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Qualidade de vida e saúde- aspectos conceituais e metodológicos

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A RTIGO A RT I C L E5 8 0
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):580-588, mar- a b r, 2004
Qualidade de vida e saúde: 
aspectos conceituais e metodológicos
Quality of life and health: 
conceptual and methodological issues
1 Instituto de Ps i c o l o g i a ,
Un i versidade de Bra s í l i a ,
Bra s í l i a , Bra s i l .
C o r re s p o n d ê n c i a
Eliane Maria Fl e u ry Se i d l
Instituto de Ps i c o l o g i a ,
Un i versidade de Bra s í l i a .
Campus Un i versitário 
Da rcy Ribeiro, Bra s í l i a , DF 
7 0 9 1 0 - 9 0 0 , Bra s i l .
s e i d l @ u n b. b r
Eliane Maria Fl e u ry Seidl 1
Célia Maria Lana da Costa Zannon 1
A b s t r a c t
The quality of life (QL) concept has led to ex t e n-
s i ve scientific re s e a rch and has been incre a s i n g-
ly used by health care professionals treating a
wide range of diseases. This paper addresses the
historical use of the concept and specific issues
linked to conceptual and methodological as-
pects of the QL construct within the health care
c o n t ex t . Re v i ewing the litera t u re , two aspects
stand out: subjectivity and multidimensionali-
t y. In the methodological field, the construction
and/or adaptation of QL measurement instru-
ments appear as a significant tre n d .T h e o re t i c a l
and methodological efforts have helped clarify
and improve the concept’s adequacy. The QL
construct is definitely interd i s c i p l i n a ry, e n c o m-
passing contributions by different areas of
k n owledge and re s e a rc h ,t h e re by improving its
conceptual and methodological potential as a
re s e a rch instrument. T h e re f o re , use of the con-
cept can actually help improve both the quality
and the integra t e d , multidimensional nature of
health care from a perspective that views the
latter as a basic citize n’s right.
Quality of Li f e ; Re v i ew Li t e ra t u re ; Eva l u a t i o n ;
Me t h o d o l o gy
I n t ro d u ç ã o
O conceito q u al id ade de vida ( QV ) é um term o
utilizado em duas ve rtentes: (1) na linguagem
cotidiana, por pessoas da população em gera l ,
j o rn a l i s t a s, políticos, profissionais de dive r s a s
á reas e gestores ligados às políticas públicas;
(2) no contexto da pesquisa científica, em dife-
rentes campos do saber, como economia, soc i o-
logia, educação, medicina, enfermagem, psico-
logia e demais especialidades da saúde 1 , 2.
Na área da saúde, o interesse pelo conceito
QV é re l a t i vamente recente e decorre, em par-
t e, dos novos paradigmas que têm influenciado
as políticas e as práticas do setor nas últimas
d é c a d a s. Os determinantes e condicionantes
do processo saúde-doença são multifatoriais e
c o m p l e xo s. Assim, saúde e doença configura m
p rocessos compreendidos como um c o nt in u u m,
relacionados aos aspectos econômicos, socio-
c u l t u ra i s, à experiência pessoal e estilos de vi-
da. Consoante essa mudança de paradigma, a
m e l h o ria da QV passou a ser um dos re s u l t a d o s
e s p e ra d o s, tanto das práticas assistenciais q u a n-
to das políticas públicas para o setor nos cam-
pos da promoção da saúde e da pre venção de
doenças 3.
A mudança do perfil de morbimort a l i d a d e,
tendência universal também nos países em de-
s e n vo l v i m e n t o, indica o aumento da pre va l ê n-
cia das doenças crônico-degenera t i va s. Os a va n-
ços nos tratamentos e as possibilidades efeti-
QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE 5 8 1
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):580-588, mar- a b r, 2004
vas de controle dessas enfermidades têm acar-
retado o aumento da sobrevida e/ou a vida l o n-
ga das pessoas acometidas por esses agra vo s. A
p ropósito disso, Fleck et al. 4 ( p. 20) assinala-
ram que “a oncologia foi a especialidade que,
por exc e l ê n c i a , se viu confrontada com a neces-
sidade de avaliar as condições de vida dos pa-
cientes que tinham sua sobrevida aumentada
devido aos tratamentos re a l i z a d o s , já que, m u i-
tas ve ze s , na busca de acrescentar anos à vida,
e ra deixada de lado a necessidade de acre s c e n-
tar vida aos anos”.
No âmbito da saúde coletiva e das políticas
públicas para o setor também é possível identifi-
car interesse crescente pela avaliação da QV. As-
sim, informações sobre QV têm sido incluídas
tanto como indicadores para avaliação da eficá-
cia, eficiência e impacto de determinados tra t a-
mentos para grupos de port a d o res de agra vos di-
ve r s o s, quanto na comparação entre pro c e d i-
mentos para o controle de problemas de saúde 5.
Ou t ro interesse está diretamente ligado às
práticas assistenciais cotidianas dos serv i ç o s
de saúde, e re f e re-se à QV como um indicador
nos julgamentos clínicos de doenças específi-
c a s. Trata-se da avaliação do impacto físico e
psicossocial que as enferm i d a d e s, disfunções
ou incapacidades podem acarretar para as pes-
soas acometidas, permitindo um melhor con h e-
cimento do paciente e de sua adaptação à con-
d i ç ã o. Nesses casos, a compreensão sobre a QV
do paciente incorpora-se ao trabalho do dia-a-
dia dos serv i ç o s, influenciando decisões e con-
dutas terapêuticas das equipes de saúde 6.
O interesse crescente pelo construto quali-
dade de vida pode ser exemplificado, ainda, p o r
i n d i c a d o res de produção de conhecimento, as-
sociados aos esforços de integração e de inter-
câmbio de pesquisadores e de profissionais in-
t e ressados no tema. Pode-se mencionar o sur-
gimento do periódico Qu ality of Life Re s e a rc h,
editado a partir do início dos anos 90 pela In-
t e rn at i onal Society for Quality of Life Re s e a rc h
( h t t p : / / w w w. i s o q o l . o rg), reunindo tra b a l h o s
científicos sobre QV de diferentes áreas do co-
nhecimento 7.
O presente artigo tem como objetivo des-
c re ver a evolução histórica do conceito de QV
no campo da saúde, focalizando aspectos con-
ceituais e metodológicos. A seleção de tra b a-
lhos para esta revisão foi feita com base em
pesquisa bibliográfica realizada em indexado-
res de produção científica (BIREME, Me d L i n e,
Ps ycINFO), cobrindo o período 1995-2000. Fo i
utilizada a palavra - c h a ve “q u ality of life” com-
binada com os termos “c o nc e p t”, “c o nc e pt u a l”,
“m et h o d”, “m et h od ol og i c”. Alguns tra b a l h o s
mais citados, publicados antes desse período,
f o ram incluídos tendo em vista os cri t é rios de
p i o n e i rismo e impacto na litera t u ra. Tra b a l h o s
b ra s i l e i ros foram selecionados inicialmente a
p a rtir de levantamento realizado na página do
Projeto SciELO (http://www. s c i e l o.br), sem es-
pecificação do período de publicação. In d i c a-
ções de impacto de trabalhos citados fora m
c o n s i d e radas para busca complementar em
p e riódicos indexados de circulação intern a c i o-
nal. Um total de 39 trabalhos foi examinado, 25
publicados em língua inglesa, um em língua
espanhola e 11 em língua portuguesa, a maio-
ria (87,2%) em peri ó d i c o s.
O conceito de qualidade de vida: 
aspectos históricos
Sabe-se que, já em meados da década de 70,
Campbell (1976, a p u d Awad & Vo ruganti 8 – p.
558) tentou explicitar as dificuldades que cer-
c a vam a conceituação do termo qualidade de
vida: “q u al id ade de vida é uma vaga e etére a
e n t i d a d e , algo sobre a qual muita gente fala,
mas que ninguém sabe claramente o que é”. A
citação dessa afirm a ç ã o, feita há cerca de tri n-
ta anos, ilustra a ênfase dada na litera t u ra mais
recente às controvérsias sobre o conceito des-
de que este começou a aparecer na litera t u ra
associado a trabalhos empíri c o s.
Há indícios de que o termo surgiu pela pri-
m e i ra vez na litera t u ra médica na década de 30,
segundo um levantamento de estudos que ti-
nham por objetivo a sua definição e que faziam
referência à avaliação da QV. Costa Neto 9, tra-
balhando a publicação de Cu m m i n s, intitulada
Dire cto ry of Instruments to Me a s u re Quality of
Life and Correlate Are a s, publicada em 1998,
identificou 446 instru m e n t o s, no período de se-
tenta anos. No entanto, 322 instrumentos iden-
t i f i c a d o s, equivalentes a mais de 70,0% do total,
a p a re c e ram na litera t u ra a partir dos anos 80
( Tabela 1). O acentuado crescimento nas duas
últimas décadas atesta os esforços voltados pa-
ra o amadurecimento conceitual e metodológi-
co do uso do termo na linguagem científica.
As revisões de litera t u ra que cobri ram pe-
ríodos anteri o res a 1995 re velam que, ao lado
dos esforços direcionados para a definição e
a valiação da QV na área de saúde, havia lacu-
nas e desafios teóricos e metodológicos a se-
rem enfre n t a d o s. Gill et al. 1 0, pro c u ra ram i d e n-
Seidl EMF, Zannon CMLC5 8 2
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):580-588, mar- a b r, 2004
tificar como QV estava sendo definida e men-
s u rada na área de saúde, mediante a revisão de
75 artigos que tinham esse termo em seus títu-
l o s, publicados em revistas médicas. Depois de
verificar que somente 15,0% dos trabalhos a p re-
s e n t a vam uma definição conceitual do termo e
36,0% explicitavam as razões para a escolha de
d e t e rminado instrumento de ava l i a ç ã o, Gill et
a l .1 0, concluíram que havia falta de clareza e de
consistência quanto ao significado do termo e
à mensuração da QV.
Fa rquhar 1 1, procedendo a uma revisão da
l i t e ra t u ra até os pri m e i ros anos da década de
90, propôs uma taxonomia das definições so-
b re QV então existentes, dividida em quatro ti-
pos que estão apresentados na Tabela 2.
Uma definição clássica, do tipo global, é d a-
tada de 1974 (Andre w s, a p u d Bowling 1 2 – p.
1448): “q u al id ade de vida é a extensão em que
p ra zer e satisfação têm sido alcançados”. A no-
ção de que QV envo l ve diferentes dimensões
c o n f i g u ra-se a partir dos anos 80, acompanha-
da de estudos empíricos para melhor compre-
ensão do fenômeno. Uma análise da litera t u ra
da última década evidencia a tendência de usar
definições focalizadas e combinadas, pois são
estas que podem contribuir para o avanço do
conceito em bases científicas.
Qualidade de vida: 
subjetividade e multidimensionalidade
A partir do início da década de 90, parece con-
s o l i d a r-se um consenso entre os estudiosos da
á rea quanto a dois aspectos re l e vantes do con-
ceito de qualidade de vida: subjetividade e m u l-
t i d i m e n s i o n a l i d a d e. No que concerne à subje-
t i v i d a d e, trata-se de considerar a percepção da
pessoa sobre o seu estado de saúde e sobre os
aspectos não-médicos do seu contexto de vida.
Em outras palavra s, como o indivíduo avalia a
sua situação pessoal em cada uma das dimen-
sões relacionadas à qualidade de vida 1 3.
Estudiosos enfatizam, então, que QV só po-
de ser avaliada pela própria pessoa, ao contrá-
Tabela 1
N ú m e ro de instrumentos para avaliação da qualidade de vida registrados 
no diretório de Cummins 9.
Década F reqüência (n = 446) % % acumulado
1 9 3 0 2 0 , 4 0 , 4
1 9 4 0 2 0 , 4 0 , 9
1 9 5 0 1 1 2 , 5 3 , 4
1 9 6 0 3 3 7 , 8 1 0 , 9
1 9 7 0 7 6 1 7 , 0 2 7 , 9
1 9 8 0 1 7 2 3 8 , 6 6 6 , 5
1 9 9 0 1 5 0 3 3 , 6 1 0 0 , 0
Tabela 2
Taxonomia das definições de qualidade de vida, segundo Farquhar 1 1.
Ta x o n o m i a Características e implicações das definições
I – Definição global Primeiras definições que aparecem na literatura. Predominam até meados 
da década de 80. Muito gerais, não abordam possíveis dimensões do construto. 
Não há operacionalização do conceito. Tendem a centrar-se apenas em avaliação 
de satisfação/insatisfação com a vida.
II – Definição com base Definições baseadas em componentes surgem nos anos 80. 
em componentes Inicia-se o fracionamento do conceito global em vários componentes ou dimensões. 
Iniciam-se a priorização de estudos empíricos e a operacionalização do conceito.
III – Definição focalizada Definições valorizam componentes específicos, em geral voltados para habilidades 
funcionais ou de saúde. Aparecem em trabalhos que usam a expressão qualidade 
de vida relacionada à saúde. Ênfase em aspectos empíricos e operacionais. 
Desenvolvem-se instrumentos diversos de avaliação da qualidade de vida para 
pessoas acometidas por diferentes agravos. 
IV – Definição combinada Definições incorporam aspectos dos Tipos II e III: favorecem aspectos do conceito 
em termos globais e abrangem diversas dimensões que compõem o construto. 
Ênfase em aspectos empíricos e operacionais. Desenvolvem-se instrumentos 
de avaliação global e fatorial.
QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE 5 8 3
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):580-588, mar- a b r, 2004
rio das tendências iniciais de uso do conceito
quando QV era avaliada por um observa d o r,
usualmente um profissional de saúde. Ne s s e
s e n t i d o, há a preocupação quanto ao desenvo l-
vimento de métodos de avaliação e de instru-
mentos que devem considerar a perspectiva da
população ou dos pacientes, e não a visão de
cientistas e de profissionais de saúde 1 4 , 1 5.
O consenso quanto à multidimensionalida-
de re f e re-se ao reconhecimento de que o cons-
t ruto é composto por diferentes dimensões. A
identificação dessas dimensões tem sido obje-
to de pesquisa científica, em estudos empíric o s,
usando metodologias qualitativas 1 2 e quanti-
t a t i vas 1 6 , 1 7.
Qualidade de vida: conceituação
Duas tendências quanto à conceituação do ter-
mo na área de saúde são identificadas: quali-
dade de vida como um conceito mais genéri c o,
e qualidade de vida relacionada à saúde (h e a l t h -
related quality of life) .
No pri m e i ro caso, QV apresenta uma acep-
ção mais ampla, aparentemente influenciada
por estudos sociológicos, sem fazer re f e r ê n c i a
a disfunções ou agra vo s. Il u s t ra com exc e l ê n c i a
essa conceituação a que foi adotada pela Org a-
nização Mundial da Saúde (OMS), em seu estu-
do multicêntrico que teve por objetivo pri n c i-
pal elaborar um instrumento que avaliasse a
QV em uma perspectiva internacional e tra n s-
c u l t u ral. A QV foi definida como “a perc e p ç ã o
do indivíduo sobre a sua posição na vida, n o
c o n t exto da cultura e dos sistemas de va l o re s
nos quais ele vive , e em relação a seus objeti-
vo s , ex p e c t a t i va s , padrões e pre o c u p a ç õ e s” 1 3 ( p.
1405). Um aspecto importante que cara c t e ri z a
estudos que partem de uma definição genéri c a
do termo QV é que as amostras estudadas in-
cluem pessoas saudáveis da população, nunca
se re s t ringindo a amostras de pessoas port a d o-
ras de agra vos específicos.
Além do Wo rld Health Organization Qu a l i t y
Of Life As s e s s m e n t (WHOQOL-100) 1 3 , 1 7, outro s
i n s t rumentos genéricos de avaliação da QV, de
g rande utilização em pesquisas e na prática clí-
nica, são o Med ical Outcomes Study SF-36 He a l t h
Su rve y 1 8 e o Si c kness Impact Pro f i l e 1 9.
O termo qualidade de vida relacionada à
saúde é muito freqüente na litera t u ra e tem si-
do usado com objetivos semelhantes à concei-
tuação mais geral. No entanto, parece implicar
os aspectos mais diretamente associados às
e n f e rmidades ou às intervenções em saúde. Al-
gumas definições que ilustram os difere n t e s
usos do termo são apresentadas na Tabela 3. É
p o s s í vel identificar, nas conceituações de Gu i-
teras & Bayés 20, Cleary et al. 21 e Patrick & Eri c k-
son (1993, apud Ebrahim 22), a referência ao i m-
pacto da enfermidade ou do agra vo na quali-
dade de vida.
Há uma controvérsia associada ao uso de
medidas específicas da QV relacionada à saúde.
Alguns autores defendem os enfoques mais es-
pecíficos da qualidade de vida, assinalando que
esses podem contribuir para melhor identificar
as características relacionadas a um determ i n a-
do agra vo. Ou t ros ressaltamque algumas medi-
das de qualidade de vida relacionada à saúde
têm abordagem eminentemente re s t rita aos
sintomas e às disfunções, contribuindo pouco
p a ra uma visão abrangente dos aspectos não-
médicos associados à qualidade de vida 2 3.
Os instrumentos de mensuração da quali-
dade de vida relacionada à saúde tendem a
manter o caráter multidimensional e ava l i a m
ainda a percepção geral da QV, embora a ênfa-
se habitualmente recaia sobre sintomas, inca-
Tabela 3
Definições de qualidade de vida relacionada à saúde.
Qualidade de vida relacionada à saúde A u t o r
“É a valoração subjetiva que o paciente faz de diferentes aspectos Guiteras & Bayés 2 0 (p. 179)
de sua vida, em relação ao seu estado de saúde.”
“ R e f e re-se aos vários aspectos da vida de uma pessoa que são afetados por mudanças Cleary et al. 2 1 (p. 91)
no seu estado de saúde, e que são significativos para a sua qualidade de vida.”
“É o valor atribuído à duração da vida, modificado pelos prejuízos, estados Patrick & Erickson (1993, 
funcionais e oportunidades sociais que são influenciados por doença, dano, a p u d Ebrahim 2 2 – p. 1384)
tratamento ou políticas de saúde.”
Seidl EMF, Zannon CMLC5 8 4
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):580-588, mar- a b r, 2004
pacidades ou limitações ocasionados por en-
f e rm i d a d e. Predominam os instrumentos espe-
c í f i c o s, como o EORTC - Q LQ 30, para pacientes
com neoplasias desenvolvido pelo Europ e a n
Organization for Re s e a rch and Treatment of
Ca n c e r 2 4, e o Med ical Outcomes St u d y - H I V, pa-
ra pessoas vivendo com HIV/AIDS 2 5.
Dados de levantamentos re c e n t e s, para ve-
rificar o crescimento de medidas de ava l i a ç ã o
da QV e sua disponibilidade para as dive r s a s
e s p e c i a l i d a d e s, ve ri f i c a ram grande cre s c i m e n-
to do número de instrumentos de qualidade de
vida relacionada à saúde, no período 1990-1 9 9 9 .
Assim, Ga r rat et al. 2 6, constataram que 46,0%
dos trabalhos publicados ve r s a vam sobre me-
didas da QV para populações e agra vos especí-
f i c o s, seguidas de 22,0% que tra b a l h a vam com
medidas genéricas da QV.
Clarificando o conceito: distinção entre
qualidade de vida e estado de saúde
Pe s q u i s a d o res alertam que os termos qualida-
de de vida e estado de saúde aparecem na lite-
ra t u ra muitas vezes quase como sinônimos
1 9 , 2 7. In t e ressados na clarificação desses con-
c e i t o s, Smith et al. 1 9, inve s t i g a ram a import â n-
cia de três grandes dimensões – saúde mental,
funcionamento físico e funcionamento social –
s o b re a percepção da QV e do estado de saúde,
em 12 estudos que tra b a l h a ram esses indica-
d o res com amostras de pacientes port a d o re s
de enfermidades crônicas (câncer, hipert e n-
s ã o, HIV/AIDS, entre outras). A dimensão que
t e ve maior poder de predição em relação ao es-
c o re da QV foi o da saúde mental/bem-estar
p s i c o l ó g i c o, sendo que o poder pre d i t i vo da di-
mensão funcionamento físico foi menor. No
caso da percepção do estado de saúde como
va ri á vel cri t é ri o, a dimensão funcionamento fí-
sico foi o mais forte pre d i t o r, incluindo va ri á-
veis como energia, fadiga e dor. Ex p l o rando os
dados com path analisys, observa ram, de um
l a d o, que o escore da saúde mental afetou de
modo significativo os escores da QV. De outro
l a d o, o funcionamento físico afetou de modo
mais significativo a percepção do estado de s a ú-
d e. Os autores concluíram que os dois constru-
tos são diferentes e alert a ram que determ i n a-
dos instrumentos que avaliam a percepção do
estado de saúde não devem ser usados para a
a valiação da QV.
As dimensões da qualidade de vida
Estudos de meta-análise como o de Smith et al.
1 9, respondem também a questões sobre a re l e-
vância e o peso das diferentes dimensões da
QV, tra zendo mais clareza ao constru t o. O em-
p reendimento da OMS, de grande contri b u i ç ã o
t e ó rico-metodológica para o tema, foi desen-
volvido em projeto multicêntri c o, cuja cons-
t rução se deu em quatro etapas: (a) clari f i c a ç ã o
do conceito de QV por especialistas ori u n d o s
de diferentes culturas; (b) estudo qualitativo,
em 15 cidades de 14 países, com grupos focais
f o rmados por pacientes com agra vos dive r s o s,
p rofissionais de saúde e pessoas da população
em geral, para explorar as re p resentações e o
significado do termo em diferentes culturas; (c)
desenvolvimento dos testes de campo para a n á-
lise fatorial e de confiabilidade, validade de
c o n s t ruto e validade discriminante 1 3 , 1 7.
A natureza multidimensional do constru t o
foi validada, de modo empíri c o, a partir da
e m e rgência de quatro grandes dimensões ou
f a t o res: (a) física – percepção do indivíduo so-
b re sua condição física; (b) psicológica – per-
cepção do indivíduo sobre sua condição afeti-
va e cognitiva; (c) do relacionamento social –
p e rcepção do indivíduo sobre os re l a c i o n am e n-
tos sociais e os papéis sociais adotados na vida;
(d) do ambiente – percepção do indivíduo so-
b re aspectos diversos relacionados ao ambien-
te onde vive. Além dessas dimensões, obteve -
se uma avaliação da QV percebida de modo
global, mensurada por quatro itens específicos
que foram computados em um único escore.
As quatro dimensões – subdivididas em 24 fa-
cetas – mais os itens re f e rentes à QV geral cons-
tituem o In st r um e nto de Avaliação da Qu a l i d a-
de de Vi d a da OMS 1 7.
Power et al. 2 8 re a l i z a ram um estudo de me-
t a - a n á l i s e, utilizando o banco de dados dos es-
tudos de validação do WHOQOL-100 nos 15
c e n t ro s. Mediante análise de re g ressão múlti-
pla padrão, re f e rente à amostra total de 4.802
s u j e i t o s, ve ri f i c a ram que os escores das quatro
g randes dimensões explicaram, juntos, 64,0%
da va riância do escore da qualidade de vida ge-
ral, considerada como va ri á vel cri t é ri o. Aspec-
tos físicos e psicológicos foram re s p o n s á ve i s
pela explicação da maior parte dessa va ri â n c i a ,
seguidos das dimensões do ambiente e do re l a-
cionamento social, sendo que essa tendência
também foi observada nas amostras dos 15 lo-
cais pesquisados, com algumas especificida-
d e s. Os pesquisadores concluíram que o W H O-
QOL-100 tem boa capacidade psicométrica pa-
ra mensurar a qualidade de vida e que a estru-
t u ra do construto é comparável nas difere n t e s
QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE 5 8 5
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):580-588, mar- a b r, 2004
c u l t u ra s, reforçando a sua importância como
f e r ramenta tra n s c u l t u ra l .
Qualidade de vida: 
aspectos metodológicos
As dificuldades re l a t i vas à avaliação da QV tal-
vez limitem a sua inclusão na prática clínica,
em grande parte devido à ausência de inform a-
ção das equipes de saúde sobre as difere n t e s
possibilidades hoje existentes para inve s t i g a-
ção da QV. De fato, segundo estudos re a l i z a d o s
em outros países 6, parece que os pro f i s s i o n a i s
ainda têm resistido a incluir a avaliação da QV
dos pacientes em sua rotina de atendimento
c l í n i c o.
É possível identificar as principais tendên-
cias metodológicas sobre a avaliação da QV, t a n-
to nos trabalhos que utilizam métodos quanti-
t a t i vos quanto nos estudos qualitativo s. No s
estudos quantitativo s, hegemônicos e pre d o-
minantes na litera t u ra especializada, os esfor-
ços são voltados para a construção de instru-
m e n t o s, visando a estabelecer o caráter multi-
dimensional do construto e sua validade 2 6 , 2 7.
São estudos de análise da estru t u ra fatori a l
com testes de confiabilidade, bem como testes
de validade de critério, discriminante e de c o n s-
t ru t o. No caso da análise da va l i d a d e, a ausên-
cia de uma medida denominada padrão-ouro
em qualidade de vida dificulta a inve s t i g a ç ã o.Quanto à validade de constru t o, o aporte teóri-
co é fundamental, levando à necessidade do
estabelecimento de um modelo teórico que
p e rmita a análise de determinada estru t u ra ,
p a ra a predição do comportamento de va ri á-
veis do modelo.
Os estudiosos adeptos de enfoques qualita-
t i vo s, por sua vez, enfatizam que a utilização
de medidas padronizadas pode levar a re s p o s-
tas estere o t i p a d a s, que têm pouco ou nenhum
significado para a pessoa. Defendem o uso de
técnicas como as histórias de vida ou as biog ra-
f i a s, e outras análises típicas dos enfoques qua-
l i t a t i vos que podem tra zer contribuições à áre a
1 1 , 1 2. Alguns pesquisadores defendem a com-
p l e m e n t a ridade das metodologias, por meio da
combinação de medidas padronizadas com
análises de cunho qualitativo, de modo a per-
mitir a emergência de temas que fazem senti-
do para o sujeito, ao mesmo tempo que se ga-
rante a validade e confiabilidade das técnicas
que viabilizam a comparação de resultados de
g rupos e de indivíduos 1 0 , 2 9.
A análise da litera t u ra re vela que os instru-
mentos comumente usados são os questioná-
ri o s, sendo as formas de administração mais
f reqüentes a auto-aplicação e a entrevista. Um
estudo investigou se have ria diferenças entre
os escores de instrumentos de QV administra-
dos mediante entrevista e auto-aplicados, em
a m o s t ras de pessoas soro p o s i t i vas 2 5, encon-
t rando diferenças não significativas entre as
duas modalidades de aplicação. Ve ri f i c a ra m ,
no entanto, que as respostas dadas por outro s
respondentes (familiares ou pessoas próximas)
m o s t ra ram diferenças re l e vantes se compara-
das aos escores dos próprios pacientes, sendo
que familiares e amigos tenderam a avaliar de
modo menos favo r á vel a qualidade de vida dos
s u j e i t o s. Re s s a l t a ram, ainda, que a auto-aplica-
ção parece ser vantajosa, pois, além de re q u ere r
menos tempo, permite que a pessoa re s p o n d a
no seu ri t m o, podendo voltar aos itens e re f l e-
tir melhor sobre suas re s p o s t a s. As conclusões
dos autores desse estudo são intere s s a n t e s, po-
rém importa enfatizar que há vantagens e des-
vantagens nos diferentes procedimentos de co-
leta de dados, e que a escolha deve ser feita
com base no delineamento pro p o s t o, conside-
rando as características dos participantes que
compõem a amostra e os objetivos do estudo.
Ou t ra tendência evidenciada na litera t u ra ,
s o b retudo em relação à construção de instru-
mentos específicos, é a adaptação de questio-
n á rios ou escalas construídos ori g i n a l m e n t e
p a ra determinada enferm i d a d e, ou mesmo de
caráter genéri c o, que são modificados para
a d e q u a r-se à avaliação da QV em pessoas com
o u t ro tipo de agra vo. Pode-se citar o exemplo
do Med ical Outcome St u d y (MOS), instru m e n-
to usado em relação a enfermidades dive r s a s
q u e, testado junto a amostras de pessoas soro-
p o s i t i va s, passou a denominar-se MOS-HIV, fi-
cando específico para esta clientela 2 5. Tra t a - s e
de uma tendência que indica a urgência e o
p ragmatismo para a obtenção de instru m e n t o s
de medida em curto espaço de tempo, em es-
pecial para a utilização na clínica, ou mesmo
em pesquisa.
Nesse contexto, o desenvolvimento de me-
didas da QV para uso em pesquisa e na prática
clínica já permite algumas conclusões, confor-
me evidenciado por Gill et al. 1 0 e Gladis et al.
2 3, que identificaram algumas deficiências nos
i n s t rumentos de QV e fize ram re c o m e n d a ç õ e s
p a ra nortear estudos na área, sintetizadas a se-
g u i r: (a) necessidade de apresentação da defi-
nição do conceito ou do significado de quali-
dade de vida que orienta o tra b a l h o, a pesquisa
ou a intervenção; (b) explicitação das ra z õ e s
t e ó rico-metodológicas que leva ram à escolha
dos instrumentos selecionados; (c) import â n-
cia da utilização de medidas não re d u c i o n i s t a s
ou simplistas, baseadas em itens únicos ou fo-
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calizadas apenas nos sintomas; (d) nos casos
de medidas padro n i z a d a s, inclusão de itens
a b e rt o s, adicionados ao final do instru m e n t o
p a ra respostas suplementares ou combinação
de métodos qualitativo s, visando a abarcar ou-
t ros aspectos eventualmente não considera d o s
nesse tipo de instru m e n t o.
Pesquisa sobre qualidade 
de vida no Brasil
No Brasil, igualmente, vem crescendo o inte-
resse pelo tema qualidade de vida no campo da
s a ú d e. Alguns trabalhos publicados no Bra s i l
f o ram considerados tendo em vista a sua con-
t ribuição para o avanço das pesquisas sobre
QV no país e por sua consonância com as ten-
dências históricas observadas no contexto in-
t e rn a c i o n a l .
Um trabalho pioneiro disponibilizou um
i n s t rumento genérico de avaliação da QV, o SF-
36; utilizando os procedimentos canônicos de
t radução re versa e adaptação tra n s c u l t u ral pa-
ra uma amostra de cinqüenta pacientes com
a rt rite re u m a t ó i d e, permitiu evidenciar a utili-
dade de medidas gerais para a investigação de
impacto da doença crônica sobre a vida das
pessoas acometidas 3 0. Po s t e ri o rm e n t e, o de-
s e n volvimento do WHOQOL-100 para a língua
p o rtuguesa 4 e o estudo para a validação das
versões completa e bre ve 3 1 , 3 2, perm i t i ram a
utilização abrangente desse instrumento por
p e s q u i s a d o res bra s i l e i ros no campo da saúde.
Fo ram encontrados trabalhos sobre QV em
d i f e rentes especialidades médicas, por exem-
p l o, nas áreas de psiquiatria 3 3, neurologia 3 4 , 3 5,
oftalmologia 3 6, oncologia 3 7 e ginecologia 3 8.
Na psicologia, destaca-se a construção do In-
ve nt ário de Qualidade de Vi d a 3 9 utilizado em
pesquisa e em intervenção relacionadas ao m a-
nejo do estre s s e. Um trabalho de revisão im-
p o rt a n t e, pela abrangência da análise de con-
t ribuições e desafios do conceito para o setor
s a ú d e, em especial para a saúde pública, foi
realizado por Mi n a yo et al. 4 0.
Considerações finais
O presente artigo teve o propósito de apre s e n-
tar o termo qualidade de vida, com base em
enfoque abrangente e panorâmico das pri n c i-
pais questões teórico-metodológicas que ca-
ra c t e rizam a aplicação do conceito no campo
da saúde. O caráter amplo dessa revisão pode
ser apontado como uma limitação do tra b a l h o,
pois seu objetivo não visou ao apro f u n d a m e n-
to de muitas das questões conceituais e meto-
dológicas re f e ri d a s.
Com base no estado da arte da definição e
das medidas do construto qualidade de vida é
p o s s í vel concluir, no entanto, que este pare c e
c o n s o l i d a r-se como uma va ri á vel import a n t e
na prática clínica e na produção de conheci-
mento na área de saúde. Não obstante as con-
t rovérsias existentes sobre a sua conceituação e
as estratégias de mensura ç ã o, os esforços teóri-
co-metodológicos têm contribuído para a clari-
ficação do conceito e sua re l a t i va maturi d a d e.
Seu desenvolvimento poderá resultar em
mudanças nas práticas assistenciais e na con-
solidação de novos paradigmas do pro c e s s o
saúde-doença, o que pode ser de grande va l i a
p a ra a superação de modelos de atendimento
eminentemente biomédicos, que negligenciam
aspectos socioeconômicos, psicológicos e cul-
t u rais importantes nas ações de pro m o ç ã o, pre-
ve n ç ã o, tratamento e reabilitação em saúde. As-
sim, sendo qualidade de vida um constru t o
eminentemente interd i s c i p l i n a r, a contri b u i ç ã o
de diferentes áreas do conhecimento pode ser
de fato valiosa e mesmo indispensáve l .
Fi n a l m e n t e, um comentário sobre o desafio
que se coloca para os pesquisadores bra s i l e i-
ro s. O uso de instrumentos de avaliação da QV
no campo da saúde colocariaos trabalhos de-
s e n volvidos no país em consonância com a g e n-
das internacionais para o avanço teórico e me-
todológico na área. Há, no entanto, dois desa-
fios colocados nessas agendas: as conclusões
a c e rca da generalidade-especificidade do c o n s-
t ruto de qualidade de vida e a confiabilidade
de comparações entre os achados em condi-
ções diversas relacionadas à saúde e aos dife-
rentes contextos sociocultura i s. No caso do
Brasil, um país marcado por fortes difere n ç a s
regionais e cultura i s, o uso disseminado e sis-
temático de versões bra s i l e i ras de instru m e n-
tos genéricos como o SF-36 e o WHOQOL, o ri e n-
tado por agendas planejadas de pesquisa, per-
m i t i ria acumular evidências sobre a qualidade
p s i c o m é t rica desses instru m e n t o s. Na medida
em que muitos estudos bra s i l e i ros são ori e n t a-
dos por conveniência de pesquisadores que
atuam na assistência a pessoas acometidas por
e n f e rmidades dive r s a s, há ainda a considerar o
desafio de estabelecer uma rotina de ava l i a ç ã o
de QV que atenda aos interesses práticos de
s e rviços assistenciais, o que inclui demonstra r
a utilidade desses instrumentos para apri m o-
rar processos diagnósticos e para a ava l i a ç ã o
sistemática de resultados de tra t a m e n t o.
QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE 5 8 7
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):580-588, mar- a b r, 2004
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se conceitual, planejamento, organização e re d a ç ã o
do texto. C. M. L. C. Zannon participou na análise
conceitual da qualidade de vida e contribuiu na re d a-
ção da versão final do manuscri t o.
R e s u m o
O conceito qualidade de vida tem suscitado pesquisas
e cresce a sua utilização nas práticas desenvo l v i d a s
nos serviços de saúde, por equipes profissionais que
atuam junto a usuários acometidos por enfermidades
d i ve r s a s . O presente artigo tem como objetivo descre-
ver a evolução histórica e tecer algumas considera ç õ e s
s o b re aspectos conceituais e metodológicos do conceito
qualidade de vida (QV) no campo da saúde. Ba s e a n-
do-se na revisão da litera t u ra , dois aspectos do termo
são destacados no plano conceitual: subjetividade e
m u l t i d i m e n s i o n a l i d a d e . Quanto aos aspectos metodo-
l ó g i c o s , uma tendência significativa tem sido a cons-
trução e/ou adaptação de instrumentos de medida e
de avaliação da QV. Conclui-se que os esforços teórico-
metodológicos têm contribuído para a clarificação e
re l a t i va maturidade do conceito. Trata-se de um cons-
truto eminentemente interd i s c i p l i n a r, o que implica a
contribuição de diferentes áreas do conhecimento pa-
ra o seu aprimoramento conceitual e metodológico.
Sua utilização, p o rt a n t o, pode contribuir para a me-
lhoria da qualidade e da integralidade da assistência
na perspectiva da saúde como direito de cidadania.
Qualidade de Vi d a ; Li t e ra t u ra de Re v i s ã o ; Ava l i a ç ã o ;
Me t o d o l o g i a
Seidl EMF, Zannon CMLC5 8 8
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Recebido em 19/Ma r / 2 0 0 3
Versão final re a p resentada em 29/Se t / 2 0 0 3
Ap rovado em 23/Ou t / 2 0 0 3

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