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Metodologia da Economia Bibliografia: Blaug (1993), Parte I, cap.2 (O); Blaug (1988); Boumans & Davis (2010), cap 4; Regner (1994) (C). Aula 5 Imre Lakatos e os programas de pesquisa 1 1. Lakatos: elementos biográficos • Imre Lakatos(1922-1974): • Filósofo húngaro, especialista em história das matemáticas e da ciência. • De família judia, seu sobrenome verdadeiro era Lipschitz, que ele mudou para não ser perseguido pelos nazistas. • Foi membro da resistência comunista, aluno de Lukács, e depois foi acusado de revisionista, ficando preso entre 1950 e 1953. • Fugiu para Inglaterra em 1956. • Fez doutorado em filosofia em Cambridge. • Foi professor da LSE de 1960 até sua morte. • Seu trabalho mais importante em filosofia da ciência é o artigo “O falseacionismo e a metodologia dos programas de pesquisa científica”. 2. Visão geral da metodologia de Lakatos • Lakatos, aluno e admirador de Popper, tenta responder as críticas (indiretas) de Kuhn. • O “artigo” (134 páginas na edição brasileira) central de Lakatos foi publicado num livro que reúne os artigos de um seminário organizado para discutir a “Estrutura...”. • Lakatos se propôs realizar uma reconstrução racional da ciência depois do desmoronamento dos valores clássicos, provocados pelo impacto da física de Einstein, que levou ao fim das noções de “verdade demonstrada” e “verdade provável”. • Pretende mostrar que as “revoluções científicas” não são processos análogos à conversão religiosa, mas que são essencialmente racionais. 3. O fim do justificacionismo • Para Lakatos, a filosofia tradicional da ciência (o que ele chama de justificacionismo) consiste em considerar a ciência como um conjunto de proposições demonstradas. • Honestidade científica nesta visão: ciência é aquilo que está provado. • Todavia, os problemas da lógica indutiva e o fim da física newtoniana mostram o caráter falível do conhecimento. 3. O fim do justificacionismo • Isto levaria ao probabilismo, uma visão que diz que todas as teorias científicas são improváveis, mas em graus diferentes. • Honestidade científica nesta visão: proclamar teorias altamente prováveis e mostrar a evidência delas. ciência é aquilo que está provado. • Todavia, Popper demonstrou que todas as teorias são igualmente improváveis. • Uma saída simples seria se limitar a dizer que todo conhecimento é falível. 3. O fim do justificacionismo • O que Popper tentou fazer com o falseacionismo é encontrar critérios para avaliar teorias. • Isto parece um recuo, mas para Lakatos é um avanço em relação a padrões utópicos. • Lakatos vai apresentar três versões do falseacionismo, o dogmático, o ingênuo e o sofisticado, e vai propor a Metodologia dos Programas de Pesquisa Científica (MPPC) como superação do falseacionismo. • Para ele, Popper em geral escreveu do ponto de vista do falseacionismo ingênuo, mas também têm elementos do sofisticado em suas formulações mais interessantes. 4. O falseacionismo dogmático • Para o falseacionismo dogmático, todas as teorias são falíveis, mas há uma base empírica infalível. • Honestidade científica: dizer de antemão uma experiência tal que, caso seu resultado contradizer a teoria, esta deva ser abandonada. • Visão de que a ciência avança com derrubada de teorias por fatos concretos. • Problemas: 1) Não há divisão tão clara entre o teórico e o empírico; 2) Não é possível realizar “experimentos cruciais” (tese Duhem-Quine). 5. O falseacionismo ingênuo • O falseacionismo ingênuo aceita por decreto que certos enunciados são “observacionais” e os separa do resto. • A partir daí se produz uma “base empírica” que permite “falsear” mas não falsear. • Critério de demarcação: são científicas as teorias que proíbem estados “observáveis”. • Note –se o uso das aspas que faz Lakatos. • Todavia, a história da ciência mostra que falseamentos famosos não seguiram estes critérios. 5. O falseacionismo ingênuo • O falseacionismo ingênuo supõe que: i. O confronto (o teste crucial) ocorre entre uma teoria e a experiência. ii. O único resultado interessante são as falsificações. • Mas a história da ciência mostra que: i. O confronto sempre se da entre duas teorias e a experiência. ii. Muitos experimentos interessantes confirmaram e não falsearam. • Logo, o que deve ser a grande preocupação é fazer uma reconstrução racional que permita ver o progresso da ciência (e ao mesmo tempo reduzir o caráter convencional). 6. O falseacionismo sofisticado • O falseacionismo sofisticado adota como critério de demarcação não apenas que as teorias novas possam ser falseadas, mas exige que elas aumentem o conteúdo empírico (e que parte deste seja verificada). • Lakatos destaca que só uma nova teoria (T’) permite falsear uma anterior (T) se: i. T’ tem excesso de conteúdo empírico sobre T. ii. T’ explica os sucessos de T. iii. Parte do conteúdo de T’ é corroborado. 6. O falseacionismo sofisticado • O avanço do conhecimento se dá por séries de teorias, em que cada nova teoria resulta da adição de cláusulas à anterior. • A teoria nova deve ter tanto conteúdo empírico da anterior e algum excesso. Isto é o que Lakatos denomina “transferência de problemas progressiva” (que tem parte teórica e parte empírica). • Quando isso não ocorre, Lakatos fala de “transferência degenerativa”. • O falseacionismo sofisticado avalia séries de teorias. 6. O falseacionismo sofisticado • O falseamento se da com teoria melhor, mas não há uma experiência crucial instantânea que resolva. • A questão não é verificar ou achar anomalias que levem à refutação. O importante é achar verificações do conteúdo excedente nos casos cruciais. • Honestidade intelectual: olhar para as coisas de pontos de vista diferentes, apresentando teorias que permitam explicar fatos novos. • Ao termos um confronto de teorias com “fatos”, se ocorrer uma incompatibilidade não precisamos eliminar imediatamente essa teoria. 7. A MPPC • Lakatos propõe uma saída que vai além do falseacionismo: a Metodologia dos Programas de Pesquisa Científica (MPPC). • Ele diz que, além da série de teorias (caracterizada pela tenacidade: não se abre mão dela com qualquer resultado adverso), há também uma questão fundamental de continuidade que lembra à ciência normal de Kuhn. • A MPPC indica uma série de caminhos que uma ciência deve seguir, o que constitui sua heurística positiva, e outros que devem ser evitados, a heurística negativa. 7. A MPPC • Para Lakatos, todo PPC tem uma série de proposições fundamentais, que constituem seu núcleo (hard-core), e uma série de proposições auxiliares que podem ser ajustadas e modificadas, o cinto de proteção. • A heurística negativa diz que não se deve tentar falsear o núcleo. • O núcleo é “irrefutável”. • Eventuais anomalias só podem levar a mudanças no cinto. • A heurística positiva é um conjunto de proposições sobre como fazer a ciência avançar e também sobre como resolver os problemas do PPC. • Ela procura mais “verificações” do que “refutações”. 7. A MPPC • Uma decorrência da MPPC é a existência de pluralismo teórico. • A história da ciência é vista como uma concorrência de PPCs. • Lakatos critica o conceito de ciência normal de Kuhn, pois este seria um PPC que em alguma circunstância conseguiu um monopólio. • “A história da ciência tem sido, e deve ser, uma história de PPCs competitivos, mas não tem sido, nem deve vir a ser, uma sucessão de períodos de ciência normal”. 7. A MPPC • Uma explicação de um problema que provoque um confronto entre dois PPCs pode dar a vitória a um deles. Mas isso éuma vitória numa batalha, não é o fim da guerra. • Um PPC pode encontrar (boas) explicações alternativas dessa derrota, mas também pode sair disso com refutações ad-hoc, procedimento que deve ser visto como não científico. 8. Conclusão: confrontando Popper e Kuhn • Lakatos diz que Kuhn está certo ao enfatizar a continuidade do crescimento da ciência, bem como a tenacidade das teorias. • Mas, segundo Lakatos, Kuhn entende que o crescimento da ciência está baseado em decisões irracionais (“...de acordo com a concepção de Kuhn, a revolução científica é irracional, uma questão de psicologia das multidões”). • Popper defende à razão, mas tem uma visão errada do avanço da ciência. A crítica puramente negativa não é o objetivo da ciência. • Para Lakatos, o fim do justificacionismo não significa o fim da racionalidade. 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