano e o quadrado hiper-ma´gico . . . . . . . 536 10.8 O quadrado hiper-ma´gico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 547 10.9 A curva de Peano no cubo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 552 10.10 O cubo hiper-ma´gico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 555 ⊲ Apeˆndice: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 562 � Produtos cartesianos infinitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 562 Resumo das Me´tricas Conjunto Me´trica (S´ımbolo) Definic¸a˜o Pa´g. R Usual µ µ(x, y)=|x−y| 87 M “zero-um” δ δ(x, y)= { 1, se e so´ se x 6=y; 0, se e so´ se x=y. 88 [ 0, 1 [ Divina (quaˆntica) k k(x, y)=min { |x−y|, 1−|x−y| } 89 R2 Usual (Euclidiana) D 1 D 1 (x, y)= √ (x 1 − y 1 )2 +(x 2 − y 2 )2 95 Da Soma D 2 D 2 (x, y)=|x 1 − y 1 |+ |x 2 − y 2 | 95 Do Ma´ximo D 3 D 3 (x, y)=max{ |x 1 − y 1 |, |x 2 − y 2 | } 96 M m×n (R) Euclidiana D 1 D 1 (A,B)= √ (a 11 −b 11 )2+···+(amn−bmn )2 99 Da Soma D 2 D 2 (A,B)=|a 11 −b 11 |+···+ |amn−bmn | 99 Do Ma´ximo D 3 D 3 (A,B)=max { |a 11 −b 11 |, ... ,|amn−bmn | } 99 C[ a, b ] Da Integral Γ Γ(f, g)= R b a |f(x)−g(x)|dx 101 Do Ma´ximo Υ Υ(f, g)=max{ |f(x)−g(x)| : x∈ [ a, b ]} 102 B(X,R) Do Sup Ψ Ψ(f, g)=sup{ |f(x)−g(x)| : x∈X} 106 SN Hamming σ σ(x, y)=nu´mero de posic¸o˜es em que x e y diferem entre si. 110 roˆ ρ ρ(x, y)=|PNn=1 2n−1·(xn−yn)| 113 tau τ τ(x, y)=maior posic¸a˜o em que x e y diferem entre si. 114 S∞ ni ν ν(x, y)= P∞ n=1 |xn−yn | 2 n 115 M1×M2 D1 D1(x, y)= q d2 1 (x 1 , y 1 ) + d2 2 (x 2 , y 2 ) 151 D2 D 2 (x, y)=d 1 (x 1 , y 1 )+ d 2 (x 2 , y 2 ) 151 D 3 D3(x, y)=max {d1(x1 , y1); d2(x2 , y2 )} 151 16 Capı´tulo 1 PRE´-REQUISITOS “Eu disse: Vo´s sois deuses, e vo´s outros sois todos fi- lhos do Alt´ıssimo.” (Sl 82 : 6) Introduc¸a˜o: O objetivo deste cap´ıtulo e´ estabelecer alguns resultados que sera˜o utilizados nos demais cap´ıtulos do livro. 1.1 Elementos de Lo´gica & Demonstrac¸o˜es Nesta secc¸a˜o recordaremos, de modo resumido, alguns conceitos da Lo´gica Matema´tica. De in´ıcio tecemos algumas considerac¸o˜es sobre alguns s´ımbolos, objetivando transferi-los da Lo´gica para o contexto da Matema´tica. Posterior- mente estabeleceremos algumas te´cnicas de demonstrac¸o˜es matema´ticas. Proposic¸a˜o: Chamamos conceito primitivo aquele conceito que aceitamos sem definic¸a˜o. E´ o que acontece, por exemplo, com o conceito de proposic¸a˜o. Portanto, na˜o o definiremos. Na˜o obstante, nada impede que conhec¸amos suas qualidades, tendo em conta que proposic¸a˜o e´ uma sentenc¸a declarativa, afirmativa e que deve exprimir um pensamento de sentido completo; via de regra sendo escrita na linguagem usual ou na forma simbo´lica. Por exemplo, sa˜o proposic¸o˜es: 1) sen π 2 = 1. 2) π < 2 √ 2. 3) Todo quadrado e´ um retaˆngulo. 4) Todo retaˆngulo e´ um quadrado. 17 Dizemos que o valor lo´gico de uma proposic¸a˜o e´ a verdade (V ) se a proposic¸a˜o e´ verdadeira; e´ a falsidade (F ) se a proposic¸a˜o e´ falsa. Por exemplo, para as proposic¸o˜es anteriores,temos 1) V 2) F 3) V 4) F 1.1.1 Operac¸o˜es Lo´gicas sobre Proposic¸o˜es Faremos um resumo das operac¸o˜es do ca´lculo proposicional tambe´m chamadas operac¸o˜es lo´gicas. Os principais operadores (conectivos) lo´gicos sa˜o os seguintes: ∨ Disjunc¸a˜o (“ou”) ∧ Conjunc¸a˜o (“e”) ¯ Negac¸a˜o −→ Condicional (“se...enta˜o”) ←→ Bicondicional (“se e somente se”) cujas tabelas-verdade sa˜o dadas a seguir (estas tabelas definem os respectivos operadores): p q p∨q V V V V F V F V V F F F p q p∧q V V V V F F F V F F F F p p¯ V F F V p q p−→ q V V V V F F F V V F F V p q p←→ q V V V V F F F V F F F V p p¯ q p¯∨q V F V V V F F F F V V V F V F V Acrescentamos a tabela-verdade da proposic¸a˜o p¯∨q a qual nos sera´ de grande utilidade. Vamos agora enunciar uma relac¸a˜o entre proposic¸o˜es, que se distingue dos operadores, porque na˜o cria nova proposic¸a˜o. Definic¸a˜o 1 (Implicac¸a˜o Lo´gica). Diz-se que uma proposic¸a˜o p implica logi- camente ou apenas implica uma proposic¸a˜o q, se e somente se, na tabela de p e q, na˜o ocorre V F em nenhuma linha, com V na coluna de p e F na coluna de q. Exemplo: Da tabela a seguir inferimos que a proposic¸a˜o q na˜o implica na proposic¸a˜o p ∧ q, ao passo que a proposic¸a˜o p ∧ q implica na proposic¸a˜o q. p q p∧q V V V V F F F V F F F F q V F V F 18 Indica-se que a proposic¸a˜o p implica a proposic¸a˜o q com a notac¸a˜o: p =⇒ q. Nota: Os s´ımbolos −→ e =⇒ na˜o devem ser confundidos, pois p −→ q e´ uma proposic¸a˜o enquanto p =⇒ q na˜o e´ proposic¸a˜o. Isto e´ ana´logo ao que acontece com o sinal + e o sinal < na Aritme´tica: 2+ 5 e´ um nu´mero e 2 < 5 na˜o e´ um nu´mero. A escolha do conectivo (palavra) “se p enta˜o q” para a proposic¸a˜o p −→ q, a nosso ver, foi infeliz. De fato, isto induz a que se conclua que a proposic¸a˜o q se deduz ou e´ uma consequ¨eˆncia da proposic¸a˜o p. Isto na˜o se da´, por exemplo: 5 e´ um nu´mero ı´mpar −→ √ 2 e´ irracional, (Se 5 e´ um nu´mero ı´mpar enta˜o √ 2 e´ irracional) e´ uma proposic¸a˜o verdadeira (ver tabela-verdade do condicional). O´bviamente que √ 2 ser irracional na˜o e´ consequ¨eˆncia de 5 ser um nu´mero ı´mpar. Ao contra´rio do que acontece na Lo´gica, em Matema´tica na˜o comparece o operador lo´gico−→, mas apenas =⇒ com os seguintes significados para p =⇒ q: 1) Se p, enta˜o q; 2) Se p for verdadeira, enta˜o q e´ verdadeira; 3) p implica q; 4) q e´ implicada por p; 5) q segue de p; 6) p e´ uma condic¸a˜o suficiente para q; 7) q e´ uma condic¸a˜o necessa´ria para p; 8) E´ imposs´ıvel termos p verdadeira e q falsa simultaˆneamente, dentre outros significados poss´ıveis. Neste momento temos uma importante observac¸a˜o a fazer: Dos ı´tens 1) e 3) vemos que a matema´tica funde (confunde) os s´ımbolos −→ e =⇒. Como sempre, nestes casos, o “galho quebra” do lado do mais fraco: o aluno que tera´ que distinguir no contexto matema´tico se o s´ımbolo =⇒ esta´ se referindo a ele pro´prio ou ao condicional −→. Chama-se tautologia toda proposic¸a˜o composta cuja u´ltima coluna da sua tabela verdade encerra somente a letra V (verdade). Proposic¸a˜o 1. A proposic¸a˜o p implica a proposic¸a˜o q (isto e´, p =⇒ q) se, e somente se, a condicional p −→ q e´ tautolo´gica. Prova: p q p−→ q V V V V F F F V V F F V (i) Se p implica q, enta˜o, na˜o ocorre que os valores lo´gicos simultaˆneos destas duas proposic¸o˜es sejam respectivamente V e F , e por conseguinte na u´ltima coluna da tabela-verdade da condicional p −→ q consta somente a letra V , logo, esta condi- cional e´ tautolo´gica. (ii) Rec´ıprocamente, se a condicional p −→ q e´ tautolo´gica, enta˜o na˜o ocorre 19 que os valores lo´gicos simultaˆneos das proposic¸o˜es p e q sejam respectivamente V e F , e por conseguinte p implica q. � Uma diferenc¸a ba´sica entre proposic¸a˜o e teorema e´ que enquanto e´ l´ıcito se cogitar do valor lo´gico de uma proposic¸a˜o (isto e´, uma proposic¸a˜o pode ser verdadeira ou falsa) o mesmo na˜o acontece com um teorema, que sempre e´ ver- dadeiro. Na˜o se demonstra teoremas, mas sim proposic¸o˜es. Uma vez demons- trada a veracidade de uma proposic¸a˜o: p −→ q, esta adquire status de teorema: p =⇒ q. p q p−→ q V V V V F F F V V F F V → Em matema´tica, para demonstrar-se avalidade de uma proposic¸a˜o p −→ q assumimos a hipo´tese p como sendo verdadeira. Sendo assim podemos nos restringir a`s duas primeiras linhas da tabela verdade do condicional −→. Uma vez assumido p verdadeira se conseguirmos demonstrar a veracidade de q enta˜o podemos riscar a segunda linha da tabela verdade do condicional. Apo´s isto a proposic¸a˜o p −→ q resulta tautolo´gica e, por conseguinte, p =⇒ q Isto e´, a proposic¸a˜o p −→ q tornou-se o teorema p =⇒ q. Definic¸a˜o 2 (Equivaleˆncia Lo´gica). Diz-se que uma proposic¸a˜o p e´ logica- mente equivalente ou apenas equivalente a uma proposic¸a˜o q, se as tabelas- verdade destas duas proposic¸o˜es sa˜o iguais. Indica-se que a proposic¸a˜o p e´ equivalente a proposic¸a˜o q com a notac¸a˜o: p ⇐⇒ q Os s´ımbolos ←→ e ⇐⇒ na˜o devem ser confundidos, pois p ←→ q e´ uma proposic¸a˜o enquanto p⇐⇒ q na˜o e´ proposic¸a˜o. Os argumentos arrolados anteriormente a respeito dos s´ımbolos −→ e =⇒ podem ser adaptados para os s´ımbolos ←→ e ⇐⇒. A seguir listamos va´rias maneiras de se formular p ⇐⇒ q em palavras∗: 1) Se p, enta˜o q e rec´ıprocamente; 2) Se q, enta˜o p e rec´ıprocamente; 3) q e´ verdadeira se, somente se, p for verdadeira; 4) p implica q e rec´ıprocamente; 5) p e´ uma condic¸a˜o necessa´ria e suficiente para q; 6) q e´ uma condic¸a˜o necessa´ria e suficiente para p; 7) p e q sa˜o proposic¸o˜es equivalentes. Dos ı´tens 1) e 4) acima, vemos que a matema´tica (con) funde os s´ımbolos ←→ e ⇐⇒. ∗Isto na Matema´tica, na˜o na Lo´gica. 20 Proposic¸a˜o 2. A proposic¸a˜o p e´ equivalente a` proposic¸a˜o q (isto e´, p ⇐⇒ q) se, e somente se, a bicondicional p ←→ q e´ tautolo´gica. Prova: (i) Se p e´ equivalente a q, enta˜o, teˆm tabelas-verdade iguais, e por conseguinte o valor lo´gico da bicondicional p ←→ q e´ sempre V , isto e´, esta bicondicional e´ tautolo´gica (ver tabela-verdade da bicondicional, pg. 18). (ii) Rec´ıprocamente, se a bicondicional p ←→ q e´ tautolo´gica, enta˜o, a u´ltima coluna da sua tabela-verdade encerra somente a letra V , e por con- seguinte os valores lo´gicos respectivos das proposic¸o˜es p e q sa˜o ambos V ou ambos F , isto e´, estas duas proposic¸o˜es sa˜o equivalentes. � Portanto, a toda equivaleˆncia lo´gica corresponde uma bicondicional tau- tolo´gica e vice-versa. Equivalencias Nota´veis A seguir listamos algumas equivalencias entre proposic¸o˜es, as quais podem ser demonstradas com o aux´ılio das respectivas tabelas-verdade. 1) ¯¯p⇐⇒ p (Dupla Negac¸a˜o) 2) Leis Idempotentes a) p ∨ p⇐⇒ p b) p ∧ p⇐⇒ p 3) Leis Comutativas a) p ∨ q ⇐⇒ q ∨ p b) p ∧ p⇐⇒ q ∧ p 4) Leis Associativas a) p ∨ (q ∨ r)⇐⇒ (p ∨ q) ∨ r b) p ∧ (q ∧ r)⇐⇒ (p ∧ q) ∧ r 5) Leis de De Morgan∗ a) ( p ∨ q ) ⇐⇒ p¯ ∧ q¯ b) ( p ∧ q ) ⇐⇒ p¯ ∨ q¯ 6) Leis Distributivas a) p ∧ ( q ∨ r ) ⇐⇒ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r) b) p ∨ ( q ∧ r ) ⇐⇒ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r) ∗Augustus De Morgan (1806 − 1873) lecionou no University College, Londres. Foi matema´tico e lo´gico, e contribuiu para preparar o caminho da Lo´gica matema´tica moderna. 21 Willian Verçosa Nota na verdade seria p^q se, e somente se q^p 1.1.2 Te´cnicas (Engenharia) de Demonstrac¸a˜o Os problemas em matema´tica dividem-se em duas classes: Determinac¸a˜o: calcule, encontre, ache, determine,. . . Demonstrac¸a˜o: mostre, prove, demonstre,. . . Costumo mesmo dizer que a matema´tica comec¸a com os problemas do se- gundo tipo. De fato, a resoluc¸a˜o da maioria dos problemas do primeiro tipo sa˜o algoritmicas (mecaˆnicas); enquanto os problemas do segundo tipo exigem muito de criatividade (engenhosidade). Um outro crite´rio que utilizo para distinguir na˜o-matema´tica (algoritmo) de matema´tica, e´ que a na˜o-matema´tica e´ suscept´ıvel de programac¸a˜o − a exem- plo dos poderosos softwares alge´bricos − enquanto que a matema´tica em si (demostrac¸o˜es) na˜o. Estou propenso a acreditar que podemos ver a maioria dos “objetos” como consistindo de mate´ria e esp´ırito. Para contextualizar minha tese vejamos al- guns exemplos: 1o ) Um computador consiste de hardware e software, o hardware e´ a parte material e o software e´ o esp´ırito do computador. 2o ) Uma ce´lula e´ composta de mate´ria (e´ o que os bio´logos enxergam ao microsco´pio) e esp´ırito (software que comanda suas atividades) que os bio´logos na˜o enxergam ao microsco´pio. 3o ) Os nu´meros inteiros, sa˜o compostos de mate´ria: Z = {. . . ,−3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, . . .} e esp´ırito, que sa˜o seus axiomas de manipulac¸a˜o da mate´ria (s´ımbolos) tais como: comutatividade, associatividade, elemento neutro, elemento oposto, Princ´ıpio da Boa Ordem, etc. De igual modo, a matema´tica possui uma parte material (s´ımbolos) e uma parte espiritual (conceitos, ide´ias), o que se estar a manipular∗ por a´ı e´ apenas o corpo (cada´ver) da matema´tica, seu esp´ırito fica de fora. − Para se lidar com o esp´ırito da matema´tica (viva) torna-se indispensa´vel o conhecimento de algumas te´cnicas de demonstrac¸a˜o. 1. Proposic¸o˜es Aparentadas p −→ q : Direta q −→ p : Rec´ıproca p¯ −→ q¯ : Contra´ria q¯ −→ p¯ : Contrapositiva (contra-rec´ıproca) ∗Por a´ı a que me refiro e´ a matema´tica praticada ate´ o ensino me´dio e em algumas cadeiras da universidade, e´ uma matema´tica mecaˆnica, morta. O fato de voceˆ manusear o controle remoto de sua televisa˜o na˜o significa que voceˆ compreende como ele funciona. De igual modo, muitos manipulam a matema´tica sem compreender como ela funciona, e´ uma matema´tica sem vida, sem esp´ırito! 22 2. Equivaleˆncia Entre Proposic¸o˜es Aparentadas 2.1 A proposic¸a˜o direta equivale a` contra-rec´ıproca. p −→ q ⇐⇒ q¯ −→ p¯ Para provar isto faremos uso da seguinte identidade: p −→ q = p¯ ∨ q Esta identidade pode ser obtida das respectivas tabelas-verdade. Prova: (i) p −→ q = p¯ ∨ q (ii) q¯ −→ p¯ = ¯¯q ∨ p¯ = p¯ ∨ q � Isto significa que as proposic¸o˜es p −→ q e q¯ −→ p¯ assumem sem- pre os mesmos valores lo´gicos; isto e´, ou sa˜o ambas verdadeiras (V ) ou sa˜o ambas falsas (F ). Sendo assim acabamos de estabelecer nossa primeira te´cnica de demonstrac¸a˜o indireta: (T-1) O teorema direto equivale ao contra-rec´ıproco† H =⇒ T ⇐⇒ T¯ =⇒ H¯ Enunciemos nossa segunda te´cnica de demonstrac¸a˜o indireta: (T-2) Anexac¸a˜o a` hipo´tese da negac¸a˜o da tese H =⇒ T ⇐⇒ (H ∧ T¯ ) =⇒ T Prova: Provemos a seguinte equivaleˆncia: p −→ q ⇐⇒ (p ∧ q¯) −→ q De fato, (i) p −→ q = p¯ ∨ q. (ii) p ∧ q¯ −→ q = (p ∧ q¯) ∨ q = ( p¯ ∨ ¯¯q ) ∨ q = p¯ ∨ q ∨ q = p¯ ∨ q. � †H: Hipo´tese, T : Tese, H¯: Negac¸a˜o da hipo´tese, T¯ : Negac¸a˜o da tese. 23 Willian Verçosa Nota Entendi! Basta examinar a tabela-verdade do condicional e compará-la com a do conectivo v (ou), ver-se-á que neste caso são iguais quando negado a proposição p. Willian Verçosa Nota Por De Morgan (pág. 21) (T-3) Reduc¸a˜o ao absurdo H =⇒ T ⇐⇒ (H ∧ T¯ ) =⇒ f Onde: f e´ uma proposic¸a˜o de valor lo´gico falso (e´ qualquer con- tradic¸a˜o). Prova: Provemos a seguinte equivaleˆncia: p −→ q ⇐⇒ (p ∧ q¯) −→ f De fato, (i) p −→ q = p¯ ∨ q. (ii) p ∧ q¯ −→ f = (p ∧ q¯) ∨ f = (p ∧ q¯) = p¯ ∨ ¯¯q = p¯ ∨ q. � Nota: Na tabela-verdade da proposic¸a˜o p ∨ q vemos que quando o valor lo´gico de q e´ F , prevalece o valor lo´gico de p. Estamos dizendo que p ∨ f = p. Resumindo: Para utilizar esta te´cnica em uma demonstrac¸a˜o, de- vemos anexar a` Hipo´tese a negac¸a˜o da Tese e devemos exibir, ao final, alguma contradic¸a˜o (algum absurdo). Uma Equivalencia Nota´vel Uma das equivaleˆncias mais utilizadas em demonstrac¸o˜es matema´ticas e´ a que segue (T-4) Teorema com hipo´tese composta (∧) Se a hipo´tese de um teorema e´ formada pela conjunc¸a˜o de duas outras, e´ va´lida a seguinte equivaleˆncia( H 1 ∧H 2 ) =⇒ T ⇐⇒ (H 1 ∧ T¯ ) =⇒ H¯ 2 Isto e´, junta-se a umadas hipo´teses a negac¸a˜o da tese e demonstra- se a negac¸a˜o da outra hipo´tese. Prova: Provemos a seguinte equivaleˆncia p ∧ q −→ r ⇐⇒ p ∧ r¯ −→ q¯ De fato, p ∧ q −→ r = (p ∧ q) ∨ r = (p¯ ∨ q¯) ∨ r = p¯ ∨ q¯ ∨ r. 24 Willian Verçosa Nota Por De Morgan Por outro lado, p ∧ r¯ −→ q¯ = (p ∧ r¯) ∨ q¯ = (p¯ ∨ ¯¯r) ∨ q¯ = p¯ ∨ r ∨ q¯. � Vejamos alguns exemplos de aplicac¸a˜o desta equivaleˆncia: 1o) Em teoria dos nu´meros: Se a divide b e a na˜o divide c enta˜o b na˜o divide c. H1 : a|b ⇒ T: b 6 | c. H 2 : a 6 | c H 1 ∧ T¯ =⇒ H¯ 2 Prova: Para algum n 1 e algum n 2 inteiros, resulta H 1 : b a = n 1 =⇒ c b = c a · n 1 = n 2 T¯ : c b = n 2 Observe que c a = n1 · n2 ≡ H¯2 � 2o) Em Ana´lise: Se a ≤ b e b ≤ a enta˜o a = b. H 1 : a ≤ b ⇒ T: a = b. H2 : b ≤ a H1 ∧ T¯ =⇒ H¯2 Prova: Suponha a ≤ b e a 6= b, enta˜o a < b. � 3o) Em Ana´lise: Se n ∈ N, x ∈ R, e n < x < n+ 1, enta˜o x 6∈ N. H 1 : x > n ⇒ T: x 6∈ N. H 2 : x < n+ 1 25 H 1 ∧ T¯ =⇒ H¯ 2 Prova: Se x > n e x ∈ N enta˜o x ≥ n+ 1. � 4o) Em Teologia (Unicidade de Deus) Suponhamos que existam dois Deuses D e D′: H 1 : D e´ Deus ⇒ T: D = D′ H 2 : D′ e´ Deus Prova: H 1 ∧ T¯ : Suponhamos que D e´ Deus e que D 6= D′. Enta˜o existe algum atributo em D na˜o partilhado por D′, por conseguinte D′ na˜o e´ Deus, o que contraria H 2 . � Corola´rio 1. Jesus Cristo na˜o e´ Deus. Sugesta˜o: Quando voceˆ estudante encontrar-se frente a um teorema tipo H 1 ∧H 2 =⇒ T e, apo´s bater o desespero (ou antes mesmo), tente demonstrar o equivalente H 1 ∧ T¯ =⇒ H¯ 2 (T-5) O seguinte teorema na˜o e´ raro em matema´tica: H 1 ⇐⇒ (H 2 =⇒ T ) E´ um teorema, tipo “se e somente se”, isto e´ H1 =⇒ ( H2 =⇒ T ) H 1 ⇐= (H 2 =⇒ T ) Enta˜o (i) H 1 =⇒ (H 2 =⇒ T ) Observemos que a tese do teorema acima e´ um outro teorema. Isto sig- nifica que assumindo H1 devemos demonstrar H2 =⇒ T . Isto e´, devemos mostrar que H 2 acarreta T . Ainda, H 1 ∧H 2 =⇒ T Esta conclusa˜o pode ser provada assim: H 1 −→ (H 2 −→ T ) = H¯ 1 ∨ (H 2 −→ T ) = H¯ 1 ∨ (H¯ 2 ∨ T ) = (H 1 ∧H 2 ) ∨ T = H 1 ∧H 2 −→ T. Portanto subsiste a seguinte equivaleˆncia H 1 =⇒ (H 2 =⇒ T ) ⇐⇒ (H 1 ∧H 2 =⇒ T ) 26 (ii) ( H2 =⇒ T ) =⇒ H1 Consideremos a contrapositiva: H¯ 1 =⇒ (H 2 =⇒ T ). Enta˜o, H¯1 −→ ( H2 −→ T ) = H¯1 −→ ( H¯2 ∨ T ) = H¯ 1 −→ H 2 ∧ T¯ Portanto subsiste a seguinte equivaleˆncia( (H 2 =⇒ T ) =⇒ H 1 )⇐⇒ (H¯ 1 =⇒ H 2 ∧ T¯ ) (T-6) Teorema com hipo´tese composta (∨) Se a hipo´tese de um teorema e´ formada pela disjunc¸a˜o de duas outras, e´ va´lida a seguinte equivaleˆncia( H 1 ∨H 2 ) =⇒ T ⇐⇒ (H 1 =⇒ T ) ∧ (H 2 =⇒ T ) Prova: Provemos a seguinte equivaleˆncia p ∨ q −→ r ⇐⇒ (p −→ r ) ∧ (q −→ r ) De fato, p ∨ q −→ r = (p ∨ q) ∨ r = (p¯ ∧ q¯) ∨ r = ( p¯ ∨ r) ∧ (q¯ ∨ r) = ( p −→ r ) ∧ (q −→ r ) � (T-7) Teorema com tese composta (∨) Se a tese de um teorema e´ formada pela disjunc¸a˜o de duas outras, e´ va´lida a seguinte equivaleˆncia H =⇒ (T 1 ∨ T 2 ) ⇐⇒ (H ∧ T¯ 1 =⇒ T 2 ) Prova: Provemos a seguinte equivaleˆncia p −→ ( q ∨ r ) ⇐⇒ ( p ∧ q¯ ) −→ r De fato, p −→ ( q ∨ r ) = p¯ ∨ ( q ∨ r ) = ( p¯ ∨ q ) ∨ r = ( p ∧ q¯ ) ∨ r = ( p ∧ q¯ ) −→ r � 27 Vejamos um exemplo de aplicac¸a˜o desta te´cnica em espac¸os vetorias. Proposic¸a˜o: Uma igualdade λu = 0, com λ ∈ R e u ∈ V , so´ e´ poss´ıvel se λ = 0 ou u = 0. Prova: Inicialmente vamos reescrever a proposic¸a˜o da seguinte forma: H : λu = 0 ⇒ T 1 : λ = 0 ou T 2 : u = 0 Temos, H ∧ T¯ 1 : λu = 0 e λ 6= 0. Sendo assim existe o nu´mero real λ−1, multiplicando λu = 0 por λ−1, obtemos λ−1 (λu ) = λ−1 0 ⇒ (λ−1 · λ )u = 0 ⇒ 1 u = 0 ⇒ u = 0 � Resumo das Te´cnicas de Demonstrac¸~oes ( T-1 ) H ⇒ T ⇐⇒ T¯ ⇒ H¯ ( T-2 ) H ⇒ T ⇐⇒ (H ∧ T¯ )⇒ T ( T-3 ) H ⇒ T ⇐⇒ (H ∧ T¯ )⇒ f (f =absurdo) ( T-4 ) ( H 1 ∧H 2 )⇒ T ⇐⇒ (H 1 ∧ T¯ )⇒ H¯ 2 G e n t i l ( T-5 ) H 1 ⇐⇒ (H 2 ⇒ T ) { H 1 =⇒ (H 2 ⇒ T ) ⇐⇒ (H 1 ∧H 2 ⇒ T ) H 1 ⇐= (H 2 ⇒ T ) ⇐⇒ ( H¯ 1 ⇒ H 2 ∧ T¯ ) ( T-6 ) ( H1 ∨H2 )⇒ T ⇐⇒ (H1 ⇒ T ) ∧ (H2 ⇒ T ) ( T-7 ) H ⇒ (T 1 ∨ T 2 ) ⇐⇒ (H ∧ T¯ 1 )⇒ T 2 ( T-8 ) H ⇒ T ⇐⇒ (H ∧ T¯ )⇒ H¯ 28 Dois outros recursos u´teis para a formulac¸a˜o de definic¸o˜es em matema´tica sa˜o dados a seguir. 1.1.3 Func¸o˜es Proposicionais/Quantificadores Consideremos as proposic¸o˜es: p : x+ 6 < 10, V ( p ) =? q : 2 + 6 < 10, V ( q ) = 1 A proposic¸a˜o q, como se veˆ, e´ verdadeira, ao passo que nada podemos afirmar sobre o valor lo´gico de p : V (p) =?; que somente sera´ conhecido quando x for substituido por um nu´mero bem determinado. Neste caso, dizemos que a proposic¸a˜o p e´ uma func¸a˜o proposicional ( f.p. ) ou ainda, uma sentenc¸a aberta. Na func¸a˜o proposicional p(x) : x+ 6 < 10 o s´ımbolo x e´ chamado de varia´vel. Chamamos conjunto universo da varia´vel ao conjunto das possibilidades que podem substituir a varia´vel na sentenc¸a. Denotaremos este conjunto por U. Cada elemeto de U chama-se valor da varia´vel. Algumas vezes o conjunto uni- verso U e´ imposto pelo contexto e outras vezes pode ser escolhido livremente pelo agente de estudo em questa˜o. Exemplos: 1o) Consideremos a func¸a˜o proposicional p dada por p(x) : x+ 6 < 10 Podemos escolher para o conjunto dos valores da varia´vel, por exemplo, um dos seguintes conjuntos: N, Z, Q, R ou {0, 2, 4, 6, . . .} 2o) Consideremos a func¸a˜o proposicional p dada por p(x) : 1 ≤ x 2 − 1 x+ 1 < 3 Neste caso ainda temos uma certa liberdade na escolha do conjunto universo U, sendo que em qualquer escolha na˜o deve constar o nu´mero x = −1. Por exemplo, duas escolhas poss´ıveis sa˜o U = N e U = Z− {−1}. Conjunto-verdade (da sentenc¸a aberta) e´ o conjunto dos valores da varia´vel para os quais a sentenc¸a torna-se verdadeira. Denotaremos este conjunto por V: V = { x ∈ U : V (p(x)) = V } Quantificador universal Usaremos o s´ımbolo “ ∀ ” , chamado quantificador universal, para exprimir o fato de que “para todo x em um dado conjunto, a proposic¸a˜o p(x) e´ verdadeira”. Uma proposic¸a˜o do tipo “Para todo x; p(x)” e´ simbolicamente escrita como: ∀x ; p(x). 29 Quantificador existencial No caso de proposic¸o˜es que envolvem expresso˜es do tipo “Existe”, “Ha´ pelo menos um”, “para ao menos um” e “Algum”, usaremos o s´ımbolo “ ∃ ”, chamado quantificador existencial, para exprimir o fato de que para pelo ao menos um elemento de um dado conjunto a proposic¸a˜o p(x) e´ verdadeira. Uma proposic¸a˜o do tipo “Existe x tal que p(x)” pode ser escrita simbolicamente como: ∃x ; p(x). Valores lo´gicos de sentenc¸as quantificadas A sentenc¸a ∀x ; p(x) e´ verdadeira se, e somente se, o conjunto-verdade de p(x) e o conjunto universo forem iguais, isto e´, V = U (ou se, substituindo de x por cada um dos elementos u do conjunto universo, p(u) e´ verdadeira) e, falsa quando V 6= U. Na tabela a seguir damos alguns exemplos do que acabamos de definir: ∀ x ; p(x) U V V (∀ x ; p(x)) ∀ x ; x2−4=0 ∀ x ; x2−4=0 ∀ x ; x≤ 0 ∀ x ; x≤ 0 ∀ x ; √ x2=x ∀ x ; √ x2=|x| ∀ x ; x2−1x+1 =x−1 ∀ x ; x2−1x+1 =x−1 {−2, 2 } {−2, 0, 2 } Z Z− R R R−{−1} N {−2, 2 } {−2, 2 } Z− Z− R+ R R−{−1} N V F F V F V V V A sentenc¸a ∃x ; p(x) e´ verdadeira se, e somente se, o conjunto-verdade de p(x) e´ na˜o-vazio, ou seja, V 6= ∅ e, falsa quando V = ∅. Na tabela a seguir damos alguns exemplos do que acabamos dedefinir: ∃ x ; p(x) U V V (∃ x ; p(x)) ∃ x ; x2−4=0 ∃ x ; x2+1=0 ∃ x ; x2+1=0 ∃ x ; x< 0 ∃ x ; (−1)·x 6=−x ∃ x ; √ x2 6=x ∃ x ; |x|=x ∃ x ; |x|=−x {−2, 3 } R C C R R {−1,−2} {−1, 2} {−2 } ∅ {−i, i } ∅ ∅ R − ∗ ∅ {−1} V F V F F V F V Negac¸a˜o de sentenc¸as quantificadas Ja´ tivemos oportunidade de assinalar a diferenc¸a entre a atividade matema´- tica (engenhosidade) e a atividade algoritmica (mecaˆnica); pois bem, para fazer- se matema´tica (isto e´ demonstrac¸o˜es) o que ha´ de mais importante sa˜o as 30 definic¸o˜es e, juntamente com estas, suas negac¸o˜es; da´ı a importaˆncia da negac¸a˜o de sentenc¸as quantificadas. Proposic¸a˜o 3 (Negac¸a˜o de ∀x ; p(x)). A seguinte equivaleˆncia e´ va´lida: ∀x ; p(x) ⇐⇒ ∃x ; p(x) (1.1) Prova: Mostraremos que as proposic¸o˜es ∀x ; p(x) e ∃x ; p(x) sa˜o equiva- lentes mostrando que elas concordam em seus valores lo´gicos, isto e´, V ( ∀x ; p(x) ) = V ( ∃x ; p(x) ) De fato, suponha que ∀x ; p(x) e´ verdadeira. Enta˜o, ∀x ; p(x) e´ falsa e, deste modo, existe u ∈ U de modo que p(u) e´ falsa. Enta˜o, para este elemento p(u) e´ verdadeira. Sendo assim, ∃x ; p(x) e´ verdadeira. Suponha agora que ∀x ; p(x) e´ falsa. Enta˜o, ∀x; p(x) e´ verdadeira e, deste modo, para todo u ∈ U, tem-se p(u) e´ verdadeira. Enta˜o, para todo u ∈ U, tem-se p(u) e´ falsa. Sendo assim, ∃x ; p(x) e´ falsa. � Um importante corola´rio e´ o que vem dado a seguir: Corola´rio 2. A seguinte equivaleˆncia e´ va´lida: ∀x ; p(x) −→ q(x) ⇐⇒ ∃x ; p(x) ∧ q(x) Prova: De fato, ∀x ; p −→ q = ∃x ; p −→ q = ∃x ; p ∨ q = ∃x ; p ∧ q. � Deixamos como exerc´ıcio a prova da Proposic¸a˜o 4 (Negac¸a˜o de ∃x ; p(x)). A seguinte equivaleˆncia e´ va´lida: ∃x ; p(x) ⇐⇒ ∀x ; p(x) (1.2) 31 Valores lo´gicos de sentenc¸as quantificadas de duas varia´veis Seja p(x, y) uma sentenc¸a aberta (ou func¸a˜o proposicional) com duas varia´veis. Inicialmente observamos que, na˜o necessa´riamente, as varia´veis envolvidas teˆm o mesmo conjunto universo. Na “pra´tica” e´ frequ¨ente que estes conjuntos sejam distintos. Assim e´ que os denotaremos por: Ux e Uy. Por exemplo, para a sentenc¸a p(x, y) : x2 − 1 x+ 1 + y2 − 1 y − 1 < 0 os respectivos conjuntos universos sa˜o necessa´riamente distintos, podendo ser, por exemplo: Ux = R− {−1} e Uy = R− {1}. Obs: Quando em um dado contexto citarmos apenas um conjunto universo, significa que este e´ o mesmo para as duas varia´veis, isto e´, Ux = Uy. a) A sentenc¸a ∀x ∀ y ; p(x, y). A sentenc¸a ∀x ∀ y ; p(x, y) e´ verdadeira se, e somente se, para toda substituic¸a˜o de x por elementos a de Ux e y por elementos b de Uy, p(a, b) e´ verdadeira. Exemplo: A sentenc¸a ∀x ∀ y ; x · y = y · x, e´ verdadeira com os conjuntos universo Ux = N e Uy = Z; mas na˜o com os conjuntos universo Ux = M2(N)= conjunto das matrizes quadradas de ordem 2, com elementos naturais e Uy = M2(Z)= conjunto das matrizes quadradas de ordem 2, com elementos inteiros. Por exemplo, para x = [ 1 0 0 2 ] , y = [ 0 −1 1 0 ] , temos x · y 6= y · x. Exemplo: A sentenc¸a ∀x ∀ y ; x2 < y, com os conjuntos universo Ux = {−1, 0, 1} e Uy = { 1, 2} e´ falsa, porquanto substituindo x por −1 e y por 1, a sentenc¸a (−1)2 < 1 resulta falsa. b) A sentenc¸a ∃x ∃ y ; p(x, y). A sentenc¸a ∃x ∃ y ; p(x, y) e´ verdadeira se, e somente se, p(a, b) e´ verdadeira. para alguma substituic¸a˜o de x por um elemento a de Ux e y por um elemento b de Uy. Exemplo: A sentenc¸a ∃x ∃ y ; x · y = y · x, e´ verdadeira com os conjuntos universo Ux = M2(N) e Uy = M2(Z). Por exemplo x = [ 1 0 0 1 ] , y = [ 0 −1 1 0 ] , 32 sa˜o tais que x · y = y · x. Exemplo: A sentenc¸a ∃x ∃ y ; x2 < y, com o conjunto universo {−1, 0, 1} e´ verdadeira, porquanto substituindo x por 0 e y por 1, a sentenc¸a 02 < 1 resulta verdadeira. Exemplo: A sentenc¸a ∃x ∃ y ; x y = √ 2, com o conjunto universo Z e´ falsa. c) A sentenc¸a ∀x ∃ y ; p(x, y). A sentenc¸a ∀x ∃ y ; p(x, y) e´ verdadeira se, e somente se, para toda substituic¸a˜o de x por elementos a de Ux, a sentenc¸a (de uma u´nica varia´vel) ∃ y ; p(a, y) e´ verdadeira. Exemplo: A sentenc¸a ∀x ∃ y ; x+ y = 0 e´ verdadeira com o conjunto universo {−1, 0, 1}, porquanto ∃ y; −1 + y = 0 (V ; y = 1 ) ∃ y; 0 + y = 0 (V ; y = 0 ) ∃ y; 1 + y = 0 (V ; y = −1 ) Exemplo: A sentenc¸a ∀x ∃ y ; y < x e´ falsa com o conjunto universo { 0, 1, 2}. Note que: ∃ y; y < 2 (V ; y = 0, ou 1 ) ∃ y; y < 1 (V ; y = 0 ) ∃ y; y < 0 (F ; V = ∅ ) d) A sentenc¸a ∃ y ∀x ; p(x, y). A sentenc¸a ∃ y ∀x ; p(x, y) e´ verdadeira se, e somente se, a sentenc¸a (de uma u´nica varia´vel) ∀x ; p(x, b) e´ verdadeira para alguma substituic¸a˜o de y por um elemento b do conjunto universo Uy. Exemplo: A sentenc¸a ∃ y ∀x ; |x|+ |y| = 1 e´ verdadeira com os conjuntos universo Uy = {−1, 0, 1} e Ux = {−i, i, −1, 1}, porquanto a sentenc¸a ∀x ; |x|+ |0| = 1 e´ verdadeira. Exemplo: A sentenc¸a 33 ∃ y ∀x ; y > x e´ falsa com o conjunto universo {−1, 0, 1}, porquanto cada uma das sentenc¸as ∀x; −1 > x ∀x; 0 > x ∀x; 1 > x e´ falsa. Exemplo: A sentenc¸a ∃ y ∀x ; y ≥ x e´ verdadeira com o conjunto universo {−1, 0, 1}. Note que: ∀x; −1 ≥ x (F ; x = 0, ou 1) ∀x; 0 ≥ x (F ; x = 1 ) ∀x; 1 ≥ x (V ; y = 1 ) Negac¸a˜o de sentenc¸as quantificadas de duas varia´veis Observe que, por definic¸a˜o, ∀x ∃ y ; p(x, y) = ∀x ; ( ∃ y ; p(x, y) ) Por conseguinte, ∀x ∃ y ; p(x, y) = ∀x ; ( ∃ y ; p(x, y) ) = ∃x ; ( ∃ y ; p(x, y) ) = ∃x∀ y ; p(x, y) Isto e´, ∀x ∃ y ; p(x, y) = ∃x∀ y ; p(x, y) Similarmente, ∃x ∀ y ; p(x, y) = ∃x ; ( ∀ y ; p(x, y) ) Por conseguinte, ∃x ∀ y ; p(x, y) = ∃x ; ( ∀ y ; p(x, y) ) = ∀x ; ( ∀ y ; p(x, y) ) = ∀x∃ y ; p(x, y) Isto e´, ∃x ∀ y ; p(x, y) = ∀x∃ y ; p(x, y) 34 1.2 Conjuntos, Func¸o˜es e Famı´lia de conjuntos O objetivo desta sec¸a˜o sera´ um breve resumo de func¸o˜es e famı´lia de conjun- tos para futuras refereˆncias. Conjunto, Elementos O conceito de conjunto comparece em todos os ramos da Matema´tica. In- tuitivamente, um conjuto e´ qualquer colec¸a˜o bem definida de objetos. Os conjuntos sa˜o designados por letras latinas maiu´sculas: A, B, C, . . . , X, Y, Z. Os objetos que constituem um conjunto chamam-se elementos do conjunto e sera˜o designados por letras latinas minu´sculas: a, b, c, . . . , x, y, z. A afirmac¸a˜o “p e´ elemento de A” ou, de modo equivalente, “p pertence a A”, escreve-se p ∈ A A negac¸a˜o de p ∈ A escreve-se p 6∈ A. Sa˜o duas as principais maneiras de se especificar - descrever - um dado con- junto. A primeira consiste em enumerar (evidentemente quando isto e´ poss´ıvel) seus elementos entre chaves e separados por v´ırgula. Por exemplo, A = {1, 2, 3, 4, 5} A segunda consiste em dar (sem ambigu¨idade) uma propriedade - proposic¸a˜o - caracterizando todos os seus elementos. Por exemplo, B = {x : x e´ uma vogal} (leˆ-se: “B e´ o conjunto dos elementos x tais que x e´ uma vogal.”) Como mais um exemplo, C = {x : x e´ um nu´mero natural par} Subconjuntos Um conjunto A e´ dito subconjunto de B, escrevendo-se A ⊂ B ou B ⊃ A se, e somente se, todo elemento de A e´ tambe´m elemento de B. Em S´ımbolos, A ⊂ B ⇐⇒ ∀x ∈ A ⇒ x ∈ B. Nota: A 6⊂ B quando existe um elemento em A que na˜o pertence a B. Por exemplo, consideremos os conjuntos A = {1, 3, 5, 7, . . .}, B = {2, 3, 5, 7, . . .} C = {4n− 1: n ∈ N} = {3, 7, 11, . . .} 35 Willian Verçosa Nota Temos C ⊂ A, porquanto todo elemento de C e´ um nu´mero ı´mpar; por outro lado B 6⊂ A, porquanto 2 ∈ B e 2 6∈ A. Observe que, segundo a definic¸a˜o de subconjunto, o conjunto dos nu´meros reais na˜o e´ subconjunto do conjunto dos nu´meros complexos. Isto e´,R 6⊂ C. Isto porque os elementos de C sa˜o pares ordenados de nu´meros reais. De outro modo: os elementos destes conjuntos sa˜o de naturezas distintas. Por exemplo, (1, 3), (−1, 2), (3, 0) ∈ C;√ 2, 3, π ∈ R. Reiteramos: Na˜o ha´ um u´nico nu´mero real que tambe´m seja um nu´mero com- plexo. Igualdade de Conjuntos Definic¸a˜o 3. Dois conjuntos A e B sa˜o iguais se, e somente se, A ⊂ B e B ⊂ A. Das definic¸o˜es dadas ate´ aqui decorre o seguinte Teorema 1. Se A, B e C sa˜o conjuntos quaisquer, enta˜o (i) A ⊂ A; (ii) se A ⊂ B e B ⊂ A =⇒ A = B; (iii) se A ⊂ B e B ⊂ C =⇒ A ⊂ C. Importante! Uma observac¸a˜o importante − e oportuna −: quando devemos mostrar que dois conjuntos A e B sa˜o iguais, esta prova deve ser feita em duas etapas: primeiro provamos que A ⊂ B e, para isto, devemos tomar um elemento ar- bitra´rio em A e mostrar que este elemento tambe´m esta´ em B; segundo, prova- mos que B ⊂ A, desta vez tomamos um elemento arbitra´rio de B e mostramos que este elemento tambe´m esta´ em A. Conjunto Vazio e Conjunto Universo Para que possamos criar uma “a´lgebra” de conjuntos - o que faremos logo mais - e´ conveniente introduzir o conceito de conjunto vazio, como sendo o conjunto desprovido de qualquer elemento. Este conjunto e´ denotado pelo s´ımbolo ∅. Em toda aplicac¸a˜o da Teoria dos Conjuntos, todos os elementos e subcon- juntos em considerac¸a˜o esta˜o em um conjunto fixo. Este conjunto fixo chama-se conjunto universo, e designa´-lo-emos pela letra U . Amiude, a soluc¸a˜o de um problema depende do conjunto universo fixado. Por exemplo, para conjunto soluc¸a˜o da equac¸a˜o 3x = 2, temos: Se U = N ⇒ S = ∅ Se U = Z ⇒ S = ∅ Se U = Q ⇒ S = {2/3} Se U = R ⇒ S = {2/3} 36 Para conjunto soluc¸a˜o da equac¸a˜o 2x3 − x2 + 2x− 1 = 0, temos: Se U = N ⇒ S = ∅ Se U = Z ⇒ S = ∅ Se U = Q ⇒ S = {1/2} Se U = R ⇒ S = {1/2} Se U = C ⇒ S = {− i, i, 1/2} Operac¸o˜es com conjuntos Introduziremos agora alguns me´todos de construc¸a˜o de novos conjuntos, a partir de conjuntos dados. Definic¸a˜o 4 (Unia˜o). Sejam A e B subconjuntos de um dado conjunto U . A unia˜o de A com B e´ o subconjunto de U , indicado por A∪B, assim determinado: A ∪B = {x ∈ U : x ∈ A ou x ∈ B} A operac¸a˜o de unia˜o goza das seguintes propriedades: N A ∪ (B ∪ C) = (A ∪B) ∪C (associativa) N A ∪B = B ∪A (comutativa) N A ∪ ∅ = A (elemento neutro) N A ∪ U = U (Identidade) N A ∪A = A (Idempoteˆncia) Definic¸a˜o 5 (Intersecc¸a˜o). Sejam A e B subconjuntos de um dado conjunto U . A intersecc¸a˜o de A com B e´ o subconjunto de U , indicado por A ∩ B, assim determinado: A ∩B = {x ∈ U : x ∈ A e x ∈ B} A operac¸a˜o de intersecc¸a˜o goza das seguintes propriedades: N A ∩ (B ∩ C) = (A ∩B) ∩ C (associativa) N A ∩B = B ∩A (comutativa) N A ∩ ∅ = ∅ (absorc¸a˜o) N A ∩ U = A (Identidade) N A ∩A = A (Idempoteˆncia) As operac¸o˜es de unia˜o e intersecc¸a˜o esta˜o relacionadas atrave´s das pro- priedades distributivas: N A ∩ (B ∪ C) = (A ∩B) ∪ (A ∩C) N A ∪ (B ∩ C) = (A ∪B) ∩ (A ∪C) Definic¸a˜o 6 (Complementac¸a˜o). Para cada subconjunto A ⊂ U , indica-se por ∁ A U e chama-se complementar de A em relac¸a˜o a U , o seguinte subconjunto de U : ∁ A U = { x ∈ U : x 6∈ A} Nota: Quando, em um determinado contexto, o conjunto U estiver fixado, a notac¸a˜o ∁ A U sera´ simplificada para A c. 37 Definic¸a˜o 7 (Diferenc¸a). Sejam A e B subconjuntos de um dado conjunto U . A diferenc¸a entre A e B e´ o subconjunto de U , indicado por A − B, assim determinado: A−B = {x ∈ U : x ∈ A e x 6∈ B} E´ fa´cil comprovar a seguinte identidade A−B = A ∩Bc A seguir relacionamos algumas propriedades envolvendo as operac¸o˜es de com- plementac¸a˜o e diferenc¸a (para subconjuntos de um dado conjunto U): N ∅c = U e U c = ∅ N ( Ac )c = A N A ∩Ac = ∅ e A ∪Ac = U N ( A ∪B)c = Ac ∩Bc ; (A ∩B)c = Ac ∪Bc N A ∩ (B − C) = (A ∩B)− (A ∩ C) N Se A ⊂ B, enta˜o ∁AB = Ac ∩B. Proposic¸a˜o 5. Os conjuntos A ∩B e A−B sa˜o disjuntos e A = (A ∩B) ∪ (A−B) Prova: Suponhamos que exista x ∈ A ∩ B e x ∈ A − B. A primeira asserc¸a˜o nos diz que x ∈ A e x ∈ B, o que contradiz a segunda. Logo, os conjuntos sa˜o disjuntos. (⊂) Inicialmente mostremos que (ver Importante, pg. 36) A ⊂ (A ∩B) ∪ (A−B) De fato, Seja x ∈ A, enta˜o ou x ∈ B ou x 6∈ B. No primeiro caso, x ∈ A e x ∈ B sendo assim x ∈ A ∩ B. No segundo caso, x ∈ A e x 6∈ B sendo assim x ∈ A−B. Em qualquer dos casos temos nossa tese comprovada. (⊂) Resta mostrar que (A ∩B) ∪ (A−B) ⊂ A De fato, seja y ∈ (A ∩B) ∪ (A−B), enta˜o ou y ∈ A ∩B ou y ∈ A−B. Em qualquer dos casos temos nossa tese comprovada. � Proposic¸a˜o 6. Se A, B e C sa˜o conjuntos quaisquer, enta˜o A− (B ∩ C) = (A−B) ∪ (A− C) A− (B ∪ C) = (A−B) ∩ (A− C) Prova: Provaremos a primeira identidade, deixando a segunda como exerc´ıcio. (⊂) Inicialmente mostremos que A− (B ∩ C) ⊂ (A−B) ∪ (A− C) 38 De fato, seja x ∈ A− (B ∩C), enta˜o x ∈ A e x 6∈ B ∩C; logo x ∈ A e x 6∈ B ou x 6∈ C, por conseguinte x ∈ A − B ou x ∈ A − C. Em qualquer dos casos temos nossa tese comprovada. (⊂) Resta mostrar que (A−B) ∪ (A− C) ⊂ A− (B ∩ C) De fato, seja y ∈ (A − B) ∪ (A − C), enta˜o ou y ∈ A − B ou y ∈ A − C. Sendo assim y ∈ A e y 6∈ B ou y ∈ A e y 6∈ C; logo y ∈ A e y 6∈ B ∩ C, do que decorre nossa tese. � Produto Cartesiano de Conjuntos Daremos agora mais um me´todo de construc¸a˜o de conjuntos, a partir de conjuntos dados: O produto cartesiano∗. Definic¸a˜o 8 (Produto Cartesiano). Sejam A e B dois conjuntos na˜o vazios. O produto (cartesiano) de A e B, denotado por A × B, e´ o conjunto de todos os pares ordenados (a, b), com a ∈ A e b ∈ B, isto e´: A×B = { (a, b) : a ∈ A e b ∈ B } Nota: Esta definic¸a˜o e´ um tanto informal, ja´ que na˜o definimos a priori o que vem a ser um “par ordenado”. A propriedade fundamental destes entes e´ a que segue: (a, b) = (c, d) ⇐⇒ a = c e b = d. O produto de um conjunto A por si pro´prio, isto e´, A×A, representa-se por A2. Por exemplo, R× R = R2 = { (a, b) : a ∈ R e b ∈ R} R R (0,0) r(a,b) a b - 6 O produto de treˆs conjuntos A, B e C - na˜o vazios - se define como A×B × C = (A×B)× C = { (a, b, c) : a ∈ A, b ∈ B e c ∈ C } O produto de n conjuntos A 1 , A 2 , . . . , A n e´ definido, por induc¸a˜o, como segue: A 1 ×A 2 × · · · ×A n = ( A 1 ×A 2 × · · · ×A n−1 )×A n = { (x 1 , x 2 , . . . , x n ) : x 1 ∈ A 1 , . . . , x n ∈ A n } ∗Rene´ Descartes (1596 − 1650), criador da geometria anal´ıtica, foi um nobre franceˆs, sol- dado, matema´tico, e um dos maiores filo´sofos de todos os tempos. 39 Sejam E1 , E2 , . . . , En conjuntos quaisquer. Para cada ı´ndice i (1 ≤ i ≤ n) sejam A i e B i subconjuntos quaisquer de E i . Colocamos, por definic¸a˜o: A 1 ×A 2 × · · · ×A n = ∅ ⇐⇒ ∃ i ∈ {1, 2, . . . , n} : A i = ∅. Se A i 6= ∅ (i = 1, 2, . . . , n), deixamos como exerc´ıcio ao leitor mostrar que (i) A 1 × · · · ×A n ⊂ B 1 × . . .×B n ⇐⇒ A 1 ⊂ B 1 , . . . , A n ⊂ B n . (ii) ( A1 × · · · ×An ) ∩ (B1 × . . .×Bn) = (A1 ∩B1)× · · · × (An ∩Bn). Func¸o˜es/Aplicac¸o˜es/Transformac¸o˜es O conceito de func¸a˜o e´ de fundamental importaˆncia uma vez que comparece - impl´ıcita ou expl´ıcitamente - em todos os ramos da cieˆncia. Pra´ticamente todas as equac¸o˜es alge´bricas que comparecem na F´ısica, Biologia, Qu´ımica, Economia, Eletricidade, etc.; podem ser estudadas dentro do contexto de func¸o˜es. Por exemplo: 1. Na F´ısica (i) PV = NRT (ii) S = S 0 + v 0 t+ 12 t 2 (iii) m = m 0r 1− ( v c )2 (iv) E = mc2 2. Na Eletricidade (i) R = ρ ℓ πr2 (ii) f 0 = 1 2π √ LC 3. Em Comunicac¸a˜o f(t) = 0, t < 0; A ( 1− e−t/RC) , 0 < t < τ ; A ( 1− e−τ/RC) e−(t−τ)/RC
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