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Figura 3.23 Os nucleotídeos têm três componentes Um nucleotídeo consiste em um grupo fosfato, um açúcar pentose (ribose ou desoxirribose) e uma base contendo nitro- gênio, todos unidos por ligações covalentes. As bases nitrogenadas têm duas diferentes formas quimicas: as purinas com dois anéis fundidos e as pirimidinas, mais pequenas, com um ún'lco anel. A base pode ser tanto uma pirimidinaou uma purina. Tanto no RNA quanto no DNA, o esque- leto da molécula consiste em açúcares pen- toses e fosfatos alternados (açúcar - fosfato - açúcar - fosfato). As bases estão ligadas aos açúcares e se projetam a partir da cadeia (Fi- gura 3.24). Os nucleotídeos são unidos por ligações fosfodiésteres, entre o açúcar de um nucleotídeo e o fosfato do próximo eudi- éster"refere-se às duas ligações formadas por grupos -OH reagindo com grupos fosfato Figura 3.24 Distinguindo as característi- cas de DNA e RNA O RNA é geralmente uma fita simples. O DNA geralmente consiste em duas fitas corren- do em direções opostas. ~ ' 3' l' 4' O 5' A numeraçãodos carbonos da ribose é a base para a identificaçãodas terminações 5' e 3' das fitas de DNAe RNA RNA (fita simples) No RNA, as bases são ligadas à ribose. As bases em RNA são as purinas adenina (A) e guanina (G)e as pirimidinas citosina (C) e uracila (U). ~ ~ ~ = 4t1 + 0 =~~ Ribose ou Nucleosídeo desoxirribose ~H'2 CHC(~N')HC"", C""- N O H Citosina (C) o IIcANH H~",,- N O H Uracila (U) o II Cr-c/ "'NH HC~_ I I N---C'-..~C'-NH2 H Guanina (G) B .' 'd' O extemidade 5' Desoxirribose ase PI\nml Ica Bas\epúrica "pçO ~ / -""'0- extremidade 3' 3H d····H~N °:CH ~H .... A 05 2 HC~O y 2 "O O O" çO ~p/ HN /P-.....o-·-o--- "o O···· O / ~ NH •.•• ~'cH2Fosfato O O H.···OHC . 2 " OO O " çO~ / P-""'O--o---~ N\-\ •••• O~c1 ~ .... .{-\ T O "CH2 H2C O O 'o O" çO ~ / P-""'O--0---\ NH·····o cI~ ~ ....HN0 "cH2 ~. extremidade 3' H C O ••\•.. I-W2" OH extremidade 5' O O ~ / Pontes de -o--- \ hidrogênio No DNA, as bases estão ligadas à desoxirribose, e a base timina (T)é encontrada, em vez de uracila; pontes de hidrogênio entre purinas e pirimidinas unem as duas fitas de DNA. ácidos). Os grupos fosfato ligam o carbono 3 de um açúcar pento- se ao carbono 5 do açúcar adjacente. A maioria das moléculas de RNA consiste em somente uma única cadeia polinucleotídica. O DNA, entretanto, comumente apresenta dupla-fita: tem duas cadeias polinucleotídicas unidas por pontes de hidrogênio entre as suas bases nitrogenadas. As duas fitas de DNA correm em direções opostas. Você pode ver o que isso significa desenhando uma flecha através do grupo fosfato, a partir do carbono 5 até o carbono 3 na próxima ribose. Fazendo isso em ambas as fitas de DNA na Figura 3.24, as flechas aponta- rão em direções opostas. Essa orientação antiparalela é necessária para as fitas completarem-se no espaço tridimensional. A singularidade de um ácido nucléico reside na sua seqüência de nucleotídeos Somente quatro bases nitrogenadas - e assim apenas quatro nucleotídeos - encontram-se no DNA. As bases do DNA e suas abreviações são adenina (A), citosina (C), guanina (G) e timina (T).Uma chave para a compreensão das estruturas e das fun- ções dos ácidos nucléicos é o princípio do pareamento de bases complementares. Na dupla-hélice do DNA, a adenina e a timi- na pareiam-se sempre (A-D, e a citosina e a guanina pareiam-se sempre (C-C). O pareamento das bases é complementar devido a três fa- tores: os locais correspondentes para pontes de hidrogênio em cada base; a geometria do esqueleto açúcar-fosfato, que traz bases opostas próximas umas das outras; e os tamanhos moleculares das bases pareadas. A adenina e a guanina são purinas; a timina e a citosina são pirimidinas. O pareamento de uma purina grande com uma pirimidina pequena assegura consistência e estabilidade para a molécula em dupla-fita do DNA. O RNA é constituído de quatro diferentes monômeros, mas seus nucleotídeos diferem daqueles encontrados no DNA. No RNA, os nucleotídeos são denominados ribonucleotídeos (aque- les no D A são desoxirribonucleotídeos). Eles contêm ribose mais do que desoxirribose e, ao invés da base timina, o RNA usa a base uracila (U). As outras três bases são as mesmas do DNA (Tabela 3.3). Embora o RNA esteja geralmente em fita simples, pontes de hidrogênio complementares entre os ribonucleotídeos desem- penham papéis importantes em determinar as formas tridimen- sionais de alguns tipos de moléculas de RNA (Figura 3.25). O pareamento de bases complementares pode também ocorrer entre ribonucleotídeos e desoxinucleotídeos. No RNA, a guanina ÁCIDO NUCLÉICO RNA Segmentos de dupla fita se formam quando seqüências de nucleotídeos do RNA se pareiam. o dobramento aproxima seqüências de bases complementares, mas distantes. Figura 3.25 Pontes de hidrogênio no RNA Quando uma fita simples de RNA se dobra sobre si, pontes de hidrogênio podem estabilizá-Ia em formato tridimensional. e a citosina pareiam (G-C) como no DNA, mas a adenina pareia com a uracila (A-U). A adenina em uma fita de RNA pode parear tanto com a uracila (em outra fita de RNA) como com a timina (em uma fita de DNA). O DNA é uma molécula puramente informaóonal. A infor- mação no DNA é codificada nas seqüências de bases carregadas nas suas fitas - a informação codificada na seqüência TCAG é di- ferente daquela na seqüência CCAG. O RNA usa a informação contida na seqüência de nucleotídeos de uma molécula de DNA para especificar a ordem de aminoácidos que, por sua vez, dita a estrutura primária da proteína. Essas informações podem ser lidas facilmente e com confiabilidade em uma ordem específica, con- forme veremos no Capítulo 12. A aparência física tridimensional do DNA é marcantemente uniforme. O segmento demonstrado na Figura 3.26 poderia ser de qualquer molécula de DNA. As variações no DNA - a diferen- te seqüência de bases - são estritamente internas. Por meio de pontes de hidrogênio, as cadeias polinucleotídicas complemen- tares pareiam e se dobram para formar uma dupla-hélice. Quan- do comparada com as complexas e variadas estruturas terciárias das proteínas, essa uniformidade torna-se surpreendente. Mas esse contraste estrutural faz sentido em termos de funções des- sas duas classes de macromoléculas. Conforme vimos na Seção 3.2, as formas singulares e diferentes das proteínas permitem que essas macromoléculas reconheçam moléculas-" alvo" específicas. A singular forma tridimensional de cada proteína coincide com pelo menos uma porção da superfície de suas moléculas-alvo. Em outras palavras, a diversidade estrutural nas moléculas às quais as Os átomos de fósforo em amarelo e seus átomos de oxigênio ligados em vermelho, junto com desoxirriboses, formam os esqueletos da dupla-hélice As bases pareadas são empilhadas no centro do dobramento (átomos de nitrogênio em azul e átomos de carbono em cinza). Figura 3.26 A dupla-hélice do DNA Os esqueletos das duas fitas em uma molécula de DNAdobram-se em uma dupla-hélice. Neste modelo, os pequenos átomos brancos representam hidrogênios. proteínas se ligam requer diversidade correspondente na estrutu- ra das proteínas. Diversidade estrutural também é necessária no DNA. Entretanto, a diversidade de DNA encontra-se com maior clareza na estrutura de sua seqüência de bases do que na forma física da molécula. Desde que o DNA transporta a informação hereditária entre gerações, uma série de moléculas teóricas de DNA com mu- danças nas suas seqüências de bases estendem -se através das linhagens de todos os organismos até o início dos tempos evo- lucionários. Espécies vivas proximamente relacionadas deveriam ter se- qüências de bases mais similares do que espécies, consideradas por outros critérios, mais distantes. Detalhes de como os cientistas utilizam essas informaçõessão discutidos no Capítulo 25. A elucidação e o exame das seqüências de bases de DNA confirmaram muitas das relações evolucionárias que têm sido inferidas a partir das comparações mais tradicionais das estru- turas corporais ou dos estudos da bioquímica e da fisiologia. Por exemplo, o parente vivo mais próximo dos humanos (Hama sa- piens) é o chimpanzé (gênero Pan) e, de fato, o D A do chim- panzé compartilha mais de 98% da sua seqüência de bases do DNA com o DNA humano. Freqüentemente, os cientistas usam análises de DNA para elucidar relações evolucionárias quando estudos de estrutura não são possíveis ou não são conclusivos. Por exemplo, estudos de DNA revelaram uma relação próxima entre o estorninho e um outro pássaro (Mimus pa/yg/attas) que não era esperada com base na suas anatomias ou comporta- mentos. Os nucleotídeos são mais do que apenas os blocos construtores dos ácidos nucléicos. Conforme descreveremos em capítulos pos- teriores, existem diversos nucleotídeos com outras funções: • ATP (adenosina trifosfato) age como transportador de energia em muitas reações bioquímicas (ver Seção 6.2). • GTP (guanosina trifosfato) serve como fonte de energia, especialmente na síntese protéica. Possui também papel na transferência da informação do ambiente para as células (ver Seção 15.2). • AMPc (adenosina monofosfato dclico), nucleotídeo especial com uma ligação adicional entre o açúcar e os grupos fosfato, é essencial em muitos processos, incluindo as ações de hor- mânios e a transmissão da informação pelo sistema nervoso (ver Seção 15.3). 3.5 RECAPITULAÇÃO Os ácidos nucléicos DNA e RNA são polímeros de nucleo- tídeos. A seqüência de nucleotídeos no DNA transporta a informação usada pelo RNA a fim de especificar a estrutu- ra primária da proteína. A informação genética no DNA é passada de geração a geração e pode ser estudada para compreender relações revolucionárias. • Você pode descrever as diferenças-chave entre DNA e RNA? E entre purinas e pirimidinas? Ver p. 57-59, Figura 3.23 e Tabela 3.3. • Você compreende como as purinas e pirimidinas pareiam em ligações complementares entre nucleotídeos? Ver p.59 e Figura 3.24. • Como pode existir uma imensa diversidade de moléculas de DNAmesmo parecendo estruturalmente similares? Ver p.59-60. Vimos que os ácidos nucléicos RNAe D A possuem o protótipo da vida, e que a herança dessas macromoléculas se origina do começo do tempo evolucionário. Mas de onde os ácidos nucléicos vieram? Como os blocos construtores da vida Originalmente surgiram? 3.6 Como começou a vida na Terra? Conforme vimos no Capítulo 2, os organismos vivos são compos- tos dos mesmos elementos atômicos que o universo inanimado - os 92 elementos da tabela periódica que ocorrem naturalmente (ver Figura 2.2).Mas os arranjos desses átomos em moléculas são especiais nos sistemas biológicos.Vocênão encontrará moléculas biológicas em matéria inanimada (a menos que elas venham de um organismo que já foi vivo). Como começou a vida na Terra, ou onde, é impossível saber com certeza. Existem duas teorias científicas prevalentes para a origem da vida na Terra: • As moléculas da vida chegaram na Terra por fontes extrater- restres. • A vida é o resultado da evolução química na Terra. Como mencionado no Capítulo 2, tem-se pensado que os come- tas trouxeram para aTerra a maioria da água geradora de vida. Re- centemente, tem -se tornado aparente que diversos meteoritos de \!farte aterrissaram na Terra e que alguns desses meteoritos apre- sentam algumas moléculas possivelmente características da vida. Em 1984, uma pedra do tamanho de uma bola de softbol' foi encontrada no gelo, na região de Allan Hills, na Antártida. ALH 4001, como veio a ser chamado, tratava -se de um meteorito de \!farte (Figura 3.27). Sabemos isso porque a composição dos ga- ses encontrados dentro da pedra era idêntica à atmosfera mar- ciana, que é diferente da atmosfera terrestre. Análises minerais e de determinação de datas, por meio de compostos radioativos, indicaram que oALH 84001 tinha 4,5 bilhões de anos e foi remo- vido da superfície de Marte 16 há milhões de anos, aterrissando na Terra recentemente, há cerca de 13.000 anos. Os cientistas encontraram água escondida abaixo da superfí- cie do meteorito marciano. Essa descoberta não era surpreenden- te, considerando que as observações da superfície demonstravam Figura 3.27 Havia vida aqui? OmeteroritoALH84001, que veio :J8 Marte e aterrissou na Antártida, contém diversas características a vida. • "! de T. O diâmetro da bola do softbol é maior que a de beisebol (30,4 cm contra 22,8 cm), esportes"irmãos"por suas características, mas com regras próprias. O softbol é considerado um beisebollight. que água líquida foi abundante uma vez em Marte (ver Capítulo 2). Como a água é essencial para a vida, os cientistas buscaram no meteorito outros sinais da sua presença. Suas análises revelaram duas substâncias relacionadas aos sistemas vivos. Primeiro, mo- léculas de carbonos simples, chamadas hidrocarbonetos aromá- ticos policíclicos, estavam presentes em pequenas quantidades; essas substâncias podem ser formadas por organismos vivos. Se- gundo, cristais de magnetite, um mineral de óxido de ferro pro- duzido por muitos organismos vivos na Terra, foi encontrado no interior da pedra. O ALH 84001 não foi o único visitante do espaço a demons- trar sinais químicos de vida. Em fragmentos de um meteorito que caiu ao redor da cidade de Murchinson,Austrália, em 1969, foram constatadas moléculas que são exclusivas de seres vivos, incluin- do purinas, pirimidinas e aminoácidos. Embora a presença dessas moléculas nas pedras pode sugerir que essas pedras abrigavam vida, isso não prova que existiam seres vivos nas pedras quando elas aterrissaram na Terra. A maioria dos cientistas acha difícil acreditar que um organis- mo em um meteorito sobreviveria aos milhares de anos viajando através do espaço e ao intenso calor na passagem pela atmosfera terrestre. Todavia, existe evidência de que o calor dentro de alguns meteoritos pode não ter sido tão severo. Quando a pedra pouco magnetizada é aquecida, ela reorienta seu campo magnético para alinhar com o campo magnético ao redor dela. No caso do ALH 84001, isto teria sido o campo magnético da Terra, que teria afeta- do o meteorito à medida que ele se aproximou de nosso planeta. Medidas cuidadosas indicam que a reorientação ocorreu na su- perfície da pedra, mas não ocorreu no interior. Os cientistas que obtiveram essas medidas, Benjamim Weiss e Joseph Kirschvink, do California Institute of Technology, concluíram que dentro do ALH 84001 a temperatura nunca foi superior a 4üoCdurante a sua viagem para a Antártida. Essa evidência torna mais plausível uma longa viagem interplanetária dos organismos vivos. Terra e Marte tiveram água e outras moléculas que poderiam, sob condições corretas, formar as grandes moléculas únicas para a vida. A segunda teoria da origem da vida na Terra, a evolução química, sustenta que condições na Terra primitiva conduziram à emergência dessas moléculas. Os cientistas têm tentado recons- truir aquelas condições primitivas. No início do século XX,pesquisadores propuseram que exis- tia pouco gás oxigênio (02) na primeira superfície terrestre. O gás oxigênio se acumulou em quantidade por cerca de 2,5 bilhões de anos, como um subproduto da fotossíntese realizada por formas de vida unicelulares (hoje, o oxigênio constitui 21% de nossa at- mosfera). Na década de cinqüenta, Stanley Miller e Harold Urey criaram uma atmosfera experimental contendo os gases que eles acreditavam terem estado presentes na atmosfera primitiva da Terra: hidrogênio, amônia, metano e vapor de água. Através des- ses gases, eles passaram uma faísca para simular o relâmpago, então resfriaram o sistema de forma que os gases condensassem e coletassem uma solução aquosa, ou" oceano" (Figura 3.28).Em poucos dias, o sistema continha numerosas moléculas complexas, incluindo aminoácidos, purinas e pirimidinas - alguns dos blocos construtores da vida. Em ciência, um experimento e seus resultados devem ser constantemente reinterpretados, repetidos e refinados à medida que mais conhecimento se acumula. Os resultados de Miller-Urey têm sofrido diversos refinamentos: EXPERIMENTO HIPÓTESE: Compostos químicos orgânicos podem ser gerados sob condições similares àquelas existentes na Terra primitiva. Uma solução de compostos simples químicos é aquecida, produzindo uma atmosfera de metano, amônia, hidrogênio e vapor de água. Um condensador resfria os gases atmosféricos em uma chuva contendo novos compostos. Os compostos são coletados em um "oceano". Condensação -........J..l Condensado é coletado e analisado. Os compostos reagem em água, finalmente formando purinas, pirimidinas e aminoácidos. CONCLUSÃO: Os blocos químicos construtores da vida poderiam ter sido gerados na provável atmosfera da Terra primitiva. Figura 3.28 Síntese de moléculas prebióticas em uma atmos- fera experimental O experimento de Miller-Urey simulou condi- ções atmosféricas possíveis na Terra primitiva e obteve alguns dos blocos construtores dos sistemas biológicos. PESQUISA ADICIONAL: Se o O2 estivesse presente na atmosfera neste experimento, que resultados você preveria? • Os aminoácidos em seres vivos são sempre L-isômeros (ver Figura 3.2 e p. 40). Entretanto, uma mistura de D- e L-isôme- ros apareceu nos aminoácidos formados nos ensaios de Mil- ler-Urey. Experimentos recentes demonstraram que processos naturais poderiam ter selecionado os L-aminoácidos desta mistura. Alguns minerais, especialmente pedras baseadas em caleita, possuem estruturas em cristal únicas que seletivamen- te se ligam a aminoáeidos D ou L, separando os dois. Tais pe- dras eram abundantes na Terra primitiva. • As visões dos cientistas sobre a atmosfera original da Terra mudaram desde que Miller e Urey fizeram seu experimento. Existe abundante evidência de importantes erupções vulcâ- nicas há 4 bilhões de anos, que teriam liberado dióxido de carbono (C02), nitrogênio (N2)' sulfeto de hidrogênio (H2S) e dióxido de enxofre (S02) para a atmosfera. Experimentos usando esses gases, além daqueles do experimento original, produziram muitas moléculas. A evolução química pode ter conduzido à polimerização O experimento de Miller-Urey e outros que o seguiram fornece- ram um plausível cenário para a formação dos blocos construtores da vida. O próximo passo seria a condensação desses monômeros em polímeros (ver Figura 3.4). Isso induz um problema principal, porque na água os polímeros pequenos tendem a se hidrolisar em monômeros. Os cientistas utilizam-se de sistemas-modelo para tentar si- mular condições (a maioria com baixo conteúdo de água), sob as quais os polímeros poderiam ser feitos: • Superfícies de minerais sólidos, como a argila finamente divi- dida, tem grande área de superfície, e os silicatos dentro dos minerais podem ter sido catalíticos (acelerado as reações) para as moléculas primitivas baseadas em carbono. • As rachaduras hidrotérmicas no fundo do oceano, onde água quente emerge a partir da crosta terrestre, contêm metais tais como ferro e níquel. Demonstrou-se que esses metais em la- boratório catalisam a polimerização de aminoáeidos na au- sência de oxigênio. • Piscinas de água quente na beira dos oceanos, por evaporação, podem ter concentrado monômeros até o ponto em que a po- limerização foi favorecida (a hipótese da"sopa primordial"). Independente da forma com que os estágios primitivos da evolu- ção química ocorreram, eles resultaram na emergência de monô- meros e polímeros que provavelmente permaneceram inalterados em suas estruturas e funções gerais por 3,8 bilhões de anos. o RNA pode ter sido o primeiro catalisador biológico A estrutura tridimensional de uma molécula de RNA dobrada apresenta uma superfície singular para o ambiente externo (ver Figura 3.25). Essas superfícies são tão específicas quanto as das proteínas. Assim como as formas das proteínas as permitem funcionar como catalisadores, acelerando reações que ordina- riamente ocorrem muito devagar para serem biologicamente úteis, as formas tridimensionais e outras propriedades químicas de certas moléculas de RNA as permitem funcionar como ca- talisadores. Os experimentos de Miller-Urey e outros na química pré- biótica produziram tanto aminoáeidos quanto nucleotídeos. Os organismos podem sintetizar RNA e proteínas a partir desses mo- nômeros. Todavia, se a síntese de proteína requer DNA e RNA e a síntese de áeidos nucléicos requer proteínas (enzimas), confronta- mo-nos com uma questão do tipo ovo e galinha: quando a vida se originou, quem veio primeiro, as proteínas ou os ácidos nucléicos? A descoberta de RNAs catalíticos forneceu uma solução para esse dilema. Os RNAs catalíticos, chamados ribozimas, podem catali- Este RNA dobrado é uma ribozima, que pode acelerar uma reação. As seqüências curtas pareiam com a ribozima. A ribozima catalisa a polimerização de seqüências curtas. DAs seqüências curtas são agora uma seqüência mais nga de RNA. Estas seqüências curtas de RNA são complementares à ribozima. 5a:' reações nos seus próprios nucleotídeos, bem como em outras 3:J.' tâncias celulares. Dado que o RNA pode ser imormacional (na sua seqüência de :-:rcleotídeos) e catalítico (devido à sua habilidade de criar formas _::úas tridimensionais; ver Figura 3.25), tem sido hipotetizado que ~--: a primitiva existiu em um"mundo de RNA"- um mundo an- __ '0DNA. Pensa-se que quando o RNAfoi primeiramente feito, ~:xíeria ter agido como catalisador para sua própria replicação e o ?.'--\para a síntese de proteínas. O DNA poderia eventualmente ~ ê\'oluído a partir do RNA.Algumas evidências laboratoriais su- :--:cam esse cenário: ~ As de diferentes seqüências foram colocados em um tubo :este para se replicarem por si só.Tais ribozimas auto-replica- ::::\'asaceleram a síntese de RNA em 7milhões de vezes. _-o tubo teste, uma ribozima pode catalisar a organização de R...'\JAcurtos em uma molécula maior - o início de um modelo 'e RNA para a síntese de proteínas (Figura 3.29). noje, nos organismos vivos, a formação de ligações peptídicas 'er Figura 3.6) é catalisada por uma ribozima. Figura 3.29 Um catalisador primitivo para a vida Esta re- construção de laboratóriodemonstra que a ribozima(umamolécula de RNA dobrada) pode catalisar a polimerizaçãode diversas ca- . deias de RNA curtas em uma moléculamaior.Talprocesso poderia ser um precursor para copiar ácidos nucléicos, essencial para sua duplicação e expressão. • Em certos vírus chamados de retrovírus, existe uma enzima chamada transcriptase reversa, que catalisa a síntese de DNA a partir de RNA. Enquanto essas evidências sugerem que o RNA poderia ter sido o primeiro polímero, cientistas estão longe de achar explicações plausíveis para as origens de outras moléculas grandes caracterís- ticas da vida, como polissacarídeos, proteínas e lipídeos. Experimentos invalidaram a geração espontânea da vida A idéia de que a vida se originou de matéria não-viva é agora novidade. De fato, muitas culturas e religiões têm descrições de tais eventos. Durante a Renascença (período de 1450 a 1700, que marcou o nascimento da ciência moderna), a maioria das pessoas pensava que ao menos algumas formas de vida surgiram repe- tidamente e diretamente de matéria inanimada, ou em decom- posição, por geração espontânea. Por exemplo, sugeriu-se que os camundongos surgiam de roupas suadas colocadas em luz difusa; sapos vinham de solo úmido e moscas eram produzidas a partir da carne. Alguns cientistas, como o físico e poeta italiano Fran- cesco Redi, entretanto, duvidaram dessas propostas. Redi afirmou que as moscas surgiam não por uma misteriosatransformação de carne em decomposição, mas de outras moscas e de ovos postos sobre a carne. Em 1668, Redi realizou um experimento científico, conceito relativamente novo naquele tempo, para testar sua hipó- tese. Ele dispôs diversos frascos contendo pedaços de carne. • Um frasco continha carne exposta ao ar e às moscas. • Um segundo frasco continha carne em um recipiente coberto com um fino tecido de forma que a carne era exposta ao ar, mas não às moscas. • A carne no terceiro frasco estava em um recipiente vedado e, dessa forma, não estava exposta ao ar ou às moscas. Como já hipotetizamos, Redi encontrou larvas, que então se trans- formaram em moscas, somente no primeiro frasco. O achado de- monstrou que as larvas poderiam ocorrer apenas onde as moscas estavam presentes. A idéia de que um organismo complexo como uma mosca poderia aparecer de novo, a partir de uma substância não-viva na carne ou a partir de"alguma coisa"no ar foi deixada de lado. Com o advento do microscópio de Leeuwenhook em 1660, um vasto novo mundo biológico foi desvendado. Sob a observa- ção microscópica, constatou-se que praticamente todo ambiente na Terra era virtualmente rico em pequenos organismos, como as bactérias. Alguns cientistas acreditavam que esses organismos cresceram espontaneamente a partir de seus ricos ambientes quí- micos. Experimentos do grande cientista francês Louis Pasteur invalidaram essa idéia, demonstrando que os microrganismos surgiam somente de outros microrganismos, e que um ambiente sem vida permanecia assim, a não ser que fosse contaminado com criaturas vivas (Figura 3.30). Figura 3.30 Invalidando a geração espontânea da vida Os clássicos experimentos de Louis Pasteur demonstraram que, sob as condições hoje existentes na Terra, uma solução inanimada per- manece sem vida, a menos que um organismo vivo a contamine. Os experimentos de Pasteur provaram que a vida não pode surgir de matéria não-viva, mas os experimentos de Miller-Urey indicaram que isso pode ocorrer - ao menos ao nível molecular. De que forma podemos conciliar os resultados desses dois expe- rimentos? Tenha em mente que os constituintes atmosféricos e planetários da Terra atualmente são muito diferentes daqueles da época prebiótica. O oxigênio na atmosfera atual degradaria muitas moléculas tão logo elas fossem formadas, e as fontes de energia que podem ter impulsionado aquelas reações químicas iniciais não mais dominam nosso planeta. 3.6 RECAPITULAÇÃO Os compostos químicos da vida se originaram em qualquer lugar no universo ou poderiam ter evoluído na Terra. Sinais químicos de vida nos meteoritos de Marte tornam a primei- ra idéia plausível. Experimentos de laboratório suportam a segunda hipótese. • Qual evidência experimental indica que a evolução química da vida poderia ter acontecido na Terra? Ver p. 61-62 e Fi- gura 3.28. • Você compreende o que é a polimerização? Revisando as macromoléculas descritas neste capítulo, você entende por que este processo químico é tão importante? Ver p. 62 e Figura 3.29. • O experimento de Francesco Redi, descrito na página 63, é um dos mais antigos exemplos conhecidos do método científico. Você vê todos os elementos do método, como descrito na Seção 1.3, nesse experimento? Esses elemen- tos estão presentes nos experimentos demonstrados nas Figuras 3.28 e 3.30? As diversas formas de vida na Terra são compostas de blocos construtores químicos, incluindo átomos, pequenas moléculas e moléculas biológicas grandes. Mas, a partir dessa base molecular, emerge a célula: a estrutura que fundamenta a vida como a co- nhecemos hoje. É a célula que perpetua a vida. A célula é a base para a crença de Pasteur de que "toda a vida se origina da vida". O próximo capítulo descreve a estrutura e função das células vivas. EXPERIMENTO HIPÓTESE: A vida deve surgir de vida preexistente e não é gerada espontaneamente. A fervura mata todos os microrganismos que crescem em um meio com nutriente. Um longo pescoço de "cisne" aberto para o ar capta partículas de pó com organismos vivos. Se o pescoço de cisne é quebrado, as partículas de pó e os mícrorganísmos vivos entram no frasco. Os microrganismos crescem rapidamente em um meio rico em nutrientes. "" Crescimento microbiano Sem crescimento microbiano (sem geração espontãnea) CONCLUSÃO: Toda a vida se origina de vida existente. RESUMO DO CAPíTULO m Que tipos de moléculas caracterizam os organismosvivos? As macromoléculas são polímeros construídos pela formação de ligações covalentes entre moléculas menores chamadas monõmeros. As macromoléculas nos organismos vivos in- cluem polissacarídeos, proteínas e ácidos nucléicos. Os grupos funcionais são pequenos grupos de átomos con- sistentemente encontrados em uma variedade de diferentes macromoléculas. Os grupos funcionais têm propriedades químicas particulares, que eles conferem a qualquer molécula maior da qual fazem parte. Rever Figura 3.1. Isômeros ópticos e estruturais têm os mesmos tipos e números de átomos, mas diferem nas suas estruturas e propriedades. Rever Figura 3.2. s muitas funções de macromoléculas estão diretamente re- lacionadas a suas formas tridimensionais, que por sua vez resultam das seqüências e propriedades químicas de seus monômeros. s monômeros são unidos por reações de condensação, que liberam uma molécula de água para cada ligação formada. As reações de hidrólise usam água para quebrar polímeros em monômeros. Rever Figura 3.4. m Quais são as estruturas químicas e as funções dasproteínas? funções das proteínas incluem suporte, proteção, catálise, transporte, defesa, regulação e movimento. aminoácidos são os monômeros a partir dos quais as proteí- nas são construídas. As propriedades dos aminoácidos de- endem das suas cadeias laterais ou grupos R, que podem ser carregadas, polares ou hidrofóbicas. Rever Tabela 3.2. ·-ligações peptídicas unem covalentemente aminoácidos a s as cadeias polipeptídicas. Essas ligações se formam por ações de condensação entre os grupos carboxila e amino. ever Figura 3.6. - estrutura primária de uma proteína é a seqüência de aminoá- idos da cadeia. Essa cadeia é dobrada em uma estrutura se- cundária, que em diferentes partes da proteína pode ser uma a-hélice ou uma folha 13-pregueada. Rever Figura 3.7A-C. ::::-:es dissulfeto e interações não-covalentes entre aminoácidos :::ermitem que a cadeia polipeptídica se dobre em uma estru- ra terciária tridimensional e que cadeias múltiplas interajam s uma estrutura quaternária. Rever Figura 3.7D, E. _ a e a estrutura específicas de uma proteína permitem a ela SE ligar não-covalentemente a outras moléculas freqüente- -:; e chamadas de ligantes. ~::·o alterações de pH ou certos compostos químicos podem = Itar em desnaturação da proteína, que envolve a perda ::z estrutura terciária e/ou secundária, bem como da sua fun- .;;:. biológica. Rever Figura 3.11. -~ peroninas auxiliam o dobramento das proteínas, prevenin- :::: 'erações com Iigantes inadequados. Rever Figura 3.12. Quais são as estruturas químicas e as funções dos . carboidratos? - ::art>oidratos contêm carbono ligado a átomos de hidrogênio '::: 'gênio em uma razão de 1:2:1 ou (CH,Q}n' - - nossacarídeos são monômeros que constituem os car- :::: :Jratos. Hexoses, como a glicose, são monossacarídeos ::': se:s átomos de carbono; pentoses possuem cinco carbo- - . ever Figura 3.14. As ligações glicosídicas de orientação espacial a ou ~ ligam monossacarídeos covalentemente em unidades maiores, como dissacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos. Rever Figura 3.15. O amido armazena energia em plantas. O amido e o glicogênio são formados por ligações a-glicosídicas entre monômeros de glicose e são distinguidos pela quantidade de ramificação que apresentam. Eles podem ser facilmente quebrados pare liberar a energia armazenada. A celulose, umpolímero de glicose muito estável, é o compo te principal das paredes celulares das plantas. EU Quais são as estruturas químicas e as funções dos-.:u lipídeos? Gorduras e óleos são triglicerídeos, compostos de três ácidos graxos covalentemente ligados a uma molécula de glicerol por ligações ésteres. Rever Figura 3.18. Os ácidos graxos saturados têm uma cadeia hidrocarbonad2 sem duplas ligações. As cadeias hidrocarbonadas de ácíd graxos insaturados têm uma ou mais duplas ligações que o clinam a cadeia, tornando mais difícil a interação entre essas Rever Figura 3.19. Os fosfolipídeos têm uma "cauda" hidrocarbonada hidrofó e uma "cabeça" de fosfato hidrofílica. Na água, as intera - das caudas hidrofóbicas e das cabeças hidrofílicas de . lipídeos geram uma bicamada fosfolipídica, com duas léculas de espessura. Os grupos polares estão direcionac~ para fora, onde interagem com a água ao redor. As cau as 2S- tão empacotadas no interior da bicamada. Rever Figura m Quais são as estruturas químicas e as funçõesácidos nucléicos? A função única dos ácidos nucléicos - DNA e RNA - é o ê.['""""E- zenamento da informação; eles formam o material herediz que passa o dado genético para a próxima geração. Os ácidos nucléicos são polímeros de nucleotideos. Um nu- c1eotídeo consiste em um grupo fosfato, um açúcar pen° (ribose em RNA e desoxirribose em DNA), e uma base n" genada. Rever 3.23. No DNA, as bases nucleotídicas são adenina, guanina, citosina e timina. Uracila substitui timina no RNA. Os nucleotídeos são unidos por ligações fosfodiéster entre o açúcar de nucleotídeo e o fosfato do próximo. RNA apresenta fita simples. DNA é uma dupla fita na qual" -" pareamento das bases complementares, baseado as tes de hidrogênio entre adenina e timina (A-T) e entre gU2.'"''-= e citosina (G-C). As duas fitas da dupla-hélice do D --=-- em direções opostas. Rever Figuras 3.24 e 3.26. O conteúdo de informação de DNA e RNA reside nas suas se- qüências de bases. RI Como começou a vida na Terra? A evolução química propôs que condições na Terra poderiam ter produzido macromoléculas que dis ° organismos vivos. Rever Figura 3.28. Porque pode formar uma estrutura tridimensional, o • como uma ribozima, uma superfície de RNA e químicas procedem em uma taxa rápida. Rever Fig -a~_ Experimentos têm descartado a contínua geração "'-pc--z::::: = vida. Rever Figura 3.30.
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