Buscar

UNIP Letras PortuguêsInglês - Literatura Portuguesa PROSA - Unidade III (Livro-Texto)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

81
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
Unidade III
5 MODERNISMO 
O início do século XX foi marcado por mudanças profundas, de cunho social, cultural e político, que 
já germinavam há algum tempo. 
Em 1914, temos a eclosão da Primeira Guerra Mundial que modificou o mapa político e econômico 
mundial. Surgiram grupos de anarquistas, organizaram-se sindicatos de trabalhadores. 
 Observação
A Primeira Guerra Mundial envolveu 27 nações e ganhou proporções 
nunca vistas anteriormente. Houve um contingente de 40 milhões de 
soldados aliados e 21 milhões de combatentes dos Impérios Centrais 
(Alemanha e Áustria-Hungria), com um número de mortes superior a 15 
milhões.
Ao contrário das guerras tradicionais, cujos resultados dependiam 
principalmente do tamanho dos exércitos, a Primeira Guerra Mundial 
distinguiu-se pelo uso de trincheiras, bombardeios, e pelo emprego das novas 
tecnologias, tais como os aviões, submarinos, tanques e metralhadoras, 
obras do desenvolvimento industrial. 
Em 1917 ocorreu a Revolução Russa e o fortalecimento do comunismo que contestaria o capitalismo 
ocidental.
 Saiba mais
Para saber mais sobre a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa: 
CROMPTON, A. 100 guerras que mudaram a história do mundo. Rio de 
Janeiro. São Paulo: Ediouro, 2005.
Site UOL Educação/Ensino Médio/História. Disponível em: <http://
educacao.uol.com.br/historia/revolucao-russa---inicio-fim-do-czarismo-
e-breve-governo-social-democrata.jhtm>. Acesso em: 23 maio 2012.
82
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
Paralelamente a momentos tão turbulentos, principalmente entre guerras, surgiram as vanguardas 
artísticas europeias, movimentos inovadores que mudaram o panorama das artes em todo o mundo. 
Esses movimentos eram diferentes entre si, mas em comum carregavam o desejo de romper com a 
herança cultural, com as tradições e os padrões acadêmicos já envelhecidos. 
Entre as vanguardas podemos citar o Cubismo, Futurismo, Surrealismo, Dadaísmo e Expressionismo.
Veja a seguir, de Juan Gris, um retrato de Pablo Picasso. Observe as cores fortes, as figuras geométricas, 
aspectos marcantes do Cubismo:
Figura 19 - Portrait of Picasso 
1912; Oil on canvas, 93.4 x 74.3 cm; Collection of Mrs. and Mrs. Leigh Block, Art Institute of Chicago (DC 13) 
 Observação
O Cubismo surgiu em 1907 e designava, nas artes plásticas, um modo 
de expressão que revirava, através de planos geométricos, elementos da 
realidade. Na literatura, caracteriza-se pelo ilogismo (falta de lógica), pelo 
humor e pela simultaneidade. Seus maiores mestres foram Pablo Picasso, 
Max Weber e Juan Gris
O expressionismo também foi muito importante para o modernismo. Alguns de seus aspectos podem 
sem encontrados em romances neorrealistas. 
83
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
Figura 20 - Portrait of Leopold Zborowski 
1919 (60 Kb); Oil on canvas; Barnes Foundation, Merion, PA 
 Observação
Expressionismo: corrente artística predominante na Alemanha, de 
1905 a 1930, na qual se concentra no domínio psicológico. Sentimentos 
como amor, ódio, solidão, miséria são expressos plasticamente através de 
formas e cores irreais, fortes e vibrantes. Como exemplos de expressionistas, 
podemos citar Paul Gauguin, Paul Cézane, Vincent van Gogh, Edvard Münch, 
Amadeo Mondigliani, entre outros.
 Saiba mais
Para conhecer mais sobre o Cubismo e os vários movimentos das 
vanguardas europeias, entre no site Webmuseum, Disponível em: <http://
www.ibiblio.org/wm/paint/glo/cubism/>. Acesso em: 28 jul. 2011.
História da arte. Disponível em: <http://www.historiadaarte.com.br/
expressionismo.html>. Acesso em: 28 jul. 2011.
Em Portugal, a crise política era insustentável. Em 1908, o rei D. Carlos e seu herdeiro D. Luís Filipe 
foram assassinados. A República se instalou de forma conturbada em 1910, tendo como seu primeiro 
presidente Teófilo Braga, folclorista e intelectual. 
84
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
Formaram-se dois grupos opostos, um a favor da república e outro contra, os integralistas. Desse grupo, 
encabeçados por Antônio Sardinha, surgem os golpistas do Estado Novo, em 1926. Inicia-se um longo e negro 
período de repressão política, conhecido por Salazarismo, devido ao seu líder maior, António Salazar, do qual 
ainda falaremos nesta unidade. Esse período de ditadura e verdadeiro fascismo perduraram até 1974, quando 
ocorreu a Revolução dos Cravos, estabelecendo-se novamente a democracia.
Como vimos na unidade anterior, considera-se que o Modernismo em Portugal se inicia em 1915, com 
a publicação da revista Orpheu fundada por Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Luís de Montalvor, 
entre outros, por isso, essa primeira fase é conhecida por Orfismo (1915-1927).
 
Inicialmente, os modernistas tinham como objetivo romper com a literatura tradicional e com as 
formas convencionais, através do escândalo e da irreverência, contudo não possuíam um programa 
estético-literário definido. A grande revolução cultural que pretendiam não alcançou os resultados que 
esperavam e passaram quase despercebidos pelo grande público em sua época. 
Segundo Massaud Moisés, o modernismo português possui 3 fases distintas: Orfismo, Presencismo 
e Neorrealismo. Já outros teóricos, como Benjamim Abdala Jr., consideram que o Neorrealismo já faça 
parte do Pós-modernismo.
 
Resolvemos seguir a divisão proposta por Massaud Moisés, com algumas considerações sobre o 
pós-modernismo quando nos referirmos ao Neorrealismo.
Vale lembrar que o Orfismo, devido a intensa e valorosa contribuição de Fernando Pessoa, será 
estudado em Literatura Portuguesa: Poesia. 
5.1 Presencismo (1927-1940)
A segunda fase do Modernismo em Portugal é denominada de Presencismo, surgindo em 1927 a 
partir do lançamento da Revista Presença. Colaboram com a revista José Régio, João Gaspar Simões, 
Branquinho da Fonseca, seus fundadores, e Adolfo Casais Monteiro, Miguel Torga, Antônio Botto, Irene 
Lisboa, entre outros.
Os presencistas se destacaram principalmente por divulgar e cultuar a obra de Fernando Pessoa, 
Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros, os quais consideravam seus mestres. Fernando Pessoa teve 
vários de seus poemas publicados nessa revista.
Segundo Massaud Moisés, em 1928, José Régio lança um manifesto do grupo em um artigo intitulado 
“Literatura livresca e literatura viva”, no qual fica clara a postura estética do grupo, valorizando a arte 
pela arte, sem ideais políticos, filosóficos ou sociais:
 A finalidade da Arte é apenas produzir-nos esta emoção tão particular, tão 
misteriosa, e talvez tão complexa: a emoção estética. (...) O ideal do Artista 
nada tem com o do moralista, do patriota, do crente, ou do cidadão. Quando 
sejam profundos e quando se tenham moldado a uma certa individualidade, 
85
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
tanto o que se chamam a um vício como o que se chama uma virtude 
podem igualmente ser poderosos agentes da criação artística: podem ser 
elementos de vida duma Obra (José Régio apud MOISÉS, 2008, p. 362-363).
Benjamim Abdala Júnior caracteriza o Presencismo como “literatura psicologista”, tecendo algumas 
considerações a respeito. Vejamos:
Os presencistas divulgaram a concepção vitalista da obra de arte, de forma 
abstrata. O artista deveria ser “original”, “sincero” e revelar a sua “verdade” 
mais “profunda”, conceitos teóricos, como sevê, nebulosos. Para tanto, 
deveria ser ainda um indivíduo “superior” e situar-se acima dos fatos sociais, 
buscando suas essencialidades individuais. Estamos efetivamente distantes 
da teorização da modernidade artista e bastante próximo de um romantismo 
psicológico (ABDALA JR., 1995, p. 149).
E é justamente nesse momento em que a ditadura salazarista afirma que temos uma literatura 
voltada para si. Citemos alguns prosadores, que se destacaram também na poesia.
José Régio, pseudônimo de José Maria dos Reis Pereira (1901-1969) iniciou sua carreira ainda 
estudante com os Poemas de Deus e do Diabo, em 1925. Foi um dos fundadores da Revista Presença, 
da qual participou ativamente. Dedicou-se à poesia, ao teatro, ao conto, ao romance e à critica. Veja a 
seguir um trecho do conto Maria do Ahú, uma moça com a vida cheia de sofrimentos, mas de muita 
resignação e fé religiosa.
Maria do Ahú começou a envelhecer. E não ia envelhecendo feliz? Tinha umas 
telhas suas que a cobrissem; davam-lhe umas roupas usadas as mais assenhoradas 
do sítio; ia à lenha, pelas Bouças, e os lavradores não na enxotavam; comia de 
escolas e dos serviços que fazia a toda gente. (...) Nem sempre Maria do Ahú 
andava muito limpa, coitada! (RÉGIO apud MOISÉS, 1981, p. 222).
A vida da pobre moça se transforma quando um bebê recém-nascido é deixado em sua porta, o qual 
ela considera um presente de Deus.
Algumas obras: Poemas de Deus e do Diabo (1925), Jogo da cabra-cega (1934), O príncipe com 
orelhas de burro (1942), Histórias de mulheres (1946), Jacob e o Anjo (1940), Benilde ou a Virgem-Mãe 
(1947), El-rei Sebastião (1949), A salvação do mundo (1954).
 Saiba mais
Veja uma exposição especial sobre José Régio no site do Instituto 
Camões, Disponível em: <http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/
exposicoes-virtuais/jose-regio-e-os-mundos-em-que-viveu.html>. Acesso 
em: 29 maio 2012.
86
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
Irene Lisboa (1892-1958) foi professora primária e estreou na literatura em 1926 com o livro 
Contarelos. Além de participar com frequência da revista Seara Nova, com seus poemas, publicou prosa 
ficcional e obras de Pedagogia.
Figura 21 - Foto de Irene Lisboa
Usou alguns pseudônimos como João Falco e Manuel Soares. Seu estilo é marcado pela oralidade e 
naturalidade, assim como um tom intimista e muitas vezes autobiográfico.
Obras: Treze contarelos (1926), Um dia e outro dia (1936), Um dia e outro dia – diário de uma mulher 
(1936), Outono havias de vir (1937), Várias: Solidão (1939), Esta Cidade! (1942), Uma mão cheia de nada, 
outra de coisa nenhuma (1955), O pouco e o muito (1956), Voltar atrás para quê? (1956), Queres ouvir? 
Eu conto (1958), Título qualquer serve (1958), Título qualquer serve para novelas e noveletas (1958), 
Crônicas da serra (1958), Crônicas da serra (1962), Solidão II (1974), Versos amargos (inéditos incluídos 
no vol. I das Obras completas, Presença, 1991).
Veja as considerações feitas por Massaud Moisés:
Despojada de aspirações “literárias”, a autora pretendia somente fixar instantes 
do cotidiano, à semelhança de um repórter que observasse o conflito do “outro” e 
o tornasse substância da própria carne: em suma narradora do cotidiano urbano, 
interessada apenas em relatar alguns “casos” diários de uma cidade polimórfica 
como Lisboa. (...) Não estranha, que sua visão das coisas seja impregnada de 
pessimismo, nota frequente na poesia portuguesa de todos os tempos, mas que 
não afeta a universalidade das situações focalizadas, uma universalidade que 
resulta da transcendentalização (transcender, passar para outra esfera) do banal. 
(...) Metafísica do cotidiano, por sua vez radicada numa espessa solidão existencial, 
das personagens e da narradora, indício da solidão prometeica (relativo a 
Prometeu) que atravessa a Literatura Portuguesa, em razão de germinar num 
específico segmento de terra lançado à praia, como navio ancorado à espera de 
uma partida cem vezes preparada e cem vezes adiada:
“Sofri muito tempo porque o meu mundo se reduzia ou se não dilatava. 
87
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
Sofria de aperto. E hoje, mais do que nunca, sofro de irremediável solidão. 
Não me interessa moralizar, nem nunca me interessou; interessa-me ou 
apetece-me fechar um livro, vão como tudo quanto se escreve, com este 
desabafo: mundos perdidos, mundos perdidos, tudo que se não conheceu e 
nos faltou... Mas mundo morto e conhecido, submergido, conosco afogado, 
unidade incômoda e dolorosa, este, da irremediável solidão” (LISBOA, “O 
pouco e o muito” apud MOISÉS, 1981, p. 265-266).
Miguel Torga (1907-1995), pseudônimo do médico Adolfo Correia da Rocha, pertenceu ao grupo 
da Presença até 1930, quando lançou com Branquinho da Fonseca a revista Sinal. Tornou-se famoso 
por seus contos que se passam na região de Trás-dos-montes, no interior de Portugal, a partir de uma 
visão humanista e intimista.
Figura 22 - Miguel Torga
Segundo Massaud Moisés:
Toda sua extensa e variada obra gira em torno da mesma ideia motivadora: 
Miguel Torga é sempre o mesmo homem de pés fincados na terra 
transmontana, porque nela espera encontrar a explicação para a condição 
humana, imediatamente transformada em sua mente num problema 
teológico-existencial, armado ao redor de indagações-chave, do gênero 
“quem somos?”. Do jogo paradoxal em que se envolvem as perguntas, 
nasce-lhe a revolta, indignada e violenta algumas vezes, serena e branda 
outras, mas orientada contra tudo quanto constitui a “circunstância na qual 
está mergulhado, e logo transfigurada numa ira titânica contra os Elementos 
ou Deus, cujo poder não consegue compreender, aceitar ou abater” (MOISÉS, 
2008, p. 367).
Algumas obras: Ansiedade (1928), Rampa (1930), Odes (1946), Pão ázimo (1931), A terceira voz 
(1934), A criação do mundo (5 volumes, 1937-1938-1939-1974-1980), Os bichos (contos, 1940), Contos 
da montanha (1941), Rua (1942), O senhor ventura (1943), Novos contos da montanha (1944), Vindima 
(romance, 1945), Alguns poemas ibéricos (1952), Penas do purgatório (1954), Orfeu rebelde (1958), 
Câmara ardente (1962), Poemas ibéricos (1965).
88
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
Leia o início do conto Maria Lionça, em que o autor descreve a montanha, cenário em que se 
desenrolará a história de uma mulher “viúva de marido vivo”, pois há mais de 15 anos não tem notícias 
dele. Uma mulher forte, como a montanha:
Galafura, vista da terra chá, parece o talefe do mundo. Um talefe encardido 
pelo tempo, mas de sólido granito. Com o céu a servir-lhe de telhado e 
debruçada sobre o Varosa, que corre ao fundo, no abismo, quem quiser 
tomar-lhe o bafo tem de subir por um carreiro torto, a pique, cavado na 
fraga, polido anos a fio pelos socos do Preguiças, o moleiro, e pelas ferraduras 
do macho que leva pela arreata. Duas horas de penitência.
Lá, é uma rua comprida, de casas com craveiros à janela, duas quelhas 
menos alegres, o largo, o cruzeiro, a igreja e uma fonte a jorrar água muito 
fria. Montanha. O berço digno da Maria Lionça (TORGA, 2010, p. 15).
Vocabulário
Arreata: corda ou cabresto de montaria.
Carreiro: condutor de carros de boi.
Galafura: São Leonardo de Galafura, cidadezinha de Portugal, uma freguesia, como é denominada, 
com 835 habitantes, conforme censo de 2001.
Preguiças: nome do moleiro, provavelmente apelido.
Quelhas: calhas, canos descobertos.
Talefe: no sentido de o ponto mais alto da montanha.
Varosa: rio da Região.
Como podemos observar, Miguel Torga utiliza um vocabulário muito específico, típico da região de 
Trás-dos-montes. Até mesmo o nomeda protagonista nos chama a atenção. A seguir, uma visão do rio 
Douro, na região de Trás-dos-Montes:
Figura 23 – Douro
89
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
 Saiba mais
Veja alguns documentários sobre Miguel Torga, disponíveis em: <http://
videos.sapo.pt/95tRT8FAg1PiruipZ2QP> e <http://vimeo.com/11284235>. 
Acesso em: 29 maio 2012.
5.2 Neorrealismo (1940-1974)
Figura 24 - s/ título, Sobral do Campo, 1958
 Observação
Essa obra é do pintor neorrealista português Tomás Mateus (1918-1979) 
na qual retrata as pessoas simples do campo uma postura de denúncia das 
explorações sofridas pelo povo.
6 CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL
O Neorrealismo foi uma corrente literária que se iniciou em Portugal no final dos anos 1930 e 
perdurou até os anos 1960. Havia, na época, um desgaste natural do Presencismo visto anteriormente.
Os escritores começaram a repudiar esse tipo de literatura, principalmente por tomarem contato 
com literaturas mais engajadas, de cunho sociorrealista, como o neorrealismo italiano, a ficção 
norte-americana, de John Steinbeck (1902-1968) e Ernest Hemingway (1899-1961), e o romance social 
brasileiro dos anos 1930, com destaque para as obras de Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do 
Rego e Raquel de Queirós.
90
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
 Observação
Ernest Hemingway foi um dos vários escritores americanos que viveram 
em Paris nos anos 1920. Suas obras mais conhecidas são Por quem os sinos 
dobram (1940), O velho e o mar (1952) e o Jardim do Edén (1986). Suicidou-
se com um tiro de espingarda de caça aos 61 anos.
John Steinbeck foi um importante escritor americano, consagrado com 
o prêmio Nobel de Literatura em 1962. Suas obras mais conhecidas são As 
vinhas da ira (1939) e Sobre homens e ratos (1937).
Além das influências literárias, os escritores dessa época sentiram-se motivados a escrever obras de 
cunho social devido, por um lado, ao clima de repressão política (ditadura salazarista) em que viviam e, 
por outro, à crescente divulgação dos ideais marxistas (comunismo e socialismo). Segundo Benjamim 
Abdala Júnior:
O movimento neorrealista teve função de vanguarda em todos os campos da 
cultura portuguesa. O sentido da modernidade artística quanto aos aspectos 
formais, escamoteado em parte pela literatura militante dos tempos heroicos, 
vai ser retomado na década de 1950. A vanguarda ideológica conjuga-se 
assim com a artística (ABDALA JR., 1985, p. 158).
Dessa forma, costuma-se considerar que os primeiros neorrealistas preocupavam-se mais com as 
ideologias políticas, de cunho socialista do que com o valor estético de suas obras.
Os diversos autores neorrealistas possuem estilos próprios, cada um em sua especificidade. Contudo, 
todos possuem uma atitude face ao mundo a partir das quais podemos elencar algumas características 
comuns:
 
• Denúncia das explorações vividas pelos homens;
• Denúncia da alienação econômica, política e cultural;
• Visão objetiva da realidade, mas com lirismo;
• Protagonistas: pessoas humildes, injustiçadas e marginais;
• Tendência à estruturação cinematográfica;
• Temas mais frequentes: problemas socioeconômicos e a luta de classes.
Segundo Benjamim Abdala Jr., o Neorrealismo pode ser considerado mais um método de abordagem 
da realidade do que uma escola literária propriamente dita. O trabalho artístico com a linguagem é 
extremamente significativo, provando que a literatura engajada é rica esteticamente, tendo a linguagem 
literária uma função social:
91
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
O trabalho artístico é aberto aos mecanismos dinâmicos da realidade social. 
Uma das funções sociais da linguagem é servir de relação entre o que 
ocorre em todos os campos do conhecimento. Trabalhar a linguagem nessa 
dinâmica é promover uma literatura ativa, que não se reduz a quaisquer 
esquematismos. O trabalho com a linguagem torna-se assim simétrico à 
função social da literatura: promover a transformação da realidade, da qual 
é parte constitutiva (ABDALA JR., 1985, p. 161).
 Observação
O professor estabelece uma abordagem da literatura nos moldes dos 
formalistas russos, com destaque para os estudos de Bakhtin. 
 Saiba mais
Para saber mais sobre esse assunto, leia:
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 
1997.
Como vimos, uma das características das obras neorrealistas é a denuncia a alienação em diferentes 
níveis, econômico, social e cultural.
Sobre diferentes graus de alienação das personagens neorrealistas, vale citarmos o crítico Alexandre 
Pinheiro Torres. A citação é longa, mas extremamente significativa para entendermos os diferentes 
níveis de alienação, ou mesmo consciência em que os personagens podem ser enquadrados: 
Pertence ao Neorrealismo a não pequena glória na História da Literatura 
a desmontar o fenômeno da alienação definindo-o, investigando-lhes as 
causas e, com o autodinamismo que o caracteriza, insinuando caminhos e 
propondo aberturas para a sua superação. A verdade é que, relativamente 
à alienação, não bastava retratar o homem a ela submetido, um homem a 
maioria das vezes inconsciente de se encontrar alienado. Consideramos os 
diferentes “estádios” (estágios):
1º homem alienado, mas inconsciente da alienação que o subjuga;
2º homem alienado, mas já consciente da alienação de que é vítima, embora 
ignorante das causas históricas da sua submissão e dos meios de as vencer;
3º homem conhecedor das próprias causas, mas não resolvido a utilizar os 
meios de que possa dispor para vencer a alienação, meios esses nem sempre 
a disposição, por estreito controle policial do Estado (...); 
92
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
4º homem na situação de revolta ou de guerra aberta contra as causas da 
alienação (...);
(...) A temática da literatura neorrealista portuguesa gira em torno de heróis 
(ou anti-heróis) ou à volta de situações que problematizam, um ou outro, ou 
simultaneamente vários destes estádios (TORRES1 apud ABDALA JR., 1985, 
p. 162).
6.1 Pós-modernismo
Figura 25 - Blue (Moby Dick) 
c. 1943 (150 Kb); Gouache and ink on composition board, 18 3/4 x 23 7/8 in; Ohara Museum of Art, Kurashiki 
 Observação
.Jackson Pollock (1912-1956) com seu expressionismo abstrato é um 
dos representantes do que denominamos de Pós-modernismo.
Vimos que o Neorrealismo pode ser enquadrado no Modernismo ou no Pós-modernismo, conforme 
o teórico no qual nos apoiamos.
Tratar de Pós-modernismo e da cultura pós-moderna parece-nos sempre um campo minado, devido 
às diferentes linhas filosóficas e concepções sobre o mesmo tema. Encontraremos tantas definições e 
discussões que podem muito mais nos confundir do que ensinar. Dessa forma, escolhemos comentar 
apenas alguns aspectos discutidos na atualidade que podem, ou não, ajudar-nos a classificar uma obra 
como pós-moderna. Mas cuidado, não se preocupe muito com essas distinções, pois somente daqui a 
alguns anos teremos maior clareza sobre as diferentes etapas da literatura no século XX.
1 TORRES, A. O Neorrealismo literário português. Lisboa: Moraes, 1976.
93
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
Vale ressaltar que a pós-modernidade abrange não somente as artes, como também a arquitetura e 
a cultura em geral. Há quem diga que já podemos observá-la desde os anos de 1930. Assim, muitas obras 
consideradas modernas jápoderiam ser pós-modernas.
Segundo Cristina Costa (2007), o conceito de Pós-modernidade foi criado no campo das artes 
visuais e da arquitetura, procurando caracterizar uma ruptura com tudo que caracterizou a produção 
artística da Modernidade, ou seja, a organização do campo artístico e a institucionalização da arte, a 
profissionalização do artista e a circulação dos produtos por meio de um bem organizado mercado de 
arte. Dessa forma, o pós-moderno surge como uma necessidade de classificar as novas tendências, 
adversas ao modernismo.
No site do Instituto Camões, encontramos a seguinte explicação para “pós-moderno”:
Etiqueta polêmica que se apõe a vária da produção literária contemporânea, 
vulgarizada pelas controvérsias filosóficas (Lyotard/Habermas), mas do ponto 
de vista literário seriamente encarada por grupos e autores americanos e 
canonizada por inúmeros trabalhos científicos e teses em universidades dos 
Estados Unidos e da Europa do Norte.
Em Portugal, o seu funcionamento na literatura é não só temido, mas 
ainda denegado e recalcado, o que se compreende em função da tardia 
democratização da nossa sociedade e das longas lutas dos escritores 
pela obtenção de condições que permitissem o exercício livre de uma 
modernidade almejada.
De qualquer modo, a indiferenciação de modalidades narrativas, o 
gosto da reescrita e da paródia, a sedução pela alteração e correção 
dos acontecimentos do passado, o gosto do fantástico, a recusa das 
axiologias* e a tendência para o aleatório podem entrever-se em textos 
diversos (...) (Instituto Camões. Literatura. Verbete: Pós-modernismo. 
Destaques nossos).
*Axiologia: filosofia que trata de valores.
Nessa definição, é citada a controvérsia entre dois filósofos, Lyotard e Habermas, para os quais o 
pós-modernismo não se caracteriza e se desenvolve da mesma forma. Para o autor desse verbete, tais 
discussões são vulgares e não explicam com seriedade o que seria esse tal de pós-modernismo, assim, 
há uma preferência por se valorizar os estudos realizados nos Estados Unidos e na Europa do Norte. 
Polêmicas à parte, o que nos chama atenção nesse texto é a consciência das dificuldades encontradas 
em Portugal para acompanhar a modernidade.
Ao final, destacamos alguns aspectos que podem ser considerados como marcas das produções 
pós-modernas:
94
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
a) Indiferenciação de modalidades narrativas. Os gêneros não se diferenciam, não é possível trabalhar 
com definições. O que seria um conto? E uma novela?
b) O gosto pela reescrita e pela paródia. Temos uma referência a um processo de intertextualidade 
bastante significativo.
c) A sedução pela alteração e correção dos acontecimentos do passado. A história é recontada, com 
ênfase na metaficção, em que realidade e ficção se misturam.
d) O gosto pelo fantástico – esse é um dos aspectos bastante observável em várias obras 
contemporâneas.
e) A recusa das axiologias – a religião, a estética e a ética e seus valores são repudiados.
f) Tendência para o aleatório, enredos truncados, narrativas confusas, um livre fluxo narrativo 
tornaram-se comuns.
Algumas dessas características, se é que podemos chamá-las assim, podem ser encontradas nas 
obras de Lobo Antunes, Saramago, Pepetela e Mia Couto, que comentaremos a seguir.
 Saiba mais
Sobre Pós-modernismo ou o pós-moderno, leia:
GRINSBURG, J; BARBOSA, A. O pós-modernismo. São Paulo: Perspectiva: 
2005.
LYOTARD, J. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro. José Olympio. 
2006.
Para entender melhor a polêmica entre Habermas e Lyotard, leia os 
seguintes artigos:
HABERMAS, J. Modernidade versus Pós-modernidade. Artigo publicado 
no site Consciência.org. Disponível em: <http://www.consciencia.org/
modernidade-versus-pos-modernidade-jurgen-habermas>. Acesso em: 
27 jul. 2011.
LYOTARD, J. Resposta à questão: o que é pós-moderno? Artigo publicado 
no site Consciência. Disponível em: <http://www.consciencia.org/resposta-
a-questao-o-que-e-o-pos-moderno-jean-francois-lyotard>. Acesso em: 
27 jul. 2011.
95
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
6.2 Salazarismo: período de ditadura (1933 a 1974)
Para que você entenda melhor o Neorrealismo em Portugal, é necessário que compreenda o contexto 
no qual estava inserido.
Foram mais de 40 anos de repressão e cerceamento da liberdade que marcaram profundamente o 
povo português e suas colônias africanas. A seguir, faremos um breve resumo dos acontecimentos.
 Saiba mais
 Para saber mais sobre a época do Salazarismo e a Revolução dos Cravos 
veja os seguintes filmes:
PÁGINAS da Revolução. Dir.: Roberto Faenza. 104 minutos. Itália, 1995. 
Baseado no romance Sostiene Pereira (título original em italiano), de 
Antônio Tabucchi.
 
E
CAPITÃES de abril. Dir.: Maria Medeiros. 124 minutos. Portugal, 2000.
Veja o trailer do filme em: <http://videos.sapo.pt/
TQu32sgFtzdqCcKLznwZ>. Acesso em: 29 maio 2012.
Veja também um documentário sobre os “capitães de abril” em: <http://
vimeo.com/4305371>. Acesso em: 29 maio 2012.
Em abril de 1928, o único candidato ao governo português foi Oscar Carmona que, por consequência 
tornou-se Presidente da República. Como ministro da pasta de Finanças, escolheu António Oliveira 
Salazar, que cumpriu sua função com bastante austeridade e competência, estabilizando a dívida 
externa e a moeda. Salazar ganhou prestígio e, como consequência, em 1931, assumiu a chefia do 
governo, instituindo o Estado Novo em 1933.
Apesar de possuir algumas características semelhantes ao fascismo italiano de Benito Mussolini, 
o Estado Novo nunca se assumiu como sendo fascista. Houve uma forte censura nesse período, sendo 
que aqueles que eram contra o novo regime eram presos, torturados, exilados e, por muitas vezes, 
mortos. Toda a oposição era duramente reprimida pelas polícias políticas, dando destaque para a 
PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado). A política colonialista (Angola, Moçambique) foi 
acirrada. Criaram-se milícias para defesa do regime e para o combate ao comunismo.
O declínio do império salazarista iniciou-se a partir de 1961, devido a um surto de emigração e 
de um crescimento capitalista de difícil controle, além do que, teve início a Guerra Colonial, face às 
pressões internacionais para que o país concedesse a independência às suas colônias. Tal período foi 
bastante retratado pela literatura Angolana e Moçambicana.
96
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
Salazar foi afastado do governo em 1968 por motivo de doença, sendo substituído por Marcello 
Caetano. Acabou por falecer em Lisboa, no dia 27 de julho de 1970. Curioso que, mesmo após sua morte, 
o sistema estabelecido só ruiu em 1974.
A imprensa e as artes eram as que mais sofriam, a informação e as formas de expressão cultural 
eram controladas, fazia-se uma censura prévia que abrangia a imprensa, o cinema, o teatro, as 
artes plásticas, a música e a escrita. Como no Brasil, muitos tinham que agir na clandestinidade 
ou refugiar-se no exílio, quando não eram aprisionados e torturados. Sobre os rapazes de 18 
anos ainda pairava o espectro da guerra colonial, o que causava revolta, principalmente dos 
universitários que eram obrigados a lutar por ideais que desconheciam ou nos quais nem mesmo 
acreditavam. Esses jovens eram treinados desde meninos por uma corporação denominada 
Mocidade Portuguesa.
Em 25 de abril de 1974 ocorreu um golpe militar, conhecido como Revolução dos Cravos, que 
depôs o governo de Marcello Caetano. Portugal passou, desde então, a caminhar para um sistema 
político voltado para a democracia e a liberdade.Figura 26 – Cartaz comemorativo da Revolução dos Cravos 
 Observação
Liricamente, os soldados desfilaram pelas ruas de Lisboa com cravos 
em seus tanques. O exército destituiu o presidente e propôs eleições 
democráticas.
Aqui no Brasil foi diferente, os militares é que constituíram a ditadura.
97
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
Houve muitas coincidências entre as ditaduras no Brasil e em Portugal, contudo, nós tivemos dois 
momentos distintos: a ditadura de Getúlio Vargas nos anos 1930 e a Ditadura Militar dos anos 1960, 
que perdurou até os anos 1980.
Veja a música de Chico Buarque. O artista cria relações entre Brasil e Portugal já no título: Fado 
tropical. Fado é a música típica dos portugueses e nós somos um país tropical.
Fado tropical
BUARQUE, C; GUERRA, R.
Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou
Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata
Arrebato um beijo
(.....)
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial.
Nesta música de Chico Buarque, Brasil e Portugal se misturam. Ambos os países sofriam com os 
severos tempos da ditadura.
Observe como em cada verso temos elementos que se referem ora a Portugal, ora ao Brasil. 
98
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
Quadro 1
Portugal Brasil
meu fado 
avencas
alecrins
Licores
vinho
rendas do Alentejo
minha mãe gentil/tua densa mata
caatinga
canavial
moringa
tropical
linda mulata
Países tão diferentes, unidos pela língua e pelas ditaduras pelas quais viveram.
Nas últimas décadas, observamos várias manifestações que procuram resgatar o clima pós-revolução, 
uma vez que a repressão e a ditadura sempre rondam as democracias. Veja uma placa em uma via no 
centro de Lisboa, que marca a importância da dessa revolução:
Figura 27
6.3 A produção literária
As primeiras manifestações neorrealistas ocorrem em torno nos anos 1930, com a publicação de 
revistas e jornais como O Diabo, Sol Nascente e Vértice e o romance Gaibéus de Alves Redol. Como vimos 
anteriormente, é nessa época em que há uma preocupação maior com o engajamento, com a denúncia 
e as questões estéticas deixam a desejar.
Já na década de 1950, há uma maior elaboração estética. Podemos destacar escritores como Manuel 
da Fonseca, Carlos de Oliveira, José Cardoso Pires, Augusto Abelaria, José Gomes Ferreira, Fernando 
Namora, entre outros.
Na década de 1960, há uma intensificação da elaboração artística e surgem técnicas de vanguarda, 
aplica-se o existencialismo e o surrealismo. Destacam-se Vergílio Ferreira e Urbano Tavares Rodrigues.
São muitos os escritores neorrealistas. Destacaremos: Alves Redol, Manuel da Fonseca, Carlos de 
Oliveira e José Gomes Ferreira.
99
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
 Lembrete
Anos 1940, início do Neorrealismo.
Anos 1950, auge da produção literária neorrealista.
Anos 1960, mesclam-se novas tendências, como o Surrealismo.
 Saiba mais
Sobre Neorrelismo e seus autores, acesse o site do Projecto Vercial, no 
link: “Correntes do século XX”, Disponível em:; <http://alfarrabio.di.uminho.
pt/vercial/programas.htm>. Acesso em: 23 maio 2012.
6.3.1 Alves Redol (1911-1969)
Figura 28 – Alves Redol
Antônio Alves Redol teve uma origem humilde, sendo seu pai foi um comerciante modesto. Trabalhou 
em Angola por três anos e quando regressou a Portugal, em 1936, juntou-se ao movimento que se 
opunha ao Estado Novo, tornando-se militante do Partido Comunista. Dedica-se à ficção tornando-se 
um dos principais romancistas de tendência neorrealista.
Ao final de 1939, Alves Redol publica Gaibéus, um romance regionalista que retrata a vida simples 
dos camponeses de Ribatejo, os gaibéus. Para dar maior realidade à obra, o autor fez uma completa 
pesquisa de campo, chegando a morar na região, trabalhando com os camponeses nas plantações de 
arroz.
Segundo palavras do próprio Alves Redol, na epígrafe de Gaibéus, “este romance não pretende ficar 
na literatura como obra de arte. Quer ser, antes de tudo, um documentário humano fixado no Ribatejo. 
Depois disso, será o que os outros entenderem”. 
100
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
Como vários escritores se dedicaram a retratar províncias especificas, como se fossem nossos estados, 
a seguir temos um mapa para que você se localize. As provinciais atuais foram instituídas a partir de 
1936, com algumas alterações ao longo dos anos. 
Veja um trecho de Gaibéus, do capítulo “Mensagem da nuvem negra”:
Vencidos pelo torpor, os braços não param. Lançam as foices no eito, juntando os 
pés de arroz na mão esquerda, e o hábito arrasta-os em gestos quase automáticos, 
mais um passo e outro, a caminho da maracha que fecha o extremo de cada canteiro. 
Caminham sempre no mesmo balouçar de ombros; as pegadas do seu esforço ficam 
marcadas na resteva lodosa.
Talvez muitos deles pensem que o arroz deitado nas gavelas repousa primeiro do que os 
seus corpos. Se pudessem deter-se também, por instantes, e descansarem depois a cabeça 
nos montes de espigas que deixam atrás de si, a ceifa poderia animar.
Mas o bafo que vem da seara queima mais em cada minuto e as cabeças dos alugados 
pesam já tanto como o cabo das foices nos braços esgotados. Estão atafulhadas de 
amarelo, de pensamentos e de grãos de fogo que a canícula doente lhes insuflou no 
sangue.
Ninguém entoa cantigas para animar, embora os capatazes tenham incitado as raparigas 
cantaroleiras para o fazer. Nos ranchos não há agora que saiba cantar.
Como podem as cachopas entrar em cantos ao desafio, se os peitos parecem fendidos 
pela fadiga e o ar que respiram se tornou lava do vulcão da planície?!...
(REDOL, 1965 apud MOISÉS, 1981, p. 448).
Vocabulário
Atufalhadas: cheias.
Cachopas: moças.
Cantaroleiras: que cantam.
Ceifar: colher cereais.
Gavelas: feixes de espigas ceifadas, cortadas.
Maracha: pequeno muro.
Resteva: lugar cheio de lodo.
101
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
Nesse trecho podemos observar que Alves Redol denuncia as péssimas condições de trabalho dos 
camponeses. Homens e mulheres trabalham horas a fio sob um sol escaldante e são tratados como 
animais.
Como em um quadro expressionista, visualizamos os tons fortes e vibrantes dos trabalhadores ao sol. 
O arroz tem mais privilégios que os trabalhadores, pois pode descansar ao sol.
Das obras de Alves Redol, além de Gaibéus, destacam-se os seguintes romances: Marés (1941); 
Avieiros (1942); Fanga (1943); Porto manso (1946); Ciclo Port-Wine: Horizonte cerrado (1949), Os 
homens e as sombras (1951), Vindima de sangue (1953); Olhos de água (1954); A barca dos sete lemes 
(1958); Uma fenda na muralha (1959), O cavalo espantado (1960); Barranco de cegos (1962); Histórias 
afluentes (1963); O muro branco (1966). Postumamente, saiu o volume de teatro Os reinegros (1974).
 Saiba mais
Veja o pequeno vídeo em comemoração aos 100 anos de Alves Redol. 
Disponível em: <http://videos.sapo.pt/A7YZzCJvL4KRZFY20Lp9>. Acesso 
em: 28 jul. 2011.
6.3.2 Manuel da Fonseca (1911-1993)
Figura 29 - Manuelda Fonseca
Manuel Alves da Fonseca nasceu em Santiago de Cacém, na província do Baixo-Alentejo.
Foi poeta, prosador, cronista e um ativo membro do Partido Comunista. Antes de colaborar 
no jornal Novo Cancioneiro, com Planície, coleção onde se afirmariam algumas coordenadas da 
estética poética Neorrealista numa primeira fase, editou, em 1940, Rosa dos ventos, obra pioneira 
do Neorrealismo poético português, nascida do convívio com um grupo de jovens escritores 
unidos numa...
102
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
...obstinada recusa de ser feliz num mundo agressivamente infeliz, uma ânsia 
de dádiva total e o grande sonho de criar uma literatura nova, radicada na 
convicção de que, na luta imensa pela libertação do Homem, ela teria um 
papel estimável a desempenhar contra o egoísmo, os interesses mesquinhos, 
a conivência, a indiferença perante o crime, a glorificação de um mundo 
podre (DIONÍSIO, M. – prefácio a Obra poética de Manuel da Fonseca, 1984, 
p. 21). 
Sua prosa e poesia se aproximam e estão impregnadas de um caráter autobiográfico, alimentado por 
recordações da convivência com o homem alentejano. Sua obra ultrapassa o regionalismo, pois fala de 
problemas humanos que atingem a todos nós. A seguir, um pequeno exemplo desse talentoso escritor.
Seara de vento 
Essa obra-prima de Manuel da Fonseca se passa no Alentejo, região rural, e se baseia em fatos reais. 
Foi publicada em 1958, com o título de Tempo de Lobos, foi censurada em Portugal, mas traduzida para 
outros países.
No posfácio da edição de 1984, Manuel da Fonseca nos conta que a ideia de escrever essa obra o 
perseguiu por vários anos.
Ouviu a história em um café, perto da cidade de Beja. Cada um contava um fato diferente. A história 
verídica é que Antônio Dias Matos foi acusado injustamente de roubar sacas de aveia, quando o real 
ladrão era um membro de sua família. Ele e sua mulher foram presos e a mulher faleceu logo após a 
prisão, uns diziam que se suicidou, outros que fora assassinada. Antônio Dias Matos entrou em desespero, 
sem a esposa e com sete filhos para sustentar, entrou no contrabando. Um dia vai à casa do lavrador 
que o tinha acusado de roubo, fere três pessoas a tiro. Volta para sua casa, nem procura fugir. Em 9 de 
janeiro de 1932, o homem é acuado e morre. Esse é o mote, vamos ao romance.
Seara de vento retrata as injustiças sofridas pela família de Antônio Valmurado, o Palma. Injustamente 
condenado à prisão, esse simples camponês, ao ver sua família na miséria, parte para criminalidade, para 
o contrabando. 
As pressões são tantas que a revolta o domina, chegando ao ápice quando sua mulher, Júlia, 
suicida-se. O desejo de vingança leva-o a se tornar um assassino. Palma representa o homem simples, 
explorado, que aos poucos vai tomando consciência de sua situação e a única forma que encontra para 
se defender é a violência. Estaria, assim, no quarto estágio proposto por Pinheiro Torres.
 Lembrete
4º estágio: homem encontra-se em situação de revolta ou de guerra 
aberta contra as causas da alienação.
103
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
Assim, essa obra demonstra não somente o processo de exploração sofrido, mas também o processo 
de conscientização de um homem, inicialmente alienado.
O romance segue uma tendência cinematográfica, as personagens são construídas por meio da 
dramaticidade, de suas ações. Ao lermos, parece que vemos um filme, devido à composição das cenas. 
O tom de denúncia é constante e a linguagem é extremamente simbólica. O vento é antropomorfizado, 
torna-se presente em vários momentos, como uma personagem ou mesmo como um narrador que 
conduz seu leitor ao local da ação.
 O vento também representa o poder, em todos seus aspectos positivos e negativos. É aquele que 
destrói, mas também dá forças para lutar.
Além da presença imperativa do vento, podemos destacar a personagem Amanda Carrusca, sogra do 
Palma. É uma mulher mirrada, aparentemente fraca, mas de personalidade forte. Veja o que diz o crítico 
Mário Sacramento:
É esse vento a personagem reflexiva da obra-prima que Manuel da 
Fonseca agora produziu, vento que isola o casebre miserável, cercando-o 
e batendo-o da telha vã ao forno da cal; vento que acompanha a 
intriga duma ponta à outra contraponteando-a de lance em lance, 
através dum fundo musical, lúgubre e sinistro, que só ensurdece no 
curto lapso em que o contrabando traz àquele lar (...) um breve hiato 
de desafogo (...), para recrudescer pelo suicídio de Júlia (...) e desfraldar 
os crepes da tragédia, enfumando os andrajos escuros de Amanda 
Carrusca e modelando-lhe um corpo seco e chato, só ossos. 
 
Mas se o vento ascendeu, finalmente, ao topo da simbologia que a obra 
anterior de Manuel da Fonseca lhe preparava, todos os personagens 
deste livro são tipos depurados que vêm ocupar lugares inconfundíveis 
na galeria das nossas letras. Amanda Carrusca (...) é o ódio milenário da 
fome: uma face imperativa num molho de ossos (SACRAMENTO, 1959, 
p. 140-143). 
 Observação
Aspectos importantes quanto ao enredo e sua estrutura:
• Construção psicológica das personagens;
• Tempo circular, repleto de flashbacks;
• O enredo segue a estrutura de encaixe, como nas Mil e uma noites, os 
episódios enredam-se;
104
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
• O espaço e a ambientação são extremamente importantes, o vento e 
seu ensurdecedor barulho balança pequenas árvores e plantações;
• A linguagem é extremamente metafórica e simbólica;
• A denúncia e a crítica social são evidentes.
É uma bela obra que vale à pena ser lida e apreciada. Veja seu início:
Rumorosa, às sacudidelas bruscas, a ventania corre livremente. Em tropel desabalado 
arremete contra a empena, trespassa a telha-vã. Gemendo, arrasta-se pelo interior escuro 
do casebre. E demora, insiste, num ganido assobiado.
Seca e breve, como uma chicotada, a praga rompe dos lábios azedos da velha:
— Raios partam esse vento!
Por instantes, as duas mulheres entreolham-se. A velha de punho no ar, a boca ainda 
aberta pelo grito. Júlia encolhida e receosa, como se acabasse de ouvir uma blasfêmia.
Estão ambas junto da lareira apagada, sentadas nos mochos, sumidas nos vestidos pretos. 
Em redor, sombras espessas diluem nas paredes e os recantos numa só mancha circular. 
Apenas as cantarias da lareira, batidas pela luz que vem da porta, se salientam, aprumadas.
 
Abafado pelo farfalhar da ventania, o gemido prolonga-se monótono. Sem aguardar 
que morra de vez, irritada com a interrupção, a velha Amanda Carrusca retoma a conversa. 
A face escaveirada torna-se-lhe imperativa. 
(FONSECA, 1984, p. 9. Destaques nossos.)
Vocabulário
Cantaria: pedra.
Empena: peça de madeira do telhado.
Mocho: banco.
Observe como o vento ou a ventania, personificados, adentram a sala e conduzem a ação. Sons, 
cores, luzes e sombras constroem o ambiente dessa empolgante e triste narrativa.
Algumas obras de Manuel da Fonseca: Rosa dos ventos (1940); Planície (1941); Aldeia nova (1942); 
Cerromaior (1943); O Fogo e as cinzas (1951); Seara de vento (1958); Poemas completos (1958) (inclui 
obras anteriores e poemas inéditos, 1969); Um anjo no trapézio (1968); Tempo de solidão, (1969); Obra 
poética (1984); Crônicas algarvias (1986); Bairro de lata (1986).
105
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
6.3.3 Carlos de Oliveira
Figura 30 – Carlos de Oliveira 
Carlos de Oliveira, filho de imigrantes portugueses, nasceu no Brasil, em Belém, no Pará,em 1921, mas 
passou quase toda sua vida em Portugal, onde faleceu em 1981. Sua obra, poemas e prosa, demonstram 
indignação contra a exploração do homem pelo homem, em um trabalho estético primoroso, mistura 
emoção e consciência social. Formou-se em Ciências Históricas e Filosóficas pela Faculdade de Letras, na 
Universidade de Coimbra. Morreu ainda novo, com 60 anos incompletos.
 Uma abelha na chuva
Uma de suas obras mais instigantes é Uma abelha na chuva, romance no qual as personagens 
são regidas pelo dinheiro, pelo ódio e pela inveja. O enredo se desenvolve em Montouro, uma aldeia 
da Gândara, com os protagonistas Álvaro Silvestre e Maria dos Prazeres, parceiros em um casamento 
de conveniências, sem amor. Ele é proveniente de uma família rica, de comerciantes abastados, ela é 
descendente de fidalgos arruinados. O clima é de traição, morte e medo e a própria natureza colabora: 
“Olhando para tudo, entrevia apenas no palpitar da terra a intimidade decomposta, os sinais da 
destruição”.
 O único casal verdadeiro e positivo da história é Clara e Jacinto, mas são sacrificados pelo ciúme e 
pela ambição. Álvaro Silvestre surpreende, de madrugada, no curral de sua casa, uma conversa entre Clara 
e Jacinto que revelam seus planos de fuga para se casarem e, além disso, referem-se depreciativamente 
à relação de Álvaro com a sua esposa. Jacinto revela que a mulher o desejava a distância, com olhares 
furtivos. 
 
 Álvaro fica possesso e quer se vingar, contando ao ambicioso pai de Clara que a moça iria fugir 
com um simples empregado da propriedade. O pai planeja o assassinato de Jacinto, auxiliado pelo 
seu aprendiz Marcelo, a quem alicia prometendo Clara em casamento. A tragédia consuma-se com o 
suicídio de Clara.
Ao final, um especialista em abelhas, consciente da efemeridade desses animais, faz o seguinte 
comentário, comparando a situação da moça à abelha na chuva:
106
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
A abelha foi apanhada pela chuva: vergastadas, impulsos, fios do aguaceiro 
a enredá-la, golpes de vento a ferirem-lhe o voo. Deu com as asas em terra 
e uma bátega mais forte espezinhou-a. Arrastou-se no saibro, debateu-se 
ainda, mas a voragem acabou por levá-la com as folhas mortas (OLIVEIRA, 
C. 1982, p. 150).
 Saiba mais
UMA abelha na chuva. Dir.: Fernando Lopes, 66 minutos, Portugal, 1971.
Veja o trailer em: <http://videos.sapo.pt/myQJSvFdGVNlyk8ZzJLM>. 
Acesso em: 29 maio 2012.
Algumas obras de Carlos de Oliveira: Turismo (1942), Mãe pobre (1945), Descida aos infernos (1949), 
Terra de harmonia (1950), Cantata (1960), Sobre o lado esquerdo (1968), Micropaisagem (1969), Entre 
duas memórias (1971), Trabalho poético (2 vols., 1977-1978), Pastoral (1977). Obras de ficção: Casa 
na duna (1943), Alcateia (1944), Pequenos burgueses (1948), Uma abelha na chuva (1953), Finisterra 
(1978). Crônicas: O aprendiz de feiticeiro (1971).
6.3.4 José Gomes Ferreira
Figura 31 – José Gomes Ferreira
José Gomes Ferreira nasceu no Porto em 1900, e faleceu em Lisboa em 1985. Foi um poeta e ficcionista 
de ímpetos românticos e cívicos, voltado para a causa social dos tempos do Salazarismo (apesar de ter 
participado do governo de Salazar, na função de cônsul de 1925 a 1930) e do pós-25 de Abril, com um 
vibrante amor pela natureza humana e seus conflitos, mas com um igual empenho na palavra poética e 
no sentido da sua fragmentação expressiva.
Destacaremos aqui uma obra peculiar de José Gomes Ferreira, dedicada ao público infantil e estudada 
em nossa dissertação de mestrado. Essa obra carrega características do Neorrealismo, mas já comporta 
novas tendências, como o Surrealismo.
107
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
 “Um romance irônico, passado num mundo fantástico de símbolos, sonhos e pesadelos, e escrito por 
um homem bem acordado”. É dessa forma que José Gomes Ferreira define sua obra, revelando-nos que 
o maravilhoso convive plenamente com a consciência social e humana do poeta.
 O livro foi publicado em 1963, mas na versão 1974 passou a chamar-se Aventuras de João Sem 
Medo: panfleto mágico em forma de romance (sem o termo “maravilhosas”) e contém uma nota final 
da 2ª edição, do qual tiramos a definição acima citada. 
Essa última edição vem sendo publicada até a atualidade e o livro se encontra na 19ª edição. O termo 
“panfleto” indica aspectos que o livro não possui, uma vez que seu tom é muito mais humanista do que 
político. Podemos, dessa forma, considerar que o termo “panfleto” foi utilizado como simples estratégia 
de marketing.
Esse livro é fruto de vários episódios publicados inicialmente no jornal Senhor Doutor, semanário 
infantil que circulou de 18 de março a 30 de setembro de 1933. Os diversos contos dispersos eram 
intitulados “Contos do Avô do Cachimbo”.
Como o próprio título do livro já nos revela, ao lê-lo, encontramos uma sequência de aventuras 
maravilhosas cujo herói é um rapaz chamado João Sem Medo (não sabemos precisamente qual seria sua 
idade) que, cansado da monotonia e da choradeira constante de sua terra, Chora-Que-Logo-Bebes, resolveu 
pular o Muro mágico em direção ao Parque de Reserva de Entes Fantásticos e seguir em busca da felicidade:
 Ora um dia, farto de tanta chorinquice e de tanta miséria que gelava as 
casas e cobria os homens de verdete, disse à mãe que, conforme a tradição 
local, lacrimejava no seu canto de viúva:
— Mãe, não aturo mais isto! Vou saltar o Muro (FERREIRA, 1963, p.12).
João Sem Medo acabou se deparando com monstros, gigantes, fadas, animais falantes, objetos 
mágicos, homens-pássaro, um príncipe, uma princesa e outros personagens curiosos. Passou por 
situações insólitas e as encarou como naturais e esperadas. 
Encontrou até uma Fada do Sonho e se transformou em quase tudo, até em um rei tirano, que 
tomava as atitudes mais arbitrárias e ridículas:
– Nós, João Sem Medo I, Rei absoluto de Coisa Nenhuma, ordenamos que 
extraiam as barrigas e os estômagos aos nossos fiéis súditos e cortesãos. [...] 
Para solucionar de uma vez para sempre a crise econômica... De hoje em diante 
só há uma pessoa que como no meu reino: eu. (FERREIRA, 1963, p. 83).
 Observe como o poder é ridicularizado! Isso em uma obra para crianças em pleno Salazarismo, em 
que todos os livros passavam pelo crivo da censura.
Pelo jeito, os censores achavam que literatura infantil era bobagem e não se preocuparam muito 
com aquelas “inocentes histórias para criancinhas”.
108
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
Os contos maravilhosos são parodiados e modernizados. Há um episódio, “homem sem cabeça” em 
que surge uma fada exageradamente enfeitada, como se fosse a um baile de carnaval. Além disso, nem 
mulher era e sim um homem travestido, pois já não havia mais fadas à disposição. Observamos que a 
ambivalência entre as belas fadas dos contos maravilhosos e a pseudofada, homem travestido, reforçam 
o tom de humor e deboche:
Então — ó pasmo dos pasmos! João Sem Medo, viu sair da espessura da floresta 
um ser prodigioso que de longe parecia uma mulher jovem e bela, cabelo loiro 
até à cintura, três estrelas de prata na testa, varinha na mão direita, roca na 
mão esquerda, túnica bordada de rubis e esmeraldas, chapinsdellatina e tudo 
o mais que as fadas costumam usar nos bailes de Entrudo.
— És a Fada dos Dois Caminhos? — inquiriu, duvidoso. — Palavra? Mostra cá 
o bilhete de identidade [...] Pois a pseudofada parecia... Parecia, não. Era... 
Era mesmo um homem vestido de mulher, como se deduzia no desarrumo 
da cabeleira postiça à banda, no negror evidente da barba mal disfarçada...
(FERREIRA, 1963, p. 15 e 16).Ainda podemos citar um trecho bem humorado em que o Mago Mor escrevia mensagens para João 
Sem Medo, sendo a Lua Cheia sua lousa e o carvão seu giz:
AS BICHAS DE SETE CABEÇAS FORAM AO CABELEIREIRO. COMO CALCULAS 
LEVAM MUITO TEMPO A TRATAR DOS PENTEADOS (FERREIRA, 1963, p. 9).
 Observação
O livro Aventuras de João Sem Medo não apresenta ilustrações, mas a 
versão do jornal, em 1933, é repleta delas. Na ilustração a seguir, vemos 
João Sem Medo rindo para a bicha de sete cabeças.
Figura 32 - “João Sem Medo” – ilustração de Carlos Ribeiro para o primeiro episódio “Aldeia de 
Choramingas” no jornal O Senhor Doutor
109
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
Quanto à ridicularização do poder, podemos ainda citar o príncipe com orelhas de burro que exigia 
que todos pensassem como ele; pois, caso contrário, seriam castigados. Ele via sua feiura nos outros, 
pois os outros eram seus burros de carga: “decretei a ditadura da minha beleza infalível”.
Mesmo com tantas situações insólitas e aventuras mil, João Sem Medo não conseguia se autorrealizar 
e decidiu retornar à sua terra natal após todas suas aventuras. As “novidades” que encontrou na 
Floresta Branca; o fantástico, o imaginário, o ilusório; também o entediavam. A rotina e a aventura se 
assemelhavam demasiadamente.
Para retornar ao lar, o herói teve que transpor novamente o Muro. Acabou por se repartir 
em dois: um João Sem Medo poderia, finalmente, voltar para casa, para seu mundo real, e 
outro, seu duplo, continuaria suas aventuras em um mundo imaginário. O João Sem Medo que 
retornou ao lar, vendo-se incapaz de mudar a realidade de seu mundo, montou, provisoriamente, 
uma fábrica de lenços e enriqueceu. Não perdeu, contudo, as esperanças: (Ah! Mas um dia, um 
dia!...).
Alexandre Pinheiro Torres considera as Aventuras de João Sem Medo, único livro infantojuvenil 
de José Gomes Ferreira, como a obra-prima do autor, a qual retrata, exemplarmente, a omissão e o 
conformismo do cidadão português apolitizado em plena ditadura salazarista:
(...) julgamos perante o retrato-em-corpo-inteiro da má-consciência que 
aflige o cidadão português apolitizado, mas que aceita, sem rebelião ativa, 
a sua imanência de objeto.[...] E João Sem Medo é a alegoria de tal situação, 
tão emblematicamente dela paradigmática, que não recuamos perante a 
afirmação de ser a obra-prima do autor, no sentido em que tudo o que é 
profunda e sentidamente gomes-ferreiriano se encontra lá de uma forma 
fascinante, nova, original, irônica, trágica e definitivamente exemplar 
(TORRES, 1975, p. 271-272).
Essa maravilhosa obra de José Gomes Ferreira ainda é muito apreciada e atual. Foi adaptada para 
peças infantis, teatro de marionetes e desenho animado.
Há também um interessante blog em que internautas podem ler novas aventuras para João Sem 
Medo e fazer comentários sobre os textos lidos:
Andava João por Chora-Que-Logo-Bebes, pacata cidadezinha da província, 
a amanhar alfaces e a catar os caracóis atrevidotes quando deu por si a 
pensar: porque carga de água (que é um bem essencial para as hortas) o 
FMI estabelece para 2004 uma taxa de crescimento económico superior à 
do Governo de Chora-Que-Logo-Bebes!? Bem dito. Bem feito. João ergue-se 
num ápice e pimba (i.é; acto brusco, muitas vezes irracional) larga o ancinho 
e pega no portátil. Determinado diz para si e para os seus botões das calças 
de peitilho. Vou semear um blog.
110
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
 Saiba mais
Aventuras de João Sem Medo. Disponível em: <http://aventurasdejsm.
weblog.com.pt/>. Acesso em: 23 maio 2012. 
Como vemos, atualmente João Sem Medo ainda se aventura por outros mundos.
Podemos observar, por meio das Aventuras de João Sem Medo, o espírito crítico e, ao mesmo 
tempo, nostálgico do autor. Nesse livro, a visão de mundo de José Gomes Ferreira é muito mais 
humanista do que política e expressa uma dualidade interior, entre o conformismo e os sonhos 
irrealizáveis. João Sem Medo é um bom exemplo de tal dualidade, já que, após ser duplicado, pôde 
viver aventuras maravilhosas e, simultaneamente, voltar para seu lar e se conformar com sua situação 
de “choro-que-logo-bebense”.
José Gomes Ferreira era grande conhecedor dos contos populares, inclusive efetuou uma recolha de 
contos tradicionais portugueses juntamente com Carlos de Oliveira em 1957 e 1958. Coube-lhe, além 
de escolher e comentar alguns contos, produzir o prefácio para os dois volumes de contos da coleção 
“Tesoiros da Nossa Literatura”. Destacamos um trecho do prefácio no qual podemos observar, ao nosso 
ver, uma verdadeira “paixão” do poeta pelos contos tradicionais:
O prefaciador desta larga coletânea de contos tradicionais portugueses 
[ele, José Gomes Ferreira] declara solenemente, e de forma inequívoca, 
que não tem a honra de ser, nem de se considerar folclorista, etnólogo, 
mitólogo, mitógrafo, antropólogo, arqueólogo ou seguidor de qualquer 
ciência ou teoria. [...] Outrossim, insiste que, na sua qualidade de literato 
de vocação e de profissão (que em Portugal se reduz a um amadorismo 
com intervalos remunerados), nunca se abalançou de extrair destas 
narrativas outro prazer salvo o do puro gozo artístico de ouvir, ler e 
contar histórias, onde contudo sempre entreviu, como que cristalizadas, 
as paixões e as experiências essenciais da alma humana, vindas lá do 
poço dos tempos, modeladas por povos de esqueletos, transmitidas por 
milhares e milhares de bocas, ajeitadas por bilhões e bilhões de lábios 
– histórias cada vez mais depuradas, mais belas e mais presas ao que se 
imagina de eterno e de verdadeiro no sangue e nos impulsos do Homem 
(OLIVEIRA & FERREIRA, 1958, p. 9 e 10).
Segundo Alexandre Pinheiro Torres, José Gomes Ferreira (apud GOES, 1984) “insere-se 
dentro da primeira linha de autores que são simultaneamente, testemunhas de um mundo em 
colapso, pelo seu humanismo, desmistificadores de algumas alienações que pesam sobre a nossa 
sociedade”.
111
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
Seria simples incluí-lo em um único movimento literário. Seu primeiro poema, “Viver também 
cansa”, foi publicado na revista Presença, cujos colaboradores, como vimos eram visceralmente 
humanistas e culturalistas e pretendiam “revolucionar” a consciência humana, pois nela estaria 
a raiz de tudo. Já maduro, José Gomes Ferreira evoluiu de um romantismo saudosista para uma 
postura literária ligada ao Neorrealismo e com influências surrealistas. 
As principais obras de José Gomes Ferreira são: Poesia militante (volumes I, II e III), Imitação dos 
dias – diário inventado (1965), A memória das palavras ou o gosto de falar de mim (1965), Tempo 
escandinavo (contos, 1969), O sabor das trevas (romance-alegoria, 1976), Calçada do sol (1983), Dias 
comuns – I. Passos Efêmeros (obra póstuma, 1990), Dias comuns – II. A idade do malogro (obra póstuma, 
1998).
 Resumo
O Modernismo surge no contexto da Primeira Guerra Mundial, da 
Revolução Russa e das Vanguardas artísticas europeias (Cubismo, 
Dadaísmo, Futurismo, Expressionismo e Surrealismo. Caracteriza-se por sua 
ruptura com os movimentos anteriores.
Em Portugal, iniciou-se em 1915 e pode ser dividido em três fases: 
Orfismo (1915-1927), Presencismo (1927-1940) e Neorrealismo (1940-
1974).
Alguns teóricos preferem incluir o Neorrealismo no Pós-Modernismo, 
estética que surgiu como uma necessidade de classificar as novas 
tendências, adversas ao Modernismo.
O Presencismo valorizava a arte pela arte, sem qualquer engajamento 
do artista. Seus principais escritores são: José Régio, Branquinho da Fonseca, 
IreneLisboa, João Gaspar Simões, Almada Negreiros e Miguel Torga, entre 
outros.
Já o Neorrealismo foi um movimento que se opôs ao Presencismo, 
considerando a força da literatura como forma de denúncia das explorações 
vividas pelos homens. A literatura tornou-se mais engajada. Seus principais 
escritores são: Alves Redol, Manuel da Fonseca, Carlos de Oliveira, Cardoso 
Pires, Fernando Namora, José Gomes Ferreira, entre outros.
No contexto do Neorrealismo, é preciso destacar o Salazarismo, 
período ditatorial de 1933 a 1974, quando ocorreu a Revolução dos Cravos, 
restaurando-se gradativamente a democracia.
112
Unidade III
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
 Exercícios
Questão 1. Leia o texto a seguir, extraído do livro O trigo e o joio, de Fernando Namora.
Gostaria de vos contar coisas dessa gente. Coisas da vila, do Alentejo cálido e bárbaro e dos heróis 
que lhe dão nervos ou moleza, risos ou tragédia. (...). E gostaria de vos falar ainda dos trigos e dos 
poentes incendiados, dos maiorais e dos lavradores, do espanto dos dias, do apelo confuso da terra, da 
solidão (NAMORA, F. O trigo e o joio. Lisboa: Arcádia, 1960).
Considere as afirmativas a seguir:
I – Apresenta-se, na obra, o narrador-contador de histórias, que se propõe a falar de vidas simples.
II – Por ser regional, falando da vida no Alentejo, a obra tem sentido reduzido e restrito aos 
portugueses.
III – Por tratar de uma vida rural, a obra, embora escrita no período neorrealista, deve ser considerada 
neoclássica.
Está correto o que se afirma somente em:
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) I e III.
Resposta correta: alternativa A.
Análise das afirmativas
I – Afirmativa correta.
Justificativa: o próprio narrador apresenta-se no trecho, revelando, também, o tema da obra.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a obra tem sentido amplo e não se restringe apenas aos portugueses.
113
Re
vi
sã
o:
 S
ue
li 
- 
Di
ag
ra
m
aç
ão
: F
ab
io
 -
 3
0-
05
-1
2
LITERATURA PORTUGUESA: PROSA
III – Afirmativa incorreta.
Justificativa: o livro é neorrealista e tem conotação social.
Questão 2. Leia o trecho a seguir, extraído do livro Seara de vento, de Manuel da Fonseca.
O ar frio que as envolve, como que se confrange, arrepiado. Amanda Carrusca começa a erguer-se. 
Todo o corpo lhe treme.
– Estou cheia de ódio. (palavras de Amanda Carrusca)
– Não diga isso!... (palavras da neta)
A velha dá um passo em frente, de punho esticado para o chão.
– Digo, sim, digo!
E, algumas linhas adiante, mas agora num tom de assumida derrota:
- Vê, filha, vê! O que esta vida fez de mim!... Ódio, só ódio!
Fonte: FONSECA, M. Seara de vento. São Paulo: Forja, 1980. 
Sobre a obra, considere as afirmativas a seguir:
I – O livro apresenta uma exposição ficcional da referencialidade, o que lhe tira o caráter literário.
II – A personagem Amanda Carrusca, apesar do corpo frágil, tem personalidade forte e é movida pelo 
sentimento de ódio.
III – No livro o vento não se limita a um elemento do cenário, apresentando sentido metafórico.
Está correto o que se afirma somente em:
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) II e III.
Resolução desta questão na plataforma.

Outros materiais